ASTM CODENT GAEDOW 30(3):81-124 ISSN 0101-7772 Volume 30 - Número 3 - Julho / Setembro, 2011 1 Revista GED03 Julho2011-E.indd 1 21.09.11 14:41:09 Revista GED03 Julho2011-E.indd 2 21.09.11 14:41:12 Gastroenterologia Endoscopia Digestiva Gastroenterologia Endoscopia Digestiva A Revista GED – Gastrenterologia Endoscopia Digestiva é o órgão oficial de circulação trimestral da SOBED (Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva), da FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia), da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia), do CBCD (Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva) e da SBMD (Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva). Fundada pelo Capítulo de São Paulo da SOBED em 1982, durante a gestão do Prof. Dr. Arnaldo José Ganc. Registrado na Lei de Imprensa em 19/11/1981, sob o no 1.870, Lv. A, no 5o Registro de Títulos e Documentos de São Paulo. Indexada nas seguintes bases de dados LILACS, SCOPUS, EMBASE/EXCERPTA MÉDICA, LATINDEX e ADSAÚDE Editor Chefe Paulo Roberto Arruda Alves (SP) Editores Responsáveis José Murilo Robilotta Zeitune (SP) – Gastroenterologia Nelson Adami Andreollo (SP) – Cirurgia Digestiva Paulo Roberto Arruda Alves (SP) – Endoscopia Digestiva Rimon Sobhi Azzam (SP) – Motilidade Digestiva Aécio Flávio Meirellez Souza (SP) – Hepatologia Editores Associados Arnaldo J. Ganc (SP) Jaime Natan Eisig (SP) Eduardo Luiz Rachid Cançado (SP) Marcelo Averbach (SP) Sânzio S. Amaral (SP) Conselho Editorial – Brasil Admar Borges da Costa Jr. (PE), Ana Maria Pittella (RJ), Antonio Frederico N. Magalhães (SP), Artur Parada (SP), Bruno Zilberstein (SP), Claudio Coy (SP), Deborah Crespo (PA), Decio Chinzon (SP), Edmundo Pessoa Lopes (PE), Edna Strauss (SP), Edson Pedro da Silva (SC), Everson Artifon (SP), Flair Carrilho (SP), Flavio Quilici (SP), Henrique Coelho (RJ), Hugo Cheinquer (RS), Ismael Maguilnik (RS), João Carlos Andreolli (SP), João Galizzi Filho (MG), José Galvão Alves (RJ), Julio Cesar U. Coelho (PR), Lix A.R. Oliveira (SP), Lorete M.S. Kotze (PR), Lúcia Câmara Castro Oliveira (RJ), Luiz Gonzaga Vaz Coelho (MG), Luiz Pimenta Modena (SP), Luiz Roberto Lopes (SP), Márcio M. Tolentino (SP), Marcus Túlio Haddad (RJ), Mario Pessoa (SP), Martha Pedroso (SP), Maurício Fernando de Almeida Barros (SP), Orlando J.M. Torres (MA), Paulo Bittencourt (BA), Paulo R. Ott Fontes (RS), Paulo Roberto Savassi Rocha (MG), Paulo Sakai (SP), Ramiro Mascarenhas (BA), Raymundo Paraná (BA), Ricardo A. Refinetti (RJ), Roberto Dantas (SP), Sérgio Gabriel Barros (RS), Tomas Navarro Rodriguez (SP), Venâncio A.F. Alves (SP), Vera Lúcia Andrade (MG), Walton Albuquerque (MG) Editores Internacionais Daniel Sifrim (Bélgica), Dirk J. Gouma (Holanda), Helena Cortez Pinto (Portugal), Jorge Daruich (Argentina) Secretaria Coordenadora: Fátima Lombardi dos Santos Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.391, conj. 102 – 01452-000 São Paulo, SP Tel.: (11) 3813-1610 – Fax: (11) 3032-1460 E-mail: [email protected] Tiragem: 7.000 exemplares Periodicidade: trimestral Circulação: nacional para todos os associados da SOBED, FBG, SBH, CBCD e SBMD Números anteriores e separatas: [email protected] Editoração Eletrônica, Distribuição, Impressão e Publicidade E-mail: [email protected] Tel.: (11) 3186-5600 Revista GED03 Julho2011-E.indd 3 21.09.11 14:41:24 Índice issn 0101-7772 Índice Artigo Original 81 Perfil epidemiológico, achados endoscópicos e controle de qualidade das colonoscopias realizadas em uma clínica de gastroenterologia do município de Criciúma entre março e setembro de 2009 Epidemiological profile, endoscopic findings and quality control of colonoscopies performed in a gastroenterology clinic in the city of Criciuma in the period between march and september 2009 Relato de Caso 110 Diagnosis, treatment and monitoring of hepatocellular carcinoma variant fibrolamellar a ri B en -h ur s teFani l eão , l uCas m aGGioni , C arlos K uPsKi , G aBriel s teFani l eão 113 r oBerto a. G uimarães , d aniela m. s ueth 116 Anastomose portossistêmica intrahepática transjugular (TIPS): análise casuística de 28 casos em um hospital de referência Transjugular intrahepatic portosystemic shunts transjugular liver (TIPS): analysis of 28 patients in a hospital cases of reference Avaliação da resposta terapêutica ao infliximabe em pacientes com Doença de Crohn m aria i vonete B andeira l aGes , r aFael B andeira l aGes 119 F áBio y uJi h ondo , i saBela C eCílio s ahium , e vandro s oBroZa de m ello , r iCardo s ato u emura , G aBriel i Zar d ominGues da C osta , B runo da C osta m artins s ônia n ádia F ylyK , P aulo s aKai , s hiniChi i shioKa Resumos Comentados 121 Eosinophilic Esophagitis - Study of a series of cases in adults G aBrie l C orBetta r eGis , a milton C arniel G uimarães , o sni e duardo C amarGo r eGis , i rene v ieira s ouZa Prêmio Jovem Gastro Editorial, Resumos e Comentários P aulo r oBerto a rruda a lves Z eitune G ustavo m oreira a morim , l uCiano n asCimento s aPoriti Esofagite Eosinofílica - Estudo de série de casos em adultos Glândulas sebáceas ectópicas no esôfago Ectopic sebaceous glands in the esophagus Evaluation of infliximab treatment for Crohn’s Disease pacients 103 Tratamento de Hepatite C em portador assintomático Treatment of asymptomatic hepatitis C virus carrier F iorella C ristina s ales C oBas , e duardo e merim , J urandi a ntonio B ettio , J oyCe h art o liveira , s ilvio m orelli 96 Estômago em Melancia Watermelon stomach J oana Z ulian F iorentin , a na l aura P hiliPPi , t amise da s ilva B aPtista , J osué F erreira da s ilva J únior , m anoel C arlos de B ritto C ardoso , h umBerto m arten t eixeira 87 Diagnóstico, tratamento e acompanhamento do carcinoma hepatocelular variante fibrolamelar e J osé m urilo r oBilota Imagem em Foco 123 Gastrite Atrófica Gastritis Atrophic C arolina v ieira de F aria , Â nGelo G ualBerto de m aCedo , a ntonio C arlos de F aria , l uiZ C arlos B ertGes Errata: Na edição da Revista GED – Volume 30 – número 2 – Abril/Junho, 2011, na editoria Artigo Original, página 37, na relação dos autores, onde se lê Carolina Rabello, leia-se Carolina Rebello. Revista GED03 Julho2011-E.indd 4 21.09.11 14:41:25 Revista GED03 Julho2011-E.indd 5 21.09.11 14:41:27 Diretoria das Sociedades Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED) Diretoria Executiva (2010-2012): Presidente: Sérgio Luiz Bizinelli (PR) • Vice-Presidente: Flávio Hayato Ejima (DF) • 1o Secretário: Jimi Izaques Bifi Scarparo (SP) • 2º Secretário: Afonso Celso da Silva Paredes (RJ) • 1o Tesoureiro: Thiago Festa Secchi (SP) • Sede: Rua Peixoto Gomide, 515 – cj. 14 – 01409-001 – São Paulo, SP – Tel./fax: (11) 3148-8200 e 3148-8201 - E-mail: [email protected] – Site: sobed.org.br Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) Diretoria (2010-2012): Presidente: José Galvão Alves (RJ) • Vice-Presidente: José Roberto de Almeida (PE) • Secretário Geral: Sender Jankiel Mizsputen (SP) • 1o Secretário: Adávio de Oliveira e Silva (SP) • Diretor Financeiro: Rubens Basile (RJ) • Coordenador do FAPEGE: Maria do Carmo Friche Passos (MG) • Presidente Eleito (2012-2014): José Roberto de Almeida (PE) • Sede: Av. Brig. Faria Lima, 2.391, 10º andar – cj. 102 – 01452-000 – São Paulo, SP – Tel.: (11) 3813-1610 / 3813-1690. Fax: (11) 3032-1460 - E-mail: [email protected] – Site: www.fbg.org.br Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) Diretoria 2009-2011: Presidente: Raymundo Paraná Filho • 1º Vice-Presidente: Mário Guimarães Pessoa • Secretário Geral: Paulo Lisboa Bittencourt • Secretária Adjunta: Celina Maria Lacet • 1º Tesoureiro: Delvone Freire Gil Almeida • Presidente Eleito 2011-2013: Henrique Sérgio M. Coelho • Sede: Av. Brig. Faria Lima, 2.391, 10º andar – cj. 102 – 01452-000 – São Paulo, SP – Tel.: (11) 3812-3253 - E-mail: [email protected] – Site: www. sbhepatologia.org.br Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD) Diretoria - Gestão 2011-2012: Presidente: Cleber Dario Pinto Kruel • Vice-Presidente: Luis Augusto Carneiro D’Albuquerque • 1o Secretário: Cláudio José Caldas Bresciani • 2o Secretário: Nicolau Gregori Czezcko • 1o Tesoureiro: Bruno Zilberstein • Presidente Eleito (2013-2014) Ivan Cecconello • Sede: Av. Brig. Luiz Antonio, 278 – salas 10 e 11 – 01318-901 – São Paulo, SP – Tels.: (11) 3289-0741 / 3266-6201 / Fone/Fax: (11) 3288-8174 – E-mail: [email protected] – Site: www.cbcd.org.br Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva (SBMD) Diretoria - Gestão 2010-2011: Presidente: Eponina M. O. Lemme • Vice-Presidente: Sânzio Santos Amaral • Secretário Geral: Rosana Bihari Schechter • 1o Secretário: Luciana Dias Moretzsohn • 1o Tesoureiro: Luiz João Abrahão Junior • Sede: Av. Brigadeiro Faria Lima, 2391, Conj. 102, Jardim Paulistano – 01452-000 – São Paulo, SP – Fone: (11) 3518-9117 – E-mail: [email protected] – Site: www.sbmd.org.br Revista GED03 Julho2011-E.indd 6 21.09.11 14:41:28 Informações aos Autores Modificado em outubro de 2007 A GED, órgão oficial da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva – SOBED, da Federação Brasileira de Gastroenterologia – FBG, da Sociedade Brasileira de Hepatologia – SBH, do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva – CBCD e da Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva – SBMD, tem por objetivo a divulgação de trabalhos que contribuam para o progresso da Gastroenterologia, da Endoscopia Digestiva, da Hepatologia, da Cirurgia Digestiva e da Motilidade Digestiva. São publicáveis as colaborações que, enviadas à Secretaria da GED (Av. Brig. Faria Lima, 2.391 – 10o andar – cj. 102 –1452000 – São Paulo, SP, email [email protected]), forem aceitas pelo Conselho Editorial e não tenham sido previamente publicadas e nem o venham a ser, simultaneamente, em outros periódicos. Serão aceitos artigos escritos na língua portuguesa. A critério do Conselho Editorial, poderão ser considerados manuscritos em língua inglesa e castelhana. A GED adota as regras da Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals emitidas pelo International Committee for Medical Journal Editors, disponível na Internet (http:// www.icmje.org). Conteúdo da GED Editoriais Destinam-se à apresentação de temas de natureza polêmica, atual e de impacto, nos quais os editores da GED percebam a necessidade de manifestar de forma sintética a visão destes editores, abordando ou não artigos publicados na GED. Serão escritos pelos editores e/ou membros do Conselho Editorial ou, mediante convite, por outros especialistas. Artigos Originais De pesquisa clínica e/ou experimental, devem apresentar a aprovação da pesquisa pelo Conselho de Ética do hospital, serviço ou instituição onde o trabalho foi realizado. Devem ser estruturados com os seguintes itens: Resumo (e Unitermos), Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusões e Referências Bibliográficas (acompanhado de unitermos). Introdução – Em que se apresenta a justificativa para o estudo, com referências relacionadas ao assunto e o objetivo do artigo. Métodos – Em que se apresentam: a) descrição da amostra utilizada; b) mencionar se há consentimento informado; c) identificação dos métodos, aparelhos e procedimentos utilizados, de modo a permitir a reprodução dos resultados pelos leitores; d) breve descrição e referências de métodos publicados mas não conhecidos amplamente; e) descrição de métodos novos ou modificados; f) se for o caso, referir a análise estatística utilizada, bem como os programas empregados. Resultados – Em que serão apresentados os resultados em Revista GED03 Julho2011-E.indd 7 sequência lógica, em forma de texto, tabelas e ilustrações; recomenda-se evitar repetição excessiva de dados em tabelas ou ilustrações e no texto. No texto, números menores que 10 serão grafados por extenso; de 10 em diante, serão expressos em algarismos arábicos. Discussão – Em que serão enfatizados: a) os aspectos originais e importantes do artigo, evitando repetir dados já apresentados anteriormente; b) a importância e as limitações dos achados, confrontando com dados da literatura; c) a ligação das conclusões com os objetivos do estudo; d) as conclusões decorrentes do estudo. Referências – As referências bibliográficas devem ser numeradas na ordem em que são citadas primeiramente no texto. Elas devem seguir as regras do Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – http://www.icmje.org. Alguns exemplos mais comuns são apresentados a seguir. Exemplos: 1. Artigo padrão em periódico (devem ser listados todos os autores; se houver mais de seis, citar os seis primeiros, seguidos por et al.): Alper CA, Kruskal MS, MarcusBagle Y, Craven DE, Katz AJ, Brint SJ, et al.. Genetic prediction of response to hepatitis B vaccine. N Engl J Med. 1989;321:708-12. 2. Autor institucional: NHI Consensus Development Panel on Helicobacter pylori in Peptic Ulcer Disease. Helicobacter pylori in peptic ulcer disease. JAMA. 1994;272:65- 9. 3. Livro com autor(es) responsável(is) por todo o conteúdo: With TK. Bile pigments. New York: Academic Press, 1968. 4. L ivro com editor(es) como autor(es): Magrath I, editor. The non-Hodgkin’s limphomas. 2nd ed. London: Arnold, 1997. 5. Capítulo de livro: Warshaw AL, Rattner DW. Residual common duct stones and disorders of duodenal ampullae.`In: Ellis H, editor. Maingot’s abdominal operations. New York: Lange Publishers, 1990:1471-2 Os títulos dos periódicos devem ser abreviados de acordo com o Index Medicus (List of Journals Indexed). Se o periódico não constar dessa lista, grafar o nome por extenso. Tabelas – As tabelas devem possuir um título sucinto, com itens explicativos dispostos em seu pé. Devem ser numerados sequencialmente com algarismos arábicos. Figuras – Serão aceitas figuras em preto e branco. Figuras coloridas poderão ser publicadas quando forem essenciais para o conteúdo científico do trabalho; nesses casos, o ônus de sua publicação caberá aos autores. 