Antiepiléticos Fármacos Disponíveis para o Controle dos Sintomas em Cães e Gatos. Antiepiléticos Fármacos Disponíveis para o Controle dos Sintomas em Cães e Gatos Introdução A epilespia é uma doença intracraneal não progressiva que produz ataques e convulsões intermitentes. O controle farmacológico da epilepsia nos cães e gatos inicia quando os ataques ocorrerm com frequência ou quando o animal se encontra em um estado epilético de risco (estado de vida ameaçado devido à atividade de ataques contínuos). O objetivo da terapia com anticonvulsivantes é reduzir a frequência, duração e severidade dos ataques. Deve ser do entendimento dos proprietários que seus animais continuaram a ter ataques durante a terapia, porém estes estarão controlados. Além disto, regimes terapêuticos diferentes com vários fármacos e dosagem variadas poderão ser utilizados até que se encontre a terapia adequada para aquele animal em particular. Possivelmente o cão ou gato deverá receber esta medicação para o resto da vida. As convulsões são comumente encontradas na prática de pequenos animais e podem ser atribuídas a uma variedade de desordens do cérebro, sendo classificadas da seguinte forma: ŸEpilepsia Idiopática: caracterizada por ataques convulsivos sem lesão estrutural subjacente no cérebro; ŸEpilepsia Sintomática: caracterizada por ataques convulsivos causados por lesão estrutural identificável no cérebro; ŸEpilepsia Sintomática Provável: ataques convulsivos tidos como resultantes de uma lesão estrutural no cérebro, embora não se consiga identificar. Entre as possíveis causas da epilepsia em cães podemos citar: causas degenerativas; de desenvolvimento cerebral; inflamatórias e infecciosas (por exemplo vírus da cinomose); metabólicas; neoplásicas, nutricionais; traumáticas e tóxicas. O diagnóstico é clínico e a anamnese constitui o aspecto mais importante da avaliação de um animal com ataques convulsivos, pois geralmente apenas o proprietário observa estes eventos e o exame neurológico em animais com epilepsia idiopática é freqüentemente normal. A possibilidade de manipulação de fármacos anticonvulsivantes facilita a terapia desta patologia tanto para veterinários quanto para cães e proprietários. O ajuste da dose destes fármacos, tão requisitada no início do tratamento, transforma a farmácia magistral em parceiro no tratamento da epilepsia. A terapêutica da epilepsia em animais requer, muitas vezes, mais de um tipo de fármaco com dosagens diversas. O ajuste de doses, tão importante no início do tratamento, é facilmente alcançado em farmácias magistrais. |01| Estudos & Atualidades Estudo analisa os fármacos mais comuns utilizados na terapia anticonvulsivante: Estudo realizado faz um levantamento entre veterinários sobre quais fármacos são mais utilizados na terapia anticonvulsivante e quais a associações mais utilizadas, bem como suas abrangências terapêuticas: Fármacos mais utilizados em tratamento da epilepsia Fármacos Fenobarbital Brometo de Potássio Primidona Ácido valpróico Benzodiazepinas Buspirona Prednisolona Cães (%) 177 (99) 143 (80) 20 (11) 1 (1) 6 (3) 1 (1) 0 Gatos (%) 119 (94) 7 (6) 3 (2) 1 (1) 53 (42) 0 22 (17) O estudo apresentou as associações farmaco-terapêuticas mais utilizada em cães e gatos: Cães: Gatos: ŸFármaco de escolha: Fenobarbital seguido de Brometo de ŸFármaco de escolha: fenobarbital seguido dos Potássio; Ÿ82% Terapia combinada de Fenobarbital + Brometo de Potássio; Ÿ93% dos entrevistados não tiveram problemas com a terapia. Benzodiazepínicos; Ÿ56% dos entrevistados não utilizam terapia combinada para gatos; Ÿ32% utilizam terapia combinada Fenobarbital + Brometo de Potássio; Ÿ17,6% utilizam terapia combinada de Fenobarbital + Diazepan; Ÿ63% dos entrevistados não tiveram problemas com a terapia. A variedade de drogas anticonvulsivantes trouxe tranqüilidade aos profissionais no tratamento da epilepsia em cães e gatos. A terapia em gatos era restrita aos benzodiazepínicos, ocasionando sérios efeitos colaterais. O uso da terapia combinada auxiliou os profissionais no controle das crises epiléticas. Aus. Vet. Journ. Nov, 2009. |02| Estudos & Atualidades Estudo analisa a utilização de Gabapentina como adjuvante no controle de crises epiléticas em cães com epilepsia idiopática. 