UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS MESTRADO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FABIANA FERREIRA MARTINS EFEITO DO CONSUMO DE BISCOITOS ENRIQUECIDOS COM CÁLCIO EM PACIENTES COM FENILCETONÚRIA. NITERÓI 2007 FABIANA FERREIRA MARTINS EFEITO DO CONSUMO DE BISCOITOS ENRIQUECIDOS COM CÁLCIO EM PACIENTES COM FENILCETONÚRIA. Dissertação apresentada no Curso de PósGraduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção de grau de mestre. Área de Concentração: Atenção Integrada à Criança. Orientador: Prof. Dr.Gilson Teles Boaventura NITERÓI 2007 FABIANA FERREIRA MARTINS EFEITO DO CONSUMO DE BISCOITOS ENRIQUECIDOS COM CÁLCIO EM PACIENTES COM FENILCETONÚRIA. Dissertação apresentada no Curso de PósGraduação em Ciências Médicas da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção de grau de mestre. Área de Concentração: Saúde da Criança e do Adolescente. Aprovada em ____________________ de 2007. BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________ Profa. Dra. Joyce Do Valle da Silva (UFF) ______________________________________________________ Prof. Dr. Armando Ubirajara Oliveira Sabaa Srur (UFRJ) ______________________________________________________ Prof. Dr. Adauto Dutra Moraes Barbosa (UFF) NITERÓI 2007 De tudo ficam três coisas: A certeza de que estamos sempre começando, A certeza de que é preciso continuar e A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminarmos. Fazer da interrupção um novo caminho, Da queda um passo de dança, Do medo uma escada, Do sonho uma ponte, Da procura um encontro. (Fernando Sabino) Dedico a minha família. VI AGRADECIMENTOS À Deus por me permitir chegar até aqui. À minha família, em especial ao meu pai e minha mãe, pela paciência, e, sobretudo pelo carinho e compreensão. Ao Felipe pelo companheirismo e carinho constantes. A minha grande amiga e parceira neste trabalho Andréa Barcellos. Ao meu orientador Gilson Teles Boaventura pela paciência e apoio sempre, dedicados a mim e a todos os orientandos que por ele passam. À APAE-Rio por ter permitido a realização deste trabalho. À professora Shizuko, pelo carinho e boa vontade. À professora Wanise que me apoiou todo o tempo sem medir esforços, agradeço pela sua dedicação e confiança depositadas em mim. Aos meus queridos amigos do LABNE, em especial à Flávia Fernandes, Juliana Thomaz, Mariana Sarto, Júlio Daleprane, Carolina Crócia, Ana Maria, Aline Troina e Natália pelo companheirismo e ajuda. À Vanessa Brás, e Keity Maia por terem colaborado muito para realização deste trabalho. Às minhas voluntárias Vanessa Misan, Natérsia, Jardiere, Natália Correa, Carolina Alves, sem as quais não poderia realizar a principal etapa deste trabalho. VII TRABALHOS PARCIAIS APRESENTADOS EM EVENTOS: 1. MARTINS, F.F., MENDES, A.B., CRUZ, W.M.S., BOAVENTURA, G.T., KAJISHIMA, S., COSTA, E. Q. Avaliação da Preferência de Biscoitos Enriquecidos com Cálcio para Fenilcetonúricos. In: 8º CONGRESSO NACIONAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO - SBAN, 2005, SÃO PAULO. 2. MARTINS, F.F., MENDES, A.B., CRUZ, W.M.S., BOAVENTURA, G.T., KAJISHIMA, S. Avaliação Sensorial de Diferença entre Biscoitos Enriquecidos com Cálcio. In: 14º CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE NUTRIÇÃO-SLAN, FLORIANÓPOLIS, 2006. 3. MARTINS, F.F., MENDES, A.B., CRUZ, W.M.S., BOAVENTURA, G.T., KAJISHIMA, S. Avaliação da Densidade Mineral Óssea de Pacientes Fenilcetonúricos Recebendo Biscoitos enriquecidos com cálcio. In: 17º CONGRESSO BRASILEIRO DE NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL, FLORIANÓPOLIS, 2007. PRODUTOS TECNOLÓGICOS COM REGISTRO OU PATENTES 1. MARTINS, F.F., MENDES, A.B, BOAVENTURA, G.T, CRUZ, W.M.S., KAJISHIMA, S., SRUR, S.O.U.A. Biscoito Enriquecido com Cálcio para Indivíduos Portadores de Fenilcetonúria, 2007. Protocolo: 020070147480; 19/10/2007. TRABALHO ENCAMINHADO PARA PUBLICAÇÃO 1. MARTINS, F.F., MENDES, A.B, BOAVENTURA, G.T, CRUZ, W.M.S., KAJISHIMA, S., SRUR, S.O.U.A. Fenilcetonúria e o Metabolismo de Cálcio. Revista de Nutrição PUCCAMP, 2007. Protocolo: 1413. VIII SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................................16 2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................................18 3 OBJETIVOS...............................................................................................................................20 3.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................................20 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................................20 4.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................21 4.1 FENILCETONÚRIA...............................................................................................................21 4.2 PKU E A SUPLEMENTAÇÃO DE CÁLCIO........................................................................26 5.0 CASUÍSTICA E MÉTODO ....................................................................................................32 5.1 POPULAÇÃO DE ESTUDO ..................................................................................................32 5.2 PROTOCOLO .........................................................................................................................32 5.2.1 Avaliação da Ingestão Alimentar do Participante ................................................................33 5.2.2 Biscoito enriquecido com carbonato de cálcio .....................................................................33 5.2.2.1 Processo de fabricação do biscoito ...................................................................................33 5.2.2.2 Determinação da composição centesimal..........................................................................34 5.2.2.3 Avaliação sensorial dos biscoitos enriquecidos com carbonato de cálcio.........................34 5.2.3 Avaliação Nutricional...........................................................................................................35 5.2.3.1 Peso....................................................................................................................................35 5.2.3.2 Altura .................................................................................................................................35 5.2.3.3 Índice de Massa Corporal (IMC).......................................................................................36 5.2.3.4 Indicadores para Crianças e Adolescentes.........................................................................36 5.2.4 Acompanhamento dos níveis de PHE plasmáticos durante o consumo do biscoito. ..........36 5.2.5 Estimativa da ingestão de cálcio e avaliação do consumo do biscoito.................................36 5.2.6 Avaliação da idade óssea (IO) através de exame de raio X de mãos e punhos ....................37 5.2.7 Aquisição do resultado da densitometria óssea ....................................................................37 5.2.8 Análise estatística dos dados ................................................................................................38 6 RESULTADOS .........................................................................................................................39 6.1 BISCOITO ENRIQUECIDO COM CARBONATO DE CÁLCIO ........................................40 6.1.1 Avaliação Sensorial ..............................................................................................................40 6.1.2 Determinação da composição centesimal.............................................................................41 IX 6.2 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL .............................................................................................42 6.3 ACOMPANHAMENTO DOS NÍVEIS DE PHE PLASMÁTICOS DURANTE O CONSUMO DO BISCOITO. ........................................................................................................45 6.4 ESTIMATIVA DA INGESTÃO DE CÁLCIO E AVALIAÇÃO DO CONSUMO DO BISCOITO.....................................................................................................................................48 6.5 AVALIAÇÃO DA IDADE ÓSSEA .......................................................................................51 6.6 DENSITOMETRIA ÓSSEA ...................................................................................................53 7 DISCUSSÃO ..............................................................................................................................61 7.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL .............................................................................................62 7.2 AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE PHE ...................................................................................63 7.3 INGESTÃO DE CÁLCIO .......................................................................................................65 7.4 AVALIAÇÃO DA IDADE ÓSSEA .......................................................................................66 7.5 DENSITOMETRIA ÓSSEA ...................................................................................................68 8 CONCLUSÃO............................................................................................................................72 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................73 9.1 OBRAS CITADAS ................................................................................................................73 9.2 OBRAS CONSULTADAS .....................................................................................................84 10 ANEXOS ..................................................................................................................................87 10.1 RECOMENDAÇÕES DE ENERGIA E PROTEÍNA PARA PKU......................................88 10.2 RECOMENDAÇÕES DE NUTRIENTES PARA CRIANÇAS, ADOLESCENTES E ADULTOS NORMAIS. ................................................................................................................89 10.3 CLASSIFICAÇÃO PARA OS INDICADORES ALTURA PARA IDADE (A/I), PESO PARA IDADE (P/I) E PESO PARA ALTURA (P/A) EXPRESSOS EM Z-SCORE..................90 10.4 CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL EM ADULTOS DE ACORDO COM O IMC RELACIONADO COM MORBIDADE. .............................................................................91 X ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Herança Genética da Fenilcetonúria. Figura 2. Via metabólica alternativa gerada pelo acúmulo de fenilalanina. Figura 3. Ficha utilizada na avaliação da aceitabilidade do biscoito enriquecido com cálcio. Figura 4. Questionário para avaliação do consumo do biscoito. Figura 5. Cálculo da Idade Óssea de Greulich e Pyle (1950). Figura 6. Resultado da avaliação da preferência entre os biscoitos. 21 22 35 37 37 41 XI ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1. Valores Encontrados para Indicadores de Estado Nutricional para Crianças e Adolescentes e Adultos antes do consumo do biscoito. Quadro 2. Níveis plasmáticos de PHE (mg/dL) antes do consumo do biscoito enriquecido Quadro 3. Resultado do Raio X de Mãos e Punhos antes do consumo do biscoito Quadro 4 . Resultado da densitometria óssea de coluna lombar antes do consumo do biscoito enriquecido Quadro 5. Resultado da densitometria óssea de corpo inteiro Resultado da densitometria óssea de corpo inteiro 42 46 52 54 55 XII ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS Tabela 1-Composição Centesimal do Biscoito enriquecido. Tabela 2-Valores Encontrados para Indicadores de Estado Nutricional para Crianças, Adolescentes e Adultos após o consumo do biscoito. Tabela 3 - Níveis plasmáticos de PHE (mg/dL) após o consumo do biscoito enriquecido. Tabela 4. Ingestão de Cálcio dos Participantes. Tabela 5. Resultado do Raio X de Mãos e Punhos após consumo do biscoito Tabela 6. Resultado da densitometria óssea de coluna lombar após consumo do biscoito. Tabela 7. Resultado da densitometria óssea de corpo inteiro após o consumo do biscoito. Gráfico 1. Distribuição por sexo dos pacientes estudados Gráfico 2. Classificação por faixa etária dos pacientes estudados. Gráfico 3. Avaliação de Estado Nutricional do grupo de crianças. Gráfico 4. Avaliação de Estado Nutricional do grupo de adolescentes. Gráfico 5. Avaliação de Estado Nutricional do grupo de crianças Gráfico 6. Avaliação de Estado Nutricional do grupo de adolescentes Gráfico 7. Níveis plasmáticos de PHE (mg/dL) antes do consumo do biscoito Gráfico 8. Níveis plasmáticos de PHE (mg/dL) após o consumo do biscoito Gráfico 9. Estimativa de Ingestão de cálcio antes do consumo do biscoito Gráfico 10. Estimativa de Ingestão de cálcio após o consumo do biscoito. Gráfico 11. Ingestão estimada de cálcio antes e após o consumo do biscoito em crianças. Gráfico 12. Ingestão estimada de cálcio antes e após o consumo do biscoito em adolescentes Gráfico 13. DMO de coluna antes do consumo do biscoito. Gráfico 14. DMO de corpo inteiro antes do consumo biscoito. Gráfico 15. DMO de coluna após o consumo do biscoito. Gráfico 16. DMO de corpo inteiro após o consumo do biscoito. Gráfico 17. Correlação entre cálcio antes e DMO corpo antes Gráfico 18. Correlação entre cálcio depois e DMO corpo depois 41 44 47 48 53 57 57 39 40 43 43 44 45 47 48 50 50 51 51 56 56 58 59 59 60 XIII LISTA DE ABREVIAÇÕES APAE-RIO APAE-SP BHq2 BH4 CaCO3 CMO DEXA DHPR DMH DP DMO EIM FDA GTPCH GH HUAP IGF-1 MS NIH NCHS OMS PKU PAH PHE PTPS-6 PTH RDA TYR VITAMINA B12 VITAMINA D3 WHO 1,25(OH)2 IO IC Associação de Pais e Amigos de Excepcionais do Rio de Janeiro Associação de Pais e Amigos de Excepcionais do Rio de São Paulo Diidrobiopterina Tetraidrobiopterina Carbonato de cálcio Conteúdo mineral ósseo Dual ray absorptionmetry Dihidropterina redutase Distúrbios metabólicos hereditários Desvio-padrão Densidade mineral óssea Erros inatos do metabolismo Food and Drug Administration GTPciclohidrolase I Hormônios do crescimento Hospital Universitário Antônio Pedro Fator de crescimento como a insulina Ministério da Saúde National Institute of Health National Council Health Statistics Organização Mundial de Saúde Fenilcetonúria Fenilalanina Hidroxilase Fenilalanina Piruvolil-tetrahidropterina sintase Hormônio da glândula