ARTUR OLAVO FERREIRA TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS: uma contribuição para o gerenciamento e controle na área de Defesa Trabalho de Conclusão de Curso Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: CMG(RM1-IM) Sebastião Marcos Spolidoro. Rio de Janeiro 2016 C2016 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________ Assinatura do autor Biblioteca General Cordeiro de Farias Ferreira, Artur Olavo. Técnicas de Análise de Dados: uma contribuição para o gerenciamento e controle na área de Defesa. / CMG (IM) Artur Olavo Ferreira. - Rio de Janeiro: RJ, 2016. 51 f.: il. Orientador: CMG(RM1-IM) Sebastião Marcos Spolidoro. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2016. 1. Finanças Públicas. 2. Gestão. 3. Controle Interno. I.Título. À minha esposa Fátima, pelo constante incentivo e colaboração. Aos meus filhos Henrique Olavo e Maria Beatriz, motivação desânimo. nos por servirem momentos de de AGRADECIMENTOS À Marinha do Brasil, pela oportunidade a mim propiciada de pensar o Brasil em um nível estratégico. Ao Corpo Permanente da ESG pelo estímulo contínuo pela refelxão e busca de novos conhecimentos. Aos integrantes da Turma Espírito Olímpico, pelo convívio harmonioso. Ao meu Orientador, CMG (RM1-IM) Sebastião Marcos Spolidoro, pela maneira firme e segura de transmitir os conhecimentos durante a condução deste Trabalho. RESUMO Esta monografia aborda a utilização de técnicas de análise de dados para a melhoria de gerenciamento e controle na área de Defesa. O avanço da tecnologia da informação propicia o aumento na capacidade de armazenagem de dados, o que se transforma em desafio para todos os responsáveis pelo gerenciamento e controle de uma organização, quer pública ou privada. Com foco na esfera pública, objetiva analisar qual a contribuição que a utilização dessas técnicas pode trazer ao controle e gerenciamento de Órgãos da Administração Federal. A metodologia adotada comportou a pesquisa bibliográfica e documental, tendo sido realizada pesquisa de campo e entrevista junto à Pagadoria de Pessoal da Marinha, para a realização do estudo de caso. Apresenta os conceitos relacionados a banco de dados e técnicas de análise de dados, controle interno, e alguns trabalhos prévios da utilização das técnicas de análise de dados para melhoria do gerenciamento e controle interno. No estudo de caso, verifica a utilização dessas técnicas no processo de pagamento da Marinha do Brasil, elencando benefícios alcançados, bem como possibilidades de melhoria futuras. Em termos de análise prospectiva, aborda uma possível utilização no Banco de Informações Estratégicas e Gerenciais (BIEG) e nos projetos constantes no Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED) do Ministério da Defesa. Além disso, elenca alguns trabalhos que relacionam a mineração de dados com atividades militares em outros países. Palavras-chave: Finanças públicas. Gestão. Controle Interno. ABSTRACT This monograph discusses the use of data analysis techniques to improve management and control in the defense area. The advancement of information technology provides an increase in data storage capacity, which becomes a challenge to all those responsible for the management and control of an organization, whether public or private. Focusing on the public sphere, aims to analyze the contribution that the use of these techniques can bring to the control and management of the Federal Administration Organization. The methodology involved bibliographic and documentary research, being carried out field research and interviews with the Pay-office of Navy Personnel, to carry out the case study. It introduces the concepts related to database and data analysis techniques, internal control, and some previous studies on the use of data analysis techniques to improve the management and internal control. In the case study, check the use of these techniques in the payment process of the Navy of Brazil, listing the benefits achieved as well as future possibilities for improvement. In terms of prospective analysis, it discusses a possible use in the Bank of Strategic Information and Management (BIEG) and projects included in the Defense Deployment and Equipment Plan (PAED) of the Ministry of Defence. In addition, it lists some papers that relate to data mining to military activities in other countries. Keywords: Public Finance. Management. Internal Control. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 ESTRUTURA DO SISPAG...............................................................29 FIGURA 2 ORGANOGRAMA DA PAGADORIA DO PESSOAL DA MARINHA 32 QUADRO 1 PRINCIPAIS QUERIES REALIZADAS ............................................37 FIGURA 3 ESQUEMA DO BIEG .......................................................................41 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BIEG Banco de Informações Estratégicas e Gerenciais BI Business Intelligence CGS Cadastro Geral de Servidores CASNAV Centro de Análise e Sistemas Navais CFC Conselho Federal de Contabilidade CGU Controladoria-Geral da União DW Data Warehouse END Estratégia Nacional de Defesa INTOSAI Organização Internacional de Entidades de Fiscalização Superiores KDD Knowledge Discovery in Databases LRF Lei de Responsabilidade Fiscal LBDN Livro Branco de Defesa Nacional MB Marinha do Brasil MD Ministério da Defesa OC Organizações Centralizadoras PAPEM Pagadoria de Pessoal da Marinha PAED Plano de Articulação e Equipamento de Defesa PND Política Nacional de Defesa SEQUEL Structured English Query Language SIPM Serviço de Inativos e Pensionistas da Marinha SISPAG Sistema de Pagamento da Marinha SQL Structured Query Language TI Tecnologia da Informação TCU Tribunal de Contas da União SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 10 2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................... 13 2.1 ANÁLISE DE DADOS ...................................................................................13 2.1.1 Dado X Informação X Conhecimento ........................................................ 13 2.1.2 Banco de Dados.......................................................................................... 15 2.1.3 STRUCTURED QUERY LANGUAGE (SQL) ............................................... 17 2.1.4 Mineração de Dados (Data Mining) ........................................................... 17 2.1.5 Aplicações na área de Defesa ................................................................... 19 2.2 CONTROLE INTERNO................................................................................. 19 2.2.1 Aspectos conceituais de Controle Interno ............................................... 20 2.2.2 Controle Interno no Setor Governamental ............................................... 22 2.2.2.1 A estrutura do controle interno federal ......................................................... 24 2.3 RELAÇÃO ENTRE A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E O CONTROLE 25 3 ESTUDO DE CASO ..................................................................................... 28 3.1 ESTRUTURA DO PAGAMENTO NA MB ..................................................... 28 3.1.1 Estrutura Organizacional da PAPEM ........................................................ 31 3.2 ATIVIDADES DE CONTROLE NA PAPEM .................................................. 33 3.2.1 Situação atual das atividades de controle ............................................... 34 3.2.2 Controle exercido por meio de análise de dados .................................... 35 3.2.3 Benefícios alcançados/previstos .............................................................. 38 4 APLICAÇÕES NA ÁREA DE DEFESA E SEGURANÇA ............................ 40 4.1 BANCO DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS E GERENCIAIS (BIEG)... 40 4.2 PROJETOS ESTRATÉGICOS DE DEFESA ................................................ 42 4.3 OUTRAS APLICAÇÕES ............................................................................... 44 5 CONCLUSÃO............................................................................................... 46 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 49 10 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento da tecnologia da informação proporcionou a migração dos cadastros, anteriormente em meios físicos, para Banco de Dados, que permitem o armazenamento de um número significativamente maior de informações. Para Date (2003), o sistema de banco de dados pode ser entendido como um sistema computadorizado com a finalidade de armazenar dados, e permitir que os usuários possam consultá-los e alterá-los quando necessário. Esse aumento da quantidade de informações apresenta-se como um desafio para as atividades de controle interno, de forma que possa contribuir para a otimização na utilização dos recursos orçamentários de toda ordem, bem como detectar e prevenir erros e fraudes. A utilização de técnicas de análise de dados1 é uma forma de apoio ao controle e gerenciamento desses dados, podendo ser utilizada pelos Órgãos da Administração Federal para gerenciamento e controle. O art. 70 da Constituição Federal elenca os aspectos que devem ser enfocados pelo Congresso Nacional (responsável pelo controle externo) e pelo sistema de controle interno de cada poder. Entre esses aspectos destacam-se a legalidade, legitimidade e economicidade. O aumento da eficiência no gerenciamento e controle administrativo dos Órgãos da Administração Federal vai ao encontro do previsto na nossa Carta Magna, contribuindo para a racionalização do gasto público, de forma a evitar desperdício dos recursos advindos da sociedade. A interação e o cruzamento das informações existentes nos diversos bancos de dados que permeiam a administração pública, obtidos por meio de análise de dados, podem vir a prestar um valioso auxílio ao gestor público, desde que contribuam para o aumento da eficiência no gerenciamento e controle administrativo. Esta monografia adotou introduzir a seguinte questão: em que medida a utilização de técnicas de análise de banco de dados pode contribuir para um melhor controle e gerenciamento administrativo na área de Defesa? 1 Pode-se entender que são técnicas que permitem realizar consultas e extração de dados, com base nas informações (atributos) consideradas relevantes para o decisor. 