Acidentes de motocicleta: os cuidados de enfermagem

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Acidentes de motocicleta: os cuidados de enfermagem em situações de emergência.1
Accidentesde motocicleta: La cuidar de enfermería en situaciones de emergencia.
Motorcycle accidents: Nursing carein emergency situations.
Roberto Tavares Filho2, Junior Nunes De Sousa2, Brasileiro Marislei Espíndula3. Acidentes de
motocicleta: Os cuidados de enfermagem em situações de emergência. Revista Eletrônica de
Enfermagem do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição [serial on-line] 2012 ago-dez
3(3) 1-20 /. Availablefrom: <http://www.ceen.com.br/revistaeletronica>.
Resumo
Objetivo: descrever os cuidados de enfermagem em situações de emergência envolvendo
acidentes motociclístico. Materiais e métodos: Para a seleção dos artigos utilizou-se as bases
de dados Scielo, Bireme e Lilacs, pelos descritores enfermagem, unidade de emergência,
acidentes de moto e vítimas de trauma em publicações institucionais e manuais do ministério
da saúde. Resultados: Após análise dos 23 artigos incluídos na revisão deste artigo, os
resultados apontaram que o enfermeiro no ambiente da emergência depende da organização
dos serviços e aspectos relacionados ao atendimento as vítimas de trauma por acidentes de
moto. O estudo revela que a maioria dos acidentes de moto ocorrem devido ao despreparo dos
condutores de motos, bebida alcóolica, uso de drogas e grande imprudência no trânsito. Para
tanto, os enfermeiros nas unidades de saúde necessitam de gestão para o atendimento às
vítimas de trauma devido ao grande número de pacientes hospitalizados nestas unidades.
Conclusão: Há necessidade de preparo dos enfermeiros e maiores acondicionamentos para
estes pacientes, tecnologias para procedimentos cirúrgicos e tratamento ambulatorial,
amenizando assim a dor destes acidentados e a garantia do serviço prestado pelos
profissionais da saúde.
Descritores: Enfermagem, Emergência, Acidentes de moto e Vítimas de trauma.
Resumen
Objetivo:describir
los
cuidados
deenfermería
ensituacionesde
emergencia
relacionadas
conaccidentes de motocicleta. Material y métodos: Una selección de artículos que utilizan bases
de datos de Scielo, Bireme, y Lilacs, por la enfermería descriptores de la Unidad de
Emergencia, los accidentes de motocicleta y de las víctimas de traumas en las publicaciones
institucionales y manuales del Ministerio de Salud Resultados: Después de análisis de los 23
1
Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Enfermagem em emergência e urgência 13, do Centro de Estudos
de Enfermagem e Nutrição/Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
2
Enfermeiros, especialistas em emergência e urgência, e-mail: [email protected],
[email protected], [email protected];
3
Doutora – PUC-Go, Doutora em Ciências da Saúde – UFG, Mestre em Enfermagem, docente do CEEN, e-mail:
[email protected]
ProfaMarislei Brasileiro/CEEN
2
artículos incluidos en la revisión de este artículo, los resultados indicaron que las enfermeras
en el medio ambiente depende de la organización de los servicios de emergencia y servicios
relacionados a las víctimas de traumas de accidentes de motocicleta. Conclusión: El estudio
muestra que la mayoría de los accidentes de motocicleta se producen debido a la falta de
preparación de los conductores de motocicletas, bebidas alcohólicas, uso de drogas y la
temeridad de alto tráfico. Para ello, las enfermeras en la gestión de instalaciones de atención
médica necesitan para cuidar a las víctimas de traumas debido a la gran cantidad de pacientes
hospitalizados en estas unidades. Existe la necesidad de preparar a los enfermeros y los
grandes recipientes para estos pacientes, procedimientos quirúrgicos y tecnologías para el
tratamiento ambulatorio, lo que aliviaría el dolor de estos accidentes y garantizar el servicio
prestado por profesionales de la salud.
Palabras clave: Enfermería, de emergencia, accidentes y de víctimas de trauma de
motocicletas.
Summary
Objective:describe thenursing care inemergency situations involvingmotorcycleaccidents. Materials
and Methods: A selection of articles we used the databases Scielo, Bireme, and Lilacs, by
descriptors Nursing, Emergency Unit, motorcycle accidents and victims of trauma in
institutional publications and manuals of the Ministry of Health Results: After analysis of the 23
articles included in the review of this article, the results indicated that nurses in the
environment depends on the organization of emergency services and related services to
trauma victims of motorcycle accidents. Conclusion: The study reveals that most motorcycle
accidents occur due to the unpreparedness of the drivers of motorcycles, alcoholic beverages,
drug use and great carelessness in transit. To this end, nurses in healthcare facilities
management need to care for trauma victims due to the large number of patients hospitalized
in these units. There is need to prepare nurses and larger containers for these patients,
surgical procedures and technologies for outpatient treatment, thus easing the pain of these
accidents and ensuring the service provided by health professionals.
Keywords: Nursing, Emergency, Accidents and Victims of motorcycle trauma.
1 Introdução
Os acidentes de trânsito consistem grave problema de saúde pública em todo o mundo,
atualmente tem-se feito muito para controlar a crescente incidência de acidentes de trânsito e
consequentes traumas jamais reparados.
Portanto este estudo apresenta o perfil das vítimas de acidentes de moto atendidos em
unidade
de
emergência,
as
pesquisas
foram
obtidas
através
de
artigos
que
3
apresentassemdados estatísticos e relatos de enfermeiros acerca do perfil dos acidentados por
moto e os tipos de trauma que estes foram acometidos. Os acidentes devem ser evitados, pois
eles podem trazer sequelas temporárias, permanentes e até antecipar a morte.
O trânsito é um lugar de socialização, cada pessoa tem o seu direito e seus deveres seja
ela pedestre, ciclista, motociclista ou motorista1.
