1 Otimização de Linhas de Transmissão pela Avaliação Numérica do Vetor de Poynting Lucas V. F. Oliveira, Delfim Soares Jr. e Márcio P. Vinagre Resumo — Este artigo apresenta uma metodologia original de otimização da capacidade de linhas de transmissão através do posicionamento dos cabos condutores e da análise dos efeitos provocados sobre a impedância característica da linha. Para isso, adota-se uma abordagem inédita que utiliza basicamente o vetor de Poynting como função objetivo do Método de Otimização por Enxame de Partículas, sendo os campos elétricos e magnéticos necessários para definição do vetor de Poynting calculados por meio do Método dos Elementos de Contorno. O método foi validado utilizando como exemplos a otimização das configurações de feixes da linha de 500 kV Interligação Norte/SUL III – Trecho 2 e Linha de 500 kV Presidente Dutra / Teresina / Sobral / Fortaleza. Foram encontrados ganhos na capacidade de transmissão de 7% e 22% respectivamente devido à redução da impedância característica, calculada após a otimização através da rotina Line Constants do programa ATP/EMTP e comparando-a com os valores dos modelos originais. Palavras-Chaves- Linhas de Transmissão; LPNE; Vetor de Poynting; Otimização de Feixes; Otimização por Enxame de Partículas; Método dos Elementos de Contorno; ATP/EMTP. I. NOMENCLATURA ATP - Alternative Transients Program. EMTP - Electromagnetic Transients Program. FEX - Feixe Expandido. LPNE - Linha de Potência Natural Elevada. LT - Linha de Transmissão de Energia Elétrica. MEC - Método dos Elementos de Contorno. PSO - Particle Swarm Optimization SIL - Surge Impedance Loading II. INTRODUÇÃO C om a abertura legal do setor elétrico brasileiro aos investimentos privados, ocorrida década de 90, diversos estudos foram efetuados com o objetivo de viabilizar projetos de linha de transmissão de modo a concorrem efetivamente em leilões. Grandes transmissoras, como Furnas, Chesf e Eletronorte promoveram pesquisas em consórcio com empresas construtoras de linhas e fabricante de ferragens e isoladores, desenvolvendo projetos com mais baixa relação Reais/MW transmitido, publicando os ganhos em capacidade de transmissão em diversos trabalhos, tais como [1], [2] e [3]. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. E-mails: [email protected], [email protected], [email protected]. Todavia, apesar da quantidade e riqueza das informações publicadas, a descrição do processo de otimização das linhas, em especial da capacidade de transmissão de potência ativa não receberam destaque. No processo padrão de otimização, a geometria da linha é modificada de maneira sistemática, recalculando os parâmetros elétricos como a indutância e capacitância através de algoritmos clássicos, tais como [4], avaliando então a impedância característica e consequentemente o aumento do SIL. Contudo, pode-se aumentar o SIL de uma linha de transmissão de alta energia reduzindo indiretamente através do posicionando os condutores segundo uma abordagem original que utiliza basicamente o vetor de Poynting em alguns pontos ao redor dos condutores das fases em conjunto com o método meta-heurístico de otimização denominado Método de Enxames de Partículas, verificando a redução em após a finalização do processo através do programa ATP/EMTP, conforme [5]. O vetor de Poynting, que é a densidade superficial de potência, é calculado neste trabalho através do produto vetorial entre o campo elétrico e o campo magnético produzidos por uma excitação complexa, os quais são definidos por meio de uma análise estática e calculados pelo Método dos Elementos de Contorno, conforme [5]. Este método proporciona eficácia no processo de avaliações sucessivas de cálculo de campos pelo fato de necessitar discretizar apenas os contornos, dispensando a discretização do domínio por malhas, facilitando a representação dos condutores e as alterações de suas posições espaciais durante o processo iterativo. O incremento da densidade de potência nas