Professor de Sociologia no Ensino Médio: discurso e prática Autora: Fabiana Conceição Ferreira de Lima (UFPE/CAPES) Co-autora: Anabelly Brederodes Campos Silva (UFPE/PIBIC – CNPq) Orientadora: Silke Weber Introdução No Brasil, a partir do início do século XX, a educação passou a ser vista como uma questão de relevância social. Entre as políticas sociais, a educação te lugar de destaque, pois “as desigualdades educacionais são o principal correlato das desigualdades de renda, oportunidades e condições de vida” (Schwartzman, 2006, p. 2). Com o processo de democratização da sociedade brasileira, em meados da década de 1980, aprofunda-se a visão da educação como um instrumento transformador e como agente atenuador das desigualdades sociais. A partir desses debates espera-se da escola uma resposta para a formação de sujeitos críticos e reflexivos capazes de exercer sua cidadania (Brasil, 1996). Com essas transformações, a educação ganha novas finalidades, trazendo consigo novos desafios, dentre os quais a formação dos professores e seu desempenho educacional nos diferentes níveis de ensino. Depois de idas e vindas na composição do currículo do ensino médio, por razão de tensões ideológicas e discordâncias educacionais, o ensino de sociologia tornou-se obrigatório nesse nível de ensino. Devido a essa intermitência, dentro do ambiente escolar, a sociologia não possui ainda uma posição mais consistente no rol de disciplinas que fazem parte da grade curricular do Ensino Médio e também não há um grupo de professores que possa trocar experiências na área, como acontece com disciplinas mais tradicionais. Trata-se de um campo profissional ainda restrito e muitas vezes desenvolvido por professores sem formação específica, o que tem suscitado a procura de alternativas imediatistas para solucionar problemas de formação e de prática pedagógica (Mota, 2000; Sarandy, 2004; Santos, 2002). Nesse contexto esta disciplina tem como especificidade contribuir para a compreensão da complexidade social, dessa forma se faz necessário refletir sobre as perspectivas e expectativas dos professores que lecionam esta disciplina, bem como, verificar as concepções destes profissionais quanto a importância da sociologia no Ensino Médio e na formação de seus alunos uma vez que é por meio desses profissionais que a perspectiva sociológica chega a estes últimos. Podemos dizer então, que a consolidação da sociologia, enquanto disciplina obrigatória, no ensino médio, dependerá de esforços tanto acadêmicos, quanto profissional. Portanto, percebemos o quanto é importante que os estudos sociológicos se debrucem sobre os estudos educacionais, em especial, a sociologia enquanto disciplina escolar. Permitindo assim, a formação de um campo uniforme e fortalecido de estudos que abordem essa temática. Objetivo desse estudo: Analisar a perspectiva e as expectativas dos professores de sociologia sobre a importância e especificidades desta disciplina na formação dos estudantes de nível médio Participantes 10 professores que lecionam Sociologia em escolas estaduais da cidade do Recife. Material e procedimentos Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com o professores, nas instituições em que lecionam. As entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas. Metodologia - Análise de conteúdo; - Análise de documentos Resultados Professores Graduação “A” “B” “C” “D” “E” “F” “H” “I” História História História Artes Geografia Geografia e Pedagogia Comunicação Social e Pedagogia Ciências Sociais Pedagogia “J” Ciências Sociais “G” Filosofia e Geografia Filosofia e Artes Filosofia e História Artes Filosofia e Geografia Filosofia e História Sim Filosofia Não Não Filosofia Filosofia, História da Educação e Prática de Ensino Projeto de Empreendedorismo Não Análise dos Resultados Outras Disciplinas Lecionadas Formação Continuada em Sociologia Não Não Não Não Sim Não A idade dos professores varia dos 25 aos 54 anos A falta de formação específica ou continuada Dentre as dificuldades apresentadas pelos professores para ministrar as aulas de sociologia encontramos: - Falta de material didático adequado - Pouco tempo destinado às aulas de sociologia (uma aula por semana com 50 minutos de duração) Destacamos também: - Todos os professores consideram que a sociologia realmente ajuda a desenvolver a reflexão crítica para a cidadania, mas salientam que há necessidades de mudanças para que isso ocorra efetivamente; - Os professores consideram que ter uma reflexão crítica para a cidadania, é o aluno saber quais os seus direitos e deveres na sociedade e saber intervir quando necessário; - A sociologia é uma disciplina complementar da carga horária dos professores; - A intermitência da sociologia no currículo do ensino médio está relacionada às tensões e discordâncias pedagógicas e ideológicas Conclusão Há uma necessidade de formação específica e continuada dos profissionais que ministram as aulas de sociologia no ensino médio. Também deve existir uma ligação mais forte entre as universidades e as escolas, de forma que, necessidades sejam supridas e dificuldades sejam superadas, com o intuito de fazer com que a sociologia se torne uma disciplina consolidada e tenha sua importância reconhecida. Referências Bibliográficas BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro, 1996; MOTA, Kelly Cristine Corrêa da Silva. 2003, Os Lugares da Sociologia na Formação Escolar de Jovens de Ensino Médio: as perspectivas de professores. Revista Brasileira de Educação, n. 29, p. 88-107; SARANDY, Flávio Marcos da Silva. 2004, A Sociologia volta à Escola: um estudo dos manuais de sociologia para o ensino médio no Brasil. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); SANTOS, Mério Bispo dos. 2002, A Sociologia no Ensino Médio: o que pensam os professores da rede pública do Distrito Federal. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Brasília: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Brasília (UnB); SCHWARTZMAN, Simon. 2006, Educação e Pobreza no Brasil. Cadernos Adenauer, v. 2, p. 9-38.