A Importância da Interação Mãe-Bebê no

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A importância da interação mãe-bebê
A IMPOR
TÂNCIA DA I NTERAÇÃO MÃE-BEBÊ
MPORTÂNCIA
NO DESENV
OL
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ANTIL: A ATU
AÇÃO
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MATERNO
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TANCE OF MOTHER-BAB
Y INTERA
CTION IN CHILD
MPORT
ABY
NTERACTION
DEVELOPMENT: THE CHILDISH-MA
TERNAL NURSING PERFORMANCE
MATERNAL
Leila Rangel da Silva*
Marialda Moreira Christoffel**
Ana Maria Fernández***
Inês Maria Meneses dos Santos****
RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar uma revisão de literatura dos fatores e características da
interação mãe-filho à luz da Psicologia do Desenvolvimento. Faz-se algumas considerações sobre a ligação afetiva mãe-filho desde a concepção, parto e nascimento e sua importância para as enfermeiras que
trabalham na área materno-infantil. O conhecimento dos aspectos psicológicos do desenvolvimento da
interação mãe-filho deve ser um componente regular do patrimônio de conhecimentos clínicos básicos de
enfermagem. Isso porque os aspectos físico e psíquico são inseparáveis na pessoa, um dependendo do
outro. Só assim o enfermeiro terá condição de prestar uma assistência materno-infantil integral.
Palavras-chave: Cuidado; desenvolvimento infantil; enfermagem materno-infantil; interação mãe-filho.
ABSTRACT
ABSTRACT:: The present work presents a literature review of factors and characteristics of the mother-child
interaction, mainly based on Developmental Psicology. The author makes some remarks about the intimate
affective relationship between mother and son since conception, labour and birth and its importance to
nurses working at the childish-maternal area. The knowledge about psychological aspects of the development
of the mother-son interaction must integrate the regular bulk of knowledge in basic clinical nursing, because
the physical and psychological aspects of a person are inseparable, one depending on the other. Only
under this knowledge can an integral mother-child care be rendered by the nurse.
Keywords: Care; child development; childish-maternal nursing; mother-child interaction.
I NTRODUÇÃO
Compreender o processo psíquico pelo
qual passam a mulher e a criança desde a concepção, parto e nascimento é importante para o
desenvolvimento infantil nos primeiros anos de
vida. Esse processo significa um grande desafio para
os profissionais de saúde, principalmente para a enfermagem, uma vez que ela atua diretamente com
a díade mãe-filho nas maternidades, casa de parto, alojamento conjunto e unidades de saúde.
O presente artigo tem como objetivo realizar
uma revisão de literatura dos fatores e características da interação mãe-filho à luz da Psicologia do
Desenvolvimento. O levantamento bibliográfico
refere-se ao período de 1971 a 2004, tendo como
critério para a seleção dos textos as seguintes palavras-chave: cuidado, psicologia do desenvolvimenp.606 •
R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 out/dez; 14(4):606-12.
to, desenvolvimento infantil, enfermagem materno-infantil e interação mãe-bebê. Espera-se sensibilizar os enfermeiros que atuam na área maternoinfantil para a compreensão de elementos imprescindíveis para o desenvolvimento da criança.
DESENV
OL
VIMENTO INF
ANTIL
ESENVOL
OLVIMENTO
NFANTIL
O desenvolvimento é um conceito amplo
e se refere a uma transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva, que inclui, além do
crescimento, a maturação, a aprendizagem e os
aspectos psíquicos e sociais1. Trata-se de um processo que ocorre globalmente, durante o qual a
criança cresce e desenvolve suas potencialidades
nos planos afetivo, intelectual e social.
Silva LR, Christoffel MM, Fernández AM, Santos IMM
O desenvolvimento infantil1,2 sofre a influência de diferentes fatores: os intrínsecos, que determinam as características genéticas da criança, e os fatores extrínsecos, que surgem, ainda na
concepção, e estão diretamente relacionados com
o ambiente intra-uterino.
