FICÇÃO GEOGRÁFICA: TECNOLOGIA E A ESPACIALIDADE DOS PERSONAGENS HUMANOS NOS FILMES DE FICÇÃO Carlos Alexandro Keiber (PIBIC/Fundação Araucária/UEPG), Almir Nabozny (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Geociências. Área do conhecimento: Ciências Humanas (7.00.00.00-0). Sub-área do conhecimento: Geografia (7.06.00.00-7). Palavras-chave: Espacialidade, Psicosfera, Tecnosfera. Resumo: O trabalho tem como objetivo compreender como a tecnologia compõe a espacialidade dos personagens humanos em filmes de ficção. Foi analisado os efeitos de alienação e “efeitos de massa” sofridos pelos personagens em meio a exacerbação do uso das tecnologias. O espaço geográfico é considerado em termos de um simulacro no “espaço fílmico”, a partir do qual se faz uma relação dos personagens com os imaginários tecnológicos de diretores e roteiristas. Como procedimentos realizou-se leituras sistemáticas de bibliografias especializadas (teorias geográficas e informações gerais sobre cinema), interpretação (assistida) de obras fílmicas, análise de sinopses dos filmes e leitura de dados biográficos dos realizadores dos filmes (diretores e roteiristas). A teorização científica das obras cinematográficas são ancoradas nas concepções teóricas de “psicosfera” e “tecnosfera” (SANTOS, 2002); em que busca-se contemplar como a técnica se apropria do espaço (tecnosfera) – prótese espacial do “imaginário de futuro” e simultaneamente simula a percepção de mundo humana (representado na mise-en-scène fílmica pelos personagens humanos). Quanto aos resultados destacam-se aspectos teóricos em que os filmes são concebidos enquanto uma representação da realidade cultural ou um texto que atua na produção de sentidos “co-formando” a realidade social. Introdução Os filmes foram analisados enquanto “paisagem geográfica”; segundo Jeff Hopkins (2009) citado por Corrêa e Rosendahl (2009) o filme é uma paisagem semiótica, que cria experiências genuínas com o espaço e o tempo. Os filmes foram os textos geográficos trabalhados, pois segundo Costa (2005) filmes são valiosos objetos de estudo para a análise geográfica (“textos” geográficos). Segundo Hopkins (2009) a imagem do filme com suas técnicas e efeitos cria um meio ambiente que se torna indistinto do real, em que o real e o imaginário se condensam. Conforme Fioravante (2012) o cinema possui a capacidade de intervir em nossa construção da realidade, bem como nos ajuda a construir visões e opiniões sobre determinados assuntos. O trabalho ancorou-se em dois “aspectos chaves”: alienação e efeitos de massa - foram analisados situações em que esses são expressos pelos personagens humanos mediante ao uso da tecnologia. Trabalhou-se com Metrópolis (1927) de Fritz Lang e The Matrix (1999) de Lana Wachowski e Lilly Wachowski, sendo épocas diferentes no recorte temporal, para se ter diferentes visões de futuro de acordo com o imaginário dos autores. Para compreensão da tecnologia implantada no espaço, optou-se por trabalhar com as ideias de “psicosfera e tecnosfera” de Santos (2002) em que a primeira ideia refere-se ao conjunto de técnicas de um território dependente da ciência ou da tecnologia - paralelamente acompanhada de uma “psicosfera” - fazendo parte do mundo das ideias, das paixões, crenças e lugar de produção de um sentido, responsável por fornecer racionalidade ou estimular o imaginário. Procurou-se estabelecer uma relação entre essas proposições teóricas de Santos (2002) com o espaço fílmico e relacioná-los a seus personagens pela análise de falas, comportamentos, expressões, etc., durante as cenas interpretadas como representativas de alienação e “efeitos de massa”. Materiais e métodos O material utilizado foram os filmes, Metrópolis e Matrix, o primeiro sendo alemão de gênero ficção científica, drama e suspense e o segundo estadunidense e australiano, gênero ação e ficção científica. Através da metodologia da intertextualidade, buscou-se discutir (baseado em livros e artigos científicos) nas obras fílmicas, situações de alienação e efeitos de massa sofridos pelos personagens conforme a formação de uma “tecnosfera” e “psicosfera” na paisagem geográfica do espaço fílmico. Também observou-se intertextualidades entre os filmes. Resultados e Discussões Filmes podem ser fontes de trabalho “dentro” da Geografia, enquanto textos geográficos. Na visão de Costa (2005) se faz necessário entender a complexa relação entre cinema e o mundo real, assim, a autora debate com autores como Duncan e Ley (1993), Cosgrove e Daniels (1988) para referenciar que o estudo de um espaço ou um lugar vai além do simples levantamento de dados empíricos e a análise de elementos e conceitos concretos, mas também inclui uma variedade de representações como a literatura, a fotografia, o filme, etc. Percebeu-se nos filmes a “simulação” de como a tecnologia implantada no território, forma uma “tecnosfera” e com ela uma “psicosfera” de alienação e efeitos de massa. Segundo Santos (2002) a “tecnosfera” adere ao lugar como prótese, no filme Metrópolis a “tecnosfera” era mecânica, um conjunto de engrenagens, pistões que transformavam os homens em “máquinas” alienadas. Em Matrix a informação confunde-se com o “próprio território” sob o domínio de uma realidade virtual. Conclusões Não apenas podemos nos servir da “realidade empírica” para o trabalho científico, podemos utilizar de várias fontes, como os filmes enquanto representação do real, considerando-os como uma paisagem podemos apontar uma maneira diferenciada de pensar nosso mundo através do que é possível ser expresso na tela e que está longe das leis do mundo empírico. Os filmes interpretados retratam uma “teleologia” que exacerba o futuro, apesar de que em Metrópolis não é a intenção do autor, porém, pode utilizar-se dele como imaginário de futuro. Para o pesquisador é possível fazer uma leitura profunda dos filmes relacionando-os com esferas da ciência, nesse caso uma leitura geográfica da relação das personagens com sua “realidade do filme”, além de servir como reflexão da construção social da realidade vivida pelo pesquisador. Agradecimentos Agradecemos a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) pela realização do Programa de Iniciação Científica e a Fundação Araucária pela concessão da bolsa de estudos. Referências CORRÊA, R. L; ROSENDAHL, Z. Cinema Música e Espaço: Uma Introdução. In: CORRÊA, R. L; ROSENDAHL, Z. (orgs.). Cinema, Música e Espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2009. p.07-13. COSTA, M. H. B. V. Geografia Cultural e Cinema: Práticas Teóricas e Métodos In: ROSENDAHL, Z; CORRÊA, R. L (orgs). Geografia: Temas Sobre Culturas e Espaços. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2005. p.63-73. FIORAVANTE, K. E Espaço Carcerário, Gênero e Cinema: as imagens prisionais. Revista Ateliê Geográfico- RAJ, Goiânia, v. 6, n.1, p.218-245, abr. 2002. HOPKINS, J. Um Mapeamento de Lugares Cinemáticos: ícones, ideologia e o poder da representação enganosa. In: CORRÊA, R. L; ROSENDAHL, Z (orgs). Cinema música e espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2009, p.59-89. SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: Edusp, 2002.