11 O objetivo final a ser alcançado é analisar qual a contribuição de técnicas de análise de banco de dados para melhoria do gerenciamento e controle na área de Defesa. Este trabalho limitar-se-á a analisar a contribuição destas técnicas para melhoria do controle e gerenciamento, não sendo aprofundados os aspectos teóricos sobre a tecnologia existente para modelagem e análise de banco de dados. Outra limitação é que as atividades de controle interno analisadas têm como foco principal a administração pública. A metodologia empregada foi a pesquisa bibliográfica, no tocante a aspectos técnicos da análise estruturada de banco de dados e às atividades de controle interno, incluindo aqui o foco na administração pública federal. Especificamente para o estudo de caso, realizou-se uma análise documental e pesquisa de campo para obtenção de dados ostensivos junto à Pagadoria de Pessoal da Marinha, além de entrevista ao pessoal envolvido com a atividade de controle interno dessa Organização Militar. Como exemplos de cruzamento de dados pode-se citar o de informações pessoais, financeiras e orçamentárias que compõem as Folhas de Pagamento das Forças Armadas, que, a princípio, permitiria um incremento qualitativo destas. Conforme realçou o ex-ministro da Controladoria-Geral da União2, os volumes de recursos envolvidos no gasto de pessoal justificam incremento do controle, como processo de aprimoramento de gestão, inclusive com o cruzamento de informações contidas nos bancos de dados do Sistema Integrado de Administração de Pessoal (SIAPE), dos aposentados e pensionistas da folha de pagamento do Instituto Nacional de Seguriade Social(INSS), da Receita Federal, entre outros. Outro exemplo prático é a utilização da análise de dados no combate à corrupção. Uma think-tank3 mexicana encontrou mais de 1.400 professores, aparentemente, nascidos no mesmo dia, em 1912, o que levou um expurgo dos "fantasmas" de folhas de pagamento4. Mais recentemente, dentro do esforço de melhor a gestão dos recursos públicos federais, de forma a permitir a alocação de recursos em atividades que 2 Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/noticias/2016/02/controladoria-geral-da-uniao-apresentanova-carga-do-sistema-de-trilhas-de-auditoria.> Acesso em: 07 mai.2016. 3 Pode-se entender como grupos de estudo sobre determinado tema. 4 Disponível em: <http://www.economist.com/news/international/21678833-open-data-revolution-hasnot-lived-up-expectations-it-only-getting.> Acesso em: 25 jun.2016. 12 contribuam para o desenvolvimento do país, o Ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, informou sobre um processo mais amplo de perícia no pagamento do auxílio-doença, tendo sido iniciado um cruzamento na base de dados dos beneficiários dos programas sociais do governo, para verificar se há pessoas com mais de um benefício5. Para o desenvolvimento do objeto de estudo, este trabalho está organizado em cinco seções. A primeira, esta Introdução, contextualiza o estudo a ser desenvolvido, incluídos o problema, o objetivo final a ser alcançado, a delimitação e a metodologia aplicada. Na Seção 2, é apresentado um referencial teórico e conceitos gerais sobre técnicas de análise de dados e de controle interno. Busca-se, também, à luz da literatura existente, demonstrar o inequívoco relacionamento existente entre os tópicos discorridos. Na seção subsequente, é realizada a descrição do estudo de caso, o processo de pagamento da Marinha do Brasil, como uma aplicação concreta das técnicas de análise de dados para a melhoria do gerenciamento e controle no setor público. Na Seção 4, procura-se abordar alguns temas específicos de Segurança e Defesa e a possibilidade da aplicação das técnicas de análise de dados ao Banco de Dados de Informações Estratégicas, do Ministério da Defesa (BIEG), bem como explora-se, em tese, uma possível aplicabilidade para gerenciamento e controle dos projetos estratégicos de defesa, à luz da modernização da gestão prevista no Livro Branco de Defesa Nacional. Também foi possível identificar alguns textos que relacionam a mineração de dados com outras atividades militares. Na última seção, são apresentadas as conclusões finais do trabalho e uma sugestão de estudos futuros. 5 Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/06/governo-iniciara-pericia-mais-amplano-auxilio-doenca-diz-ministro.html.> Acesso em: 02 jul. 2016. 13 2 REFERENCIAL TEÓRICO Nesta seção será realizada uma breve revisão das principais referências e conceitos gerais sobre técnicas de análise de dados e controle, com ênfase nos aspectos de controle interno e sua influência na gestão. 2.1 ANÁLISE DE DADOS Conforme nos ensina Witten, Frank e Hall (2011, p.3, tradução nossa), “Estamos sobrecarregados com dados. A quantidade de dados no mundo e em nossas vidas parece sempre aumentar - e não existe fim à vista.”6 Pode-se dizer que analisar dados significa transformá-los com o objetivo de apoio à tomada de decisões, por meio de informações revestidas de utilidade, com geração de conhecimento. Dessa forma, o primeiro passo nessa discussão passa pela caracterização de dados, informação e conhecimento. O passo seguinte será uma breve discussão sobre banco de dados e algumas possibilidades de análise dos dados. 2.1.1 Dado X Informação X Conhecimento Para Davenport (1998, p. 18) dados são “simples observações sobre o estado do mundo”. Ainda segundo o autor, aludindo Peter Drucker, quando estes dados são dotados de propósito e relevância, transformam-se em informações. Como último estágio desse processo, chega-se ao conhecimento que, ainda, conforme o mesmo autor, Conhecimento é a informação mais valiosa e, consequentemente, mais difícil de gerenciar. É valiosa precisamente porque alguém deu à informação 6 We are overwhelmed with data. The amount of data in the world and in our lives seems everincreasing – and there´s no end in sight. 14 um contexto, um significado, uma interpretação; alguém refletiu sobre o conhecimento, acrescentou a ele sua própria sabedoria, considerou suas implicações mais amplas. (DAVENPORT,1998, p.19). Setzer e Silva (2005, p.2) consideram que dado é “como uma representação simbólica [...], quantificada ou quantificável”. Acrescentam que não é possível definir informação apenas caracterizá-la, tendo em vista envolver compreensão e significado. Ressaltam, entretanto, “que é impossível armazenar informações em um computador7, pois elas dependem de uma pessoa que as recebe e as consegue interpretar, associando-as a conceitos.” (SETZER e SILVA, 2005, p.5). Para os autores, “[...] tem-se conhecimento quando podem ser efetuadas associações de conceitos, baseadas em uma vivência pessoal dos objetos envolvidos.” Nota-se nessa caracterização a importância da experiência profissional para gerar conhecimento a partir de dados/informações. Ainda sobre a distinção entre estes conceitos, cabe citar Santos (apud BEVILACQUA E BITU, 2003), ao destacar a irrelevância dos dados, importantes apenas como matéria prima essencial para gerar informação. Esta é um produto capaz de gerar conhecimento, que é assim caracterizado: O Conhecimento deriva da informação assim como esta, dos dados. O conhecimento não é puro nem simples; mas é uma mistura de elementos, é fluido e formalmente estruturado; é intuitivo e, portanto, difícil de ser colocado em palavras ou de ser plenamente entendido em termos lógicos. Ele existe dentro das pessoas e por isso é complexo e imprevisível. (SANTOS, apud BEVILACQUA E BITU, 2003, p.16). Heckert8, ao citar a definição de Attaran para Tecnologia da Informação como “[...] as capacidades oferecidas a organizações por computadores, sistemas, aplicações e telecomunicações para entregar dados, informação e conhecimento a indivíduos e processos”, caracterizou a informação como dado processado e o conhecimento como a informação contextualizada. Para Costa9, dados são os componentes básicos que, inseridos em uma situação que está sendo analisada, geram a informação. A partir da informação, vem 7 Este posicionamento é corroborado por Alves (2009, p.23), “Devemos lembrar que um computador armazena e processa dados, não informações.” 8 Informação verbal prestada pelo Sr. Cristiano Rocha Heckert, Secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão na palestra: A Tecnologia da Informação como Fator de Desenvolvimento do Brasil, ao Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia – CAPE, da Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, em 10 de maio de 2016. 9 Notas de aula do CMG (RM1-IM) George Hamilton Costa, no Curso de Extensão - Introdução ao Data Warehouse e ao SQL Analítico, na UniLasalle – Rio de Janeiro. 15 o conhecimento, que permite tomar decisões adequadas, trazendo vantagem competitiva. Date (2003) entende que informação é qualquer coisa que tenha significado a um indivíduo ou organização, ou seja, que possa auxiliar nos processos desse indivíduo ou organização. Pode-se resumir que os dados coletados e armazenados são transformados por pessoas em informações, que, baseadas na sua vivência e experiência profissional, geram conhecimento útil para as organizações. Este é o grande desafio na utilização de técnicas de análise de dados como apoio ao gerenciamento e controle. 2.1.2 Banco de Dados Depois de expostas algumas definições de dados, informação e conhecimento, cabe tecer alguns comentários sobre o repositório que acumula esses dados, sobre os quais serão aplicadas as técnicas de análise visando gerar conhecimento. Tais repositórios são denominados, genericamente, Banco de Dados. É interessante notar a observação de Setzer e Silva (2005, p.1) sobre a origem desse termo: A expressão vem do inglês, onde se usou, por pouco tempo a original Databanks, que foi logo substituída por Databases, isto é, Bases de Dados. Este nome é bem mais sugestivo, pois um banco de dados não funciona como banco, emprestando dados. Funciona muito mais como um repositório de dados, que são usados em diversas aplicações, isto é, uma base sobre a qual atuam essas aplicações, e que está disponível para o desenvolvimento de outras que usam os mesmos dados. Para Alves (2009, p.23), Falando de forma bem genérica, banco de dados é um conjunto de dados com um significado implícito. [...] Para termos um banco de dados, são necessários três ingredientes: uma fonte de informação, da qual derivamos os dados, uma interação com o mundo real e um público que demonstra interesse nos dados contidos no banco. Tal conceituação encontra amparo também em Elmasri e Navathe (2005, p.4): 16 Um banco de dados é uma coleção de dados relacionados. Os dados são fatos que podem ser gravados e que possuem um significado implícito. [...] Possui as seguintes propriedades implícitas: • Um banco de dados representa alguns aspectos do mundo real, sendo chamado, às vezes, de minimundo ou de universo de discurso (UoD). As mudanças no minimundo são refletidas em um banco de dados. • Um banco de dados é uma coleção lógica e coerente de dados com algum significado inerente. Uma organização de dados ao acaso (randômica) não pode ser corretamente interpretada como um banco de dados. • Um banco de dados é projetado, construído e povoado por dados, atendendo a uma proposta específica. Possui um grupo de usuários definido e algumas aplicações preconcebidas, de acordo com o interesse desse grupo de usuários. Em outras palavras, um banco de dados possui algumas fontes das quais os dados são derivados, alguns níveis de interação com os eventos do mundo real e um público efetivamente interessado em seus conteúdos. Os Bancos de Dados podem ser classificados por diversos critérios. O principal critério é o de modelo de dados, destacando-se, segundo esse critério: rede, hierárquico, relacional, orientado a objetos, entre outros. Em sua evolução histórica, segundo Elmasri e Navathe (2005), pioneiramente eram utilizados os bancos de dados em rede e hierárquico. O passo seguinte foi a criação dos bancos de dados relacionais, que “[...] também introduziu as linguagens de consulta de alto nível, que são uma alternativa às interfaces para as linguagens de programação; consequentemente, ficou mais rápido escrever novas consultas.” (ELMASRI e NAVATHE, 2005, p.16)Essa evolução coincidiu com o surgimento da Structured Query Language (SQL), que será abordada na próxima subseção. Acrescentam que o aparecimento das linguagens de programação orientadas implicou a necessidade de armazenar e partilhar os objetos complexos estruturados, conduzindo ao desenvolvimento dos bancos de dados orientados a objeto. Silberschatz; Korth e Sudarshan (2006) classificam os modelos de dados, que baseiam o projeto de banco de dados, como relacional, entidade/relacionamento, baseado em objeto, semiestruturado. Cita também o modelo de dados objeto-relacional como um misto entre o relacional e o baseado em objeto. Os autores corroboram a evolução histórica ao afirmarem que: “Historicamente, o modelo de dados de rede e o modelo de dados hierárquico precederam o modelo de dados relacional. [...] complicavam a tarefa de modelar dados.” (SILBERSCHATZ; KORTH E SUDARSHAN, 2006, p.6, grifo do autor). 