Atualmente
os
acidentes
de
trânsito
(AT)
mostram
um
elevado
índice
de
morbimortalidade. Os acidentes de moto são as causas externas de maior incidência em
unidades de saúde em todo Brasil, com elevado percentual de internação, além de altos custos
hospitalares, perdas materiais, despesas previdenciárias e grande sofrimento para as vítimas e
seus familiares2.
Nos últimos anos, o uso da motocicleta tem se modificado, quer por influência de fatores
culturais e socioeconômicos quer pelas vantagens desse tipo de veículo em relação aos
automóveis: menor custo de aquisição, de manutenção, tamanho reduzido que facilita
deslocamentos, mesmo em congestionamento. Menciona-se, ainda, o uso crescente da
motocicleta como meio de trabalho. Isto resulta no aumento do número de motocicletas no
país e, consequentemente, na vulnerabilidade e exposição ao risco de acidentes dos usuários,
tornando-se importante causa de incapacitação física ou morte2.
Um estudo sobre a violência no trânsito, realizado pelo Departamento de Trânsito do
Estado de Goiás (DETRAN) por meio da análise de 1 milhão de certidões de óbito em todo o
mundo, revelou que o Brasil é o segundo país do mundo em vítimas fatais em acidentes
envolvendo motocicletas, com 7,1 óbitos a cada 100 mil habitantes. A situação no Brasil é
grave, o número de vítimas fatais em acidentes com carros em 2010 foi de 11.405 pessoas,
contra 7.188 de 1996. Uma das razões para este panorama é a explosão no mercado das duas
rodas nos últimos 10 anos. A frota de motocicletas em circulação no país cresceu nada menos
que 246% na última década, atingindo 18,5 milhões de unidades. Enquanto isso, a frota de
carros apresentou crescimento menos significativo, de 65,3%, atingindo 37,2 milhões de
veículos1.
Neste sentido, o impacto na sociedade e na saúde provocado pelos acidentes de moto
tem sido registrado de forma grandiosa, os riscos de traumas e consequente internação das
vítimas constituem um indicador da gravidade dos acidentes, em especial os acidentes com os
usuários de motocicleta2.
“O saber começa com a consciência do saber pouco, pois é sabendo que pouco se sabe é
que se prepara o saber”2.
4
Essa importância contribuiu para o interesse e desenvolvimento deste estudo, ampliado
pela experiência dos autores no desenvolvimento da pesquisa em centros de saúde registrados
nos artigos publicados acerca deste tema no qual se verifica alta incidência e prevalência dos
acidentes de moto.
Pode-se definir o trauma como um evento nocivo que advém da liberação de forma
específica de energia ou de barreiras físicas ao fluxo normal de energia. Ou seja, o trauma é
definido como um conjunto de perturbações subitamente por um agente físico, de etiologia,
natureza e extensão muito variadas. Neste contexto, o trauma deve ser visto como doença, por
ser proveniente da ação de agentes etiológicos conhecidos, exigindo procedimentos e atitudes
terapêuticas e bem específicas, podendo ser acima de tudo evitável4.
Portanto, diante doscrescentes números de acidentes de moto em todo o país, a
problematização se estende no âmbito das unidades de emergência, identificando as
características
epidemiológicas
dos
acidentes
de
moto,
medidas
de
segurança
e
o
comportamento de riscos dos condutores. Estima-se que estes conhecimentos possam servir de
base para esclarecer melhor a comunidade sobre os riscos aos quais estão expostos e sobre a
importância da conscientização da população no trânsito, além de propiciar subsídios para
planejar a assistência após os eventos traumáticos.
2 Objetivos
2.1 Objetivo geral
O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica acercaacidentes de motocicleta
e os cuidados de enfermagem em situações de emergência.
2.2 Objetivos específicos
Expor um breve histórico dos acidentes de trânsito;
Identificar e analisar, na literatura, os acidentes de trânsito ocorridos por motocicletas;
Descrever as lesões e politraumas por acidentes de moto;
Analisar um estudo epidemiológico sobre acidentes de motocicleta em Goiânia-GO;
Identificar e analsiar a atuação da enfermagem no atendimento pré-hospitalar e
urgência a pacientes de acidentes gerais e de motocicletas.
3 Materiais e Método
5
O desenvolvimento do estudo se caracterizou pela escolha e seleção dos artigos
pesquisados em bases de dados, Scielo, Bireme e Lilacs, pelos descritores Enfermagem,
Unidade de Emergência, Acidentes de moto e Vítimas de trauma em publicações institucionais
e Manuais do Ministério da Saúde.
A pesquisa exploratória é aquela com a qual se interessa em entender uma situação,
um fato, um problema, um caso, com base em estudos feitos por diferentes autores ou
vivenciados por várias pessoas. Possibilita uma explicação maior e um aprofundamento de
estudos sobre um determinado assunto ou área, com vistas ao seu entendimento mais
qualificado5.
Para que os artigos fossem escolhidos de forma sistematiza e divididos por tema, após
a leitura categórica, resumiram-se os assuntos de interesse, relacionando-os aos acidentes de
moto, estatísticas levantadas pelos autores que analisaram os casos de acidentes traumáticos
e casos óbitos por acidentes de moto, relacionando o atendimento de emergência com os
diversos níveis de acidentes e suas causas.
4 Resultados e Discussão
Foram encontrados 30 artigos relacionados com o tema e após a leitura sistematizada
de seus resumos, foram selecionados 23 artigos publicados entre os anos de 1998 a 2012,
com a temática dos acidentes de motocicleta e os cuidados de enfermagem em situações de
emergência. Os artigos foram resumidos e distribuídos de acordo com a similaridade e
pertinência do tema, com finalidade de conhecer o breve histórico dos acidentes de trânsito,
acidentes de trânsito ocorridos por motocicletas, lesões e politraumas por acidentes de moto,
estudo epidemiológico sobre acidentes de motocicleta em Goiânia-GO e cuidados de
enfermagem no atendimento aos pacientes traumáticos de acidentes.