proximidades dos condutores significa indiretamente incremento do SIL através da melhoria da configuração geométrica dos cabos das fases. Em geral, a condição de máxima transferência de potência é alcançada quando ocorre a maximização da densidade de potência ou vetor de Poynting no entorno da linha. Fisicamente, isto corresponde ao arranjo simultâneo entre campos elétricos e magnéticos ao redor das fases que proporcionam os menores enlaces de fluxo magnético concatenado entre cabos juntamente com os maiores fluxos elétricos. Esse fato está em concordância com o aumento da capacitância e diminuição da indutância sob o enfoque clássico de parâmetros elétricos. Uma vantagem de se avaliar o vetor de Poynting é que se pode aplicar simultaneamente corrente elétrica e potencial elétrico na linha, de forma que em um processo de otimização as posições dos condutores passam a ser variáveis, levando a 2 soluções de arranjos de condutores inéditos ou ao menos tornando o problema de otimização mais abrangente do que hoje em dia. III. CONCEITOS SOBRE LINHA DE TRANSMISSÃO O comportamento de uma linha de transmissão em sua essência pode ser descrito através de equações diferencias para corrente e tensão que nos casos mais comuns de análise, são funções senoidais no tempo e também variantes segundo a direção longitudinal da linha: (1) (2) Onde representa a tensão na barra receptora; representa a corrente na barra receptora, representa a constante de propagação na linha e a impedância característica da linha, definida como: (3) Em (3) R, L, C e G representam a resistência, indutância, capacitância e condutância por unidade de comprimento da linha dependentes da disposição geométrica dos cabos nas fases e propriedades dos materiais dos cabos e do ar. Em situações típicas de operação de sistemas de potência a resistência elétrica de uma fase, sendo muito menor que a sua reatância série, pode ser desprezada. Também a condutância entre fases e entre fases e solo tem valores muito pequenos comparados com a susceptância capacitiva. Quando a resistência e condutância são desprezadas tem-se uma linha sem perdas e nestas condições a impedância característica é denominada impedância de surto e a equação (3) reduz-se a (4): percentual do seu SIL. IV. PROBLEMA DE OTIMIZAÇÃO O aumento do SIL de uma linha pode ser alcançado por aumento da tensão ou diminuição de . Considerando que a tensão de operação é fixada, para aumentar potência natural da linha através da redução da impedância característica, pode-se atuar tanto na expansão dos feixes de condutores na fase (LPNE/FEX), diminuindo-se a indutância própria; quanto pela aproximação das fases (LPNE/Compacta), aumentando a indutância mutua da linha. Ou pelo aumento da capacitância utilizando comumente um número maior de condutores por fase, o que tende a aumentar os campos elétricos ao redor dos feixes, conforme [6]. Por meio do PSO, é alterado sistematicamente o posicionamento individual de cada condutor da LT trifásica com um condutor ou feixe de condutores por fase, avaliando indiretamente a redução da impedância , por meio do aumento da densidade de potência ativa definida pelo vetor de Poynting: (6) onde representa o vetor densidade de potência instantânea, medida em watt por metro quadrado (W/m2) definida pela parte real do produto vetorial dos campos e , representa o vetor campo elétrico em Volts por metro (V/m), e representa o campo magnético, em Ampères por metro (A/m). Os campos são calculados por meio do MEC nos pontos internos1 localizados próximos ao contorno dos cabos discretizados por meio de elementos constantes conforme figura 1. (4) Os primeiros termos de (1) e (2) são ondas senoidais que se propagam da barra emissora para a barra receptora, enquanto os segundos termos são ondas senoidais que se propagam em sentido inverso, o que denota reflexão de onda na barra receptora. A condição necessária e suficiente para que não haja onda de energia refletida em qualquer ponto da linha é que