17 2.1.3 STRUCTURED QUERY LANGUAGE (SQL) Conforme citado na subseção anterior, a SQL surgiu junto com a evolução dos bancos de dados construídos com base no modelo de dados relacional. Alves (2009) atribui a criação da SQL ao artigo de Edgard F. Codd, um pesquisador da IBM, intitulado “A Relational Modelo of Data for Large Shared Databanks”, que foi publicado em junho de 1970. Após essa publicação, a empresa intensificou o projeto de um banco de dados relacional, que incluía uma linguagem de consulta denominada SEQUEL (Structured English Query Language), posteriormente chamada SQL. A partir de então, diversos produtos foram lançados com base no padrão SQL. Ainda segundo o autor, “A linguagem SQL é um meio de poder se comunicar com o banco de dados relacional para executar alguma operação com ele, como incluir registros ou extrair informações.” (ALVES, 2009, p. 160). Oppel e Sheldon apontam a mesma origem para a linguagem SQL, acrescentando: Conforme se espalhavam as notícias de que a IBM estava desenvolvendo um sistema de base de dados relacionais baseado em SQL, outras empresas começaram a desenvolver seus próprios produtos baseados em SQL. De fato, a Relational Software Inc., hoje a Corporação Oracle, lançou seu sistema de base de dados antes que a IBM tivesse liberado seu produto para o mercado. Conforme mais desenvolvedores começaram a lançar seus produtos, o SQL começou a emergir como uma linguagem padrão para bases relacionais. (OPPEL E SHELDON, 2009, p.17). Os autores também comentam que a linguagem foi baseada no modelo relacional até 1999, quando o padrão SQL:199910, o padrão passou a contemplar também o modelo orientado a objeto, dando azo ao modelo objeto-relacional. 2.1.4 Mineração de Dados (Data Mining) 10 Padrão publicado em 1986, e atualizado em anos posteriores, pelo Instituto Norte Americano de Padrões Nacionais (ANSI, American National Standards Institute), que foi adotado pela Organização Internacional para Padronização (ISSO, International Standardization Organization). (Oppel e Sheldon, 2009, p.17). 18 Segundo Silberschatz; Korth e Sudarshan (2006, p.15), “O termo mineração de dados se refere, aproximadamente, ao processo de analisar de forma semiautomática grandes bancos de dados para encontrar padrões úteis.” Acrescentam que “[...] a mineração de dados lida com ‘descoberta de conhecimento em bancos de dados’.” Witten, Frank e Hall (2011) apontam que a mineração de dados é a resolução de problemas por meio de análise de dados existentes nos bancos de dados, podendo ser definido como o processo de descoberta de padrões em dados armazenados. A partir da descoberta destes padrões é possível influenciar decisões futuras, indo muito além das consultas de SQL, que se resumem a simples análise de eventos passados. De Amo (2004) aponta o início dos anos 80 para a origem da mineração de dados, decorrente da preocupação dos profissionais com os grandes volumes de dados informáticos estocados nas organizações. Considera que a mineração de dados é uma etapa essencial do processo de Knowledge Discovery in Databases (KDD), e não um sinônimo deste, que consiste na aplicação de técnicas inteligentes pata extração de padrões de interesse. Bevilacqua e Bitu (2003, p.30) apontam o surgimento do Data Warehouse (DW) como o grande impulsionador da mineração de dados: 11 Qualquer sistema de Data Warehouse (DW) só funciona e pode ser utilizado plenamente com boas ferramentas de exploração. Com o surgimento do DW, a tecnologia de Data Mining (mineração de dados) também ganhou a atenção do mercado. Como o DW possui bases de dados bem organizadas e consolidadas, as ferramentas de Data Mining ganharam grande importância e utilidade. Essa técnica, orientada à mineração de dados, oferece uma poderosa alternativa para as empresas descobrirem novas oportunidades de negócio e, acima de tudo, traçarem novas estratégias para o futuro. Os autores também destacam a importância do DW para Business Intelligence (BI) ou Inteligência Empresarial, que permite organizar dados dispersos, disponibilizar informações e gerar conhecimento para o desenvolvimento de estratégias e ações. 11 “O Data Warehouse (DW) é o armazenamento de dados da organização em um formato mais simples, onde podemos obter análises estatísticas e informações que estavam "escondidas" dentro do banco de dados do sistema operacional.” (Bevilacqua e Bitu, 2003, p.25, grifo do autor). 19 2.1.5 Aplicações na área de Defesa Conforme Bevilacqua e Bitu (2003, p. 30), O propósito da análise de dados é descobrir previamente características dos dados, sejam relacionamentos, dependências ou tendências desconhecidas. Tais descobertas tornam-se parte da estrutura informacional em que decisões são formadas. Uma típica ferramenta de análise de dados ajuda os usuários finais na definição do problema, na seleção de dados e a iniciar uma apropriada análise para geração da informação, que ajudará a resolver problemas descobertos por eles. Em outras palavras, o usuário final reage a um estímulo externo, a descoberta do problema por ele mesmo. Se o usuário falhar na detecção do problema, nenhuma ação é tomada. Assim, a aplicação das técnicas de análise de dados associada à execução de recursos orçamentários permitirá um controle e gerenciamento mais efetivo, o que encontra amparo na Orientação 7.18, da Política Nacional de Defesa (PND) que preconiza: “É prioritário assegurar continuidade e previsibilidade na alocação de recursos para permitir o preparo e o equipamento adequado das Forças Armadas.” (BRASIL. MINISTÉRIO DA DEFESA, 2012a). Por outro lado, técnicas mais complexas (data mining, por exemplo) aplicadas ao Banco de Informações Estratégicas e Gerenciais (BIEG) ou ao banco de dados do Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED) permitiriam a análise e previsão de tendências, em consonância como o objetivo X da PND, que consiste em “estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades, dotando-as de pessoal e material compatíveis com os planejamentos estratégicos e operacionais”. (BRASIL. MINISTÉRIO DA DEFESA, 2012a). Assim, dependendo do nível de rebuscamento da técnica utilizada e da forma de coleta e armazenamento de dados, a análise de dados pode ser uma importante ferramenta para um melhor gerenciamento dos projetos estratégicos das Forças Singulares, contribuindo desenvolvimento nacional. 2.2 CONTROLE INTERNO para o fortalecimento da Defesa e o 20 Como afirmam Thomé e Tinoco (2005, p.5), “Em muitas instituições públicas, o controle interno é visto de maneira errada, entendida como uma função de caráter punitivo. Ao contrário, o sistema de controle interno quando estruturado irá desempenhar um papel auxiliador, educativo e pró-ativo.” Nesta subseção serão tratados os aspectos referentes às atividades de controle interno, buscando destacar a importância da atividade de controle para a busca de um melhor gerenciamento de processo, programas, projetos ou unidades organizacionais. 2.2.1 Aspectos conceituais de Controle Interno Muitos são os conceitos existentes na literatura para definição de controle interno. Dentre os mais aceitos encontra-se o emitido pelo COSO12 (2013, p.3, tradução nossa), em que define: Controle interno é um processo conduzido pela estrutura de governança, administração e outros profissionais da entidade, e desenvolvido para proporcionar segurança razoável com respeito à realização dos objetivos 13 relacionados a operações, divulgação e conformidade. As Diretrizes da Organização Internacional de Entidades de Fiscalização Superiores - INTOSAI - para Padrões de Controles Internos para o Setor Público 9100 (2004, p.6) definem como controle interno um processo integral dinâmico, em constante adaptação às mudanças que uma organização enfrenta. O pessoal de todos os níveis tem de ser envolvido neste processo para lidar com os riscos e para fornecer segurança razoável para a realização da missão da entidade e objetivos gerais. Para Baltaci e Ylmaz (2006), o controle interno consiste no estabelecimento de um sistema em que todas as ações sejam monitoradas de forma proativa as irregularidades sejam corrigidas e as deficiências sejam relatadas ao topo da gestão. Corroborando a visão gerencial do controle, os autores também afirmam que o 12 13 Committee of Sponsoring Organizations. Internal Control is a process, effected by na entity´s board of directors, management, and other personnel, designed to provide reasonable assurance regarding the achievment of objectives relating to operations, reporting and compliance. 21 moderno controle interno sugere uma variedade de ferramentas para assegurar que as políticas e procedimentos estão em conformidade, bem como para garantir a prestação de serviços eficaz e eficiente, mais do que um conjunto de procedimentos de controles contábeis e financeiros cumpridos ex ante. De acordo com Almeida14 (1996, apud IMONIANA E NOHARA, 2005), a Instrução SEST nº 02, de 05 de outubro de 1986, do Instituto dos Auditores Internos do Brasil, enfatiza que controle interno corresponde a qualquer ação tomada pela administração (inclui a alta administração e os níveis gerenciais apropriados) para aumentar a probabilidade de que os objetivos e metas estabelecidos sejam atingidos. Percebe-se em todas essas definições a importância com a eficiência e eficácia da entidade, ou seja, o gerenciamento, no atingimento dos objetivos propostos. Farias, De Luca e Machado (2009, p.56) destacam a relevância do assunto controle interno afirmando que “[...] algumas organizações estão criando seus próprios modelos de gerenciamento de controles internos, ou frameworks, como costumam denominá-los.” Sobre o momento de exercício do controle, Cruz Silva15 (1999, apud DAVIS E BLASCHEK, 2006) classifica o controle interno em a priori (ex ante), concomitante ou a posteriori (ex post). No controle a priori, as ações de controle e avaliação acontecem antes da ocorrência do evento ou fato que se pretende controlar, com o intuito de prevenir ou impedir o sucesso de atos indesejáveis como erros, desperdícios ou irregularidades. No concomitante, a verificação do ato é conjunto à ação do administrador, com a finalidade de detectar erros, desperdícios ou irregularidades, no momento em que eles ocorrem, permitindo a adoção de medidas tempestivas de correção. O controle a posteriori aprecia o ato após a sua consumação, não permite qualquer ação corretiva relativamente ao desempenho completado. A reparação do dano e a restauração do status quo anterior torna-se difícil. Um aspecto relevante do controle refere-se a sua forma de implementação. Conforme Imoniana e Nohara (2005, p.40), 14 ALMEIDA, M.C. Auditoria: um curso moderno e completo. São Paulo: Atlas, 1996. CRUZ SILVA, Francisco Carlos Da. Controle e Reforma Administrativa no Brasil. Salvador, 1999. 