4.1 Breve histórico dos acidentes de trânsito
O desenvolvimento industrial do século XX propiciou aumento considerável da frota de
veículos automotores em circulação em todo o mundo6.
Para compreender a complexidade dos acidentes de trânsito, faz-se necessário
compreender os níveis de acidentes traumáticos e números de óbitos por estes acidentes.
Estimativas da OMS (2004) apontam que por ano, são registradas no mundo cerca de 1,2
milhões de mortes no trânsito, o que representa um total de 3.000 mortes por dia. Para o
Brasil, os dados divulgados pela OMS indicam uma taxa de mortalidade por acidentes de
trânsito de 18,7 por 100 mil habitantes7.
6
Os acidentes de trânsito constituem um problema importante para a saúde pública,
frente ao grande impacto na morbidade e mortalidade, principalmente da população jovem do
sexo masculino8.
O Ministério da Saúde em publicação sobre desigualdades na mortalidade por acidentes
de trânsito alertou para o impacto negativo dos acidentes sobre a saúde da população
brasileira, com a deterioração da qualidade de vida, a redução da expectativa de vida dos
adolescentes e jovens, além dos altos custos sociais e econômicos impostos ao sistema de
saúde e previdenciário8.
O trauma que um indivíduo apresenta ao sofrer um acidente geralmente é de grandes
proporções, devida a exposição corpórea mais vulnerável ao ambiente, sendo que obtém
pouco ou nenhum artigo de proteção9.
Devido a essa falta de proteção, os acidentes no Brasil têm aumentado, o Instituto de
Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), em pesquisa realizada sobre os custos relacionados aos
acidentes de trânsito em aglomerações urbanas no Brasil entre os anos 2001 e 2003, estimou
o valor de R$ 5,3 bilhões gastos em acidentes não-rodoviários por ano, representando 0,4%
do PIB do país. Os principais responsáveis por este custo são questões relacionadas à perda de
produção devido à morte da pessoa ou à interrupção temporária das atividades de trabalho,
aos gastos médicos e aos serviços de reparação dos veículos envolvidos nos acidentes8.
O aumento da frota de veículos tem sido mundial, mas, em geral, o sistema viário e o
planejamento urbano não acompanham este crescimento. Além da poluição sonora e
atmosférica, o aumento do tempo de percurso e os engarrafamentos são responsáveis pela
crescente agressividade dos motoristas e decrescente qualidade de vida em meio urbano e
consequente aumento dos acidentes de trânsito. Conceitualmente, acidente de trânsito é todo
evento com dano que envolva o veículo, a via, o homem e/ou animais, e que, para
caracterizar-se tem a necessidade da presença de dois desses fatores9.
Neste contexto a real situação dos acidentes de trânsito é grave, gerando diversos
problemas sociais com crescente estimativa entre as populações do mundo. No caso do Brasil
essa realidade é ainda mais preocupante, pois existe a defasagem da saúde pública.
4.2 Acidentes de trânsito ocorridos por motocicletas
Os acidentes de trânsito ocorrendo a existência de motocicletas, ou seja, a
vulnerabilidade do usuário da moto é evidente. Para ele não há proteções similares àquelas
dos ocupantes de veículos de quatro rodas. Na colisão, que é um dos tipos de acidentes de
motocicleta mais usual, o motociclista absorve em sua superfície corpórea toda a energia
gerada no impacto, seja indo de encontro com a via pública, seja com os objetos da mesma ou
7
outros veículos a motor. Como consequência, há ocorrência de vítimas politraumatizadas com
as lesões mais graves localizando-se na cabeça e as extremidades como as regiões mais
frequentemente atingidas, mesmo em casos de lesões pelo corpo e membros9.
Os acidentes de moto constituem-se um sério problema de saúde pública em nações
desenvolvidas. Entretanto, estudos revelam que o país detentor do título de campeão mundial
de acidentes de trânsito, é o Brasil. Vários fatores contribuem para esta realidade, entre eles,
o aumento do número de veículos em circulação, impunidade dos infratores, falta de
fiscalização adequada, frota de veículos antiga, má conservação das vias públicas e, muitas
vezes, sinalização precária. Além disso, nos últimos anos ocorreu um aumento significativo de
motocicletas em circulação, por se tratar de um meio de transporte ágil, econômico e de custo
reduzido10.
O uso crescente de motocicletas no Brasil é caracterizado como uma opção econômica,
comparada a outros veículos automotores, além das facilidades de tráfego e estacionamento.
A maioria dos acidentes ocorridos no perímetro urbano envolve motociclistas, não são
raros acidentes do tipo colisões envolvendo moto x moto, moto x automóvel, moto x
caminhão, moto x ônibus, atropelamento por moto, ou queda de moto11. A cada 100 acidentes
com motos, no Brasil, há 71 com vitimas. Além dos altos índices de mortes, os acidentes
geram prejuízos irreparáveis aos cofres públicos. A estimativa total de gastos com acidentes é
de R$ 5,3 bilhões por ano. As motos equivalem a 10% da frota e quase um quinto desses
gastos9.
Este aumento de utilização da moto como instrumento de trabalho na entrega de
mercadorias, medicamentos, alimentos ou documentos e, até mesmo, no transporte de
passageiros, possibilitaram o crescente número de motos no trânsito brasileiro.
Geralmente os condutores de motocicletas estão expostos à possibilidade de ocorrência
de acidentes, seja por sua maior exposição nas vias públicas, seja por realização de manobras
arriscadas ou por velocidades adotadas com vistas à realização com pedestres, constituem o
grupo de usuários da via pública mais vulnerável em termos de exposição corpórea a lesões
em caso de acidentes, já que estes, não possuem praticamente nenhum ou pouco artigo de
proteção9.