Fig. 1. Discretização do cabo condutor pelo MEC e representação dos pontos internos (pontos onde são calculados os campos elétrico e magnético). Considerando o problema no plano e que cada ponto interno representa um vetor , define-se a função objetivo do problema de otimização como: . Nestas condições, tensão e corrente estão em fase no tempo e no espaço e a potência P(x), em MW, é dada por: (5) O valor da potência transmitida pela linha quando o seu carregamento é igual à sua impedância de surto é denominado SIL da linha, e esta condição é a de máxima transferência de potência entre a barra emissora e a barra receptora. Comumente o carregamento de uma linha é referido como um (7) onde ncabos representa o número de cabos existente na linha e representa o número de pontos internos em torno de cada cabo. 1 Internos ao domínio, que é o ar, mas externo ao contorno do cabo, sendo esta uma definição comum na literatura do MEC. 3 V. MODELAGEM DE CAMPOS Considerando o sistema trifásico na freqüência de 60 Hz em regime permanente como sendo “quase estacionário”, é válido desacoplar os campos elétricos e magnéticos e também utilizar a análise estática considerando materiais homogêneos, isotrópicos e lineares, modelando-os como um problema de potencial , descrito pela equação de Poisson e condições de contorno para a excitação : (8) (9) (10) Onde representa o domínio; representa o vetor normal ao contorno apontando para fora do domínio; representa o valor prescrito do contorno em ; representa o gradiente do campo potencial em ; representa o fluxo do campo potencial na direção do vetor ; representa uma propriedade física do meio e representa o contorno do domínio dividido em e , com condições prescritas, sendo que: (11) (12) O problema de valor de contorno definido de (8) a (10) pode ser resolvido pelo MEC, tanto para a definição de quanto para , utilizando para este último uma excitação complexa definida em função da corrente, que é representada por uma condição natural de contorno equivalente; e para o campo elétrico por condições de contorno essenciais (potencial prescrito nos cabos e solo). A. Análise Eletrostática Na ausência de variação temporal, pode-se descrever completamente a distribuição do campo no espaço através do gradiente de seu potencial , por meio da seguinte relação: (13) Numa dada região onde a densidade espacial de carga é nula, utiliza-se da equação de Laplace: (14) Para solução do problema elétrico por MEC, aplica-se aos cabos de fase as seguintes condições de contorno : (15) Onde é a representação complexa da tensão nominal fase-terra da linha; é a defasagem angular. Cabos para-raios e solo recebem valores prescritos nulos ( . possui componente apenas em uma direção (e.g. ), chega-se ao caso bi-dimensional, no qual o campo será função apenas das direções e . (17) Sendo a permeabilidade do meio e definido como a componente do vetor densidade de corrente perpendicular ao plano x-y, definido como: (18) Com representando a corrente nominal do cabo; representando o raio do cabo; representando o ângulo de fase da corrente, que neste caso, considerando máxima transferência de potência, será o mesmo da tensão. Na modelagem magnética, o efeito do solo e dos cabos para-raios são nulos devido ao sistema ser equilibrado e sem retorno de corrente nestes meios. VI. MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO O uso do MEC neste trabalho justifica-se devido à necessidade de discretização apenas do contorno para a solução do problema, dispensando o uso de malhas envolvendo o domínio como requisitado pelo método dos elementos finitos, tornando possível que o processo de discretização seja realizado de maneira sucessiva e autônoma durante as iterações de otimização. Partindo da forma inversa do método dos resíduos ponderados, pode-se redefinir o problema descrito em (6) a (8) em função apenas do contorno. Aplicando as soluções fundamentais, conforme [7], é possível encontrar a equação integral de contorno (19) em função das coordenadas generalizadas e do ponto fonte : (19) Onde e representam a aproximação de e , respectivamente. Discretizando o contorno por elementos constantes, podese reescrever (19) para o i-ésimo ponto fonte e o j-ésimo nó funcional, como os valores nodais e fora das integrais: (20) onde NE representa o número de elementos e e representam as soluções fundamentais do modelo, explicitadas em (19). Integrando a solução fundamental em cada elemento e variando de 1 até NE sucessivamente em (20), encontra-se o seguinte sistema algébrico de equações: B. Análise Magnetostática Na análise magnetostática utiliza-se o potencial vetor magnético : (16) No caso particular em que o vetor densidade de corrente (21) Sendo que, para , ,e em caso contrário; onde representa a integral do lado esquerdo da igualdade (18) e a integral do lado direito. Reescrevendo na forma matricial, encontra-se: 4 (22) Onde e são matrizes ; e são vetores . Conhecendo valores do potencial sobre o contorno , e valores do fluxo sobre o contorno ( , introduzindo as condições de contorno em (22) e rearajando os termos, colocando o valores conhecidos no lado direito da igualdade e incógnitas no lado esquerdo, encontra-se o seguinte sistema na forma matricial: (23) Como restrição elétrica, esta deve estar relacionada à distância mínima de isolação elétrica entre fases, variando para cada caso, conforme exemplos utilizados neste trabalho. B. Convergência De forma geral, é definida a convergência quando o processo ou sistema alcança a estabilidade, podendo ser descrita de duas formas: Definição 1: Dada uma partícula , e duas posições arbitrárias e no espaço de busca nos instantes e , a convergência é obtida quando: que permite a solução do problema. (26) VII. OTIMIZAÇÃO POR EXAME DE PARTÍCULAS Para finalizar a descrição da metodologia apresenta-se técnica que define o processo de otimização evolucionária, responsável pela reconfiguração dos cabos e redefinição da malha do MEC, conhecido como método de otimização por enxame de partículas (PSO) como proposto em [8]. No algoritmo, cada candidato (ou partícula) representa um ponto no espaço de busca e consequentemente uma solução para o problema, sendo esse espaço delimitado pelas restrições do problema físico. A adoção do PSO como método de otimização deve-se a sua flexibilidade, robustez e simplicidade de formulação do algoritmo. No PSO, a posição de cada cabo é definida em função da distância entre o centro do cabo e o centro do feixe, e ao ângulo em relação à horizontal, formando uma partícula (vetor) composta pela posição de n condutores. Durante o processo iterativo, a posição de cada cabo é alterada segundo a função velocidade, definida como: (24) (25) onde e são constantes, denominadas coeficientes de aceleração, os quais recebem neste problema os valores de 0,5 e 1,5 respectivamente; e são valores aleatórios independentes, uniformemente distribuídos entre o intervalo [0,1]; representa o vetor velocidade da partícula k com dimensão ; é definida como a melhor posição da partícula para o cabo até a iteração (memorizada para cada partícula); é definido como a melhor posição entre todas as partículas para o cabo até a iteração . Sendo ncabos o número de condutores de fase da linha, e k variando conforme o número de partículas utilizadas na otimização. Visando simplificar o problema de otimização explora-se as características de simetria elétrica do sistema trifásico, definido um posicionamento simétrico dos cabos por reflexão em relação ao eixo vertical central entre fases, reduzindo o espaço de busca da otimização. A. Restrições Aplicam-se como restrições numéricas ao processo iterativo a impossibilidade de sobreposição dos condutores, bem como a aproximação entre cabos inferior a 50% do valor do raio de cada condutor permitindo com isso a alocação segura dos pontos internos evitando problemas numéricos. Tal que , para todo , com . Onde é o número de partículas e é a diferença, ou erro admissível, e