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Abacaxi Fitossanidade
Frutas do Brasil, 9
PROBLEMAS DE
CAUSA ABIÓTICA
QUEIMA-SOLAR
Este é um problema do fruto decorrente da exposição anormal de uma de
suas partes à ação excessiva dos raios
solares. A queima-solar ocorre em maior
intensidade quando o fruto tomba para
um lado (Figura 40), devido ao comprimento do pedúnculo, ocorrência de período de baixa disponibilidade de água no
solo, ou deficiência nutricional.
Capaz de causar perdas acentuadas na
produção de frutos em épocas quentes, a
queima-solar é controlada, basicamente,
pela proteção mecânica dos frutos. Materiais
tais como palha de plantas invasoras, papel,
papelão, ou pedaços de polietileno podem
ser colocados sobre os frutos a fim de
protegê-los contra a ação dos raios solares.
É também comum, em algumas regiões
produtoras, a utilização das próprias folhas
do abacaxizeiro como agente de proteção.
Foto: Aristóteles Pires de Matos
Frutos afetados apresentam inicialmente uma descoloração amarelada na
epiderme que passa a marrom-escura, podendo ocorrer rachaduras entre os frutilhos
em conseqüência do dessecamento dos tecidos. Internamente, observa-se aumento
na translucidez da polpa na região afetada;
em fase mais avançada da anomalia, a polpa
apresenta consistência esponjosa (Figura 41).
A incidência da queima-solar em frutos em
estádio inicial de desenvolvimento provoca
a paralisação do crescimento na região afetada enquanto os tecidos sadios continuam
crescendo, o que confere ao fruto um desenvolvimento assimétrico em relação a
seu eixo.
Figura 40. Frutos de abacaxi Pérola tombados, expressando queima-solar.
Frutas do Brasil, 9
Abacaxi Fitossanidade
Foto: Domingo Haroldo Reinhardt
A
B
Figura 41. Frutos de abacaxizeiro expressando diferentes níveis de queima-solar.
A - Dano na casca. B - Dano na polpa.
O fornecimento de adubação equilibrada, com doses adequadas de potássio,
evita o tombamento dos frutos, controlando assim a queima-solar. O estabelecimento de um programa de indução floral que
possibilite a colheita em épocas de temperaturas amenas, também constitui medida
de controle desta anomalia.
MURCHAPORESTRESSE
HÍDRICO
O abacaxizeiro é uma planta que pode
ser cultivada sob condições de pluviosidade
que variam de 600 mm a 4.000 mm por ano.
Contudo, tanto o excesso quanto a baixa
disponibilidade de água no solo podem ser
prejudiciais a essa cultura. Sob condições
de baixa disponibilidade de água no solo, as
raízes do abacaxizeiro paralisam seu crescimento e apresentam suberização de suas
extremidades. Na parte aérea, as plantas
desenvolvem sintomas de murcha, caracterizados pela perda da coloração verde das
folhas, que passam a amarelada e por fim a
avermelhada (Figura 42). A planta perde a
turgescência e as folhas se apresentam compridas, estreitas e com os bordos enrolados
Frutas do Brasil, 9
Foto: Aristóteles Pires de Matos
Abacaxi Fitossanidade
Figura 42. Vista geral de um plantio de abacaxi sob condições de estresse hídrico,
mostrando sintomas de murcha.
para baixo. Com o restabelecimento do
suprimento normal de água no solo, as
plantas, em geral, retomam seu desenvolvimento.
FASCIAÇÃO
A fasciação é uma anomalia que se
caracteriza pelo descontrole no desenvolvimento normal da planta condicionando a
proliferação dos frutilhos e coroas, resultando em frutos de aparência disforme ou
com coroas múltiplas (Figura 43). Outro
tipo de fasciação, embora menos freqüente,
é o resultante da proliferação acentuada do
ápice do pedúnculo, dando origem, na
mesma planta, a vários frutos pequenos,
sem valor comercial. A fasciação é uma
desordem resultante de um distúrbio
morfogenético durante a floração, o qual
ocorre com maior intensidade em períodos
secos, ensolarados e de temperaturas elevadas. Plantas com desenvolvimento exuberante, seja devido ao fornecimento de doses
excessivas de fertilizantes, seja devido à
fertilidade natural do solo, são mais sujeitas
à ocorrência de fasciação.
ESCURECIMENTO OU
BRUNIMENTO INTERNO
O escurecimento interno é uma anomalia que ocorre na pós-colheita do fruto,
porém pode ocorrer também em condições
de campo. Os sintomas iniciais caracterizam-se pelo surgimento de uma mancha
pequena e translúcida na polpa do fruto, ao
lado de seu eixo central, próximo da coroa.