90 p. [Dissertação – Mestrado em Administração – Núcleo de Pós – Graduação em Administração. Universidade Federal da Bahia.]. 15 22 As atividades de controle devem ser implementadas de maneira ponderada, consciente e consistente. Nada adianta implementar um procedimento de controle, se este for executado de maneira mecânica, sem foco nas condições e problemas que motivaram sua implantação. Também é essencial que as situações adversas identificadas pelas atividades de controle sejam investigadas, adotando-se oportunamente as ações corretivas. 2.2.2 Controle Interno no Setor Governamental Thomé e Tinoco (2005, p.4) apresentam um caráter abrangente para o controle interno da administração pública: O gestor sabe aproveitar-se do controle, pois através dele obtém informações sobre o plano organizacional, quanto à sua dinâmica e eficácia; sobre a execução dos projetos e atividades, se está de conformidade, ou não, com o planejamento; sobre o comportamento dos agentes e promotores da execução de projetos e de atividades, e do seu grau de adesão às políticas da Administração; sobre o comportamento da ação executiva e do nível de consecução das metas estabelecidas; e sobre os resultados obtidos, em confronto com as metas planejadas. Observe-se, que, a melhoria dos controles internos vem aumentar a confiabilidade das informações contábeis, que é um dos pressupostos da governança pública, que é o de proteger o patrimônio público, com políticas de controles e de transparência da informação. Ainda ressaltam a dupla finalidade do controle interno, “[...] qual seja, auxiliar o administrador na tomada de decisões e apoiar o controle externo, em sentido amplo, no controle da máquina administrativa governamental.” (THOMÉ E TINOCO, 2005, p.7). Ao analisar as características dos sistemas de controle interno da administração pública brasileira, Davis e Blaschek (2006, p.1087), valendo-se de diversos autores, destacam a importância do momento em que o controle é exercido ao discorrerem: Os controles internos têm focado predominantemente os aspectos legais e formais (SILVA, 2004), deixando de lado a análise de aspectos como eficiência e eficácia nos dispêndios públicos (PISCITELLI apud RIBEIRO, 1997). Há a predominância de ações de controle a posteriori (ex-post), com objetivos eminentemente repressivos e punitivos, sem uma cultura de acompanhamento (ex-ante) (PESSOA, 1998). Controles a posteriori, 23 baseados na punição, são ineficazes. (ABRAMO, 2004). Ao subordinar a função de controle ao trabalho de correição, a contribuição do órgão de controle interno para o aprimoramento da administração pública pode estar sendo debilitada em decorrência da subordinação da atividade consultiva, essencial para o aprimoramento das práticas gerenciais, às atividades puramente coercitivas – não tão abrangentes e menos tempestivas em razão da busca da segurança jurídica (ROCHA, 2002). [...] O controle, para ser eficaz, deve ser exercido antes do momento de ação. Isto significa que os objetivos, planos, políticas e padrões preestabelecidos devem ser comunicados e integralmente compreendidos com antecedência para que o administrador responsável por certas ações possa exercer o controle prévio (ex-ante). Dispondo de tais informações, o executivo ou supervisor poderá exercer controle no momento de ação (ponto de decisão) (WELSCH, 1983). Para Silva (2003, p. 211), o controle interno federal “[...] tem, entre outras, a finalidade de proteger e salvaguardar os bens e outros ativos contra, fraudes, perdas ou erros não intencionais, [...]”. Sobre a aplicabilidade dos conceitos de controle interno voltados à iniciativa privada na administração pública, Mota e Dantas (2015, p. 201) destacam: O modelo do COSO tornou-se referência mundial para as organizações de uma forma geral, como metodologia de avaliação e aperfeiçoamento dos seus sistemas de controle interno, e posteriormente de gerenciamento de riscos, sendo também incorporado pelas entidades ligadas ao setor público. Em um processo de adoção do modelo gerencial (enfoque no desempenho da atuação e nos resultados das ações), evidencia-se a importância de que os órgãos fortaleçam seus controles internos e passem a fazer uma avaliação de seus riscos para viabilizar a mitigação de eventos capazes de prejudicar o alcance dos objetivos da entidade. (grifo nosso). Imoniana e Nohara (2005, p.38) citam que a Instrução Normativa nº 16, de 20 de dezembro de 1991, do Departamento do Tesouro Nacional, trouxe o conceito de controle interno como sendo “[...] o conjunto de atividades, planos, métodos e procedimentos interligados utilizado com vistas a assegurar que os objetivos dos órgãos e entidades da administração pública sejam alcançados, [...], evidenciando eventuais desvios ao longo da gestão.” A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que estabelece as normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, artigo 1º destaca que a prevenção de riscos e correção de desvios que afetem o equilíbrio das contas públicas é um dos componentes da responsabilidade fiscal. Para Leal e Silva (2013, p.45), [...] a LRF atribui à contabilidade pública novas funções no controle orçamentário e financeiro, garantindo-lhe um caráter mais gerencial. Com o advento da LRF, as informações contábeis passam a interessar não apenas à administração pública e aos seus gestores, mas também à sociedade, que 24 se torna participante do processo de acompanhamento e fiscalização das contas públicas. Já o Conselho Federal de Contabilidade (CFC,2008), conforme item 6 da NBC T 16.1, aponta que a função social da Contabilidade Aplicada ao Setor Público “[...] deve refletir, sistematicamente, o ciclo da administração pública para evidenciar informações necessárias à tomada de decisões, à prestação de contas e à instrumentalização do controle social”. (grifo nosso) 2.2.2.1 A estrutura do controle interno federal A Reforma Administrativa de 196716 previu a estrutura do controle interno composta pelas Inspetorias Gerais de Finanças, existentes em cada ministério, que integravam os sistemas de administração financeira, contabilidade e auditoria. Ao longo dos anos diversas alterações foram implantadas. O artigo 21 da Lei 10.180, de 06-02-200117, define: O Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal compreende as atividades de avaliação do cumprimento das metas previstas no plano plurianual, da execução dos programas de governo e dos orçamentos da União e de avaliação da gestão dos administradores públicos federais, utilizando como instrumentos a auditoria e a fiscalização. O Decreto nº 3.591/00, alterado pelo Decreto nº 4.113/02, que dispõe sobre o Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal, preconiza: o Art. 8 Integram o Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal: I - a Controladoria-Geral da União, como Órgão Central, incumbido da orientação normativa e da supervisão técnica dos órgãos que compõem o Sistema; II - as Secretarias de Controle Interno (CISET) da Casa Civil, da AdvocaciaGeral da União, do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Defesa, como órgãos setoriais; III - as unidades de controle interno dos comandos militares, como unidades setoriais da Secretaria de Controle Interno do Ministério da Defesa; o § 1 A Secretaria Federal de Controle Interno desempenhará as funções operacionais de competência do Órgão Central do Sistema, na forma definida no regimento interno, além das atividades de controle interno de todos os órgãos e entidades do Poder Executivo Federal, excetuados aqueles jurisdicionados aos órgãos setoriais constantes do inciso II. 16 Decreto-Lei n.o 200, de 25 de fevereiro de 1967, que dispõe sôbre a organização da Administração Federal e estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa. 17 Esta lei originou-se de uma Medida Provisória editada em 1994 e reeditada durante muitos anos, com frequentes modificações. 25 o § 2 As unidades regionais de controle interno exercerão as competências da Controladoria-Geral da União que lhes forem delegadas ou estabelecidas no regimento interno, nas respectivas unidades da federação, o além daquelas previstas no § 1 do art. 11 deste Decreto. o § 3 A Secretaria de Controle Interno da Casa Civil tem como área de atuação todos os órgãos integrantes da Presidência da República e da VicePresidência da República, além de outros determinados em legislação específica. o § 4 A Secretaria de Controle Interno da Casa Civil é responsável pelas atividades de controle interno da Advocacia-Geral da União, até a criação do seu órgão próprio. Cabe destacar a afirmativa de Silva (2003, p.209) sobre a mudança de paradigma ocorrida com a criação da Secretaria Federal de Controle Interno18: Sua criação representou uma mudança significativa no controle público, pois passou a priorizar as ações preventivas, com o afastamento gradativo do controle da legalidade e da formalidade. Com sua criação, foi introduzida na área federal a visão do controle voltado para a economicidade, eficiência e eficácia na gestão pública. Silva (2003) ainda introduz o conceito de Controladoria, semelhante ao existente em empresa privadas, que, sob o aspecto gerencial, teria a liberdade de elaborar sistemas de informações gerenciais que contribuiriam para avaliação do desempenho da gestão administrativa, à luz das políticas e metas definidas pelo Governo. Esse amplo conceito de Controladoria aponta para a importância das atividades de controle interno nos aspectos de gerenciamento e controle dos processos e das entidades governamentais. 2.3 RELAÇÃO ENTRE A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E O CONTROLE Nas duas subseções anteriores foram tratados aspectos de Tecnologia da Informação (basicamente, análise de dados) e de controle interno. Nesta subseção serão apresentados referenciais teóricos que abordam a utilização da Tecnologia da Informação como incrementador do controle interno. Reginato e Nascimento (2007, p.70) destacam a relevância da informação para o processo decisório, devendo revestir-se de acurácia e tempestividade. 18 Em 2002 essa Secretaria passou a integrar a estrutura da Controladoria-Geral da União (CGU). 