a relação ressurreição e antropologia em wolfhart

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Anais do V Congresso da ANPTECRE
“Religião, Direitos Humanos e Laicidade”
ISSN:2175-9685
Licenciado sob uma Licença
Creative Commons
A RELAÇÃO RESSURREIÇÃO E ANTROPOLOGIA EM WOLFHART
PANNENBERG
Dimas de Macedo Filho
Mestrando em Teologia Sistemática
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
[email protected]
ST 18 - TEOLOGIA SISTEMÁTICA: QUESTÕES EMERGENTES
Resumo: A ressurreição de Jesus é um marco que muda a compreensão de sua pessoa por
parte das primeiras comunidades. Ao mesmo tempo este evento inaugura uma nova forma de
ser-homem. Isso acontece porque ela contrapõe ao primeiro homem, Adão, ser vivente, um
novo, Jesus, espírito vivificante. É a partir desse evento novo, ou seja, a ressurreição, que o
homem deve se entender como história orientada para esta nova vida que apareceu em Cristo.
E esta nova vida pressupõe seu destino, à comunhão com Deus. Tendo em vista estes
apontamentos, este trabalho visa estabelecer uma relação entre antropologia e ressurreição, e
as consequências que daí resultam para a compreensão do homem, a partir da analise
antropológica de Wolfhart Pannenberg. Para isso vamos primeiro situar, dentro da obra deste
autor, a condição do primeiro homem criado segundo a imagem de Deus, sendo esta ainda
provisória uma vez que a verdadeira imagem do homem é Jesus. Depois demonstrar como a
ressurreição de Jesus inaugura a vida nova e se torna um novo paradigma para um discurso
sobre o verdadeiro homem e só então pensar a antropologia a partir desse novo homem que
nasce a partir da experiência da ressurreição e é convidado a tornar-se imagem do novohomem Jesus Cristo. Isso só é possível a medida que a vida nova da ressurreição já age no
homem pelo espírito da fé, da esperança e do amor. Disso tudo resulta que o homem novo a
partir da ressurreição é um ser aberto ao seu futuro já antecipado na ressurreição de Jesus e
ainda por se realizar plenamente nele. Aberto ao seu futuro o homem sempre se constrói como
história orientada para esta vida nova. Fechado em si mesmo ele corre o risco de alienar-se de
si mesmo, portanto, de seu próprio destino, a comunhão com Deus, onde ele é conhecido como
ele verdadeiramente é, ser transcendental.
Palavras-chave: Antropologia. Ressurreição. Homem novo
Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST1805
Introdução
Hoje em dia tem-se afirmado cada vez mais a centralidade do homem em
relação as outras criaturas. Contudo, devido a sua complexidade e contradições não é
possível pensá-lo apenas a partir de um determinado ponto de vista. As demais
ciências assim como a teologia buscam oferecer uma contribuição reflexiva acerca dele.
Isto quer dizer que o tema homem não é indiferente à teologia contemporânea, mas
tem sido levado muito a sério desde o século passado.
Dentre os teólogos do século passado que empreenderam grandes esforços
sobre a reflexão do mistério do homem, com certeza pode-se destacar o nome de
Wolfhart Pannenberg. Desde quando ele era professor na cátedra de teologia
sistemática da Universidade de Munique tem-se destacado por construir um grande
sistema filosófico-teológico a partir de uma interdisciplinariedade elogiáveis. Sua obra
consegue dialogar com os diversos campos do pensamento: filosofia, sociologia, a
história e também a antropologia. Sendo esta última objeto de grande produção
literária.
Tendo em vista este seu extenso trabalho em torno da reflexão sobre o homem
houve por bem escrever esta comunicação a partir dessa dimensão antropológica do
seu pensamento mas relacionando o tema da sua antropologia com outro de maior
importância, a ressurreição. Para ele o fundamento antropológico de todas as verdades
sobre o homem consiste no fato dele ter sido criado a "imagem e semelhança de
Deus"(Gn 1, 26). Isto indica que o destino do homem se encontra para sempre ligado a
Deus, na sua comunhão com ele, por meio de Jesus Cristo, a verdadeira imagem de
Deus segundo o qual ele deve se assemelhar.
Mas imagem do homem em Jesus é aquela do novo Adão escatológico que por
meio de sua ressurreição se transforma em um novo modelo de humanidade segundo o
qual todos os homens devem se renovar. Se este é o novo critério do ser-homem, logo,
a antropologia dessa ser vista a partir dele. E foi a partir dessa constatação que
considerou-se possível e necessário estabelecer uma relação em antropologia e
ressurreição a partir de Pannenberg.
Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST1805
1 A fundamentação da ressurreição de Jesus enquanto fato no contexto da
história torna possível um discurso relacional com a antropologia
Para iniciar um estudo sobre a relação entre ressurreição e antropologia a partir
da obra de Wolfhart Pannenberg é preciso situar a importância que o evento da
ressurreição de Jesus tem como fato dentro do contexto da história humana, pois só
assim este evento diz respeito ao homem e torna possível estabelecer esta relação.
A ressurreição de Jesus dentre os mortos, que se tornou certeza para seus
discípulos pelo túmulo vazio e pelas aparições, constitui o início da pregação dos
apóstolos a respeito de Jesus e ao mesmo tempo o ponto de partida da história da
cristologia. Isto implica afirmar que sem este evento não teria existido nem a mensagem
missionária cristã nem mesmo uma cristologia referente à pessoa de Jesus.
O evento pascal perde sua importância se for compreendido apenas como
revelação do sentido que a morte de cruz de Jesus e sua história terrena já
tinham por si mesmas. Antes, primeiro pelo evento pascal se decidiu
definitivamente sobre a importância da história pré-pascal de Jesus e sobre sua
pessoa em sua relação com Deus. Para isso, o evento pascal primeiramente
dever ser um acontecimento com relevância e conteúdo próprios, a saber,
ressurreição de Jesus dentre os mortos para uma nova vida com Deus. Com
isso se resolve e se elimina a ambiguidade que pairava sobre a pessoa e a
história de Jesus, revela-se um sentido não apenas oculto, mas existente
também de modo independente do acontecimento do ressuscitamento de
Jesus. (PANNENBERG, 2009. p.486).
Mas, ao mesmo tempo, isso não significa que a ressurreição de Jesus é um
acontecimento isolado sem nenhuma referência à sua missão terrena e sua morte de
cruz. A fé da comunidade na ressurreição não se baseia somente na notícia dela como
o aparecimento de uma vida nova e eterna. Para aos discípulos de Jesus não era
indiferente quem era aquele que fora ressuscitado, a saber, o crucificado. Mas não um
crucificado qualquer e sim Jesus de Nazaré, que passou pela Galileia anunciando o
reino de Deus, foi rejeitado, entregue aos romanos, executado e ressuscitado dos
mortos por Deus. Pannenberg (2009, p.484) afirma que "com isso a fé pascal cristã
permanece ligada para todos os tempos à história terrena de Jesus de Nazaré".
Essa referência retroativa agora não é algo que fosse agregado ao
acontecimento do ressuscitamento de Jesus. Ela é inseparável desse
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acontecimento em si, visto que o ressuscitamento aconteceu justamente ao
Jesus crucificado. (PANNENBERG, 2009. p.484).
A afirmação de que Jesus ressuscitou e que, portanto, o Jesus de Nazaré morto
veio a uma nova vida já implica uma pretensão de historicidade.1 Tal afirmação feita em
determinado tempo e espaço é suscetível de um exame crítico com a intenção de que
essa afirmação não seja nula. Se tal afirmação da primeira comunidade cristã se
mostrasse como totalmente transcendente à história humana no tempo e espaço a
situação seria outra. Mas no caso de Jesus não foi isso que aconteceu. A mensagem
cristã afirma que este evento foi uma transição desse mundo terreno para uma vida
nova e imperecível junto com Deus. E isso aconteceu ainda neste mundo, a saber, no
túmulo perto de Jerusalém antes da visita das mulheres na manhã de domingo depois
da morte.2
Por isso, acredita Pannenberg, é totalmente possível empreender um estudo
objetivo sobre a faticidade histórica3 da ressurreição. Pois se alguém afirma que um
determinado fato aconteceu isso não pode deixar, de algum modo, de ser verificado
historicamente através de pesquisa mesmo que isso não seja uma tarefa simples. 4 Para
ele existem três argumentos que sustentam o caráter histórico da ressurreição:
antropológico, da tradição e de linguagem.
1
PANNENBERG, Wolfhart. Teologia sistemática. 2 vol. Santo André: Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2009. p.
506-507. Toda afirmação que sustenta que um acontecimento realmente aconteceu no passado implica uma pretensão
histórica e, com isso, também se expõe a um exame histórico. Por isso algo correspondente vale necessariamente
também para a afirmação cristã de que Jesus de Nazaré teria "ressuscitado no terceiro dia" depois de sua morte.