Com o passar do tempo, as manchas se
expandem, atingindo quase toda a polpa do
fruto, restando apenas uma faixa estreita de
tecido sadio entre a polpa e a casca, capaz de
manter a consistência do fruto e, por conseguinte, conferindo-lhe aparência normal.
A ocorrência do escurecimento interno está relacionada com a alternância de
baixas temperaturas sob as quais os frutos
são mantidos durante o transporte para os
mercados consumidores e a temperatura
ambiente na qual são comercializados. Além
desse efeito de alternância de temperatura,
o escurecimento interno se expressa também, com maior intensidade, em frutos
com baixa acidez, assim como baixo teor de
ácido ascórbico.
Abacaxi Fitossanidade
Foto: Getúlio Augusto P. da Cunha
Frutas do Brasil, 9
Figura 43. Inflorescência de abacaxi Smooth Cayenne expressando sintoma de
fasciação.
Práticas culturais que possibilitem a
produção de frutos com acidez mais elevada, como por exemplo um maior suprimento de potássio, podem reduzir o desenvolvimento do escurecimento interno.
FRUTO-MACHO
Foto: Domingo Haroldo Reinhardt
Anomalia observada de forma predominante na cultivar Pérola, o fruto-macho
caracteriza-se pela produção de frutos
pequenos, cônicos, sem coroa, com frutilhos proeminentes e sem valor comercial (Figura 44). Sendo uma anomalia de
causa ainda não estabelecida, é recomendável a destruição de todas as plantas que
produzam frutos com esse defeito, bem
como a não utilização do material propagativo por elas produzidos.
Figura 44. Sintoma de fruto-macho em abacaxi Pérola.
Abacaxi Fitossanidade
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DEFICIÊNCIA DE
NITROGÊNIO
As carências nutricionais ocupam po-
DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS
sição de destaque dentre os fatores
abióticos que podem causar prejuízos ao
desenvolvimento e à produção do abacaxizeiro, planta bastante exigente em relação aos nutrientes, manifestando-se principalmente quando o cultivo ocorre em
solos de baixa fertilidade e/ou explorados
de forma intensiva.
O recurso mais adequado para a avaliação do estado nutricional da planta, tendo
em vista a identificação de possíveis deficiências, é, sem dúvida, a análise química de
tecidos. Nem sempre, porém, é possível a
realização de tais análises, o que tem resultado num exercício constante de buscar enxergar nas plantas, ainda no campo, sintomas que possam auxiliar nessas avaliações.
SINTOMAS DE DEFICIÊNCIAS
MINERAIS
As inferências baseadas apenas nos
sintomas visuais de carências minerais são
reconhecidamente limitadas, por se tratar
de recurso qualitativo e sujeito a muitos
erros de interpretação (sobretudo pelo fato
de que a expressão de sintomas, no campo,
pode estar associada à atuação simultânea
de mais de um fator). Mesmo assim, admite-se que eles podem fornecer subsídios
valiosos. Para tanto, é fundamental maior
experiência/convivência com a cultura, para
que se possa “ler” e interpretar melhor o
que os sintomas manifestados pelas plantas
estão expressando. Não se pode esquecer,
também, que o aparecimento de sintomas
visuais de carências ocorrem, normalmente,
em estágios avançados das deficiências, quando a planta já teve comprometidas algumas
de suas funções vitais e/ou econômicas.
Py et al. (1984) descrevem os seguintes sintomas de deficiências minerais do
abacaxizeiro, ressaltando que eles referem-se a cada nutriente isoladamente, assumindo que os demais não são fatores
limitantes no meio.
Folhagem amarelo-esverdeada a amarela; folhas pequenas, estreitas e pouco
numerosas; planta fraca e de crescimento
lento; fruto pequeno, muito colorido e com
coroa pequena; ausência de mudas. Freqüente em solos pobres em matéria orgânica, sem adubação, em situações quentes e
bem ensolaradas (Figura 45).
DEFICIÊNCIA DE FÓSFORO
Folhagem de cor escura, verde-azulada,
mais pronunciada com adubação
nitrogenada pesada; folhas que dessecam a
partir da ponta, começando pelas mais velhas; folhas velhas com pontas secas de cor
marrom-avermelhada e estrias transversais
marrons. A margem destas folhas amarelece
a partir da ponta; planta de porte ereto, com
folhas longas e estreitas; raízes com pêlos
mais longos, muito coloridos e menos
ramificados; fruto pequeno, com coloração
avermelhada. Ocorre raramente, podendo
aparecer de forma mais ou menos temporária, sobretudo em períodos secos, em solos
pobres ou onde horizontes profundos foram expostos devido ao preparo ou
revolvimento.
