FORMAS FARMACÊUTICAS BÁSICAS O medicamento homeopático pode ser preparado a partir de drogas e de tinturas-mães. Segundo a Farmacopéia Homeopática Brasileira II, tintura-mãe é o resultado da ação extrativa e/ou dissolvente, por contato íntimo e prolongado, de um insumo inerte hidroalcóolico ou hifroglicerinado sobre determinada droga vegetal ou animal, fresca ou dessecada, por meio dos processos de maceração ou percolação. A tintura-mãe, designada pelos símbolos TM ou Ø, pode ser obtida a partir de vegetal fresco ou dessecado e de animal vivo, recém-sacrificado ou dessecado. Processos de Obtenção de Tinturas-Mães: Os principais processos são a maceração, a percolação e a expressão utilizados de acordo com a natureza da droga empregada na preparação da TM. - Método de Expressão – idealizado por Hahnemann, considerado como o processo mais eficaz para a obtenção de TM a partir de vegetais frescos (Organon, §267), consiste na redução do vegetal fresco em pedaços pequenos até formar uma pasta fina, envolvida depois em um pano de linho novo. Este tecido é prensado para obter o suco. Esse é imediatamente misturado com álcool e conservado em frasco âmbar por alguns dias, ao abrigo da luz e do calor, para, afinal, ser filtrado em papel de boa qualidade. Este método por não considerar a quantidade de água que o vegetal fresco contém, pode proporcionar nas tinturas-mães diferentes concentrações de fármacos, dependendo da planta ter sido colhida nas épocas seca ou chuvosa, mesmo sendo da mesma espécie. - Método de Maceração – consiste em deixar a droga vegetal ou animal em contato com o veículo extrator adequado, de acordo com a monografia desta, com agitação, por certo tempo (em média 15 dias). Trata-se de um processo de extração que ocorre principalmente por difusão e osmose. O insumo inerte atua sobre a superfície celular exercendo sua ação dissolvente até o estabelecimento de igualdade de concentração entre os líquidos intra e extracelulares. Por isso, tanto o volume do veículo extrator quanto a agitação são importantes na extração pois, enquanto um maior volume de veículo extrator garante sua entrada para o interior da célula provocando o rompimento desta, a agitação proporciona uma melhor distribuição da droga, diminuindo a concentração ao redor das células, alterando o equilíbrio das concentrações. - Método de Percolação – depende essencialmente em fazer passar o insumo inerte através da droga já umedecida, contida em um recipiente adequado, onde o líquido é continuamente deslocado de cima para baixo até que todos os fármacos solúveis sejam esgotados. Nesse processo duas forças estão envolvidas: a pressão hidrostática, que ocorre de cima para baixo, em função do peso do veículo extrator; e a força da capilaridade, que ocorre de baixo para cima. Para vencer a força da capilaridade são necessárias adições sucessivas de insumo inerte no percolador. PREPARAÇÃO DA TINTURA-MÃE A PARTIR DO VEGETAL FRESCO: Veiculo (insumo inerte) – salvo indicação especial na monografia, etanol dos seguintes títulos: - Álcool a 90%, para resíduo seco até 25%; - Álcool a 80% para resíduo seco entre 30 e 35%; - Álcool a 70% para resíduo seco de 40 a 50%. 1- Seleção do vegetal: Logo após a colheita, o vegetal é levado ao laboratório onde se elimina as partes deterioradas e impurezas diversas (casca de ovo, penas de aves, insetos, crina de cavalo, etc.), lava-o com água corrente e enxágua-o com água pura. O excesso de água deve ser retirado com o uso de uma peneira, por exemplo. Por fim, o vegetal é enxugado com um pano limpo e seco. 2- Determinação do resíduo seco: Tome uma amostra (cerca de 100g) de vegetal fresco, divida-o em fragmentos suficientemente reduzidos e deixe-o em estufa à temperatura inferior a 50ºC no caso de conter resinas, materiais voláteis e óleos essenciais e até 100ºC para os demais, até peso constante. Calcule a percentagem do resíduo seco ou resíduo sólido (r. sol.) na amostra e arredonde o número obtido igualando-o ao mais próximo dos percentuais definidos anteriormente. Se o r. sol. for inferior a 20%, considere-o igual a 20%. Calcule o peso total do resíduo seco no vegetal fresco. Multiplique este número por 10 para obter a quantidade final (peso ou volume) da tintura-mãe. Portanto, a relação droga/insumo inerte é de 1:10 (p/v), ou seja, 10%. A amostra do vegetal utilizada para calcular o r. sol. deverá ser descartada. Exemplo 1: r. sol. encontrado = 25% vegetal fresco disponível = 1.000g 25% de 1.000g = 250g Logo, 250g do vegetal refere-se ao teor de r. sol. e 750g refere-se ao teor de água. A quantidade final de TM a obter será igual a 250g x 10 = 2.500g Exemplo 2: r. sol. encontrado = 30% vegetal fresco disponível = 800g Se r. sol. = 30%, o insumo inerte a ser utilizado será o álcool 80% (p/p). 