21.09.11 14:41:28 Informações aos Autores Artigos de Revisão Direitos autorais Somente serão aceitos quando, a convite dos editores da publicação, fizerem parte da linha de pesquisa do autor, comprovada pela presença de artigos originais na bibliografia e citados no texto. Todas as declarações contidas nos artigos serão da inteira responsabilidade dos autores. Aceito o artigo, a GED passa a deter os direitos autorais do material. Assim, todos os autores dos artigos submetidos à GED devem encaminhar um Termo de Transferência de Direitos Autorais. O autor responsável pela correspondência receberá 20 separatas impressas do artigo e o arquivo correspondente em formato pdf. Relato de Caso Devem ser objetivos e precisos, contendo os seguintes itens: 1) Resumo (e Unitermos) e Summary (e keywords); 2) Introdução; 3) Relato objetivo; 4) Discussão; 5) Conclusões; 6) Referências bibliográficas. Cartas ao Editor Cartas endereçadas ao(s) editor(es) serão consideradas para publicação se promoverem discussão intelectual sobre determinado artigo de publicação recente. Devem conter título informativo e não mais que 500 palavras. Se aceita, uma cópia será enviada ao autor do trabalho que suscitou a discussão, com convite para submeter uma réplica que será publicada junto com a carta. Conflito de interesses Conforme determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (RDC 102/2000) e do Conselho Nacional de Saúde (196/96) o(s) autor(es) deve(rão) tornar explícito, por meio de formulário próprio (Divulgação de potencial conflito de interesses), qualquer potencial conflito de interesse relacionado ao artigo submetido. A presente exigência visa informar sobre relações profissionais e/ou financeiras (como patrocínios e participação societária) com agentes financeiros relacionados aos produtos farmacêuticos ou equipamentos envolvidos no artigo, os quais podem teoricamente influenciar as interpretações deste. A existência ou não de conflito de interesses declarado estará ao final de todos os artigos publicados. Bioética de experimentos com seres humanos Experimentos envolvendo seres humanos devem seguir resolução específica do Conselho Nacional de Saúde (196/96), disponível na Internet (http://conselho.saúde.gov.br//docs/Resoluções/Reso/96de96.doc), incluindo a assinatura de um termo de consentimento informado e a proteção da privacidade dos voluntários. Bioética de experimentos com animais Experimentos envolvendo animais devem seguir resoluções específicas (Lei 6.638, de 8/5/1979, e Decreto 24.645, de 10/7/1934). Ensaios clínicos Artigos que contêm resultados de ensaios clínicos deverão possibilitar todas as informações necessárias à sua adequada avaliação, conforme previamente estabelecido. Os autores deverão refeir-se ao “CONSORT” (www.consort.statement.org). Revisão pelos pares Todos os artigos submetidos serão avaliados por dois revisores, os quais emitirão parecer fundamentado que servirá para o(s) editor(es) decidir(em) sobre sua aceitação. Os critérios de avaliação incluem originalidade, contribuição para corpo de conhecimento da área, adequação metodológica, clareza e atualidade. Os artigos aceitos para publicação poderão sofrer revisões editoriais para facilitar sua clareza e entendimento sem alterar seu conteúdo. Revista GED03 Julho2011-E.indd 8 Como enviar o artigo O(s) autor(es) deve(m) encaminhar: • Carta de apresentação assinada por todos os autores ou pelo primeiro autor em nome dos demais, contendo: 1) informação à respeito de submissão prévia ou dupla ou submissão de qualquer parte do artigo atual; 2) uma declaração de relações, financeiras ou não, que possam levar a conflito de interesses; 3) uma declaração de que o artigo foi lido e aprovado por todos os coautores e que os critérios necessários para a declaração de autoria (consultar Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals) foram alcançados por todos os autores e que cada autor afirma que os dados do manuscrito são verdadeiros; 4) nome, endereço, telefone e e-mail do autor para correspondência; ele será o responsável pela comunicação com os outros autores a respeito de revisões e provas gráficas. • Termo de Divulgação de Potencial Conflito de Interesses. • Termo de Transferência de Direitos Autorais. • Três cópias do artigo, digitado em espaço duplo, impressas em papel tamanho carta em somente um dos lados, com margens de 2,5cm e espaço 1,5, numerando as páginas no canto superior direito; as legendas das figuras, as figuras propriamente ditas e as tabelas devem vir ao final, anexadas a cada cópia; assinalar no texto os locais adequados para inserção de figuras e tabelas. • Três conjuntos de figuras em cópia fotográfica brilhante. • Um CD contendo somente um arquivo do texto, correspondente ao artigo, e os arquivos correspondentes a fotos ou figuras. Como preparar o CD • CD formatado compatível com IBM/PC; • Usar editor de texto Microsoft Word para Windows; • O arquivo de texto deve conter somente o texto, da página-título até as referências, e as tabelas; • As figuras não devem ser incluídas no mesmo arquivo do texto; • Colocar no CD a última versão do artigo, idêntica à versão impressa; • Etiquetar o CD informando o programa e a versão utilizados, bem como o nome do arquivo. A submissão do artigo pelo correio eletrônico (e-mail) possibilita maior agilidade no procedimento de revisão. Para isso, será necessário o envio dos arquivos contendo o texto e as figuras para o e-mail da GED ([email protected]). Mensagem aos editores com identificação dos autores deve ser enviada, acompanhada dos endereços convencional e eletrônico e de informações sobre o formato utilizado. O artigo deverá ser enviado em anexo, como attachment, no formato Word para Windows. As figuras deverão estar nos formatos jpg ou tif. 21.09.11 14:41:31 Revista GED03 Julho2011-E.indd 9 21.09.11 14:41:34 Informations to Authors GED is the official journal of the Brazilian Society of Digestive Endoscopy – SOBED, the Brazilian Federation of Gastroenterology – FBG, the Brazilian Society of Hepatology – SBH, the Brazilian College of Digestive Surgery – CBCD, and of the Brazilian Society of Digestive Motility – SBMD, and the purpose of the journal is to publish papers that may contribute towards the progress of Gastroenterology, Digestive Endoscopy, Hepatology, Digestive Surgery and Digestive Motility. Papers sent to the GED Secretariat (Av. Brig. Faria Lima, 2.391 – 10o andar – cj. 102 –1452-000 – São Paulo, SP, Brazil, e-mail [email protected]), which are accepted by the Editorial Board, and which have not been previously or will not be concomitantly published in other journals may be published. Papers drafted in the Portuguese language will be accepted. At the discretion of the Editorial Board, papers in the Spanish and in the English language may also be accepted. GED adopts the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals of the International Committee for Medical Journal Editors, available in the Internet (http://www.icmje.org). GED Contents Editorials Intended to present polemic, current, and impacting topics whenever GED editors feel the need to present their view in a synthetic manner, whether or not such topics are presented in GEDpublished papers. Editorials are written by the editors and/or by Editorial Board members, or by invited specialists. Original Articles Clinical and/or experimental research papers should present the approval of the research given by the Ethics Committee of the hospital, clinic, or institution were the study was carried out. The following items must be included: Summary (and keywords), Introduction, Methods, Results, Conclusions, References, and Summary and Keywords. Introduction – Presents the justification for the study, with references related to the topic and the objective of the paper. Methods – Presenting: a) description of the sample used; b) mention whether or not an informed consent has been obtained; c) identification of methods, devices, and procedures used in order to permit reproduction of the results by the readers; d) brief description and references to methods that have been published but that are not broadly know; e) description of new methods or of modified methods; f) mention the statistical analysis or the software used, as the case may be. Results – Presenting results in a logical sequence, in text format with tables and illustrations; authors should avoid excessive information repetition in the tables and illustrations and in the text. In the text, numbers below ten will be written in full, whereas numbers 10 and beyond will be written in Arabic numbers. Discussion – Emphasis will be given to: a) original and major aspects of the paper, without repetition of the aspects previously presented; b) relevance and limitations of the findings, comparing them to information in the literature; c) connection of the conclusions to the objectives of the study; d) conclusions arising out of the study. References – Bibliographic references should appear in the order in which they are first quoted in the text. They should follow the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – http://www. icmje.org. Some of the more usual example are presented. Examples: 1. Standard paper in journals (all authors must be listed; if they are more than six, list the first six followed by et al.): Alper CA, Kruskal MS, Marcus-Bagle Y, Craven DE, Katz AJ, Brint SJ, et al.. Genetic prediction of response to hepati tis B vaccine. N Engl J Med. 1989;321:708-12. 2. Autor institucional: NHI Consensus Development Panel on Helicobacter pylori in Peptic Ulcer Disease. Helicobacter pylori in peptic ulcer disease. JAMA. 1994;272:65- 9. 3. Book with author(s) responsible for the full text With TK. Bile pigments: New York: Academic Press, 1968. 4. Book with editor(s) as author(s): Magrath I, editor. The non-Hodgkin’s limphomas. 2nd ed. London: Arnold, 1997. 5. Chapter of a book: Warshaw AL, Rattner DW. Residual common duct stones and disorders of duodenal ampullae. In: Ellis H, editor. Maingot’s abdominal operations. New York: Lange Publishers, 1990:1471-2. The titles of journal should be abbreviated according to the Index Medicus (List of Journals Indexed). If the journal is not included in such list, write the name in full. Tables – Tables should have a summarized title, with explanatory comments at the foot of the table. They should be sequentially numbered with Arabic numbers. Figures – Black and white figures will be accepted. Color figures may be published when they are essential for the scientific contents of the paper; in such case, the cost of publishing colored figures will be covered by the authors. R O t o a P e P d o d h s T n 3 E v d Um A0012Revista GED03 Julho2011-E.indd 10 21.09.11 14:41:40 Economia4 Melhor relação custo-benefício entre os IBPs 1-4 *4 R$ *Fonte: Revista ABC Farma PMC I8% - Julho/2011 Apresentações: 30mg 14 cáp. / 15mg 28 cáp. Ação rápida 5 Prazol® apresenta pico médio plasmático entre 1,5 e 2,2 horas em jejum 5 Ação bactericida 6 O lansoprazol possui ação bactericida na eliminação do H. pylori 6 A cápsulas gelatinosas de Prazol® As têm grânulos de liberação retardada 5 Referências Bibliográficas: 1. Manzzionna G. Pace F, Porro GB. Efficcacy of lansoprazole in the short and long-term treatment of Gastro-oesophageal reflux disease. A Systematic Overview. Clin Drug Invest. Overview Invest 1997; 14: 450 450-56 56. 2. 2 Howden CW CW, Ballard II ED, Robieson W. Evidence for Therapeutic Equivalence of lansoprazole 30 mg and esomeprazole 40 mg in the treatment of erosive esophagits. Clin Drug Invest. 2002;22(2):99-109. 3. Welage LS, Berardi RR. Evaluation of omeprazole, lansoprazole, pantoprazole and rabeprazole in tthhe treatment of acid-related diseases. J Am Pharm Assoc. 2000;40:52-62. 4. Revista ABC Farma Julho/2011. 5. Bula do Produto. 6. Nakao M, Malfertheiner P. Growth inhibitory an and bactericidal activities of lansoprazole compared with those of omeprazole and pantoprazole against Helicobacter pylori. Helicobacter. 1998 Mar;3(1):21-7. Prazol® – lansoprazol - cápsulas gelatinosas duras com microgrânulos de liberação retardada de: 30 mg (embalagens com 7 e 14 cápsulas) e 15 mg (embalalag agens com 14 e 28 cápsulas). Indicações: Prazol® 30 mg: cicatrização e alívio sintomático de esofagite de refluxo, de úlcera duodenal e de úlcera gástrica em tratamentoo de d curto prazo. Para tratamento a longo prazo de pacientes hipersecretores, portadores ou não de síndrome de Zöllinger-Ellison; Prazol® 15 mg: manutenção da cicatrizizaç ação de esofagite de refluxo erosiva, de úlcera duodenal e de úlcera gástrica. Contraindicações: hipersensibilidade conhecida ao lansoprazol o u a qualquer outro componente da fórmula. Precauções e Advertências: ingerir as cápsulas pela manhã, inteiras, sem mastigar e em jejum. O perfil farmacocinético de lansoprazol pode ser modificado por insuficiência hepática moderada a severa, bem como em idosos. Deve-se ter cautela na prescrição a pacient ntees idosos com disfunção hepática, durante a gravidez e no período de amamentação. Cautela na administração de doses subsequentes maiores que 30 mg por dia para idosos os. Não foram estabelecidas a segurança e a eficácia do uso em crianças. Este medicamento contém açúcar, portanto deve ser usado com cautela em portadores de Diabetes. Interações Medicamentosas: TEOFILINA, sucralfato, cetoconazol, ésteres da ampicilina, sais de ferro, digoxina. Reações Adversas: dor abdominal, cefaleia, síndromme gripal, ferimentos acidentais, dor no peito, infecção, diarréia, anomalias gastrointestinais (pólipos), vômitos, alterações dentárias, náusea, gastroenterites, alterações retais,, ar artrtalgia. Posologia: úlcera duodenal: 30 mg ao dia, por duas a quatro semanas; úlcera gástrica e esofagite de refluxo, incluindo úlcera de Barrett: 30 mg ao dia, por quuar artoto a oito semanas; síndrome de ZöllingerEllison: dose inicial de 60 mg ao dia, por três a seis dias. Tratamento de manutenção ç da cicatrização ç de esofagite g de refluxo,, de úlúlccera duodenal e de úlcera gástrica: g 15 mgg uma vez ao dia. USO ADULTO. Registro no MS: 1.0181.0214. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. SE PERSISTIREM OS SINTOOMA MASS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Material destinado aos profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. © Medley 2011 ® Marca Registrada - ANÚNCIO PRAZOL® – 50512722 – Julho/2011 Efe eito prolongado 5 Uma empresa do Grupo sanofi-aventis A0012-11 Anuncio PRAZOl 2011-E GED Jul.indd 1 Revista GED03 Julho2011-E.indd 11 7/21/11 2:57:30 PM 21.09.11 14:41:42 Informations to Authors Revision Articles Will be accepted only when the editors have invited the author to write such articles, when they are part of the research line of the author as evidenced by the presence of original articles in the bibliography and in the quotations in the text. Case Report Should be objective and precise, with the following items: 1) Summary (and keywords); 2) Introduction; 3) Objective Report; 4) Discussion; 5) Conclusions; 6) Bibliography. Letters to the Editor Letters sent to the editor(s) will be considered for publication if they carry an intellectual discussion regarding a recently published article. They should have an informative title and not more than 500 words. If accepted, a copy will be sent to the author of the paper that raised the discussion, with an invitation to submit a reply to be published together with the letter. Conflict of interests As determined by the Sanitary Surveillance Agency (RDC 102/2000) and by the National Health Council (196/96) author(s) should inform explicitly in the adequate form (Disclosure of potential conflict of interests) about any potential conflict of interests related to the paper submitted. This requirement is intended to inform about professional and/or financial relations (with sponsorships and corporate interests) with financial agents related to medical drugs or equipment involved in the paper, which may theoretically influence the interpretation of the paper. The existence or non-existence of a declared conflict of interests shall be included at the end of all articles published. Bioethics of experiments involving human beings Experiments involving human beings shall follow the specific resolution of the National Health Council available in the Internet address (http://conselho.saúde.gov.br//docs/Resoluções/Reso/ 96de96.doc), including the signature of an informed consent and the protection to volunteer privacy. Bioethics of experiments involving animals Experiments involving animals shall follow specific resolutions (Law 6,638, of May 8, 1979, and Decree 24,645, of July 10, 1934). Clinical Assays Article containing results of clinical assays should disclose all information required for their proper evaluation, as previously established. Authors shall refer to the “CONSORT” (www. consort. statement.org). Review by peers All articles submitted shall be evaluated by two analysts, who shall issue a fundamented opinion to be used by the editors to decide whether or not the paper will be accepted. Evaluation criteria include originality, contribution to the body of knowledge in the area, methodological adequacy, clarity, and contemporaneity. Articles accepted for publication may have editorial revisions to improve clarity and understanding without changing its contents. Copyrights All statements contained in the articles will be under the full Revista GED03 Julho2011-E.indd 12 responsibility of the authors. After and article is accepted, GED becomes the owner of copyrights of the material. Thus, all authors of the articles submitted to GED should also send a Deed of Copyright Assignment. The author incharge of receiving letters from the readers will receive 20 printed copies of the article and the corresponding pdf file. How to send a paper The author(s) should send: • A letter of submission signed by all authors or by the first author to appear in the list on behalf of all authors, containing: 1) information regarding a prior or double submission of any part of the paper being submitted; 2) a declaration of relations, financial or otherwise, that could lead to a conflict of interests; 3) a declaration that the article has been read and approved by all coauthors and that the criteria to claim authorship (see Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals) have been met by all authors and that each author represents that the information in the manuscript is true; 4) name, address, telephone number, and e-mail of the author who will receive letters; this author will be responsible to communicate revisions and print proofs to the other authors. • Deed of Disclosure of a Potential Conflict of Interests. • Deed of Copyright Assignment. • Three copies of the paper typed in double space, printed in letter-sized paper only on the front (without printing on the back), margins of 2.5 cm and 1.5 space, with pages numbered in the upper right corner; figure legends, figures, and tables should be placed at the end, attached to each copy; indicate in the text the place to insert figures and tables. • Three sets of figures in shiny photographic copies. • A CD containing the text file only, with the paper text, and the files containing photographs or figures. How to prepare the CD • Formatted CD compatible with IBM/PC; • Use Microsoft Word for Windows text software; • The text file to contain only the text, from the title page to the references, and the tables; • Figures are not to be included in the text file; • Place in the CD the lest version of the paper, identical to the printed version submitted; • Label the CD informing the software and the version used, and the filed name. Submission of a paper by e-mail allows for greater efficiency of the revision procedures. For that purpose, the text and the figures files shall be sent to the GED e-mail ([email protected]). Messages to the editors with identification of the authors should be sent together with conventional and electronic addresses, and together with information about the format used. The paper shall be sent as an attachment, as a Word for Windows file. Figures shall be in the jpg or tif formats. 