paratireóide Recomendações diárias Tirosina Cobalamina Colicalciferol World Health Organization Dihidrocolicalciferol Idade Óssea Idade Cronológica XIV RESUMO A fenilcetonúria (PKU) é a forma de hiperfenilalaninemia mais freqüente dentre os erros inatos do metabolismo, sendo uma doença de herança genética recessiva ocorrendo em média de 1:12.000 nascido vivos, caracterizada pela deficiência da enzima fenilalanina hidroxilase que converte o aminoácido fenilalanina (PHE) em tirosina. O retardo mental irreversível é o principal sintoma detectável a partir dos 6 meses de idade em decorrência do acúmulo deste aminoácido no sangue. O objetivo deste trabalho foi avaliar se a suplementação de pacientes PKU acima de 8 anos de idade, através de biscoitos enriquecidos com carbonato de cálcio, pode exercer influência na densidade mineral óssea dos mesmos suprindo a deficiência de cálcio e evitando osteopenia e fraturas precoces, bem como criar uma nova opção de alimento para o PKU. A amostra foi composta por 15 pacientes PKU. Havia 5 crianças a partir de 8 anos de idade (4F, 1M), 8 adolescentes (3M, 5F) e 2 adultos de diagnóstico tardio, (1M, 1F), triados e acompanhados na APAE-RIO. Estes receberam um termo de consentimento que foi assinado por seus responsáveis. Dados dos pacientes foram coletados a partir de prontuário, avaliação antropométrica, Rx de mãos e punhos, e densitometria óssea (DMO) de coluna e corpo inteiro. Para ser realizado este trabalho, foi solicitada e concedida aprovação de Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina do HUAP. As correlações entre variáveis que não normais foram mensuradas pelo coeficiente de correlação de Spearman. As decisões estatísticas foram tomadas ao nível de significância de 0,05 (5%). A análise dos dados foi realizada por meio do software Excel 2000 da Microsoft e do software SPSS v.10 foram utilizadas também tabelas, quadros, gráficos e parâmetros, tais como, médias, desvio padrão e proporções. Os resultados encontrados para as médias de PHE por sexo no grupo de crianças apresentaram-se altas, no de adolescentes adequados e no de adultos um pouco acima do padrão para o sexo feminino e adequado para o masculino. Na avaliação antropométrica, o indicador A/I revelou déficit moderado no menino (grupo de crianças), e déficits leve (63%) e moderado (12%) nos adolescentes. Este indicador permitiu verificar melhora após suplementação no grupo de crianças, o que se confirmou pela classificação, segundo Aldori (1994) de déficit moderado, que antes era déficit grave. Os indicadores P/A e P/I utilizados para o grupo de crianças e adolescentes respectivamente revelaram adequação para ambos os grupos. O IMC nos adultos revelou que os indivíduos do sexo masculino e feminino encontravam-se obesos. Verificou-se através do raio X de mãos e punhos idade óssea (IO) menor do que idade cronológica apenas em uma criança, e correção da osteopenia de uma criança anteriormente apresentando este quadro. A DMO indicou 1 criança e 6 adolescentes abaixo do esperado, e ausência de osteopenia encontrada em um adolescente antes do processo. Não houve correlação estatística entre a ingestão de cálcio e a DMO de corpo antes do consumo do biscoito enriquecido; nem da ingestão do cálcio com o biscoito enriquecido e a DMO de corpo depois da suplementação, embora os resultados tivessem sido clinicamente positivos. Pode-se sugerir um consumo mais regular dos biscoitos e aumento da ingestão diária de cálcio pudesse estabelecer uma correlação entre a ingestão de cálcio e a aquisição de massa XV ABSTRACT Phenylketonuria (PKU) is the most commonly hyperphenylalaninemia of inborn error of metabolism that is inherited in an autosomal recessive manner and the reported incidence ranges from 1 per 12.000 newborns, characterized by defective activity of the enzyme phenylalanine hidroxilase, which converts the amino acid phenylalanine (PHE) on tyrosine. The irreversible mental retardation is the main impaired detected in the early 6 months show very high elevations of blood PHE concentration. The objective of this study was to assess whether the supplemental PKU patients over 8 years of age, through biscuits fortified with calcium carbonate to prevent the osteopenia and fractures in early life, to supply the recommended calcium dietary alowances and create a new food option for PKU. 15 patients completed the study measurements. The subjects were grouped as follows: 5 children (4 girls, 1 boy) ages 8-12 years, 8 adolescents (3 boys, 5 girls) ages 12-18 and 2 adults (1 female, 1 male) treated late, ages after 18 years. Informed consent was obtained from the parents of the PKU children, adolescents and adults for the study. Patient’s data were collected from record book, 24 h dietary records, anthropometric measurements, x- rays of hands and fists and bone mineral density (BMD) of lumbar spine and total BMD. This study was approved by Antônio Pedro University Hospital College of Medicine Research Ethics Committee. To describe statistically the data were used tables, graphs and parameters such as average, standard deviation and proportions. The results for the averages of PHE by gender in the group of children had been high in the teens and appropriate in the adult slightly above the standard for female and appropriate for the male. The anthropometric assessment, the indicator H/A showed moderate deficit in the boy (group of children), and light deficit (63%) and moderate (12%) in the adolescents. This indicator showed improvement in the group after supplementation of children, which is confirmed by classification, according Aldori (1994), moderate deficit, which was before serious deficit. The indicators W/H and W/A used to the group of children and adolescents respectively revealed suitability for both groups. The BMI in adults showed that the males and females have been obese. It was found by X ray of hands and wrists bone age (IO) lower than chronological age only in a child, and correction of osteopenia of the female child. The BMD indicated 1 child and 6 adolescents below the expected, and absence of osteopenia found in a teenager before the supplementation. There wasn’t statistical correlation between the consumption of calcium before the biscuit neither BMD before supplementation, although the results had been clinically positive. Maybe a more regular consumption of biscuits and increasing the daily intake of calcium could establish a correlation between the intake of calcium and the acquisition of mass. 16 1. INTRODUÇÃO Atualmente são conhecidos diversos Erros Inatos do Metabolismo (EIM). Muitos deles correspondem a enfermidades graves, que evoluem com freqüência para o óbito, ou causam seqüelas importantes como a deficiência mental. Os EIM são afecções hereditárias resultantes de um defeito enzimático específico, que determina um bloqueio de uma via metabólica. Desta forma, pode ocorrer o acúmulo do substrato inicial, a deficiência do produto da reação, ou, devido ao desvio da rota metabólica, o surgimento de outro produto final (OLIVEIRA et al, 2001). Em geral, a maioria dos EIM é herdada de forma autossômica recessiva, e o risco de ocorrência é de aproximadamente 25% a cada gestação de pais heterozigotos. Apesar de serem raros, os EIM possuem incidência cumulativa alta, estando associados a enfermidades clínicas severas (MARTINS, 2003). A Fenilcetonúria (PKU) é um EIM decorrente da herança de dois genes recessivos, que acarretam a deficiência da produção hepática da enzima Fenilalanina Hidroxilase (PAH). Esta deficiência enzimática leva ao acúmulo de metabólitos intermediários específicos, além de elevar os níveis de fenilalanina (PHE) no sangue e tecidos. Assim, uma via secundária ao metabolismo da PHE, que normalmente é pouco ativa, passa a produzir metabólitos, que o organismo não metaboliza adequadamente. Nesta via a PHE, que se acumula, sofre transaminação com o piruvato, originando o ácido fenilpirúvico, que ao ser descarboxilado ou reduzido produz os ácidos feniláctico e fenilacético, sendo este último responsável pelo odor de mofo na urina. O diagnóstico precoce é feito a partir da presença desses ácidos na urina. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). O tratamento dietoterápico, fundamental para manutenção de níveis adequados de PHE, é caracterizado por restrição alimentar e deficiência de macro e micronutrientes; Fisberg (1999) destaca a carência de cálcio dietético nesses pacientes. 17 Al-Qadreh et al (1998) demonstraram perda de massa óssea em portadores de PKU, que freqüentemente apresentavam fraturas, sendo maior a incidência naqueles acima de 8 anos de idade. Os autores destacaram, ainda, que o rápido aumento da estatura, a mineralização óssea na adolescência e o baixo controle dos níveis de PHE têm sido descritos como os principais fatores para redução da densidade óssea nesse período. O desenvolvimento e avaliação de gêneros alimentícios, no Brasil, para indivíduos com exigências nutricionais especiais, como portadores de fenilcetonúria, é uma área de trabalho ainda incipiente. A associação de portadores dessa disfunção, a APAE (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais), tem se encarregado de orientar e informar onde os produtos especiais podem ser adquiridos. Porém uma reclamação constante é a pouca disponibilidade desses alimentos no mercado. Embora os produtos destinados aos pacientes portadores de Diabetes e de Doença Celíaca, por exemplo, sejam facilmente encontrados nos estabelecimentos comerciais, as indústrias de alimentos ainda não manifestaram interesse pela produção de produtos para fenilcetonúricos. Os que existem no mercado atualmente são, em sua quase totalidade, importados, caros e muitas vezes não atendem às exigências de qualidade nutricional específica de seus consumidores (FARFAN, 1998). Assim, os portadores de PKU têm dificuldades tanto para a manutenção adequada da dieta, quanto para a integração social, devido à monotonia dos alimentos que compõem seus cardápios. 18 2. JUSTIFICATIVA O tratamento da Fenilcetonúria é exclusivamente dietético. Este consiste na redução de alimentos fontes de proteína e, especialmente, aqueles com alto teor do aminoácido fenilalanina. Isto torna a alimentação limitada e deficiente em diversos nutrientes, como cálcio e o zinco, por exemplo, cujas melhores fontes são os alimentos protéicos. A ingestão inadequada de nutrientes, em pacientes sob tratamento dietoterápico, é uma das principais causas apontadas para a deficiência nutricional, pois os alimentos disponíveis não suprem na totalidade as necessidades de nutrientes, inclusive de cálcio de grande importância por desempenhar funções reguladora e estrutural (WALTER et al, 2002). Dessa forma, os pacientes portadores de PKU podem se beneficiar ao consumirem alimentos enriquecidos com cálcio, e baixos teores de PHE, a fim de suprir as recomendações nutricionais para este mineral e não alterarem os níveis plasmáticos de PHE. A elaboração de produtos enriquecidos cria mais uma opção alimentar para aqueles que a dieta tem oferta de alimentos limitada. 19 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 FENILCETONÚRIA A Fenilcetonúria (PKU) é o mais comum dos EIM relacionado ao metabolismo de aminoácidos. Foi descrita inicialmente pelo químico norueguês Asbjorn Folling em 1934, como oligofrenia fenilpirúvica, ao examinar dois irmãos portadores da doença que apresentavam quadro clínico de retardo mental, associando o achado a excreção urinária de ácido fenilpirúvico e fenilacético (AMORIM et al, 2005). É decorrente da herança de dois genes recessivos, que acarretam a deficiência da produção hepática da enzima Fenilalanina Hidroxilase (PAH), pela mutação do gene localizado no cromossomo 12q22-24.1 (MARQUEZ, 1996). A figura 1 esquematiza a herança genética da Fenilcetonúria. Figura 1: Herança Genética da Fenilcetonúria Fonte: htpp: //www.appdgaucher.org.br 20 Já foram identificadas mais de 400 mutações diferentes que causam o fenótipo PKU. Esses diferentes tipos de mutações podem influenciar no transporte cerebral da PHE ou no controle metabólico do “pool” da PHE, principalmente na PKU clássica (MARQUEZ, 1996). A PAH possui atividade no tecido hepático, promovendo a conversão do aminoácido PHE em tirosina (TYR). Desta forma, a deficiência desta enzima acarreta redução na conversão de PHE em TYR e conseqüente aumento de PHE no sangue. Na ocorrência de PKU a entrada para o cérebro dos aminoácidos valina, leucina, isoleucina, triptofano e TYR sofre alterações, pois competem pelo mesmo transportador, o qual possui maior afinidade pela PHE. Assim a elevação sanguínea de PHE (≥1200 µmol/L) não apenas prejudica a entrada destes aminoácidos, como também leva ao acúmulo de PHE cerebral; leva a formação de metabólitos tóxicos como ácido fenilacético, ácido 2-hidroxifenilacético e ácido fenilpirúvico (DING et al, 2004). A figura 2 apresenta a via metabólica de formação de substratos tóxicos a partir do acúmulo de PHE. Figura 2: Via metabólica alternativa gerada pelo acúmulo de fenilalanina. Fonte: www.ucm.es/info/genetica/grupod/genenzima/genenzima.htm. Segundo Blau et al (2003) e National Institute of Health (2000) níveis de PHE elevados no cérebro, em pacientes não tratados, se comportam como um inibidor das enzimas tirosina hidroxilase e triptofano hidroxilase, reduzindo a produção de catecolaminas, 21 dopamina e serotonina, o que contribui para o retardo mental e alteração do comportamento. Outros distúrbios clínicos associados à doença que podem ser destacados são: microencefalia, dificuldade no andar, epilepsia, eczema, descalcificação de ossos longos, retardo de crescimento, agressividade, hipopigmentação de pele e cabelos, odor de mofo na urina, e outros sintomas. O teste diagnóstico mais utilizado é o método de inibição bacteriana, adaptado pelo biólogo Robert Gunthrie. O rastreamento neonatal para PKU no Brasil teve inicio década de 70, na cidade de São Paulo, através da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE). Somente a partir da Lei Federal nº 8069/90 do Estatuto da Criança e Adolescente passou a ser obrigatório em todo o território nacional (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). De acordo com o Ministério da Saúde (2003), a Fenilcetonúria pode ser classificada em: • Fenilcetonúria Clássica: quando a atividade