Durante o parto e o nascimento, o recémnascido terá mais chance de ter um contato maior com sua mãe do que o recém-nascido prematuro, doente ou malformado. Estes últimos são
privados do convívio materno porque os cuidados
invasivos frequentes, aos quais são submetidos,
dificultam o processo dessa interação. A formação do vínculo, nos dois casos, portanto, não é
um acontecimento imediato, e é construido por
meio de interações sucessivas.
As políticas públicas do pré-natal, parto e
nascimento2,3 incentivam cada vez mais, nas maternidades, a participação do pai e da família nesses cenários. Esse momento é singular e favorece
a ligação afetiva entre mãe-filho. As enfermeiras
que atuam nesse espaço também têm um papel
importante na promoção dessa interação.
Diferentes estudos4-7 já identificaram que os
primeiros dias e semanas, após o nascimento, constituem um período fundamental para o estabelecimento de uma ligação afetiva sadia entre a mãe
e o seu bebê.
As primeiras horas e dias de vida se constituiriam no denominado período de reconhecimento, quando os dois membros da díade estariam explorando um ao outro, conhecendo-se5-10.
Nesse sentido, mãe e filho mantêm um padrão comportamental e de interação constante,
isto é, formam um sistema em que o comportamento de cada elemento é estímulo para o comportamento do outro4-6.
No entanto, um relacionamento adequado
entre a mãe e a criança não é automaticamente
assegurado. Trata-se de um processo de aprendizagem no qual as mulheres precisam de apoio e
orientação para desempenhar satisfatoriamente seu
papel de mãe. Parte dessa orientação é dada, muitas vezes, pelos enfermeiros que trabalham na área
materno-infantil. Na prática, no entanto, as ações
predominantes são as relacionadas às ansiedades
da mãe no sentido do cuidado físico, em detrimento
das características psicológicas da criança7.
O desenvolvimento saudável da relação
materno-infantil passa por fases que podem ser
observadas e avaliadas, sendo possível diferenci-
ar as ligações afetivas, mais, ou menos, adequadas. Constatações como essas podem e devem ser
incorporadas nas rotinas de atendimento da enfermagem materno-infantil.
Sabe-se que os profissionais de enfermagem
reconhecem estar mal preparados para lidar com
a interação mãe-filho. Um dos argumentos geralmente usados para justificar o despreparo relacionado à assistência aos problemas psicológicos é
que os profissionais, no contato clínico com os
pacientes, não dispõem de tempo para lidar com
mais do que os aspectos físicos da criança7.
A orientação e o atendimento às necessidades psicológicas, no entanto, não devem, necessariamente, envolver tempo adicional. O conhecimento e o preparo adequado do profissional por si
só permitem adquirir habilidades de discernimento
e objetividade, tanto na observação e avaliação
como na intervenção, se ela for necessária7.
ESTUDOS OBSER
VACIONAIS
SERV
Durante muito tempo, psicólogos
8-12
usaram
termos para descrever os bebês, influenciados por
crenças que habitualmente eram compartilhadas
pela sociedade em geral e que mudaram com o
passar do tempo. Os observadores do século XIX,
por exemplo, comparavam o bebê humano com os
bezerros e potrinhos que já nascem em um estado
mais maturo e, por conseguinte, podem andar
imediatamente após o nascimento8, enquanto o
bebê humano era considerado incompetente, já
que parecia tão desamparado quando comparado
com outros mamíferos. Posteriomente, psicólogos
contemporâneos já vêm descrevendo o bebê como
competente9,11.
Estudos organizados por Moura11 trazem à luz
a base teórica, consistente e empiricamente fundamentada, das competências e adaptações peculiares do ser humano quando de seu nascimento, e de como essa interação com os pais repercute nas práticas de cuidado.
Autores11,12 consideram que a ênfase dada ao
padrão de relações da criança com sua mãe decorre da capacidade básica de organização psíquica da criança, que, por sua vez, depende da
natureza dessa interação.