DEFICIÊNCIA DE ENXOFRE
Folhagem amarelo-pálida a dourada;
margem das folhas de cor rósea, sobretudo
nas folhas velhas; planta de porte normal;
fruto bastante pequeno. Rara, exceto no
caso de a adubação não conter sulfatos.
DEFICIÊNCIA DE POTÁSSIO
Folhagem verde a verde-escura, mais
pronunciada com a adubação nitrogenada;
folhas com pequenas pontuações amarelas
que crescem, se multiplicam e podem se
reunir sobre as margens do limbo;
ressecamento de sua extremidade; planta
de porte ereto; pedúnculo do fruto pouco
resistente; fruto pequeno, sem acidez, sem
aroma. Ocorre com freqüência, exceto em
Abacaxi Fitossanidade
Foto: Domingo Haroldo Reinhardt
Frutas do Brasil, 9
Figura 45. Plantas com deficiência de nitrogênio (coloração verde-pálida), em contraste com plantas
normais (coloração verde-escura).
solos ricos em potássio. É favorecida por
adubação desequilibrada rica em nitrogênio, por insolação forte, por lixiviação intensa, por solos de pH elevado, ricos em
cálcio e magnésio (Figura 46).
DEFICIÊNCIA DE CÁLCIO
Folhas muito pequenas, curtas, estreitas e quebradiças; entrenós muito curtos;
em meio controlado, pode evoluir até a
morte do ápice, com desenvolvimento de
brotos laterais que têm aspecto semelhante.
É rara, exceto em solos fortemente degradados.
DEFICIÊNCIA DE MAGNÉSIO
Planta de porte normal; folhas velhas
amarelas, cujas partes sombreadas por folhas mais jovens permanecem verdes. Manchas amarelas que se tornam marrons em
meio controlado, ressecamento das folhas
velhas que não completaram seu crescimento quando do aparecimento da deficiência; frutos sem acidez, pobres em açúcar,
sem sabor. Muito freqüente nos solos pobres em magnésio, sobretudo com uma
forte adubação potássica, em situações fortemente ensolaradas (Figura 47).
DEFICIÊNCIA DE FERRO
Desenvolvimento de clorose a partir
de folhas jovens; folhas em geral fracas,
largas, amarelas com uma “rede” verde
correspondendo aos vasos condutores; folhas velhas secas; folhas apresentando faixas transversais verdes, no caso de pulverizações com ferro em volume elevado; fruto
vermelho com coroa clorótica. Muito freqüente em situações variadas: solos com
pH elevado, solos ricos em manganês
(Mn/Fe = 2), solos compactados, condições redutoras, áreas de casas de cupins,
forte adubação nitrogenada de plantas submetidas a uma diminuição bastante rápida
da atividade radicular por diversas razões,
tais como cochonilhas, secas etc. (Figura 48).
DEFICIÊNCIA DE MANGANÊS
Os sintomas não são, de fato, muito
bem definidos; as folhas atingidas apresentam um aspecto de mármore com áreas
verde-claras, principalmente onde os vasos
estão localizados, circulando áreas de um
Frutas do Brasil, 9
Foto: Domingo Haroldo Reinhardt
Abacaxi Fitossanidade
Foto: Domingo Haroldo Reinhardt
Figura 46. Sintomas de deficiência de potássio em folhas de abacaxizeiro.
Figura 47. Sintomas de deficiência de magnésio em folhas de abacaxizeiro. A faixa verde na folha
estava sombreada pela folha mais acima.
Abacaxi Fitossanidade
Foto: Luiz Francisco da S. Souza
Frutas do Brasil, 9
Figura 48. Sintomas típicos de deficiência de ferro, em plantas cultivadas em mancha de solo com
pH=7,7.
vermelho-purpúrea na dobra; raízes curtas com pêlos reduzidos; planta raquítica.
Seria relativamente comum, mas a descrição dos sintomas é, com freqüência, imprecisa (Figura 49).
verde mais escuro. É rara, podendo ocorrer
em solos ricos em cálcio com pH elevado.