Qualquer condutor, ao adquirir a Carteira Nacional de Habitação (CNH), passa a ter
informações sobre o que é o trânsito, sobre a sinalização e legislação, sobre o funcionamento
do veículo e principalmente sobre o comportamento adequado ao transitar11.
8
No entanto, as estatísticas revelam que boa parte dos condutores parece ainda não ter
conhecimento de seu papel no trânsito, agindo de forma a colocar em risco a sua vida e a dos
outros.
É necessário reconhecer-se como parte da situação e olhar para ela não como problema
dos outros, da cultura, da falta de policiamento, mas como “problema de cada um”11.
Num estudo realizado em hospital de urgência num período de 2 meses, foram
internadas 109 vítimas de acidentes de moto menores de 18 anos. Do total de internados, 22
foram transferidos para outros hospitais, quatro foram a óbito, quatro tiveram alta por pedido
e 29 se recusaram a participar da pesquisa. Após calculo amostral e utilizando-se o intervalo
de confiança de 95% e desvio padrão de 5%, o cálculo final da amostra constitui-se de 45
pacientes9.
Ao longo desse tempo, constataram-se determinadas consequências do acidente de
trânsito, a exemplo de morte ou sequela temporária ou permanente10.
As variáveis estudadas acerca dos acidentes de moto relatadas no estudo foram: idade,
sexo, procedência, escolaridade, renda familiar, número de membros da família, tipo de
acidente, posição da vítima no veículo, causa do acidente, tempo decorrido até o socorro após
o acidente, conhecimento do direito à solicitação do seguro Danos Pessoais Causados por
Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), informações sobre campanhas de
esclarecimento sobre prevenção do trânsito9.
Quanto ao seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias
Terrestres (DPVAT), muitos pacientes desconhecem totalmente a existência deste seguro,
estudos revelam que existe um número igualmente elevado aos indivíduos, que desconhecem
a existência de campanhas de prevenção de acidentes de trânsito9.Para a Associação Brasileira
de Medicina de Tráfego (Abramet), os motociclistas têm a segunda maior taxa de internação
hospitalar por acidente de trânsito, perdendo apenas para os pedestres11.
As categorias de acidentados apresentados em estudos recentes, os pedestres,
motociclista sem capacete; passageiro sem capacete; banco traseiro sem cinto de segurança;
passageiro com capacete; banco da frente sem cinto de segurança; motociclista com capacete;
banco traseiro com cinto de segurança9.
Por esta razão, observou-se neste tópico que existe um impacto negativo gerado pelos
acidentes de motocicletas em relação ao atendimento „prioritário‟ nospronto-socorros dos
hospitais.
A explicação parte, pois, os médicos são obrigados a adiar cirurgias pré-agendadas, em
decorrência de uma vítima de acidente com moto em estado grave. Isso porque os
9
acidentados têm prioridade na utilização de um centro cirúrgico ou Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) e passam a ocupar o lugar de um paciente que já tinha cirurgia marcada11.
Após o fato do acidente, e consequente de lesões e traumas, o quadro social familiar
também é afetado pelo acidente de trânsito. As conseqüências e traumas decorrentes de
mortes, seqüelas, amputações, invalidez e até mesmo os prejuízos materiais podem
desestruturar famílias inteiras e comprometer a vida social de muita gente.
A partir do momento em que o sujeito se reconheça como responsável, certamente
reconhecerá também a necessidade de mudança comportamental a assim passará a adotar
comportamentos mais seguros nas vias públicas11.
O conhecimento dos riscos e oportunidades para que ocorram acidentes de motocicleta,
reduz consideravelmente os acidentes fatais e possíveis lesões e politraumas que deixam
sequelas em suas vítimas por toda vida.
4.3Lesões e politraumas por acidentes de moto
As lesões e politraumas por acidentes podem ser descritos pela localização das próprias
lesões do acidentado. Geralmente as localizações de lesões traumáticas estão em trauma
crânio encefálica (TCE), membros, TCE e membros, tórax e abdome9.
A lesão é uma ocorrência lamentável da vida cotidiana. Enquanto alguns indivíduos
sofrem lesão de maior gravidade mais frequentemente do que outros, ninguém é poupado da
dor, do transtorno e da incapacidade causados por uma lesão9. Qualquer lesão acompanhada
por custos físicos, emocionais e econômicos são inevitáveis, assim como por perda de tempo e
da função normal10.
O número de motocicletas a circular pelas cidades tem aumentado a cada dia. Por ser
um veículo de valor acessível, pela agilidade e pela economia que este veículo proporciona, as
motos estão ganhando espaço nas vias públicas11.
O trauma é o conjunto de lesões ou alterações funcionais causadas pela ação de uma
força externa. No Brasil e na quase totalidade dos outros países, o trauma é a principal causa
de morte do individuo jovem. Mais de 120.000 morrem por ano em consequência de acidentes
e estima-se de quatro a cinco vítimas com sequelas permanentes para cada óbito10.
O impacto da morte relacionada a uma lesão é mais significativo que o impacto da
morte devida a outras causas, ao levar em conta a perspectiva do período restante de vida
potencial10.
10
No que se refere às fraturas provocadas por trauma, a frequência de lesões associadas
é maior. As mais frequentes são as que acometem o mesmo membro. A incidência de lesão
ligamentar no joelho ipsilateral, por exemplo, pode chegar em boa parte dos pacientes, no
exame clínico, e no exame artroscópico subsequentede lesão parcial e lesão total do ligamento
cruzado anterior12.
