ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO APÓSTOLO JOÃO JOÃO, filho de Zebedeu e irmão de Tiago, foi um dos doze discípulos escolhidos por Jesus, que posteriormente foram chamados de apóstolos (Mt 10.2-4). Quase com certeza é a mesma pessoa mencionada no evangelho de João como "o discípulo a quem Jesus amava" (Jo 13.23; etc.); mencionado freqüentemente nos evangelhos junto com o irmão Tiago. Os dois, por sua vez, são mencionados junto com Pedro. Os três já se conheciam antes de se tornarem discípulos de Jesus, pois eram companheiros de profissão (Lc 5.10; etc.). O pai deles possuía um barco, no qual João e Tiago estavam quando foram chamados por Jesus para serem seus discípulos (Mt 4.18-22). Provavelmente sua mãe era Salomé, a qual uniu-se a outras mulheres para levar ungüentos ao túmulo de Cristo, depois da crucificação (compare Mc 16.1 e Mt 27.56). Jesus apelidou Tiago e João de "Boanerges", que significa "filhos do trovão" (Mc 3.17). Não está bem claro por que os chamava assim, mas é provável que o nome reflita o temperamento impulsivo que tinham ou o compromisso zeloso que possuíam para com Cristo. O relacionamento profundo e pessoal entre Jesus e João é observado em várias passagens nos evangelhos. João fazia parte do círculo mais íntimo dos discípulos que acompanhavam Cristo em numerosas ocasiões. A profundidade da comunhão de Jesus com ele, entretanto, é vista mais claramente na cruz. Foi a João que Cristo dirigiu-se de maneira mais destacada e disse: "Eis a tua mãe". Então a Bíblia diz: "Dessa hora em diante o discípulo a recebeu (Maria) em sua casa" (Jo 19.27). João e Jesus João obedeceu imediatamente quando Jesus o chamou para segui-lo como discípulo e é destacado especialmente como integrante do pequeno grupo composto por ele próprio, Pedro e Tiago, os quais foram separados por Cristo para estar presentes com Ele em numerosas situações muito significativas. A formação do grupo já era vista em Marcos 1.29, quando Tiago e João foram com Jesus na visita à sogra de Pedro, que estava enferma. Cristo a curou e imediatamente a mulher levantou-se e começou a servi-los (Mc 1.29-31). Em outra ocasião, Jesus foi chamado à casa do líder da sinagoga, chamado Jairo, para curar sua filha. Antes de chegar lá, os amigos de Jairo foram ao encontro do grupo para informar que a menina havia morrido. Cristo prosseguiu até a casa, acompanhado apenas por Pedro, Tiago e João. Uma vez lá, ressuscitou a menina dentre os mortos (Mc 5.37-43; Lc 8.51). O terceiro e mais importante evento testemunhado por João, juntamente com Pedro e Tiago, foi a Transfiguração. Nesta extraordinária ocasião, Jesus e os três discípulos subiram "a um alto monte", onde Cristo "foi transfigurado diante deles". Três evangelhos registram este evento (Mt 17.1-9; Mc 9.2-13; Lc 9.2836). Não se sabe com certeza qual a localização da montanha, mas acredita-se que seja o monte Hermom. Jesus subira àquele local com 1 ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO eles, a fim de orar (Lc 9.28). Sem dúvida, ao afastar-se tanto das cidades mais próximas, buscavam um pouco de sossego, a fim de não serem importunados pelas multidões. Enquanto oravam, a face de Jesus mudou "e suas vestes ficaram brancas e resplandecentes". Então apareceram Moisés e Elias, em glorioso esplendor e "falavam da sua morte (de Jesus), a qual havia de cumprir-se em Jerusalém" (vv. 29-31). Todos os escritores enfatizaram a intensa brancura e a glória daquela manifestação. Esta breve presença do poder de Deus em Jesus e o fato de que Moisés e Elias foram vistos ao lado dele levaram Pedro a precipitar-se e dizer que talvez fosse bom construir um tipo de habitação onde tal glória fosse preservada de alguma maneira. Rapidamente, porém, uma nuvem envolveu toda a cena. Tudo, portanto, era uma evidência da presença gloriosa do próprio Deus (Êx 16.10; 24.16). Quando foram envolvidos, João e os outros ouviram a voz do Senhor que disse: "Este é o meu amado Filho; a ele ouvi" (v. 35). Para entender melhor o que aconteceu na Transfiguração, é importante notar que os três evangelhos relataram a confissão de Pedro de que Jesus era "o Messias (o