Na crendice popular, antes mesmo do advento da embriologia, os mistérios da vida intrauterina e as formas pelas quais o ambiente pode
influir nesse processo já despertavam grande inR Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 out/dez; 14(4):606-12.
• p.607
A importância da interação mãe-bebê
teresse. Acreditava-se que qualquer evento capaz de influenciar a mãe durante a gravidez afetaria o feto. Se uma futura mãe, por exemplo, fosse assustada por um cão, a criança poderia desenvolver fobia por esse animal, entre outros. Essas crenças derivavam de uma suposta conexão
neural entre o sistema nervoso da mãe e do filho
e da transmissão de emoções, desejos, angústias e
outros sentimentos4,6.
As inúmeras variações no ambiente pré-natal submetem o feto a diversas pressões. Pesquisas10,11 sugerem que o estado físico e emocional da
mãe e o ambiente pré-natal que ela proporciona
ao feto geram influências importantes no curso
do seu desenvolvimento, na saúde e ajustamento
subseqüentes da criança.
Fatores ambientais importantes no período prénatal, portanto, podem influenciar o crescimento
e desenvolvimento da criança. Entre eles destacam-se a idade materna, nutrição materna, uso de
álcool e drogas, nicotina e as radiações que podem
provocar inúmeros efeitos nocivos ao feto4-6.
O maior perigo de malformação ocorre entre a segunda e a sexta semana após a concepção.
As doenças e distúrbios maternos, como sífilis,
rubéola e caxumba, podem produzir abortos ou
anormalidades físicas (cegueira, surdez, deformidades nos membros) ou mentais. O Fator Rh e a
incompatibilidade entre os tipos sangüíneos da
mãe e do feto também re-presentam um fator de
risco para a criança. O estresse materno pode influenciar as reações e o desenvolvimento do feto,
assim como as pertubações emocionais podem provocar alterações neuro-hormonais na pressão arterial materna, repercurtindo sobre o estado
neurofisiológico fetal, ou seja, no seu estado emocional10.
A S M ANIFEST
AÇÕES P SICOLÓGI ANIFESTAÇÕES
CAS DA GEST
ANTE
ESTANTE
Qualquer gravidez, mesmo sendo bem aceita, planejada e oriunda de pais saudáveis, sempre
trará consigo alguns temores e ansiedades. Toda
gestação implica, de início, uma ambivalência
básica: de um lado, o desejo de ter a criança, ou
seja, sua aceitação; de outro, uma certa rejeição
à gravidez que provoca na gestante o temor de
ser destruída pela gestação10.
Já, no segundo e terceiro mês de gestação,
p.608 •
R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 out/dez; 14(4):606-12.
as ansiedades se relacionam com o aparecimento
das náuseas e vômitos, acrescidas, em alguns casos, de diarréia ou constipação. Essas disfunções
provocam intranqüilidade e medo, pois a gestante, muitas vezes, associa os sintomas ao perigo de
aborto. Os movimentos fetais surgem a partir do
quarto mês, mas a percepção consciente desses
movimentos acontece durante o quinto mês. Esse
período é importante porque o conflito aceitaçãorejeição, que acompanha a gravidez, é
sintomatizado na verbalização3-5.
Algumas mães se utilizam de frases carinhosas para indicar os movimentos fetais, entre elas:
“o neném está se aninhando” ou “parecem borbulhas gostosas”4:23. Outras os descrevem como
chutes, cutucadas ou pontapés:“está me entortando a costela” ou “está me amassando o rim”, dizem elas4:23. As verbalizações positivas ou prazerosas
indicam uma manifestação de aceitação e as negativas ou agressivas, de rejeição4,5.
Nesse período, o estado de gravidez já é evidente e as mudanças corporais são visíveis. A
ansiedade aparece de diferentes maneiras: o temor de ter um filho disforme; o medo de morrer
no parto ou a angústia do corpo disforme e o medo
de que ele assim permaneça. Esse é outro aspecto
importante, já que esse sentimento provoca depressões e fantasias ciumentas a respeito do marido e de seu possível afastamento numa relação
extraconjugal. É, nesse momento, também, que a
libido sexual diminui, dando oportunidade a tais
fantasias e temores3.