da enzima fenilalanina hidroxilase é praticamente inexistente (atividade<1%) e, conseqüentemente, os níveis plasmáticos encontrados de fenilalanina são >20mg/dl ou >120 mmol/L. • Fenilcetonúria Leve: quando a atividade da enzima é de 1 a 3% e os níveis plasmáticos de fenilalanina encontram-se entre 10 a 20 mg/dl ou 600 a 1200 mmol/L. • Hiperfenilalaninemia Transitória ou Permanente: quando a atividade enzimática é superior a 3%, os níveis de fenilalanina encontram-se entre 4 e 10 mg/dl ou 240 a 600 mmol/L, e não deve ser instituída qualquer terapia aos pacientes, pois é considerada uma situação benigna, não ocasionando qualquer sintomatologia clínica. Assim, de acordo com Amorim et al, (2005) o nível de PHE sérica, no momento do diagnóstico, fornece uma estimativa da atividade enzimática, permitindo-se estabelecer do fenótipo bioquímico. Embora a PKU seja caracterizada como uma doença pan-étnica, sua freqüência se dá de diferentes formas em grupos étnicos diversos, sendo mais comum no norte da Europa, especialmente na Irlanda, e rara entre negros africanos e japoneses (SOUZA et al, 2002). Nos EUA, aproximadamente uma a cada 15.000 crianças nasce com a deficiência. Já no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, em 2002 e ratificado por Monteiro e Cândido (2006) a prevalência foi estimada em 1:12.000 nascidos vivos; a expectativa de vida para os acometidos é de 45 anos. O diagnóstico precoce permite o início imediato do tratamento dietoterápico, que é fundamental para manutenção de níveis adequados de PHE. Este é caracterizado pela exclusão de alimentos fontes de proteínas e com teor elevado de PHE, tornando-se semelhante à dieta vegetariana. O resultado deste tratamento depende do controle da alimentação 22 oferecida à criança durante o seu desenvolvimento, principalmente nos 2 primeiros de vida. O tratamento deve ser mantido por toda vida, já que a suspensão do mesmo pode resultar em regressão intelectual e alteração do comportamento. (LANFER et al, 1997). A dieta pouco diversificada e com alto teor em fibras dos pacientes portadores de PKU é fator determinante para as carências nutricionais associadas. A fim de evitar tais deficiências nutricionais sugere-se a complementação dos nutrientes essenciais, através da utilização de fórmula, que contém uma mistura de aminoácidos livres e que supre a necessidade de energia, proteínas, vitaminas e elementos-traço aproximadamente em 60% (±10%), 80% (± 15%) e 95 (±5%) respectivamente. Cabe ressaltar a importância do cumprimento da prescrição dietética (SCHAEFER et al, 1994; KREBS, 2001; MIRA e MARQUES, 2000). Przmvrembel e Bremer (2000) encontraram baixos níveis plasmáticos de fosfatase alcalina, magnésio, vitamina D e fósforo em pré-escolares e escolares portadores de PKU, quando comparado ao grupo controle. Já Meirelles et al (2001) afirmam que, “quanto menor a diversificação alimentar, menor a chance de que todos os nutrientes sejam fornecidos pela dieta”. O elevado teor de fibras, juntamente com fatores antinutricionais constituintes de alimentos, pode alterar a biodisponibilidade de diversos minerais, como, por exemplo, ferro, zinco e cálcio, limitando a absorção dos mesmos (MEIRELLES et al, 2001). O ácido fitico, naturalmente presente nas folhas e grãos integrais, funciona como reservatório de energia para as plantas. Tem sido considerado um antinutriente, devido ao seu efeito inibitório sobre a biodisponibilidade, pois tem um poder quelante com cátions, especialmente cátions di e trivalentes. Em se tratando do mineral cálcio (Ca++), o ácido fítico combina-se ao cálcio presente no intestino, formado um complexo insolúvel, que não pode ser absorvido, sendo assim eliminado nas fezes (SANDERBERG et al, 1987; LONNERDAL et al, 1989; NORDIN, 1997). Outro elemento antinutricional presente é o ácido oxálico que é um potente inibidor da absorção de alguns nutrientes, especialmente o cálcio, pois ao combinarem-se formam oxalato de cálcio, que é insolúvel e, também, eliminado nas fezes. O oxalato está presente em grandes concentrações no espinafre, acelga, ruibarbo, tomate e feijões secos. Weaver e Plawecki (1994) comparam a absorção de cálcio fornecido através de leite e espinafre. O resultado mostrou que o oxalato presente no espinafre reduziu a absorção do cálcio em 5 vezes, quando comparada com a quantidade de cálcio absorvida através de fonte láctea (HEANEY, 1988). A variação na disponibilidade de nutrientes dietéticos, como o cálcio, por exemplo, pode ter reflexo na projeção da estatura, pois pode comprometer o crescimento longitudinal 23 ósseo (BONJOUR E TSANG, 1999; MARCHINI et al, 1993; DWYER et al, 1982). Trabalhos que relacionaram a dieta e desenvolvimento físico adequado mostraram que as crianças podem apresentar algum comprometimento quando a dieta é limitada em nutrientes. Sanders e Manning (1992) compararam o perfil antropométrico de crianças vegans e crianças onívoras americanas, na faixa etária entre cinco e doze anos. Eles observaram que, embora ambos os grupos apresentassem crescimento e desenvolvimento esperados para idade, as crianças vegans mostraram uma tendência a apresentar menor peso/estatura, quando comparadas à mediana da população americana. Parson et al (1997), estudando crianças macrobióticas, de ambos os sexos, não observaram diferenças significativas quanto à avaliação do estágio puberal e do indicador altura/idade, através de z score, em ambos os grupos. Entretanto, no grupo masculino o indicador peso/idade se apresentou significativamente menor no grupo dos macrobióticos. Sanders (1988) estudou a ingestão de cálcio em crianças vegetarianas estritas de 2 a 4 anos. Ele observou que as crianças tinham uma ingestão de cálcio mais baixa do que aquelas recomendadas pela RDA. Concluiu, assim, que a dieta vegetariana estrita tende a fornecer menor quantidade de cálcio, atendendo, em média, 52% do que é recomendado. Da mesma forma, Matkovic e Ilich (1993) também verificaram que 17 das 18 crianças (94%), vegetarianas estritas estudadas, ingeriram quantidades de cálcio inferiores às recomendações nutricionais. Em outra pesquisa, Larson e Johansson (2002), que avaliaram a dieta de crianças vegans e onívoras, observaram que as crianças vegans apresentaram deficiência de diversos nutrientes, dentre eles o cálcio. Weaver e Plawecki (1994) compararam a ingestão de cálcio e densidade óssea de adultos vegetarianos estritos e lactovegetarianos, de ambos os sexos. Eles observaram que as quantidades ingeridas de cálcio, no grupo de lactovegetarianos atendiam as recomendações, segundo a RDA; evidenciaram, ainda, a participação de produtos lácteos no suprimento desta necessidade. Quanto à densidade óssea, o grupo dos vegetarianos estritos apresentou uma baixa densidade óssea, quando comparado ao grupo de lactovegetarianos. O atendimento às recomendações de micronutrientes, em especial de cálcio, na dieta vegetariana é importante para a manutenção e saúde óssea, além de prevenir fraturas e osteoporose. Em um outro estudo Weaver e Plawecki (1994) avaliaram 33 crianças vegetarianas estritas, na faixa etária de 1 a 5 anos de idade, que consumiam dietas contendo aproximadamente 261 mg/d de cálcio. Observaram baixa estatura e baixo peso nas crianças vegetarianas, quando comparadas ao grupo controle. Os portadores de PKU, assim como as crianças vegans, podem adquirir deficiência de 24 diversos nutrientes por possuírem dietas semelhantes. Fisberg et al (1999) verificaram que crianças PKU, que tiveram dificuldades em atingir as recomendações dietéticas, segundo RDA, apresentaram substancial redução nos indicadores peso/estatura e estatura/idade. Millward e Rivers, (1998) e Walter et al (2002) descreveram uma maior dificuldade, na manutenção de níveis plasmáticos controlados de PHE em pacientes PKU, a partir da adolescência. Isto se deve à reduzida adesão à dieta prescrita, que resulta em uma dieta desequilibrada e carente em alguns nutrientes. 4.2 PKU E A SUPLEMENTAÇÃO DE CÁLCIO O osso possui função estrutural, além de ser um reservatório de cálcio para os tecidos corporais, garantindo o metabolismo mineral normal. É um tecido constantemente ativo sendo remodelado e alterado biologicamente pelo hormônio de crescimento (GH) e fator de crescimento like insulina (IGF-1), que ativam localmente as células osteoblásticas (de formação) e osteoclásticas (de remodelação). Tais substâncias ativadoras são produzidas em tecidos hepáticos, ósseo e cartilaginoso (CALVO et al, 1996; GRUDTNER, 1997; WAVER, 2000; LOBO e TRAMONTE, 2004). Segundo Barnerss (1992), 98% do conteúdo mineral do corpo humano é formado por cálcio, fósforo e magnésio. Estes nutrientes estão relacionados ao processo de formação óssea, sendo o cálcio o mineral mais abundante no corpo humano e o mais importante na manutenção da vida. Do cálcio total, 99% estão presentes nos ossos e dentes. No osso, o cálcio encontra-se na forma de hidroxiapatita, uma estrutura cristalina que consiste de fosfato de cálcio, disposta ao redor de uma matriz orgânica de proteína colagenosa, que fornece força e rigidez. Este mesmo cristal está presente no esmalte e dentina dos dentes (DAWSON-HUGHES, 1999). O cálcio nos ossos deve estar em equilíbrio com o cálcio sanguíneo; a regulação do cálcio plasmático é controlada por um complexo sistema fisiológico hormonal, que envolve os hormônios paratireoidianos (PTH), tireoidiano (calcitonina), e o calcitriol (forma biologicamente ativa da vitamina D). A secreção destes hormônios é determinada pela concentração plasmática de cálcio ionizado, controlado por mecanismo de feedback negativo. Quando a concentração plasmática de cálcio cai, a glândula paratireóide é estimulada a liberar PTH. Este aumenta a excreção urinária de fosfato. Com a redução do fosfato plasmático e a elevação do PTH ocorre a ativação da vitamina D. No rim a vitamina D promove a reabsorção renal de cálcio e maior absorção intestinal. O PTH também estimula os osteoclastos a realizarem a reabsorção óssea, ou seja, o cálcio é retirado do osso para manutenção da 25 calcemia. Quando a calcemia se eleva estimula a tireóide a produzir a calcitonina, que devolve o cálcio para os tecidos, ou seja, inibe a reabsorção óssea (GRUDTNER, 1997; GUYTON, 1997; BRONNER, 1998; MOTA-BLANCAS, 1999; CASHMAN, 2002; SHILS et al 2003). A mineralização óssea tem seu início na vida fetal, estende-se por toda a infância e apresenta seu pico máximo de incremento nos anos da adolescência. Os períodos da infância e adolescência são marcados por uma taxa de formação óssea muito importante, com predomínio da formação sobre a reabsorção. Os dois períodos de aceleração do crescimento ocorrem nos dois primeiros anos de vida e durante a adolescência (entre 11 e 14 anos nas meninas e entre 13 e 17 anos nos meninos). A puberdade destaca-se como período crucial para a aquisição do conteúdo mineral ósseo, sendo a idade adulta a fase onde ambos os processos se estabilizam. Até os 20 anos de idade, o acúmulo de cálcio no esqueleto é de aproximadamente 150 mg por dia, na maturidade a quantidade de cálcio permanece constante. A partir dos 45-50 anos, principalmente no sexo feminino, ocorre predomínio da reabsorção óssea (SILVA et al, 2003). O risco de desenvolver osteoporose na vida adulta depende especialmente da massa óssea máxima alcançada na idade jovem. Nas meninas, a mineralização óssea ocorre dois anos antes dos meninos, refletindo o início precoce da puberdade nas meninas. (MANZONI et al, 1996; CASHMAN, 2000; HAANOGLU et al, 2000; LANZILLOTTI et al, 2003). Existem diversos fatores que podem interferir na aquisição de massa óssea: → Fatores intrínsecos ou hereditários: Raça, sexo e produção de GH, IGF-1, estrógeno e testosterona. Esses fatores são responsáveis por cerca de 80% do pico final de massa óssea. →Fatores extrínsecos: Nutrição, presença de doenças crônicas e uso de medicamentos. É reconhecido que o leite e derivados são a maior fonte de cálcio. O leite de vaca contém aproximadamente 1,20 g de cálcio por litro, 20% dos quais está ligado à caseína como colóide orgânico insolúvel e 80% na forma mineral. O leite não contém nenhuma substância que iniba a absorção de cálcio no intestino, como oxalatos, fitatos ou polifenóis (GUÉGUEN, 2000). As ingestões adequadas de cálcio recomendadas pelo Food and Nutrition Board (Institute of Medicine, 1998) são baseadas nas estimativas de necessidades de ambos os sexos por todo ciclo da vida. Durante vários períodos do ciclo da vida, a ingestão de cálcio é crítica como na puberdade e adolescência, pós-menopausa, gravidez e lactação (MAHAN e ARLIN, 1994). Supõe-se que crianças portadoras de PKU tendem a apresentar prejuízos na aquisição 26 de massa óssea, podendo cursar com osteopenia precoce. A restrição alimentar dificulta o alcance das necessidades diárias de cálcio, pois as melhores fontes alimentares não estão presentes em seus cardápios (HILMAN, 1996). A redução do conteúdo mineral ósseo, em portadores de PKU, foi descrita inicialmente por Carson et al em 1990. Eles verificaram, através de tomografia computadorizada de espinha lombar, uma redução significativa do conteúdo mineral ósseo trabecular, em 4 dos 11 pacientes com PKU, na faixa etária entre 19 e 34 anos. Eles também encontraram uma correlação positiva entre o conteúdo mineral ósseo e a adequação dietética no fornecimento de cálcio. MacMurray et al (1992) realizaram um estudo onde avaliaram a maturação óssea de 26 pacientes PKU e controles, na faixa etária de 1,9 a 25,5 anos. Pacientes e controles foram divididos em três grupos: Pré-escolares (1-5 anos), escolares (6-11 anos) e adolescentesadultos (≥12 anos). Os pesquisadores encontraram decréscimo significativo de DMO (p<0,05) no grupo de escolares, principalmente no sexo feminino; baixo índice de status mineral ósseo nos pacientes em diferentes faixas etárias; ingestão de cálcio e fósforo, avaliado pelo registro de 3 dias aplicado, insuficiente para atingir as recomendações para os diferentes grupos, merecendo destaque para o grupo adolescentes-adultos que alcançaram menos que 2/3 das recomendações. Segundo os autores, ocorre rápido desenvolvimento e mineralização ósseos nos períodos da infância e adolescência, sendo estes sensíveis a variações na ingestão de nutrientes. Eles concluíram que o atraso na mineralização óssea em portadores de PKU, associado ao baixo status mineral ósseo e