Cristo)". Esta declaração, sem dúvida, também dirigida a João e aos demais discípulos, significava mais um avanço no entendimento deles sobre quem era Cristo. Jesus, entretanto, imediatamente aproveitou a oportunidade - para o desapontamento de Pedro - a fim de mostrar que sofreria e finalmente morreria. O caminho deste Messias não seria o esperado pelos judeus, ou seja, ser glorificado pela nação ou tornar-se o rei de Israel. A Transfiguração, portanto, ensinou a João e aos outros dois discípulos uma importante lição: embora não parecesse correto ter um Messias que caminhava para a morte, o Messias seria glorificado por meio daquele evento. Jesus preparava seus discípulos para seu sofrimento e morte, e mostrava que seria apenas por um curto tempo que sua verdadeira glória se esconderia do mundo. Eles testemunharam uma revelação da glória de Cristo e agora sabiam que, embora tivesse de experimentar a morte, Ele era superior em glória e autoridade a Moisés, o legislador, e ao profeta Elias. A voz do Senhor novamente assegurou a todos os que a ouviram, como acontecera no batismo de Jesus, que ali estava de fato o verdadeiro filho de Deus, que seria ouvido, pois seguia um caminho determinado. Tal revelação de Cristo em sua glória sem dúvida ajudou João em seus escritos posteriores, nos quais colocou muita ênfase na "glória" de Jesus Cristo (Jo 1.14; 2.11; 11.40; cap. 17; etc.). A despeito de sua posição privilegiada naquele círculo mais íntimo, havia muitas coisas que João não compreendia com relação à missão de Jesus. Certa vez ele informou a Cristo que descobrira certa pessoa que usava seu nome para expelir demônios e ordenara que parasse, "porque não nos segue" (Mc 9.38). Este incidente é relatado logo após a discussão dos discípulos sobre quem seria o maior no reino de Deus! Jesus, é claro, respondeu que tal 2 ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO pessoa não devia ser proibida, pois trabalhava em nome de Cristo e "quem não é contra nós, é por nós" (v. 40). Numa outra atitude igualmente impetuosa, João e seu irmão Tiago, talvez instigados pela mãe, pediram a Jesus que, após a chegada do reino, recebessem lugares de honra, ou seja, posições privilegiadas (Mc 10.35). Talvez por se lembrarem da Transfiguração, o pedido deles referiu-se à "glória" de Jesus: "Concede-nos que na tua glória nos assentemos, um à tua direita, e o outro à tua esquerda". Novamente Jesus ensinou que seu reino não era desse tipo. O Filho do Homem veio para servir, e tal domínio sobre outras pessoas não correspondia de maneira alguma à natureza do reino de Cristo. A Bíblia diz que os outros discípulos ficaram indignados quando souberam do pedido dos dois irmãos (Mc 10.35-45). Lucas também relata que Jesus, ao passar por uma aldeia de samaritanos, em seu caminho para Jerusalém, não foi bem aceito. João e Tiago disseram: "Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma, assim como fez Elias?" (Lc 9.54). Cristo, naturalmente, não desejava isso, mas talvez esse incidente indicasse duas coisas que aconteceram depois da Transfiguração. Por um lado, a fé de João e de seu irmão Tiago em Jesus e em sua glória aumentou consideravelmente. Criam que, como discípulos de Jesus, podiam ordenar que caísse fogo do céu e sabiam que haveria uma glória, da qual eles próprios seriam participantes. Por outro lado, juntamente com isso, havia também uma arrogância pecaminosa e uma surpreendente incapacidade de se alinhar com a visão do sofrimento e da atitude de servo. A comunhão que havia entre João e Jesus é vista também em outras ocasiões. Marcos 13.3 registra a presença do discípulo amado numa conversa com Cristo sobre os sinais do fim do mundo. Lucas 22.8 menciona que Pedro e João receberam instruções para o preparo da Páscoa, no final do ministério de Cristo. Se a suposição de que João era "o discípulo a quem Jesus amava" estiver correta, então foi Ele quem se reclinou sobre o ombro de Jesus durante a última refeição e perguntou-lhe qual seria o traidor (Jo 13.23,24). Pouco tempo depois, Pedro, Tiago e João é que foram separados para acompanhar Jesus ao Jardim Getsêmani, e foi a eles que Jesus revelou a