Artigo 01

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Artigo Original
Experiência da traqueostomia aberta
em 149 pacientes oncológicos
Open tracheostomy experience in 149 oncological patients
Resumo
Introdução: A traqueostomia aberta (TQT) é um procedimento
realizado em ambiente hospitalar, com técnica bem estabelecida e
diferentes indicações. As complicações relatadas tendem a serem
as mesmas em diferentes séries, no entanto poucos estudos
descrevem essas complicações especificamente no paciente
oncológico. Objetivo: Descrever as complicações associadas às
TQTs realizadas em pacientes de um centro oncológico terciário
comparando com as complicações descritas em outras séries de
hospitais gerais, propondo condutas para evitá-las baseados em
revisão de literatura. Casuística e Métodos: Estudo retrospectivo
por revisão de prontuário de pacientes submetidos à TQT com
diagnóstico de neoplasia maligna, realizadas por cirurgiões de
cabeça e pescoço e residentes desta área durante o período
de janeiro 2013 a dezembro de 2014 no Instituto do Câncer do
Estado de São Paulo - ICESP, com descrição das características
clínicas desses pacientes, as complicações observadas, as
condutas adotadas e evolução. Foi realizada revisão da literatura
com base nas complicações descritas, citando sugestões de
abordagens para evitá-las. Resultados: Foram contabilizados 149
pacientes submetidos à TQT, 10 pacientes (6,71%) evoluíram com
complicações, com um óbito associado (0,67%). As complicações
foram sangramento, pneumotórax e enfisema de subcutâneo,
broncoaspiração e estenose de traqueia. O sítio primário mais
comum foi boca e orofaringe e 84,56% das TQT tiveram indicação
de urgência. Conclusão: As complicações observadas foram
sangramento, em segundo lugar o pneumotórax e enfisema de
subcutâneo, sendo o óbito da série associado ao pneumotórax,
e um caso broncoaspiração e uma estenose do traqueostoma.
A série com casos oncológicos apresentados teve uma taxa
de complicações semelhante à de séries de hospitais gerais,
mas não deve ser comparada devido às indicações, métodos
e profissionais que as realizam. As complicações podem ser
evitadas com o aprimoramento técnico.
Gustavo Borges Manta 1
César Augusto Simões 2
Marco Aurélio Kulcsar 3
Rogério Aparecido Dedivitis 4
Cláudio Roberto Cernea 5
Abstract
Introduction: Open tracheostomy (TQT) is routinely performed
at hospital setting, with well established technic and different
indications. Complications reported tend to be the same in different
series, although lack of studies describing them specifically in
a oncological population. Objective: Describe complications
associated with TQT performed in oncology patient from a single
oncology reference center, comparing with those described in
other series from general hospitals and propose how to manage
them, based on review of the literature. Sample and Methods:
Retrospective study by chart review of patients undergone
TQT, with diagnosis of malignant neoplasia, January 2013
until December 2014, at Instituto do Câncer do Estado de São
Paulo - ICESP, describing clinical characteristics, complications
associated, clinical conduct and outcome. Also review of literature
with proposal how to manage those complications. Results: Were
accounted for 149 patients undergoing TQT, 10 patients (6.71%)
developed complications, with an associated mortality (0.67%).
Complications were bleeding, pneumothorax and subcutaneous
emphysema, bronchial aspiration and tracheal stenosis. The most
common primary site was the mouth and oropharynx and 84.56% of
TQT had emergency statement. Conclusion: Complications were
bleeding, second pneumothorax and subcutaneous emphysema,
one case aspiration pneumonia and one case of tracheal stenosis.
The series with cancer cases reported had a complication rate
similar to that of general hospitals series.
Key words:
Complications.
Tracheostomy;
Neoplasms;
Postoperative
Descritores: Traqueostomia; Complicações Pós-Operatórias;
Neoplasias.
1) Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
2) Doutor. Médico Assistente do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas FMUSP, Professor Titular de Cirurgia de Cabeça e Pescoço na Universidade de Santo Amaro
– UNISA.
3) Professor Livre Docente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMUSP. Chefe de Clínica da Cirurgia de Cabeça e Pescoço no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo ICESP.