À medida que o momento do parto se aproxima, surgem novas modificações fisiológicas: o
feto tende a desenvolver-se mais rapidamente,
ganhando peso e volume; as contrações fisiológicas acentuam-se; o corpo precisa mudar seus
mecanismos de postura para manter a estabilidade. A essas modificações somam-se a incerteza
quanto à data do parto, como será o parto, como
será o bebê, qual será seu sexo e outras dúvidas.
Nessa ocasião surgem os temores quanto à dor, ao
parto traumático por fórceps ou cesariana, ao filho disforme, à morte do filho e à própria morte
durante o parto1-5. Assim, são inúmeras as manifestações psicológicas da mãe durante a gravidez,
reações que refletem situações conflitantes ante
a gravidez, o parto e a maternidade em geral.
Muitas dessas situações correspondem a conflitos evolutivos não resolvidos que, ao serem
atualizados durante a gestação e o parto, irão influenciar o desenvolvimento da criança, pois ela
Silva LR, Christoffel MM, Fernández AM, Santos IMM
crescerá com o amor e as fantasias psíquicas que
os pais depositarão nela. Por isso, o profissional
deve proporcionar, à gestante, o máximo de apoio
e orientação, ajudando a futura mãe a superar as
profundas ansiedades determinadas pela gravidez5.
Durante a gestação, a mulher precisa receber atenções especiais que a ajudem a ajustar-se
ao novo papel de mãe. O tratamento adequado,
no entanto, quase nunca lhe é ministrado. Geralmente, ela recebe uma assistência obstétrica de
forma mecânica e impessoal, sendo recebida por
um profissional atarefado que a examina e receita
vitaminas ou outros medicamentos necessários.
Suas emoções, medos, ansiedades, alegrias e expectativas muitas vezes não são considerados 3,4.
O E NFERMEIRO
M ÃE-F ILHO
E A
I NTERAÇÃO
O enfermeiro que atua no pré-natal deve
orientar os pais a se dedicarem ao filho intra-útero durante alguns momentos do dia, seja conversando baixinho, contando suas atividades e ocupações, cantarolando cantigas de ninar, acariciando com ternura o ventre materno e dedicando-lhe, assim, amor e carinho. Mesmo que algum
tipo de perturbação emocional faça parte do cotidiano da mãe, tais momentos cumprirão a missão
de abrandar eventuais ansiedades vivenciadas
pela mãe durante a gravidez, proporcionando ao
feto sensação de segurança.
O momento do parto, da maneira como é
geralmente realizado na atualidade, constitui-se
em mais um fator prejudicial para o desenvolvimento da interação da mãe e filho13. O parto
cesariano, realizado incontáveis vezes sem indicação obstétrica e com anestesia geral, pode levar a mãe a sentimentos de incerteza em relação
à identidade do bebê, sentimentos de falha como
mulher, além das dores e da separação subseqüentes que costumam ocorrer13,14.
A indução do parto por drogas e o rompimento artificial das membranas feito por conveniência
(para acelerar o processo) produzem aumento das
contrações uterinas (e portanto das dores da mãe)
e menor fluxo sangüíneo para o cérebro do bebê.
Esses procedimentos podem causar anormalidades
neurológicas e cardíacas e disfunção cerebral mínima, entre outras. A indução provoca, ainda, a
inevitável administração de analgésico e sedativos para aliviar as dores maternas3,14.
Essas drogas concentram-se na circulação
fetal e no sistema nervoso central, o que pode
levar a um comportamento menos responsivo após
o nascimento, menor sucção e até problemas de
respiração. A equação criança/ mãe sonolenta
decorrente da prescrição de droga após o parto
altera as respostas maternas. Dependendo das
condições da mãe e da criança, do grau e da duração desse estado, as conseqüências podem ser
mais duradouras e imprevisíveis 3,4.
