PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ O USO DE MODELOS PARA ANÁLISE ESPACIAL EM GEOGRAFIA ECONÔMICA Danilo Piccoli Neto1 1.Introdução A utilização de modelos, enriquecida nos diversos ramos científicos a partir do segundo quartel do século XX, vem desempenhando papel auxiliar no refinamento de formulações teóricas, esquematizações axiomáticas e explicativas de fenômenos. Deste modo, trazendo contribuições importantes para o método científico, nos moldes do empirismo lógico, majoritário no seio da ciência em geral, e nos desdobramentos do racionalismo crítico. Esta utilização não é de certo uma completa inovação do pensamento científico. Modelos têm sido usados como simplificação da realidade a milênios, presentes em um tipo especial de interpretação humana, pautada no raciocínio, que inspirará grandes correntes filosóficas como o racionalismo. Aos clássicos filósofos gregos devemos a paternidade de diversas construções racionais mentais elaboradas na forma de modelos, como o modelo atômico de Demócrito (400 a.C.), e os modelos da mecânica celeste, como os de Hiparco (por volta de 150 a.C.) e Ptolomeu (por volta de 150 d.C.), célebres também por suas contribuições a geografia e a esquematização do sistema de coordenadas para localização de pontos na superfície terrestre. O que há de especial no século XX é o refinamento possibilitado pelos avanços da matemática, que possibilitou a construção de modelos mais fidedignos e o avanço nas tecnologias computacionais, que permitiram não só calcular volume imenso de dados, e assim gerar modelos que incluíssem centenas de variáveis, mas também, suporte a representação espacial dos fenômenos e suas interações, com sistemas de informação geográfica capazes de simular com esmero a totalidade do globo. A 1 Geógrafo e Mestrando em Geografia pela Unesp/Rio Claro. E-mail: [email protected] IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009438 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ possibilidade de construção desses modelos será basilar para o desenvolvimento da análise espacial, que em muito contribui para a Geografia. Sustentando estes avanços técnicos, existe uma nova forma de se compreender a estruturação dos fenômenos, pautada não mais na partição e minúcia exaustiva das partes e sim, na interação e relações entre os elementos, que surge na década de 1930 e ganha expressão nas décadas de 1950 e 1960, conhecida como Teoria dos Sistemas Gerais. Entender e visualizar o mundo na forma de sistemas exige a construção das variáveis destes sistemas, e, por conseguinte, faz avançar a necessidade de modelagem. 2.Modelos: tipos e definições Podendo ser considerados como uma teoria, uma lei, uma hipótese, uma idéia estruturada, uma função, uma relação, uma equação ou uma síntese de dados (HAGGET; CHROLEY, 1974, p.3); empregados geralmente como adjetivo para exemplificar um grau de perfeição; como substantivo, para sugerir uma representação; ou como verbo, na demonstração de como algo é (HAGGET; CHROLEY, 1974, p.4); os modelos são exemplarmente apresentados por Christofoletti (1999, p.8), de acordo com definição de Haggett e Chorley (1967; 1975) como: uma estruturação simplificada da realidade que supostamente apresenta, de forma generalizada, características ou relações importantes. Os modelos são aproximações altamente subjetivas, por não incluírem todas as observações ou medidas associadas, mas são valiosos por obscurecerem detalhes acidentais e por permitirem o aparecimento dos aspectos fundamentais da realidade. Complementam-se ainda, de acordo com Haggett e Chorley (1974, p.3), com o ponto de vista geográfico, com as translações no espaço de argumentos sobre o mundo real, que irão originar os modelos espaciais, e ainda no tempo, originando modelos históricos. É importante colocar as principais características relacionadas a vantagem do uso de modelos, e dentre as principais temos as de estruturação, que permite selecionar variáveis da realidade permitindo que sejam exploradas e entendidas as relações, a seletividade garante uma aproximação com o real, analogias que tornam mais familiares, acessíveis e explicáveis, aspectos do mundo (HAGGET; CHROLEY, 1974, p.5) e; a reaplicabilidade, que permite o teste na esfera real da validade do modelo frente aos fenômenos que este visa explicar, garantindo certa ligação com os pressupostos do método científico. IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009439 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ Os tipos de modelos podem ser agrupados de acordo com suas finalidades e formas de representação da realidade. Algumas das principais tipologias de modelos, segundo geógrafos que trataram do tema podem ser observadas no quadro 1 a