1.2 A Celebração do Domingo ao redor da Palavra de

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O valor do Domingo na Doutrina Católica
Pe. Valdecir Bressani
[email protected]
Introdução
Dentro da caminhada de expressão litúrgica da Igreja, queremos aprofundar o valor e sentido do
Domingo para o cristão de hoje, com base nas experiências das primeiras comunidades e também tudo
quanto a Igreja tem dito por meio de seus Pastores e estudiosos. O Domingo é festa primordial porque é a
primeira e a mais antiga festa celebrada pela Igreja. Por isso o Domingo é como a espinha dorsal do ano
litúrgico, do qual possui "fundamento e núcleo".
Desde as primeiras comunidades cristãs, a Ressurreição é lembrada como elemento central na vida
de fé. A Igreja celebra a vitória de Cristo sobre a morte. O dia por excelência para celebrar esse mistério
pascal passou a ser o Domingo, por ser o dia da ressurreição do Senhor. Assim, surgiu a páscoa
semanal, com celebração litúrgica da assembléia e da comunidade, assumindo um caráter de festa, de
alegria de nova criação.
Essa assembléia como reunião, assume-se como um signo, um símbolo de compromisso, aliança
de convocação em nome de Deus, com o fim de se comemorar e relembrar, enfim celebrar a assembléia
escatológica. E nela se fazem presentes a fé, a liberdade, a reconciliação, e a sua santidade pela presença
do Espírito Santo por que "Deus está presente quando duas ou mais pessoas estiverem reunidas", unindo
e plenificando todas as alianças.
Ao celebrar a Ressurreição na festa dominical, o cristão é chamado a lembrar a salvação que lhes foi
oferecida no batismo e que o tornou homem novo em Cristo. Os nossos primeiros irmãos na fé viveram
intensamente o Domingo, porque penetraram na profundidade do seu mistério.
Na tentativa de reunir as diversas opiniões sobre o Domingo, evidenciando seu valor e sentido à
comunidade cristã, consultamos cinco autores, entre eles o Papa. Apesar de todos falarem sobre o mesmo
assunto, veremos que cada um aborda o Domingo com algumas particularidades. Não há como esconder
aquilo que é comum em todos eles. Por isso, algumas coisas se repetem. O trabalho apresenta separadamente
a visão de cada autor, procurando ser mais coerente com o desenvolvimento de cada um, evitando uma
“bricolagem” de pensamentos.
1. Cinco abordagens a respeito do Domingo.
1.1 O Domingo na visão de Frei Alberto Beckhäuser, O. F. M.
 Domingo, o Dia do Senhor.
A palavra Domingo deriva do latim Dies dominica. Significa dia senhoril ou dia do Senhor. O
Domingo é, portanto, o Dia do Senhor Jesus Cristo e também o dia daqueles e daquelas que participam
deste senhorio.
O Domingo, Páscoa semanal dos cristãos, tem elementos inspirados na Páscoa semanal dos
judeus, o Sábado. A celebração semanal da Páscoa ou o Sábado, sobretudo na Liturgia das sinagogas,
compunha-se de dois elementos essenciais: o repouso e o culto, que consistia na celebração da Palavra
de Deus.
Os cristãos começam a celebrar não mais o Sábado e sim o primeiro dia da semana. Jesus é a
verdadeira Páscoa, passagem libertadora de Deus por este mundo, fazendo a nova e eterna aliança com a
humanidade. O primeiro dia da semana é considerado o Dia do Senhor porque foi neste dia que o
Senhor Jesus ressuscitou, vencendo a morte e tornando-se o Senhor da vida. Agora, o Domingo tem por
finalidade realizar plenamente o que foi prefigurado e iniciado por Deus no Sábado do Povo eleito do
AT.
Segundo Frei Alberto, na Páscoa da ressurreição de Cristo, temos estas duas grandes dimensões:
a redenção e a nova criação. A Páscoa de Cristo é redentora ou libertadora, como também a nova vida
tem início no Cristo ressuscitado. Acontece que, “a criação, a redenção e nova criação em Cristo são
celebradas e pela celebração tornam-se presentes, sobretudo pela assembléia eucarística dominical,
com tudo aquilo que ela comporta” (p. 37).