baixa ingestão de cálcio e fósforo, pode levar ao desenvolvimento de osteoporose na fase adulta. Schwahn et al (1998) compararam a DMO de pacientes portadores de PKU (n=14) sob tratamento dietoterápico com indivíduos saudáveis. Pacientes e controles foram divididos em três grupos: Crianças (5-10 anos); adolescentes (13-16 anos) e adultos (19-28 anos); cada grupo foi formado por aproximadamente 5 indivíduos. Os autores encontraram significativa redução de DMO em todos os grupos PKU estudados. Observaram ainda, leve tendência para baixa estatura e baixo peso, quando comparado ao grupo controle. Eles ressaltaram a importância da ingestão adequada de cálcio para prevenção da osteopenia e osteoporose, na infância e idade adulta respectivamente. Al-Qadreh et al (1998) compararam a aquisição de massa óssea entre crianças saudáveis e crianças em tratamento para PKU, na faixa etária de 3 a 15 anos. O grupo PKU foi composto por 48 indivíduos: 20 do sexo masculino e 28 do sexo feminino. O grupo controle foi constituído por 22 e 28 integrantes do sexo masculino e feminino 27 respectivamente. Foi evidenciado quadro de osteopenia severa em 46% (n=22) dos pacientes portadores de PKU, sendo a perda óssea mais proeminente naqueles acima de 8 anos de idade. Os autores destacaram importância do tratamento dietético para manutenção dos níveis de cálcio, adequada mineralização óssea e correção da osteopenia. Zeman et al (1999), avaliaram a DMO de espinha lombar e corpo inteiro de 44 pacientes PKU; 25 do sexo feminino e 18 do sexo masculino, na faixa etária de 6 a 29 anos. Como resultado da DMO de espinha lombar eles encontraram: DP<-1 (sugestivo de osteopenia “leve”) em 20 pacientes; DP entre -1 e -2,5 (sugestivo de osteopenia “mais acentuada que o primeiro grupo”) em 14 pacientes e DP<-2,5 em 6 pacientes (sugestivo de osteoporose). Para DMO de corpo inteiro foi encontrado em 10 pacientes DP<-1 (sugestivo de osteopenia). Eles concluíram que: a ingestão adequada é essencial para manutenção da homeostase cálcio/fósforo e adequada mineralização óssea durante o crescimento. A promoção do ganho de massa óssea adequado, em crianças e adolescentes PKU, é importante na prevenção da osteoporose na idade adulta e destacaram, ainda, que pode ser difícil obter cálcio para adequada absorção sem que haja inclusão de produtos lácteos ou suplementos. Modan-Moses et al (2007) avaliaram a DMO de corpo inteiro e cabeça de fêmur em 31 pacientes adultos PKU, de ambos os sexos, na faixa etária de 19-41anos. Do total de pacientes avaliados 11 (38.7%) apresentaram diagnóstico de osteopenia (DP-1 á -2.5) e 2 (6.5%) diagnóstico de osteoporose (DP< -2.5). Eles evidenciaram que um dos fatores determinantes da resistência óssea e risco baixo de fraturas é o aumento de massa óssea durante a adolescência; ressaltaram que a restrição dietética prolongada imposta ao paciente PKU, inclusive de vitaminas e minerais, pode aumentar o risco de desenvolver osteopenia e osteoporose, sendo essencial adequada ingestão de cálcio para o ganho de massa óssea. A ingestão de cálcio adequada, durante toda a vida principalmente na adolescência, constitui um aspecto importante, pois é nesta fase que o indivíduo atinge sua estatura definitiva, massa esquelética máxima e peso adulto adequado. A deficiência nutricional, especialmente de cálcio, pode contribuir para o retardo do crescimento, que altera a maturação esquelética e a fusão epifisária dos ossos longos. Assim uma alimentação equilibrada assume importância fundamental em todas as fases do desenvolvimento, visto que contribui para a expressão máxima de marcadores genéticos de crescimento (ALVELAR et al, 1994; SPEAR, 1996). Diversas pesquisas apontam para a utilização de alimentos enriquecidos a fim de prevenir a deficiência e suprir as necessidades das crianças portadoras de PKU. LEE et al (1994) avaliaram o efeito da suplementação de cálcio na aquisição de massa 28 óssea e no aumento da estatura em crianças chinesas, conduzindo um estudo randomizado durante 18 meses. A amostra foi composta de 162 crianças: 87 do sexo masculino e 75 do sexo feminino, na faixa etária de 7 anos. O grupo estudado recebeu 300 mg/dia de cálcio na forma de carbonato de cálcio durante 18 meses, sendo que a cada 6 meses, era aferida estatura e DMO. Foi observado pelos autores aumento significativo de DMO (p=0,02), confirmando assim, efeito positivo da ingestão de cálcio na aquisição de massa óssea, porém sem qualquer efeito no aumento da estatura. Eles ressaltaram que o alcance da massa óssea máxima na faixa etária de 8-9 anos está associado à manutenção e benefício para futuramente se atingir o pico de massa óssea e mineralização adequada. Nowson et al (1997) compararam o efeito da suplementação de cálcio em 42 pares de gêmeas, na faixa etária de 10 a 17 anos, durante 18 meses. Em cada par, uma integrante recebeu 1000 mg de cálcio/dia na forma de tablete contendo carbonato de cálcio e a outra recebeu o placebo, aleatoriamente. O grupo suplementado foi comparado ao controle no 6º, 12º e 18º meses. Eles observaram considerável aumento na aquisição mineral óssea da espinha lombar após os 18 meses em todo o grupo suplementado, sendo que o melhor efeito foi observado nos primeiros 6 meses (1,3%; p<0,01). Foi ratificado pelos autores que o período da adolescência é o momento da vida de maior potencial para o aumento da densidade óssea; e ainda que a resposta positiva a suplementação de cálcio se mostra de maneira efetiva nesta fase, sem efeitos significativos após este período. Rozen et al (2003) desenvolveram um estudo, durante 12 meses, em 100 meninas adolescentes, com idade média de 14 anos, a fim de avaliar o efeito da suplementação de cálcio no aumento da massa óssea pós-menarca. O grupo tratado recebia diariamente suplemento contendo 1000 mg de cálcio, na forma de carbonato de cálcio. Eles observaram acréscimo significativo da DMO de espinha lombar nos primeiros 6 meses de suplementação; nos 6 meses restantes o acréscimo na DMO não foi tão expressivo. Os autores concluíram que a suplementação de cálcio traz benefícios para saúde óssea e que a melhor resposta, no aumento da DMO, ocorre nos primeiros meses de suplementação. Um importante fator a ser considerado quando escolhemos um suplemento de cálcio é a porcentagem de cálcio elementar presente no sal. Isto é fundamental porque os produtos elaborados a partir de sais, com baixa absorção de cálcio, podem necessitar doses muito altas para que seja obtido o mesmo efeito. A biodisponibilidade do cálcio é influenciada pela secreção gástrica e pela simultânea ingestão de alimentos (AVIOLI, 1988). Shiekh (1987), utilizando o método de lavagem intestinal, compararam absorção, em humanos, de diversos sais de cálcio (acetato, lactato, gluconato, citrato, carbonato) e leite. 29 Grupos com 8 indivíduos receberam, em jejum, 500 mg de cálcio dos diferentes sais e leite. O percentual absorvido encontrado foi: acetato de cálcio 32%; lactato de cálcio 32%; gluconato de cálcio 27%, citrato de cálcio 30%, carbonato de cálcio 40% e cálcio do leite 31%. Concluiu que o sal de cálcio que apresenta melhor biodisponibilidade é o carbonato de cálcio, sendo o mais indicado para enriquecimento de alimentos. Os pesquisadores Heaney et al (1988) em seus trabalhos também sugerem que o carbonato de cálcio seja a forma de suplementação mais indicada, devido a sua solubilidade e, por conseqüência, maior absorção. Em trabalho experimental Ranhotra et al (1997), estudaram o aumento de DMO em fêmur de ratos jovens que foram alimentados com pães enriquecidos com carbonato de cálcio + lactose (Grupo 1) e cálcio de fonte láctea (Grupo 2). Os pesquisadores não observaram diferenças significativas entre conteúdo mineral do fêmur, resistência óssea femural e absorção do cálcio sob as diferentes formas. Assim sugeriram que o carbonato de cálcio pudesse ser usado como suplemento, pois apresenta absorção e utilização tão eficientes quanto o cálcio de fonte láctea. Além disso, eles constataram que o carbonato de cálcio pode ser adicionado aos pães em quantidades elevadas sem afetar as características sensoriais e qualidade final do produto. Outro trabalho que destaca o carbonato de cálcio é o de Heaney et al (1988) que compararam a absorção de cálcio, entre as formas carbonato e citrato de cálcio, em 37 indivíduos. Os participantes receberam doses de 1000mg de ambos os sais de cálcio, e o carbonato de cálcio apresentou maior absorção que o citrato de cálcio. Dentre os sais de cálcio mais utilizados para o enriquecimento de farinha de trigo e produtos de cereais está o fosfato de cálcio, sulfato de cálcio e carbonato de cálcio, sendo este último amplamente aplicado devido à absorção, e ao custo mais acessível em relação aos outros sais. A Padronização Americana de Enriquecimento (Federal Enrichment Standard) sugere uma adição de 600mg/lb (132,3mg/100g) para o pão e 960mg/lb (211,6 mg/100g) para farinha de trigo (FAST E CALDWELL, 1993). 30 4. OBJETIVOS 4.1 OBJETIVO GERAL Verificar o efeito da ingestão de biscoitos enriquecidos com carbonato de cálcio em pacientes portadores de PKU. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ¾ Avaliar o estado nutricional dos pacientes PKU através da antropometria; 31 ¾ Comparar os níveis de fenilalanina plasmáticos antes e após a suplementação com biscoito enriquecido com carbonato de cálcio; ¾ Estimar a ingestão de cálcio antes e após suplementação com biscoito enriquecido com carbonato de cálcio; ¾ Identificar a idade óssea através do raio X de mãos e punhos; ¾ Determinar a densidade mineral óssea (DMO) após 6 meses de ingestão de biscoito enriquecido com carbonato de cálcio; ¾ Relacionar a ingestão de cálcio estimada com a densitometria óssea. 32 5. CASUÍSTICA E MÉTODO 5.1 POPULAÇÃO DE ESTUDO 9 Indivíduos de ambos os sexos e todas as idades; 9 Ter diagnóstico de Fenilcetonúria; 9 Ter acompanhamento nutricional na APAE-RIO regularmente; O estado nutricional e os níveis plasmáticos de PHE eram acompanhados mensalmente. A coleta de dados dos pacientes foi realizada no período de dezembro a maio de 2006. A prescrição dietética de energia e proteínas para PKU, em todos os centros de acompanhamento de doenças metabólicas, baseia-se nas recomendações definidas por Elsas e ACosta (1999), apresentadas no ANEXO 10.1. As recomendações de cálcio até o momento são as mesmas indicadas para indivíduos sadios (ANEXO 10.2). Os pacientes receberam o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, que foi preenchido e devolvido pelos que aceitaram fazer parte da pesquisa. A partir da devolução do consentimento os pacientes foram agrupados e classificados de acordo com a Lei n° 8.069, de 13 de Julho de 1990, que define: → Criança como a pessoa até 12 anos incompletos; → Adolescente: 12 até 18 anos; → Adulto > 18 anos. 5.2 PROTOCOLO 33 5.2.1 AVALIAÇÃO DA INGESTÃO ALIMENTAR DO PARTICIPANTE Os dados de ingestão alimentar foram obtidos através do trabalho de Mendes (2006) através de inquérito alimentar utilizando-se o método quantitativo do recordatório de 24h, que é o mais utilizado em estudos epidemiológicos, por ser de mais fácil aplicação e susceptível de validação (FISBERG, 1981). Este método fornece informações sobre respostas da ingestão alimentar durante as 24h anteriores ou procedimentos diários. Tal informação pode ser usada para caracterizar à média de ingestão de um grupo. É realizada através de um protocolo padronizado em quatro estágios. No primeiro se obtém através de entrevista uma lista de todos os alimentos e bebidas consumidas. No segundo as descrições detalhadas de todos os alimentos e bebidas consumidas e os horários de consumo. No terceiro são estimadas as quantidades de todos os alimentos e bebidas e no quarto, o recordatório é revisado para assegurar que todos os itens foram recordados corretamente (GIBSON, 1993). Para a análise do recordatório foi utilizado o programa FOOD PROCESSOR Nutritional Analyse Sotware, versão 7.2, tendo sido modificado para alimentos brasileiros quando necessário. Este programa utiliza Tabelas Nutricionais da FDA (Food and Drug Administration), para a modificação foram utilizadas a Tabela do (IBGE) e a Tabela para a Avaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras (PINHEIRO et al., 2000). 5.2.2 Biscoito enriquecido com carbonato de cálcio 5.2.2.1 Processo de fabricação do biscoito O processo de fabricação do biscoito baseou-se no trabalho descrito por EL-DASH, CAMARGO e DIAZ (1982). Ingredientes: A formulação do biscoito utilizou os seguintes ingredientes: Farinha de trigo especial Rilla® (com reduzido teor de fenilalanina), amido de milho, açúcar, carbonato de cálcio, sal, óleo de babaçu, margarina e aromatizante. Os biscoitos com baixo teor de fenilalanina (aproximadamente 8,5 mg/porção) foram enriquecidos com carbonato de cálcio (CaCO3) na proporção 500mg/100g de farinha Rilla®, 34 baseado no estudo de RANUM (1980). Preparo: Os ingredientes foram misturados separadamente, adicionando-se primeiramente os de consistência em pó e depois as gorduras. Para adição dos ingredientes em pó foram utilizados primeiro os de menor densidade seguindo-se os de maior. Foi utilizado misturadeira de baixa velocidade por até 20 minutos; o tempo de mistura utilizado foi determinado através da observação visual da aparência da massa, considerado finalizado, quando a mesma apresentava aspecto liso e brilhos acetinados, característicos do completo desenvolvimento da massa. Após a mistura, a massa foi pesada para se avaliar rendimento após cocção. Para garantir em cada porção de 5 unidades (consumo diário recomendado) a proporção de 500mg de cálcio, os biscoitos foram pesados um a um, porcionando-se em 10g. Após o porcionamento, foram modelados no formato tradicional de biscoitos amanteigados. O tempo e temperatura de assamento dos biscoitos foram de 25 a 30 minutos à 100oC. 5.2.2.2 Determinação da composição centesimal: A composição centesimal foi realizada no Laboratório de Nutrição Experimental da UFF (LABNE), sendo utilizados os seguintes métodos de determinação: • UMIDADE: Estufa a 105ºC. • LIPÍDIOS: Extrator de Soxhlet. • PROTEÍNAS: Método de Microkjeldahl. • AMIDO: Fração de Nisext. • MINERAIS: Método de absorção atômica. • FIBRAS: Método de determinação do IAL. 5.2.2.3 Avaliação sensorial dos biscoitos enriquecidos com carbonato de cálcio: Foram realizados testes de Aceitabilidade e Preferência utilizando-se escala hedônica variando de 1 a 7 pontos (1= desgostei muito; 2= desgostei moderadamente; 3= desgostei 35 ligeiramente; 4= não gostei nem desgostei; 5= gostei ligeiramente; 6= gostei moderadamente; 7= gostei muito). Para ser aceita, a amostra deveria obter média mínima de 3,5 pontos. Cerca de 80 provadores não treinados, funcionários e alunos da Faculdade de Nutrição da UFF participaram do estudo. Condições dos testes: As amostras foram servidas em copos descartáveis brancos de café. Foi oferecida água mineral, em copo descartável branco de 200mL, entre a degustação das amostras com o intuito de anular o flavor residual. Para aplicação da escala hedônica de 7 pontos foi utilizada uma ficha para avaliação da aceitabilidade apresentada na Figura 3. Figura 3. Ficha utilizada na avaliação da aceitabilidade do biscoito enriquecido com cálcio. NOME: ____________ DATA: _________ Por favor, prove o BISCOITO e marque na escala abaixo o quanto você gostou do produto. AMOSTRA: _______ ( ) Gostei muito ( ) Gostei moderadamente ( ) Gostei ligeiramente ( ) Não gostei e nem desgostei ( ) Desgostei ligeiramente ( ) Desgostei moderadamente ( ) Desgostei muito Você compraria esse produto? ( ) Sim ) Não ( ) Talvez Fonte: MONTEIRO, (1997). 