é o número máximo de iterações com erro menor ou igual ao erro mínimo admissível. Definição 2: Dada a posição ótima global e um valor global qualquer, a convergência é obtida quando: , tal que (27) Onde é o numero máximo de iterações admissíveis sem alteração do ótimo global (estagnação). Ou seja, caso não haja variação do máximo global em um intervalo entre 1 até , considera-se atingido o valor ótimo para o qual, em as partículas convergem para a mesma posição. VIII. RESULTADOS A. Otimização de feixes em LT com torre tipo VX Considera-se neste exemplo a otimização do posicionamento dos feixes em uma linha de transmissão LPNE, com estrutura de torre em V estaiada (Torre VX), desenvolvida em meados da década de 90 pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) para o projeto da LT 500 kV Presidente Dutra / Teresina / Sobral / Fortaleza, conforme [2] e [3]. Segundo [2], o projeto original do modelo utiliza em sua concepção apenas o conceito de expansão do feixe não associado à compactação de fases através de feixes quadrangulares simétricos com 4 subcondutores RAIL/ASCR, e espaçamento horizontal entre fase de 11 metros, esquematicamente mostrado na figura 2: Fig. 2. Configuração geométrica dos cabos fase e para-raios em torre VX. 5 Para calcular o campo por MEC e otimizar o posicionamento dos feixes, a configuração geométrica utilizada foi definida pelos contornos dos condutores de fase e para-raios segundo seus diâmetros. Os feixes possuíam configuração inicial quadrada de 1,20 metros, com raio entre o centro do feixe ao centro do cabo de 0,85 metros. Para representação do solo para cálculo do campo elétrico foi utilizada uma linha horizontal de 1.400 metros com ponto médio de referência no centro da torre discretizada segundo a tabela 1. Para o caso magnético, apenas os contornos dos condutores de fase foram representados, não sendo necessárias as representações do solo e cabos para-raios devido a não influência no cálculo. Os cabos condutores utilizados foram do tipo RAIL/ACSR 40x7, e os cabos para-raios do tipo EHS 3/8”, ambos discretizado por 32 nós formando elementos constantes. Em torno de cada condutor de fase foram distribuídos uniformemente 16 pontos internos, segundo figura 1. TABELA I DISTRIBUIÇÃO DOS NÓS PARA DISCRETIZAÇÃO DO SOLO Distribuição dos nós Distância(m) n° nós 0 a 500 20 500 a 600 20 600 a 650 50 650 a 675 120 675 a 700 250 700 a 725 250 735 a 750 120 750 a 800 50 800 a 900 20 900 a 1400 20 O processo de otimização utilizou 25 partículas, e apresentou as seguintes características: Iterações totais: 19; Restrição de variação do raio: 0 a 2,55 metros; Restrição de variação do ângulo: 0 a 2π radianos; Convergência: pela definição 2 (após 5 iterações sem alteração de gbest); Somatório da densidade de potência: o Inicial (feixe original): 137,0 MW; o Final (feixe otimizado): 187,2 MW; o Ganho de Densidade de potência: 36,6%. Foram consideradas características menos restritivas com relação à possibilidade de variação do raio do feixe, resultando na seguinte configuração, conforme figura 3: Fig. 3. Disposição de cabos condutores em torre VX em relação ao centro de referência de cada feixe: modelo inicial (circunferências) e otimizado (quadrados) Fig. 4. Detalhes do distanciamento encontrado entre condutores nos feixes lateral esquerdo e central, em relação ao centro de referência de cada feixe. . Para o cálculo dos parâmetros da linha original e otimizada foi utilizada a rotina Line Constants do programa ATP/EMTP, com a seguinte configuração: Características dos condutores de fase: RAIL/ ACSR 40x7 t/d =0,3749; Resistência CC = 0,06 Ω/km; Características dos condutores para-raios: EHS 3/8”; t/d= 0,5 (sólido em aço); Resistência CC = 4.31Ω/km; Diâmetro: 0.914 cm Onde d representa o diâmetro total do cabo e t representa a espessura da parte condutora de alumínio, encontrando as características elétricas para o modelo original e otimizado, conforme as tabela II e III. TABELA II - PARÂMETROS