seguir: IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009440 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ QUADRO 1 – Tipologia de Modelos YEATES (1968); HAGGETT (1965) HAGGETT (1965) Modelos Icônicos: Modelos escala tridimensionais diferente original geralmente do (em em objeto geografia, usa-se modelos CHORLEY (1968) KING E COLE (1968) KING E COLE (1970) Modelos Matemáticos: Modelos Matemáticos: Modelos Conceptuais ou Teóricos: Envolve (a) Determinísticos – representam (a) Podendo oferecer paradigmas matemática dos processos da processos reais de causa e efeito para a Geografia vida (b) (b) Podendo auxiliar na formulação real representação ou de testes de hipóteses sobre a vida real. Estocásticos – representam situações probabilísticas, onde não reduzidos do objeto) Modelos Análogos de tipos de explicação há certeza do efeito de determinada causa. Modelos Análogos: Modelos Experimentais: Modelos Experimentais: Modelos de Simulação: Propriedades e materiais da vida Envolve procedimentos práticos, (a) Modelos Escalares – usa os (a) Estocásticos/Probabilísticos – real geralmente em laboratório, para mesmos materiais da realidade simulando demonstrar uma situação real. (b) são representados por diferentes propriedades e materiais no modelo, não necessariamente tridimencional Modelos Análogos – usa processos físicos e humanos Modelos Teóricos diferentes materiais para representar (b)Matemáticos/Determinísticos – eventos da realidade para testar processos físicos ou oferecer normas de comportamento humano passíveis de comparação Modelos Naturais: Modelos Naturais: Envolve a analogia em comparar (a) comparar o fenômeno a ser Modelos Simbólicos: o conhecido com o desconhecido, estudado com algo melhor que se Representados por símbolos matemáticos ou mapas de forma verbal ou gráfica. conhece (a) Estáticos (b) comparar o fenômeno a ser (b) De Trabalho estudado com algo que é mais (c) Bidimensionais Modelos Escalares: acessível para estudo ou experiência Modelos Matemáticos Mapas Modelos Escalares Modelos Estocásticos e de Simulação Fonte: Elaborado a partir de Minshull, 1975, p.33-35. IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009441 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ Os diversos tipos de modelos apresentados no quadro tipológico tem em comum o fato de iniciarem de uma problemática referente a um fenômeno da superfície terrestre. Modelar estes fenômenos na busca de explicações é um processo que na maioria das vezes leva a necessidade da análise espacial, já que, criando uma aproximação conceitual com explicações hipotéticas, o passo seguinte seria tomar três caminhos passíveis, ou percorrer os três: (I) formular o modelo em linguagem matemática, (II) criar um modelo escalar e (III) definir elementos e funções por analogias para o modelo. Os caminhos que seguem a partir destes desdobramentos são visualizados na figura 1. É importante ao geógrafo notar que, o processo se inicia e termina nos fenômenos da superfície terrestre. FIGURA 1 – SISTEMATIZAÇÃO PARA O USO DE MODELOS FONTE: Minshull, 1975, p.26. IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009442 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ 3.Modelos clássicos em Geografia Econômica: das relações campo/cidade as teorias de localização As primeiras contribuições em termos de modelos que enfocassem a questão espacial dos fenômenos econômicos vieram da Economia, ramo que já estava mais familiarizado com o uso de modelos, e com as abstrações matemáticas, onde as críticas construtivas só fizeram avançar esta ferramenta e deixaram hiato significativo com a seara da Geografia Econômica até o presente. A preocupação era com relação às questões locacionais e teve em sua órbita temas significativos da geografia, como as questões de concentração e desconcentração espacial, aglomerações, pontos ótimos, custos da terra e etc. O economista alemão Johann Heinrich Von Thünen é reconhecido como o primeiro a tratar tais temas, na sua obra A Teoria do Estado Isolado, de 1826, enfocando a relação campo-cidade. Seu modelo é marcante pela originalidade e pela forma como trata e agrega os fatores que direcionam as relações econômicas. As críticas que recaem sobre seu estudo são de certa forma inocentes e pouco atentas a temática e ao papel dos modelos e seus variados tipos. São apontados falhas quanto ao alto grau de idealismo e da pouca reaplicabilidade do modelo, pois as condições necessárias eram dificilmente encontradas. Faltou atenção quanto ao estágio desta modelagem. O modelo de Von Thünen obviamente é um modelo altamente idealizado, e nem poderia ser de outra forma, já que é uma preocupação inicial em tentar buscar no cerne das relações econômicas básicas de