5.2.3 Avaliação Nutricional 5.2.3.1 Peso Todos os pacientes foram pesados em balança tipo plataforma da marca Filizola com capacidade até 150Kg com variação mínima de 100 gramas, em pé, descalços e com o mínimo de vestuário. 5.2.3.2 Altura Os pacientes tiveram a altura aferida, descalços, sobre a balança e de costas, com os pés unidos, em posição ereta, olhando para o horizonte, o equipamento se localizava na sala da nutricionista. A leitura foi feita no centímetro mais próximo, com variação de 0,5cm, 36 através de uma régua milimétrica que faz parte da própria balança, que é elevada até o topo da cabeça do indivíduo onde uma peça de metal é afixada. 5.2.3.3 Índice de Massa Corporal (IMC) O índice de massa corporal também conhecido como "Índice de Quetelet" foi determinado através da relação peso do indivíduo (em Kg) e sua altura (em metros) ao quadrado, segundo Engstron (2002). Foi utilizado para avaliação de adultos (ANEXO 10.4). 5.2.3.4 Indicadores para Crianças e Adolescentes A avaliação da evolução ponderal das crianças e dos adolescentes foi feita através da coleta dos dados antropométricos do peso e da altura. Os indicadores aplicados foram altura para idade (A/I), peso para altura (P/A) e peso para idade (P/I) e o padrão de referência foi zscore do National Center for Health and Statistics (NCHS, 1978), recomendas para uso internacional pela World Health Organization (WHO, 1995). Para interpretação dos resultados foi utilizada a classificação de Aldori (1994) (ANEXO 10.3). 5.2.4 Acompanhamento dos níveis de PHE plasmáticos durante o consumo do biscoito Os níveis plasmáticos de PHE foram coletados do prontuário do paciente, durante o período da suplementação, a fim de verificar se, com o consumo do biscoito, não houve elevação. O método utilizado para avaliar a PHE plasmática é Espectrometria de Massa in tandem. 5.2.5 Estimativa da ingestão de cálcio e avaliação do consumo do biscoito. O consumo de cálcio foi avaliado através da estimativa de ingestão de cálcio, ou seja, cálcio da dieta individualizada + cálcio ingerido através do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio; Durante os seis meses de suplementação foi avaliado o consumo do biscoito individualmente, através de questionário específico apresentado na figura 4. 37 Figura 4. Questionário para avaliação do consumo do biscoito. ALIMENTO Freqüência de consumo nos 6 meses (%) Consumo Diário Preferência de sabor Biscoito Adaptado de: The semi-quantitative food frequency questionnaire (GIBSON, 1993). 5.2. 6 Avaliação da idade óssea (IO) através de exame de raio X de mãos e punhos O raio X de mãos e punhos (Greulich e Pyle, 1950) foi utilizado para as crianças e adolescentes participantes, antes e após o consumo do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio. Este método consiste em avaliar o desenvolvimento ósseo que se processa paralelamente ao desenvolvimento das demais regiões do corpo humano. O exame foi realizado no Serviço de Radiologia do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) e os resultados obtidos foram copilados do laudo técnico. Este foi escolhido pela facilidade de obtenção radiográfica e observação de suas imagens. Tal metodologia determina a idade óssea comparando-se a radiografia a ser examinada com as radiografias padrões do Atlas, apresentado na figura 5. No HUAP, é utilizado este método. Figura 5 - Cálculo da Idade Óssea de Greulich e Pyle (1950). IO=IC Fonte: Longui, pg. 6, 1996. 5.2. 7 Aquisição do resultado da densitometria óssea Foi realizada densitometria óssea dos pacientes do estudo numa clínica localizada na cidade do Rio de Janeiro e os resultados foram copilados do laudo técnico. Este método 38 consistiu em verificar a DMO de coluna lombar (L2-L4) e do corpo inteiro através da absormetria dupla de raio X de baixa freqüência medido por sensores e processado por um programa de computador. A quantidade de irradiação usada é mínima, não sendo prejudicial ao paciente. O equipamento utilizado foi GE Lunar Prodigy. Os resultados são calculados por Z-score, Desvio Padrão (SD); score para idade e sexo pelo programa. Peso, altura e medidas de índice de massa corporal são convertidos para SD scores usando a Referência Britânica de 1990 (FEWTRELL, 2005). 5.2. 8 Análise estatística dos dados Para descrever estatisticamente os dados foram utilizadas tabelas, quadros, gráficos e parâmetros, tais como, médias, desvio padrão e proporções. As correlações entre variáveis que não normais foram mensuradas pelo coeficiente de correlação de Spearman. As decisões estatísticas foram tomadas ao nível de significância de 0,05 (5%). A análise dos dados foi realizada por meio do software Excel 2000 da Microsoft e do software SPSS v.10. 39 6. RESULTADOS Aceitaram participar da pesquisa 15 pacientes, com diagnóstico de PKU, sob acompanhamento nutricional regular com equipe multidisciplinar na APAE-Rio, na faixa etária entre 9 e 29 anos, sendo 33,3% (n=5) do sexo masculino e 66,7% (n=10) do sexo feminino. O Gráfico 1 apresenta a distribuição por sexo dos participantes da pesquisa. Gráfico 1. Distribuição por sexo dos pacientes estudados. Distribuição dos pacientes por sexo 33% Masculino Feminino 67% Os pacientes foram agrupados e classificados de acordo com a faixa etária, como mostrado no Gráfico 2. 40 Gráfico 2.Classificação por faixa etária dos pacientes estudados Classificação dos pacientes por faixa etária 13% 33% Crianças Adolescentes 54% Adultos Fonte: Lei n° 8.069, de 13 de Julho de 1990. 6.1 BISCOITO ENRIQUECIDO COM CARBONATO DE CÁLCIO O biscoito foi elaborado, inicialmente em três sabores, utilizando a metodologia descrita. Foi realizada a avaliação sensorial a fim de verificar a viabilidade da execução do estudo, pois um resultado positivo poderia indicar que os participantes consumiriam o biscoito enriquecido, durante o período esperado. 6.1.1 Avaliação Sensorial Segundo o resultado do teste de Aceitabilidade, todos os sabores do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio foram aceitos. Os resultados foram de 4,6; 5,3 e 5,9 para os sabores limão, baunilha e chocolate respectivamente. O teste de preferência, confirmou os sabores chocolate e baunilha, como os mais apreciados. Nas três amostras de biscoito, o "sabor" foi a característica mais apreciada pelos provadores. A figura 6 mostra os resultados encontrados para os três diferentes sabores avaliados na Escala Hedônica de 7 pontos. 41 Figura 6– Resultado da avaliação da preferência entre os biscoitos 4,6 5,9 5,3 BAUNILHA CHOCOLATE LIMÃO Paralelamente foi determinada a composição centesimal do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio que seria fornecido aos participantes do estudo. A Tabela 1 apresenta esta composição. 6.1.2 Determinação da composição centesimal Tabela 1-Composição Centesimal do Biscoito enriquecido. BISCOITO % EM 100g DO ALIMENTO Umidade 5,12 ± 1,82 Minerais (cinzas) 2,44 ± 0,52 Extrato Etéreo (gordura) 30,61 ± 0,95 Proteína Fibras Carboidratos Total 2,03 ± 0,38 0,88 ± 0,007 60,85 ± 6,36 100 Após os resultados da avaliação sensorial os biscoitos enriquecidos com carbonato de cálcio foram confeccionados e distribuídos entre os participantes durante seis meses, sendo que cada participante recebeu orientação para o consumo de uma porção diária de 5 biscoitos, que continha aproximadamente 500mg de cálcio, 8,5 mg de PHE e 310 Kcal. 42 6.2 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Procedeu-se avaliação nutricional dos participantes. Para as crianças os indicadores utilizados foram: altura para idade (A/I), peso para idade (P/I) peso para altura (P/A); para os adolescentes, altura para idade (A/I) e peso para idade (P/I); para o grupo de adultos o indicador utilizado foi o IMC. O quadro 1 apresenta os resultados dos participantes antes do consumo do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio. Quadro 1: Valores Encontrados para Indicadores de Estado Nutricional para Crianças, Adolescentes e Adultos antes do consumo do biscoito. Faixa Etária Classificação Z score Interpretação∗ Crianças P/I A/I P/A P/I A/I P/A ∗ C1- ♂ C2 -♀ C3 - ♀ C4 - ♀ C5 - ♀ Adolescentes -1,5 0,62 -0,86 -0,30 0,30 -3,05 0,35 -1,4 -0,94 0,25 0,32 0,52 0,13 0,65 NA∗∗ A6 - ♂ A7 - ♂ A8 - ♂ 0,30 1,55 0,10 -1,44 -0,36 -1,15 NA NA 1,56 adequado adequado adequado deficit leve adequado deficit leve NA NA NA A9 - ♀ A10 - ♀ A11 - ♀ A12 - ♀ -0,75 -0,88 -0,81 -0,89 -1,35 -1,28 -1,16 -2,27 NA NA NA NA adequado adequado adequado adequado NA NA NA NA A13 - ♀ Adultos -0,05 -0,6 Indicador: IMC NA adequado deficit leve deficit leve deficit leve deficit moderado adequado Ad14 Ad15 31 32 Aldori, 1994. ∗∗ NA: não aplicável deficit leve deficit grave adequado adequado adequado deficit leve adequado adequado adequado adequado obesidade obesidade adequado adequado adequado adequado NA NA 43 Gráfico 3. Avaliação de Estado Nutricional do grupo de crianças. 100% 80% 60% 40% 20% 0% A/I ADEQ UADO P/I P/A DEFICIT LEVE DEFICIT GRAVE Gráfico 4. Avaliação de Estado Nutricional do grupo de adolescentes. 100% 80% 60% 40% 20% 0% A/I ADEQ UADO P/I DEFICIT LEVE DEFICIT MO DERADO Como demonstrado no gráfico 3, foi observado que 20% da amostra de crianças apresentaram déficit leve e 20% déficit grave em relação ao indicador A/I, segundo a classificação de Aldori (1994), sendo 60% da amostra eutrófica segundo esta mesma classificação. Em relação ao indicador P/A este mesmo gráfico mostra que houve adequação em toda a amostra de crianças. Já para o indicador P/I observamos déficit leve em 20% do grupo e adequação no restante 80% da amostra. No grupo de adolescentes (gráfico 4), o indicador P/I revelou 100% de adequação da amostra e o indicador A/I mostrou que 63% apresentou déficit leve, 12% déficit moderado e 25% adequação. O indicador IMC utilizado no grupo de adultos revelou obesidade em ambos os sexos. 44 A avaliação antropométrica foi realizada após os 6 meses de consumo do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio. A tabela 2 apresenta os resultados dos participantes após o consumo do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio. Tabela 2: Valores Encontrados para Indicadores de Estado Nutricional para Crianças, Adolescentes e Adultos após o consumo do biscoito. Faixa Etária Classificação Z score Interpretação∗ Crianças P/I A/I P/A P/I A/I P/A C1- ♂ C2 -♀ C3 - ♀ C4 - ♀ C5 - ♀ Adolescentes ∗ -1,3 1,31 -0,50 -0,50 0,44 -2,68 1,15 -1,07 -0,55 0,9 A6 - ♂ A7 - ♂ A8 - ♂ A9 - ♀ A10 - ♀ A11 - ♀ A12 - ♀ A13 - ♀ Adultos -0,34 -1,48 2,03 -0,22 -0,60 -1,6 -0,60 -0,94 -0,73 -1,08 -0,9 -1,24 -0,50 -2,17 0 -1,13 Indicador: IMC Ad14 Ad15 31 32 Aldori, 1994. ∗∗ 0,90 NA 0,52 -0,08 NA NA NA NA NA NA NA NA NA deficit leve deficit moderado adequado adequado adequado deficit leve adequado adequado adequado adequado adequado adequado adequado adequado adequado adequado adequado adequado deficit leve adequado deficit leve adequado deficit leve deficit leve deficit moderado deficit leve obesidade obesidade NA: não aplicável Gráfico 5. Avaliação de Estado Nutricional do grupo de crianças. 100% 80% 60% 40% 20% 0% A/I ADEQ UADO P/I DEFICIT LEVE P/A DEFICIT MO DERADO adequado adequado adequado adequado NA NA NA NA NA NA NA NA NA 45 Gráfico 6. Avaliação de Estado Nutricional do grupo de adolescentes. 100% 80% 60% 40% 20% 0% A/I ADEQ UADO P/I DEFIC IT LEVE DEFIC IT MO DERADO Segundo o gráfico 5, foi observado que 20% da amostra de crianças apresentaram déficit leve e 20% déficit moderado em relação ao indicador A/I, de acordo com a classificação de Aldori (1994), sendo 60% da amostra eutrófica segundo esta mesma classificação. Em relação ao indicador P/A observamos adequação em toda a amostra de crianças. Já para o indicador P/I observamos déficit leve em 20% do grupo e adequação no restante 80% da amostra. No grupo de adolescentes (gráfico 6) o indicador P/I revelou 100% de adequação da amostra e o indicador A/I mostrou que 63% apresentou déficit leve, 12% déficit moderado e 25% adequação. O indicador IMC utilizado no grupo de adultos revelou obesidade em ambos os sexos. 6.3 ACOMPANHAMENTO DOS NÍVEIS DE PHE PLASMÁTICOS DURANTE O CONSUMO DO BISCOITO O quadro 2 apresenta os resultados dos níveis de PHE antes do consumo do biscoito enriquecido. 46 Quadro 2: Níveis plasmáticos de PHE (mg/dL) antes do consumo do biscoito enriquecido. Faixa Etária PHE plasmática PHE plasmática recomendado* (mg/dL) Crianças C1- ♂ C2 -♀ C3 - ♀ C4 - ♀ C5 - ♀ 7,44 4 4,5 10,5 2,74 2,0 – 6,0mg/dL Adolescentes A6 - ♂ A7 - ♂ A8 - ♂ A9 - ♀ A10 - ♀ A11 - ♀ A12 - ♀ A13 - ♀ 10,1 7,4 5,65 8,2 13 8,4 7,4 16 2,0 – 10,0 mg/dL Adultos Ad14 Ad15 4 10,4 * Fonte: NATIONAL INSTITUTE OF HEALTH, 2000b. Pode-se observar que no grupo de crianças (n=5), 2 participantes (o menino e uma das meninas) apresentaram nível de PHE acima da recomendação. No grupo de adolescentes (n=8), 3 participantes (1 menino e 2 meninas) apresentaram nível de PHE acima da recomendação. Quanto aos adultos, o do sexo feminino ficou acima da recomendação. O gráfico 7 apresenta os níveis de PHE dos participantes antes do consumo do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio, mostrando nos diferentes grupos a classificação do resultado encontrado. 