Quanto ao sentido dos vários nomes da Páscoa semanal, são destacadas três palavras usadas
pelos primeiros cristãos: Dia da ressurreição do Senhor, Domingo e Oitavo Dia. Estes três títulos
lembram a finalidade de comemorar o Senhor ressuscitado; vivenciar o Senhor ressuscitado presente na
comunidade cristã; esperar o Senhor ressuscitado como aqueles que buscam viver segundo o seu
Evangelho.
 O Domingo como festa da vocação integral do homem em Cristo.
O homem é chamado à comunhão de vida, de amor e de felicidade com Deus. Isto deve
acontecer também por meio da harmonia com o próximo, seu companheiro no amor, abraçando a
realidade criada, como sacerdote, rei, profeta.
É no Domingo que os cristãos são convidados a exercerem de modo intenso sua vocação
profética através do exercício do amor, da celebração do amor conjugal, familiar e do amor fraterno na
sociedade. Aos Domingos os cristãos são convidados a exercerem de modo especial a sua vocação de
senhores e senhoras da criação. Basta que o homem creia em Jesus Cristo e procure viver de acordo com
os seus ensinamentos.
 O Domingo é festa de Cristo e da Igreja.
O Domingo é celebração da Aliança entre Cristo e a Igreja. É o dia da renovação do
compromisso da Aliança selada no dia do Batismo e fortalecida pela Crisma. Para melhor expressar
isso, o autor fala de seis dimensões: dimensão comunitária e participativa, através dos ministérios, das
vocações e doa carisma a serviço da comunhão; a dimensão missionária, que deveria transparecer em
cada celebração dominical; a dimensão catequética, onde lembra que por excelência o Domingo é dia
da catequese; a dimensão litúrgica, que se manifestará na assembléia eucarística e na celebração dos
demais sacramentos; a dimensão ecumênica e de dialogo religioso, celebrando a unidade e presença da
salvação no mundo; a dimensão profética e transformadora, onde o cristão é capaz de levar para a
comunidade eucarística aquilo que realizou por sua vocação e missão profética e transformadora na
sociedade humana.
 O Domingo como uma festa escatológica.
Pelo culto dominical, sobretudo a eucaristia, os cristãos reúnem-se em assembléia reconciliada.
Cristo, o Senhor da vida, torna-se presente e presta culto ao Pai e se dá como o Pão da vida e garantia de
imortalidade. A comunidade vive a realidade última de celebrante da glória do pai. O reino futuro tornase já presente. Trata-se de um momento do eterno já presente. Ainda não é definitivo. Pelo fato de o
domingo apontar para o definitivo e torná-lo presente, torna-se também um compromisso.
 Os elementos da Celebração do Domingo.
Os elementos principais são a festa de comemoração do Senhor Jesus, a festa de sua presença na
comunidade e a espera pela vinda do Senhor. A maneira mais forte de evocar e tornar presente o Cristo
ressuscitado é, sem dúvida, o culto, especialmente a celebração dos sacramentos, especialmente da
eucaristia. Mas não somente a eucaristia. Aconselha-se a celebração do Batismo, Crisma, Matrimônio,
Penitência. Deveríamos pensar também na Pastoral dos enfermos aos domingos.
O ressuscitado pode ser evocado e tornado presente também pelo repouso dominical. Um
terceiro elemento na linguagem do domingo pode ser o serviço da caridade, o exercício da gratuidade; o
exercício das obras de misericórdia espirituais e corporais.
 Os domingos do Tempo Comum.
O Domingo como Páscoa semanal constitui a base do Ano Litúrgico. Os Domingos do Tempo
Comum devem ser vividos como a celebração da Páscoa semanal de Jesus Cristo e dos cristãos. O que
deveria caracterizar os Domingos do TC deveriam ser os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.
Importante ter presente que os evangelhos dominicais, iluminados pela leitura do AT e aplicados à vida
cristã pela leitura das Cartas dos Apóstolos, propõem ou ilustram uma experiência pascal.