16 Cães com Epilepsia Idiopática foram tratados com Fenobarbital + Brometo de Potássio. Após estabilização das crises epiléticas, foi administrado Gabapentina 35 a 50mg/kg/dia , três vezes ao dia por quatro meses. ŸRegistros diários de efeitos colaterais foram realizados pelos proprietários; ŸConcentração plasmática de Gabapentina, Brometo de Potássio e Fenobarbital foram monitoradas; ŸModificações nas características físicas e mentais foram avaliadas. Resultados: Gabapentina apresentou efeitos de sedação e ataxia dos membros posteriores, fator solucionado pela redução da dose de Brometo administrada. Em três cães as crises pararam completamente, no restante dos avaliados não houve redução significativa após a introdução da Gabapentina no tratamento. Gabapentina reduziu o tempo de recuperação pós-crise e aumentou o intervalo entre as crises. A associação da Gabapentina à terapia com Brometo de Potássio e Fenobarbital reduz o tempo de recuperação após a crise epilética e aumenta o intervalo entre as crises. Aust Vet J. Oct, 2005. |03| Principais Fármacos utilizados em Epilepsia: Antiepiléticos Fármaco Ácido Valpróico Dose oral (mg/kg de peso) Cães: 75-200mg/kg, três vezes ao dia. Indicações e Observações Pode causar sedação e hepatotoxicidade. Em virtude de sua hepatotoxicidade, este medicamento tem sido considerado tratamento de 3ª. escolha para os sintomas epiléticos. Caso seja utilizado cronicamente, teve-se avaliar as enzimas hepáticas pelo menos a cada 6 meses. Brometo de Potássio Gabapentina Cães: Para os sintomas da epilepsia (“seizures”) o esquema posológ ico é o seguinte: 1. 400mg/kg/dia, divididos em duas doses, por dois ou três dias; 2. 22-30mg/kg/dia se estiver sendo administrado concomitantemente com fenobarbital; 3. 70-80mg/kg/dia se estiver sendo utilizado como monoterapia. Os brometos são indicados na terapia adjunta dos sintomas de epilepsia, nos animais que não são adequadamente controlados com o uso do fenobarbital ou naqueles acometidos por hepatotoxicidade derivada do fenobarbital. Pode causar sonolência, ataxia, polifagia e irritação gastrintestinal. Este medicamento pode levar várias semanas até que se atinja os efeitos terapêuticos. Sugere-se níveis sanguíneos de 1 1,5mg/ml. Cães: Indicada para o controle das crises Terapia inicial 10mg/kg, a cada oito epiléticas em associação com horas. Brometo e Fenobarbital. Pode causar ataxia e sedação leve. Cães: 2-3mg/kg, duas vezes ao dia (monoterapia ou em combinação com propranolol). Fenobarbital Indicado para epilepsia psicomotora. Pode causar poliúria, polifagia, sedação e hiperatividade. Tratamento inicial: diário, dividido em 2 doses. Gatos: 1-3mg/kg, uma ou duas vezes ao dia Contra-indicado em cadelas (monoterapia) ou 7,5mg/gato, duas prenhas, lactantes ou com disfunção vezes ao dia, em combinação ao hepática. propranolol. |04| Mecanismo de Ação Fenobarbital: Valproato de Sódio: Aumento de capacidade de resposta neuronal ao ácido gama-aminobutírico (GABA), diminui o fluxo de cálcio nos neurônios. Efeitos adversos: sedação; polifagia; mudanças de comportamento. Após 10 dias os efeitos são reduzidos. Bloqueia os canais de sódio voltagem-dependente, facilita os efeitos do GABA. Efeitos adversos: queda de pelos; hepatotoxicidade e vômitos. Deve ser administrado conjuntamente com outros fármacos. Brometo: Gabapentina: Estabiliza a membrana neuronal, interferindo com o transporte de íons cloreto e potencializando os efeitos do GABA. Efeitos adversos: letargia; ataxia; dermatite eritematosa; conjuntivite; náusea e anorexia. Bloqueia os canais de cálcio voltagem-dependente, inibindo o fluxo de cálcio neuronal. Efeitos adversos: ataxia e sonolência. As concentrações plasmáticas de Brometo de Potássio devem ser monitoradas a cada 30, 60 e 120 dias após o início do tratamento. A partir dos dados