DE LINHA DE TRANSMISSÃO CALCULADOS: MODELO ORIGINAL COM TORRE VX Sequência Zero Positiva Impedância característica Atenuação Velocidade Comprimento de onda Resistência Reatância Susceptância Ω 5,09E+2 2,05E+2 dB/km 1,76E-3 3,54E-4 km/seg. 2,47E+5 2,94E+5 Km 4,11E+3 4,89E+3 Ω/km 2,05E-1 1,67E-2 Ω/km 7,57E-1 2,62E-1 ʊ/km 3,03E-6 6,27E-6 TABELA III - PARÂMETROS DE LINHA DE TRANSMISSÃO CALCULADOS: MODELO OTIMIZADO COM TORRE VX Sequência Zero Positiva Impedância característica Atenuação Velocidade Comprimento de onda Resistência Reatância Susceptância Ω 4,90E+2 1,67E+2 dB/km 1,78E-3 4,23E-4 km/seg. 2,42E+5 2,92E+5 km 4,03E+3 4,87E+03 Ω/km 1,99E-1 1,63E-2 Ω/km 7,44E-1 2,15E-1 ʊ/km 3,20E-6 7,73E-6 Por meio das impedâncias características apresentadas na tabela II e III, o SIL da linha original foi calculado através de (5) para a tensão de 500 kV, assim como para o modelo otimizado, encontrando os valores de 1221,90MW e 1496,11 MW, respectivamente, o que representa um ganho de capacidade de transmissão de 22,44% para um modelo de linha já otimizado segundo [3]. B. Otimização de linha com torre tipo SEQ1 O modelo linha com torres tipo SEQ1 utilizado neste exemplo, possui as caracterísiticas construtivas desenvolvidas pelas empresas Eletronorte, Chesf e Engetower para a LT 500 kV Interligação Norte/SUL III – Trecho 2, em atendimento ao leilão de concessão da ANEEL no ano de 2005, conforme [2]. 6 Fig. 7. Detalhes do distanciamento encontrado entre condutores nos feixes laterais e central. TABELA IV - PARÂMETROS DE LINHA DE TRANSMISSÃO CALCULADOS: MODELO ORIGINAL COM TORRE SEQ1 Sequência Zero Positiva Impedância característica Atenuação Velocidade Comprimento de onda Resistência Reatância Susceptância Ω 6,76E+2 2,08E+2 dB/km 2,10E-3 3,30E-4 km/seg. 1,98E+5 2,95E+5 Km 3,30E+3 4,91E+3 Ω/km 3,24E-1 1,58E-2 Ω/km 1,26E+0 2,66E-1 ʊ/km 2,84E-6 6,15E-6 TABELA V - PARÂMETROS DE LINHA DE TRANSMISSÃO CALCULADOS: MODELO OTIMIZADO COM TORRE SEQ1 Sequência Fig. 5. Configuração geométrica dos cabos fase e para-raios em Torre SEQ1. Semelhantemente ao exemplo anterior, o problema foi formulado apenas pelos contornos dos cabos fase, incluindo os cabos para-raio e solo apenas para o cálculo do campo elétrico. Os feixes possuíam inicialmente o diâmetro de 1,34m (diâmetro do quadrado de lado 0,95m), conforme figura 5. A discretização dos cabos e solo é a mesma utilizada no exemplo anterior, bem como a configuração dos cabos para uso na rotina Line Constants. Todavia, neste caso, foi utilizada maior restrição ao processo de otimização, permitindo menor variação dos cabos em relação ao raio do feixe (1,5 raio original) de forma a não descaracterizar a otimização estrutural citada em [2]. O processo de otimização contou também com 25 partículas e as seguintes características: Iterações totais: 14; Restrição de variação do raio: 0 a 1,01 m; Restrição de variação do ângulo: 0 a 2π radianos; Convergência: pela segunda definição (após cinco iterações sem alteração de gbest); Somatório da densidade de potência: o Inicial (feixe original): 126,6 MW; o Final (feixe otimizado): 148,6 MW; o Ganho de Densidade de potência: 17,4%. Encontrando a seguinte configuração e parâmetros elétricos: Zero Positiva Impedância característica Atenuação Velocidade Comprimento de onda Resistência Reatância Susceptância Ω 6,56E+2 1,93E+2 dB/km 6,56E+2 1,93E+2 km/seg. 1,96E+5 2,94E+5 km 3,26E+3 4,90E+3 Ω/km 3,23E-1 1,60E-2 Ω/km 1,23E+0 2,47E-1 ʊ/km 2,96E-6 6,64E-6 Calculando o SIL para o modelo original e otimizado encontram-se os valores de 1209,5 MW e 1294,6 MW, representando um ganho de 7% em relação à modelo SEQ1 original, validando com isso o modelo proposto. IX. CONCLUSÕES O presente trabalho teve como tema fundamental a aplicação do vetor de Poynting como função objetivo no processo de otimização da capacidade de transmissão de potência ativa em linhas de transmissão. Sua aplicação viabilizou, ainda que de forma indireta, a análise do comportamento dos parâmetros das