formação de preços, elementos comuns que pudessem ser extraídos para uma posterior elaboração e aplicação em fenômenos concretos, onde nestes as variáveis necessariamente deveriam ser repensadas. O espaço no modelo de Von Thünen é homogêneo com condições uniformes de tecnologia e recursos naturais, o mercado e o transporte são únicos, mantendo uma concorrência perfeita. Esta forma seletiva que leva a um alto grau de abstração foi a que propiciou extrair explicações dedutivas e pressupostos de interações que deram início a estudos posteriores. IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009443 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ FIGURA 2 - MODELO CONCÊNTRICO DE VON THÜNEN PARA USO DA TERRA FONTE: BARNES, 2003. Contido na obra de Von Thünen “The Isolated State” Em 1909 é publicada a obra Teoria da Localização das Iindústrias, de Alfred Weber. Também de origem alemã, Weber defendia a utilização de modelos causais que auxiliassem os pressupostos ligados a Escola Historicista Alemã, onde a história desempenhava papel principal para a análise dos fenômenos e de certa forma impedia a proposição de teorias universais aplicáveis em quaisquer tempos e locais. Esta concepção não impediu que Weber idealizasse um modelo semelhante a visão dos neoclássicos, aliando geometria e linguagem matemática para buscar um ponto ótimo de localização de estabelecimentos industriais, tomando como pontos de referência os mercados consumidores e fornecedores. Weber também tratou as questões ligadas a aglomeração e desaglomeração de indústrias. IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009444 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ FIGURA 3 – TRIÂNGULO LOCACIONAL DE WEBER FONTE: Weber, 1929, p.229. Buscando encontrar as leis especiais da geografia econômica que determinavam a organização das cidades (GETIS; GETIS, 1984), Walter Christaller foi pioneiro no desenvolvimento de uma teoria elaborada estritamente no seio da Geografia, a Teoria dos Lugares Centrais, presente em sua obra Die zentralen Orte in Süddeutschland2 (1933). O interesse de Christaller estava em entender a cidade como centro de uma região, não levando em consideração os demais locais dispersos ligados a outras áreas, além disso, ele propôs um modelo de hierarquia entre os diversos lugares centrais, algumas cidades, exerciam influência sobre vastas áreas circundantes que tinham centros menores. Neste tipo de modelo pode-se chegar também a conclusões relacionadas a disposição das pessoas em se deslocar para determinados centros a procura de certos bens e o quão é válido este tipo de movimento, em termos ideais e reais. A partir destas idéias, Christaller irá formular uma estrutura matemática que espacialmente, em sua forma ideal, deu origem aos famosos polígonos hexagonais, observados na figura a seguir, que mostra as ligações entre os centros G, B e K da teoria: 2 Lugares Centrais no Sul da Alemanha, sem tradução para o português. IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009445 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ FIGURA 4 – CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DA REDE K=3 DO MODELO DE CHRISTALLER FONTE: Getis e Getis, 1984, p. 90. A grande contribuição que viria com o modelo de Lösch seria a união de vários modelos locacionais já empregados, criando uma estrutura analítica unificada (BARNES, 2003, p.80). Contando com a Teoria do Equilíbrio Geral e com a Teoria dos Lugares Centrais desenvolvida por Christaller, Lösch estrutura sua obra The Spatial Organization of the Economy (1940) em dois pilares fundamentais apontados por Barnes (2003): o primeiro fundamentado nas leis físicas e na ordem matemática, o segundo, em uma visão holista, com propriedades emergentes e evolução imprevisível. Diferentemente de Christaller, Lösch parte dos sistemas de menor ordem hierárquica, as fazendas auto suficientes, para os maiores níveis. Ele reconheceu o potencial para as grandes cidades para dominar uma grande área e considerou pouco provável que os sítios urbanos seriam distribuídos de forma ordenada. Ao invés da influência das grandes cidades, através da gama de serviços prestados, haveria restrição do desenvolvimento nas proximidades de altos e médios sítios urbanos. O resultado de seu trabalho era criar um modelo de padrões de sítios urbanos conhecido como a "paisagem Löschiniana", onde nesta paisagem, os pequenos níveis hierárquicos podem ser encontrados perto de povoações muito grandes e centros metropolitanos, ao passo que sítios urbanos de alta ordem podem ser encontrados a uma IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009446 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ distância considerável. Além disso, caracteriza-se por delimitação de setores que irradiam a partir do centro dominante. Alguns dos setores podem conter mais sítios que outros. Lösch descreve estes setores como sendo cidades-ricas, aquelas com alguns povoados são considerados cidades-pobres. FIGURA 5 – O MODELO DE LOCALIDADES CENTRAIS DE CHRISTALLER E SUA ADAPTAÇÃO POR LÖSCH FONTE: "Central Place Theory," Microsoft Encarta. Online Encyclopedia, 2009. 