1.2 A Celebração do Domingo ao redor da Palavra de Deus – Ione Buyst – visão pastoral
Ione trabalha o sentido do Domingo mais numa perspectiva prático-pastoral. Segundo ela, no
tempo de Jesus existia o Sábado: dia em que ninguém trabalhava, dia de descanso, também para os
escravos e animais. Na verdade, este era um dia dedicado ao Senhor Deus que criou todas as coisas e fez
aliança com seu povo. Com o tempo o Sábado se tornou um peso na vida do povo. O grande
questionamento, feito também por Jesus, era de que a vida deveria estar em primeiro lugar. Bem que
Jesus tentou recuperar o sentido original do Sábado: ele deve ajudar o homem a se libertar, a festejar a
libertação e a louvar o seu Deus.
Depois da morte de Jesus, aos poucos, o primeiro dia da semana foi se tornando para os cristãos
o dia mais importante. Paulo se reúne com a comunidade no primeiro dia da semana (Atos 20,17);
organiza uma coleta para ser feita no primeiro dia da semana (1Cor 16,2). A Didaqué orienta: reuni-vos
no dia do Senhor para a fração do pão e agradecei... No século III, 31 homens e 18 mulheres foram
mortos por continuarem se reunindo aos domingos, desrespeitando a proibição imposta. Foram os
Mártires de Abitina, norte da África.
Segundo Ione, após o Concílio Vaticano II, estamos redescobrindo a importância do domingo na
vida dos cristãos como o Dia da Ressurreição, dia da reunião dos cristãos. A verdade é que, a cada
semana, no dia chamado domingo, ela, a Igreja, recorda a Ressurreição do Senhor.
Numa questão pastoral, lembra a autora, na prática judaico-cristã, o Domingo já começa de certo
modo no Sábado à noite, do mesmo modo que a Páscoa começa com a Vigília pascal. Por isso, o Dia do
Senhor pode ser celebrado no domingo mesmo ou também no sábado à noite.
A participação do cristão no mistério pascal de Jesus Cristo, se dá por meio de uma presença
ativa, externa, interior, consciente, plena e frutuosa. O Mistério pascal é, pois, a constante passagem do
Senhor em nossa vida, para nos arrastar em sua Páscoa. Ele está presente na Igreja que celebra.
O domingo é dia de festa. Dia de ação de graças e de louvor. Dia de alegria. Dia em que
lembramos, afirmamos, cremos e confirmamos, com gestos, palavras e cantos, que a morte foi vencida
pela vida, quer a miséria e a opressão um, dia vão ter fim, porque Deus ressuscitou Jesus e nos
ressuscita junto com Ele.
Sem escândalo, podemos dizer que a missa é a celebração mais apropriada para o Domingo. A
eucaristia é que constitui a comunidade como célula viva da Igreja, por meio da qual toda a Igreja se
manifesta. O Domingo torna-se importante por ser o dia da reunião dos cristãos para celebrar a memória
do Senhor Jesus. Nenhuma comunidade pode viver sem a eucaristia. O normal seria que cada
comunidade pudesse celebrar a eucaristia todos os domingos. Na falta da celebração eucarística, lembra
a autora, por limitações pastorais, devemos celebrar a memória de Jesus de outra forma: a Celebração da
Palavra. Esta também tem força sacramental. Cristo se torna presente e faz com os cristãos que dela
participam, na comunidade, participem também do seu mistério pascal.
A Palavra anunciada, ouvida e aceita na fé é lembrança de Jesus Cristo: sua vida, morte e
Ressurreição. Assim como a eucaristia, a Palavra também é Pão da Vida.; o único Pão da Vida é
partilhado de duas maneiras: á mesa da Palavra e à mesa da eucaristia. Neste sentido, nenhum dos
cristão deve colocar em dúvida o valor da celebração da Palavra, acontecimento real em milhares de
comunidades brasileiras. Podemos ter ainda a celebração da Palavra com a distribuição da comunhão.
Isto não deve ser entendido como substituição à missa. Missa é missa. Celebração da Palrava, com ou
sem comunhão é outra coisa.
Importante perceber como Ione lembra o valor da assembléia litúrgica. Não se trata de um
aglomerado de pessoas, como acontece em outras oportunidades. Trata-se de uma reunião de irmãos que
se reconhecem filhos do mesmo Pai. Por isso reconhecem-se chamados a formarem um só corpo em
Cristo Jesus. Todavia, “é importante que a liturgia do Domingo seja feita em clima de muita amizade,
muito amor, simplicidade, alegria e espontaneidade, como uma reunião de família, um encontro de
irmãos”1.