profundidade de sua angústia e o pavor que experimentou antes da prisão e crucificação (Mc 14.33). João no livro de AtosÉ interessante notar que no livro de Atos é João, e não Tiago, quem assume uma figura proeminente, juntamente com Pedro. É listado depois de Pedro quando os discípulos se reuniram no Cenáculo, em Atos 1.13. Depois do dia de Pentecostes, foram os dois que mais se destacaram na operação dos milagres (At 3.1-5, 11). Assim, eles também tornaram-se alvo do antagonismo das autoridades judaicas e foram presos (At 4). Os líderes do Sinédrio ficaram especialmente impressionados com os dois apóstolos: "informados de que eram homens sem letras e indoutos, se maravilharam, e tinham conhecimento de que eles haviam estado com 3 ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Jesus" (At 4.13). Esse testemunho constante de Cristo, mesmo diante das perseguições, rapidamente tornou-se a marca do ministério apostólico e a força da fé que o apóstolo João demonstrou (At 4.19, 2123).João e Pedro também foram enviados juntos para ver o que se passava entre os samaritanos que se converteram a Cristo. Ambos impuseram as mãos sobre aqueles novos convertidos, de maneira que os que tinham fé em Jesus receberam o Espírito Santo, exatamente como os judeus convertidos em Jerusalém experimentaram no dia de Pentecostes (At 8.14,17,25).Os escritos de JoãoHá constantes debates sobre quais livros do Novo Testamento foram escritos pelo apóstolo João. Tradicionalmente, contudo, o evangelho e as epístolas joaninas são atribuídas a ele. O maior debate é quanto ao Apocalipse, pois alguns acham que foi escrito por outro João. Adotamos aqui a suposição de que o apóstolo foi o responsável por esse livro. É importante destacar, embora bem rapidamente, alguns de seus escritos.O evangelho de João é surpreendentemente diferente dos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Por exemplo, só este livro dá a entender que Jesus teve um ministério de aproximadamente três anos. Ele registra longas discussões entre Cristo e os judeus da época, com detalhes que não são vistos nos sinóticos. João não menciona as expulsões de demônios e, embora em seu evangelho observemos que Jesus usava os milagres como parábolas, por meio das quais ensinava lições, não há menção das narrativas curtas e objetivas como as parábolas do reino de Deus em Mateus 13. O prólogo, em João 1, não encontra paralelos nos sinóticos. Entretanto, este livro menciona outros incidentes e oferece análises profundas e reflexões sobre o ensino de Cristo. Para muitos especialistas, as diferenças entre João e os outros três evangelhos, a reflexão aparentemente mais profunda sobre quem é Jesus e alguns dos temas particulares que o apóstolo desenvolve têm levado a crer que o seu evangelho foi escrito bem mais tarde, depois de 90 d.C. Outros estudiosos, entretanto, discordam e sugerem uma data anterior. Embora não possamos entrar nesta discussão aqui, existem boas razões para supor que foi o apóstolo quem escreveu este evangelho, o qual demonstra evidências da mão de uma testemunha ocular e de alguém que conhecia muito bem os costumes judaicos, bem como as práticas e a geografia da Palestina. Vários motivos são sugeridos sobre por que razão João escreveu este evangelho, mas o cap. 20.31 proporciona uma indicação claríssima sobre o que o apóstolo tinha em mente: "Estes (sinais), porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome". O evangelho enfatiza os numerosos "sinais". Estes milagres foram especialmente selecionados por João, por causa do que ensinavam sobre Jesus. Às vezes eram acompanhados por um "discurso", no qual Cristo utilizava o milagre como base do ensino. Por exemplo, a cura do homem no tanque de Betesda, no cap. 5, levou ao ensino de que Jesus 4 ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO fazia as mesmas obras que o Pai realizava (vv. 17,19-23). A mensagem final foi sobre a necessidade de crer na palavra de Jesus e no Pai que o enviou para receber a vida eterna (vv. 24-30). A alimentação de quase 5.000 pessoas, por meio da multiplicação miraculosa dos pães, no cap. 6, levou ao ensino de que Jesus é "o pão da