4.Análise espacial de fenômenos econômicos com auxílio de modelos Os estudos ligados a temática regional na década de 1960, enfocando os padrões espaciais, aliados ao desenvolvimento da quantificação são apontados por Christofoletti (1999, p.30) como marco de origem para a análise espacial. Dentro desta forma de análise, dois tipos de abordagem são possíveis de início: (I) análise estatística dos dados espaciais; sendo a mais adequada para tratar os padrões e processos espaciais e (II) modelagem espacial; que enfoca a estruturação, funcionamento e dinâmica dos modelos (CHRISTOFOLETTI, 1999, p.30). Em geografia econômica, duas tradicionais linhas foram delineadas para o uso de modelos, sendo a primeira ligada a modelos de desenvolvimento e a segunda, a modelos de localização. No primeiro caso, a variação entre modelos conceituais e teóricos e entre matemáticos esta relacionada a escala em que se desenvolve o modelo, IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009447 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ enquanto que no segundo, prevalecem modelos de simulação e com notações matemáticas, ainda que não se exclua a possibilidade de modelos teóricos. Keeble (1967) oferece um quadro tipológico esclarecedor para os modelos de crescimento econômico, em seguida são apresentados alguns exemplos de modelos específicos. QUADRO 2 – TIPOLOGIA DE MODELOS ECONÔMICOS DE CRESCIMENTO FONTE: Adaptado de Keeble, 1967, p.247. FIGURA 6 - MODELO ESTRUTURAL DAS LIGAÇÕES HIERÁRQUICAS NA MODERNA ECONOMIA MUNDO FONTE: Straussfogel, 1997, p.124. IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009448 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ FIGURA 7 - MODELO DE DETERMINANTES DE CRESCIMENTO INTERREGIONAL FONTE: Webber, 1997, p.423 Para a análise espacial dos fenômenos econômicos é importante definir a qual linha este fenômeno se enquadra, sendo geralmente esperado um resultado empírico propiciado por elaboração matemática, podendo este ser derivado de um modelo teórico. Portanto, é importante definir um fenômeno econômico que tenha representação espacial, e que a partir dela se possam extrair informações que ajudem a analisar problemas. Custos da terra, aglomerações, difusão de inovações, reestruturação da indústria, concentração/desconcentração de atividades, fluxos de manufaturas, medidas de decisão, são tradicionais campos de estudo para a análise espacial de fenômenos econômicos. Diversas formas de análise espacial são possíveis, ligadas a interações, correlações e regressões espaciais. No enfoque tratado aqui, relativo a modelagem para a análise espacial em geografia econômica, algumas formas de análise são pertinentes aos fenômenos elencados anteriormente. A questão relativa aos custos da terra pode ser tratada de acordo com os valores de aluguéis com relação a preços e demanda do solo urbano e suas respectivas distâncias de centros importantes, ligando-se inclusive a questões de economias externas e de fatores de desaglomeração, aos moldes do modelo de Círculos Concêntricos de Burgess (1921), inspirado em Von Thünen. Interações complexas podem ser extraídas desse modelo ao se criar sistemas input-output ligando os diversos setores econômicos. A modelagem de autômatos celulares coloca um quadro fixo do espaço, como as células da rede, e especifica as regras que ditam o estado de uma célula com relação ao estados das outras células. À medida que o tempo avança, padrões espaciais surgem, como estados celulares mudando de acordo com seus vizinhos, o que IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009449 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ altera as condições para períodos de tempo futuro. Tomando uma localização como célula, os estados podem representar os diferentes usos da terra, permitindo que se identifique padrões de direcionamento da expansão urbana que afetem os custos da terra para as zonas de negócios e de residências. A difusão de inovações no espaço teve como marco os estudos de Hägerstrand (1963) que empregou o modelo estocástico conhecido como Simulação Monte Carlo, e Brown (1964) e Clark (1965) que empregaram o modelo estocástico de Cadeias de Markov. Este tipo de modelagem apresenta significativos resultados quando aplicados a eventos probabilísticos, eventos estes que permeiam de sobremaneira