4) Professor Livre Docente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMUSP. Grupo de Laringe, Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Hospital das Clínicas Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP).
5)Professor Livre Docente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMUSP. Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Instituição: Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - ICESP Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
São Paulo / SP - Brasil.
Correspondência: Gustavo Borges Manta - Avenida Dr. Arnaldo, 251 - Cerqueira César - São Paulo - SP - CEP: 01246-000 – Telefone: (+55 11) 98630-7603- E-mail: [email protected]
Artigo recebido em 22/07/2015; aceito para publicação em 23/09/2016; publicado online em 15/10/2016.
Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há.
Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 39-44, Abril / Maio / Junho 2016 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 39
Experiência da traqueostomia aberta em 149 pacientes oncológicos. Manta et al.
Introdução
Resultados
A traqueostomia aberta é um procedimento com
técnica cirúrgica bem estabelecida realizado no ambiente
hospitalar.1,2,3
Possui diferentes indicações, tanto em contexto
de cirurgia de urgência e emergência quanto eletiva.
Ao tempo em que houve notável avanço das técnicas
percutâneas, as traqueostomias abertas continuam sendo
realizadas pela sua disponibilidade e baixo custo.4,5,6
As principais complicações descritas em literatura
são sangramentos pós-operatórios, obstrução da
cânula, deslocamento da mesma, infecções, enfisema
de subcutâneo e estenose subglótica.7,8,9,10 A mortalidade
descrita usualmente ao redor de 4%.8,11 A maior parte da
literatura refere-se a serviços de hospitais gerais, feito
por diferentes especialidades (cirurgia geral, trauma,
cirurgia do tórax, otorrinolaringologia) e em diferentes
contextos: tempo de intubação orotraqueal prolongada,
traumatismo de face, etc.
Para o cirurgião de Cabeça e Pescoço o cenário
torna-se particularmente desafiador, com pacientes
com tumores cervicais extensos, friáveis, radioterapia
(RDT) cervical prévia, cirurgia cervical prévia, caquexia,
compressão e desvios de estruturas com perda de
pontos de referências e muitas vezes necessidade de
procedimento sob anestesia local pela impossibilidade
de intubação traqueal e anestesia geral.
O objetivo do presente estudo é descrever as
complicações associadas à traqueostomia aberta bem
como seus fatores de risco em pacientes oncológicos
em centro oncológico terciário, comparando esses
resultados com séries de hospitais gerais não
oncológicos, sugerindo condutas a serem adotadas
preventivamente a essas complicações.
Durante o período analisado 149(N) pacientes
foram submetidos à traqueostomia aberta preenchendo
os critérios descritos acima. Foram descritas
10(6,71%) complicações e 1(0,67%) óbito associado à
traqueostomia.
As características epidemiológicas são descritas na
Tabela 1.
Do total de traqueostomias do estudo – 126
(84,56%) – tiveram indicação de urgência ou
emergência com pacientes em quadro clínico de
insuficiência respiratória aguda (IRpA) e 23 (15,43%)
tiveram indicação eletiva.
A avaliação pré-anestésica dos pacientes descrita na
Tabela 2.
Diferentes técnicas de anestesia foram utilizadas,
não existindo um protocolo institucional e sendo cada
caso analisado individualmente. As técnicas utilizadas
estão numeradas na Tabela 3.
Foram reportados 10 pacientes com complicações
relacionadas ao procedimento cirúrgico, em diferentes
momentos, requerendo diferentes intervenções e 9
apresentaram desfecho favorável. Um óbito ocorreu
relacionado à traqueostomia (Tabela 4).
Do total de pacientes traqueostomizados 44
evoluíram a óbito, 20 deles na mesma internação,
sendo 1 relacionado à traqueostomia e 24 ao longo do
seguimento ambulatorial. A paliação foi indicada para 93
(62,41%) pacientes posteriormente ao procedimento e 2
(1,34%) pacientes foram submetidos à traqueostomia já
em vigência de tratamento paliativo.