Para a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), os motociclistas têm a
segunda maior taxa de internação hospitalar por acidente de trânsito, perdendo apenas para
os pedestres11.O estudo do padrão das lesões nas vítimas de acidente de trânsito de veículo a
motor em geral, particularmente daquelas de acidentes de motocicleta, não pode se restringir
aos dados advindos do quadro de sua mortalidade13.
As estatísticas sobre fatalidade por lesão evidenciam apenas uma parte do quadro do
impacto das lesões. As estatísticas de acidentes não fatais são ainda mais agravantes. As
lesões incapacitantes afetam milhões de indivíduos a cada ano10. As estimativas do
NationalSafetyCouncil para os Estados Unidos indicam que, a cada 10 minutos, duas pessoas
são mortas e cerca de 370 sofrem uma lesão incapacitante, com um custo de US$ 8,3
milhões11. Em média, ocorrem 11 mortes por lesão nãointencional e cerca de 2.200 lesões
incapacitantes a cada hora durante o ano. Apesar dos esforços bem-sucedidos para a redução
das lesões em algumas áreas, como nas colisões de veículos, ainda devemos esperar que
muitos de nós sejamos vítimas de lesões10.
Estudos realizados entre os autores para identificar o cálculo do grau de intensidade de
lesões, considera-se o método ISS (Baker2, desenvolvido como complemento da AIS, tem sido
adotado como um padrão internacional de avaliação do grau de intensidade das injúrias dos
pacientes politraumatizados13. O politrauma é um conjunto de lesões múltiplas simultâneas, de
vários segmentos do corpo, onde pelo menos uma ou a combinação de várias é
potencialmente letal10.
O padrão internacional para identificar o cálculo do grau de intensidade de lesões utiliza
instrumentos simplificados, nos quais cada lesão pode ser rápida e facilmente pontuada no
próprio serviço de emergência, métododesenvolvido por Greenspan e seus colaboradores nos
Estados Unidos, apresentando um estudo comprovatório de sua aplicabilidade, precisão e
praticidade13.
Infelizmente, o mais freqüente politrauma é aquele resultante de acidentes envolvendo
veículos motorizados, seguidos dos oriundos de agressões físicas e dos causados por acidentes
de trabalho e dos acidentes na prática de esportes de ação10.
11
Quadro 1 – Aspectos politraumáticos de acidentados atendidos em unidade de saúde.
Perfil histórico-social do
paciente
-
Estado civil, escolaridade, profissão
Residência
Tipo parentesco: pai, mãe, etc.
Tipo sanguíneo / histórico cirúrgico
Hospitalizações anteriores
Alergia a medicamentos
Problemas de saúde
Tipo de acidente
Saúde mental
Hábitos / costumes
Atividades associadas com trabalho
Regiões de risco corporal
Cabeça
Face
Pescoço
Tórax
Abdômen
Coluna vertebral
Membros superiores
Membros inferiores e pelve
Superfície externa
Tipo de lesão
Fratura
Ferimento
TCE
Luxação
Hermatoma
Contusão
Hematoma
Trauma
Laceração
Rotura e perfuração
Afundamento
Lesão ligamento
Escara, úlcera e necrose
Queimaduras
Lesão vasos
Disjunção
Lesão medula e nervos
Outros
Fonte:13,14.
De acordo com o quadro 1, os aspectos politraumáticos de acidentados atendidos em
unidade de saúde mostram características do perfil histórico-social do paciente que recebe
atendimento oferecido por unidade de saúde. As categorias apresentadas no quadro averiguam
o perfil sobre o estado de saúde, eventuais hospitalizações e dentre outros aspectos relativos à
saúde mental na família, estilo relacional, hábitos, atividades e ideais do sujeito14.
Geralmente os pacientes que dão entrada em uma unidade de urgência, apresentam
várias lesões que motociclistas sofrem nas ruas e rodovias todos os dias em todas as cidades
do mundo. O aumento de automóveis, aliado a velocidades sempre crescentes, tornou-se
responsável pelo aumento e gravidade das lesões traumáticas musculoesqueléticas, ou seja,
fraturas e traumas consequentes13.
Além de explanar sobre acidentes motociclísticos e suas conseqüências, este estudo
aborda não apenas o politraumatismo, que se classifica como qualquer tipo de trauma, mas
principalmente sobre o trauma ósseo (fratura) que é muito comum em qualquer tipo de
acidente desta proporção, pelo fato de que o paciente estar mais desprovido de equipamentos
de segurança comparado a outro veículo e mesmo se vier a sofrer algum tipo de queda livre9.
Em conformidade com algumas recomendações da O.M.S. para tais situações de
urgência define-se esse tipo de acidente, toda situação de embate repentino ou casual do
próprio, com o seu veículo contra obstáculo (veículo, pessoa ou objeto) que tenha implicado
prejuízo humano e/ou materiais significativos para o sujeito ou para outrém14.
Em particular pelo crescente número de pacientes que sofrem múltiplas lesões
traumáticas graves, muitos destes atendidos sofrem pelo comprometimento de vários tecidos
orgânicos10. Em casos de colisão, um dos tipos de acidentes de motocicleta mais usual, é
aquele que o motociclista absorve em sua superfície corpórea toda a energia gerada no
impacto, seja indo de encontro com a via pública, seja com os objetos da mesma ou outros
veículos a motor13.
Além de todo processo tramáutico para as vítimas e suas famílias, o trauma determina
consequências sociais e econômicas importantes, pois as lesões podem ocasionar a morte ou
12
incapacidade temporária ou permanente da vítima, determinando um alto custo com a
recuperação, além de muitas vezes comprometer-lhe a qualidade de vida10.
A incidência de novos casos de vítimaspolitraumatizadas com as lesões mais
graveslocalizando-se na cabeça e as extremidadescomo as regiões mais freqüentemente
atingidas, continuam crescendo no Brasil. Cabe enfatizar estudos mais eficazes para analisar
aspectos dos acidentes de trânsito, proporcionando mecanismos que reduzam o número de
vítimaspolitraumatizadas de forma preventivae eficaz.
