Artigo Original Experiência da traqueostomia aberta em 149 pacientes oncológicos Open tracheostomy experience in 149 oncological patients Resumo Introdução: A traqueostomia aberta (TQT) é um procedimento realizado em ambiente hospitalar, com técnica bem estabelecida e diferentes indicações. As complicações relatadas tendem a serem as mesmas em diferentes séries, no entanto poucos estudos descrevem essas complicações especificamente no paciente oncológico. Objetivo: Descrever as complicações associadas às TQTs realizadas em pacientes de um centro oncológico terciário comparando com as complicações descritas em outras séries de hospitais gerais, propondo condutas para evitá-las baseados em revisão de literatura. Casuística e Métodos: Estudo retrospectivo por revisão de prontuário de pacientes submetidos à TQT com diagnóstico de neoplasia maligna, realizadas por cirurgiões de cabeça e pescoço e residentes desta área durante o período de janeiro 2013 a dezembro de 2014 no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - ICESP, com descrição das características clínicas desses pacientes, as complicações observadas, as condutas adotadas e evolução. Foi realizada revisão da literatura com base nas complicações descritas, citando sugestões de abordagens para evitá-las. Resultados: Foram contabilizados 149 pacientes submetidos à TQT, 10 pacientes (6,71%) evoluíram com complicações, com um óbito associado (0,67%). As complicações foram sangramento, pneumotórax e enfisema de subcutâneo, broncoaspiração e estenose de traqueia. O sítio primário mais comum foi boca e orofaringe e 84,56% das TQT tiveram indicação de urgência. Conclusão: As complicações observadas foram sangramento, em segundo lugar o pneumotórax e enfisema de subcutâneo, sendo o óbito da série associado ao pneumotórax, e um caso broncoaspiração e uma estenose do traqueostoma. A série com casos oncológicos apresentados teve uma taxa de complicações semelhante à de séries de hospitais gerais, mas não deve ser comparada devido às indicações, métodos e profissionais que as realizam. As complicações podem ser evitadas com o aprimoramento técnico. Gustavo Borges Manta 1 César Augusto Simões 2 Marco Aurélio Kulcsar 3 Rogério Aparecido Dedivitis 4 Cláudio Roberto Cernea 5 Abstract Introduction: Open tracheostomy (TQT) is routinely performed at hospital setting, with well established technic and different indications. Complications reported tend to be the same in different series, although lack of studies describing them specifically in a oncological population. Objective: Describe complications associated with TQT performed in oncology patient from a single oncology reference center, comparing with those described in other series from general hospitals and propose how to manage them, based on review of the literature. Sample and Methods: Retrospective study by chart review of patients undergone TQT, with diagnosis of malignant neoplasia, January 2013 until December 2014, at Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - ICESP, describing clinical characteristics, complications associated, clinical conduct and outcome. Also review of literature with proposal how to manage those complications. Results: Were accounted for 149 patients undergoing TQT, 10 patients (6.71%) developed complications, with an associated mortality (0.67%). Complications were bleeding, pneumothorax and subcutaneous emphysema, bronchial aspiration and tracheal stenosis. The most common primary site was the mouth and oropharynx and 84.56% of TQT had emergency statement. Conclusion: Complications were bleeding, second pneumothorax and subcutaneous emphysema, one case aspiration pneumonia and one case of tracheal stenosis. The series with cancer cases reported had a complication rate similar to that of general hospitals series. Key words: Complications. Tracheostomy; Neoplasms; Postoperative Descritores: Traqueostomia; Complicações Pós-Operatórias; Neoplasias. 1) Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. 2) Doutor. Médico Assistente do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas FMUSP, Professor Titular de Cirurgia de Cabeça e Pescoço na Universidade de Santo Amaro – UNISA. 3) Professor Livre Docente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMUSP. Chefe de Clínica da Cirurgia de Cabeça e Pescoço no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo ICESP. 4) Professor Livre Docente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMUSP. Grupo de Laringe, Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Hospital das Clínicas Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). 5)Professor Livre Docente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMUSP. Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Instituição: Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - ICESP Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo / SP - Brasil. Correspondência: Gustavo Borges Manta - Avenida Dr. Arnaldo, 251 - Cerqueira César - São Paulo - SP - CEP: 01246-000 – Telefone: (+55 11) 98630-7603- E-mail: [email protected] Artigo recebido em 22/07/2015; aceito para publicação em 23/09/2016; publicado online em 15/10/2016. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 39-44, Abril / Maio / Junho 2016 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 39 Experiência da traqueostomia aberta em 149 pacientes oncológicos. Manta et al. Introdução Resultados A traqueostomia aberta é um procedimento com técnica cirúrgica bem estabelecida realizado no ambiente hospitalar.1,2,3 Possui diferentes indicações, tanto em contexto de cirurgia de urgência e emergência quanto eletiva. Ao tempo em que houve notável avanço das técnicas percutâneas, as traqueostomias abertas continuam sendo realizadas pela sua disponibilidade e baixo custo.4,5,6 As principais complicações descritas em literatura são sangramentos pós-operatórios, obstrução da cânula, deslocamento da mesma, infecções, enfisema de subcutâneo e estenose subglótica.7,8,9,10 A mortalidade descrita usualmente ao redor de 4%.8,11 A maior parte da literatura refere-se a serviços de hospitais gerais, feito por diferentes especialidades (cirurgia geral, trauma, cirurgia do tórax, otorrinolaringologia) e em diferentes contextos: tempo de intubação orotraqueal prolongada, traumatismo de face, etc. Para o cirurgião de Cabeça e Pescoço o cenário torna-se particularmente desafiador, com pacientes com tumores cervicais extensos, friáveis, radioterapia (RDT) cervical prévia, cirurgia cervical prévia, caquexia, compressão e desvios de estruturas com perda de pontos de referências e muitas vezes necessidade de procedimento sob anestesia local pela impossibilidade de intubação traqueal e anestesia geral. O objetivo do presente estudo é descrever as complicações associadas à traqueostomia aberta bem como seus fatores de risco em pacientes oncológicos em centro oncológico terciário, comparando esses resultados com séries de hospitais gerais não oncológicos, sugerindo condutas a serem adotadas preventivamente a essas complicações. Durante o período analisado 149(N) pacientes foram submetidos à traqueostomia aberta preenchendo os critérios descritos acima. Foram descritas 10(6,71%) complicações e 1(0,67%) óbito associado à traqueostomia. As características epidemiológicas são descritas na Tabela 1. Do total de traqueostomias do estudo – 126 (84,56%) – tiveram indicação de urgência ou emergência com pacientes em quadro clínico de insuficiência respiratória aguda (IRpA) e 23 (15,43%) tiveram indicação eletiva. A avaliação pré-anestésica dos pacientes descrita na Tabela 2. Diferentes técnicas de anestesia foram utilizadas, não existindo um protocolo institucional e sendo cada caso analisado individualmente. As técnicas utilizadas estão numeradas na Tabela 3. Foram reportados 10 pacientes com complicações relacionadas ao procedimento cirúrgico, em diferentes momentos, requerendo diferentes intervenções