Vive-se um momento de mudanças no que
diz respeito às práticas demonstradamente úteis
e que devem ser estimuladas pela enfermeira no
momento do parto e nascimento. Destaca-se, principalmente, o respeito ao direito da mulher à privacidade no local do parto; respeito à escolha da
mulher sobre seus acompanhantes durante o trabalho de parto e parto; métodos não invasivos e
não farmacológicos de alívio da dor, como massagens e técnicas de relaxamento, durante o trabalho de parto e parto; liberdade de posição e movimento durante o trabalho de parto e parto; contato precoce entre mãe e filho e apoio ao início da
amamentação na primeira hora após o nascimento. Entende-se que essas medidas não só têm ação
direta na interrupção do círculo vicioso medo-tensão-dor-medo, mas promovem a interação mãe-filho no processo do parto e nascimento 13,14.
Autores15,16 que primam pela humanização do
nascimento vêm demonstrando a urgência de se
pensar no parto e no nascimento de maneira menos intervencionista e mais libertária. A disponibilidade afetiva da mãe é de fundamental importância para que o desenvolvimento psico-afetivo
do indivíduo aconteça de célula a feto, de feto a
bebê, de bebê a criança17.
Os cuidados pós-parto prestados ao bebê geralmente são executados de maneira mecânica,
rápida, num ambiente tumultuado e de muita luz.
As luzes fortes sobre os olhos do bebê podem prejudicar o comportamento de olhar mútuo que ocorre
entre a mãe e a criança durante a amamentação,
dificultando a interação entre mãe e filho13,14.
A INTERAÇÃO MÃE-FILHO
As primeiras pesquisas
7-11
relacionadas ao
estudo da relação mãe-filho tiveram sua origem
após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando
as crianças órfãs, ou que foram abandonadas pelas mães, foram transformadas em objeto de estudo. Constatou-se, na ocasião, que a ausência maR Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 out/dez; 14(4):606-12.
• p.609
A importância da interação mãe-bebê
terna provocava distúrbios em todos os aspectos
da vida da criança 3, 5.
Desde então, psicólogos3-5 vêm constatando
que a interação mãe-filho nos primeiros meses e
anos de vida é um fator determinante e fundamental na formação de certas características de
personalidade que, mais ou menos permanentes,
se manifestam no processo de desenvolvimento
da criança.
No começo, alguns desses estudos deram
uma grande ênfase à influência que a personalidade da mãe exercia sobre a criança, uma vez
que esta última ainda é pouco estruturada. Esse
modelo de relação, denominado de monádico ou
unidirecional, valorizava a influência dos pais, seu
nível socio-cultural, local de residência (cidade,
campo), idade, práticas de criação adotadas3,4,5.
Esse modelo monádico, no entanto, enfatizava
apenas a maneira como os adultos agiam sobre a
criança, desconsiderando a possibilidade da reciprocidade dessa influência. Só a partir de 1968 floresceu um novo tipo de modelo na interação mãefilho: o modelo diádico ou bidirecional, mostrando
a necessidade de se considerar tanto o efeito da
mãe sobre o filho como a influência do comportamento do filho sobre a mãe3.
Do ponto de vista materno, o estado psicológico existente antes do nascimento poderia determinar, em parte, a forma como a mãe irá responder à estimulação vinda da criança, como também os padrões de estimulação e resposta que ela
irá oferecer à criança.
Nesse sentido, diversos autores3,5,10 questionam o entendimento segundo o qual o sentimento materno é algo puramente instintivo. Eles enxergam na percepção maternal um aprendizado e
salientam uma série de fatores psicossociais que o
determinariam, entre eles, a grande expectativa
social em torno do desempenho da mulher como
mãe. A mulher assimila a idéia de que deve ter
um bom desempenho, e passa a exigir de si mesma a correspondência no cumprimento dessas
expectativas.