Em plantas jovens: o centro da roseta
foliar apresenta-se fechado, as folhas jovens são rígidas, quebradiças e às vezes
encurvadas (crook-neck). Em plantas velhas:
as folhas basais apresentam nervuras irregulares e descoloração amarelo-alaranjada
em placas nas margens do limbo, com a
ponta seca. Aparentemente a deficiência
favorece a multiplicação de Diaspis, com
sintomas característicos. Pouco freqüente,
exceto em solos com pH elevado, com
calagem excessiva ou onde houve má incorporação do calcário ou do fósforo.
DEFICIÊNCIA DE COBRE
Folhas verde-claras, estreitas, com
bordos ondulados, com uma pronunciada
calha em forma de U e raros tricomas;
pontas das folhas E se curvando para
baixo; folhas velhas caídas com coloração
Foto: Ricardo Sérgio de Sarmento Gadelha
DEFICIÊNCIA DE ZINCO
Figura 49. Plantas com sintomas de deficiência de cobre
(à esquerda), ao lado de plantas que receberam aplicação deste nutriente (à direita).
Abacaxi Fitossanidade
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AVALIAÇÃO DO ESTADO
NUTRICIONAL DO
São atribuídos ao boro certos sintomas verificados em diversas situações: des- ABACAXIZEIRO
DEFICIÊNCIA DE BORO
coloração amarela a alaranjada, tornandose marrom em uma só margem das folhas,
parando seu crescimento em dois terços de
seu comprimento - ponta seca - tendência
da folha a se enrolar (condições hidropônicas
na Côte d’Ivoire); clorose das folhas jovens
com envermelhecimento dos bordos mortos do ápice (condições hidropônicas na
Malásia); frutos com coroas múltiplas
(Havaí, Martinica); formação de tecido
suberoso entre os frutilhos, frutos podem
ser muito pequenos, esféricos (Austrália,
Martinica). Estes sintomas aparecem com
freqüência por causa da insolubilização do
boro no solo, devido à seca ou ao pH muito
elevado.
Para a efetivação da diagnose foliar no
abacaxizeiro, coleta-se, normalmente, a folha D (Figura 50), considerada como a que
melhor representa o estado nutricional da
planta, podendo-se utilizar o terço mediano
não clorofilado da zona basal (técnica
havaiana) ou a folha inteira (técnica francesa). Recomenda-se, normalmente, na
amostragem, a coleta de um mínimo de 25
folhas, tomadas ao acaso, para cada talhão
uniforme de produção, considerando-se
uma folha por planta.
DEFICIÊNCIA DE
MOLIBDÊNIO
A época de coleta das folhas pode variar
ao longo do ciclo vegetativo da planta (do
plantio à indução floral), em função do objetivo da avaliação. Na maioria das situações,
o momento da indução floral (com variações
de ± 15 dias) tem sido adotado como o
estádio principal de referência.
Não identificada e não obtida em condição hidropônica, mas provável em solos
com pH < 4, em associação com toxidez de
alumínio.
A Tabela 1 reúne informações de diferentes autores/instituições, sobre a interpretação dos resultados da diagnose foliar
em abacaxi.
Fontes: Py (1969) e Malavolta (1982).
Figura 50. Distribuição das folhas do abacaxizeiro, de acordo com a idade.
Frutas do Brasil, 9
Abacaxi Fitossanidade
Tabela 1. Concentrações adequadas de nutrientes na folha D do abacaxizeiro, indicadas por
diferentes autores/instituições.
Autores
Dalldorf &
Langenegger
Amostragem
IRFA
Pinon
Malavolta
Terço médio da
parte basal da
folha D, aos 5
meses
Folha "D" inteira
Na emergência
da inflorescência
Nutrientes
N - %
P - %
K - %
Ca - %
Mg - %
1,50 a 1,70
± 0,10
2,20 a 3,00
0,80 a 1,20
± 0,30
Zn
Cu
Mn
Fe
B
± 10
± 8
50 a 200
100 a 200
30
- ppm
- ppm
- ppm
- ppm
- ppm
Fontes: Pinon ,1978;
No momento
Ao longo do
da indução
ciclo
floral
> 1,20
> 0,08
> 2,80
> 0,10
> 0,18
Malavolta, 1982; Lacoeuilhe,1984.
1,30 a 1,50
0,13
3,50
0,14
0,18 a 0,25
Malavolta
Aos 4
meses
1,50 a 1,70
0,23 a 0,25
3,90 a 5,70
0,50 a 0,70
0,18 a 0,20
17 a 39
5 a 17
90 a 100
600 a 1000
2,00 a 2,20
0,21 a 0,23
2,50 a 2,70
0,35 a 0,40
0,40 a 0,45
9 a 12
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