21.09.11 14:41:44 Revista GED03 Julho2011-E.indd 13 21.09.11 14:41:48 Revista GED03 Julho2011-E.indd 14 21.09.11 14:41:59 Revista GED03 Julho2011-E.indd 15 21.09.11 14:42:05 16 Revista GED03 Julho2011-E.indd 16 21.09.11 14:42:08 Artigo Original Perfil epidemiológico, achados endoscópicos e controle de qualidade das colonoscopias realizadas em uma clínica de gastroenterologia do município de Criciúma entre março e setembro de 2009 Epidemiological profile, endoscopic findings and quality control of colonoscopies performed in a gastroenterology clinic in the city of Criciuma in the period between march and september 2009 J oana Z ulian F iorentin1, A na L aura P hilippi 1, T amise da S ilva B aptista 1, J osué F erreira C arlos de B ritto C ardoso3, H umberto M arten T eixeira4 de S ilva J únior 2, M anoel G astroenterologia – C linigastro , C riciúma, S anta C atarina , B rasil Resumo Objetivo: Descrever os achados endoscópicos e sua correlação epidemiológica, o índice de acesso ao ceco e a taxa de detecção de adenomas como descritores da finalidade dos exames praticados em uma clínica privada de Criciúma – SC. Métodos: Foram analisados os laudos das colonoscopias realizadas na rotina de uma clínica de gastroenterologia, entre março e setembro de 2009, levando em consideração a faixa etária, o sexo, a raça, os achados endoscópicos, as indicações para a realização da colonoscopia, a qualidade do preparo intestinal e o índice de acesso ao ceco. Elaborou-se um estudo retrospectivo, do tipo descritivo, transversal e documental de abordagem quantitativa e qualitativa. Resultados: Dos 303 exames incluídos no estudo, 198 pacientes eram do sexo feminino (65,3%) e a média de idade foi de 53,7 anos (12 a 86 anos). As indicações para a realização do exame foram: alteração do ritmo intestinal 92 (30,4%), sangramento intestinal 78 (25,7%) e dor abdominal 56 (18,5%). O índice de acesso ao ceco foi de 96,6%, detectou-se adenoma em 43,9% e neoplasia avançada em 3,4%. Conclusão: Houve aumento da frequência de neoplasias (câncer avançado e pólipos) com o aumento da idade, com maior prevalência no sexo masculino. O índice de acesso ao ceco e a taxa de detecção de adenomas encontram-se de acordo com a literatura pesquisada. Unitermos: Neoplasias Colorretais, Colonoscopia, Lesões Pré-cancerosas, Pólipos do Colo, Controle de Qualidade. 81 30(3):81-86 C línica da Summary Objective: To describe the endoscopic and their epidemiological correlation, the index of access to the cecum and the detection rate of adenomas as descriptors of the purpose of examinations performed in a private clinic of Criciuma - SC. Methods: We analyzed reports of colonoscopies performed in the routine of a gastroenterology clinic between March and June 2009, taking into account age, sex, race, endoscopic findings, the indications for colonoscopy, the preparation intestinal content and access to the cecum. Was conducted a retrospective, descriptive, transversal and documentation of quantitative and qualitative approach. Results: Of 303 surveys included in the study 198 patients were female (65,3%) and the mean age was 53.7 years (12-86 years). The indications for the exam were: change of pace intestinal 92 (30,4%), intestinal ble- 1. Acadêmica do 6º ano do Curso de Graduação em Medicina da Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, Santa Catarina, Brasil. 2. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), Membro Titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) e Professor da Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, Santa Catarina, Brasil. 3. Membro Titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). 4. Especialista pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP). Endereço para correspondência: Clínica de Gastroenterologia – Clinigastro - Rua Antônio de Lucca, 50 - Criciúma - SC - CEP 88811-503 – e-mail: [email protected]. Recebido em: 08/04/2011. Aprovação em: 12/05/2011. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):81-86 Revista GED03 Julho2011-E.indd 81 21.09.11 14:42:08 Perfil epidemiológico, achados endoscópicos e controle de qualidade das colonoscopias realizadas em uma clínica de gastroenterologia do município de Criciúma entre março e setembro de 2009 eding 78 (25,7%) and abdominal pain 56 (18.5%). The index of access to the cecum was 96,6%, was detected in 43,9% adenoma and advanced neoplasia in 3,4%. Conclusion: Increased frequency of neoplasms (cancer and advanced polyps) with increasing age, with higher prevalence in males. The index of access to the cecum and the detection rate of adenomas are in agreement with the literature. Keywords: Colorectal Neoplasms, Colonoscopy, Precancerous Conditions, Colonic Polyps, Quality Control. Introdução 30(3):81-86 82 A colonoscopia é atualmente o exame de eleição para rastreamento, diagnóstico e tratamento da maior parte das doenças colorretais. É um exame cada vez mais utilizado principalmente por sua importância no diagnóstico e prevenção de neoplasias. O câncer de cólon e reto (CCR) corresponde à terceira causa mais comum de câncer no mundo, em ambos os sexos, e a segunda causa em países desenvolvidos. No Brasil, o CCR é o quarto câncer mais incidente, com discreto predomínio no sexo feminino. O risco estimado de CCR no Brasil em 2010 é de 14 novos casos a cada 100 mil homens e de 15 a cada 100 mil mulheres1. Deve-se estar atento aos fatores de risco relacionados ao desenvolvimento desta neoplasia, dentre os principais: história familiar de CCR, história pessoal de CCR, pólipos adenomatosos, doença inflamatória intestinal (DII), câncer de ovário, endométrio ou mama, idade maior que 50 anos, dieta com base em gorduras animais, baixa ingesta de frutas, vegetais e cereais, sedentarismo, consumo excessivo de álcool e tabagismo. O uso regular de anti-inflamatórios não-esteroidais e de terapia de reposição hormonal está relacionado à redução do risco de novos adenomas ou câncer2, 3. O rastreamento deve ser realizado de forma individualizada, de acordo com a estimativa de risco para a neoplasia que o indivíduo apresenta. Em pacientes assintomáticos (risco médio), sugere-se que inicie aos 50 anos com a realização de colonoscopia a cada dez anos e, na impossibilidade de sua realização, recomenda-se testes alternativos para prevenção, como retosigmoidoscopia flexível a cada cinco a dez anos e pesquisa anual de sangue oculto nas fezes4,5. Já pacientes com manifestações clínicas ou laboratoriais de perda crônica de sangue pelo trato gastrointestinal (TGI) e sinais e sintomas inespecíficos como alteração do hábito intestinal, dor abdominal, náuseas, vômitos, tenesmo, constipação, diarreia, astenia ou massa abdominal, independentemente da idade, devem ser prontamente submetidos à propedêutica endoscópica. Por ser um exame operador dependente e com grau de dificuldade de realização superior a outros procedimentos, é de suma importância que o serviço prestador tenha um controle de qualidade para avaliar sua eficácia na detecção e prevenção do CCR, suas indicações, complicações, efetividade e deficiências. São indicadores citados na literatura: experiência profissional do endoscopista, tempo de retirada do endoscópio, intubação do ceco, detecção de adenomas e ocorrência de complicações6. Pretendemos com este trabalho conhecer a qualidade dos exames colonoscópicos, o perfil epidemiológico e os achados endoscópicos dos pacientes submetidos à colonoscopia em uma clínica de gastroenterologia do município de Criciúma (SC) no período compreendido entre março e setembro de 2009. Métodos Trata-se de um estudo descritivo, transversal, retrospectivo e documental. Foram analisados os dados contidos nos laudos das colonoscopias realizadas na Clínica de Gastroenterologia Clinigastro – Ltda., por meio dos aparelhos colonoscópios Fujinon série 4400, com magnificação de imagem. O procedimento foi realizado por quatro médicos, três gastroenterologistas e um coloproctologista. Todos os pacientes foram submetidos à sedação, sendo que as drogas utilizadas foram midazolan, fentanil, propofol e/ou dolantina. Dentre os medicamentos utilizados para a realização do preparo intestinal pelos pacientes estão o polietilenoglicol e o fosfato de sódio, sendo prescrito conforme a necessidade de cada caso, sem estipular-se um protocolo específico. Levou-se em consideração a faixa etária, o sexo, a raça, os achados endoscópicos, as indicações para a realização da colonoscopia, a qualidade do preparo intestinal, o índice de acesso ao ceco e as complicações. Os dados foram digitados e analisados no programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 17.0. Para analisar as variáveis foram utilizados os testes binomiais de probabilidade, utilizando como critério 95% de confiança. Para investigar a existência de correlação entre variáveis nãoparamétricas foi utilizada a correlação de Spearman (rs). Este trabalho está de acordo com as normas para Pesquisa em Seres Humanos e foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC no dia 22 de março de 2010, sob o nº 44/2010. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):81-86 Revista GED03 Julho2011-E.indd 82 21.09.11 14:42:09 J. Z. Fiorentin, A. L. Philippi, T. da S. Baptista, J. F. da Silva Júnior, M. C. de B. Cardoso, H. M. Teixeira Foram realizadas 354 colonoscopias na Clínica de Gastroenterologia – Clinigastro, entre os dias dois de março e dois de setembro de 2009. Do total, foram analisados 303 prontuários. Destes, 198 pacientes eram do sexo feminino e 105 do sexo masculino, correspondendo a 65,3% e a 34,7%, respectivamente. A idade dos pacientes estudados variou entre 12 e 86 anos, com média de idade de 53,7 anos. As faixas etárias foram classificadas em nove categorias conforme a metodologia de tabela de frequência (tabela 1), demonstrando predomínio da realização de endoscopia digestiva baixa (EDB) na sexta década de vida, a qual englobou 76 pacientes (25,2%). Tabela 1 – Tabela da Frequência das Idades dos Pacientes Submetidos à Colonoscopia Faixas Etárias Categoria Ponto Médio Frequência n (%) 1 12 20,2 16,1 5(1,7) 2 20,2 28,4 24,3 14(4,6) 3 28,4 36,7 32,6 9(3) 4 36,7 44,9 40,8 43(14,2) 5 44,9 53,1 49,0 73(24,2) 6 53,1 61,3 57,2 76(25,2) 7 61,3 69,6 65,4 43(14,2) 8 69,6 77,8 73,7 28(9,3) 9 77,8 86,0 81,9 11(3,6) Total - - - 302 (100) Em relação à raça, 100% dos prontuários constavam como raça branca. O preparo intestinal foi classificado como bom, regular ou ruim, sendo que 58 laudos do total analisado não informavam a qualidade do preparo. Entre os laudos que o informavam, pode-se observar que em 80% das vezes o preparo foi bom, em 13,5%, preparo regular e em 6,5%, preparo ruim, equivalendo, respectivamente, a 196, 33 e 16 pacientes. O ceco foi atingido pelo aparelho colonoscópico em 293 casos, correspondendo a 96,6%. Do restante, 1,3% atingiu o cólon transverso e 2% atingiu apenas descendente, sigmoide ou reto. As principais indicações para a realização da colonoscopia foram: alteração do ritmo intestinal – 92 pacientes (30,4%); sangramento intestinal – 78 pacientes (25,7%); e a dor abdominal – 56 pacientes (18,5%). Entre as indicações menos frequentes, constavam história familiar de CCR (8,6%), história pessoal de CCR (4%), pólipo (7%) ou DII (4%) e emagrecimento (3,3%), sendo que 4,3% do total das colonoscopias foram realizadas para rastreamento ou a pedido do paciente, 9,8% tiveram outras indicações e o motivo não foi informado no prontuário em 6,3%. Dentre as 303 colonoscopias realizadas, 117 laudos estavam normais (38,6%) e 186 laudos (61,4%) possuíam alguma alteração. Considerando que um mesmo paciente pode ter mais do que um achado endoscópico, estes totalizaram 205, sendo os principais, em ordem de frequência, divertículos (46,8%), pólipos (43,9%), DII (5,9%) e neoplasia (3,4%). Ao correlacionar os achados com a faixa etária, formulou-se a tabela 2. 