vida" (v. 35). Este tema é desenvolvido amplamente, a fim de mostrar às pessoas que elas precisam ir a Jesus e responder a Ele pela fé. Os que fazem isto receberão a "vida eterna" (veja abaixo). As palavras de Cristo, bem como seus ensinos, são "pão" e "espírito vivificante" (vv. 33,63). No cap. 9, a cura do homem cego levou à discussão do problema da cegueira espiritual. Os fariseus objetaram veementemente contra o claro ensino de Jesus de que eles eram as pessoas espiritualmente cegas, pois se recusaram a crer nele (vv.35-41). Provavelmente João tencionava dizer que a ressurreição foi o ponto culminante em sua lista de "sinais". Seu maior desejo era que as pessoas tivessem fé em Jesus, o Messias, experimentassem o perdão dos pecados e tivessem a vida eterna. João 20.31 provavelmente traz a seguinte mensagem: "estes (sinais) foram escritos para que vocês possam crer que Jesus é o Cristo" ou "estes (sinais) foram escritos para que vocês continuem crendo que Jesus é o Cristo"; ambas demonstram que o interesse do apóstolo era que as pessoas saibam quem é Jesus, creiam nele e recebam a vida eterna. O evangelho de João também contrasta a verdadeira fé com o que é chamado de sabedoria humana. Em várias ocasiões as pessoas colocaram Jesus num nível material e literal, quando Ele falava em níveis mais profundos e espirituais. Ao fazer este contraste, João demonstra a necessidade da mudança no coração e o desejo da operação do Espírito Santo na regeneração, para que um indivíduo entenda e reconheça a verdade. Por exemplo, em João 3, Jesus ensinou que Nicodemos precisava nascer de novo, a fim de dizer que o Espírito Santo precisava operar em sua vida. Aquele mestre achava que a pessoa necessitava retornar ao ventre materno (vv. 3,4)! A mulher samaritana ouviu quando Jesus lhe ofereceu a "água viva", a qual, quando experimentada por uma pessoa, esta jamais teria sede. Ela imediatamente desejou tal água, para que não caminhasse mais até o poço. Cristo, no entanto, falava-lhe sobre a água que levava à "vida eterna" (vv. 13-15). Mesmo quando Jesus expressou-se sobre o pão da vida em João 6, como Nicodemos em João 3, os líderes judeus só conseguiam interpretar literalmente. Lembravam-se do milagre da provisão de pão que aconteceu na época de Moisés, no deserto, mas Jesus falava sobre o pão na forma de palavras que levavam à vida eterna (veja Dt 8.3). O evangelho de João também chama a atenção para a oração de Jesus, no final de seu ministério terreno, registrada no cap. 17; nela, aprendemos sobre os que aceitariam as boas novas, nas futuras gerações. A preocupação de Cristo, conforme orou, era que eles também conhecessem a glória dele e 5 ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO a sua relação com o Pai. Este é apenas parte do conteúdo deste evangelho (veja "o ensino de João", a seguir), o qual provoca sérias reflexões sobre quem é Jesus, a natureza da vida eterna e, acima de tudo, a necessidade da fé. As Epístolas Existem três epístolas escritas por João. Embora ele nunca se identifique claramente, na segunda e na terceira ele se refere a si mesmo como "o presbítero". Alguns especialistas, portanto, sugerem que este João não era o apóstolo, mas outro, cognominado de "João, o presbítero". Desde os tempos primitivos da Igreja, entretanto, as pessoas concordam que o autor das epístolas é o apóstolo. Provavelmente 1 João foi escrita para uma audiência mista de judeus e gentios convertidos. Pode ser que, se ele viveu em Éfeso no final de sua vida, como os antigos escritores cristãos sugerem, então esta epístola teria circulado entre as igrejas daquela região. 