2
cf. Ibid, p. 506
3
Evaristo Marcos; Judikael Castelo Branco. Kairós - Revista Acadêmica da Prainha, ano VII/1, Jan/Jun, 2010, p132.
histórico para ele vem a ser o fato expresso em linguagem, com relação a uma tradição e que responda a uma
expectativa metafísica do ser humano.
4
DUQUOC, Cristian. Cristologia: ensaio dogmático. Vol. 2. São Paulo: edições Loyola, 1980, p.130-131. ...talvez
possamos, a esse respeito, chegar a uma compreensão melhor. Primeiramente, não atribuo, de forma alguma, aos
argumentos em favor da historicidade da ressurreição de Jesus, uma “força demasiada”. É evidente que eu mesmo
me dou conta de que esse problema é controverso e assim continuará com certeza. Quando falo da ressurreição de
Jesus como fato histórico, não pretendo afirmar de forma imediata senão apenas isso: Jesus outrora ressuscitou
dentre os mortos. Essa afirmação inclui necessariamente uma pretensão de historicidade, pois que não vejo como se
poderia afirmar que um fato realmente aconteceu, sem que ao mesmo tempo seja acessível ao questionamento
histórico e precise de uma pesquisa histórica. Aquilo que de forma alguma pode se tornar objeto de questionamento
histórico, não pode ser apresentado como fato realmente acontecido. De outra forma, seria preciso admitir que a
história só é competente para alguns fatos do passado apenas, e não para todos, o que historiador nenhum está
disposto a aceitar. Entretanto, se a afirmação “Jesus outrora ressuscitou”, inclui já, em si mesma, uma pretensão de
historicidade, quer isso seja desejável ou não, nem por isso mesmo se estabelece que essa pretensão possa resistir a
uma verificação, e então, a uma crítica histórica.
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Esse acontecimento - realizado por Deus em Jesus Cristo - seria histórico,
porque responde inicialmente aos anseios mais profundos do ser humano
(argumento antropológico), que comporta um tradição (argumento da tradição)
e pode ser expresso a partir de uma metalinguagem, possibilitando a
compreensão de sua realidade (argumento de linguagem). (SANTANA, 2003,
p.201 - tese doutoral)
Como este trabalho busca estabelecer a relação ressurreição e antropologia
interessa comentar brevemente o primeiro argumento, antropológico. Este argumento
significa que o homem não encontra sua auto-realização dentro da contingência em que
se desenvolve sua vida. Não é possível para ele um êxito intra-histórico uma vez que a
morte é uma questão que coloca sérios problemas para o sentido de sua vida. Ela, em
si, é uma derrota para a existência, e isto o homem não pode conceber. Por isso, a
ressurreição vem a satisfazer uma das questões mais fundamentais para a vida do
homem. Esse, é um ser aberto que supera os limites da finitude de sua existência
histórica e espera uma plenitude que vai mais além da morte.
O argumento antropológico significa, pois, que o ser mesmo do homem exige
que a morte não seja o estagio último e definitivo da vida humana. Mas, a única
garantia de que a morte foi derrotada, é a ressurreição de Jesus. A ressurreição
de Jesus, como fundamento e antecipação da ressurreição universal, é,
portanto, postulada pela antropologia. O que Pannenberg desejava demonstrar
e que a ressurreição não é um fato alheio as expectativas do homem, mas uma
exigência fundamental, que brota do mais profundo do seu ser. (FRAIJÓ, 1986,
p.195)
Se a ressurreição não é um fato alheio a vida do homem então é possível
estabelecer a relação entre ela e a antropologia. Este aspecto será desenvolvido no
próximo item a partir dessa constatação: a partir da ressurreição de Jesus surge um
novo modo de ser homem e de falar sobre ele.
2 A relação da ressurreição com a antropologia a partir do modelo paulino do
novo Adão escatológico
No conteúdo anterior observou-se que Pannenberg apresenta a ressurreição de
Jesus como fato dentro do contexto da história. Dessa forma, este evento se torna o
fundamento da sua teologia e também de toda a história. Também "a antropologia será
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lida à luz que vem do futuro que no terceiro dia se antecipou como realidade proléptica
para toda humanidade" (MARCOS; BRANCO, 2010, p.132).
E isto foi possível porque com Jesus "entrou algo de novo no mundo vital do
homem, algo que deu ao ser humano um conteúdo novo e inacessível de outra
maneira, e com isto também uma nova finalidade"(PANNENBERG, 1973, p.737). Este
mesmo autor se pergunta o que seria este algo novo que faz pensar o homem
historicamente em vista desse acontecimento? Através do pensamento de Paulo ele
afirma que este novo é a vida nova e imperecível que supera a morte manifestada na
ressurreição de Jesus, o novo Adão.