47 Gráfico 7. Níveis plasmáticos de PHE (mg/dL) antes do consumo do biscoito. 18 Fenilalanina (mg/dL) 16 14 Criança (n=5) Adultos e Adolescentes (n=10) 12 10 8 6 4 2 0 Normal Referência Alto A tabela 3 apresenta os resultados dos níveis de PHE após o consumo do biscoito enriquecido. Tabela 3: Níveis plasmáticos de PHE (mg/dL) após o consumo do biscoito enriquecido. Faixa Etária PHE plasmática(mg/dL) Crianças C1- ♂ 6,5 C2 -♀ 5,9 C3 - ♀ 2,6 C4 - ♀ 10,3 C5 - ♀ 5,9 Adolescentes A6 - ♂ 9,7 A7 - ♂ 8,6 A8 - ♂ 8,3 A9 - ♀ 9,1 A10 - ♀ 7,2 A11 - ♀ 9,7 A12 - ♀ 8,1 A13 - ♀ 15,7 Adultos Ad14 5,2 Ad15 10 Pode-se observar que no grupo de crianças, o participante do sexo masculino manteve seus níveis de PHE acima da recomendação; e que a menina, também manteve seus níveis de 48 PHE acima da recomendação. Já no grupo de adolescentes o participante do sexo masculino que estava com os níveis de PHE elevados, teve redução, ficando com os níveis adequados. As participantes do sexo feminino que apresentavam seus níveis elevados tiveram redução, sendo que uma delas ficou com níveis adequados e a outra somente reduziu os níveis. Quanto aos adultos, ambos apresentaram níveis adequados após o consumo do biscoito. O gráfico 8 apresenta os níveis de PHE dos participantes após o consumo do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio, mostrando nos diferentes grupos a classificação do resultado encontrado. Gráfico 8. Níveis plasmáticos de PHE (mg/dL) após o consumo do biscoito. 18 Fenilalanina (mg/dL) 16 14 12 Criança (n=5) 10 Adultos e Adolescentes (n=10) 8 6 4 2 0 Normal Referência Alto 6.4 ESTIMATIVA DA INGESTÃO DE CÁLCIO E AVALIAÇÃO DO CONSUMO DO BISCOITO. Encontros mensais com os responsáveis e participantes do estudo para distribuição dos biscoitos permitiram avaliar o consumo. Desta forma, a partir da estimativa de consumo diário dos biscoitos pôde-se estimar o consumo de cálcio diário. O consumo de cálcio diário foi estimado, baseado na dieta prescrita pelo nutricionista da APAE. A Tabela 4 apresenta a Ingestão de Cálcio antes e após o consumo do biscoito. 49 Tabela 4. Ingestão de Cálcio dos Participantes. Estimativa de Estimativa de Grupos Ingestão de Cálcio antes Ingestão de Cálcio após o Crianças consumo do biscoito do consumo do biscoito (mg/d)** (mg/d) 755,0 C1 -♀ 255,0 476,0 C2 -♀ 190,0 561,0 C3 - ♀ 275,0 805,0 C4 - ♀ 305,0 740,0 C5 - ♀ 240,0 667,4 Média 252,5 ± 141,3 SD ± 49,5 Adolescentes A6 - ♂ A7 - ♂ A8 - ♂ A9 - ♀ A10 - ♀ A11 - ♀ A12 - ♀ A13 - ♀ Média SD Adultos 194,0 230,0 520,0 146,31 215,0 193,53 265,0 180,0 243,0 ± 117,3 480,0 830,0 1020,0 432,31 501,0 479,53 451,0 466,0 582,48 218,38 Ad14 Ad15 Média 1212,2 844,6 1028,4 1712,2 1344,6 Recomendações* (mg/d) 800 1300 1000 * Fonte: FAO/OMS, 2000. ** A estimativa ingestão de cálcio após consumo do biscoito foi feita somando-se o cálcio ingerido através da dieta e o cálcio ingerido com o biscoito estimado pela avaliação do consumo do mesmo. Pode-se observar que, de acordo com a estimativa de ingestão de cálcio antes do consumo do biscoito, no grupo de crianças (n=5), nenhum participante atingiu as recomendações diárias de cálcio. A mesma observação pode ser feita para o grupo de adolescentes (n=8). Quanto ao grupo de adultos, o do sexo masculino estava dentro das recomendações. Após a suplementação com o biscoito enriquecido com carbonato de cálcio, foi observado que no grupo de crianças um participante (do sexo feminino) atingiu as recomendações. No grupo de adultos a participante também alcançou as necessidades diárias de cálcio. Os gráficos 9 e 10 apresentam a estimativa de ingestão de cálcio dos participantes antes e após o consumo do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio, mostrando nos diferentes grupos a classificação do resultado encontrado. A correlação estabelecida entre o 50 cálcio antes e após o consumo do biscoito enriquecido mostrou significância estatística segundo o coeficiente de correlação de Spearman, rs:0,67, p valor: 0,0006 e rs:0,83, p valor: 0,00011 no grupo de crianças e adolescentes respectivamente (gráficos 11 e 12). Gráfico 9. Estimativa de Ingestão de cálcio antes do consumo do biscoito. 1400 Cálcio (mg) 1200 1000 800 600 400 200 0 Referência Baixo Normal Gráfico 10. Estimativa de Ingestão de cálcio após o consumo do biscoito. 1800 1600 Cálcio (mg) 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Referência Baixo Normal 51 Gráfico 11. Ingestão estimada de cálcio antes e após o consumo do biscoito em crianças. ● Padrão de Ingestão Estimada de Cálcio antes e após o consumo do biscoito enriquecido referência 900 mg de cálcio 800 ● Cálcio depois do consumo 700 600 500 ● Cálcio antes do consumo 400 300 200 100 0 0 5 Crianças 10 15 Gráfico 12. Ingestão estimada de cálcio antes e após o consumo do biscoito em adolescentes. ● Padrão de referência 1400 cálcio (mg) 1200 1000 ● Cálcio depois do consumo 800 600 ● Cálcio antes do consumo 400 200 0 0 5 10 15 20 adolescentes 6.5 AVALIAÇÃO DA IDADE ÓSSEA Os resultados da avaliação da idade óssea, através do exame de raio X de mãos e punhos, antes e após o consumo do biscoito enriquecido com carbonato de cálcio, estão apresentados no quadro 3 e tabela 5. O quadro 3 apresenta a idade óssea antes do consumo do biscoito. Pode-se observar que no grupo das crianças as meninas (n=4) apresentaram IO>IC; o menino participante 52 apresentou IO<IC. Entre os adolescentes pode-se notar que no grupo feminino foi encontrado IO>IC em apenas 1 participante e IO=IC em 4 participantes. No grupo masculino foi encontrado IO>IC em 1 participante e IO=IC em 2 participantes. Quadro 3. Resultado do Raio X de Mãos e Punhos antes do consumo do biscoito. Faixa Etária IO>IC IO=IC IO<IC Crianças C1- ♂ C2 -♀ C3 - ♀ C4 - ♀ C5 - ♀ Adolescentes A6 - ♂ A7 - ♂ A8 - ♂ A9 - ♀ A10 - ♀ A11 - ♀ A12 - ♀ A13 - ♀ X X X X X X X X X X X IO: idade Óssea; IC Idade Cronológica. X X 53 A tabela 5 apresenta os resultados da idade óssea após o consumo do biscoito enriquecido. Pode-se notar que no grupo das crianças não houve modificação em relação ao primeiro exame. Já no grupo dos adolescentes todos apresentaram IO>IC, independentemente do sexo. Tabela 5 Resultado do Raio X de Mãos e Punhos após consumo do biscoito. Faixa Etária IO>IC IO=IC IO<IC Crianças C1- ♂ C2 -♀ C3 - ♀ C4 - ♀ C5 - ♀ Adolescentes X X X X A6 - ♂ A7 - ♂ A8 - ♂ A9 - ♀ A10 - ♀ A11 - ♀ A12 - ♀ A13 - ♀ X X X X X X X X X IO: idade Óssea; IC: Idade Cronológica. 6.6 DENSITOMETRIA ÓSSEA A densitometria óssea (coluna lombar e corpo inteiro) foi realizada com o objetivo de verificar o conteúdo mineral ósseo. Foi obtido, do prontuário dos pacientes, o resultado da densitometria óssea antes do consumo do biscoito enriquecido. Os dados estão apresentados nos quadros 4 e 5. 54 Quadro 4 . Resultado da densitometria óssea de coluna lombar antes do consumo do biscoito. Grupos Avaliação Densitometria Crianças Coluna (DP) C1- ♂ Abaixo do esperado -1,6 C2 -♀ Dentro do esperado -0,4 C3 - ♀ Dentro do esperado -0,1 C4 - ♀ Dentro do esperado -0,7 C5 - ♀ Dentro do esperado 0,8 Adolescentes A6 - ♂ A7 - ♂ A8 - ♂ A9 - ♀ A10 - ♀ A11 - ♀ A12 - ♀ A13 - ♀ Adultos -0,2 -0,9 -0,4 -1,7 -2,5 -2,4 -1,1 -1,5 Dentro do esperado Dentro do esperado Dentro do esperado Abaixo do esperado (osteopenia) Abaixo do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Ad14 Ad15 DP = Desvio Padrão -0,8 -0,2 Dentro do esperado Dentro do esperado 55 Quadro 5. Resultado da densitometria óssea de corpo inteiro antes do consumo do biscoito. Grupos Densitometria Corpo Avaliação Crianças inteiro (DP) C1- ♂ Dentro do esperado -1 C2 -♀ Dentro do esperado -0,4 C3 - ♀ Dentro do esperado 0,1 C4 - ♀ Dentro do esperado -0,1 C5 - ♀ Dentro do esperado 0,1 Adolescentes A6 - ♂ A7 - ♂ A8 - ♂ A9 - ♀ A10 - ♀ A11 - ♀ A12 - ♀ A13 - ♀ Adultos Ad14 Ad15 DP = Desvio Padrão -0,9 -0,3 -0,3 -2,4 -2,1 -1,3 -1,2 -1,2 Dentro do esperado Dentro do esperado Dentro do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado -1,4 -0,6 Abaixo do esperado Dentro do esperado O quadro 4 apresenta os resultados da densitometria de coluna antes do consumo do biscoito enriquecido. Pode-se observar que no grupo de crianças o participante do sexo masculino apresentou classificação abaixo do esperado; e que as meninas ficaram dentro do esperado. Já no grupo de adolescentes os meninos ficaram dentro do esperado e as meninas abaixo do esperado, sendo que uma delas apresentou quadro de osteopenia. Quanto aos adultos, ambos ficaram dentro do esperado. O quadro 5 apresenta os resultados da densitometria de corpo inteiro antes do consumo do biscoito enriquecido. Pode-se observar que no grupo de crianças os participantes de ambos os sexos apresentaram classificação dentro do esperado. Já no grupo de adolescentes os meninos ficaram dentro do esperado e as meninas abaixo do esperado. Quanto aos adultos, o do sexo masculino ficou abaixo do esperado e o do sexo feminino dentro do esperado. Os gráficos 13 e 14 apresentam a DMO de coluna e corpo inteiro dos participantes antes do consumo do biscoito enriquecido. 56 Gráfico 13. DMO de coluna antes do consumo do biscoito. DMO de Coluna dos participantes antes do consumo do biscoito 40% 60% DENTRO DO ESPERADO ABAIXO DO ESPERADO Gráfico 14. DMO de corpo inteiro antes do consumo do biscoito. DMO de Corpo Inteiro dos participantes antes do consumo do biscoito 40% 60% DENTRO DO ESPERADO ABAIXO DO ESPERADO Após o consumo do biscoito (durante 6 meses) foram realizadas novas densitometrias de coluna e corpo inteiro, cujos resultados estão apresentados nas tabelas 6 e 7. 57 Tabela 6 -Resultado da densitometria óssea de coluna lombar após consumo do biscoito. Grupos Crianças Densitometria Coluna (DP) Avaliação C1- ♂ C2 -♀ C3 - ♀ C4 - ♀ C5 - ♀ Adolescentes -0,8 0,6 -0,2 -1,0 1,8 Dentro do esperado Dentro do esperado Dentro do esperado Dentro do esperado Dentro do esperado A6 - ♂ A7 - ♂ A8 - ♂ A9 - ♀ A10 - ♀ A11 - ♀ A12 - ♀ A13 - ♀ Adultos -1,0 -1,0 -0,3 -1,6 -2,2 -2,3 1 -1,6 Dentro do esperado Dentro do esperado Dentro do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Dentro do esperado Abaixo do esperado -0,8 -0,1 Dentro do esperado Dentro do esperado Ad14 Ad15 DP = Desvio Padrão Tabela 7. Resultado da densitometria óssea de corpo inteiro após o consumo do biscoito. Grupos Densitometria Corpo Avaliação Crianças inteiro (DP) C1- ♂ Dentro do esperado -1 C2 -♀ Dentro do esperado 0,8 C3 - ♀ Dentro do esperado 0,1 C4 - ♀ Dentro do esperado -0,2 C5 - ♀ Dentro do esperado 0,9 Adolescentes A6 - ♂ A7 - ♂ A8 - ♂ A9 - ♀ A10 - ♀ A11 - ♀ A12 - ♀ A13 - ♀ Adultos -0,7 -0,3 0,1 -2,6 -2,2 -1,6 -1,1 -1,2 Dentro do esperado Dentro do esperado Dentro do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Abaixo do esperado Ad14 Ad15 DP = Desvio Padrão -0,9 0,4 Dentro do esperado Dentro do esperado 58 A tabela 6 apresenta os resultados da densitometria de coluna após o consumo do biscoito enriquecido. Pode-se observar que no grupo de crianças o participante do sexo masculino apresentou classificação dentro do esperado, obtendo recuperação em relação aos primeiros resultados; e que as meninas ficaram dentro do esperado, mantendo os resultados iniciais. Já no grupo de adolescentes os meninos (n=3) ficaram dentro do esperado e no grupo das meninas, aquela que se encontrava abaixo do esperado passou para classificação dentro do esperado, obtendo recuperação. Foi observado ainda, que a menina que apresentava osteopenia no exame inicial, embora não tenha saído da classificação abaixo do esperado, teve recuperação deste quadro. Quanto aos adultos, ambos ficaram dentro do esperado. A tabela 7 apresenta os resultados da densitometria de corpo inteiro após o consumo do biscoito enriquecido. Pode-se observar que no grupo de crianças os participantes de ambos os sexos apresentaram classificação dentro do esperado, mantendo o apresentado antes do consumo do biscoito. Já no grupo de adolescentes os meninos ficaram dentro do esperado e as meninas abaixo do esperado, mantendo o apresentado antes do consumo do biscoito. Quanto aos adultos, ambos ficaram dentro do esperado, havendo recuperação no caso do sexo masculino. Os gráficos 15 e 16 apresentam a DMO de coluna e corpo inteiro dos participantes após o consumo do biscoito enriquecido. Gráfico 15. DMO de coluna após o consumo do biscoito. DMO de Coluna dos participantes após o consumo do biscoito 26% 74% DENTRO DO ESPERADO ABAIXO DO ESPERADO 59 Gráfico 16. DMO de corpo inteiro após o consumo do biscoito. DMO de Corpo Inteiro dos participantes após o consumo do biscoito 33% 67% DENTRO DO ESPERADO ABAIXO DO ESPERADO Os gráficos 17 e 18 apresentam as correlações entre ingestão de cálcio antes e DMO corpo antes, e ingestão de cálcio depois e DMO de corpo depois respectivamente. Gráfico 17. Correlação entre cálcio antes e DMO corpo antes 0,0 -,5 -1,0 DMO Corpo Antes -1,5 -2,0 -2,5 100 200 300 Cálcio Antes rs = 0,663 valor-p = 0,073 400 500 600 60 Gráfico 18. Correlação entre cálcio depois e DMO corpo depois ,5 0,0 -,5 -1,0 DMO Corpo Depois -1,5 -2,0 -2,5 -3,0 400 500 600 700 Cálcio Depois rs = 0,67 valor-p = 0,071 800 900 1000 1100 61 7. DISCUSSÃO Entre os transtornos bioquímicos, a fenilcetonúria (PKU) é considerada a causa mais freqüente de retardo mental. Trata-se de patologia genética de herança autossômica recessiva, decorrente da alteração em um gene do cromossomo 12. Essa alteração impede a síntese adequada da enzima hepática fenilalanina-hidroxilase (PHA), responsável pela conversão do aminoácido fenilalanina (PHE) em um outro aminoácido, a tirosina (TYR). A prevalência é estimada em 1:12.000 nascidos vivos, havendo preponderância do gênero feminino (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002; AMORIM, 2005 A MONTEIRO E CÂNDIDO, 2006). No período que foi realizada a pesquisa, 70 pacientes com diagnóstico de PKU estavam em acompanhamento regular na APAE-RIO, o mais antigo centro de referência em triagem neonatal do Estado do Rio de Janeiro. Do total atendido apenas 15 (21,4%) aceitaram participar. Os participantes encontravam-se na faixa etária entre 9 e 29 anos, sendo 33,3% (n=5) do sexo masculino e 66,7% (n=10) do sexo feminino. Tal número não torna a presente amostra representativa dos pacientes portadores de PKU, visto que a maioria dos pacientes atendidos encontra-se na faixa etária entre 0-4anos, que se refere aos casos detectados por triagem neonatal na APAE, devido a obrigatoriedade de realização do Teste do Pezinho pela Lei Federal nº8069 do Estatuto da Criança e Adolescente de 13 de Julho de 1990. O maior número de pacientes do gênero feminino, observado neste estudo, não tem embasamento teórico-científico, e pode dever-se às limitações impostas pelo tamanho amostral, embora Amorim (2005) tenha observado uma maior predominância do gênero feminino. 