1 João incentivava a comunhão e a alegria na igreja e buscava encorajar a congregação a ter segurança na fé. João, entretanto, também tratou do problema de certos ensinos falsos que surgiram entre os crentes. Dois temas-chave que são discutidos na epístola provavelmente indicam as duas áreas nas quais o falso ensino se baseava. João ensinou sobre quem é Jesus. Enfatizou que havia visto Cristo e testemunhado os eventos que são a base da mensagem do Evangelho (1 Jo 1.1-4). Afirmou que Jesus é o Filho de Deus (1 Jo 1.3; 2.22; 5.5, 11) e lembrou seus leitores de que Cristo é preexistente (vivia eternamente com Deus antes de vir à Terra, 1 Jo 2.13,14). João também ensinou que Jesus voltará, que Ele é justo e perfeito e que realmente manifestou-se em forma humana. Em segundo lugar, enfatizou a ética, ou seja, como os cristãos devem comportar-se, pois possuem um Senhor maravilhoso. Os cristãos devem viver com integridade (1 Jo 1.6 a 2.6,15-17; 3.4-10). Precisam amar uns aos outros como Cristo os amou (1 Jo 4.19; 2.7-11; etc.). As outras duas epístolas de João desenvolvem temas similares, com uma grande ênfase no amor fraterno, e apresentam a verdade como a única resposta adequada para os falsos mestres. 3 João provavelmente foi dirigida a uma disputa eclesiástica particular e, ainda assim, a ênfase é sobre a verdade (3 Jo 3,4,12); a falta de amor também é destacada (vv. 9,10). O livro de Apocalipse O livro de Apocalipse é um dos mais lindos da Bíblia; poucos também têm causado tanta polêmica, pois as pessoas lutam para entender as figuras utilizadas na maior parte de seus escritos. Este livro claramente foi redigido já perto do final da vida do apóstolo, durante um período de intensa perseguição; alguns especialistas sugerem o tempo em que os cristãos foram perseguidos pelo imperador Nero (54 a 68 d.C.). Outros acreditam que provavelmente foi escrito na época de Domiciano (81 a 96 d.C.). Não importa o quão difíceis sejam alguns conceitos e ensinamentos do livro, existe um claro sentimento, por todo o texto, de um pastor que escreve para um povo sofredor, por causa das muitas perseguições e da 6 ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO infiltração do falso ensino. A despeito das circunstâncias, João não demonstrava pessimismo com relação ao mundo. Para ele, a vitória já estava ganha no Cordeiro (Jesus) que foi morto como sacrifício pelos pecados e que já derrotou a Satanás (Ap 5). A vitória de Cristo na cruz agora atuava no mundo por intermédio da Igreja. Pode-se encontrar vitória até mesmo no martírio, desde que tal testemunho da verdade de Cristo (que tem autoridade e já se manifestou) demonstra a vitória de Deus (Ap 12.11). Parte do estilo do livro é chamado de apocalíptico, mas é importante perceber que ele foi escrito de maneira similar às profecias do Antigo Testamento. Existe uma autoridade no ensino de João que é distintamente profética e apostólica. O livro descreve a maldade de Satanás e suas forças e o poder que têm neste mundo, mas registra também a confiança que João tinha na soberania de Deus, a qual leva inexoravelmente para o grande dia da volta de Cristo, quando novo céu e nova terra serão estabelecidos e Satanás e o mal serão banidos para sempre. Naquele tempo a morte e o choro, o sofrimento e a dor desaparecerão e Deus estará no meio de seu povo (Ap 21.3,4). O ensino de João Só podemos resumir aqui alguns dos aspectos mais importantes do ensino de João. Sua reflexão, sob a direção do Espírito Santo, sobre quem é Jesus e o relacionamento do crente com este mundo, com Cristo e com o resto da Igreja cristã é ampla e detalhada. Sobre Jesus O primeiro capítulo do evangelho de João fala bastante do pensamento do escritor sobre Jesus. Ele reconhecia Cristo como Deus. João 1.14 resume bem o que o autor queria dizer: "O Verbo se fez carne, e habitou entre nós. Vimos a sua glória, a glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade". Ao utilizar a figura do Tabernáculo no Antigo Testamento, na qual a glória de Deus era vista simbolicamente no meio do povo na forma da coluna de fogo e da nuvem, João diz que o Verbo (Jesus) veio e "armou seu tabernáculo" entre nós. Jesus tornou-se homem e, assim, foi possível ver nele a glória que pertencia unicamente a Deus (veja Êx 40.34; Nm 16.42; Jo 12.41; etc.). João ensina que Cristo leva as pessoas à adoração do Senhor, quando lhes revela a glória do Pai, mas esta majestade pertence também ao Filho (Jo 8.50-54; 11.4,40-42; 14.13; etc.). Jesus já possuía a glória do Pai antes de nascer e recebeu novamente a plenitude da majestade, quando subiu ao Céu e foi exaltado à direita de Deus (Jo 17.5, 24). João também ensina que, assim como Cristo