4.4 Estudo epidemiológico sobre acidentes de motocicleta em Goiânia-GO.
Em estudo epidemiológico sobre acidentes de motocicleta entre 2005 a 2010,
constatou-se dentreas vítimas fatais que,40%morrem no local do evento, 5% a caminho do
hospital e 55% no hospital13.
O número de mortes no trânsito da capital goiana aumentou em mais de 20%, sendo
que a média subiu de 26 para 32 vítimas fatais por mês. Os motociclistas são os que mais
correm riscos e são os que estão envolvidos em mais de 70% dos acidentes com mortes15.
Frente a estes desafios enfrentados pelo atendimento médico aos acidentados
consequentes de fraturas e traumas, existe „carência‟ dos serviços de atendimento préhospitalar na região de Goiânia.
Os acidentes de motocicletas ocorridos em Goiânia são responsáveis por grande número
de mortes todos os anos na capital. Entre os que não morreram, muitos sofrem vários tipos de
traumadeixando graves sequelas15.
Estudos realizados por pesquisadores da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Goiás entre 2005 a 2010 revelam que as vítimas e circunstâncias dos acidentes de
transportes de Goiânia (GO), estão entre a faixa etária de 15 a 24 anos, sendo a maioria
masculino e atendidos em Hospitais de Urgência16.
Em 70% das ocorrências de acidentes de trânsito registradas em Goiânia e Aparecida
de Goiânia envolvendo motocicletas ou motonetas, e atendidas pelo Corpo de Bombeiros,
estas são responsáveis por 20% em mortes no próprio local do acidente17.
O aumento de pacientes com lesões e politraumas a cada ano, decorre de
investimentos em transportes rodoviários em detrimento de outros meios de transportes, do
aumento da frota de veículos nos centros urbanos e da escassez de ações reguladoras e
educacionais. O transporte público inseguro, a alta velocidade e a diversidade dos tipos de
veículos também podem contribuir para esse aumento16.
13
Na grande Goiânia todas as vítimas de acidentes de trânsito são encaminhadas para o
Hospital de Urgências (Hugo), já que a rede privada não está preparada para atender as
pessoas vítimas de traumas. Esse fato causa sobrecarga de demanda no Hugo para resolver
este problema, estão sendo construídos novos hospitais de urgência em Anápolis, Aparecida de
Goiânia e Trindade. Está disponível pelo Ministério da Saúde, do Sistema de Atendimento
Móvel de Urgência (Samu), com objetivo de dotar os municípios de condições para atender
emergências clínicas e vítimas de acidentes de trânsito17.
Quadro 2 – Características dos acidentes de moto ocorridos em Goiânia entre 2005 a 2010.
Horários
Dias da semana
Trajeto dos acidentes
Álcool e drogas
- Os acidentes ocorreram
- Maior incidência entre
- Rotina de trabalho;
- Em 15% dos casos
predominantemente em
sextas-feiras e
- Atividades Escolares;
registrados de 2005 a
torno das 18 às 19
domingos.
- Atividades Esportivas;
2010 dentre os
- Atividades religiosas;
acidentados.
horas.
- Lazer e entretenimento.
Fonte:16.
De acordo com o quadro 2, as características dos acidentes de moto ocorridos em
Goiânia entre 2005 a 2010, mostram que o excesso de transportes em Goiânia leva a um
número maior de casos registrados, referentes aos horários de „pico‟ sendo das 18 as 19
horas, aos dias de maior circulação de veículos sendo sextas-feiras e domingos, as
ocorrênciassão
realizadas
em
diferentes
trajetos
e
atividades,
predominando
maior
imprudência e/ou negligência no acidente, e principalmente pelo uso abusivo de álcool e
drogas16.
Equipamentos de segurança muitas vezes não são usados por motociclistas, tornando
assim necessário, medidas de educação dirigida aos motociclistas e fiscalização que priorizem
o período noturno e os finais de semana16. Outro fator é o sistema viário de Goiânia, as
rotatórias
propiciam
acidentes
e
abalroamentos
envolvendo
motos.
Muitas
vezes
as
motocicletas ficam no ponto cego do retrovisor dos automóveis, além da prática comum entre
os motociclistas de ultrapassar pela direita, o que é condenado pelas leis de trânsito. É
importante que o serviço de resgate pré-hospitalar seja cada vez mais aprimorado, não só na
parte técnica, mas também na aquisição de equipamentos e viaturas, visando a melhoria da
qualidade e a eficiência do atendimento na cena do acidente17.
A redução dos acidentes constitui um dos maiores desafios para a saúde pública, sendo
necessário o desenvolvimento de estudos para compreensão da verdadeira magnitude do
problema e distribuição das causas para sua prevenção e promoção da segurança.
4.5 Atuação da enfermagem no atendimento pré-hospitalar e urgência a pacientes de
acidentes gerais e de motocicletas.
14
A avaliação da gravidade do trauma e a instituição de manobras para manutenção
básica da vida, no local do evento, podem representar a oportunidade de sobrevida para as
vítimas até a sua chegada ao hospital18. Pode-se chamar esse serviço de pré-atendimento aos
pacientes politraumáticos.
Por meio do processo de triagem, torna-se possível a adequação de recursos humanos
e materiais às reais necessidades da vítima, podendo, desta forma, exercer influência nas
taxas de morbidade e mortalidade para tal, é necessária a existência de serviços de
atendimento pré-hospitalar19.
O atendimento pré-hospitalar é toda e qualquer assistência realizada direta ou
indiretamente fora do âmbito hospitalar através dos diversos meios e métodos disponíveis,
com uma resposta adequada à solicitação a qual poderá variar de um simples conselho ou
orientação médica ao envio de uma viatura de suporte básico ou avançado ao local da
ocorrência, visando a manutenção da vida e/ou a minimização das seqüelas18,19.