obtidos a dosagem deve ser adaptada para reduzir os efeitos colaterais. Santos, 2006. Outros Fármacos Antiepiléticos ainda não disponíveis no mercado magistral: Levetiracetam: Auxilia os efeitos inibitórios do GABA e inibe o fluxo de potássio para o interior do neurônio. Possui efeito sobre as crises com reduzidos efeitos colaterais. Em cães e gatos a dose inicial é de 20mg/kg, a cada oito horas. Zonizamida: Bloqueia os canais de sódio voltagemdependente, inibindo o fluxo neuronal. É efetivo como monoterapia e possui menores efeitos colaterais que o fenobarbital. Dose inicial: 5mg/kg a cada doze horas, em gatos a dose é de 5mg/kg uma vez ao dia. |05| Sugestões de Fórmulas 1. Cápsulas de Ácido Valpróico para cães Ácido Valpróico....................................100mg/kg Mande 90 cápsulas. Administrar uma cápsula três vezes ao dia por uma semana. 2. Gotas de Ácido Valpróico para cães Ácido Valpróico..............................100mg/kg/ml Veículo qsp...................................................90ml Administrar 1ml três vezes ao dia. 3. Cápsulas de Brometo de Potássio para cães: Por três dias: Brometo de Potássio...........................400mg/kg Mandar 6 cápsulas. Administrar uma cápsula duas vezes ao dia por três dias consecutivos. Monoterapia: Após três dias e com tratamento conjunto com fenobarbital: Brometo de potássio.............................70mg/kg Brometo de Potássio........................22-30mg/kg Mandar 60 cápsulas. Uma cápsula ao dia. Mande 60 cápsulas. Uma cápsula ao dia. 4. Gotas de Brometo de Potássio Brometo de Potássio.........................400mg/5ml Solução Oral qsp.........................................60ml Administrar 5ml duas vezes ao dia por três dias consecutivos Após três dias e com tratamento conjunto com fenobarbital: Brometo de Potássio......................22-30mg/kg/ml Solução Oral qsp...........................................30ml Administrar uma dose ao dia. Monoterapia: Brometo de potássio........................70mg/kg/ml Solução Oral qsp..........................................60ml Administrar uma dose ao dia. Solicite ao farmacêutico que realize a graduação da dose de acordo com o conta-gotas utilizado. |06| Sugestões de Fórmulas 5. Cápsulas de Carbamazepina Para cães: Carbamazepina........................................8mg/kg Para gatos: Carbamazepina........................................4mg/kg Mande 90 cápsulas. Administrar uma cápsula três vezes ao dia. Mande 60 cápsulas Administrar uma cápsula duas vezes ao dia. 7. Fenobarbital Para cães: Fenobarbital.............................................3mg/kg Para gatos - Monoterapia: Fenobarbital.............................................1mg/kg Mande 60 cápsulas. Administrar uma cápsula duas vezes ao dia. Mande 60 cápsulas. Administrar uma cápsula duas vezes ao dia. Em combinação com Propranolol: Fenobarbital......................................7,5mg/gato Mande 60 cápsulas. Administrar uma cápsula duas vezes ao dia. Literatura Consultada 1.Govendir M, Perkins M, Malik R. Improving seizure control in dogs with refractory epilepsy using gabapentin as an adjunctive agent. Faculty of Veterinary Science, Building B14, The University of Sydney, New South Wales. Aust Vet J. 2005 Oct. 2.Thomas WB. Idiopathic epilepsy in dogs and cats. 3.Department of Small Animal Clinical Sciences, College of Veterinary Medicine, University of Tennessee, Knoxville, TN 37996-4544, USA. Vet Clin North Am Small Anim Pract. 2010 Jan. 4.Kluger EK, Malik R, Govendir M. Veterinarians' preferences for anticonvulsant drugs for treating seizure disorders in dogs and cats. Faculty of Veterinary Science, The University of Sydney, New South Wales 2006, Australia. Aust Vet J. 2009 Nov. 5.Dewey CW. Anticonvulsant therapy in dogs and cats. Department of Clinical Sciences, Cornell University, College of Veterinary Medicine, Ithaca, NY 14853, USA. Vet Clin North Am Small Anim Pract. 2006 Sep. 6.Santos, A. P. Epilepsia em cães. Centro de Ciência Médicas, Univ. Castelo Branco. Rio de janeiro, Set, 2006. |07|