honrou o Pai e tem sua própria glória, o Espírito viria e glorificaria o Filho (Jo 16.14). Provavelmente a preexistência de Jesus é mais claramente ensinada nos escritos de João do que em qualquer outro lugar do Novo Testamento. Ele existia desde a eternidade e não simplesmente a partir do momento em que encarnou (Jo 1.1,4,14; 3.17; 17.5,24; 1 Jo 3.8; 4.9). Também esteve diretamente envolvido na própria criação, pois "todas as coisas foram feitas por meio dele... nele estava a vida" (Jo 1.3,4). Jesus "se manifestou" (1 Jo 1.2) e foi 7 ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO "enviado" por Deus Pai, com quem mantinha uma comunhão muito especial com o Senhor (Jo 8.42; 11.42; 1 Jo 4.14). Esta condição de "Filho de Deus" também é um tema importante no evangelho de João, por meio do qual a comunhão entre o Pai e o Filho é demonstrada em destaque. Na verdade, o próprio objetivo do evangelho, segundo João (Jo 20.31), é "que creiais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome". O autor afirma que o que Jesus disse destacava sua condição única de "Filho de Deus". Por meio da insistência de Cristo de que as palavras que proferia e as obras que realizava eram provenientes do Pai (Jo 14.10; etc.) e em sua oração (Jo 17) vemos repetidamente sua comunhão com o Pai e a importância deste relacionamento no nosso entendimento sobre quem Ele é. É João quem relata a ocasião em que Jesus voltou-se para Filipe e disse: "Há tanto tempo estou convosco e não me conheces, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como dizes tu: Mostra-nos o Pai?" (Jo 14.9). Cristo prosseguiu: "Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, nas as digo por mim mesmo. Antes, é o Pai que está em mim quem faz as obras" (v. 10). Era importante para João que seus leitores aceitassem a deidade de Jesus. A ênfase na autoridade de Cristo, como "Filho de Deus", no fato de ter sido "enviado" por Deus e ser o Messias (Jo 1.41; 4.29; 20.31; etc.), seu ensino em João 14 a 17 sobre sua comunhão preexistente com o Pai, tudo isso proporciona um acúmulo de evidências de que Jesus é Deus. Para João, este ensino é resumido em declarações como as que são encontradas em João 1.14 e 20.31. O autor também chamou a atenção para as numerosas ocasiões em que Jesus fez declarações relativamente explícitas de que era Deus, as quais imediatamente fizeram com que os líderes religiosos o acusassem de blasfêmia. As mais importantes destas afirmações incluíam o uso da expressão "Eu sou" em certos contextos que o identificaram como Yahweh, o Deus "EU SOU" (veja Êx 3.14). Por exemplo, em João 8.58, lemos: "Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão nascesse, eu sou!". Essa parece ser tanto uma declaração de preexistência como de divindade, pois assume o nome de Deus. O ensino mais distinto de João sobre Jesus é a descrição dele como "o Verbo" (gr. Logos). Embora haja debate sobre o pano de fundo do qual o autor extraiu esta descrição de Cristo, alguns pontos podem ser estabelecidos. No cap.1, "o Verbo" estava com Deus, era Deus e criou todas as coisas. Em Gênesis 1 Deus falou e o mundo foi criado. No Salmo 33.6 diz que "pela palavra do Senhor foram feitos os céus". A palavra de Deus é ativa no AT. Quando o Senhor fala, algo acontece. Certamente este pano de fundo do Antigo Testamento está por trás de parte do que João ensinou, ao chamar Jesus de "o Verbo" (ou "a Palavra"). Talvez ele também pensasse num contraste entre Cristo e a Lei do AT, a qual é chamada de "a Palavra" de Deus. Esta comparação é 8 ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO feita em João 1.17, no final da seção na qual Jesus, "o Verbo", é apresentado. O interesse principal de João era que seus leitores conhecessem Jesus como a Palavra criadora e reveladora, que veio da glória no Céu, tornou-se completa e genuinamente humana e viveu neste mundo. O Deus verdadeiro, Criador e preexistente tornou-se homem, pôde sentir fome como qualquer outro ser humano e experimentou genuinamente o sofrimento. Este Jesus, tão glorioso em toda a sua verdade e perfeição, pôde ser visto, tocado e ouvido (1 Jo 1.1). Por meio da fé nele e