83 30(3):81-86 Resultados Tabela 2 - Correlação de Spearman (rs) entre Classe de Idade e Percentual de Achados Endoscópicos na Faixa Etária Faixas Etárias Categoria Neoplasia rs = 0,67 n (%) Pólipo rs = 0,88 n (%) Divertículo rs = 0,98 n (%) DII rs = - 0,35 n (%) 1 12 20,2 0(0) 0(0) 0(0) 0(0) 2 20,2 28,4 0(0) 0(0) 0(0) 4(2) 3 28,4 36,7 0(0) 0(0) 0(0) 2(1) 4 36,7 44,9 1(0,5) 12(5,9) 7(3,4) 1(0,5) 5 44,9 53,1 1(0,5) 21(10,2) 16(7,8) 1(0,5) 6 53,1 61,3 2(1) 30(14,6) 28(13,7) 2(1) 7 61,3 69,6 2(1) 13(6,3) 19(9,3) 2(1) 8 69,6 77,8 0(0) 10(4,9) 19(9,3) 0(0) 9 77,8 86 1(0,5) 4(2) 7(3,4) 0(0) Total - - 7(3,5) 90(43,9) 96(46,8) 12(5,9) GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):81-86 Revista GED03 Julho2011-E.indd 83 21.09.11 14:42:09 Perfil epidemiológico, achados endoscópicos e controle de qualidade das colonoscopias realizadas em uma clínica de gastroenterologia do município de Criciúma entre março e setembro de 2009 Analisou-se o laudo anatomopatológico de 78 pacientes, sendo evidenciado adenoma em 60. Com isso obteve-se uma taxa de detecção de adenomas de 19,8%. Há uma correlação (rs) positiva de 67,5% entre o achado percentual de neoplasia por classe de idade, cruzada com a classe de idade, enquanto a correlação de pólipos é de 83% e a de divertículos é de 98,3%. O achado percentual de DII por classe de idade, cruzada com a classe de idade, possui uma correlação (rs) negativa de 35%. Na média, para cada 100 pacientes sintomáticos, 4,8 homens (DP=2,1) e 0,5 mulheres (DP=0,7) apresentam neoplasia. Seguindo esta mesma análise, 31 homens (DP=4,6) e 29 mulheres (DP=4,53) apresentam pólipos, demonstrando haver diferença significativa entre os sexos nas duas situações (p <0,01). Ao correlacionar a frequência de pólipos e de neoplasias com os principais sintomas apresentados, formulou-se a tabela 3. Tabela 3 – Frequência Relativa de Pólipos e Neoplasias em Função dos Principais Sintomas Apresentados 30(3):81-86 84 Indicações para a realização de Colonoscopias Pólipos (n=90) n (%) Neoplasia (n=7) n (%) Sangramento 22(24) 4(57,1) Dor abdominal 14(15,5) 2(28,6) Alteração do Ritmo Intestinal 21(23,3) 3(42,9) Pólipos prévios 11(12,2) 1(14,2) História familiar de CCR ou de pólipo 10(11,1) 0(0) Emagrecimento 3(3,3) 2(28,6) Ocorreram complicações durante a realização do procedimento em cinco pacientes, equivalendo a 1,65% do total. Quatro destes apresentaram sangramento após a polipectomia e um teve sangramento orificial, sendo todos os casos facilmente controlados, não havendo nenhum caso de óbito e de perfuração. Discussão Foram analisados 303 laudos das 354 colonoscopias que foram realizadas nesse período, sendo descartados 51 exames por registro insuficiente para a análise. Nosso trabalho demonstrou uma realização quase duas vezes maior de colonoscopias pelo sexo feminino do que pelo sexo masculino, corroborando com os achados da literatura6. Esta diferença pode estar relacionada a uma maior busca por atendimento médico e uma maior valorização dos sintomas pelas mulheres. Um estudo relata que dentre as pessoas que, deveriam ser submetidas ao rastreamento de CCR, a procura foi significativamente menor pelos homens do que pelas mulheres7. Kaminski et al. 6 realizaram um estudo retrospectivo entre os anos de 2000 e 2004, publicado em maio de 2010, com uma amostra de 45.026 pacientes, demonstrando que a idade variou entre 40 e 66 anos (média de idade de 55,1 ± 5,8 anos), com predomínio da realização de EDB na 6ª década de vida (50 a 59 anos – 60%, estando 32% entre 50 e 54 anos e 28% entre 55 e 59 anos), seguido do intervalo entre 60 e 66 anos (25,6%), estando bem distante o intervalo entre 40 e 49 anos (14,4%). Cabe ressaltar que um dos critérios de exclusão deste estudo foi o diagnóstico de CCR durante o screening. Um estudo realizado em 2007 por Cruz et al. 8, somente com pacientes submetidos à endoscopia e com evidência de CCR (n=490), demonstrou média de idade de 60,6 anos, com predomínio na 7ª década (31,4%), seguido da 8ª e 6ª década, com 21,6% e 21,4%, respectivamente. Em nossa análise, 80% dos pacientes realizaram um preparo intestinal adequado, o que pode ser evidenciado pelo endoscopista através da ausência de restos alimentares na luz intestinal, permitindo a visualização de toda a sua circunferência. Dos 649 pacientes avaliados por Ness et al. 9, obteve-se um preparo intestinal adequado em 78,3%, e dos 50.148 pacientes avaliados por Regula et al. 7, em 76,9% o preparo foi adequado e em 15% suficiente. Pelo fato de 32,6% dos pacientes com preparo intestinal regular ou ruim possuírem diagnóstico colonoscópico normal, deve-se, neste caso, suspeitar da possibilidade de alguma lesão de menor dimensão ter passado despercebida e a visualização da mucosa intestinal estar prejudicada, podendo levar a um resultado falso negativo. O índice de acesso ao ceco alcançado nesta pesquisa foi de 96,6%. Ao analisar isoladamente os procedimentos que não atingiram o ceco, demonstrou-se que 40% possuíam lesão neoplásica obstrutiva, a qual não permitia o progresso do aparelho, ocasionando uma redução no índice apresentado, não por falha na execução do exame, mas sim por uma falha de progressão. Se considerarmos que o objetivo da EDB foi alcançado em ambas às situações citadas, geramos um índice de 98%. Na bibliografia pesquisada obteve-se acesso ao ceco em 91,1%7. Com base nos dados apresentados nesta pesquisa, pode-se considerar que o índice de acesso ao ceco foi independente do preparo intestinal realizado pelo paciente10. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):81-86 Revista GED03 Julho2011-E.indd 84 21.09.11 14:42:09 J. Z. Fiorentin, A. L. Philippi, T. da S. Baptista, J. F. da Silva Júnior, M. C. de B. Cardoso, H. M. Teixeira Outro estudo demonstrou taxa de detecção de adenoma de 20% em ambos os sexos, mas afirma que estes dados não podem ser aplicados em programas de rastreamento em larga escala, pois os valores para detecção de adenoma variam conforme características geográficas e epidemiológicas em relação à detecção de CCR e suas lesões precursoras. Além disso, esta pesquisa evidencia que o índice de acesso ao ceco não está associado ao risco de desenvolver câncer, não podendo, portanto, ser utilizado como indicador de qualidade global, estando limitado somente ao cólon direito, o que dificulta a sua avaliação por um menor desenvolvimento de neoplasias no cólon direito6. As indicações para a realização da EDB demonstradas em nossa análise foram: alteração do ritmo intestinal (30,4%), sangramento intestinal (25,7%), dor abdominal (18,5%), história familiar de CCR (8,6%), história pessoal de CCR (4%) ou pólipo (7%), entre outras indicações (28%). O trabalho realizado por Ness et al. 9 em 2001 relata que as principais indicações consideradas para a realização da colonoscopia foram sangramento intestinal em 222 pacientes (34,2%), pólipo prévio em 144 pacientes (22,2%) e alteração do hábito intestinal em 88 pacientes (13,6%). Dor abdominal não constava entre as principais indicações e as indicações menos frequentes se assemelham as do presente estudo. Estas não foram comparadas aos achados endoscópicos. Em nossa pesquisa ocorreu sangramento em cinco casos, representando uma taxa de complicações durante a realização do procedimento de 1,65%, sem evidência de complicações graves. Segundo Lieberman et al. 3, o risco de desenvolver complicações sérias em colonoscopias realizadas por endoscopista treinado é de três a cinco eventos a cada 1000 exames. Pacientes idosos com comorbidades associadas possuem maiores riscos associados à realização do procedimento e menores benefícios visto sua curta expectativa de vida. As complicações mais frequentes são sangramento após polipectomia e perfuração9. Outros dois estudos evidenciam taxa de complicação durante a colonoscopia de 0,1% e entre 1 e 2%, respectivamente7,13. De todas as colonoscopias analisadas, 61,4% tinha alguma alteração citada no laudo e 38,6%, como normal. Dentre os principais achados endoscópicos encontramos divertículos (46,8%), pólipos (43,9%), DII (5,9%) e neoplasia (3,4%). Dos pacientes com neoplasia, 1% encontra-se entre 36 e 53 anos, 2% entre 53 e 69 anos e 0,5% está entre 78 e 86 anos. Um estudo demonstra que 0,4% dos pacientes com câncer e 3,4% dos pacientes com neoplasia avançada encontramse entre a faixa etária entre 40 e 49 anos, enquanto 0,9% e 5,9%, respectivamente, encontram-se entre 50 e 66 anos7. Uma correlação (rs) de 67,5% entre o achado percentual de neoplasia por classe de idade, cruzando com a classe de idade, pode ser considerada como um bom indicativo de que há aumento do surgimento de neoplasias com o aumento da idade nos pacientes analisados. O principal responsável por este valor não ser ainda maior foi a ausência de pacientes com neoplasia na faixa etária entre 69,5 e 77,8 anos. A literatura evidencia que há um risco consistentemente maior de desenvolver CCR em indivíduos com idade ≥ 60 anos6. Do total de neoplasias evidenciadas em nossa análise, 71,4% ocorreu no sexo masculino, com ocorrência média de 2,8 a 6,8 em cada 100 homens, e de 0 a 1 em cada 100 mulheres, havendo clara relação do sexo masculino com uma maior incidência de neoplasia. Além disso, deve-se frisar que estes dados são frequentemente subestimados, pois os homens buscam atendimento médico com menor frequência do que as mulheres (105 versus 197). Uma pesquisa demonstra haver uma taxa significantemente maior de neoplasias avançadas no sexo masculino do que no sexo feminino7. 85 30(3):81-86 Estudos realizados nos Estados Unidos propõem dois fatores como indicadores da qualidade dos exames colonoscópicos: taxa de detecção de adenoma de 15% em mulheres e de 25% em homens ≥ 50 anos, e índice de acesso ao ceco de 95% em ambos os sexos11,12. Conforme dados dos registros de base populacional do Brasil14 de 2003, os maiores valores das taxas médias anuais de incidência de CCR ajustadas por idade em cada 100 mil homens foram encontrados no Distrito Federal (25,5%) e em Porto Alegre (22,3%). Na população feminina, as maiores taxas foram observadas no Distrito Federal (22,3%) e em Goiânia (18,4%). Ao utilizar o percentual de pólipos, esta correlação (rs) é de 88,3%, sendo um ótimo preditor de que com o aumento da idade há aumento do surgimento de pólipos nestes pacientes, indo ao encontro dos dados demonstrados na literatura15. Entretanto isto determina que 11,7% dos pacientes não apresentam aumento da incidência de pólipos com a idade. Além disso, nossa pesquisa demonstra ausência de pólipos abaixo dos 36,6 anos, contrastando com o aumento constante após essa faixa etária. Outra bibliografia pesquisada, que só avaliou pacientes entre 40 e 66 anos, menciona a presença de pólipos em 42,3% do total de colonoscopias analisadas, estando 18,2% distribuídos entre 40 e 49 anos e 24,1% entre 50 e 66 anos7, enquanto que, em nossa análise, 16,1% se encontra entre 36 e 53 anos, 20,9% entre 53 e 69 anos, e 6,9% entre 69 e 86 anos. Em última análise, evidenciamos que apesar da média e desvio-padrão dos pólipos ser semelhante em ambos os sexos, o número aumentado de pacientes avaliados permitiu GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):81-86 Revista GED03 Julho2011-E.indd 85 21.09.11 14:42:09 Perfil epidemiológico, achados endoscópicos e controle de qualidade das colonoscopias realizadas em uma clínica de gastroenterologia do município de Criciúma entre março e setembro de 2009 que fosse demonstrada uma diferença significativa entre os sexos, comprovada pelo p <0,01. Em relação ao percentual de divertículos, a correlação (rs) apresentada foi de 98,3%, sendo um excelente indicativo de que, com o aumento da idade, há aumento do surgimento de divertículos, indo ao encontro dos dados demonstrados na literatura16. Além disso, nossa pesquisa demonstra ausência de divertículos em pacientes abaixo dos 36,6 anos. Já o percentual de DII por classe de idade, quando cruzada com a classe de idade, apresenta uma correlação (rs) negativa de 35%, significando que esta patologia tende a ocorrer em menor idade. Outra pesquisa demonstra prevalência de DII de 27% em uma amostra de 9.086 pacientes, demonstrando haver aumento da prevalência com a idade17. Entretanto deve-se considerar que, por ser um estudo transversal, não sabemos se o achado de DII refere-se necessariamente ao momento do seu diagnóstico. 30(3):81-86 86 Conclusão Dos pacientes submetidos à colonoscopia, aproximadamente 65% são do sexo feminino e 25% pertencem à 6ª década de vida. O índice de acesso ao ceco e a qualidade do preparo intestinal superaram os demonstrados na literatura pesquisada. Evidenciou-se neoplasia em 3,5% dos pacientes, com maior prevalência no sexo masculino, e pólipos em 44% dos pacientes, com taxa de detecção de adenomas de aproximadamente 20%. Os dados elucidados acima demonstram, portanto, haver uma boa qualidade do serviço prestador. Apesar de grande relevância, este método é de difícil realização, possui alto custo e baixa disponibilidade, o que impossibilita a sua implantação como rastreamento populacional de CCR. Portanto é essencial avaliar a efetividade e a qualidade da realização deste exame e elucidar os casos em que não se obteve nenhum achado, a fim de estabelecer suas reais indicações. Caracterizando à comunidade sobre o quadro clínico, os principais fatores de risco e a importância do seu rastreamento, é possível conscientizá-la sobre a necessidade da prevenção e do estabelecimento de um diagnóstico precoce, visto que o objetivo dessa estratégia não é diagnosticar mais pólipos ou mais lesões planas, mas sim diminuir a incidência e a mortalidade por esse câncer na população alvo1. Referências 1. B rasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2010: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2009. 2. Habr-Gama A. Câncer colorretal – A importância de sua prevenção. Arq Gastroenterol. 2005;42(1):1-3. 3. Lieberman DA. Screening for Colorectal Cancer. N Engl J Med. 2009;361(12):1179-87. 4. Prado FC, Valle JR, Ramos JA, editores. Atualização terapêutica: manual prático de diagnóstico e tratamento. 21ª Ed. São Paulo: Artmed, 2003. 5. Rex DK, Johnson DA, Anderson JC, Schoenfeld OS, Burke CA, Inadomi JM. American college of gastroenterology guidelines for colorectal cancer screening 2008. Am J Gastroenterol. 2008. 6. Kaminsky MF, Regula J, Kraszewska E, Polkowska U, Didkowska J, Zwierko M, Rupinski M, Nowacki MP, Butruk E. Quality indicators for colonoscopy and the risk of interval cancer. N Engl J Med. 2010;362(9):1795-802. 7. Regula J, Rupinski M, Kraszewska E, Polkowska U, Pachlewski J, Orlowska J, Nowacki MP, Butruk E. Colonoscopy in colorectalcancer screening for detection of advanced neoplasia. N Engl J Med. 2006;355(18):1863-71. 8. G MG, Santana JL, Santana SKAA, Constantino JRM, Chamone BC, Fereira RMRS, Neves PM, Faria MNZ. Câncer colônico – epidemiologia, diagnóstico, estadiamento e gradação tumoral de 490 pacientes. Rev bras ColoProct. 2007;27(2):139-53. 9. R M, Manam R, Hoen H, Chalasani N. Predictors of Inadequate Bowel Preparation for Colonoscopy. Am J Gastroenterol. 2001;96(6):1797-1802. 10. Radaelli F, Meucci G, Sgroi G, Minoli G. 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Hossne RS, Maranhão MF, Carvalho FA, Mendes FG. Estudo Retrospectivo do Resultado Anatomopatológico de 100 Polipectomias Colonoscópicas Realizadas na FMB-UNESP. Rev bras ColoProct. 2007;27(3):251-55. 16. Loffeld RJ, Van der Putten AB. Diverticular disease of the colon and concomitant abnormalities in patients undergoing endoscopic evaluation of the large bowel. Colorectal Dis. 2002;4(3):189-192. 17. Loftus EV Jr. Clinical epidemiology of inflamatory bowel disease: incidence, prevalence and environmental influences. Gastroenterology. 2004;126(6):1504-17. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):81-86 Revista GED03 Julho2011-E.indd 86 21.09.11 14:42:10 Artigo Original Anastomose portossistêmica intra-hepática transjugular (TIPS): análise casuística de 28 casos em um hospital de referência Transjugular intrahepatic portosystemic shunts transjugular liver (TIPS): analysis of 28 patients in a hospital cases of reference Fiorella Cristina Sales Cobas1, Eduardo Emerim2, Jurandi Antonio Bettio3, Joyce Hart Oliveira4, Silvio Morelli5 Introdução: TIPS (anastomose intra-hepática portossistêmica transjugular) surgiu como uma alternativa para as complicações da hipertensão porta não-responsiva ao tratamento convencional, e está cada vez mais sendo utilizada. Objetivos: Estudar os resultados da colocação do TIPS em 28 pacientes em um hospital de Porto Alegre e descrevê-los segundo indicações, gênero, idade, classificação de Child-Pugh, etiologia da hipertensão porta e gradiente de pressão porta. Método: Estudo descritivo do tipo série de casos realizado na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, envolvendo pacientes que foram submetidos ao implante de TIPS, no período de 1999 a 2009, através da revisão de seus prontuários. Resultados: A indicação mais comum para o implante de TIPS foi ascite refratária (n=19/67,8%), e a maioria dos pacientes tinha a classe C de Child (n=16/57,1%) de origem etiológica por hepatite C (n=19/67,9%). O sucesso da técnica foi alcançado em 26 (92,8%) pacientes, porém, houve complicações imediatas ao procedimento em onze pacientes e foram as seguintes: estenose do stent por trombose (n=4) ou por oclusão (n=5), ressangramento das varizes esofágicas logo após o procedimento (n=1) e encefalopatia portossistêmica (n=1). Houve impossibilidade de implante devido à fibrose hepática em dois pacientes, não sendo considerada como complicação já que o procedimento não foi finalizado. Conclusão: Este estudo confirma a eficácia do TIPS no manejo da hipertensão porta, mostrando uma taxa de sucesso da técnica de 92,8%. A indicação mais comum neste estudo foi ascite refratária e a etiologia foi cirrose por hepatite C. A complicação que mais surgiu foi oclusão do stent, sendo, na maioria dos pacientes, resolvida após um ou mais procedimentos de redilatação. 