Outro fator determinante do comportamento
materno diz respeito ao tipo de identificação que a
mulher teve com a própria mãe. A mulher, para ser
uma boa mãe, necessariamente, deveria ter passado por essa experiência. A figura materna afetiva é
quem lhe fornece o modelo para sua nova experiência9. Desse modo, as experiências vivenciadas
cumprem o papel de fornecer subsídios ao complep.610 •
R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 out/dez; 14(4):606-12.
xo processo de aprendizagem da maternidade e da
qualidade na interação mãe-filho.
A interação mãe-criança é vista como uma
unidade simbiótica5. O termo simbiose significa uma
interação contínua e recíproca entre mãe e filho.
O processo psicodinâmico dessa comunicação
bidirecional entre mãe e criança é gratificante
para ambos. A gratificação, do ponto de vista da
criança, se refere ao atendimento de suas necessidades de dependência. A ótica da mãe entrevê
dois fenômenos: as atividades de doação, com as
quais a mãe responde às necessidades da criança
e as satisfaz, e as manifestações fisiológicas e emocionais da criança em resposta às atividades da
mãe. Assim, a criança seria uma fonte de estímulos para a mãe, e, consequentemente, ela seria
uma fonte de estímulos para a criança.
O comportamento materno, assim, tende a
estar sob o controle dos estímulos e condições
reforçadoras que partem do bebê. Admite-se,
então, que o comportamento materno varia em
função do estado ou do nível de atividade do bebê
(choro, sorriso, acordado e outros). Um estudo4
verificou ser o choro do nenê um estímulo bastante importante na determinação do comportamento materno. É o próprio lamento do bebê que
orienta a mãe a agir de determinada forma para
cessar o incômodo e o choro dele decorrente. Da
mesma forma que o choro, o sorriso também é
considerado um estímulo para a mãe, com a diferença de que o primeiro seria um estímulo
aversivo, enquanto o sorriso é reforçador4.
Mãe e filho formam uma díade de interação
- quanto mais a mãe responde, menos o bebê chora
e mais facilmente eles desenvolvem modos variados de comunicação. Nesse sentido, existem algumas suposições quanto a tornar o bebê exigente e dependente se a mãe responder com muita
freqüência às solicitações do recém-nascido. Estudos3 desenvolvidos sobre o tema, no entanto,
provaram o contrário: os bebês mais chorões são
aqueles criados por mães que tendem a responder menos (ignorando o choro), ou que demoram
mais para responder. Já os bebês que receberam
mais afeto, nos primeiros meses, tornaram-se mais
independentes e afetivos.
Depreende-se daí que os primeiros encontros entre a mãe e o recém-nascido,
freqüentemente, determinam a natureza de suas
relações subseqüentes, já que as mães estão particularmente sensíveis a seus bebês nos dias seguintes ao parto. Seria, nessa época, que os pa-
Silva LR, Christoffel MM, Fernández AM, Santos IMM
drões individuais de interação se estabeleceriam
e passariam a ser relativamente duradouros, influenciando de maneira positiva o desenvolvimento futuro da criança1.
A mãe interage com o filho, mediante diferentes maneiras de manifestações de amor,
afetividade e desejo. O recém-nascido é capaz
de responder a essas interações já nas primeiras
horas de vida. É de fundamental importância que
o enfermeiro deva ter atenção para observar como
acontece o processo de comunicação da díade
mãe-filho no alojamento conjunto, para identificar possíveis falhas no processo de interação18.
Muitos autores4-6,8-11 na área da psicologia têm
se preocupado com a interação materno-infantil
e suas implicações sobre cada um dos membros
envolvidos na relação. No entanto, na área da
enfermagem, ainda são incipientes as publicações
referentes ao assunto. Por isso, destaca-se a necessidade de os profissionais desenvolverem mais
trabalhos sobre o tema.