somente nele, é possível, segundo o ensino de João, que todas as pessoas recebam o perdão dos pecados e a vida eterna. Jesus, o sacrifício pelos pecados, trouxe salvação e libertação, a fim de que ninguém "pereça" sob o juízo de Deus (Jo 3.16,17). Qual maior amor pode haver, pergunta João, do que este demonstrado por Deus, que enviou seu único Filho como "propiciação" pelos nossos pecados? (1 Jo 4.9,10). Sobre o pecado e o mundo Isso nos leva à visão de João sobre este mundo e o pecado. O termo "mundo" pode referir-se ao mundo geográfico ou a todas as pessoas do mundo; entretanto, é usada freqüentemente por João para descrever as pessoas que não reconhecem Jesus como o Filho de Deus e estão em rebelião contra Ele (Jo 1.10; 14.17; 1 Jo 2.15-17; Ap 12.9; etc.). Cristo "é a luz que resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram sobre ela" (Jo 1.5). Satanás é descrito como "o príncipe deste mundo" (Jo 12.31), que está cheio de trangressão e um dia será julgado. Os falsos profetas são apenas um sinal da grande extensão do pecado (1 Jo 4.1-6). Jesus precisou vir para trazer salvação ao mundo que estava sob o juízo de Deus e João mostrou que de fato Cristo venceu (1 Jo 2.13; 5.4; Ap 17.14; etc.). Sua vitória sobre o pecado, sobre o mundo e sobre Satanás foi conquistada na cruz e será finalmente revelada em sua segunda vinda (Ap 21; etc.). Sobre o Espírito Santo João também escreveu bastante sobre o ensino de Jesus concernente ao Espírito Santo. A terceira pessoa da Trindade desceu sobre Cristo no momento em que Ele foi batizado pelo Batista. Somente João, entre os escritores dos evangelhos, relaciona este batismo com o fato de que o próprio Jesus não batizará somente com água, mas com o Espírito Santo (Jo 1.31-34; veja Lc 3.16). Provavelmente João olhava tanto para o dia de Pentecostes como para a experiência no Cenáculo, após a ressurreição, quando Jesus surgiu entre os discípulos e disse: "Recebei o Espírito Santo. Aqueles aos quais perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; aqueles aos quais não perdoardes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20.22; veja também 7.39). Em João 3, o escritor fala sobre o encontro de Jesus com Nicodemos. A obra do Espírito Santo na salvação e na provisão da vida eterna é enfatizada, quando Cristo mostrou ao mestre de Israel que ele precisava "nascer de novo" e "nascer do Espírito". A completa liberdade que o Espírito Santo exercita nesta obra de regeneração também foi evidenciada (Jo 3.3,6,8). 9 ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO O ensino mais interessante sobre o Espírito Santo nos escritos de João, e também o mais amplo, ocorre em João 14 a 16. Em cinco ocasiões o Espírito é chamado pelo termo grego "Paracleto" (o Consolador). Este vocábulo significa "aquele que fica ao lado", mas também inclui a idéia de um representante legal ou advogado que argumenta em favor de alguém. Em João 14.16,17 "o Espírito da verdade" é chamado de "outro Consolador". Ele viria para as pessoas quando o atual conselheiro, Jesus Cristo, fosse glorificado, ou seja, depois que retornasse ao céu. Sua presença permanente seria conhecida por todos os discípulos e pelos crentes e, assim, o próprio Jesus continuaria presente entre seu povo, por intermédio do Espírito. Além da obra do Espírito Santo como Deus presente entre seu povo, Ele também ensina sobre Jesus. Provavelmente, numa referência direta ao ministério apostólico de interpretar a vida, morte e ressurreição de Cristo para o mundo, Jesus disse aos discípulos: "Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito" (Jo 14.26). Sem dúvida esta declaração teve uma importância particular para João, que mais tarde escreveu para muitos, em diversas ocasiões, a fim de explicar que Jesus era o caminho da salvação, também porque, durante a vida de Jesus, conforme já vimos antes, ele não compreendeu plenamente qual era a missão de Cristo. João destacou, além disso, o ensino de Jesus de que o Espírito Santo daria poder aos crentes para serem testemunhas (Jo 15.26,27). Mais do que isso, entretanto, esses versículos destacam que, em tudo o que o Espírito Santo faz, Ele