Pannenberg, ao elaborar a sua reflexão cristológica na ideia soteriológica do
novo Adão, tem presente o princípio da nova humanidade, humanidade da qual
Jesus se faz o autor pela perfeita unidade com o Pai e pelo sim à sua missão
de implantar o reino de Deus no mundo (...) Por sua morte e ressurreição, ele
se transforma em protótipo de uma nova humanidade. Todos os seres humanos
deverão se renovar à sua imagem, que é a imagem de Deus (2Cor 3, 18),
renovação que implica na participação em sua vida. (PINAS, 2012, p.514)
Por este motivo se pode afirmar que a fé cristã muda profundamente o modo
como se deve compreender o homem. Isto se deve ao fato de que "com o aparecimento
de Cristo, todo o ser-homem precedente foi substituído por uma forma radicalmente
nova de ser-homem" (PANNENBERG, 1973, p.734). Isso significa que a partir da
ressurreição se contrapôs ao primeiro homem, ser terrestre e mortal no qual sua história
se repetia em todos os outros homens e lhes dava o entendimento do seu existir 5, um
novo homem, celeste e imortal, portanto, a verdadeira imagem de Deus em que, pelo
batismo, todos deverão se tornar, por meio de Cristo, semelhantes a ele 6. E isto indica
que o homem é chamado a uma transformação pois em Cristo mudou o modo de serhomem. Por causa disso,
A concepção cristã do homem como história do primeiro para o segundo Adão
dissolve o conceito filosófico de uma natureza humana essencial, invariável no
5
Evaristo Marcos; Judikael Castelo Branco. Kairós - Revista Acadêmica da Prainha, ano VII/1, Jan/Jun, 2010, p134.
A reflexão antropológica encontra seus moldes tradicionais na imobilidade do pensamento mítico com seu olhar
sobre um acontecimento primordial e sua reprodução inalterada na experiência de todos os homens; ou no
pensamento filosófico e sua preocupação pelo imutável.
6
cf. Ibid, p.137
Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST1805
tempo, na historicidade, ou melhor, no movimento desta história concreta.
(PANNENBERG, 1973, p.735)
Superada esta concepção ideal do estado original do primeiro homem no paraíso
surge uma nova concepção cristã que vê o homem como história orientada para uma
determinação ainda incompleta. Isto quer dizer que a sua semelhança com Deus está
se formando no seu processo histórico, o que indica que ele é um ser aberto a esta
nova determinação ou destinação. Por isso, Pannenberg defende a ideia de que ele é
um ser sempre aberto ao seu futuro. E o seu futuro é a semelhança com Deus o que
pressupõe a sua comunhão com ele7. Sendo esta sua determinação inicial e final.
Para a fé cristã, Jesus, como homem novo, não é colocado sem mais nem
menos em oposição ao homem velho e comum. Ele é o homem novo, enquanto
realiza em si mesmo a determinação inicial do homem para comunhão com
Deus. (PANNENBERG, 1973, p.746)
Com isso, ele já não é determinado a partir do início do ser-homem no resgate
da perfeição paradisíaca em Adão, pois como Paulo pensa o primeiro homem não é
referência de perfeição, mas sim, a partir do seu fim. Em outras palavras, a finalidade
do ser humano não é se tornar como imagem do primeiro homem em seu estado
original, mas sim, se tornar como imagem do segundo homem Jesus, mediante sua
ressurreição.
Por isso Pannenberg entende que o homem é história orientada para esta
determinação: a nova vida que apareceu em Cristo. Esta, que se deu na ressurreição, é
o futuro sempre aberto para o homem já no presente. Este dado só é fato porque a
ressurreição, que é a determinação última do homem, foi antecipada em Jesus no curso
de sua vida. Assim o homem já vive de maneira proléptica o seu futuro que encontrará
na sua ressurreição a sua plenitude como ser-homem.
Mas Pannenberg pergunta: como o homem vive esta realidade de maneira
antecipada? Ele dá a resposta em seu artigo Fundamentação cristológica de uma
antropologia cristã (1973, p.739): "Aquilo, porém, que só futuramente se revelará nos
7
Pannenberg, W. Fundamentação cristológica de uma antropologia cristã. Revista Concilium, 1973, numero 10,
p.741. O homem é homem apenas pela sua relação para com Deus e pela sua determinação para a união com Deus.
Isto implica em dizer que o homem só é em contraposição ao um tu que se apresenta.
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cristãos como a nova vida da ressurreição já age presentemente neles pelo espírito da
fé, da esperança e do amor". Na verdade o futuro se torna presente no amor.