26 Decorrente disso, passa a existir áreas nas empresas focadas na qualidade da informação: [...] como a de tecnologia da informação (TI), voltada à sua manutenção, integração e geração, e a de controladoria, incumbida de seu tratamento, formatação e divulgação. A área de controladoria trabalha em conjunto com a de tecnologia da informação no planejamento e modelagem dos bancos de dados e dos sistemas de informações da organização, participando do processo de seleção de ferramentas tecnológicas, de acordo com a função estratégica de cada uma. (grifo nosso). Esse trabalho em conjunto também é destacado por Branco (2014, p.12) ao citar que “A tecnologia da informação (TI) é capaz de impulsionar e alavancar as mais diversas áreas do conhecimento humano, inclusive a do controle externo.” Em seu artigo, o autor apresenta as diversas iniciativas na área de TI do Tribunal de Contas da União (TCU) para obtenção e tratamento dos dados, visando produzir informação e conhecimento para que a Corte de Contas aumente a qualidade no desempenho de suas atividades, “[...] e, com isso, angariar melhores resultados para a sociedade”. Em alinhamento com o estudo de caso que será apresentado na próxima seção, cabe realçar uma das iniciativas citadas pelo autor: Na mesma linha do Roteiro de Extração de Dados do Siafi, desenvolveu-se outro roteiro, voltado à extração de dados do Siape, com vistas a subsidiar a atuação dos auditores designados para realizar fiscalizações de pessoal nos órgãos e entidades que utilizavam o sistema (Portaria nº 05 - Segecex, de 29/01/1998). (BRANCO, 2014, p. 17) O autor ainda destaca a expectativa existente no TCU quanto ao fortalecimento futuro da TI e do controle, conforme podemos observar nos trechos abaixo: [...] vislumbra-se na Casa o fortalecimento da obtenção e do tratamento de dados. Essa expectativa se conjuga a uma nova era, que naturalmente fomentará e induzirá o controle mediante o uso da tecnologia da informação, pois, nos dias atuais, alguns requisitos outrora inexistentes se tornaram parte das rotinas de trabalho. (BRANCO, 2014, p. 21) [...] Essa otimização indubitável do controle, mediante instrumentos de tecnologia da informação, tem potencial para aportar os mais variados benefícios às unidades do TCU, como alavancar resultados e melhorar a capacidade de avaliação de programas e ações governamentais e detectar irregularidades e fraudes. (grifo nosso) (BRANCO, 2014, p. 21) [...] A exemplo da Constituição Federal de 1988, ao ampliar a competência do Tribunal no tocante à realização de auditorias, o uso da TI pode significar um incremento na qualidade do Controle Externo. Isso porque traz grandes 27 avanços e amplia os limites da obtenção e tratamento das informações. (BRANCO, 2014, p. 21) Sanchez19 (2003, apud DAVIS E BLASCHEK, 2006) destaca como o uso da TI transformou o sistema de controle interno paulista, contribuindo para minimizar a assimetria de informação entre sociedade e governo, que fragilizava o sistema de controle. O autor destaca a importância da TI na eficiência e economicidade dos controles, na redução de assimetrias informacionais e na otimização da coleta de informações para gerenciamento de riscos e incertezas. O referencial acima exposto, todos referenciando casos concretos estudados, não deixa dúvida da importância da conjugação otimizadora de TI e controle em um mundo em que cada vez mais está envolto em dados. Como nos diz Branco (2014, p.21) “[...] o uso da TI pode significar um incremento na qualidade do Controle Externo. Isso porque traz grandes avanços e amplia os limites da obtenção e tratamento das informações.” 19 SANCHEZ, Oscar Adolfo. Bureaucratic power and information control. Lua Nova, no.58, p.89119. 2003 28 3 ESTUDO DE CASO Nesta seção será abordado o estudo de caso proposto, ou seja, a aplicação de técnicas de análise de dados à Folha de Pagamentos da Marinha do Brasil (MB). A relevância do objeto de estudo pode ser corroborada com a preocupação da Controladoria-Geral da União (CGU), conforme citado na Seção 1, e do Tribunal de Contas da União (TCU), conforme citado na seção anterior. Em primeiro momento, será apresentada a estrutura da atividade de pagamento na Marinha, detalhando a estrutura organizacional da Pagadoria de Pessoal da Marinha (PAPEM). Na subseção seguinte, com base em dados coletados na pesquisa de campo junto à Pagadoria de Pessoal da Marinha e em entrevista ao pessoal envolvido com a atividade de controle interno desta Organização Militar, buscar-se-á a evolução histórica da aplicação de análise de dados. Por fim, ainda valendo-se dessas mesmas fontes, serão apresentados benefícios já alcançados, bem como perspectivas de melhoria no gerenciamento e controle com base na análise de dados. 3.1 ESTRUTURA DO PAGAMENTO NA MB O Sistema de Pagamento da Marinha (SISPAG) foi desenvolvido na década de 60, destinando-se inicialmente para automatização das tarefas relativas ao pagamento dos proventos e pensões de inativos e pensionistas, sendo, paulatinamente, ampliado para abranger o pagamento de pessoal da Ativa. Conforme o subitem 1.1.2 da SGM-302 - Normas Sobre Pagamento de Pessoal na MB (Brasil, Marinha do Brasil, 2011), o SISPAG tem por finalidade: a) reconhecer, homologar e registrar os direitos remuneratórios e compromissos pecuniários das pessoas com relação e vínculo de remuneração com a Marinha do Brasil (MB); b) prever, prover e administrar os créditos e os recursos financeiros necessários ao pagamento de pessoal; c) efetuar o pagamento, recolher os descontos decorrentes, cumprir as obrigações patronais e fiscais da MB; e d) contabilizar as ocorrências financeiras e atestar a propriedade e correção dos pagamentos efetuados. (grifo nosso) 29 A norma ainda define diversas tarefas para o SISPAG, dentre as quais se destacam, dentro do tema de estudo deste trabalho: - reconhecer, homologar e registrar, no âmbito da MB, direitos remuneratórios e compromissos pecuniários, autorizados e compulsórios; - verificar a propriedade e correção desses pagamentos; - produzir as informações referentes ao Pagamento de Pessoal necessárias às atividades de Controle Interno da MB; e - apoiar a tomada de decisões da Administração Naval, mediante elaboração de informações relativas ao pagamento. Verifica-se nessas tarefas a constante preocupação com o papel a ser desempenhado pelo Sistema no tocante ao gerenciamento e controle do recurso público destinado a pagamento de pessoal. A figura abaixo representa os órgãos competentes do SISPAG: FIGURA 1 – ESTRUTURA DO SISPAG Fonte: Leal e Silva (2013, p.48) No tocante aos órgãos de execução do SISPAG, pode-se distinguir na SGM302 (Brasil, Marinha do Brasil, 2011): - Informantes Qualificados (IQ) - São Organizações Militares (OM) autorizadas a comandar, com exclusividade, informação sob sua jurisdição, com amplitude para alcançar qualquer pessoa remunerada pelo SISPAG; - Informantes Qualificados Extra-MB (IQ-EX) - Também denominadas Entidades Consignatárias, são instituições autorizadas, pelo OP mediante convênio, 30 a comandar, com exclusividade, informação sob sua jurisdição, com amplitude para alcançar qualquer pessoa remunerada pelo SISPAG; - Organizações Centralizadoras – São OM designadas para comandar informações, com amplitude para alcançar pessoas de sua lotação e, também, das lotadas nas OM apoiadas, competindo a elas estabelecer a ligação entre as pessoas pagas pelo SISPAG e as estas vinculadas; - Organizações Militares Centralizadas (OMC) – São as OM que não executam atividades atinentes ao Pagamento de Pessoal, sendo, para tanto, apoiadas por uma OC; e - Órgão Pagador (OP) – É aquele a quem cabe efetuar o cálculo da folha de pagamento, efetivar os pagamentos e descontos devidos e prestar as competentes informações contábeis, fiscais e financeiras relativas ao SISPAG. Na MB, a PAPEM é o OP. Especificamente para a PAPEM, a alínea f) do subitem 1.6.4 da supracitada Norma atribui as seguintes competências: • administrar os recursos financeiros alocados ao Pagamento do Pessoal; • processar as informações elaboradas pelos OE, calcular a remuneração (pagamentos e descontos) das pessoas e as obrigações patronais da MB e produzir documentação destinada a executar, formalizar e comprovar os pagamentos; • efetuar os pagamentos normalmente mediante créditos bancários, referentes às remunerações das pessoas e a valores decorrentes dos descontos efetuados; • registrar os fatos pertinentes ao Pagamento do Pessoal; • elaborar e expedir informações em cumprimento à legislação vigente; • elaborar e expedir informações que apoiem as atividades de Controle Interno da MB; • elaborar e expedir informações, endereçadas aos órgãos competentes da Administração Federal, que demonstrem a aplicação dos recursos financeiros de Pagamento do Pessoal, no exercício; • elaborar e expedir informações que subsidiem a tomada de decisões da Administração Naval; • cadastrar os IQ, especificando a jurisdição de informações a eles atribuídas pelo OSG; • habilitar as Entidades Consignatárias (EC); • estabelecer as responsabilidades das Entidades Consignatárias habilitadas; • elaborar e fornecer subsídios para a programação orçamentária e financeira do Pagamento do Pessoal; e • Desenvolver, homologar, implantar e dar manutenção aos sistemas de informação que apoiam o SISPAG. (grifo nosso) Em 2009, a PAPEM iniciou a modernização do seu Sistema de Pagamento. Conforme Ferreira (2013), esse projeto, chamado SISPAG2, foi concebido sob modernas linguagens de tecnologia da informação, permitindo à Pagadoria suplantar 31 as deficiências identificadas no sistema anterior, como, por exemplo: a limitada capacidade de desenvolvimento de novas funcionalidades, a escassa documentação do software, a pouca viabilidade técnica de implementar adequadas rotinas de controle e a baixa capacidade de implementar críticas automatizadas. Além disso, acrescenta o autor, “Havia, ainda, a dificuldade enfrentada para o fornecimento de informações para o Banco de Informações Estratégicas e Gerenciais (BIEG), do Ministério da Defesa”. (FERREIRA, 2013, p.39). Uma premissa do processo de modernização é que deveria haver integração aos sistemas de gestão de pessoal da Marinha, gerando um ambiente de dados propício à aplicação de técnicas de análise de dados para incremento do controle e melhor gerenciamento dos dados atinentes à gestão financeira do pessoal da Marinha. 