87 30(3):87-95 Resumo Unitermos: TIPS, Hipertensão Porta, Cirrose Hepática. Summary Introduction: TIPS (transjugular intrahepatic portosystemic shunt) has emerged as an alternative to treat the complications of portal hypertension non responsive to the conventional treatment and it has been used more and more often. Objectives: To study the results of TIPS creation in 28 patients in a hospital in Porto Alegre and to describe them according to indication, gender, age, Child-Pugh classification, portal hypertension etiology and portal pressure gradient. Method: descriptive study of case series carried out in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, involving patients who had undergone TIPS creation between 1999 and 2009. Results: The most 1. Graduação em Medicina pela Universidade Luterana do Brasil, ULBRA, Rio Grande do Sul, Brasil, Pronto-Atendimento Unimed Taquara e Unidade Municipal de Saúde de Morro Reuter - RS. 2. Professor Auxiliar da Universidade Luterana do Brasil, Gastroenterologista do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre e do Serviço de Endoscopia Digestiva e Chefe do Serviço de Emergência do Hospital Pronto-Socorro de Canoas - RS, Brasil. 3. Médico responsável pelo Serviço de Radiologia do Hospital São Lucas da PUC-RS. 4. Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Rio Grande do Sul, Brasil, Pronto-Atendimento Unimed Taquara. Unidade Municipal de Saúde de Presidente Lucena - RS, Brasil. 5. Graduação em Medicina pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) Rio Grande do Sul, Brasil, Residente (R3) do Serviço de Radiologia do Hospital São Lucas da PUC-RS. Endereço para correspondência: Fiorella Cobas – Avenida Karl Iwers, 92 - Bairro Jardim Itu - CEP 91220-320 - Porto Alegre – RS. e-mail: [email protected]. Recebido em: 27/10/2010. Aprovação em: 12/04/2011. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):87-95 Revista GED03 Julho2011-E.indd 87 21.09.11 14:42:10 Anastomose portossistêmica intra-hepática transjugular (tips): análise casuística de 28 casos em um hospital de referência 30(3):87-95 88 common indication for TIPS creation was refractory ascites (n=19, 67.8%) and most patients were classified as ChildPugh class C (n=16, 57.1%) originated from hepatitis C (n=19, 67.9%). The technique was successful in 26 (92.8%) patients. However, there were immediate complications to the procedure in eleven patients. The complications were as follows: stenosis of stent by thrombosis (n=4) or by occlusion (n=5), esophageal varices bleeding rig ht after the procedure (n=1) and portosystemic encephalopathy (n=1). It was not possible to create TIPS in two patients due to hepatic fibrosis, and this was not considered a complication since the procedure was not concluded. Conclusion: This study confirms the efficiency of TIPS in the management of portal hypertension, showing a success rate of 92.8%. The most common indication in this study was refractory ascites and the ethiology was cirrhosis caused by hepatitis C. The most frequent complication was occlusion of stent, which was solved, in most cases, by using one or more procedures of repeat dilatation. do espaço de Disse, a fibrose e os nódulos de regeneração) ou reversível (alterações do tônus vascular). Keywords: TIPS, Portal Hypertension, Hepatic Cirrhosis. Esse fato explica a necessidade de descoberta de procedimentos inovadores, como o TIPS, e alternativas no caso de falha nas terapêuticas convencionais. Além de mostrarse eficaz no controle do sangramento em até 95% dos casos (Colombato, 2007), o TIPS também é uma técnica não-cirúrgica cada vez mais adotada na medida em que se realizam mais pesquisas e ensaios clínicos randomizados sobre o assunto. Introdução TIPS (anastomose portossistêmica intra-hepática transjugular) é uma técnica radiológica intervencionista que surgiu na década de 80 como uma alternativa terapêutica para reduzir a mortalidade de pacientes com hipertensão porta, os quais desenvolvem varizes esofagianas e não são responsivos ao tratamento farmacológico e endoscópico, sendo esta sua principal indicação. Também é utilizado em ascite refratária, hidrotórax hepático, síndrome hepatorrenal e na síndrome de Budd-Chiari (Quiroga et al., 1995). Colapinto et al. foram os primeiros pesquisadores a realizar experimentos com TIPS em seres humanos, utilizando próteses de Teflon®. Hoje, tem-se o stent coberto por politetrafluoroetileno, que parece ser melhor em relação às complicações trazidas pelo stent usual. A hipertensão porta é uma das principais consequências da cirrose hepática, podendo causar diversas complicações, tais como sangramento de varizes esofágicas, ascite refratária, hidrotórax hepático e síndrome hepatorrenal. A hipertensão porta ocorre devido às elevações na resistência ou no fluxo portal, sendo que a pressão (P) em um sistema vascular é diretamente proporcional à resistência (R) ou ao fluxo (Q) neste sistema. O sítio de aumento da resistência pode ser pré-hepático, hepático ou pós-hepático. O fator que leva a esse aumento pode ser irreversível (capilarização A forma mais utilizada para se avaliar a pressão portal é por meio da determinação do gradiente de pressão portohepático (GPPH), que se trata da diferença entre a pressão livre e a pressão encunhada na veia supra-hepática sendo medida através de um cateter ligado a um transdutor de pressão. O valor normal é abaixo de 8 mmHg e, em pacientes com cirrose hepática e consequente hipertensão porta, esta pressão eleva-se acima de 10 mmHg. Quando a pressão atinge valores acima de 12 mmHg, podem ocorrer sangramento de varizes de esôfago e ascite (D´Amico,1995). A rotura e o sangramento de varizes de esôfago - que ocorrem devido à hipertensão porta - ainda são importante causa de mortalidade entre os pacientes portadores de cirrose hepática, sendo responsáveis por um terço das mortes secundárias à cirrose com hipertensão porta (Carreiro et al., 2001). Existem dois critérios para se chegar ao objetivo de redução da pressão no sistema porta: diminuição do gradiente para <12 mmHg ou redução de, no mínimo, 50% do gradiente inicial (Colombato, 2007). Após o implante de TIPS, há uma acentuada redução no GPPH, principalmente por redução na pressão portal, mas também por discreto aumento na pressão da veia cava inferior (Rodriguez, 1995). Ocorre, por consequência, acentuada redução no fluxo sanguíneo colateral portal. É bem comprovado, por medidas hemodinâmicas, que o GPPH menor do que 12 mmHg relaciona-se com a ausência de sangramento de varizes esofágicas secundário à hipertensão porta (Grace, 1997). Devido ao fato de ocorrer imediata redução acentuada no GPPH, e essa redução estar associada ao controle de sangramento de varizes esofágicas, podemos entender a eficácia clínica do TIPS quando há falha no tratamento convencional. Ocorre também aumento no débito cardíaco, na pressão arterial sistêmica média e na redução na resistência vascular sistêmica. Por outro lado, ocorre redução na perfusão hepática com consequente deterioração da função do órgão em alguns pacientes (Rubin, 1995). GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):87-95 Revista GED03 Julho2011-E.indd 88 21.09.11 14:42:10 F. C. s. CoBas, e. emerim, J. a. Bettio, J. h. oliveira, s. morelli Chalasani et al. (2000) mostrou em seu estudo que o índice de mortalidade em pacientes que mantiveram seguimento após o procedimento é de 3% a 44% em 30 dias, e de 10% a 58% em um ano. É possível predizer esse desfecho através de quatro fatores: TIPS de urgência (principalmente por sangramento de varizes esofágicas), nível de ALT >100 IU/L, nível de bilirrubina > 3,0 mg/ dL e encefalopatia pré-TIPS. Técnica O implante de TIPS pode ser realizado em caráter de urgência, emergência ou eletivamente (Carreiro et al., 2001), tendo esta última maior vantagem devido à alta mortalidade associada à cirurgia de emergência. Utiliza-se sedação ou anestesia geral para a realização do procedimento, sendo a escolha dependente do prolongamento deste, devendo-se proteger as vias aéreas, visando o conforto e segurança do paciente. A ultrassonografia com Doppler deve ser feita antes e após 12-24 horas após o implante, a fim de estabelecer a perviabilidade da veia porta. A técnica é feita com a introdução de um cateter trans-hepático até um ramo da veia porta através da veia jugular direita e cateterização de uma veia hepática. Este trajeto é dilatado com CO2 e um balão inflado e stent são introduzidos (Boyer, 2003) - Figura 1. Indicações • Hemorragia digestiva secundária à hipertensão porta A recorrência precoce do sangramento de varizes de esôfago ou a falha no controle ocorre em 10-20% dos casos, apesar da escleroterapia de urgência e/ou terapia farmacológica (Tsao, 2001). O TIPS é geralmente usado no tratamento do sangramento de varizes esofágicas não-responsivas à terapêutica usual (endoscopia e fármacos). E, apesar de ser melhor do que a endoscopia no que diz respeito à prevenção de ressangramento a longo prazo, não pode ser considerada como primeira opção devido ao risco maior de encefalopatia, 89 30(3):87-95 Há, também, elevação na pré-carga cardíaca devido ao aumento na pressão do átrio direito, na pressão da artéria pulmonar, com elevação irreversível da resistência vascular pulmonar, mecanismo mediado por peptídeos vasoativos que passam para a circulação pulmonar (Rodriguez, 1995). Apesar de parecer haver piora inicial do estado hiperdinâmico, são esses os mecanismos responsáveis pelo aumento da volemia efetiva tendo, como consequências, elevação da pressão de perfusão renal, natriurese e melhora da ascite e síndrome hepatorrenal. Figura 1 - Técnica: uma veia hepática é seletivamente cateterizada e uma agulha transjugular é introduzida da veia jugular direita até a veia supra-hepática. Progride-se a agulha transjugular através do fígado até um ramo da veia porta. O trajeto criado entre a supra-hepática e a veia porta é dilatado. Finalmente uma prótese autoexpansível é liberada nesse trajeto. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):87-95 Revista GED03 Julho2011-E.indd 89 21.09.11 14:42:11 Anastomose portossistêmica intra-hepática transjugular (tips): análise casuística de 28 casos em um hospital de referência à necessidade de controle através da ultrassonografia com frequentes intervenções para manter a perviabilidade do stent e ao alto custo. Além disso, apesar de evidências demonstrarem a efetividade do TIPS no manejo das complicações da hipertensão porta, elas também mostram que o TIPS tem pouca influência no prognóstico da doença comparado a outras formas de terapia (Cabrera et al., 1996; Rossle et al., 1997; Sauer et al., 1997; Sanyal et al., 1997; Cello et al., 1997). A definição de falha no tratamento endoscópico é obtida através da persistência do sangramento após duas endoscopias terapêuticas. A hemostasia pode ser alcançada em 70-90% dos casos de sangramento ativo e agudo, mas apesar dessa excelente resposta, a mortalidade média em seis semanas chega a 38%, o que reflete o quão grave é o sangramento. O TIPS realizado em caráter de urgência e a deterioração da função hepática também são fatores que influenciam neste índice de mortalidade (Colombato, 2007). 30(3):87-95 90 Outros fatores de risco para hemorragia digestiva por ruptura de varizes de esôfago, a longo prazo, são: uso de álcool, câncer hepatocelular e tamanho das varizes. Critérios que podem causar falha no controle do sangramento agudo são: trombose de veia porta, alta pontuação na classificação de Child-Pugh e varizes que esguicham sangue durante a primeira endoscopia (Mihas, Sanyal, 2004). Jalan et al. (1997) realizaram um estudo comparando TIPS com a ligadura elástica na profilaxia secundária do sangramento de varizes esofágicas, concluindo que a frequência e a gravidade do ressangramento foi significativamente mais baixa no grupo que recebeu o implante de TIPS. Nenhuma diferença foi encontrada em relação à incidência das complicações mais comuns (encefalopatia e sepse). Neste estudo foi constatado que a gravidade da doença hepática interfere no risco de ressangramento, como, por exemplo, em pacientes com classificação Child C, os quais ressangram mais do que os Child A ou B. Uma redução de 50% no gradiente de pressão porta protege com segurança os pacientes e a redução de 25% ou mais já pode ser eficaz com um risco de ressangramento de varizes de esôfago de 7%, como mostra o estudo realizado por Rossle et al. (2001). Essa pesquisa também mostra que, se usando o limiar de 12 mmHg, previne-se o sangramento de varizes mas não é justificável tentar manter os níveis de pressão porta em torno desse valor, já que a aplicação dessa meta pode aumentar as complicações relacionadas aos tratamentos. • Ascite Refratária Ascite refratária é definida como falha ou intolerância ao tratamento de várias semanas com altas doses de diuréticos 400 mg de espironolactona mais 160 mg de furosemida por dia (Arroyo, 1996). É o acúmulo de líquido ascítico que não pode ser retirado através da paracentese sem o surgimento de complicações, tais como encefalopatia, hipo ou hipercalemia, hiponatremia, hipotensão arterial, entre outros, utilizando-se medidas como tratamento com doses elevadas de diuréticos e dieta com restrição de sódio (Carreiro, 2001). TIPS atua diminuindo a pressão sinusoidal e a retenção de sódio, fatores importantes na formação da ascite. A indicação para o implante é para aqueles pacientes com contraindicação para retirada de grandes volumes de líquido, repetidas vezes, na paracentese (Colombato, 2007). A pesquisa realizada por Ginès et al. (2002), comparando TIPS versus paracentese mais albumina, mostrou que a recorrência de ascite e o surgimento de síndrome hepatorrenal como consequência foi menor no grupo que recebeu o implante de TIPS. Apesar disso, a frequência da encefalopatia foi maior no grupo que o recebeu, além do custo ter sido mais alto. Segundo estudos em cirróticos, o prognóstico para pacientes com ascite refratária permanece ruim sem transplante hepático mesmo obtendo-se o controle da ascite com o implante de TIPS (Deschênes, 1999). • Síndrome Hepatorrenal Está associada à ascite refratária, sendo uma complicação grave, mas infrequente. TIPS aumenta a fração de excreção de sódio, melhora a função renal e reduz a atividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona, o que faz aumentar o fluxo plasmático renal (Carreiro, 2001). Entretanto, não está claro se essa mudança leva a algum benefício no que diz respeito à sobrevivência do paciente; por isso, o uso do TIPS nesse caso deve ser considerado como experimental até que estudos mais aprofundados sejam realizados (Boyer, 2003). • Hidrotórax Hepático Ocorre quando o líquido ascítico vasa para a cavidade pleural, causando dispneia aos esforços sem dor torácica. O TIPS é eficaz no tratamento em 78% das vezes e sem surgimento de complicações inerentes ao procedimento, mas, apesar disso, deve ter seu uso restrito a pacientes que requerem toracocentese de repetição. Caso contrário, em casos leves, deve ser tentando primeiramente a terapêutica usual com diuréticos e toracocentese eventual (Carreiro, 2001; Boyer, 2003). GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):87-95 Revista GED03 Julho2011-E.indd 90 21.09.11 14:42:11 F. C. S. Cobas, E. Emerim, J. A. Bettio, J. H. Oliveira, S. Morelli As contraindicações ditas relativas ao procedimento são: infecção extra ou intra-hepática não-controlada, encefalopatia hepática não controlada, neoplasia intra-hepática hipervascularizada e trombose de veia porta. As absolutas são a insuficiência cardíaca congestiva grave devido à elevação da pré-carga que ocorre após o implante de TIPS e ao risco de edema agudo de pulmão, a doença hepática policística e a insuficiência hepática grave. Todas as