O óbito ocorrido foi em paciente do sexo feminino,
60 anos, portadora de um carcinoma espinocelular de
base de língua recidivado, tratado inicialmente com
quimioterapia e radioterapia, evoluindo com quadro de
IRpA, sendo indicada traqueostomia de urgência sob
anestesia local. No início do procedimento paciente
apresentou quadro de PCR por hipóxia, sendo revertida
após definição de via aérea por traqueostomia, evoluiu
com sinais de lesão neurológica demandando cuidados
intensivos em UTI, evoluindo a óbito no 19º dia de PO
por choque séptico de foco pulmonar.
Metodologia
Estudo retrospectivo, baseado na revisão de
prontuários de pacientes oncológicos do ICESP-SP,
submetidos à traqueostomia aberta - realizadas por
residentes supervisionados de Cirurgia de Cabeça e
Pescoço-HCFMUSP, no período de 2013-2014.
Critérios de inclusão: pacientes maiores de 18 anos,
traqueostomia aberta, procedimento principal, pacientes
com diagnóstico oncológico, prontuário contendo as
informações pertinentes ao estudo.
Critérios de exclusão: outras técnicas de traqueostomia
diferentes da técnica aberta, traqueostomias realizadas
em conjunto com outros procedimentos cirúrgicos
cervicofaciais e pacientes com prontuários incompletos.
A revisão de literatura foi realizada através da pesquisa
da base de dados PubMed, artigos em língua inglesa e
portuguesa, sem limitação de data de publicação, com
os termos open tracheostomy, cancer e complications,
sendo excluídos artigos referentes exclusivamente à
procedimentos percutâneos. Também foi selecionada
literatura pertinente ao tema não contemplada pelos
termos descritos acima.
Complicações e revisão da literatura
Sangramentos
A série de casos teve 5 (3,35%) casos de
sangramentos – de diferentes intensidades, sendo
a complicação mais comum e sem nenhum óbito
associado.
Na literatura diferentes séries também os descrevem
como a complicação mais comum, com incidência
variando de 0,8% -3,26%.8,10
Em um estudo brasileiro com 552 casos de pacientes
de unidade de terapia intensiva de 3 hospitais diferentes
– foram relatados 18 (3,26%) sangramentos, 9 descritos
de menor intensidade e 9 de maior intensidade com
nenhum óbito relatado.12
40 R�������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 39-44, Abril / Maio / Junho 2016
Experiência da traqueostomia aberta em 149 pacientes oncológicos. Manta et al.
Tabela 1. Dados descritivos dos pacientes submetidos à
traqueostomia aberta.
Variável
Sexo
Feminino
Masculino
Idade (anos)
Sítio Primário
Boca
Laringe
Orofaringe
Seio Piriforme
Tireoide
Esôfago
Nasofaringe
Glândula salivar
Outros
Total
RDT cervical prévia
Dissecção trans-tumoral
Recidiva local no momento
TQT
Cirurgia cervical prévia
Traqueostomia prévia
Média
61,3
N
26
123
Mínima
30
N
43
40
28
8
5
6
2
1
16
149
N
51
28
%
17
83
Máxima
87
%
28,85
26,84
18,79
5,36
3,33
4,02
1,34
0,67
10,73
100%
%
34,22
18,79
43
28,85
29
17
19,46
11,4
Tabela 2. Dados da avaliação pré-anestésica.
ASA
N
%
I
-
-
II
90
60,4
III
43
28,85
IV
4
2,68
V
1
0,67
Não avaliado
11
7,3
Tabela 3. Dados descritivos dos tipos de anestesia
utilizados.
Anestesia
Local
Geral
Local/sedação
Local/assistida
N
79
39
26
5
%
53,02
26,17
17,44
3,35
Tabela 4. Dados descritivos das complicações.