3.1.1 Estrutura Organizacional da PAPEM A PAPEM tem como missão “administrar os sistemas de pagamento atinentes ao pessoal da Marinha, no país e no exterior, a fim de contribuir com a preparação e eficácia do Poder Naval.”20 A Pagadoria foi criada pela Portaria Ministerial nº 65, de 18 de fevereiro de 1997 e ativada em 27 de março de 1997. A visão cultivada pela Organização Militar (OM) é de “ser uma Instituição de excelência, no âmbito das Forças Armadas, nas atividades relacionadas ao pagamento do pessoal da Marinha do Brasil, até 2018, a fim de contribuir com a eficácia do preparo e da aplicação do Poder Naval, com compromisso, confiança, profissionalismo, apreço e competência institucional.”21 Nesse escopo, executa o pagamento aproximadamente de 200.000 pessoas entre militares, servidores civis, beneficiários de pensões militares, ex-combatentes, anistiados políticos, além de beneficiários de anistiados políticos. Na consecução de suas tarefas, a OM dispõe de três Departamentos ligados à atividade-fim, que são: Departamento de Sistemas de Pagamento, Departamento 20 21 Disponível em: <http:www.papem.mar.mil.br>. Acesso em: 17 jul.2016. Idem 32 de Finanças e Departamento de Consignações. Para o cumprimento da atividademeio, conta com o Departamento de Informática e o de Administração. Na Figura abaixo, é apresentado o organograma que contempla a estrutura administrativa da PAPEM, na qual se pode observar a localização hierárquica da Assessoria de Controle Financeiro: FIGURA 2: ORGANOGRAMA DA PAGADORIA DO PESSOAL DA MARINHA DIRETOR (PAPEM-01) ASSESSORIA DE GESTÃO PÚBLICA (PAPEM-04) CONSELHO DE GESTÃO (PAPEM-03) ASSESSORIA DO SISPAG (PAPEM-06) ASSESSORIA JURÍDICA (PAPEM-05) ASSESSORIA DE CONTROLE FINANCEIRO VICE-DIRETOR (PAPEM-09) (PAPEM-02) SERVIÇO DE SECRETARIA E COMUNICAÇÕES (SECOM) ASSESSORIA DE MODERNIZAÇÃO DO SISPAG (PAPEM-07) DEPARTAMENTO DE SISTEMAS DE PAGAMENTO (PAPEM-08) DEPARTAMENTO DE FINANÇAS DEPARTAMENTO DE INFORMÁTICA DEPARTAMENTO DE ONSIGNAÇÕES DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO (PAPEM-20) (PAPEM-30) (PAPEM-40) (PAPEM-50) (PAPEM-10) Fonte: Regimento Interno da PAPEM A Assessoria de Controle Financeiro (PAPEM-09) foi criada por meio do Memorando 1/2015/PAPEM, datado de 1º de abril de 2015, subordinada diretamente ao Diretor, com o propósito de melhorar a atividade de controle financeiro, bem como aperfeiçoar a fiscalização das tarefas atinentes ao SISPAG e à distribuição de recursos conotados aos gastos de pessoal da MB. Dentre outras, possui as seguintes atribuições: 22 I - atuar junto ao Centro de Análise e Sistemas Navais (CASNAV) para automatização das atividades de controladoria do SISPAG2; II - efetuar o controle interno sobre a atividade de pagamento de pessoal, enfatizando o procedimento de crítica sobre as alterações mensais de pagamento; III - avaliar, comparativamente, as Organizações Militares Centralizadoras de Pagamento (OC), no que tange a comportamentos esperados de parcelas de pagamento; 22 Organização Militar cuja missão é “Contribuir para o Desenvolvimento Tecnológico da Marinha e do País”. 33 IV - implementar mecanismos de controle e acompanhamento dos valores 23 não repassados do Manutenção e Família (MANUFAL) ; V - implementar mecanismos de controle e acompanhamento dos valores 24 repassados às Entidades Consignatárias ; VI - implementar outros mecanismos de controle e acompanhamento, à luz dos processos de desembolso existentes na PAPEM, ou determinados pelo Diretor, em especial os que afetem o saldo das contas de passivo; e VII - atuar junto ao Serviço de Inativos e Pensionistas da Marinha (SIPM), visando contribuir para o aumento da capacidade de controle daquele Serviço, referente aos processos de pagamento de inativos e pensionistas. Essa Assessoria, com o desenvolvimento de suas atribuições, visa criar soluções fáceis para os problemas inerentes ao controle financeiro, e, por conseguinte, para o controle interno do sistema de pagamento, levando em consideração a utilização de ferramentas gerenciais que apresentem baixo custo de implantação, sem o acréscimo de carga burocrática desnecessária, que possa gerar efeitos positivos a ponto de servir de benchmarking a outros órgãos públicos e, por fim, que seja de fácil replicabilidade. As atribuições da Assessoria de Controle Financeiro são perfeitamente caracterizadas pelo aspecto da controladoria, que, por sua vez, exerce, atualmente, um papel fundamental para as grandes organizações, tanto pela competitividade inerente aos mercados atuais, o que exige o uso eficaz de seus recursos, como pela racionalização destes, evitando-se desperdícios inaceitáveis de toda ordem. Assim, nada melhor que controlar os processos para se ter uma organização realmente capaz de se tornar competitiva na sua área de atuação. 3.2 ATIVIDADES DE CONTROLE NA PAPEM Nesta subseção serão detalhadas as atividades de controle exercidas no âmbito da Pagadoria de Pessoal, bem como os benefícios já alcançados e as perspectivas futuras, coletados por meio de entrevista ao CMG (RM1-IM) Márcio Pinheiro de Vasconcellos, Assessor de Controle Financeiro daquela OM. 23 Parcelas atinentes à Pensão Alimentícia instituída por juízo. Pessoa de direito público ou privado em favor da qual a Marinha, mediante instrumento administrativo, poderá autorizar descontos na remuneração do pessoal que mantém relação e vínculo de remuneração com a Marinha, por meio do SISPAG2. 24 34 3.2.1 Situação atual das atividades de controle Leal e Silva (2013) destacaram como principais vetores de controle utilizados na Pagadoria: - Depuração da Folha País – verificação minuciosa efetuada pelo SISPAG sobre as cerca de 500 mil alterações (inclusão/exclusão/alteração de parcela) de pagamento enviadas mensalmente pelas OC/IQ, a que se dá o nome de “depuração” do pagamento, visando à identificação e posterior correção de possíveis inconsistências nesse processo. - Controladoria da Folha País - este vetor é gerenciado pela Divisão de Controladoria (PAPEM-22)25. Em complemento às atividades de Depuração (1º vetor de controle), verificam-se os lançamentos ou comandos efetuados pelas OC/IQ, com objetivo de constatar ocorrências de irregularidades ou discrepâncias nas implantações ou alterações de parcelas de pagamento, sendo essas constatações informadas, por meio de mensagem, às OC e OM responsáveis. O objetivo principal desta atividade é acompanhar a execução dos atos, identificando, em caráter opinativo, preventivo ou corretivo, se as ações desempenhadas estão de acordo com a legislação. Aliado a isso, a Pagadoria dá conhecimento aos Agentes e Fiéis de Pagamento das OC dos principais erros/inconsistências, por meio de relatórios e adestramentos, a fim de alertar e instruir quanto ao procedimento correto a ser adotado. - Controladoria da Folha Exterior - O terceiro e último vetor é gerenciado pela Divisão de Execução do Pagamento no Exterior (PAPEM-14), com o foco de verificar inconsistências no pagamento de militares designados para missões transitórias e permanentes no exterior. Nesse conjunto, o PAPEM-14 centraliza e monitora, mensalmente, a execução do pagamento em moeda estrangeira de 28 Organizações Militares de terra e cerca de cinco navios designados para missões no exterior. Em linhas gerais, dentre as principais verificações dessa atividade de controle, são identificadas e corrigidas ocorrências como a de militares com pagamentos vinculados, concomitantemente, à Folha País e Folha Exterior, além de 25 Conforme citado na subseção anterior, este vetor é de responsabilidade atual da Assessoria de Controle Financeiro, mantido o objetivo. 35 possíveis ausências de descontos obrigatórios e incoerências no recebimento da parcela de auxílio. Os autores ainda alertam que não existe estanqueidade entre os vetores. Na verdade, estes são complementares com o intuito de minimizar a ocorrência de inconsistências no processo de pagamento. Percebe-se nos dois últimos vetores a utilização da análise dos dados do processo de pagamento para o controle interno e também para o aprimoramento do processo como um todo, ao servir para o gerenciamento, por exemplo, da prioridade a ser dada nos adestramentos ministrados pela Pagadoria. Cabe ainda destacar a aderência dos métodos de controle nas atividades de execução do pagamento de pessoal, por meio de seu Órgão Pagador, ao preconizado na Lei de Responsabilidade Fiscal e nas Normas do Conselho Federal de Contabilidade, citados na subseção 2.2.2 deste trabalho, na busca de uma administração pública gerencial. 3.2.2 Controle exercido por meio de análise de dados Considerando que o foco deste estudo de caso é verificar a aplicação de técnicas de análise de dados para melhoria do gerenciamento e controle, será detalhada a forma que o controle é exercido nos segundo e terceiro vetores de controle anteriormente citados. Para uma melhor compreensão, passa-se a descrever o processo das consultas de forma generalizada. O processo de pagamento do pessoal militar é composto de diversas etapas, que vão desde a captação das alterações mensais enviadas pelas OC até o efetivo crédito em conta corrente no dia do pagamento, realizado pelos bancos conveniados. No decorrer desse processo, algumas discrepâncias podem ocorrer, seja por erro do próprio sistema, ao apresentar inconsistência, ou pela digitação equivocada realizada por algum Agente de Pagamento. Sendo assim, esses erros acabam por prejudicar o fluxo financeiro destinado ao pagamento de pessoal. Após o processamento das alterações mensais, é gerado um banco de dados, o Cadastro Geral de Servidores (CGS), que contém informações relativas à 36 folha de pagamento do mês atual. A partir desse banco, a Assessoria de Controle Financeiro passa a promover diversas consultas (queries), a fim de buscar as possíveis discrepâncias existentes. Essas consultas são escritas em linguagem SQL e, ao serem executadas, apresentam os resultados, de acordo com os parâmetros delineados. Os parâmetros são definidos, levando-se em consideração os erros mais comuns observados pela PAPEM. Atualmente, existem mais de 50 consultas, rodadas mensal ou quadrimestralmente, de acordo com o grau de criticidade atribuído a elas. Após terem sido executadas todas as queries em um determinado mês, são transmitidas mensagens administrativas às OC26, informando as discrepâncias verificadas, a fim de que possam solucioná-las em tempo. Cabe ressaltar que a PAPEM não é a Organização Militar responsável pela atividade de controle interno da Marinha, entretanto, ela realiza o controle sobre o banco de dados, gerado mensalmente, relativo ao pagamento de pessoal. O intuito é facilitar o trabalho de controle interno das OC, por meio desta ferramenta, auxiliando nas conferências previstas nas Normas. Para as consultas com alto grau de criticidade, as mensagens transmitidas exigem resposta com prazo estipulado, contendo as ações em andamento para a solução do problema. De posse da quantidade de discrepâncias apresentadas, a PAPEM identifica as OC que apresentam o maior número de erros, e busca atuar pontualmente, voltando sua atenção à descoberta das razões dessas OC terem cometido a maior quantidade de erros ao longo do período analisado.27 Além disso, a PAPEM identifica o que pode ser feito para evitar que as discrepâncias voltem a ocorrer, pelo menos para essa OC em especial. E, quando necessário e pertinente, são divulgadas orientações gerais em documento próprio da MB, o Boletim de Ordens e Notícias (BONO), a fim de dar publicidade às soluções para os erros mais comuns, bem como caminhos adequados para o devido acerto. Na tabela abaixo se pode visualizar alguns exemplos das consultas executadas atualmente. Salienta-se, no entanto, que outras ainda estão sendo 26 A estrutura de centralização das atividades de pagamento de pessoal, citada na subseção 3.1, permite a redução do pessoal envolvido na execução das tarefas, entretanto, implica o aumento do número de pessoas cujo pagamento é controlado pelas OC, dificultando o controle a ser exercido pelos agentes responsáveis. 