7.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL O acompanhamento nutricional do portador de PKU realizado nos serviços de referência em triagem neonatal tem por objetivo avaliar o estado nutricional e analisar os efeitos do tratamento dietoterápico, baseando-se em padrões antropométricos de referência expressos em percentis, desvio padrão (Z-escore) (WHO,1995). No momento inicial do 62 estudo foi observado no grupo de crianças que 40% apresentavam algum déficit nutricional (20% déficit grave e 20% déficit leve) em relação ao indicador A/I. O restante da amostra (60%) encontrava-se em eutrofia segundo a classificação de Aldori (1994). Em relação ao indicador P/A observou-se que houve adequação em todo o grupo; já para o indicador P/I foi apresentado déficit leve em 20% do grupo e adequação no restante 80% da amostra. No grupo de adolescentes, o indicador P/I revelou 100% de adequação e o indicador A/I mostrou: 63% déficit leve, 12% déficit moderado e 25% adequação. O indicador IMC utilizado no grupo de adultos revelou obesidade em ambos os sexos. Após os 6 meses de suplementação com o biscoito enriquecido, a avaliação antropométrica realizada no grupo de crianças apresentou pequena modificação, ou seja, em relação ao indicador A/I, 40% ainda apresentavam algum déficit nutricional, porém houve uma melhora do estado nutricional da criança que apresentava déficit grave para uma avaliação de déficit moderado, segundo a classificação de Aldori (1994). Cabe ressaltar que a criança que apresentou déficit moderado era do sexo masculino como mostrado na tabela 2. Nos adolescentes, após a suplementação, não houve modificação do estado nutricional. Sibinga et al (1981), encontrou déficit moderado para o indicador A/I nos pacientes PKU estudados. Quando comparou esses resultados com aqueles encontrados em outros centros de referência, sugeriu que os portadores de PKU poderiam tender a apresentar déficits de crescimento. De acordo com Schaefer et al (1994); Przvrembel e Bremer (2000), os portadores de PKU podem apresentar déficits de altura, principalmente na faixa etária até 10 de anos, sendo mais predominante no sexo masculino. Apesar de no grupo de crianças, apenas 1 participante ser do sexo masculino, este se encontrava em déficit moderado. Fisberg (1999) aponta que as crianças podem apresentar déficit de crescimento devido à inadequação energética. O suprimento de energia é importante, pois quando a quantidade de energia fornecida é insuficiente, os níveis de PHE aumentam devido à degradação de proteínas endógenas. As fórmulas utilizadas pelo paciente PKU no tratamento dietoterápico, em sua maioria contém baixos teores de lipídios, sendo necessária sua suplementação. Harvie et al (1998) e Acosta et al (2003) ao analisarem diferentes fórmulas, destinadas a diferentes faixas etárias, encontraram deficiência de ácidos graxos essenciais. Estes também podem comprometer o crescimento. Ao observar melhora do estado nutricional do paciente (criança) do sexo masculino após o consumo do biscoito enriquecido, pode-se sugerir que este indicador tenha sofrido 63 influência do aumento da ingestão de energia a partir do consumo diário de biscoito, que representou um acréscimo de 310 Kcal/dia. Fisberg et al (1981) estudaram crianças na faixa etária de 12 anos, recebendo acompanhamento regular, que ingeriam quantidades adequadas de proteína, de acordo com o registro de 3 dias. Os pesquisadores não verificaram diferença entre os indicadores P/A e P/I nos pacientes PKU estudados, quando comparados com o padrão de normalidade. Os adultos, de ambos os sexos, apresentaram quadro de obesidade. Não obedeciam qualquer dieta. A característica deste grupo é que o diagnóstico foi concluído tardiamente. Ambos apresentavam retardo mental importante, fome exagerada e dificuldade em seguir o tratamento dietoterápico prescrito, como relatado no prontuário. Pietz, et al (1995) avaliando pacientes PKU de diagnostico tardio, na faixa etária entre 17 e 33 anos, encontraram desordens psiquiátricas e quadro de obesidade nos pacientes estudados. 7.2 AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE PHE A manutenção dos níveis adequados de PHE plasmática é realizada a partir do seguimento correto do tratamento dietoterápico, através da restrição dietética do aminoácido, e acompanhamento mensal nos serviços de tratamento. As recomendações para manutenção dos níveis adequados de PHE plasmática em diferentes idades são feitas a fim de se prevenir alterações no desenvolvimento físico e intelectual. A necessidade do controle da dieta e dos níveis de PHE é bem estabelecida na infância. A interrupção prematura do tratamento põe em risco as funções cognitiva e emocional (MIRA e MARQUES, 2000). Observa-se no momento inicial deste estudo que alguns participantes apresentaram níveis plasmáticos elevados de PHE. No grupo de crianças, 2 participantes (um menino e uma menina) apresentaram nível de PHE acima da recomendação. Já no grupo de adolescentes 3 participantes (1 menino e 2 meninas) apresentaram nível de PHE acima da recomendação. Quanto aos adultos, apenas um, o do sexo feminino, apresentou nível plasmático acima da recomendação. Após 6 meses de suplementação com o biscoito enriquecido com carbonato de cálcio, pôde-se observar que no grupo de crianças não houve modificação no perfil plasmático de PHE, sendo mantido o perfil encontrado no início do estudo. No grupo de adolescentes o participante do sexo masculino, que estava com os níveis de PHE elevados, apresentou uma redução, ficando com os níveis plasmáticos de PHE 64 adequados. O mesmo aconteceu com uma das adolescentes que estava com perfil alterado. Já a outra adolescente, embora apresentasse nível plasmático inferior, aquele do início do estudo, ainda manteve seus níveis elevados. Os adultos, ambos, apresentaram níveis adequados após o consumo do biscoito. Diversos estudos relatam a dificuldade de adesão à dieta a partir da idade escolar, o que reflete na qualidade de obtenção de nutrientes, e alteração dos níveis de PHE. Geralmente o abandono ou relaxamento da dieta ocorre na adolescência, quando surgem as crises de desenvolvimento, próprias da puberdade. Diversas razões contribuem para essa descontinuidade: pressões sociais que dificultam a integração do indivíduo com o portador de PKU na sociedade; disponibilidade de tempo para adequar-se à dietoterapia; limitação financeira devido ao elevado custo dos alimentos especiais; independência familiar; desconhecimento dos teores de PHE nos alimentos; falta de produtos com teores reduzidos de PHE que possam suprir as necessidades nutricionais; desconhecimento das implicações dietadoença (GLEASON et al, 1992; AL-QUADREH et al,1998; MIRA e MARQUEZ, 2000; CROMER, 2000; PÉREZ-DUEÑAS et al, 2002; BILGINSOY et al, 2005). Entretanto, sabe-se que o controle rigoroso e prolongado da dieta é essencial para o melhor desenvolvimento intelectual e psicomotor do PKU. Weglage et al estudaram os aspectos psicológicos de pacientes PKU na faixa etária de 10 a 15 anos, com dieta iniciada nas primeiras semanas de vida. Eles encontraram diferença significativa quanto ao contexto psicológico e social dos pacientes estudados, demonstrando menor autonomia e maior dependência de adultos, baixa tolerância a frustrações, introversão, pouca satisfação com a vida e grande excitabilidade emocional. Os dados observados foram atribuídos ao relaxamento no controle da dieta, verificado a partir do início da adolescência. Schmidt et al (1996), estudaram os efeitos dos níveis de PHE sangüíneo sobre a capacidade dos pacientes PKU realizarem cálculos com rapidez e fixar a atenção. Observaram que crianças que possuem um bom controle da dieta, mantendo níveis de PHE plasmático adequados, apresentaram melhor "performance" e funções neuropsicológicas normais. Por outro lado, um reduzido controle na dieta, por um período prolongado, fez com que crianças e adultos com PKU exibissem deficiências neuropsicológicas e apresentassem dificuldade na reintrodução do tratamento. Foi observado que o paciente de sexo masculino no grupo de crianças, que apresentou melhora dos índices de PHE, também teve melhora com relação a densitometria óssea de coluna, saindo da classificação de abaixo do esperado. A homeostase do cálcio ocorre em função de vários fatores dentre os quais a ingestão dietética, absorção intestinal, excreção urinária e o depósito no esqueleto. 65 De acordo com Dobbelaere et al. (2003), a manutenção das quantidades de proteína, energia e cálcio disponíveis reflete diretamente na obtenção de altura através da formação óssea. MacMurray et al (1992), realizaram um estudo avaliando a maturação óssea de pacientes PKU, na faixa etária de 1,9 a 25,5 anos. Eles encontraram baixo índice de status mineral ósseo nos pacientes em diferentes faixas etárias e ingestão de cálcio e fósforo insuficientes para atingir as recomendações, merecendo destaque para o grupo adultos jovens que alcançaram menos que 2/3 dessas recomendações. Concluíram que a elevação das concentrações plasmáticas de PHE pode promover o aumento da excreção de metabólitos, levando a perda de cálcio na urina. 7.3 INGESTÃO DE CÁLCIO O cálcio é um nutriente essencial, pois desempenha funções reguladora e estrutural. A função estrutural principal está associada ao desenvolvimento e formação óssea. A ingestão de cálcio adequada, durante toda a vida principalmente na adolescência, constitui um aspecto importante, pois é nesta fase que o indivíduo atinge sua estatura definitiva, massa esquelética máxima e peso adulto adequado. A deficiência deste mineral pode contribuir para o retardo do crescimento, que altera a maturação esquelética e a fusão epifisária dos ossos longos. No momento inicial do estudo, foi encontrado que tanto no grupo de crianças como de adolescentes, as necessidades diárias de cálcio não foram atingidas. No grupo de adultos o paciente do sexo masculino atingiu as recomendações diárias de cálcio, e a do sexo feminino ficou próximo do alcance. Cabe ressaltar que ambos eram pacientes tardios e nunca seguiram a dieta. Após a suplementação, com a estimativa de cálcio ingerida com o biscoito enriquecido, pôde-se observar que: embora o resultado estatisticamente tenha sido significativo, conforme mostrado no gráfico 11, no grupo de crianças, apenas uma paciente, do sexo feminino, atingiu as necessidades diárias da RDA; no grupo de adolescentes também foi significativo (gráfico 12), porém nenhum dos participantes atingiu as recomendações. No grupo de adultos os pacientes de ambos os sexos masculino atingiram as recomendações diárias de cálcio após consumo do biscoito enriquecido. Desta forma é importante observar a ingestão de cálcio desses pacientes para que possam atingir as recomendações diárias. Estudos revelam que pode haver deficiência na ingestão de cálcio na dieta do portador de PKU. Mac Murray et al (1992) e Hilman et al (1996), estudando a correlação da dieta ingerida com o desenvolvimento ósseo, encontraram baixa ingestão de cálcio pelos pacientes 66 avaliados. Zeman et al (1999) reforçaram que pode ser difícil obter cálcio para adequada absorção sem que haja inclusão de produtos lácteos ou suplementos. 7.4 AVALIAÇÃO DA IDADE ÓSSEA Idade óssea (IO) é o índice do desenvolvimento do esqueleto, um aspecto da maturação do indivíduo. A maturidade morfológica é inevitável para todos os indivíduos, porém chega mais cedo na vida para uns e mais tarde para outros. Este fenômeno influencia a estatura final do indivíduo: de fato, diferentes velocidades de maturação esquelética correspondem a diferentes velocidades de ganho de estatura e diferentes produtos finais, isto é, diferentes estaturas finais. A IO é um método de fácil obtenção e rápida interpretação, muito útil na apreciação do crescimento e desenvolvimento, sendo facilmente observado em crianças normais (MARCONDES, 1980). De acordo com Campos et al (2003), o exame de raio X detecta alterações ósseas a partir de 30 a 50% de perda, sendo menos sensível quando comparado à densitometria óssea. O incremento estatural observado durante a infância e adolescência depende de fatores nutricionais, psicossociais, hormonais e genéticos, os quais promovem a proliferação da cartilagem de crescimento e alongamento linear dos ossos. No momento inicial do estudo, observa-se no grupo das crianças que as meninas apresentaram IO>IC e o menino IO<IC. Cabe ressaltar que as meninas tinham idade que variava entre 10 e 11 anos e o menino tinha 12 anos. Entre os adolescentes observou-se, no grupo feminino (idade variava entre 13 e 16 anos), uma IO>IC em apenas 1 participante e IO=IC em 4 participantes. No grupo masculino foi encontrado IO>IC em 1 participante (que estava com 13 anos) e IO=IC em 2 participantes. Vários autores apontam a influência do sexo, comprovando o fato de as meninas apresentam maior velocidade de maturação esquelética do que os meninos durante quase todo o período de crescimento, sobretudo a partir de 10 a 12 anos de idade (Marcondes,1990; Longui, 1996). É difícil caracterizar a verdadeira natureza do crescimento estatural linear, se ocorre como um processo contínuo ou por períodos de aceleração alternados com parada de crescimento. Apesar de o processo de crescimento ser multifatorial e complexo, as crianças normalmente crescem de maneira previsível. Desvios do padrão de crescimento podem ser a primeira manifestação de uma ampla variedade de doenças endócrinas e não endócrinas. Avaliação freqüente e precisa do crescimento é de importância primária no cuidado das crianças (REITER e ROSENFELD, 2002). 