N
RDT
prévia
Cirurgia
cervical
prévia
Dissecção
transtumoral
Anestesia
local
Recidiva
1
+
-
-
-
-
2
-
-
-
-
-
3
+
-
-
+
+
4
+
-
+
+
-
5
-
-
-
-
+
6
+
-
-
+
-
7
+
+
+
+
+
8
-
-
-
-
+
9
-
-
-
-
+
10
-
-
-
-
+
Complicação
Tempo
Conduta
Desfecho
Sangramento
parênquima
tireoideano
Sangramento
vasos locais
tireodeanos +
Falso Trajeto
Pneumotórax
Bilateral + PCR
Ruptura de a.
carótida comum
Estenose da
traqueia
Pneumotórax
Bilateral +
Enfisema de
Subcutâneo
Sangramento
parênquima
tireoidiano
Broncoaspiração
12h após
TQT
Reoperação
com revisão da
hemostasia
Reoperação
com revisão da
hemostasia
Favorável
Enfisema de
subcutâneo
Sangramento
parênquima
tireoideano
2º PO
Intraoperatório
Intraoperatório
64º PO
Intraoperatório
Drenagem de
tórax
Ligadura
intraoperatória
Reoperação com
traqueoplastia
Drenagem de
tórax
Favorável
Óbito
Favorável
Favorável
Favorável
1º PO
Curativo
compressivo
Favorável
Intraoperatório
ATB e
fisioterapia
respiratória
Observação
Favorável
1º PO
3º PO
Reoperação
com revisão
hemostasia
Favorável
Favorável
Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 39-44, Abril / Maio / Junho 2016 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 41
Experiência da traqueostomia aberta em 149 pacientes oncológicos. Nenhum caso apresentou quadro de fístula traqueoinominada – com incidência descrita em literatura
variando de 0,2 – 4,5%13,14 e mortalidade chegando
92,9%.15
A escolha da melhor incisão, transversa ou
longitudinal varia com a formação e experiência do
cirurgião, mas comumente incisões mais altas – próximo
ao primeiro e segundo anel traqueal são inadequadas
devido à maior necessidade de manipulação do istmo
da tireoide e até mesmo istmectomia – o que aumenta
as chances de sangramentos no intra operatório e pósoperatório imediato. Por outro lado, incisões mais baixas
– do quarto anel traqueal para baixo elevam o risco de
lesão inadvertida de grandes vasos com sangramento
importante no intra-operatório e ocorrências de fístulas
vasculares com elevada morbidade no pós-operatório
tardio.15,16 O tamanho da incisão deve ser pertinente a
segurança, evitamos em nossos serviços a realização
de incisões menores que 4 cm, pois incisões pequenas
limitam a visualização das estruturas e sua correta
dissecção.
Quanto as jugulares anteriores, se a dissecção
realizada for longitudinal na linha mediana visando
o afastamento lateral dos músculos pré tireoidianos,
nenhuma lesão será observada, a não ser que ocorra
uma comunicação mediana entre as jugulares, conhecida
como “H”. Neste caso é necessária a ligadura.
Deve-se atentar também às veias tireóideas
inferiores, sua identificação sempre é fundamental para
prevenção de injúrias aos vasos. Sugerimos que após
sua identificação, a abertura da traqueia seja feita com
uma lâmina de bisturi com corte puntiforme mediano
entre segundo e terceiro anel, ou entre terceiro e quarto
dependendo da posição do istmo, em sentido transversal
ou longitudinal. Após a abertura puntiforme da traqueia,
a abertura deve ser ampliada com instrumentos de
divulsão e não corte, em qualquer sentido, com o intuito
de evitar acidentes com as veias tireoidianas inferiores
e ressaltando a ocorrência da artéria tireóidea ìma,
presente em até 10% da população.16
No peri-operatório, deve-se avaliar sistematicamente
os seguintes fatores:
- Coagulação do paciente: coagulograma prévio,
uso de medicações, pesquisa por sinais clínicos
de alteração da coagulação – ex.: petéquias,
hematomas, equimoses, sangramentos de mucosas,
uremia (comum em pacientes críticos e podendo
alterar função plaquetária), deficiência de fatores
de coagulação, hemofilias e outras síndromes que
alterem a coagulação.
- Estado hemodinâmico do paciente: controle da
hipertensão arterial
Imediatamente após garantir a via aérea do
paciente e locar a cânula de traqueostomia devese revisar a hemostasia, se possível com manobras
de hiperinsuflação pulmonar (manobra de Valsalva),
evitando surpresas no pós operatório.
Manta et al.
Broncoaspiração
Na série de casos 1 paciente evoluiu com
broncoaspiração e pneumonia durante o procedimento
sendo necessário fisioterapia e antibioticoterapia com
boa evolução.