27 Muitas vezes, descobre-se que o pessoal alocado para a gestão de pagamento, em uma determinada OC, é inexperiente, precisando de orientações mais direcionadas, ou até mesmo existe um acúmulo de funções para o pessoal que trabalha nessa gestão, tornando-a pouco eficiente. 37 criadas para aperfeiçoamento das verificações, e ainda outras poderão ou deverão ser criadas para fins específicos, conforme o caso. QUADRO 1 - PRINCIPAIS QUERIES REALIZADAS Cadastrais - Reativação Financeiros de - Percentual Acerto de Contas de Benefícios Sociais - Alterações OC/IQ - Recebimento de pagamento de militar Adicional Militar e repetidas. Auxílio-Transporte/ suspenso - Alteração de OC. Auxílio Pré-Escolar ou de Habilitação bloqueado no mês incorreto. anterior. - Ausência - Falta de PASEP descontos - Alteração de conta sem as parcelas de de - CPF em branco ou obrigatórios. com duplicidade de ocorrência. Gratificação Representação de e corrente. desconto, ou vice- - Permanência em versa. Acerto de Contas - por Auxílio-Transporte mais de 3 meses. Inativo com sem Pró-Labore. Localidade Especial indevida/inexistente. Fonte: elaboração própria Como se pode observar, o objetivo dessa gama de consultas ao banco de dados do pagamento mensal é evitar e/ou corrigir, em tempo, as irregularidades de pagamento, gerando, como consequência, o adequado uso dos recursos públicos, o que vem a corroborar com a ideia da defesa do patrimônio público e ao incremento da transparência da gestão, por meio das atividades de controle interno, correição, prevenção e combate à corrupção e ouvidoria. Nesse sentido, fica caracterizada a utilização de técnica de análise de dados no atendimento do controle interno pelo estabelecimento de “procedimentos, critérios e ações que permitam a melhor proteção que a empresa possa ter contra as falhas humanas intencionais ou não”. (PADOVEZE, 2003, p.38). Ao fazer uso dessa facilidade tecnológica, as atividades executadas atendem ao princípio de controle interno de “utilizar o máximo possível de recursos computacionais, com procedimentos internos e sequenciais”. (PADOVEZE, 2003, p.38). 38 3.2.3 Benefícios alcançados/previstos De uma forma bem genérica, pode-se apontar os seguintes benefícios na utilização de técnicas de análise de dados: - contribuir para a legalidade da Folha de Pagamentos, ou seja, que os dados nela contidos representem fielmente todos os direitos e obrigações de cada relação de despesa orçamentária referente ao pessoal; - Auxiliar, por meio da análise dos erros mais frequentes, os setores responsáveis pelo processamento da Folha de Pagamentos, sugerindo alterações no SISPAG ou nos procedimentos administrativo das OC; e - Acumular conhecimento que serviu de auxílio à definição das regras de negócio do novo Sistema de Pagamento (SISPAG2). Sobre este último benefício, cabe destacar a preocupação com controle e gestão no desenvolvimento do projeto: Cabe ressaltar que o SISPAG2 prevê a utilização intensa do ambiente web, permitindo, assim, que diversos processos de negócio sejam substancialmente inovados. O objetivo é de promover o incremento do controle da atividade de pagamento de pessoal, tendo como pré-condição reduzir ou não acrescer o trabalho manual dos atores do processo de pagamento nas OC e IQ, distribuídos aos meios flutuantes e de terra, por todo o território nacional. Entre as principais inovações do SISPAG2, destacam-se: o sensível incremento da capacidade crítica online automatizada do SISPAG2, a atualização em tempo real das informações incluídas nas bases de dados do SISPAG2 para Agentes de Pagamento, Auditores e tomadores de contas, o que resultará na melhoria da qualidade dos dados imputados, e que possibilita realizar atividade de controle interno concomitante. Desta maneira, deixando a crítica manual de pagamento de ser realizada na PAPEM, será viável o encurtamento do tempo de processamento da folha. Por fim, a integração com as bases de dados de pessoal também conferem aos dados inseridos no SISPAG2, um sensível acréscimo no nível de segurança das operações. (FERREIRA, 2013, p.41) Dessa forma, haverá um incremento no controle interno da folha de pagamento da Marinha, pois, muitos dos erros hoje constatados após o processamento da folha, serão impedidos de acontecer, ou seja, nesta situação o controle passará a ser exercido “ex-ante”. Conforme explicado na seção anterior, esse tipo de controle permite prevenir ou impedir o sucesso de atos indesejáveis como erros, desperdícios ou irregularidades, sendo mais efetivo. Leal e Silva (2013) estimam que, em 2011 e 2012, a ação de controle na Folha de Pagamento do País proporcionou a devolução média anual de 39 aproximadamente R$ 210.000,00 aos cofres públicos, frutos da constatação de pagamentos indevidos. Estimativas internas da Pagadoria apontam para redução em cerca de 50% de todos os erros apurados no Sistema atual, fruto da inclusão nas regras de negócio do SISPAG2 de dispositivos que impeçam a ocorrências dessas inconsistências, materializando um dos benefícios da aplicação das técnicas de análise de dados sobre o banco de dados. Mesmo com os benefícios já alcançados e os previstos com a entrada em produção para os militares da Ativa do SISPAG2, em agosto de 2016, é importante frisar que a tarefa de efetuar consultas parametrizadas ao CGS tem um caráter cíclico e dinâmico, ou seja, além de alimentar a PAPEM constantemente acerca das discrepâncias existentes, pode e deve ser aperfeiçoada ao longo do tempo. Todavia, o número de discrepâncias jamais atingirá o nível zero, tendo em vista que o processo mensal de pagamento é repleto de variáveis exógenas, e, sendo assim, erros que já haviam sido aparentemente estancados, em um processo, poderão vir a ocorrer em outros, mesmo com as precauções adotadas. Ainda na constante busca de benefícios maiores, foi desenvolvido o Módulo Controladoria de forma que as OC, por meio dos Agentes de Pagamento, possam visualizar e igualmente executar as verificações das possíveis discrepâncias diretamente no sistema, prescindindo da comunicação do Órgão Pagador. Além de permitir as OC tomar atitudes para saná-las com maior brevidade, agregando celeridade ao processo, permitirá que a Assessoria de Controle Financeiro tenha mais disponibilidade de tempo para aperfeiçoamento das consultas e controle existentes, possibilitando à Marinha maior capacidade de gestão e controle dos recursos públicos destinados à Folha de Pagamento. 40 4 APLICAÇÕES NA ÁREA DE DEFESA E SEGURANÇA Nesta seção serão citadas algumas possíveis utilizações de análise em banco de dados e projetos da Defesa, com base em aplicações semelhantes obtidas em pesquisa documental. Importante ressaltar que não cabe detalhamento ou mesmo exemplo concreto, pois, para tal, seria necessário o conhecimento sobre a modelagem de dados existente. Entretanto, considera-se possível demonstrar a aplicabilidade das técnicas de análise de dados para melhoria do gerenciamento e controle desses bancos de dados e projetos, que contribuiriam significativamente para a Segurança e Defesa do Brasil. 4.1 BANCO DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS E GERENCIAIS (BIEG) Medina (2013, p.56) descreve que [...] BIEG é um sistema que apoia o MD e as Forças Armadas nos processos decisórios relacionados à remuneração dos militares da ativa, inativos, pensionistas e anistiados políticos. Fornece informações fundamentais para estudos financeiros sobre concessão de reajustes de vencimentos, avaliação dos compromissos futuros da União, atendimento de demandas diversas de informações, etc. Dessa forma, acrescenta a autora, o referido banco de dados representa “[...] uma ferramenta indispensável ao atendimento de demandas de informações internas ao MD ou daquelas provenientes de outros órgãos governamentais” (MEDINA, 2013, p.56). Tal importância mostra a contribuição que a aplicação de técnicas de análise de dados aplicadas a esse banco apoia o MD nas decisões e negociações de alto nível, bem como, não é incoerente afirmar, no controle dos dados consolidados das forças singulares. Corroborando o fato, pode-se extrair da Portaria Normativa 1.600/MD/2011: Art. 2º O Banco tem por finalidade operacionalizar informações sobre o cadastro e a folha de pagamento dos militares, garantindo a integração dos dados das Forças Armadas e o acesso às informações relevantes, assegurando transparência e controle. 41 Art. 3º As principais aplicações do BIEG se destinam às seguintes atividades: I - subsidiar estudos sobre a remuneração dos militares; II - fornecer os dados para o processo de avaliação atuarial dos compromissos financeiros da União com os militares das Forças Armadas e seus pensionistas; III - contribuir para a elaboração da publicação de uso do Ministro de Estado da Defesa; e IV - atender a demandas de outros órgãos, públicos e privados, quando autorizado ou em cumprimento a responsabilidade legal do MD. (grifo nosso) A figura abaixo representa o BIEG, demonstrando os passos de transformação dos dados em informações e conhecimento, conforme estes foram definidos na subseção 2.1.1: FIGURA 3 – ESQUEMA DO BIEG Fonte: Medina (2013, p. 60) Antevendo a possibilidade de utilização de técnicas de análise dados, Medina (2013, p. 59) cita um estudo sobre a implantação de um Data Warehouse de informações de pessoal na MB, consolidando diversas informações de variadas 42 fontes, utilizando “[...] softwares de mineração de dados, transformando-os em informações valiosas no momento de se tomar decisões”. Cabe destacar que dentro do aspecto da modernização da gestão, que é uma das três vertentes que balizam o processo de transformação da defesa, constante do Anexo III do Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), pode-se identificar que alguns dos objetivos do suporte estratégico “pessoal” serão melhor atingidos com a evolução do BIEG para um Data Warehouse que inclua os dados das forças singulares. Com esse repositório, a utilização da mineração de dados, pode auxiliar na implantação do sistema de gestão por competências de forma automatizada, garantindo agilidade e qualidade na análise das informações, que é um dos objetivos desse suporte. 4.2 PROJETOS ESTRATÉGICOS DE DEFESA A partir das diretrizes estabelecidas na Estratégia Nacional de Defesa (END), foram definidos os projetos estratégicos para desenvolvimento da capacidade do Brasil em defender sua soberania e seus interesses. Essa definição funciona também como uma priorização na alocação dos recursos, de forma que se possa garantir a continuidade de suas execuções. Tais projetos fazem parte do Plano de Articulação e Equipamento da Defesa (PAED), que, conforme informado do sítio da Ministério da Defesa28, corresponde [...] a consolidação dos detalhados planos de recomposição da capacidade operativa da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, associada à busca de autonomia tecnológica e ao fortalecimento da indústria de defesa nacional. [...] O Plano de Articulação e Equipamento da Defesa (PAED) é, em termos simples, o principal instrumento que o Estado dispõe para garantir o fornecimento dos meios que as Forças Armadas necessitam, bem como a infraestrutura que irá provê-los. O Anexo II ao Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN) detalha o PAED, com moldura temporal de 20 anos (2012 a 2031), contribuindo para o principal 28 Disponível em: <http://www.defesa.gov.br/index.php/industria-de-defesa/paed.