e 9 apresentaram desfecho favorável. Um óbito ocorreu relacionado à traqueostomia (Tabela 4). Do total de pacientes traqueostomizados 44 evoluíram a óbito, 20 deles na mesma internação, sendo 1 relacionado à traqueostomia e 24 ao longo do seguimento ambulatorial. A paliação foi indicada para 93 (62,41%) pacientes posteriormente ao procedimento e 2 (1,34%) pacientes foram submetidos à traqueostomia já em vigência de tratamento paliativo. O óbito ocorrido foi em paciente do sexo feminino, 60 anos, portadora de um carcinoma espinocelular de base de língua recidivado, tratado inicialmente com quimioterapia e radioterapia, evoluindo com quadro de IRpA, sendo indicada traqueostomia de urgência sob anestesia local. No início do procedimento paciente apresentou quadro de PCR por hipóxia, sendo revertida após definição de via aérea por traqueostomia, evoluiu com sinais de lesão neurológica demandando cuidados intensivos em UTI, evoluindo a óbito no 19º dia de PO por choque séptico de foco pulmonar. Metodologia Estudo retrospectivo, baseado na revisão de prontuários de pacientes oncológicos do ICESP-SP, submetidos à traqueostomia aberta - realizadas por residentes supervisionados de Cirurgia de Cabeça e Pescoço-HCFMUSP, no período de 2013-2014. Critérios de inclusão: pacientes maiores de 18 anos, traqueostomia aberta, procedimento principal, pacientes com diagnóstico oncológico, prontuário contendo as informações pertinentes ao estudo. Critérios de exclusão: outras técnicas de traqueostomia diferentes da técnica aberta, traqueostomias realizadas em conjunto com outros procedimentos cirúrgicos cervicofaciais e pacientes com prontuários incompletos. A revisão de literatura foi realizada através da pesquisa da base de dados PubMed, artigos em língua inglesa e portuguesa, sem limitação de data de publicação, com os termos open tracheostomy, cancer e complications, sendo excluídos artigos referentes exclusivamente à procedimentos percutâneos. Também foi selecionada literatura pertinente ao tema não contemplada pelos termos descritos acima. Complicações e revisão da literatura Sangramentos A série de casos teve 5 (3,35%) casos de sangramentos – de diferentes intensidades, sendo a complicação mais comum e sem nenhum óbito associado. Na literatura diferentes séries também os descrevem como a complicação mais comum, com incidência variando de 0,8% -3,26%.8,10 Em um estudo brasileiro com 552 casos de pacientes de unidade de terapia intensiva de 3 hospitais diferentes – foram relatados 18 (3,26%) sangramentos, 9 descritos de menor intensidade e 9 de maior intensidade com nenhum óbito relatado.12 40 R�������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 39-44, Abril / Maio / Junho 2016 Experiência da traqueostomia aberta em 149 pacientes oncológicos. Manta et al. Tabela 1. Dados descritivos dos pacientes submetidos à traqueostomia aberta. Variável Sexo Feminino Masculino Idade (anos) Sítio Primário Boca Laringe Orofaringe Seio Piriforme Tireoide Esôfago Nasofaringe Glândula salivar Outros Total RDT cervical prévia Dissecção trans-tumoral Recidiva local no momento TQT Cirurgia cervical prévia Traqueostomia prévia Média 61,3 N 26 123 Mínima 30 N 43 40 28 8 5 6 2 1 16 149 N 51 28 % 17 83 Máxima 87 % 28,85 26,84 18,79 5,36 3,33 4,02 1,34 0,67 10,73 100% % 34,22 18,79 43 28,85 29 17 19,46 11,4 Tabela 2. Dados da avaliação pré-anestésica. ASA N % I - - II 90 60,4 III 43 28,85 IV 4 2,68 V 1 0,67 Não avaliado 11 7,3 Tabela 3. Dados descritivos dos tipos de anestesia utilizados. Anestesia Local Geral Local/sedação Local/assistida N 79 39 26 5 % 53,02 26,17 17,44 3,35 Tabela 4. Dados descritivos das complicações. N RDT prévia Cirurgia cervical prévia Dissecção transtumoral Anestesia local Recidiva 1 + - - - - 2 - - - - - 3 + - - + + 4 + - + + - 5 - - - - + 6 + - - + - 7 + + + + + 8 - - - - + 9 - - - - + 10 - - - - + Complicação Tempo Conduta Desfecho Sangramento parênquima tireoideano Sangramento vasos locais tireodeanos + Falso Trajeto Pneumotórax Bilateral + PCR Ruptura de a. carótida comum Estenose da traqueia Pneumotórax Bilateral + Enfisema de Subcutâneo Sangramento parênquima tireoidiano Broncoaspiração 12h após TQT Reoperação com revisão da hemostasia Reoperação com revisão da hemostasia Favorável Enfisema de subcutâneo Sangramento parênquima tireoideano 2º PO Intraoperatório Intraoperatório 64º PO Intraoperatório Drenagem de tórax Ligadura intraoperatória Reoperação com traqueoplastia Drenagem de tórax Favorável Óbito Favorável Favorável Favorável 1º PO Curativo compressivo Favorável Intraoperatório ATB e fisioterapia respiratória Observação Favorável 1º PO 3º PO Reoperação com revisão hemostasia Favorável Favorável Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 39-44, Abril / Maio / Junho 2016 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 41 Experiência da traqueostomia aberta em 149 pacientes oncológicos. Nenhum caso apresentou quadro de fístula traqueoinominada – com incidência descrita em literatura variando de 0,2 – 4,5%13,14 e mortalidade chegando 92,9%.15 A escolha da melhor incisão, transversa ou longitudinal varia com a formação e experiência do cirurgião, mas comumente incisões mais altas – próximo ao primeiro e segundo anel traqueal são inadequadas devido à maior necessidade de manipulação do istmo da tireoide e até mesmo istmectomia – o que aumenta as chances de sangramentos no intra operatório e pósoperatório imediato. Por outro lado, incisões mais baixas – do quarto anel traqueal para baixo elevam o risco de lesão inadvertida de grandes vasos com sangramento importante no intra-operatório e ocorrências de fístulas vasculares com elevada morbidade no pós-operatório tardio.15,16 O tamanho da incisão deve ser pertinente a segurança, evitamos em nossos serviços a realização de incisões menores que 4 cm, pois incisões pequenas limitam a visualização das estruturas e sua correta dissecção. Quanto as jugulares anteriores, se a dissecção realizada for longitudinal na linha mediana visando o afastamento lateral dos músculos pré tireoidianos, nenhuma lesão será observada, a não ser que ocorra uma comunicação mediana entre as jugulares, conhecida como “H”. Neste caso é necessária a ligadura. Deve-se atentar também às veias tireóideas inferiores, sua identificação sempre é fundamental para prevenção de injúrias aos vasos. Sugerimos que após sua identificação, a abertura da traqueia seja feita com uma lâmina de bisturi com corte puntiforme mediano entre segundo e terceiro anel, ou entre terceiro e quarto dependendo da posição do istmo, em sentido transversal ou longitudinal. Após a abertura puntiforme da traqueia, a abertura deve ser ampliada com instrumentos de divulsão e não corte, em qualquer sentido, com o intuito de evitar acidentes com as veias tireoidianas inferiores e ressaltando a ocorrência da artéria tireóidea ìma, presente em até 10% da população.16 No peri-operatório, deve-se avaliar sistematicamente os seguintes fatores: - Coagulação do paciente: coagulograma prévio, uso de medicações, pesquisa por sinais clínicos de alteração da coagulação – ex.: petéquias, hematomas, equimoses, sangramentos de mucosas, uremia (comum em pacientes críticos e podendo alterar função plaquetária), deficiência de fatores de coagulação, hemofilias e outras síndromes que alterem a coagulação. - Estado hemodinâmico do paciente: controle da hipertensão arterial Imediatamente após garantir a via aérea do paciente e locar a cânula de traqueostomia devese revisar a hemostasia, se possível com manobras de hiperinsuflação pulmonar (manobra de Valsalva), evitando surpresas no pós operatório. Manta et al. Broncoaspiração Na série de casos 1 paciente evoluiu com broncoaspiração e pneumonia durante o procedimento sendo necessário fisioterapia e antibioticoterapia com boa evolução. As infecções associadas ao procedimento têm como principais agentes etiológicos Staphylococcus aureus, Pseudomonas e outros de