67 Allen et al (1994) relataram que o pico de crescimento dos PKU inicia-se nas meninas em torno dos 9,6 e dos meninos aos 11,6 anos, devido a ingestão de aminoácidos livres presentes na fórmula que utilizam diariamente. Após a suplementação com os biscoitos enriquecidos com cálcio não foi observada modificação quanto a IO/IC encontrada no inicio do estudo. Nos grupos de crianças e adolescentes, respectivamente foram encontrados de IO>IC em 80% e 100%, possam ser atribuídos à aceleração do crescimento. Zeman; Bayer e Stepan (1999), que estudaram crianças e adolescentes, encontraram em 21,5% dos pacientes com PKU, IO<IC, atribuindo este achado a dieta restrita em proteínas. Crianças com baixa estatura e velocidade de crescimento não condizente com sua faixa etária são freqüentemente submetidas à extensa investigação, onde doenças sistêmicas e endócrinas são lembradas. Uma exceção ocorre em crianças com síndromes genéticas associadas ao retardo mental. Padrão de crescimento anormal é característica comum encontrada em muitas síndromes genéticas cujo mecanismo não é claramente elucidado (THOMAS et al, 2006). O crescimento depende inteiramente da produção de hormônios tireoidianos. Estes agem primariamente na ossificação endocondral, crescimento linear e maturação dos centros de crescimento epifisários e são necessários para ordenação do crescimento e diferenciação óssea. A tiroxina influencia a produção de citocinas, fatores de crescimento e marcadores da remodelação óssea e seus receptores nucleares (LARSEN e DAVIES, 2002; HARVEY et al, 2002; MURPHY e WILLIAMS, 2004). Aronson et al (1990); Grant (1994) e Heyerdahl et al. (1997), estudando pacientes portadores de hipotiereoidismo congênito, encontraram atraso de crescimento e diminuição da estatura com 1 ano de idade em meninos e com 2 anos nas meninas; e sugeriram que os hormônios tireoidianos são essenciais para o início normal do crescimento na infância. Assim como os portadores de hipotiereoidismo congênito, os pacientes PKU possuem deficiência na produção de hormônios tireoidianos devido à deficiência da conversão de fenilalanina em tirosina. Dessa forma, os portadores de PKU podem apresentar IO menor que a cronológica devido a deficiência de hormônios tireoidianos, seja pela falta de tirosina ou índices elevados de PHE plasmáticos. Existem poucos registros sobre maturação do esqueleto para pacientes PKU. Para Allen et al, (1994) a etiologia da redução de IO em PKU permanece obscura. 7.5 DENSITOMETRIA ÓSSEA 68 Com o objetivo de padronizar e estabelecer critérios precoces, foi proposto pela OMS que o diagnóstico da osteoporose fosse realizado através da medida da densidade mineral óssea (DMO) expressa em desvio-padrão (DP). A DMO não é o único fator envolvido na etiologia das fraturas associadas à osteoporose, entretanto, apresenta um dos melhores índices preditivos disponíveis atualmente (ZANETE et al, 2003). Como a densidade obtida pelo DXA é determinada por área, e não volumétrica, e como a área não aumenta na mesma proporção que o volume durante o crescimento, ossos grandes superestimam, enquanto que ossos pequenos subestimam a DMO, devido a uma limitação técnica do método. A infância e a adolescência são períodos da vida em que o organismo se encontra em crescimento; portanto, o tamanho dos ossos varia intensamente. Assim, algumas modificações de DMO areal observadas nessas faixas etárias não representam um aumento real da mineralização, mas, na verdade, refletem o crescimento volumétrico do esqueleto (Castro, 2004). Devido a falta de um padrão definido para essa população, a classificação é feita de acordo com a densidade óssea esperada para a idade. A DEXA mede a DMO tanto no esqueleto axial como no apendicular, sendo, portanto, capaz de avaliar o osso trabecular (onde é maior o turnover) e o cortical (Castro, 2004). Segundo a Sociedade brasileira de densitometria óssea (2007), coluna lombar e corpo inteiro são os sítios esqueléticos preferíveis para medida em crianças e adolescentes. O crescimento ocorre em ritmos diferentes durante a vida intra-uterina, infância precoce (lactância), média e puberdade. Após o nascimento é observada uma alta velocidade de crescimento com rápida desaceleração por volta dos 3 anos, seguida por um período com velocidade de crescimento mais baixa e lenta desaceleração até a puberdade. Durante a puberdade, dois eventos ocorrem quase simultaneamente. Um fenômeno é o estirão de crescimento físico, caracterizado por incremento substancial nas medidas de estatura; o outro consistiria em atingir o pico de massa óssea. Ambas as situações, aparentemente, são mediadas por similar cascata hormonal, incluindo os marcadores bioquímicos de formação óssea (SILVA et al, 2004; BACHRACH et al, 2005). No momento inicial do estudo pôde-se observar em relação à DMO de coluna, que o participante do sexo masculino, no grupo de crianças, apresentou classificação abaixo do esperado, significando que a massa óssea encontrada não era compatível com a idade. As meninas ficaram dentro do padrão de normalidade, significando que a massa óssea encontrada era compatível com a idade. Quanto a densitometria de corpo inteiro, pôde-se observar que no grupo de crianças todos apresentaram classificação dentro do esperado. 69 No grupo de adolescentes a DMO de coluna evidenciou que os meninos estavam dentro do esperado e as meninas abaixo do esperado. Já a DMO de corpo inteiro mostrou que os adolescentes do sexo masculino ficaram dentro do esperado e que, as meninas, também neste exame, encontravam-se abaixo do esperado, significando redução na aquisição de massa óssea. A correlação estabelecida entre o cálcio antes (cálcio ingerido diariamente na dieta antes do consumo do biscoito) e DMO de corpo inteiro antes, no grupo de adolescentes, segundo o coeficiente de correlação de Spearman, foi de rs = 0,663 (correlação moderada) valor-p = 0,073; sem significância estatística (gráfico 17). Embora uma DMO ruim possa estar correlacionada a uma ingestão de cálcio ruim, considerando-se que a DMO reflete um processo a longo prazo, não pôde-se observar correlação entre estas duas variáveis no estudo em questão. Quanto aos adultos, ambos ficaram dentro do esperado na avaliação da DMO de coluna. Na DMO de corpo inteiro, o paciente do sexo masculino ficou abaixo do esperado e o do sexo feminino dentro do esperado. Após a suplementação com os biscoitos enriquecidos com cálcio, foi observado aumento da DMO de coluna e corpo inteiro em 100% do grupo de crianças, 87,5% do grupo de adolescentes e 50% do grupo de adultos. Esse resultado era esperado para o grupo de crianças e adolescentes visto que nesta fase a remodelação óssea é intensa (a formação excede a reabsorção) e é nos dois primeiros anos de vida e durante a adolescência que ocorre aceleração do crescimento (Campos et al, 2003). De acordo com Bachrach et al (2005), entre a infância e a adolescência mais de 1000g de cálcio são incorporados ao esqueleto e ao final do crescimento ocorre o aumento da densidade óssea, sendo esta mantida durante a fase adulta; entretanto, a massa óssea é totalmente dependente da ingestão de nutrientes. A mineralização óssea inicia-se na vida fetal e tem pico máximo de incremento na adolescência. Os períodos da infância e adolescência são marcados por uma taxa de formação óssea muito importante, com predomínio da formação sobre a reabsorção. Os períodos de aceleração do crescimento ocorrem nos 2 primeiros anos de vida e na adolescência. A puberdade destaca-se como período crucial para a aquisição do conteúdo mineral ósseo, sendo a idade adulta a fase onde ambos os processos se estabilizam. Até os 20 anos de idade, o acúmulo de cálcio no esqueleto é de aproximadamente 150 mg por dia, na maturidade a quantidade de cálcio permanece constante. A partir dos 45-50 anos, principalmente no sexo feminino, ocorre predomínio da reabsorção óssea (SILVA et al, 2003). A redução do conteúdo mineral ósseo, em portadores de PKU é evidenciada por diversos autores. Schwahn et al (1998) avaliaram a DMO de crianças, adolescentes e adultos 70 portadores de PKU sob tratamento regular, e encontraram significativa redução de DMO em todos os grupos. Eles ressaltaram a importância da ingestão adequada de cálcio para prevenção da osteopenia e osteoporose, na infância e idade adulta respectivamente. No estudo de Al-Qadreh et al (1998) que também avaliaram aquisição de massa óssea em crianças PKU em tratamento, evidenciaram quadro de osteopenia severa em 46% dos pacientes. Estes também reforçaram a importância do tratamento dietético para manutenção dos níveis de cálcio, adequada mineralização óssea e correção da osteopenia. Em um outro estudo, Modan-Moses et al (2007) avaliaram a DMO de corpo inteiro e cabeça de fêmur em pacientes adultos PKU, na faixa etária de 19-41anos. Encontraram osteopenia 38.7% e osteoporose em 6.5%. Concluíram que o aumento de massa óssea durante a adolescência é um dos fatores determinantes da resistência óssea e risco baixo de fraturas; e que a restrição dietética prolongada imposta ao paciente PKU, inclusive de minerais, pode aumentar o risco de desenvolver osteopenia e osteoporose, sendo essencial adequada ingestão de cálcio para o ganho de massa óssea. Os resultados de aumento de DMO de coluna e corpo inteiro no menino no grupo de crianças podem ter sofrido influência do aumento do consumo de cálcio. O resultado encontrado para este paciente merece destaque, já que foi um dos que saiu da classificação de abaixo do esperado na DMO de coluna. E no caso da avaliação do estado nutricional, ele evoluiu de acordo com o indicador A/I, saindo da classificação de déficit grave para déficit moderado segundo Aldori, (1994). No grupo de adolescentes, uma menina que obteve recuperação quanto a DMO de coluna, também foi uma das que consumiu os biscoitos conforme orientação durante os 6 meses. No grupo de adolescentes houve ainda uma recuperação de uma paciente que saiu do quadro de osteopenia, embora não tenha saído da classificação de abaixo do esperado para DMO de coluna e corpo inteiro. No grupo de adultos, houve melhora do participante do sexo masculino quanto a DMO de corpo inteiro, saindo da classificação de abaixo do esperado para dentro do esperado. Neste grupo, os participantes de ambos os sexos consumiram o biscoito conforme as recomendações. A correlação estabelecida entre o cálcio depois (total de cálcio ingerido diariamente somando-se o cálcio do biscoito e o da dieta) e DMO de corpo inteiro após a suplementação, no grupo de adolescentes, segundo o coeficiente de correlação de Spearman, foi de rs = 0,67 (correlação moderada) valor-p = 0,071; sem significância estatística (gráfico 18). Embora a consolidação de massa óssea seja maior no grupo de adolescentes, já que metabolismo ósseo no grupo de crianças é mais dinâmico e mais ativo devido ao crescimento, a DMO após o consumo do biscoito no grupo de adolescentes não pôde-se ser explicada pelo 71 consumo de cálcio após a suplementação. Sugerindo-se que um consumo de cálcio maior para adequação das recomendações diárias, conforme orientado para o consumo dos biscoitos, talvez mostrasse correlação significativa. Isto se explica pela consolidação de massa óssea maior no grupo de adolescentes. O metabolismo ósseo no grupo de crianças é mais dinâmico e mais ativo devido ao crescimento, podendo depositar mais cálcio e deposita por último nos ossos longos. 72 8. CONCLUSÕES ¾ A avaliação nutricional mostrou que todos os participantes tinham peso adequado ou obesidade, e que houve melhora no indicador A/I em um dos participantes no grupo de crianças. ¾ A maioria dos participantes apresentou alteração nos níveis de PHE plasmáticos. ¾ A idade óssea encontrada mostrou que provavelmente as meninas, no grupo de crianças já iniciaram o pico de crescimento e o menino está iniciando. ¾ Não houve correlação estatística entre a ingestão de cálcio e a DMO de corpo antes do consumo do biscoito enriquecido; nem da ingestão do cálcio com o biscoito enriquecido e a DMO de corpo depois da suplementação, embora os resultados tivessem sido clinicamente positivos. ¾ Pode-se sugerir que um consumo mais regular dos biscoitos e aumento da ingestão diária de cálcio pudesse estabelecer uma correlação entre a ingestão de cálcio e a aquisição de massa. 73 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS 9.1 OBRAS CITADAS 1. 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Niterói-RJ: Ed UFF, 86 p. 2003. 30. WEAVER, C. M. Assessing Calcium Status and Metabolism. Journal of Nutrition, v. 120, p. 1470-73. 1990. 31. YANNICELLI, S.; MEDEIROS, D.M. A. Elevated Plasma Phenylalanine Concentrations may Adversely Affect Bone Status of Phenylketonuric Mice. Journal of Inherit Metabolism Disease, v. 25, p. 347-361, 2002. 32. ZWART, S.R. Amino acid supplementation alters bone metabolism during simulated weightlessness. American Journal of Clinical Nutrition, v. 81, n. 6, p. 1442-1448, 2005. 87 10 ANEXOS 88 10.1- Recomendações de Energia e Proteína para PKU. Idade *Recomendação de energia (Kcal/Kg) *Kcal/dia 7-11 11-15 15-19 Idade 7-11 11-15 15-19 30-15 30-15 30-10 Recomendação de proteína (g/dia) ≥ 40 ≥ 50-55 ≥ 50-65 2400 2200-2700 2100-2800 RDA 1989 (g/dia) 28 45-46 46-59 *Fonte: ELSAS, L. J and ACOSTA, P.B. in modern Nutrition in Health and Disease, 1999. 89 10.2 - Recomendações de Nutrientes para crianças, adolescentes e adultos normais. IDADE 7-10 anos 11-14 anos 15-18 anos 19-25 anos 25-50 anos 10 mcg/dia 1000 mg/dia 700 mg/dia 5 mcg/dia 1000 mg/dia 700 mg/dia NUTRIENTES VITAMINA D 10 mcg/dia 800 mg/dia CÁLCIO 10 mcg/dia 1300 mg/dia 10 mcg/dia 1300 mg/dia 500 mg/dia 1250 mg/dia 1250 mg/dia 130 mg/dia 280 mg/dia 300 mg/dia 280 mg/dia 280 mg/dia Sexo masculino 130 mg/dia 270 mg/dia 400 mg/dia 350 mg/dia 350 mg/dia 25g /dia 25g /dia 25g /dia 25g /dia FÓSFORO MAGNÉSIO Sexo feminino *FIBRAS 10 g/dia Fonte: FAO/OMS, 2000. * Associação Dietética Americana (ADA, 1997). 90 10.3 – Cassificação para os indicadores altura para idade (A/I), peso para idade(P/I) e peso para altura (P/A) expressos em z-score. Pontos de corte Classificação Adequado z-score >-1 Déficit leve -1<z-score >-2 Déficit moderado -2<z-score >-3 Déficit grave z-score >-3 Fonte: ALDORI, 1994. 91 10.4 – Classificação do Estado Nutricional em adultos de acordo com o IMC relacionado com morbidade. Risco de co-morbidades Classificação IMC (Kg/m2) Baixo peso < 18,5 Baixo Adequado 18,5 – 24,9 Médio Sobrepeso ≥ 25,0 Pré-Obesidade 25,0 -29,9 Aumentado Obesidade classe I 30,0 – 34,9 Moderado Obesidade classe II 35,0 – 39,9 Grave Obesidade classe III (Obesidade Mórbida) ≥ 40,0 Muito Grave Fonte: WHO (1997).