> Acesso em: 25 jul.2016. 43 objetivo do LBDN “[...] visa esclarecer à sociedade brasileira e à comunidade internacional sobre as políticas e ações que norteiam os procedimentos de segurança e proteção à nossa soberania.” (BRASIL. MINISTÉRIO DA DEFESA, 2012c). Oliveira (2015, p.13) destaca que O PAED, além da vertente de investimentos em ‘equipamento’, que se traduz no conjunto de materiais necessários ao cumprimento da missão, possui a vertente ‘articulação’, por meio da qual se busca aperfeiçoar as estruturas operacionais das Organizações Militares e a sua distribuição no território brasileiro. Constitui, ainda, um instrumento por meio do qual se buscará promover a reorganização da BID. Os Projetos Estratégicos definidos pelo MD são: Marinha do Brasil • Programa Nuclear da Marinha; • Construção do Núcleo do Poder Naval, incluindo o desenvolvimento de submarinos convencionais e de propulsão nuclear (Prosub); e • Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz) Exército Brasileiro • Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron); • Guarani (Família de blindados); e • Proteger Força Aérea Brasileira • KC-390 • Modernização da aeronave AM-X • VANT-FAB (Veículo aéreo não tripulado) Tomando-se por base apenas os Projetos Estratégicos e os valores envolvidos, é possível constatar a importância para a Defesa do correto gerenciamento e controle da execução destes. Novamente invocando o Anexo III do LBDN, agora no tocante ao suporte estratégico “planejamento”, pode-se identificar que alguns objetivos seriam mais facilmente atingidos, caso houvesse uma estruturação dos dados em forma de banco de dados, de modo a permitir a aplicação de técnicas de análise. Como exemplo desses objetivos: 44 - controlar a execução, com foco nos resultados e não nos processos; e - orientar a implementação de sistemas corporativos que facilitem a gestão dos recursos, tais como catalogação, qualidade, protocolos eletrônicos, plataformas de informática e gestão de projetos e de pessoal. (BRASIL. MINISTÉRIO DA DEFESA, 2012c). 4.3 OUTRAS APLICAÇÕES Muitos dos projetos citados na subseção anterior estão relacionados com obtenção e manutenção dos meios. Já existem relatos, em artigos internacionais, da aplicabilidade da mineração de dados contribuindo para a melhoria do processo de manutenção. Por exemplo, Meseroll, Kirkos e Shannon (2007), explorando a questão da manutenção da aviação naval com foco na aeronave F/A-18C, demonstram que o uso de mineração de dados, associado ao conhecimento de como o sistema funciona e interage com outros sistemas, pode melhorar a eficiência em todos os níveis de manutenção. Também foram encontrados outros artigos referentes à utilização de mineração de dados nas atividades militares como, por exemplo: - Um exemplo de aplicabilidade é dado por Ceruti (2000) que relaciona a mineração de dados e outras inovações tecnológicas como uma forma de aperfeiçoar os sistemas de informações militares, propiciando um melhor conhecimento das informações do teatro de operações bem como permitir a expansão do conhecimento para todos os níveis hierárquicos; - Outro estudo encontrado foi sobre a utilização de data mining em aplicações militares para desenvolvimento de contramedidas eletrônicas. Motta, Alves e Ebecken29 (2007) alertam que essa área possui como característica a pouca informação disponibilizada ostensivamente. Em seu artigo, os autores desenvolvem a aplicação de técnicas de data mining sobre os dados recebidos de outros sistemas e sensores do navio para tornar mais eficiente a utilização de contramedidas eletrônicas contra mísseis anti-navios. 29 Motta e Alves são do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM) e Ebecken é da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 45 - Cerutti e McCarthy (2000) relatam a evolução de um projeto de pesquisa com utilização da mineração de dados na predição de eventos de guerra. Os autores destacam que a análise de diversos dados em busca de padrões (data mining) que indiquem previamente a possibilidade do acontecimento permitiria uma melhor preparação e prontificação das forças. No artigo em questão, eles relatam a aplicação durante um exercício do Corpo de Fuzileiros Navais americano, em que a base de dados utilizada foi a de troca de informações das forças adversárias. Realçam a importância de buscar-se uma interface de fácil utilização para o usuário, o que permitirá uma disseminação mais fácil. 46 5 CONCLUSÃO A Revolução da Tecnologia da Informação trouxe às organizações a possibilidade de transformar o arquivamento dos seus registros e processos administrativos do meio físico para ambientes computacionais. A facilidade para a coleta e armazenamento dos dados deu origem à criação de bancos de dados cada vez maiores e mais complexos, que despertaram necessidades de evolução tecnológica na modelagem e para consultas, no sentido de transformar aquele universo de dados em informações que, por sua vez, baseadas na vivência e experiência do profissional, geram conhecimento útil para estas organizações. Este processo, se por um lado tornou-se um grande desafio de organização e refinamento da importância e materialidade, por outro se apresentou como um grande desafio para todos os profissionais associados às atividades de gerenciamento e controle interno. O surgimento do banco de dados relacional deu azo à criação de uma técnica simples, utilizada para consultar uma base de dados, chamada Structured Query Language (SQL), ou Linguagem de Consulta Estruturada, que é uma linguagem de pesquisa padrão para banco de dados relacional, de fácil entendimento, com uso bastante difundido. A evolução da modelagem de banco de dados foi acompanhada do aprimoramento das técnicas de análise, destacando-se a mineração de dados (data mining) que corresponde à extração de informações de grande base de dados. Ao analisar os aspectos conceituais referentes a controle interno, com foco no controle interno governamental, observa-se a importância com a eficiência e eficácia da entidade. Assim, a obtenção de informação/conhecimento permitirá influenciar o comportamento das pessoas, a fim de atuar sobre as variáveis internas e externas de que depende o funcionamento da organização. Verifica-se a atuação do controle visando assegurar que as atividades de uma organização sejam realizadas conforme as orientações definidas para a organização, no caso a atividade de Defesa, e contribuam para o alcance de seus objetivos. Como exemplo, o gerenciamento de processos e o atingimento dos objetivos propostos contribuem para o contido na Orientação 7.18, da Política Nacional de Defesa. Ainda, a utilização da mineração de dados permite a análise e 47 previsão de tendências, em consonância com o objetivo X da Política Nacional de Defesa. O referencial teórico também apresentou, com casos concretos estudados, a importância da conjugação otimizadora da Tecnologia de Informação com a eficácia no gerenciamento e controle das organizações públicas e privadas. Visando demonstrar a efetividade dessa conjugação, optou-se por verificar a existência, benefícios e perspectivas dessa associação no processo de Folha de Pagamento do Pessoal Militar da Marinha do Brasil. A relevância do foco de estudo é justificada com o peso de tais despesas no contexto orçamentário do Brasil, em um ambiente em que as restrições orçamentárias causam um impacto negativo na área de Defesa e no desenvolvimento do país. Assim, qualquer iniciativa que possa contribuir para redução dos recursos despendidos com pessoal, indiretamente, permite uma maior alocação para iniciativas que contribuam para segurança, defesa e desenvolvimento. Tal fato pode ser corroborado pelas iniciativas da ControladoriaGeral da União, do Tribunal de Contas da União e, mais recentemente, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, citadas no trabalho. Com base nas informações coletadas junto à Pagadoria de Pessoal da Marinha, no tocante à evolução histórica da aplicação de técnicas de análise ao banco de dados de pagamento de pessoal militar, foi possível observar a economia de recursos públicos, a utilização das constatações para melhor gerenciamento do processo, por meio de identificações dos principais erros e das organizações com maior incidência destes, bem como serviu de base à definição das regras de negócio para a modernização do Sistema de Pagamento da Marinha. Nesse contexto, é possível observar que as ações postas em curso pela Pagadoria condizem exatamente com os objetivos da Controladoria-Geral da União. Assim, foi possível comprovar a contribuição para, em última instância, da boa gestão dos recursos públicos, com a transparência que lhe é devida, e, por conseguinte, a sua racionalização. Buscando caracterizar outras aplicações na área de Defesa, explorou-se uma possível aplicação no gerenciamento das informações de pessoal das forças constantes do Banco de Informações Estratégicas e Gerenciais. Outra possibilidade de aplicação aventada foi a contribuição para o gerenciamento dos projetos estratégicos, e de todas as atividades previstas no Plano de Articulação e Equipamento da Defesa. Ressalta-se a aderência à modernização da gestão 48 constante do Livro Branco de Defesa Nacional sob o enfoque do suporte estratégico “pessoal” e “planejamento”. Foi possível identificar também uma pequena amostra da utilização de mineração de dados em atividades militares de outros países. Pode-se aventar também, por exemplo, a análise de dados referentes a eventos SAR (Search and Rescue), buscando-se padrões que permitam originar ações de prevenção e orientações para mitigação dos riscos de ocorrência. Destarte, encontra-se atingido o objetivo proposto para o estudo de analisar a contribuição de técnicas de análise de banco de dados para melhoria do controle e gerenciamento administrativo dos Órgãos da Administração Federal, com exemplos concretos na área de Defesa. 49 REFERÊNCIAS ALVES, William Pereira. Banco de dados: teoria e desenvolvimento. São Paulo: Érica, 2009. BALTACI, M; YILMAZ, S. Keeping an eye on subnational governments: internal control and audit at local levels. Washington, DC: World Bank, 2006. Disponível em: <http://siteresources.worldbank.org/WBI/Resources/InternalControlandAuditatLocalL evel-FINAL.pdf>. Acesso em 22 jun. 2016. BEVILACQUA, José Francisco; BITU, Yuri Aguiar. Business Intelligence (BI) e a abordagem de Gestão Balanced Scorecard (BSC) na Organização. Projeto final de pós-graduação de lato sensu em informática na especialidade de MBA em gestão de sistemas de informação – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2003. 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