flora mista.17 Alguns cuidados podem ser feitos para minimizar o risco de broncoaspiração. Em pacientes com intubação oro-traqueal devemos fazer a aspiração previa no interior da cânula e no seu exterior, pela boca, a fim de evitar que a secreção acima e junto ao balão penetre na traqueia e brônquios do paciente. Antes de abrir a traqueia a hemostasia adequada evita penetração de sangue no orifício e a aspiração da cavidade oral também minimiza a aspiração de secreções da cavidade oral. Assepsia e anti-sepsia rigorosa devem ser respeitadas como habitual a todo procedimento cirúrgico. Deve-se realizar a antissepsia inclusive da cânula de intubação oro-traqueal, pois a mesma poderá assim ser manipulada pela equipe cirúrgica em casos de extrema necessidade. Antibiótico profilático é indicado haja vista tratar-se de um procedimento potencialmente contaminado pela manipulação da luz do trato respiratório, devendo-se respeitar os protocolos de cada instituição. O uso de curativo com gaze no pós-operatório imediato, com troca periódica e higiene adequada peri-traqueostoma de forma sistematizada. Estenose Observado 1 caso de estenose, com necessidade de reabordagem no 64º PO, sendo uma complicação descrita em até 1,84% dos casos.8 Fatores predisponentes incluem intubação oro-traqueal prévia, traqueostomias nos primeiros anéis traqueais e cricotireoidostomias. 18 O tratamento usualmente é cirúrgico com ressecção do tecido estenosado, sendo às vezes necessária ressecção completa da área estenótica e anastomose término-terminal traqueal. Enfisema de subcutâneo e pneumotórax Observados 2 (1,34%) casos em 149, o enfisema de subcutâneo (ESC) é descrito em literatura com uma taxa de até 9% após traqueostomias.19 Usualmente têm resolução espontânea com conduta conservadora se não houver repercussões ventilatórias, sendo já relatado quadro severo com repercussão na ventilação mecânica, nessa situação específica o autor sugere broncoscopia para excluir lesão traqueal e Rx pós procedimento avaliar pneumomediastino e pneumotórax.20 ESCs estão associados com ampla dissecção de tecidos, obstrução de cânula, ventilação com alta pressão, uso de tubos fenestrados de traqueostomia e técnica percutânea. 21,22,23,24 No estudo ocorreram 2 (1,34%) casos de pneumotórax (PTX), com uma evolução a óbito (1/149 42 R�������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 39-44, Abril / Maio / Junho 2016 Experiência da traqueostomia aberta em 149 pacientes oncológicos. – 0,67%). Em um estudo com 1130 TQT, ocorreram 3 casos (0,26%) dos quais dois evoluíram a óbito.8 O ESC também se associa ao pneumotórax (PTX) pela dissecção feita pelo ar entre os tecidos.21 O PTX também pode ocorrer por lesão direta dos ápices pulmonares – principalmente em incisões mais baixas ou dissecções ao longo das bordas laterais da traqueia – devido à inclinação inferior do 1º par de costelas e da abertura superior do tórax que elas formam, a cúpula da pleura e o ápice do pulmão projetam-se no pescoço através desse espaço, posterior às inserções inferiores dos músculos esternocleidomastoideos.16 Discussão Os pacientes foram em sua maioria homens na sexta década de vida – grupo com maior prevalência de cânceres de cabeça e pescoço com possível obstrução de vias aéreas, como carcinoma epidermóide de laringe e de cavidade oral. O índice de complicações foi de 6,71%, inferior ao comparado à literatura, que chega até 33%.5,9,10 E a mortalidade de 0,67% foi próximo à de uma série de 1130 pacientes, relatada 0,7%8, porém, em outro estudo com 150 pacientes submetidos à TQT não houve relato de nenhum óbito.10 Devendo-se ressaltar que esses estudos incluíram diferentes indicações e diagnósticos além de neoplasias. O sítio primário de doença mais comum da série foi boca e orofaringe, superando os primários da laringe, os quais apresentam comprometimento mais precoce do fluxo de ar. Fato que pode justificar essa observação é que por ser um serviço de referência, grande