linhas de transmissão em relação à disposição dos cabos nos feixes, encontrando configurações geométricas que definem menor impedância característica às linhas analisadas. Através de exemplos contendo dados reais de linhas e torres utilizadas para interligação do sistema Norte/SUL III – Trecho 2, e entre Presidente Dutra / Teresina / Sobral / Fortaleza, foi possível avaliar a aplicabilidade e eficiência da proposta, encontrado para as mesmas linhas, configurações de feixes responsáveis pela redução de suas impedâncias características e consequentemente o aumento do SIL em 7% e 22% respectivamente, para linhas que já tinham concepções otimizadas. X. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a UFJF e a Capes pela oportunidade e pelo apoio financeiro. XI. REFERÊNCIAS [1] Fig. 6. Disposição de cabos condutores e para-raios em torre SEQ1: modelo inicial (circunferências) e otimizado (quadrados) [2] J. F. Amon, C.P.R. Gabaglia, M.J. Izycki, G. Tavares, et alii. “Otimização de Linha de Transmissão não Convencional de Alta Capacidade em 500 kV,” em XIII Encontro Regional Iberoamericano de CIGRÉ, PI-B2 -23. V.G.Machado, C. Machado Júnior, J.H.M. Fernandes,M.C. Araújo, et alii., “LT 500 Kv Interligação Norte / Sul III – Trecho 2 Solução 7 [3] [4] [5] [6] [7] [8] Estrutural com Torre Estaiada Monomastro E Feixe Expandido” em XIX Seminário Nacional de Produção eTransmissão de Energia Elétrica – SNPTEE, GLT 01. O. Regis Jr., F.C. Dart, A.L.P. Cruz, “Avaliação Comparativa das Concepções de Linhas de Potência Natural Elevada em 500 kV Utilizadas no Brasil”. In 2009 XIII Encuentro Regional Iberoamericano de Cigré - XIII/PI-B2 -105. A. Ametani. “A General Formulation of Impedance and Admittance of Cables,” IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, Vol. PAS-99,No.3, 1980. L. Oliveira, "Otimização metaheurística de linhas de transmissão pela avaliação do vetor de Poynting utilizando o método dos elementos de contorno," Dissertação de Mestrado, PPEE, UFJF, Juiz de Fora, 2011. G.N. Alexandrov, G. V. Podporkin, “Improvement of The Efficiency Of 35 - To 220-Kv Lines,” IEEE AC and DC Power Transmission 17-20 pp 226-231. C.A. Brebbia, J. Dominguez, Boundary Element Method: An introductory Course. Boston: Computational Mechanics PublicationsWITpress, 1992. J. Kennedy, R.C. Eberhart, “A New Optimizer Using Particle Swarm Theory”. in 1995 IEEE - Sixth International Symposium on Human Science (MHS’95) 0-7803-2676-8/9. XII. BIOGRAFIAS Lucas Vitor Fonseca de Oliveira graduou-se engenheiro eletricista pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2009). Atualmente é engenheiro de planejamento dos sistemas elétricos das distribuidoras Energisa Minas Gerais e Energisa Nova Friburgo e aluno do curso de mestrado em engenharia elétrica da UFJF na área de Sistemas de Energia Elétrica, trabalhando na modelagem de campos eletromagnéticos por intermédio de técnicas de elementos finitos e elementos de contorno. Delfim Soares Júnior nasceu no Rio de Janeiro em 9 de Abril de 1978.Graduou-se engenheiro civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo defendido mestrado e doutorado na área de mecânica computacional por esta instituição. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de Juiz de Fora, trabalhando na modelagem de campos por intermédio de técnicas de elementos finitos, elementos de contorno, meshless, etc. Márcio de Pinho Vinagre possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Católica de Petrópolis (1978), mestrado em Engenharia Elétrica pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós Graduação e Pesquisa de Engenharia (1982) e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina (1991). Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Juiz de Fora, atuando nos temas: técnicas computacionais aplicadas na modelagem de equipamentos para estudos de fluxo de potência trifásico em sistemas de energia elétrica, ampacidade de linhas aéreas, defeitos em sistemas de potência e industriais.