1
Ione Buyst. Celebração da Palavra de Deus. Petrópolis: Vozes, 1990, p.35.
Para que a celebração seja de fato um encontro, necessita que haja acolhimento fraterno entre os
presentes. Por isso as pessoas que chegam a primeira vez à comunidade precisam ser apresentadas. Os
ausentes também precisam ser lembrados. Uma comunidade que prepara bem sua celebração, é capaz de
motivar a participação de todos, fazendo com que todos cantem, rezem, etc. O abraço da paz é
importante, bem como as motivações apresentadas para a coleta: tudo em comum.
A cada Domingo, a comunidade se reúne, animada pelo Espírito, em torno de Jesus, verdadeira
Palavra de Deus. Em comunidade, é lembrando aquilo que Ele fez, principalmente sua morteressurreição. A vida da comunidade deve ser levada em conta para que a celebração seja produtiva e
encarnada. Não há como separar Bíblia, vida e comunidade. O constante diálogo que acontece na
celebração coloca os homens diante de Deus. Tudo o que fazemos na liturgia deve ser marcado pela
oração, abertura diante de Deus, acolhida e entrega, entrosamento, favorecendo a comunhão com Deus.
A oração da comunidade é a oração de toda a Igreja, presente nos mais diversos lugares do mundo.
1.3 Liturgia: a família de Deus em festa – Pe. Gregório Lutz.
Em setembro de 303, Diocleciano, imperador romano, mandou destruir todas as Igrejas cristãs e
impedir todas as reuniões litúrgicas cristãs. Aconteceu que em Abitina, perto de Cartago, foram presas
49 pessoas: 18 mulheres e 31 homens. Todos foram condenados à morte. Restam-nos alguns fragmentos
de seus testemunhos e de suas razões para tais encontros: “não podemos ser sem a assembléia do
Senhor” , “não podemos existir sem a assembléia do Senhor”. “O Domingo não pode ser celebrado
sem a nossa presença e participação”.
A verdade é que eles sabiam que a Igreja é a comunidade dos que foram chamados por Deus.
Uma Igreja que acontece com a reunião dos seus. Portanto, a Igreja de Cristo não algo invisível,
somente espiritual. Dela nascem os membros, pelo batismo e alimentados pela eucaristia. Acreditavam
que, a Igreja reunida, recebe a força de viver, escutando a Palavra de Deus que a orienta; alimentando-se
daquilo que lhe dá força para desempenhar seu papel de ser testemunha de Deus, com fé, esperança e
amor.
Outro aspecto importante é a fé na Ressurreição do Cristo e dos cristãos, alimentada pelas
primeiras comunidades. Em lugar do Sábado dos judeus, os cristãos santificaram o Domingo. Aliás, foi
no Domingo que Cristo ressuscitou. No mesmo dia apareceu aos apóstolos e aos dois no caminho de
Emaús. Apareceu ainda aos Apóstolos, reunidos no Domingo seguinte à ressurreição e sete semanas
depois, também num Domingo, derramou o Espírito Santo.
Nesta nova realidade, eles queriam entrar sempre mais na celebração do mistério pascal, da morte e
ressurreição de Cristo. Também tinham a consciência de que este Senhor ressuscitado, vivo, está no
meio daqueles que se reúnem em seu nome, para juntos com Ele, agradecer ao Pai; celebrar com Ele a
Ceia, entrar no sacrifício que Ele ofereceu de uma vez por todas.
Um terceiro elemento é o caráter festivo do Domingo e da missa dominical. O que faz do
Domingo uma festa é a missa. Na missa, antecipamos a festa da eternidade. O sentido de nossa vida é
chegar à festa eterna, celebrada antecipadamente na Missa. A Igreja se reúne regularmente para cumprir
um mandamento do senhor: “Fazei isto para celebrar a minha memória... Onde dois ou três estiverem
reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20).
Segundo um documento das primeiras comunidades, a Didascália, temos a exortação: que o povo
não falte à assembléia da Igreja, mas seja fiel em reunir-se. Que ninguém diminua a Igreja não
comparecendo para não se diminuir de um membro de Cristo”.