parte dos pacientes com diagnóstico de carcinomas da laringe já chegam ao serviço traqueostomizados, enquanto os tumores de boca e orofaringe chegam com tumores mais volumosos e sem traqueostomia e ao longo do tratamento evoluem para quadros de Insuficiência respiratória aguda -IRpA. A indicação de urgência foi a mais comum (84,56%) por quadros de IRpA, ao contrário do que ocorre em hospitais gerais, onde prevalecem as traqueostomias eletivas relacionadas a tempo de ventilação prolongada orotraqueal, desta forma, as taxas de complicações devem ser interpretadas de formas diferentes. Os quadros de indicação eletiva nos pacientes de nossa série envolveram tumores com comprometimento limítrofe de via aérea sem sinais clínicos de IRpA e com programação de RDT; e pacientes que apresentaram IRpA devido à doença primária e foram submetidos à ventilação orotraqueal com sucesso para posteriormente serem submetidos à TQT. A anestesia local foi a técnica anestésica mais comum pois vários desses pacientes apresentavam tumores extensos, pescoço actínico e intolerância ao decúbito o que impossibilitavam qualquer tentativa de intubação orotraqueal, mesmo com nasofibroscopia. Manta et al. Consideramos variáveis preditoras de dificuldade técnica para a realização da TQT pacientes com estadimento avançado, pescoço actínico, doença localmente recidivada e tumor no campo da traqueostomia. Apesar destas variáveis certamente nos preocuparem num primeiro momento, não podemos as considerar como fatores de risco para complicações pois os pacientes que complicaram apresentavam características clínicas semelhantes aos demais que não evoluíram com complicações. Podemos inferir que as TQTs abertas, mesmo em pacientes com tumores de cabeça e pescoço que acarretam maior dificuldade na realização das mesmas quando respeitados todos os princípios de técnica cirúrgica e com rigorosa atenção aos detalhes inerentes a esse grupo específico de pacientes, apresentam taxas iguais de complicações com relação as apresentadas em séries de pacientes não oncológicos. Essa semelhança pode ser creditada a execução do procedimento por uma equipe cirúrgica especializada com formação em Cirurgia de Cabeça e Pescoço, com vivência de abordagens em áreas previamente irradiadas, com cirurgias prévias, com doença local e pacientes com performance clínica limítrofe, o que minimiza as dificuldades incluindo a urgência dos procedimentos e a realização com anestesia local. À luz dessa afirmação não podemos considerar uma traqueostomia em paciente não oncológico um procedimento com mesma dificuldade de um oncológico. Conclusão As complicações mais observadas foram sangramento, de diferentes intensidades, em momentos e abordagens distintas, em segundo lugar o pneumotórax e enfisema de subcutâneo, sendo o óbito da série associado ao pneumotórax, seguindo empatados a broncoaspiração e a estenose do traqueostoma. Não identificamos fatores de risco específicos para essas complicações. A série com casos oncológicos apresentados evidencia uma taxa de complicações semelhantes às taxas de séries de hospitais gerais envolvendo pacientes com diferentes diagnósticos e diferentes indicações – traumas, intubação orotraqueal prolongada, sequelas neurológicas – com equipes cirúrgicas de diferentes formações – cirurgia geral, cirurgia do trauma e cirurgia do tórax, porém os resultados não devem ser comparáveis, pois as características dos pacientes, indicações e os profissionais envolvidos são claramente distintos. O aprimoramento técnico contínuo, com conhecimento da técnica do procedimento e do manejo de suas complicações, permite uma abordagem segura e eficaz. Referências 1. Durbin CG Jr. Tracheostomy: why, when, and how? Respir Care. 2010 Aug;55(8):1056-68. 2. American Society of Anesthesiologists Task Force on Management of the Difficult Airway. Practice guidelines for management of the difficult Rev. Bras. Cir. 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