Nesse sentido, o processo psicológico da
interação mãe-filho surge como algo desconhecido. Na prática, a enfermeira age com base no que
aprendeu na chamada educação formal e na experiência. Assim é que o profissional, às vezes,
chega a fazer julgamentos fundamentados nos
próprios sentimentos para enfrentar as situações
do cotidiano profissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
período pré-natal e pós-parto são muito
importantes, tanto para a mãe quanto para o recém-nascido, e podem inclusive determinar a qualidade da ligação afetiva que vai se estabelecer
entre os membros da díade criança-mãe. Por isso,
é fundamental que o pré-natal, o parto e o nascimento ocorram em ambientes afetivos e propícios
à prestação de uma assistência mais calorosa e sensível por parte dos enfermeiros obstetras e neonatais.
Sabe-se que o processo da interação mãefilho é influenciado por uma multiplicidade de
fatores. As variações comportamentais daí decorrentes, portanto, exigem o esforço conjunto de
diferentes ciências e áreas de conhecimento. É
imprescindível, assim, uma visão multidisciplinar
capaz de clarificar todos os fatores que agem e
interagem nesse processo. O fato de o enfermeiro
ser o elo da equipe de saúde que mantém maior
contato com a população materno-infantil coloca esse profissional numa posição estratégica para
observar a interação mãe-filho, detectar a necessidade de intervenção, promover e facilitar a ligação afetiva.
É nesse sentido que a assistência de enfermagem visa o apoio, a promoção e a prevenção da
saúde física e mental da criança. Seu objetivo é
claro e pode vir a ser alcançado na medida em
que o profissional conheça as expectativas da
mulher em relação a seu filho, suas tensões e dúvidas diante do desafio de ter de cuidar dele. Incentivar a participação do pai/responsável no
momento do nascimento, o primeiro contato do
recém-nascido com o colo da mãe na sala de parto e o aleitamento materno prazeroso para mãe e
bebê são algumas das ações que, seguramente,
promovem e fortalecem essa interação. Ao
priorizar esses procedimentos, o enfermeiro contribuirá decisivamente não só na promoção da
saúde física, mas também na criação das condições necessárias para que a criança, ao sentir-se
amada, desenvolva, ao máximo, o seu potencial
psico-motor e social.
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LA IMPOR
TANCIA DE LA INTERA
CCIÓN MADRE-HIJO EN EL DESARROLLO INF
ANTIL: LA ACTU
ACIÓN
MPORT
NTERACCIÓN
NFANTIL
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DE LA ENFERMERÍA MA
TERNO-INF
ANTIL
MATERNO
INFANTIL
RESUMEN: Este artículo tiene por objetivo presentar una revisión de literatura de los factores y características de la interacción madre-hijo, basados en la Psicología del Desarrollo. Se hace algunas
consideraciones sobre el vínculo afectivo madre-hijo desde la concepción, parto y nacimiento y su
importancia para las enfermeras que trabajan en el área materno-infantil. El conocimiento de los aspectos
psicológicos del desarrollo de la interacción madre-hijo debe ser un componente regular del acervo de
conocimientos clínicos básicos de la enfermería. Eso porque los aspectos físico y psíquico son inseparables
en el ser humano, uno depende del otro. Sólo así el profesional de enfermería prestará una asistencia
materno-infantil integral.
Palabras Clave: Cuidado; desarrollo infantil; enfermería materno-infantil; interacción madre-hijo
Recebido em: 25.11.2005
Aprovado em: 25.09.2006
Notas
*
Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Doutora em Enfermagem. Coordenadora do Núcleo de Pesquisa, Estudos
e Experimentação na Saúde da Mulher e da Criança. NuPPEMC. E-mail: [email protected]
**
Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UERJ). Rua Presidente Domiciano 171/401. Ingá. Niterói/RJ. CEP. 24.210-270. E-mail: [email protected]
***
Enfermeira Universidade do Chile. Jefa de la Unidad de Mediación de la Superintendencia de Salud de Chile.Mestre em Enfermagem
UNIRIO. E-mail:[email protected]
****
Professora Assistente do DEMI da EEAP da UNIRIO. Pesquisadora do NuPPEMC. Mestre em Enfermagem.
p.612 •
R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2006 out/dez; 14(4):606-12.
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