O costume de reunir-se continua na Igreja. O mandamento da Igreja é apenas um lembrete. Para
aqueles que acham difícil a participação na celebração dominical, lembra o catecismo holandês: “uma
hora por semana não é muito para quem acredita que sua vida e felicidade profluem das mãos do
Senhor”.
1.4 Domingo, Páscoa semanal dos Cristãos - Frei José Ariovaldo da Silva, O. F. M.
a) dificuldades:
Surgem muitas dificuldades em relação ao Domingo. Uma dela é que, hoje, o Domingo já não é
o mais importante e sim o final de semana. Para muitos, representa apenas a suspensão dos trabalhos;
dia de lazer. Por outro lado, muitos precisam trabalhar no Domingo.
b) Sentido original
Precisamos retomar o sentido do Domingo em sua origem. O primeiro dia da semana coincidiu
com a ressurreição de Cristo. Este dia passou a ter um sentido simbólico muito profundo para os
cristãos. Por um lado, o primeiro dia da semana lembra o início da criação. Com a ressurreição, passou a
ser o dia da nova criação, o dia do começo da nova vida, tanto para Cristo quanto para a sua
comunidade. Foi então que passaram a chamar o domingo de Dia do Senhor. Isto para nós significa a
feliz certeza de que a Vida venceu a morte, para sempre.
c) Páscoa Semanal dos cristãos.
O Domingo, por ser o dia da Ressurreição, é realmente também o dia definitivo do julgamento
de Deus. Ele é o dia que não tem fim; o Primeiro Dia; o Senhor dos dias... Ele representa a Páscoa
semanal dos cristãos. Sendo o dia da ressurreição, é dia dos cristãos, é o nosso dia. Segundo Ariovaldo,
verdadeiro sacramento da Páscoa, este dia nos faz reviver, toda a semana, a mesma experiência dos
primeiros discípulos e discípulas: o Senhor está vivo nas lutas e vitórias da gente, e as lutas e vitórias da
gente ganharam sentido na luta e vitória definitiva de Cristo”2.
Trata-se de uma Páscoa semanal celebrada pela Eucaristia. “No dia do Senhor, reúnam-se para a
fração do pão e a eucaristia (Didaqué). Também é Páscoa semanal vivenciada pelo repouso. O repouso
dominical é um símbolo, um sinal sacramental. O Dia do senhor é a garantia do nosso repouso total em
Cristo ressuscitado, vencedor da morte. Podemos dizer também que o Domingo é dia de festa e alegria.
Um dia de verdadeira ação de graças e louvor. Dia de festa primordial” (SC 106).
d) Os vários nomes dados ao Domingo.
Seguem-se outras tantas denominações dadas ao Domingo: a) Dia do sol. É o dia do sol
verdadeiro, Jesus Cristo ressuscitado, que desfez as trevas do pecado e da morte e resgatou a plena
dignidade do ser humano; b) Oitavo dia. Ultrapassa a semana de sete dias. É o dia que estoura e
subverte o circulo fechado da contagem de sete dias. É o símbolo do dia futuro. A eternidade da vida
está no Domingo. O dia que faz a gente olhar para frente; c) Dia do espírito Santo. Um Pentecostes
semanal da Igreja. É por meio do espírito Santo e no Espírito Santo que o Dia do senhor é celebrado
pelos cristãos. Páscoa e Pentecostes estão presentes de maneira indissociável; d) Dia da Assembléia.
Este é o dia da comunidade. Dia em que a comunidade festeja a sua própria identidade comunitária,
eclesial, conquistada pelo Senhor; e) Dia do Evangelho e da Evangelização. É o dia da semana que,
cada vez, traz a melhor notícia de todos os tempos: Cristo ressuscitou e nós também haveremos de
ressuscitar com Ele. Por isso é dia do Evangelho vivo, ouvido, contemplado, sentido, vivenciado,
celebrado, comido e bebido por nós. Por si só o Domingo é um anúncio evangelizador; f) Dia da
solidariedade. Dia especial para a vivência da fraternidade, especialmente com os mais pobres e
necessitados. É o dia da solidariedade de Cristo para conosco e de nossa solidariedade cristã para com
nossos irmãos mais carentes.
e) Textos significativos sobre o sentido do Domingo.