contraindicações são baseadas no risco de complicações que podem ocorrer durante o procedimento e nas consequências que podem surgir logo após o implante de TIPS (Carreiro, 2001). Complicações • Oclusão do stent A maior parte dos casos ocorre no primeiro ano após o implante, principalmente nos seis primeiros meses, sendo a hiperplasia da pseudo-íntima que se cria na superfície do enxerto o principal mecanismo. No estudo realizado por Tripathi et al. (2004), a insuficiência do shunt ocorreu em 85,2% dos pacientes. A intervenção através da portografia para desobstrução do stent resultou em 89,1% de sucesso. O estudo feito em pacientes, utilizando-se próteses cobertas por politetrafluoroetileno, mostrou que houve aumento da perviabilidade do stent e diminuição da necessidade de reintervenções para mantê-la, através da prevenção da hiperplasia da pseudo-íntima e trombose, sem que houvesse aumento do risco de encefalopatia (Bureau et al., 2004). A oclusão surge também por um mecanismo menos comum do que o descrito acima em 10-15% dos pacientes: trombose do TIPS. A anticoagulação não reduz o risco da oclusão, como descrito por Boyer (2003). • Encefalopatia TIPS, sendo um shunt, aumenta a circulação de amônia e outras neurotoxinas no sistema porta relacionadas à fisiopatologia da encefalopatia (Colombato, 2007). Hassoun et al. (2001), em seu estudo, constataram que deve ser feita uma avaliação da perfusão portal com ultrassonografia com Doppler antes de indicar o procedimento, pois notou que pacientes com perfusão baixa pré-TIPS estão mais protegidos contra o surgimento da encefalopatia crônica pós-TIPS. A idade também mostrou ser um fator preditivo para o desenvolvimento de encefalopatia crônica, uma vez que o cérebro em fase de envelhecimento é mais suscetível aos efeitos das neurotoxinas envolvidas nesta complicação. A encefalopatia aguda é autolimitada; já a crônica é mais grave e requer tratamento com dieta hipoproteica e vários medicamentos, como lactulose, neomicina, metronidazol e benzoato de sódio. • Outras Existem outras complicações menos comuns que podem ocorrer durante o procedimento, tais como hemoperitônio por rotura da cápsula de Glisson ou por punção dos vasos peri-hepáticos, trombose dos vasos hepáticos, hemobilia, coleperitônio, colangite, perfuração miocárdica com hemopericárdio, arritmias, edema agudo de pulmão e infarto agudo do miocárdio. Pode ainda surgir uma complicação após o procedimento: sepse bacteriana, podendo ser evitada com o uso profilático de antibiótico (Carreiro, 2001). Esta pesquisa tem como objetivo estudar os resultados da colocação do TIPS em 28 pacientes em um hospital de Porto Alegre e descrevê-los segundo indicações, gênero, idade, classificação de Child-Pugh, etiologia da hipertensão porta e gradiente de pressão porta. 91 30(3):87-95 Contraindicações Métodos Trata-se de um estudo descritivo do tipo série de casos realizado na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no Hospital São Lucas da PUCRS, setor de Hemodinâmica, envolvendo pacientes que foram submetidos ao implante de TIPS no período de 1999 a 2009 por um mesmo radiologista, através da revisão de seus prontuários. O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (PUCRS). A coleta de dados foi realizada no período de junho a julho de 2009. Os dados coletados foram idade, gênero, indicação do procedimento, etiologia da hipertensão porta, Escore de Child-Pugh, intercorrências imediatas ao procedimento e gradiente de pressão porta. A população total para este estudo era de 39 pacientes, utilizando-se como critérios de exclusão a impossibilidade de acesso aos prontuários e a falta das informações a serem coletadas. Foram excluídos 11 pacientes, restando 28 como amostra total. Somente os resultados imediatos (até a alta hospitalar ou óbito) ao procedimento foram analisados, devido à falta de seguimento dos pacientes nesse serviço, já que estes foram encaminhados de diferentes hospitais para realizar o procedimento. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):87-95 Revista GED03 Julho2011-E.indd 91 21.09.11 14:42:12 Anastomose portossistêmica intra-hepática transjugular (tips): análise casuística de 28 casos em um hospital de referência Os dados foram incluídos em banco de dados após dupla digitação. Para a análise, foi utilizado o programa SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences) versão 16.0. Foram descritas as variáveis categóricas pela frequência absoluta e frequência relativa percentual, e associadas com variáveis categóricas pelo teste de Qui quadrado ou teste Exato de Fisher. Foram descritas as variáveis quantitativas pela média e o desvio padrão. Foi utilizado um nível de significância de 5%. Nenhum dado mostrou significância maior do que 5%, provavelmente relacionado ao fato de a amostragem ser pequena. Tabela 2 Indicações e Etiologias Indicações [n(%)] Etiologia [n(%)] Ascite Refratária Hemorragia Digestiva Alta 7(25) Hidrotórax 2 (7,1) Cirrose Resultados 30(3):87-95 92 A indicação mais comum para o implante de TIPS foi ascite refratária (n=19/67,8%), e a maioria dos pacientes tinha a classe C de Child (n=16/57,1%) de origem etiológica por hepatite C (n=19/67,9%). Os pacientes com fibrose cística (n=2/7,1%) e Síndrome de Budd-Chiari (n=4/14,3%) foram aqueles que não tiveram sua classe de Child definida já que essas duas doenças não preenchem os critérios desta classificação. As características dos pacientes estudados são descritas na tabela 1 e 2. Considerando-se a alta hospitalar como desfecho final deste estudo, o sucesso da técnica foi alcançado em 26 pacientes (92,8%). Ocorreram complicações imediatas ao procedimento em onze pacientes e foram as seguintes: estenose do stent por trombose (n=4) ou por oclusão (n=5), ressangramento das varizes esofágicas logo após o procedimento (n=1) e encefalopatia portossistêmica (n=1). Houve impossibilidade de implante devido à fibrose hepática em dois pacientes, não sendo considerada como complicação já que o procedimento não foi finalizado. Estes dois pacientes foram a óbito poucos dias após o procedimento. Tabela 1 Características dos Pacientes Características n=28 Média de idades (anos) 49,3±15,8 Sexo masculino [n(%)] 14 (50,0) A 0 B 6 (21,4) C 16 (57,1) Sem Child definido 6 (21,4) Child [n(%)] Tiveram complicações imediatas Impossibilidade de implante por fibrose hepática 11 (39,3) 2 (7,1) 19 (67,8) Hepatite C 19 (67,9) Álcool 2 (7,1) Fibrose Cística 2 (7,1) Budd-Chiari 4 (14,3) Idiopática 1 (3,6) Dos onze pacientes em que houve alguma complicação, nove (81,8%) obtiveram resolução da mesma (oito após redilatação e um espontaneamente) durante a internação e dois (18,2%) foram a óbito poucos dias depois do procedimento e após tentativa de redilatação. As complicações estão resumidas na tabela 3. Tabela 3 Complicações imediatas ao procedimento Complicações Número de pacientes afetados Estenose do stent por trombose 4 Estenose do stent por oclusão 5 Ressangramento das varizes esofágicas 1 Encefalopatia Portossistêmica 1 Dos sete pacientes cuja indicação foi sangramento de varizes esofágicas, quatro (57,1%) não tiveram complicações, um (14,3%) teve ressangramento de varizes de esôfago e um (14,3%) teve oclusão do stent. Em um (14,3%) deles houve falha do implante por fibrose hepática. Naqueles pacientes com ascite refratária, ocorreu estenose do stent por oclusão em quatro (21,1%), estenose por trombose também em quatro (21,1%) e encefalopatia portossistêmica em um (5,3%) destes pacientes. Não houve complicações em dez (52,6%) pacientes. Nos dois casos em que a indicação foi hidrotórax, houve impossibilidade de implante devido à fibrose hepática em um paciente. No outro, não houve complicações. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):87-95 Revista GED03 Julho2011-E.indd 92 21.09.11 14:42:12 F. C. S. Cobas, E. Emerim, J. A. Bettio, J. H. Oliveira, S. Morelli Nos pacientes com cirrose alcoólica (n=2), houve oclusão do stent em um deles. O outro não apresentou complicações. Nenhum paciente com cirrose causada por fibrose cística (n=2) teve complicações. Todos os pacientes cuja etiologia era cirrose por Síndrome de Budd-Chiari tiveram estenose do stent por trombose (n=4). O paciente com cirrose sem etiologia determinada (idiopática) teve ressangramento de varizes esofágicas e foi a óbito. Nos pacientes do sexo masculino (n=14), ocorreu oclusão do stent (n=2/14,3%), trombose do stent (n=1/7,1%), encefalopatia portossistêmica (n=1/7,1%) e impossibilidade de implante devido à fibrose hepática (n=1/7,1%). Não houve complicações em nove pacientes (64,3%). Naqueles do sexo feminino (n=14), não houve complicações em sete (50%). Nos demais ocorreu trombose do stent (n=3/21,4%), ressangramento de varizes esofágicas (n=1/7,1%), oclusão (n=2/14,3%) e impossibilidade de implante devido à fibrose hepática (n=1/7,1%). Dos seis pacientes com Child B, quatro (66,6%) receberam o implante sem complicações. Nos demais, um teve oclusão do stent (16,6%) e o outro teve encefalopatia portossistêmica (16,6%). Dezesseis pacientes tinham a classificação C de Child; destes, nove (56,2%) não tiveram complicações, quatro (25%) tiveram oclusão do stent, dois (12,5%) tiveram impossibilidade de implante devido à fibrose hepática e um (6,2%) teve ressangramento de varizes esofágicas. Naqueles em que não foi possível definir o Child (n=6), ocorreu trombose do stent em quatro (66,6%). Nos demais (n=2/33,3%) não houve complicações. O gradiente de pressão porta foi reduzido em todos os pacientes (n=28/100%), sendo que naquele em que não foi possível reduzir a pressão para menor que 12 mmHg (n=1/3,6%), houve ressangramento de varizes de esôfago. Discussão O TIPS está se tornando cada vez mais uma opção terapêutica para o sangramento de varizes esofágicas recorrente nãoresponsivo ao tratamento endoscópico e medicamentoso. Notou-se que, após seu uso nesta indicação principal, a ascite refratária, hidrotórax e síndrome hepatorrenal também melhoraram concomitantemente (Conn et al., 1993; Laberge et al., 1993). Este estudo reflete a experiência do implante de TIPS em um único centro, mostrando uma taxa de sucesso da técnica imediata de 92,8%, sendo a taxa de mortalidade de 14,3% (n=4) durante a internação. Dois destes pacientes foram submetidos ao procedimento com sucesso e faleceram alguns dias após por insuficiência hepática. Nos outros dois não foi possível implantar o stent por fibrose. Entre os pacientes deste estudo, 50% eram homens e 50% mulheres. Comparando-se as complicações com o gênero dos pacientes, verificou-se que nos homens ocorreram menos complicações (n=9/64,3%). Nos demais, houve oclusão do stent (n=2), trombose do stent (n=1) e encefalopatia (n=1). Somente um paciente do sexo masculino foi a óbito, sendo que não foi possível implantar o stent devido à fibrose hepática. Nas mulheres, a taxa de complicações foi de 50%, sendo que em seis pacientes ocorreram as seguintes complicações: ressangramento de varizes esofágicas (n=1), oclusão do stent (n=2) e trombose do stent (n=3). Em uma paciente houve impossibilidade de implante. Três pacientes do sexo feminino foram a óbito. 93 30(3):87-95 Dentre os pacientes cuja etiologia era cirrose pelo vírus da hepatite C (n=19), não houve complicações em doze (63,2%). Nos demais surgiram as seguintes complicações: oclusão do stent (n=4;21%) e encefalopatia portossistêmica (n=1;5,3%). Em dois pacientes houve impossibilidade de implante devido à fibrose hepática (10%). O paciente que teve ressangramento de varizes esofágicas como complicação imediata foi o único em que não foi possível reduzir o gradiente de pressão porta para menor que 12 mmHg, que é o valor de corte demonstrado por vários estudos (Colombato, 2007). Todos os casos de sangramento de varizes de esôfago que resultaram em complicações evoluíram para óbito por insuficiência hepática. Não se observou encefalopatia portossistêmica neste grupo no momento da alta hospitalar, que é a complicação mais comum relacionada a esta indicação segundo o estudo realizado por Burroughs et al. (2002), o qual mostrou que a cada dois episódios de sangramento controlado pelo TIPS, haverá um episódio de encefalopatia. Entretanto, salienta-se novamente o fato de que estes pacientes não obtiveram seguimento após a alta. Em dezenove pacientes, a ascite refratária foi a indicação primária e mais comum para o TIPS, sendo que nenhum destes pacientes apresentava sangramento de varizes esofágicas no momento da admissão, sendo esta a indicação mais comum ao procedimento segundo vários estudos, chegando a aproximadamente 15-20% das indicações (Owen, 2009). Todos tentaram paracentese ou terapia diurética repetidas vezes, mas não responderam ao tratamento convencional. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):87-95 Revista GED03 Julho2011-E.indd 93 21.09.11 14:42:12 Anastomose portossistêmica intra-hepática transjugular (tips): análise casuística de 28 casos em um hospital de referência As complicações relacionadas a esta indicação foram: trombose do stent em quatro pacientes (21,1%), encefalopatia em um paciente (5,3%) e oclusão do stent em quatro (21,1%). Dos que apresentaram oclusão (n=4), todos foram submetidos à redilatação, sendo que três responderam bem e a complicação foi resolvida, e um não respondeu, evoluindo para óbito. A maioria dos pacientes com esta indicação (n=10, 52,6%) não teve complicações. Em um dos pacientes em que a indicação foi hidrotórax (n=2), houve impossibilidade de implante por fibrose hepática. No outro, não houve complicações. Ambos tentaram toracocentese de repetição, falhando a esta terapêutica convencional. 30(3):87-95 94 Este estudo mostra que a etiologia mais comum entre os pacientes foi cirrose por hepatite C (n= 19/67,9%). O estudo realizado por Tripathi et al. (2004) mostrou que a indicação mais comum era cirrose alcoólica, totalizando 63,6% da amostra. Hepatite viral foi a etiologia em somente 8,3% dos pacientes. As complicações relacionadas a esta etiologia, no presente estudo, foram as seguintes: oclusão do stent (n=4/ 21%) e encefalopatia (n=1/5,3%). Houve impossibilidade de implante devido à fibrose hepática em dois (10 %). Destes dezenove pacientes, doze não apresentaram complicações (63,2%). Cirrose alcoólica foi a etiologia presente em apenas dois pacientes (7,1%), sendo que um evoluiu sem complicações e outro apresentou oclusão, sendo esta resolvida após procedimento de redilatação. Os dois pacientes com fibrose cística evoluíram sem complicações. Os quatro pacientes com Síndrome de Budd-Chiari apresentaram trombose do stent e passaram por diversos procedimentos de redilatação, até que a perviabilidade pudesse ser alcançada com sucesso. Esta doença é caracterizada por uma obstrução venosa hepática e, na maioria dos casos, há uma tendência protrombótica. TIPS vem sendo usado como uma opção terapêutica, já que mostrou ser melhor do que a cirurgia aberta para realização de shunt por ser mais compatível para um posterior transplante hepático no caso de falência hepática (Kavanagh, 2004). Naquele paciente em que não se conseguiu chegar a um diagnóstico para a causa da cirrose (idiopática), houve ressangramento de varizes esofágicas e óbito. Com relação ao Child, seis pacientes tinham a classe B, sendo que quatro (66,6%) evoluíram sem complicações, um (16,6%) apresentou encefalopatia - complicação essa resolvida espontaneamente durante a internação - e o outro (16,6%) apresentou oclusão do stent. Dos dezesseis pacientes com classe C, nove não apresentaram complicações (56,2%). Nos demais pacientes, ocorreram as seguintes complicações: oclusão do stent (n=4/25%) e ressangramento das varizes (n=1/6,2%). Houve impossibilidade de implante em dois pacientes (12,5%). Seis pacientes não tiveram o Child definido (quatro com Budd-Chiari e dois com fibrose cística como etiologias), sendo que dois evoluíram sem complicações e quatro necessitaram de redilatação por trombose (os quatro tinham Síndrome de Budd-Chiari). As complicações referidas neste estudo surgiram em onze pacientes e em dois não foi possível implantar o stent, demonstrando uma eficácia imediata de 53,3%. Levandose em consideração que em nove desses onze pacientes foi realizada reintervenção com sucesso, e que em dois pacientes dos quatro que foram a óbito o implante foi realizado com sucesso, apesar de o método ter sido ineficaz para esses casos, a eficácia da técnica se eleva para 92,8%. A taxa de sucesso demonstrada na maioria dos estudos ultrapassa os 90% (Carreiro, 2001), equivalendo-se ao presente estudo. Conclusões Este estudo demonstra a eficácia do TIPS no manejo da hipertensão porta. O índice de mortalidade demonstrou ser resultado da gravidade da doença hepática, estando mais relacionado com os pacientes com ressangramento de varizes esofágicas. • • • • A indicação mais comum neste estudo foi ascite refratária. A etiologia mais comum foi cirrose por hepatite C. A taxa de sucesso da técnica demonstrada por este estudo foi de 92,8%. A complicação mais frequente foi oclusão do stent, sendo, na maioria dos pacientes, resolvida após um ou mais procedimentos de redilatação. Referências 1. Arroyo V, Gines P, Gerbes AL, et al. Definition and diagnostic criteria of refractory ascites and hepatorrenal syndrome in cirrhosis. Hepatology 1996; 23: 164-176. 