As infecções associadas ao procedimento têm como
principais agentes etiológicos Staphylococcus aureus,
Pseudomonas e outros de flora mista.17
Alguns cuidados podem ser feitos para minimizar o
risco de broncoaspiração. Em pacientes com intubação
oro-traqueal devemos fazer a aspiração previa no interior
da cânula e no seu exterior, pela boca, a fim de evitar que
a secreção acima e junto ao balão penetre na traqueia e
brônquios do paciente.
Antes de abrir a traqueia a hemostasia adequada
evita penetração de sangue no orifício e a aspiração
da cavidade oral também minimiza a aspiração de
secreções da cavidade oral.
Assepsia e anti-sepsia rigorosa devem ser respeitadas
como habitual a todo procedimento cirúrgico. Deve-se
realizar a antissepsia inclusive da cânula de intubação
oro-traqueal, pois a mesma poderá assim ser manipulada
pela equipe cirúrgica em casos de extrema necessidade.
Antibiótico profilático é indicado haja vista tratar-se
de um procedimento potencialmente contaminado pela
manipulação da luz do trato respiratório, devendo-se
respeitar os protocolos de cada instituição. O uso de
curativo com gaze no pós-operatório imediato, com troca
periódica e higiene adequada peri-traqueostoma de
forma sistematizada.
Estenose
Observado 1 caso de estenose, com necessidade de
reabordagem no 64º PO, sendo uma complicação descrita
em até 1,84% dos casos.8 Fatores predisponentes
incluem intubação oro-traqueal prévia, traqueostomias
nos primeiros anéis traqueais e cricotireoidostomias. 18
O tratamento usualmente é cirúrgico com ressecção
do tecido estenosado, sendo às vezes necessária
ressecção completa da área estenótica e anastomose
término-terminal traqueal.
Enfisema de subcutâneo e pneumotórax
Observados 2 (1,34%) casos em 149, o enfisema
de subcutâneo (ESC) é descrito em literatura com uma
taxa de até 9% após traqueostomias.19 Usualmente
têm resolução espontânea com conduta conservadora
se não houver repercussões ventilatórias, sendo
já relatado quadro severo com repercussão na
ventilação mecânica, nessa situação específica o
autor sugere broncoscopia para excluir lesão traqueal
e Rx pós procedimento avaliar pneumomediastino e
pneumotórax.20 ESCs estão associados com ampla
dissecção de tecidos, obstrução de cânula, ventilação
com alta pressão, uso de tubos fenestrados de
traqueostomia e técnica percutânea. 21,22,23,24
No estudo ocorreram 2 (1,34%) casos de
pneumotórax (PTX), com uma evolução a óbito (1/149
42 R�������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.45, nº 2, p. 39-44, Abril / Maio / Junho 2016
Experiência da traqueostomia aberta em 149 pacientes oncológicos. – 0,67%). Em um estudo com 1130 TQT, ocorreram 3
casos (0,26%) dos quais dois evoluíram a óbito.8
O ESC também se associa ao pneumotórax (PTX)
pela dissecção feita pelo ar entre os tecidos.21
O PTX também pode ocorrer por lesão direta dos
ápices pulmonares – principalmente em incisões mais
baixas ou dissecções ao longo das bordas laterais
da traqueia – devido à inclinação inferior do 1º par
de costelas e da abertura superior do tórax que elas
formam, a cúpula da pleura e o ápice do pulmão
projetam-se no pescoço através desse espaço,
posterior às inserções inferiores dos músculos
esternocleidomastoideos.16
Discussão
Os pacientes foram em sua maioria homens na
sexta década de vida – grupo com maior prevalência de
cânceres de cabeça e pescoço com possível obstrução
de vias aéreas, como carcinoma epidermóide de laringe
e de cavidade oral.
O índice de complicações foi de 6,71%, inferior ao
comparado à literatura, que chega até 33%.5,9,10 E a
mortalidade de 0,67% foi próximo à de uma série de
1130 pacientes, relatada 0,7%8, porém, em outro estudo
com 150 pacientes submetidos à TQT não houve relato
de nenhum óbito.10 Devendo-se ressaltar que esses
estudos incluíram diferentes indicações e diagnósticos
além de neoplasias.