1. Didaqué – é um convite à fração do pão e à celebração da eucaristia.
2. Santo Inácio de Antioquia (+ 107) – testemunha de que os cristãos passam a observar o
Domingo e não mais o Sábado.
3. Orígenes (254) – “O verbo transferiu a festa do Sábado para o dia em que surgiu a luz, o
Salvador do mundo venceu a morte”.
4. Atas dos Mártires – experiência de pessoas que deram a vida no norte da África em 304,
por estarem reunidos celebrando a eucaristia dominical.
2
Frei José Ariovaldo da Silva. Domingo, Páscoa semanal dos Cristãos. São Paulo: Paulinas, 1998, p.18.
5. São Basílio Magno (330-379) – Fala de uma oração em pé, no Domingo, a fim de que,
mediante a lembrança contínua da vida eterna, não descuidassem dos meios para ter acesso a
ela.
6. São Jerônimo (347-419) – “O dia do Senhor, o dia da ressurreição, o dia dos cristãos é o
mesmo dia”.
7. Santo Agostinho de Hipona (354 – 430) – Fala do Domingo como a essência do fim sem
fim.
8. São Máximo de Turim (séc V) – O Domingo é solene e memorável porque neste dia o
salvador dissipou as trevas e apareceu na luz de sua ressurreição.
9. Eusébio de Cesaréia (séc V) – “O Domingo é o Dia do Senhor porque é o Senhor dos dias.
Foi neste dia que o Senhor deu início às primícias da criação do mundo e no mesmo dia deu
ao mundo as primícias da ressurreição”.
10. Concílio Vaticano II (SC) – O Domingo é um dia de festa primordial que deve ser lembrado
e inculcado à verdade dos fiéis, de modo que seja também um dia de alegria e de descanso do
trabalho (SC106).
11. Código de Direito Canônico – O Domingo, dia em que por tradição apostólica se celebra o
mistério pascal, deve ser guardado em toda a Igreja como o dia de festa por excelência (1246
$1). No Domingo.... os fiéis tem a obrigação de participar da missa...(1247).
12. CNBB – Além de ser o Dia do senhor, o Domingo é também o dia do homem que busca
viver a liberdade. A eucaristia é a celebração primordial do Domingo. São celebração do
Domingo, acolhendo o ressuscitado, que deseja nossa união fraterna, as horas de convivência
alegre e gratificante com os seus, as obras de misericórdia com os que sofrem e a partilha da
Palavra em momento aprofundamento e reflexão. Urge ver no descanso não apenas um
espaço para o ócio, mas a proclamação cristã da libertação dos filhos de Deus de todo o mal,
que o pecado injetou no trabalho através do suor, da ganância, da competição e exploração.
(doc 43).
13. Conferência Episcopal Italiana (CEI) – Lembra o tríplice dom do Domingo: palavra,
sacramento, serviço.
Sem sombra de dúvidas que para os cristãos, o Domingo é o dia mais importante tanto da
semana como também do final de semana. “É o dia da comunidade eclesial, no qual os cristãos fazem
questão de participar de sua celebração dominical, ouvindo a Palavra de Deus, celebrando a
eucaristia, bendizendo pela vida eterna que nos foi dada neste dia, solidarizando-se com os menos
favorecidos, pedindo forças para continuar fiéis ao compromisso batismal, firme esperança de chegar
um, dia às alegrias do repouso sem fim”3 Neste sentido, bendito é o Daí do Domingo, pois foi nele que
se deu o começo da criação, a salvação do mundo e a renovação do gênero humano.
1.5 O sentido do Domingo nas palavras do Papa – Dies Domini
Na opinião do Papa, o Domingo é a Páscoa da semana (1). A ressurreição de Jesus é o dado
primordial sobre o qual se apóia a fé cristã (1Cor 15,14). Para ele, por ser o dia da ressurreição, é o Dia
do Senhor e conseqüentemente é o nosso dia. Porém, nem todos compreendem isso. Muitos esvaziam o
sentido do Domingo. Infelizmente, aos poucos, perde o seu sentido original e se reduz a puro fim de
semana.