testifica sobre Jesus e o glorifica. Em João 16.5-11 a obra do Espírito é mais detalhada. Sua atuação trará convicção de pecado ao mundo e a advertência quanto ao julgamento de Deus e lembrará as pessoas da vitória de Cristo sobre Satanás. Novamente, a obra do Espírito é vista como uma continuação da do próprio Cristo; entretanto, também se desenvolverá a partir do que Jesus foi capaz de ensinar aos discípulos. O Espírito iria "guiá-los em toda a verdade" e também revelaria mais sobre a verdade sobre Jesus, para a glória de Cristo (Jo 16.12-15). João ensinou que o Espírito Santo está intimamente envolvido na obra de evangelização. Convence as pessoas do pecado, opera dentro delas para que possam nascer de novo, revela a verdade de Cristo e permanecerá com os convertidos até a volta de Jesus. Sua obra revela Cristo para as pessoas e as leva até Ele. Sobre a vida eterna. A vida eterna é um tema importante no evangelho de João. Enquanto Mateus, Marcos e Lucas ensinam sobre o reino de Deus (ou do céu), ele usa a expressão "vida eterna", a qual ocorre 22 vezes em seu evangelho e em 1 João. Para o apóstolo do amor, a vida eterna resume todas as bênçãos herdadas pelos que crêem e são salvos por Cristo. O conceito surge do ensino de que em Jesus há vida, que começa em João 1 (Jo 1.4; 5.21, 26; etc.). As pessoas podem permanecer nas 10 ADIBERJ ASSOCIAÇÃO DOS DIÁCONOS BATISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO trevas e sob o juízo ou podem crer em Jesus e no Pai e receber a vida eterna. Aquele que aceita a mensagem do Evangelho "passou da morte para a vida" (Jo 5.24; 8.12; 1 Jo 5.13). Quando os judeus pensaram que possuíam vida eterna por meio da obediência às Escrituras, Jesus demonstrou que a Palavra de Deus apontava para Ele próprio, em quem havia vida (Jo 5.39,40; 1 Jo 5.11, 20). Intimamente ligado a este ensino sobre a vida eterna está o fato de que Cristo morreu como um sacrifício em favor de outros. Ele renunciou à sua vida para que os que cressem pudessem viver eternamente (Jo 10.10-18, 28). Assim, a vida eterna é um dom de Deus recebido pelos que nascem de novo pelo Espírito (Ap 22.17). Existem muitas bênçãos e alegrias presentes, relacionadas ao ensino de João sobre a vida eterna. Embora todas as satisfações aguardem a plena realização na volta de Cristo, de qualquer maneira a experiência presente da vida eterna é suficientemente real. O medo da morte e do juízo não mais permanece sobre o crente, pois o verdadeiro amor de Deus já opera em nós (Jo 3.16,17, 36). Há alegria em compartilhar a vida eterna com outros e em conhecer a Cristo, que é a vida (Jo 4.36; 5.24). Há a alegria de conhecer o Deus Pai e o Deus Filho (Jo 17.3, 6,7) e existe o grande conforto de receber a unção do Espírito Santo, que habita no crente (1 Jo 2.25-27). Finalmente, o mais importante para João é que o propósito da vida eterna redundará na presença dos crentes num novo céu e numa nova terra, diante de Deus eternamente. A vida eterna, que começa agora por meio da obra do Espírito Santo nos corações, leva a este glorioso ápice, quando "eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles, e será o seu Deus" (Ap 21.3). Naquele último dia, embora sejam perseguidos no presente, os cristãos receberão "a coroa da vida" (Ap 2.10). Embora tão pressionados neste mundo, serão "vestidos de vestes brancas" e seus nomes jamais serão riscados do livro da vida (Ap 3.5, etc.). Conclusão: O mais impressionante do ensino de João é o seu compromisso com Jesus. Seja durante o período da vida de Cristo, seja logo depois do Pentecostes, durante as perseguições, seja posteriormente, quando escreveu seu evangelho, suas epístolas e o Apocalipse, seu desejo mais premente era ver as pessoas crendo em Jesus e seguindo a Cristo por toda a vida. Desejava ver todos conhecendo ao Jesus que ele próprio conheceu, ouviu e tocou. Não é de estranhar que tanto o seu evangelho como o livro de Apocalipse terminem com um apelo à fé: "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20.31). "O Espírito e a noiva dizem: Vem. Quem ouve, diga: Vem. Quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida" (Ap 22.17). 11