Em muitos casos, a morte decorrente do trauma obedece a uma distribuição trimodal. O
primeiro pico, morte imediata, ocorre nos 30 minutos, o segundo pico, morte precoce,
corresponde a que acontece nas primeiras horas após o trauma, chamado de hora de ouro do
traumatizado19.
Atualmente, no Brasil, o atendimento pré-hospitalar está estruturado em duas
modalidades: o Suporte Básico à Vida (SBV) e o Suporte Avançado à Vida (SAV). O SBV
consiste na preservação da vida, sem manobras invasivas, em que o atendimento é realizado
por pessoas treinadas em primeiros socorros e atuam sob supervisão médica. Já o SAV, tem
como características manobras invasivas, de maior complexidade e, por este motivo, esse
atendimento é realizado exclusivamente por médico e enfermeiro18.
As competências e atribuições do enfermeiro no atendimento pré-hospitalar e urgência
que não são exclusivas do motociclista acidentado, mas a todo potitraumatizado tais como:
- Supervisionar e avaliar as ações de enfermagem da equipe no Atendimento PréHospitalar Móvel;
- Executar prescrições médicas (por telemedicina) em casos de pré-atendimento;
- Prestar cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica a pacientes graves e
com risco de vida, que exijam conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar
decisões imediatas;
- Prestar a assistência de enfermagem à gestante, a parturiente e ao recém nato,
podendo realizar partos sem distócia;
15
- Participar nos programas de treinamento e aprimoramento de pessoal de saúde em
urgências, particularmente nos programas de educação continuada;
- Fazer controle de qualidade do serviço nos aspectos inerentes à sua profissão;
- Subsidiar os responsáveis pelo desenvolvimento de recursos humanos para as
necessidades de educação continuada da equipe;
- Obedecer a Lei do Exercício Profissional e o Código de Ética de Enfermagem;
- Conhecer os equipamentos e realizar manobras de extração manual ou com
equipamentos de vítimas de locais por onde ela não pode sair por meios próprios (Portaria n.º
2048/GM de 5 de novembro de 2002)18.
O estudo revela que a urgência ainda não se constitui como especialidade médica ou de
enfermagem e nos cursos de graduação a atenção dada à área ainda é bastante insuficiente20.
Somente a partir da década de 1980 foi dada maior ênfase no treinamento dos profissionais
que atuam no atendimento de emergência18.
Urgência é o atendimento feito com rapidez, que não pode ser retardado, que não se
pode prescindir, indispensável, situação muito grave que tem prioridade sobre as outras, que
indica necessidade imediata ou pressa. Já a emergência é ato ou efeito de emergir, situação
grave, perigosa, momento crítico ou fortuito, circunstâncias imprevistas (ou o que delas
resulta) e que exigem ação imediata21.
As equipes de atendimento de urgência, entre elas os profissionais de saúde, enfrentam
situações muito específicas e são particularmente vulneráveis, já que em seu cotidiano
convivem com o contínuo sofrimento humano na luta contra o tempo para salvar vidas em
condições e ambientes adversos21.
As urgências e emergências sejam elas clínicas ou traumáticas representam um fator de
risco de vida importante quando não atendidas em tempo hábil e de maneira adequada,
exigindo dessa forma, intervenção competente, segura e livre de risco18.
Todavia a atuação do enfermeiro não se restringe apenas à assistência direta, já que o
enfermeiro, neste sistema, além de executar o socorro às vítimas em situação de emergência
e fora do ambiente hospitalar, também desenvolve atividades educativas como instrutor,
participando na revisão dos protocolos de atendimentos, elaborando material didático, além de
atuar junto à equipe multiprofissional na ocorrência de calamidades e acidentes de grandes
proporções21. Observa-se ainda, a fragmentação e o baixo aproveitamento do processo
educativo tradicional, e a insuficiência dos conteúdos curriculares dos aparelhos formadores na
16
qualificação de profissionais para as urgências, principalmente, em seu componente préhospitalar20.
As emergências são passíveis de tratamento, sendo que a intervenção e a tentativa de
resolução devem ser feitas em um tempo considerado normalmente de até 24 horas, após seu
início23. Infelizmente o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta diversas dificuldades para
garantir o atendimento adequado. A falta de legislação especifica no atendimento préhospitalar é uma das maiores dificuldades encontradas, que deveriam garantir o serviço18.
A atuação do enfermeiro em ambiente pré-hospitalar é registrada por complexidade e
desafios que caracteriza o ambiente como crítico18. No atendimento fora do hospital, sabe-se
que a grande diferença nos socorros é o transporte rápido para o tratamento intra-hospitalar
definido pela ocasião, os feridos não tinham como ser devidamente estabilizados no local20.
É neste sentido, compete ao enfermeiro supervisionar e avaliar as ações prescritas,
prestando cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e pacientes graves,
exigindo ainda conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar decisões
imediatas18.
A atuação do enfermeiro se deve pelos desempenhos das funções que podem ser
definidos em três fases distintas:
Quadro 3 – Ações do enfermeiro nopré-atendimento e urgência, inclusive ao motociclista.
1º - Antes do atendimento
2º - Durante o atendimento
3º - Após o atendimento
- Checagem e reposição do
material padronizado de
emergência;
- Acessar a vítima com segurança;
- Fazer a reposição do material
utilizado na ocorrência;
- Manutenção da padronização dos
kits de atendimento, acesso
venoso, vias aéreas, procedimento
cirúrgico e de infusão venosa em
neonato;
- Verificação do funcionamento de
equipamentos (oxímetro de pulso,
monitor-desfibrilador e ventilador);
- Verificação do volume de oxigênio
existente no cilindro.