o universo da economia. A análise no tempo e espaço dos fluxos entre setores econômicos, permite explicar as mudanças estruturais da economia de uma cidade, região ou país, indicando possíveis estágios de desenvolvimento do setor produtivo. Com respeito a concentração e desconcentração de atividades, a mensuração e destino dos fluxos dentro de um panorama regional pode demonstrar empiricamente que tipo de movimento industrial esta ocorrendo, a aplicação de modelos gravitacionais pode oferecer significativos resultados para a análise espacial, auxiliando no entendimento da dinâmica entre os centros de diferentes portes. A síntese das formas de análise apresentadas e seus respectivos modelos constam no quadro a seguir: QUADRO 3 – ANÁLISE ESPACIAL E MODELOS CORRESPONDENTES ESPAÇO TEMPO INTRA - REGIONAL Conjuntos Fluxos INTER - REGIONAL Comparação de Conjuntos INTERAÇÃO Fluxos ESPACIAL Estático / Input/Output Quociente Input/Output Modelos Gravitacionais Transversal Regional Locacional Interregionais Análise de redes Multiplicadores Multiplicadores Multiplicadores Regionais Interregionais Gravitacionais de base Análise Comparativa e Estática Análise Taxa de Transversal variação Comparativa regional Análise multiperíodo Análise Dinâmica Análise de Componentes de Variação (shift-share) Análise Análise Regional Interregional Coorte Migratória Coorte Modelos Espaciais Estocásticos Modelos de Difusão IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009450 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ 5.Considerações Finais O uso de modelos é amplamente difundido dentro da área econômica. Em geografia, especialmente na parte relativa a economia, o uso pioneiro de modelos possibilitou avanço significativo para a formulação teórica e entendimento de fenômenos, além de ter contribuído para o fortalecimento da análise espacial, enriquecendo e desenvolvendo este campo da geografia. No entanto, o salto singular ocorrido inicialmente na década de 1950, e que trouxe incontáveis avanços para a análise espacial e modelagem, encontrou forte resistência no contexto nacional brasileiro. Se no exterior a analise espacial com o uso de modelos avançou, e aliada aos avanços da informática possibilitou o surgimento de uma gama de estudo que trouxeram significativos resultados para problemas reais, no Brasil este cenário se encontra quase que estagnado, relegando a análise espacial a sistemas de informação geográfica, e mais ainda, relegando estes a um papel secundário dentro da geografia, colocando a formação do geógrafo em sérias dificuldades e questionamentos. Retomar a questão da análise espacial e do uso de modelos é questão primordial e emergencial para superar o grande abismo que separa a evolução deste campo no contexto nacional e no contexto brasileiro. A geografia em seu campo econômico pode ser novamente o passo inicial para esta questão, suas problemáticas são extremamente férteis para o desenvolvimento deste tipo de análise. A geografia nacional como um todo precisa superar esta carência. 6.Referências BARNES, T. J. The place of Locacional Analysis: a selective and interpretative history. Progress in Human Geography. v27, n1, 2003. p.69-95. CHORLEY, R. J; HAGGETT, P. Models in Geography. London: Methuen, 1967. CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Ed. Edgard Blücher, 1999. ENCICLOPÉDIA ENCARTA. “Central Place Theory," Microsoft® Encarta® Online Encyclopedia 2009. Disponível em: http://au.encarta.msn.com © 1997-2009. IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009451 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4 PICCOLI NETO, D. O uso de modelos para análise espacial em geografia econômica. p.438-452. _________________________________________________________________________________________________ GETIS, A; GETIS, J. A Teoria dos Lugares Centrais de Christaller. Orientação – Instituto de Geografia da USP. n.5, Outubro de 1984. HAGGETT, P; CHORLEY, R. J. Modelos, Paradigmas e a Nova Geografia. In: CHORLEY, R. J; HAGGETT, P. Modelos Integrados em Geografia. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1974. p.1-22. MINSHULL, R. An Introduction to Models in Geography. London: Longman, 1975. STRAUSSFOGEL, D. World-Systems Tehory: Toward a Heuristic and Pedagogic Conceptual Tool. Economic Geography. v.73, n1, 1997. p. 118-130. WEBBER, M. Profiability and Growth in Multiregion Systems: Prologue to a Historical Geography. Economic Geography. v.73, n.4, 1997. p. 405-426. WEBER, A. Theory of the Location of Industries. Chicago: The University of Chicago Press, 1929. IX Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro, 3 a 5 de novembro de 2009452 http://sites.google.com/site/seminarioposgeo/anais ISBN: 978-85-88454-19-4