O papa recorda o CVII, quando ensinou que ao domingo, os fiéis dever reunir-se para
participarem da Eucaristia e ouvirem a Palavra de Deus, e assim recordarem a Paixão, Ressurreição e
glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que os regenerou para uma esperança viva pela
ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos (SC 106) (6).
Para o Papa, a ligação entre o Dia do Senhor e o dia de descanso na sociedade civil atual, tem
uma importância e um significado que ultrapassam o horizonte propriamente cristão. Para o Santo
Padre, o poder sobre a criação, que Deus concede ao homem, é tão prodigioso que este corre o risco de
esquecer-se que Deus é o criador, de quem tudo depende.
Aos que resistem em respeitar o Domingo e entrar em contato com o Senhor, o Papa lembra: não
tenhais medo de dar vosso tempo a Cristo! (nº 7). E justifica que o tempo dado a Cristo, nunca é tempo
perdido, mas tempo conquistado para a profunda humanização das nossas relações e da nossa vida(nº 7).
3
Frei José Ariovaldo da Silva, O. F. M. Domingo: Páscoa semanal dos cristãos. São Paulo: Paulus, 1998, p.39
O Domingo é também celebração da Obra do Criador. Com isso torna-se celebração da “nova
criação”. Segundo o Papa, a vida inteira do homem e todo seu tempo, devem ser vividos como louvor e
agradecimento ao seu criador. Contudo, “o dia do Senhor” faz com que o homem eleve a Deus o seu
canto, tornado-se eco da inteira criação, porque tudo é de Deus.
O Domingo é o dia do Senhor Ressuscitado, o dia de Cristo. Lembra a forte ligação do Domingo
com a Ressurreição de Cristo. Por isso, o Domingo, com efeito, é o dia em que, mais do que qualquer
outro, o cristão é chamado a lembrar a salvação que lhe foi oferecida no batismo e que o tornou homem
novo em Cristo” (25).
O Domingo é também dia da Igreja: “é a celebração da presença viva do Ressuscitado no meio
de nós, no meio da comunidade cristã. É através da assembléia dos discípulos de Cristo, perpetua-se no
tempo a imagem da primeira comunidade cristã, descrita como modelo por São Lucas nos Atos dos
Apóstolos, quando diz que os primeiros batizados eram assíduos ao ensino doa Apóstolos, à união
fraterna, à fração do pão, e às orações (At 2,42) (nº 32). Toda a comunidade é convidada para lembrar a
ressurreição do Senhor, afirma o Papa. Acreditamos que a celebração dominical do Dia e da Eucaristia
do Senhor está no centro da vida da Igreja. A Eucaristia é o coração do Domingo. Não podemos viver
sem a ceia do Senhor. A assembléia dominical é local da unidade, onde a comunidade manifesta a sua
fé e a sua esperança cristã; encontro com o ressuscitado, pela mesa da Palavra e da Eucaristia. Os
cristãos tem obrigação de participar da Missa.
Graças ao descanso dominical, lembra o Papa, as preocupações e afazeres cotidianos podem
reencontrar a sua justa dimensão: as coisas materiais, pelas quais nos afadigamos, dão lugar aos
valores do espírito: as pessoas com quem vivemos, recuperam, no encontro e diálogo mais tranqüilo, a
sua verdadeira fisionomia (nº67).
Neste sentido, o Domingo é dia de Paz do homem com Deus, consigo mesmo e com os
semelhantes. Por meio do Domingo, o homem é capaz de tornar-se mais consciente a cerca do valor da
criação e assumi-la como dom e bem em sua vida. Com isso, o descanso dominical ganha dimensão
profética. Quer dizer, tem valor não só o primado de Deus, mas também o primado do homem, sua
dignidade de pessoa frente às exigências da vida social e econômica (68).
O Papa entende ainda o Domingo como um dia de solidariedade. Uma oportunidade para as
atividades de misericórdia, caridade e apostolado. A eucaristia dominical tem por finalidade estimular o
cristão à prática da caridade. A reunião dominical deve ser caracterizada pela partilha fraterna. A
eucaristia deve ser entendida como lugar de fraternidade e por isso despertar para a solidariedade,
porque ela pe acontecimento e projeto. Se bem vivido, o Domingo, à luz da eucaristia, torna-se a grande
escola de caridade, de justiça e de paz.