Somente esta fundamentação e este critério do amor formam o específico da
ideia de amor de Jesus. Que o amor a Deus e ao próximo são conteúdo central
da vontade de Deus, isto já fora ensinado também antes de Jesus pelos
rabinos, e mesmo fora da tradição judaica a ideia de co-humanidade não era de
modo algum estranho. Somente sua fundamentação e colocação escatológicas
a partir da mensagem de Jesus sobre a proximidade do Reino de Deus,
entendido de tal maneira que já se torna presente para quem nele se insere,
torna a ideia do amor ao próximo, no sentido de tomar parte e completar a
realização do amor de Deus para com o mundo, o sinal específico da
mensagem de Jesus. (PANNENBERG, 1973, p.739)
Dessa forma o amor no sentido de Jesus deve ser entendido como participação
no amor de Deus para com o mundo. Mas não só isto, o amor é a própria participação
na realidade de Deus. Dessa forma,
(...)nos encontramos muito mais perto do que parece à primeira vista da
característica paulina da salvação, a saber, da salvação entendida como a vida
imperecível manifestada na ressurreição de Jesus. Pois a eternidade desta
nova vida encontra-se mais uma vez na sua relação ininterrupta com a origem
divina de toda vida, com o Espírito de Deus. E também para Paulo o Espírito de
Deus é o amor de Deus. (PANNENBERG, 1973, p.739)
Assim chega-se ao entendimento deu que a salvação que foi manifestada em
Jesus é que o caracteriza como novo Adão, o novo homem definitivo. Além disso, a
salvação também consiste na comunhão do homem com Deus enquanto este participa
da sua vida divina. Isto implica a vivência, tanto da esperança dessa vida imperecível
que se deu na ressurreição dos mortos, quanto, na prática do amor cristão. Por isso
Paulo pode afirmar que Jesus é o segundo Adão não só pelo seu ressuscitamento dos
mortos, mas também, pela sua obediência à vontade amorosa de Deus. Pannenberg
(1973, p.740) afirma que "em ambos os casos trata-se da mesma realidade: do homem
novo, unido a Deus". Sem essas duas referências o homem não é homem.
Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST1805
Conclusão
Diante do que foi exposto acima pode-se afirmar que para Pannenberg o
verdadeiro ser humano é aquele que no processo histórico em que vive vai se
construindo a imagem do homem novo, Jesus Cristo ressuscitado. Em sua ressurreição
Jesus antecipa o futuro do homem. Dessa forma o futuro já esta aberto para ele que
deve viver a partir dessa abertura. Tendo como meta final a comunhão plena com Deus
que se dará quando da sua ressurreição. O homem, dessa forma, é alguém que vive
para além de si mesmo. Sua vida não é uma representação estática do primeiro
homem, invariável no tempo e na história. Mas é a vida já transformada em Cristo e
ainda por se realizar nele no seu processo de se fazer história.
Referências
ACCORDINI, Giuseppe. Teólogos do séc. XX: Wolfhart Pannenberg. Trad. Silva Debetto C.
Reis. São Paulo: edições Loyola, 2006.
DUQUOC, Cristian. Cristologia: ensaio dogmático. Vol. 2. São Paulo: edições Loyola, 1980.
FRAIJÓ, Manuel. El sentido de la historia: introdución al pensamiento de W. Pannenberg.
Madrid: ediciones Cristiandad, 1986.
MARCOS, Evaristo; BRANCO, Judikael Castelo. Wolfhart Pannenberg, para a "Fundamentacao
cristologica de uma antropologia cristã". Kairos - Revista academica da Prainha. Ano VII, v.1,
Jan-Jun, 2010.
Pannenberg, W. Fundamentação cristológica de uma antropologia cristã. Revista Concilium,
1973/6, numero 10, p.741.
_____________. Teologia sistemática. 3 vols. Santo André: Academia Cristã; São Paulo:
Paulus, 2009.
PINAS, Romildo Henriques. Jesus como sentido ultimo da historia humana. Elementos da
Cristologia de W. Pannenberg. Atualidade teologica. Rio de Janeiro-RJ, v.42, Set-Dez, 2012.
SANTANA, Marcos Antonio. Verdadeiro homem, verdadeiro Deus: fundamentos cristologicos da
antropologia crista na reflexao de Wolfhart Pannenberg. Rio de Janeiro -RJ: PUC-Rio, 2003
(tese doutoral).
ZEUCH, Manfred Krespsky. A teologia na universidade do seculo XXI segundo
Pannenberg. Cadernos de teologia publica.25-05-2004. Sao Paulo: UNISINOS, 2004.
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