- Obter informações pertinentes para o
atendimento;
- Realizar a triagem em casos de acidente;
realizar a avaliação primária, determinando se
existe risco imediato a vida da vítima;
- Realizar avaliação secundária (pesquisa
abrangente e detalhada do corpo da vítima);
- Estabelecer prioridades para o atendimento;
- Estabilizar a vítima se possível antes do
transporte;
- Prestar cuidados intensivos;
- Auxiliar procedimentos de mais complexidade
técnica e assegurar a manutenção do cuidado e
evolução de todos os sinais e sintomas;
- Prover um transporte de forma eficiente e
segura em casos de transferência hospitalar;
Fonte:18.
- Passar as informações a respeito do caso a
equipe da sala de emergência e cirurgia.
- Recarregar equipamentos que
necessitam de bateria; limpar e
desinfetar equipamentos;
- Limpar o veículo de emergência;
providenciar reposição de oxigênio,
se necessário, registrar a ocorrência
em impresso próprio;
- e fazer relatório em livro de
ocorrência de enfermagem.
17
De acordo com o quadro 3, as ações do enfermeiro estão voltado para o atendimento
das necessidades de cuidado do objeto de sua práxis e por isso se consolida como práticas
específicas.
O atendimento ao paciente politraumatizado é um atendimento onde se vê mais a
necessidade de integração dos componentes. A Enfermagem está em todas as cenas do
atendimento, diretamente ligada ao paciente, inicialmente no transporte do local para o
interior da unidade até sua estabilização18.
O enfermeiro participa da previsão de necessidade da vítima, definindo prioridades,
iniciando intervenções necessárias, fazendo a estabilização, reavaliando o estado geral e
realizando o transporte da vítima para tratamento definitivo.
Neste sentido, o atendimento ao motociclista acidentando envolve os mesmos
procedimentos, seja qualquer pessoa que sofre um acidente politraumático, no qual o
enfermeiro deve cumprir seu papel de forma humanizada.
A análise dos resultados confirmaque a escala de risco dos condutores e envolvidos em
acidentesconfiguram a natureza dos milhares de casos já registrados14. Os acidentes
envolvendo motos estão se tornando cada dia mais comuns em nossas vidas, o que nos faz
buscar cada vez mais estudos e técnicas preventivas e de tratamentos desses indivíduos que
vêem a sofrer algum tipo de lesão através destes acidentes9. Se considerarmos a
vulnerabilidade dos condutores de motocicletas na procura de facilidade social, familiar e
individual, podemos, sem grande margem de erro, afirmar que este tipo de veículo sempre
trará novos episódios e perdas consideráveispara estes indivíduos17. Portanto, a situação dos
acidentes de trânsito é grave, gerando diversos problemas sociais com crescente estimativa
entre as populações do mundo. No caso do Brasil e no estado de Goiás essa realidade é ainda
mais preocupante, pois existe a defasagem da saúde pública.
Os resultados mostraram que após o acidente de trânsito, o quadro social familiar é
afetado pelos traumas decorrentes de mortes, seqüelas, amputações, invalidez e até mesmo
os prejuízos materiais que podem desestruturar famílias inteiras e comprometer a vida social
de muita gente. A partir do momento em que o sujeito se reconheça como responsável,
certamente reconhecerá também a necessidade de mudança comportamental a assim passará
a adotar comportamentos mais seguros nas vias públicas11. As consequências dos acidentes
são fatais, além de todo processo tramáutico para as vítimas e suas famílias, as lesões podem
ocasionar a morte ou incapacidade temporária ou permanente da vítima, determinando um
alto custo com a recuperação, além de muitas vezes comprometer-lhe a qualidade de vida10. A
redução dos acidentes constitui um dos maiores desafios para a saúde pública, sendo
necessário o desenvolvimento de estudos para compreensão da verdadeira magnitude do
problema e distribuição das causas para sua prevenção e promoção da segurança.
18
A partir das melhorias das vias de trânsito, segurança dos transportes, educação para
condutores e pedestres, o DETRAN de Goiânia, considera que, adotar medidas preventivas,
como a instalação de redutores de velocidade dotados de tecnologia para atuar também para
motos, além da realização de campanhas preventivas para as entidades organizadas dos
mototaxistas e motoboys e para os motoristas em geral e pedestres. E o uso de capacete para
o condutor e o passageiro é fundamental17.
Assim, o motociclista que sofre um politrauma, receberá uma assistência de
enfermagem embasada em procedimentos específicos da enfermagem, no cuidar ético da
profissional, no vivenciar o estado de saúde do paciente, no atendimento humanizado e
terapêutico.
5 Considerações Finais
Os cuidados de enfermagem consistem na prestação do atendimento emergencial no
campo pré-hospitalar e nas unidades de urgência, que atenda às necessidades pertinentes ao
paciente vítima de acidentes de moto. Considera-se que existe a necessidade do aprendizado
dos profissionais para melhor atender no campo de atuação do enfermeiro. O serviço de
atendimento aos pacientes politraumatizados deve ser realizado por uma equipe de médicos,
enfermeiros, técnicos de enfermagem e socorristas. Portanto, conclui-se que o atendimento
humanizado com aspectos terapêuticos, auxilia o pré-atendimento do motociclista acidentado,
contribui para o processo de internação e cuidados preventivos, e ainda, em situações de
politraumatismo, onde haja necessidade de tratamento cirúrgico, o enfermeiro se faz presente,
atuante e comunicativo, a fim de reduzir o trauma do acidentado e colaborar com sua breve
recuperação. Este, que ainda tem o papel de amenizar a dor e a sofrimento dos familiares que
estão ali como cuidadores diretos deste paciente. O enfermeiro deve atuar como mediador no
ambiente de urgência, desenvolvendo habilidades e competência no cuidado ao paciente clínico
e politraumatizado, e estar preparado para enfrentar desafios que são encontrados
diariamente nas ruas.
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