O sítio primário de doença mais comum da série foi
boca e orofaringe, superando os primários da laringe, os
quais apresentam comprometimento mais precoce do
fluxo de ar. Fato que pode justificar essa observação é
que por ser um serviço de referência, grande parte dos
pacientes com diagnóstico de carcinomas da laringe já
chegam ao serviço traqueostomizados, enquanto os
tumores de boca e orofaringe chegam com tumores
mais volumosos e sem traqueostomia e ao longo do
tratamento evoluem para quadros de Insuficiência
respiratória aguda -IRpA.
A indicação de urgência foi a mais comum (84,56%)
por quadros de IRpA, ao contrário do que ocorre em
hospitais gerais, onde prevalecem as traqueostomias
eletivas relacionadas a tempo de ventilação prolongada
orotraqueal, desta forma, as taxas de complicações
devem ser interpretadas de formas diferentes.
Os quadros de indicação eletiva nos pacientes de
nossa série envolveram tumores com comprometimento
limítrofe de via aérea sem sinais clínicos de IRpA e com
programação de RDT; e pacientes que apresentaram
IRpA devido à doença primária e foram submetidos à
ventilação orotraqueal com sucesso para posteriormente
serem submetidos à TQT.
A anestesia local foi a técnica anestésica mais
comum pois vários desses pacientes apresentavam
tumores extensos, pescoço actínico e intolerância ao
decúbito o que impossibilitavam qualquer tentativa de
intubação orotraqueal, mesmo com nasofibroscopia.
Manta et al.
Consideramos variáveis preditoras de dificuldade
técnica para a realização da TQT pacientes com
estadimento avançado, pescoço actínico, doença
localmente recidivada e tumor no campo da
traqueostomia. Apesar destas variáveis certamente nos
preocuparem num primeiro momento, não podemos as
considerar como fatores de risco para complicações
pois os pacientes que complicaram apresentavam
características clínicas semelhantes aos demais que
não evoluíram com complicações.
Podemos inferir que as TQTs abertas, mesmo
em pacientes com tumores de cabeça e pescoço que
acarretam maior dificuldade na realização das mesmas
quando respeitados todos os princípios de técnica
cirúrgica e com rigorosa atenção aos detalhes inerentes
a esse grupo específico de pacientes, apresentam taxas
iguais de complicações com relação as apresentadas em
séries de pacientes não oncológicos. Essa semelhança
pode ser creditada a execução do procedimento por uma
equipe cirúrgica especializada com formação em Cirurgia
de Cabeça e Pescoço, com vivência de abordagens em
áreas previamente irradiadas, com cirurgias prévias,
com doença local e pacientes com performance clínica
limítrofe, o que minimiza as dificuldades incluindo
a urgência dos procedimentos e a realização com
anestesia local.
À luz dessa afirmação não podemos considerar
uma traqueostomia em paciente não oncológico um
procedimento com mesma dificuldade de um oncológico.
Conclusão
As
complicações
mais
observadas
foram
sangramento, de diferentes intensidades, em momentos e
abordagens distintas, em segundo lugar o pneumotórax e
enfisema de subcutâneo, sendo o óbito da série associado
ao pneumotórax, seguindo empatados a broncoaspiração
e a estenose do traqueostoma. Não identificamos fatores
de risco específicos para essas complicações.
A série com casos oncológicos apresentados
evidencia uma taxa de complicações semelhantes às
taxas de séries de hospitais gerais envolvendo pacientes
com diferentes diagnósticos e diferentes indicações –
traumas, intubação orotraqueal prolongada, sequelas
neurológicas – com equipes cirúrgicas de diferentes
formações – cirurgia geral, cirurgia do trauma e cirurgia do
tórax, porém os resultados não devem ser comparáveis,
pois as características dos pacientes, indicações e os
profissionais envolvidos são claramente distintos.
O aprimoramento técnico contínuo, com conhecimento
da técnica do procedimento e do manejo de suas
complicações, permite uma abordagem segura e eficaz.
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Experiência da traqueostomia aberta em 149 pacientes oncológicos. airway: an updated report by the American Society of Anesthesiologists
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