30% de 800g = 240g (r. sol. total do vegetal) 800g – 240g = 560g (quantidade de água no vegetal) 240g x 10 = 2.400g (quantidade de TM a ser obtida) Logo, subtrair da quantidade final de TM a obter o teor de água que o vegetal contém, para chegarmos à quantidade de álcool 80% (p/p) que será utilizada na preparação da TM. 2.400g de TM – 560g de água do vegetal = 1.840g de álcool 80% O título hidroalcóolico da TM desse exemplo será diferente de 80%, pois a água contida no vegetal fresco diluirá o insumo inerte utilizado (álcool 80%). Para calcular o título hidroalcóolico da TM, devemos lançar mão dos seguintes cálculos: 1.840g de álcool 80% contêm, teoricamente, em torno de 20% de água e 80% de álcool absoluto, ou seja, 368g de água e 1.472g de álcool absoluto. Portanto, basta aplicar uma simples regra de três para chegarmos ao título hidroalcóolico da TM a obter. 2.400g 1.472g 100% X X = 61,33% 3- Preparação da TM: 3.1- Processo de Maceração: - Tomar o vegetal fresco devidamente rasurado e misturá-lo com 85% do volume total do álcool cujo teor e quantidade foram previamente calculados; - Deixar a mistura em recipiente de vidro ou de aço inoxidável, ao abrigo da luz, numa temperatura entre 16 e 22ºC; - Agitar a mistura no mínimo três vezes ao dia por vinte dias; Filtrar o macerado e guardar o filtrado. Prensar o resíduo, filtrar o líquido obtido por meio desse processo e juntar ao líquido anteriormente filtrado; - Acrescentar ao resíduo de prensagem quantidade suficiente de insumo inerte, misturar bem, prensar novamente e filtrar; - Repetir o processo até que se atinja a quantidade de dez vezes o r. sol.; - Deixar em repouso por 48 horas e filtrar em papel de filtro de boa qualidade. 3.2 – Processo de Percolação: - Macere o vegetal fresco devidamente dividido, em quantidade de etanol igual à metade de seu peso, por 8 dias ou mais; - Transfira o macerado para um percolador, comprima-o para evitar formação de canais por onde o líquido viesse a passar rapidamente sem esgotar o fármaco, deixe escoar a parte líquida e percole com quantidade de etanol necessária para obter quantidade de tintura-mãe, igual a 10 partes do resíduo seco; - Filtre. Percolador Conservação: recipiente bem fechado, ao abrigo do calor e da luz. Prazo de validade: muito longo. Eventual turvação, devido à sedimentação de partículas suspensas, deverá ser eliminada por meio de filtração. PREPARAÇÃO DA TM A PARTIR DO VEGETAL DESSECADO: Veículo (insumo inerte) – etanol a 60%, salvo indicação especial em monografia. 1) Pelo processo de percolação: - Reduza o vegetal dessecado a pó moderadamente grosso ou semi-fino (tamis 40 ou 60), salvo indicação especial na monografia, por meio de contusão; - Umedeça-o com quantidade de etanol igual a cerca de 20% do seu peso ou submeta-o a turbólise (passagem pelo liquidificador) por 15 a 30 minutos; - No caso do fármaco ter sido apenas umedecido, deixe em maceração apenas por 4 horas; - Colocar sobre a placa base do percolador uma folha de papel de filtro para evitar que a torneira entupa; - Transfira o pó umedecido para um percolador, comprima-o para evitar formação de canais por onde o líquido viesse a passar rapidamente sem esgotar o fármaco e cubra-o com o restante do álcool, permanecendo a torneira aberta; - Logo que a coluna do fármaco fique impregnada e o líquido comece a escoar, feche a torneira do percolador e mantenha-a assim por 24 horas; - Percole, , regulando a torneira de modo que escoem 8 gotas por minuto para cada 100g do fármaco; - Cesse a percolação quando o percolado atingir quantidade igual a 10 partes do fármaco. - Deixar em repouso por 24 horas e, em seguida, filtrar em papel de filtro de boa qualidade. 2- Pelo Processo de Maceração: - Deixe o vegetal dessecado e devidamente dividido por 15 dias ou mais em contato com 10 partes do etanol, numa temperatura entre 16 e 22ºC e ao abrigo da luz, agitando o recipiente no mínimo 3 vezes ao dia; - Decante, filtre e guarde este primeiro líquido; - Prense o macerado e junte o líquido obtido ao primeiro; - Se não atingir 10 partes do fármaco, acrescente ao resíduo da prensagem a quantidade necessária de etanol, prense novamente e com o líquido obtido complete a quantidade de tintura-mãe. - Misturar os líquidos obtidos, deixar em repouso 48 horas; - Filtre. Conservação: recipiente bem fechado, ao abrigo do calor e da luz direta. Prazo de validade: muito longo. Eventual turvação devido à sedimentação de partículas suspensas, deverá ser eliminada por meio de filtração. PREPARAÇÃO A PARTIR DA TM A PARTIR DE ANIMAL VIVO, RECÉMSACRIFICADO OU DESSECADO: Veículo: etanol 65 a 70%, mistura em partes iguais de água e glicerina, mistura de etanol, água e glicerina na proporção de 1:1:1, ou aquele indicado na respectiva monografia. Processo: maceração. - Mantenha uma parte da droga animal devidamente fragmentada ou não, em contato com 20 partes do insumo inerte, por 20 dias agitando o recipiente no mínimo três vezes ao dia, seguindo as especificações da monografia; - Essa maceração deverá ser realizada em lugar refrigerado e ao abrigo da luz; - Filtrar sem prensar ou espremer o resíduo; - Se a quantidade de TM final não atingir 20 vezes o peso da droga animal, acrescentar ao resíduo do macerado quantidade suficiente do veículo extrator; - Manter o líquido obtido em repouso por 48 horas; - Filtrar em papel de filtro de boa qualidade. Conservação: recipiente bem fechado, ao abrigo da luz direta e do calor. As TM hidroglicerinadas devem ficar estocadas em ambiente refrigerado com prazos de validade inferior a seis meses.