2. Boyer TD. Transjugular Intrahepatic Portosystemic shunt: current status. Gastroenterology 2003;124:1700-1710. 3. Bourroughs AK, Vangeli M. Transjugular intrahepatic portosystemic shunt versus endoscopic therapy: randomized trials fos secondary prophylaxis of variceal bleeding: an updated metaanalysis. Scand J Gastroenterol 2002; 37:249- 252. 4. Bureau C, Pagan JCG, Otal P, Layrargues GP, Chabbert V, et al. Improved clinical outcome using polytetrafluoroethylene- coated stents for TIPS: results of a randomized study. Gastroenterology 2004; 126:469-475. 5. 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Ao final da avaliação, 83,4% estavam em remissão de doença. Discussão: As frequências de resposta foram maiores em relação aos ensaios clínicos, no entanto, semelhantes em relação aos trabalhos mais recentes, retrospectivos e prospectivos. Não foram encontrados fatores preditivos de resposta. As respostas de pacientes com Doença de Crohn ativa e fistulizante foram semelhantes. Um pequeno número de pacientes (05) apresentou efeitos adversos atribuíveis ao medicamento, porém nenhum precisou interromper ou suspender tratamento. Conclusão: O infliximabe foi efetivo e seguro entre os pacientes com Doença de Crohn ativa e fistulizante. Unitermos: Doença de Crohn, Fator de Necrose Tumoral Alfa, Terapia Biológica. Summary Introduction: Infliximab represents a great advance in refractory Crohn’s Disease treatment, showed in clinical trials, for induction as well as for maintenance therapy. Aim: Evaluate the infliximab treatment, studying its efficacy, pointing possible predictive factor of response, and describing register collateral effects. Results: After induction, 86,1% of the patients improved with the treatment; 88,9% improved with maintenance therapy at week 54. 83,4% were able to discontinue corticosteroids. By the end of the evaluation, 83,4% were in clinical remission. Discussion: However, the response was superior when compared to the clinical trials, it was similar to more recent studies. It was not found any predictors of response to infliximab. A small number of patients reported side effects possibly associated with the drug, but none of them needed to discontinue treatment. Conclusion: The infliximab was effective and safe among patients with active and fistulizing Crohn’s Disease. Keywords: Crohn’s Disease, Tumor Necrosis Factor Alpha, Biologic Therapy. Introdução A Doença de Crohn (DC) é uma enfermidade crônica e recidivante, com evolução pouco previsível, sem etiologia conhecida, que conta atualmente com tratamentos eficazes, mas não curativos. Caracteriza-se por apresentar um processo inflamatório transmural, com lesões salteadas, entremeadas por áreas livres da doença. Acomete, com maior frequência, as regiões do íleo terminal e cólon, expressando-se por atividade inflamatória com dores abdominais e diarreia, ou estenosante com quadros obstrutivos ou com a presença de fístulas, além das manifestações extraintestinais1-3. Fica assim evidente, portanto, o impacto que a doença tem sobre o paciente, especialmente na qualidade de vida, 1. Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus Pedra Branca, Palhoça, Santa Catarina, Brasil. 2. Médico, Especialista em Clínica Médica, Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva, Professor das Disciplinas de Semiologia I e II e Sistema Digestório da Universidade do Sul de Santa Catarina. Endereço para correspondência: Gustavo Moreira Amorim - Rua Dr. Armínio Tavares, nº 111, apto. 501 – Centro – Florianópolis - SC – CEP 88015-250. Recebido em: 24/11/2010. Aprovação em: 15/2/2011. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):96-102 Revista GED03 Julho2011-E.indd 96 21.09.11 14:42:13 G. M. Amorim, L. N. Saporiti Avanços no campo da imunobiologia molecular constataram que o fator necrose tumoral alfa (TNF-alfa)10 desempenha importante papel na ativação e perpetuação do processo inflamatório inerente à DC. Estudos mostraram aumento no número de células produtoras de TNF-alfa na mucosa dos pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (DII), quando comparados ao grupo controle 11-13, elevadas concentrações de TNF-alfa foram encontradas nas fezes de crianças com doença ativa14. Além disso, os níveis séricos dos receptores de TNFalfa solúvel elevam-se em pacientes com DC como resultado da ativação da célula T15. Neste contexto, surgem as drogas antiTNF alfa, englobados no que se chama de terapia biológica. Os medicamentos biológicos apresentam-se como uma alternativa terapêutica para o tratamento da DC moderada a grave, com resultados extremamente promissores 2,16. Atualmente, a recomendação da literatura para o uso do infliximabe (IFX) é realizar uma fase de indução, com 5 mg/kg da droga, nas semanas zero, dois e seis, seguida pela fase de manutenção com infusões a cada oito semanas 8. Tendo em vista a importância inerente à DC, definida por sua grande prevalência, significativa morbidade e mortalidade justifica-se a necessidade de atualização dos conhecimentos nessa área. O presente estudo tem por objetivo avaliar o tratamento com IFX (anticorpo monoclonal quimérico anti-TNF alfa) como terapia de indução e manutenção para pacientes com DC, em nosso meio, estudando a efetividade do tratamento, apontando possíveis fatores preditivos de resposta e, por fim, descrevendo possíveis reações adversas registradas durante o tratamento. Metodologia Trata-se de um estudo observacional, de delineamento transversal, desenvolvido a partir da revisão de prontuários de pacientes atendidos em serviço ambulatorial de gastroenterologia. Participaram do estudo, prontuários de indivíduos portadores de DC, tratados com IFX, entre janeiro de 2005 e julho de 2010, selecionados conforme critérios de inclusão: idade (entre 10 e 70 anos), acompanhamento mínimo (54 semanas). Foram excluídos prontuários com preenchimento insuficiente. No total, participaram do estudo 36 prontuários. As variáveis dependentes utilizadas foram: resposta à indução, resposta laboratorial à indução, resposta à manutenção, resposta laboratorial à manutenção, descontinuação de CE e remissão de doença. A efetividade foi estudada em dois momentos distintos do tratamento: após a indução (infusões nas semanas zero, dois e seis; com avaliação na décima semana) e na manutenção (regime contínuo de tratamento, com infusões de oito em oito semanas, considerando como ponto de análise a 54a semana). Anexo 1: Crohn’s Disease Activite Index (CDAI) Item Number of liquid stools* Abdominal pain* (0 = no; 1 = mild; 2 = moderate; 3 = severe) General web being* (good: 0; acceptable: 1; bad: 2; very bad: 3; terrible: 4) Number of these clinical manifestations Arthritis/arthralgia Iritis/uveitis Eritema nodossum/pyoderma/aftae Anal fissure/fistulae/abcess Other fistulae Fever > 38.5 oC in the previous week Intake of antidiarrhoeics (no: 0; yes:1) Hematocrite (47: males) (43: females) % under the ideal weight Factor X2 X5 X7 97 30(3):96-102 interferindo no âmbito social, psicológico e sócio-profissional4. A DC vem sendo cada vez mais diagnosticada. Em nível nacional, apresenta uma incidência e prevalência de 3,5 casos/100.000 e 5,65/100.000 habitantes, respectivamente5; é mais comum em adultos jovens, pacientes de zona urbana e etnia branca6. A DC ainda carece de tratamento curativo7,8. Os objetivos da terapia atual são: induzir e manter a remissão sem corticosteroide (CE), fechar as fístulas, cicatrizar a mucosa e evitar complicações, internações e cirurgias9. X 20 X 30 X6 X1 *In the 7 previous days. Fonte: Development of a Crohn’s disease activity index. National Cooperative Crohn’s Disease Study 17 Para a classificação da resposta, foi utilizado o Crohn’s Disease Activite Index (CDAI, Anexo 1)17 para DC luminal ativa, que classifica a resposta ao tratamento como total ou parcial. A total é observada quando ocorre redução no escore de, pelo menos, 70 pontos, ou 25% em relação ao inicial; e parcial com redução de 50 pontos. Para a DC fistulizante, a resposta total pode ser definida pela ausência de drenagem de todas as fistulas, e parcial pela redução da drenagem em 50% das fístulas. Quanto à resposta laboratorial, foram classifica- GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):96-102 Revista GED03 Julho2011-E.indd 97 21.09.11 14:42:13 Avaliação da resposta terapêutica ao infliximabe em pacientes com doença de crohn dos como respondedores os pacientes que tinham atividade laboratorial evidenciada por exame de hemossedimentação (VHS) e proteína C reativa (PCR) elevados, e que apresentaram normalização dos exames. A descontinuação de CE e a remissão de doença (definida como CDAI menor de 150) 18 foram avaliadas na 54a semana. Em relação às variáveis independentes, foram avaliados: gênero, idade, tabagismo, tempo de diagnóstico, presença de fístula, cirurgia e internação prévias, escore prévio (CDAI), atividade laboratorial (VHS e PCR), uso atual de CE ou azatioprina (AZA) e, finalmente, a indicação do tratamento. Foram descritas eventuais reações adversas relatadas nos prontuários dos pacientes durante o tratamento com IFX. 30(3):96-102 98 Quaisquer efeitos colaterais desencadeados imediatamente pela administração do medicamento foram definidos como reações agudas, sendo classificadas quanto à gravidade de acordo com a necessidade ou não de tratamento (leves, as que não necessitam de qualquer tipo de medicação, moderadas, àquelas controladas facilmente com sintomáticos e graves, as que exigem uma abordagem terapêutica mais incisiva, determinando a descontinuidade da infusão do IFX), o surgimento ou não de infecções oportunistas e ainda a instalação ou não de processos neoplásicos. Os dados selecionados foram reunidos em planilhas impressas e digitalizadas, utilizando o programa Excel 2003. Com o auxílio do programa SPSS 16.0, os dados foram analisados estatisticamente. A análise inicial foi processada de forma descritiva. As variáveis quantitativas foram analisadas por intermédio do teste T-student após análise de normalidade. O estudo de associação entre as variáveis dependentes e independentes foram acessados por intermédio do teste Exato de Fischer, com nível de significância de 5% (p<0,05). O projeto de pesquisa foi submetido à análise do CEP-UNISUL, sendo aprovado em 24.06.10, sem pendências, sob o código: 09.506.4.01.III. Resultados A Tabela 1 tem o propósito de caracterizar a população de estudo, envolvendo aspectos inerentes ao paciente, a especificação de sua doença, com enfoque especial em características que pudessem dar ideia de gravidade de doença. No total, 36 prontuários de pacientes foram elegíveis para o estudo, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Em sua grande maioria, eram do sexo feminino (25), predominantemente adultos jovens: média de idade de 32,3 anos; com desvio padrão (DP) de 13,5, porém já há algum Tabela 1 – Caracterização da população de estudo quanto a aspectos demográficos, gravidade e atividade de doença; tratamento concomitante e indicação do IFX Sexo Masculino Feminino Idade * Média Mediana 32,36 (13,5) 29 (13 – 70) Sim Não 06 (16,7%) 30 (83,3) Média Mediana 77,3 (48,5) 66,0 (16 – 219) Sim Não 11 (30,6) 25 (69,4) Tabagismo Tempo de Diagnóstico** Fístula Cirurgia Prévia Internação Prévia Escore de Atividade*** Atividade Laboratorial Em uso de CE Em uso de AZA Indicação do Tratamento Sim Não 20 (55,6) 16 (44,4) Sim Não 26 (72,2) 10 (27,8) Média Mediana 331,5 (105,3) 321,5 (170 – 569) Sim Não 07 (19,4) 29 (80,6) Sim Não 18 (50) 18 (50) Sim Não 32 (88,9) 04 (11,1) Inflamação Fístula 26 (69,4) 10 (27,8) Os resultados são apresentados em números absolutos e percentuais, entre parênteses. As variáveis: Idade, Tempo de Diagnóstico e Escore de Atividade, nas quais foram calculados a média e a mediana, são apresentadas com o desvio padrão e os extremos do intervalo, respectivamente. * em anos; ** em meses; *** CDAI. tempo convivendo e tratando sua doença (tempo médio de diagnóstico: 77,3 meses DP±48,59). Entre os pacientes, predominaram aqueles com doença luminal ativa (25). Consoante à indicação do tratamento com IFX para pacientes com doença de atividade moderada a grave, o escore médio de atividade, anterior ao tratamento, foi de 331,5 DP±105,3. As frequências de resposta são apresentadas na Tabela 2, de maneira geral e com a diferenciação entre doença luminal e doença fistulizante. Na resposta clínica, embasada na queda do escore de atividade prévio, 05 (13,9%) não tiveram resposta ao final da etapa de indução, enquanto que 31 pacientes (86,1%) puderam ser classificados como respondedores; entre eles, 12 responderam (33,3%) parcialmente e GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):96-102 Revista GED03 Julho2011-E.indd 98 21.09.11 14:42:13 G. M. Amorim, L. N. Saporiti Tabela 2 – Apresentação não analítica das frequências de resposta de maneira geral e com diferenciação entre pacientes com DC luminal ou fistulizante Não Respondeu Resposta Parcial Resposta Total Total 05 (13,9) 12 (33,3) 19 (52,8) DC luminal 04 (16,0) 04 (16,0) 17 (68,0) DC fistulizante 01 (09,1) 08 (72,7) 02 (18,2) Resposta Laboratorial – Indução Sim Não Total 11 (37,9) 18 (62,1) DC luminal 09 (40,9) 13 (59,1) DC fistulizante 02 (28,6) 05 (71,4) Resposta – Manutenção Não Respondeu Resposta Parcial Resposta Total Total 04 (11,1) 01 (02,8) 31 (86,1) DC luminal 03 (12,0) 01 (04,0) 21 (84,0) DC fistulizante 01 (09,1) 0 10 (90,9) Resposta Laboratorial – Manutenção Sim Não Total 17 (58,7) 12 (47,3) DC luminal 13 (61,9) 09 (38,1) DC fistulizante 04 (72,7) 03 (27,3) Descontinuação de CE Sim Não Total 15 (83,4) 03 (16,6) DC luminal 13 (92,8) 01 (07,2) DC fistulizante 02 (50,0) 02 (50%) Remissão de Doença Sim Não Total 30 (83,4) 06 (16,6) DC luminal 21 (84,0) 04 (16,0) DC fistulizante 09 (81,8) 02 (18,2) 99 30(3):96-102 Resposta – Indução Os resultados são apresentados em números absolutos e percentuais, entre parênteses. 