Por outro lado, o Domingo revela também o sentido do tempo. É capaz de prefigurar o dia final,
o dia da Parusia, já antecipada de algum modo pela glória de Cristo no acontecimento da Ressurreição.
Nisto o Papa situa o Domingo no ano litúrgico. È o Domingo que ritma inteiramente os tempos do ano
litúrgico. Torna-se também o momento para celebrar aquelas solenidades do ano litúrgico, cujo valor
espiritual para a existência cristã é tão grande que a Igreja decidiu sublinhar a sua importância, impondo
aos fiéis a obrigação de participar na Missa e observar o descanso, mesmo quando coincidem em dia de
semana (79). O Domingo continuará ritmando o tempo da peregrinação da Igreja até o domingo sem
ocaso. Ele é a alma de todos os dias.
O Papa conclui o documento afirmando que:
“o domingo adquire naturalmente também um valor de testemunho e anúncio. Dia
de oração, de comunhão, de alegria, ele repercute-se sobre a sociedade, irradiando
sobre ela energias de vida e motivos de esperança. O domingo é o anúncio de que o
tempo, habitado por Aquele que é o Ressuscitado e o Senhor da história, não é o túmulo
das nossas ilusões, mas o berço de um futuro sempre novo. [...] O domingo é convite a
olhar para frente, é o dia em que a comunidade cristã eleva para Cristo o seu grito:
"Moranatha, Vinde, Senhor!" (1Cor 16,22). Com este grito de esperança e expectativa,
ela faz-se companheira e sustentáculo da esperança dos homens. E domingo a domingo,
iluminada por Cristo, caminha para o domingo sem fim da Jerusalém celeste”.(83).
Conclusão
O Domingo apresenta uma enorme riqueza espiritual e pastoral. Ninguém poderá dizer que
participa ativamente de sua comunidade se não marca presença na assembléia dominical. Como bem
lembrou João Paulo II, ao mesmo tempo em que é descanso semanal, o Domingo deve despertar a
consciência da novidade e originalidade que motivam para a celebração da salvação de cada cristão e da
humanidade inteira (82).
De fato, o Domingo precisa ser visto como um valor de testemunho e de anúncio. Para nós,
cristãos, o Domingo deve ser o dia da celebração da esperança, da alegria, da certeza de que a vitória de
Cristo sobre a morte nos garante a oportunidade de, com Ele, desfrutáramos dos bens eternos.
Como Igreja, precisamos recuperar, na prática, a mística do Domingo. Estamos mergulhados no
ritmo corriqueiro da sociedade e por vezes nos deixamos confundir a respeito do sentido cristão deste
dia. Também nós somos tentados a trocarmos o Dia do senhor pelo dia do mercado, pelo dia do “não
fazer nada”, pelo dia de ver o Faustão ou outros tantos atrativos da sociedade atual.
Se o Domingo é a alma de todos os demais dias, nossa semana de trabalho deveria espelhar
aquilo que celebramos. Na verdade, a prática do cristão, ao longo da semana, nem sempre reflete a luz
do Cristo ressuscitado, capaz de devolver a alegria ao triste, a esperança ao desesperado, a saúde ao
doente; capaz de provocar a partilha ao que possui, congregar os que estão dispersos; desinstalar os que
se encontram acomodados; despertar a gratidão ao insensível e inaugurar o tempo de Deus entre nós.
Referências Bibliográficas.
BECKHÄUSER Alberto Frei , O. F. M. Viver em Cristo – Espiritualidade do Ano Litúrgico.
Petrópolis: Vozes, 1992
BUYST, Ione. Celebração da Palavra de Deus. Petrópolis: Vozes, 1990, p.35.
LUTZ, Gregório. Liturgia: a família de Deus em festa. São Paulo: Paulinas, 1981.
PAPA JOÃO PAULO II. Dies Domini. São Paulo: paulinas, 1998.
SILVA, José Ariovaldo da, O. F. M. Domingo: Páscoa semanal dos cristãos. São Paulo: Paulus, 1998.
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