19 totalmente (52,8%). Já na manutenção, último ponto de avaliação, 04 pacientes (11,1%) não responderam, 01 paciente (2,8%)obteve resposta parcial e os demais 31 responderam (86,1%) ao infliximabe. O tratamento de manutenção possibilitou que 83,4% dos pacientes (15) que utilizavam CE previamente pudessem interromper seu uso. Além disso, na 54ª semana, estavam em remissão de doença 83,4% dos pacientes (30). Em análise bivariada, cruzando as variáveis dependentes: resposta na indução e resposta na manutenção (respondedores x não-respondedores, respondedores parciais x respondedores totais), além de descontinuação de CE e remissão de doença; com as variáveis independentes levantadas no estudo, não se obteve nenhuma associação com significância estatística. Em relação a possíveis reações adversas ao tratamento registradas nos prontuários dos pacientes, 04 (11,1%) pacientes apresentaram reação aguda: 03 (75%) foram leves e 01 (25%) foi moderada, não ocorrendo nenhuma grave. Foi registrado 01 (2,8%) caso de infecção oportunista (candidíase esofagiana), não ocorrendo nenhum caso de neoplasia. Nenhum dos 36 pacientes teve seu tratamento suspenso. Discussão O perfil epidemiológico da população de estudo apresentou uma maior prevalência do sexo feminino (25 mulheres/ 36 pacientes; 69,4%). Este achado é, de certa forma, conflitante na literatura. Estudo epidemiológico nacional, ao realizar um levantamento retrospectivo de mais de 20 anos, demonstrou uma equivalência entre os sexos nos pacientes com DII6; enquanto estudo mais recente demonstrou uma incidência significativamente maior no sexo feminino 5. No entanto, avaliando estudos em populações específicas em uso de terapia biológica, verifica-se resultados de equivalência 19,20 e outros de maior prevalência de mulheres, portadoras de DC, em GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):96-102 Revista GED03 Julho2011-E.indd 99 21.09.11 14:42:13 Avaliação da resposta terapêutica ao infliximabe em pacientes com doença de crohn tratamento com IFX3, 20,21. Já no caso da idade, este estudo encontrou uma média de 32,3 anos, DP±13,5, estando dentro do esperado já que a faixa etária de apresentação mais comum da DC são os pacientes adultos jovens 5,6. Entretanto, chama a atenção a heterogeneidade, já que a mediana da idade é de 29 anos, sendo 13 e 70 anos os extremos neste intervalo. O tempo de diagnóstico foi avaliado, tendo sido encontrada uma média de 77,3 meses, com DP±48,5. Nos ensaios clínicos que avaliaram o IFX 20,21, encontrou-se tempo médio de doença sensivelmente maior; já um ensaio clínico randomizado observou quase o dobro (média de 147,6 meses) 21. Isto pode ser explicado pela consolidação do uso do IFX na DC e pela demonstração dos dados de segurança, quase oito anos após estes ensaios clínicos, que resultaram em uma indicação mais precoce deste tipo de terapia aos pacientes elegíveis para tratamento. 30(3):96-102 100 Com enfoque na classificação do nível de atividade da doença, a média do escore prévio (331,5; DP±105,3) reflete bem a gravidade da doença dos pacientes avaliados no estudo e corrobora com os achados nos ensaios clínicos que avaliaram o tratamento. O primeiro considerou elegíveis para tratamentos pacientes com DC refratária de intensidade moderada a grave, com escore de atividade (IADC) entre 220 a 400; neste mesmo estudo, o escore médio encontrado foi de 297 (260 – 342) 20. À semelhança deste resultado, a maioria dos estudos demonstra populações com escores médios de atividade nestes níveis 3,22,23, reforçando a gravidade da doença destes pacientes e a indicação precisa do tratamento com IFX. Outros dados que fornecem ideia de gravidade foram os percentuais de hospitalização (72,2%) e cirurgias prévias (55,6%) em virtude da DC. Estima-se que a incidência anual de hospitalizações seja em torno de 20%, e cerca de 50% dos pacientes com DC, em 10 anos de doença, já foram submetidos a algum tipo de tratamento cirúrgico 24. Um estudo espanhol, multicêntrico, retrospectivo demonstrou um percentual ainda maior de pacientes com cirurgia prévia (67%) 19, enquanto que outros estudos encontraram valores próximos, entre 51% e 55%, respectivamente 20,21. Já em relação a hospitalizações prévias, não encontramos outro estudo na literatura para comparação. No entanto, consideramos como uma característica importante, pois além de expressar a gravidade da enfermidade em determinado paciente, pode ser útil posteriormente para avaliação da eficácia do tratamento. Uma avaliação retrospectiva de pacientes que participaram de um ensaio clínico demonstrou que o tratamento de manutenção com IFX para DC fistulizante reduz o número de hospitalizações e de procedimentos cirúrgicos 25, enquanto outro ensaio clínico sugeriu que IFX posteriormente à ressecção ileal reduz a frequência de recorrências 26. Consoante a estes achados, artigo publicado recentemente, embasado em dados obtidos a partir de ensaios clínicos, afirma que o IFX altera curso da DC, promovendo cicatrização da mucosa intestinal, reduzindo necessidade de cirurgia e a recorrência de doença após tratamento cirúrgico 16. Nos 36 pacientes analisados neste estudo, 26 (72,2%) receberam indicação de tratamento com IFX por atividade luminal moderada a severa da doença. O restante dos pacientes (10; 27,8%) apresentou fístulas. Nesta população, não foi indicado tratamento para manifestações extraintestinais de DC. Em uma coorte sueca com 614 pacientes portadores de DC que receberam tratamento com IFX3, em concordância ao presente estudo, a maioria dos pacientes iniciou tratamento com biológico em virtude de intensa atividade luminal (420 pacientes, 68%); a segunda maior indicação foi doença fistulizante (170 pacientes; 28%) e apenas uma minoria teve seu tratamento indicado por DC extraintestinal (24 pacientes; 4%). A efetividade global do tratamento baseou-se na avaliação dos pacientes em dois momentos: o final da indução, na 10ª semana, e a avaliação da manutenção, na 54ª semana. Avaliando os pacientes de maneira conjunta, 86,1% dos pacientes haviam respondido a indução e 88,9% dos pacientes mantiveram resposta na 54ª semana de tratamento. O primeiro ensaio clínico randomizado que avaliou o IFX para DC, em curto prazo, demonstrou um percentual de cerca de 80% de respondedores ao final da indução, na qual quase 50% já se encontravam em remissão clínica 27. A taxa de resposta inicial de 90,1% (547 de 614 pacientes), demonstrada em estudo de coorte 3, ficou bastante próxima da encontrada na população avaliada neste estudo. Outro estudo, multicêntrico, retrospectivo, encontrou uma taxa global de resposta de cerca de 90% no período de indução e 78% ao final de 28 meses de avaliação 19. Diferenciando os pacientes portadores de DC luminal, 84% (16% resposta parcial e 68% resposta total) responderam ao final da indução, e 88% (4% parcialmente e 84% resposta total) eram respondedores na última etapa de avaliação da fase de manutenção. Já entre os pacientes com DC fistulizante, 90,9% responderam a indução (parcial: 72,7%; total: 18,2%) e a manutenção (todos os 90,9% responderam totalmente). Quando comparadas estas frequências aos ensaios clínicos que comprovaram a eficácia da droga para DC luminal e fistulizante, os resultados do atual estudo foram superiores, já que nestes estudos em torno de 40% de portadores de DC luminal respondedores na 54ª semana de manutenção e 36% dos pacientes demonstravam total ausência de GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):96-102 Revista GED03 Julho2011-E.indd 100 21.09.11 14:42:14 G. M. Amorim, L. N. Saporiti Quanto à resposta laboratorial, na indução verificou-se a normalização das provas inflamatórias (VHS e PCR) em apenas 37,9% dos pacientes com DC. Já, na manutenção, 58,7% dos pacientes apresentavam exames normais. Fica clara a disparidade da resposta laboratorial em relação à resposta clínica, com avaliação de queda de escore de atividade, sendo significativamente menos frequente a normalização laboratorial. Resultado semelhante foi encontrado em estudo sueco, na qual 46,4% dos pacientes apresentaram normalização da PCR no período inicial do tratamento, apesar de 89,1% terem respondido clinicamente3. Uma recente revisão de coortes de base populacional demonstrou que cerca de 1/3 dos pacientes portadores de DC evoluem para corticodependência 24. O Consenso Europeu de 2010, sobre o manejo da DC, define a terapia biológica como primeira escolha para pacientes com doença refratária, cortico-dependente 7. Do total de 36 pacientes, 18 estavam em uso de CE; destes, 15 (83,4%) puderam descontinuar a medicação com o tratamento com IFX, e se mantiveram sem na 54ª semana. Os pacientes com DC luminal descontinuaram em maior proporção (92,8%), em relação aos pacientes com DC fistulizante (50%). A remissão de doença foi atingida por 83,4% dos pacientes na última etapa de avaliação, correspondendo a 84% dos pacientes sem doença fistulizante e 81,8% dos pacientes portadores de fístula. Em ensaio clínico randomizado, duplocego, verificou-se percentuais menores de remissão clínica e desmame de CE: 37,3% na 10ª semana e 34,9% na 50ª semana, com terapia isolada com IFX, e 46,7% e 46,2%, respectivamente, com IFX associado à azatioprina 30. Uma revisão de 16 estudos, avaliou 2.236 pacientes que, apesar da remissão clínica de sua doença com tratamento de manutenção com IFX, demonstrou que o percentual médio de perda de resposta é de 37%, sendo que o risco anual de perda de resposta com consequente reativação clínica é de 13%31. Levando em conta estes dados, se programado um tempo de acompanhamento além da 54ª semana, a frequência de remissão da doença entre os pacientes estudados seria menor, possivelmente devido à perda de resposta. Não foi possível apontar fatores preditivos de res- posta, já que, em análise bivariada, não se atingiu valor de “p” com significância estatística em nenhum dos cruzamentos. A população reduzida contribuiu para a falta de associação estatística significativa, podendo ser considerada uma importante limitação deste estudo. Diversos efeitos colaterais são associados ao uso de terapia biológica e ao IFX, em específico. O presente estudo não tinha por objetivo avaliar a segurança do tratamento, tendo em vista a complexidade deste tipo de análise. No entanto, foram descritos efeitos colaterais atribuíveis ao medicamento, registrados nos prontuários. Vários estudos buscaram acessar a segurança do tratamento com infliximabe para pacientes com DC, considerando o tratamento seguro 3,16,20,21. Dos 36 pacientes, 04 (11,1%) desenvolveram reação aguda atribuída à infusão do remédio, onde 03 (75%) apresentaram remissão espontânea e foram graduadas como leves; apenas 01 (25%) foi considerada moderada e medicada com CE endovenoso. Não ocorreu nenhuma reação aguda grave. Dentro da população, 01 paciente (2,8%) apresentou um quadro de candidíase esofágica, podendo estar associada ao uso do IFX, sendo classificada como infecção oportunista. Existe ainda uma preocupação com relação à possibilidade de desenvolvimento de neoplasias associadas ao tratamento com medicações anti-TNF. Estudo de revisão de 2010 refere o uso de terapia biológica não parece aumentar o risco de câncer; no entanto, pacientes com história prévia e familiar devem ser submetidos a uma avaliação com oncologista antes do início do medicamento 32. 101 30(3):96-102 drenagem por suas fístulas na 54ª semana de tratamento20,21. Um estudo prospectivo encontrou após indução 92,8% de respondedores portadores de doença luminal e 77,3% entre pacientes com fístula; concluiu, com esses resultados, que a seleção criteriosa dos pacientes (doença moderada a grave, refratária) melhora os índices de resposta ao tratamento 28. Outro estudo demonstrou 88% de respondedores em tratamento de manutenção para DC fistulizante29. Nenhum caso foi observado nesta população, no período estudado. Uma coorte de 217 pacientes portadores de DII (destes, 191 com DC), em uso de infliximabe, avaliou a segurança do tratamento 33. Foram relatadas 34 reações adversas graves em pacientes com DC, sendo que destes, 04 estavam relacionadas a procedimentos cirúrgicos; 03 casos de linfoma e 07 casos de infecção. Ocorreram 03 mortes: 02 por linfoma e 01 por sepse. A conclusão do estudo foi de que o tratamento, apesar de eficaz e seguro, deve ser monitorado com rigor, com enfoque principal sobre pacientes idosos e com surtos graves de doença. Em artigo de revisão, cuja avaliação envolveu cerca de 22 mil pacientes portadores de DC, reforçou-se o risco aumentado de infecções e destacou também risco aumentado para doenças desmielinizantes e displasia cervical, associado ao uso isolado de anti-TNFs, ou combinados a imunossupressores e/ou corticoides 34. Um estudo de coorte demonstrou que 70 pacientes de 547 portadores de DC avaliados, ou seja, 12,8% interromperam tratamento devido GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):96-102 Revista GED03 Julho2011-E.indd 101 21.09.11 14:42:14 Avaliação da resposta terapêutica ao infliximabe em pacientes com doença de crohn a efeitos adversos3. No presente estudo, nenhum paciente teve seu tratamento suspenso ou mesmo interrompido por reação adversa. Concluiu-se no estudo que o IFX mostrou-se efetivo como tratamento de indução e manutenção para a maioria dos pacientes estudados com DC, seja ela luminal ou fistulizante. Por outro lado, a população reduzida, apesar de homogênea, pode ser considerada uma limitação do estudo. Referências 30(3):96-102 102 1. P odolski DK. Inflammatory Bowel Disease. N Engl J Med 2002; 347(6): 417-429. 2. Rutgeerts P, Vermeire S, Van Assche G. Biological Therapies for Inflammatory Bowel Diseases. Gastroenterology 2009; 136:11821197. 3. Schnitzler F, Fidder H, Ferrante M, Noman, Arijis I, Van Assche G, et al. Long-term outcome of treatment with infliximab in 614 patientes with Cronh’s disease: results from a single-centre cohort. Gut 2009; 58:492-500. 4. Drossman DA, Patrick DL, Mitchell CM, Zagami EA, Appelbaum MI. Health-related quality of life in inflammatory bowel disease. Functional status and patient worries and concerns. Dig Dis Sci 1989; 34:1379-1386. 5. Victoria CR, Sassak LY, Rubens de Carvalho NH. Incidence and prevalence rates of inflammatory bowel diseases, in midwestern of São Paulo State, Brazil. Arq. Gastroenterol. 2009; 46(1): 20-25. 6. 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GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):96-102 Revista GED03 Julho2011-E.indd 102 21.09.11 14:42:14 Artigo Original Esofagite Eosinofílica - Estudo de uma série de casos em adultos Eosinophilic Esophagitis - Study of a series of cases in adults Gabriel Corbetta Regis1, Amilton Carniel Guimarães2, Osni Eduardo Camargo Regis3, Irene Vieira Souza4 Introdução: Esofagite eosinofílica (EE) é uma doença considerada de prevalência baixa, caracterizada por infiltração de eosinófilos na mucosa esofágica, sendo seus principais sintomas disfagia e impactação alimentar. O diagnóstico é estabelecido através de endoscopia e análise histológica da mucosa esofágica. O tratamento mais eficaz tem sido a corticoterapia tópica, havendo boa resposta clínica e histológica. No Brasil, a literatura publicada sobre esse assunto é escassa. Objetivos: Descrever as características clínicas, endoscópicas e histopatológicas de uma série de casos de pacientes com esofagite eosinofílica. Métodos: Estudo descritivo de uma série de casos. A amostra foi formada por pacientes com infiltração eosinofílica da mucosa esofágica entre os anos de 2007 e 2010 num centro médico privado. Foram coletados dados clínicos, endoscópicos e histológicos dos pacientes. O diagnóstico definitivo de esofagite eosinofílica foi firmado usando os critérios de Dellon e col13. Resultados: Foram incluídos no estudo 29 pacientes, no qual 90% eram do sexo masculino. A média de idade dos pacientes foi de 42,5 anos (18-66 anos), sendo 59% apresentavam disfagia, 45% pirose/regurgitação ácida, impactação alimentar 27% e dor retroesternal em 24% dos pacientes. Dois pacientes apresentavam-se assintomáticos. Achados endoscópicos da doença foram observados em todos os pacientes, sulcos lineares em 72%, placas/ exsudatos brancacentos em 55%, formações anelares em 41% e hérnia hiatal em 3%. Todos apresentavam pelo menos 15 eosinófilos por campo de grande aumento e degranulação eosinofílica em 83% dos pacientes. Conclusões: O perfil dos pacientes desta série é o seguinte: idade média de 42,5 anos; o gênero que predominou foi o masculino; a queixa clínica mais comum foi disfagia; a média da contagem de eosinófilos por campo de grande aumento na amostra foi de 20,9; e o achado endoscópico mais frequente foram sulcos lineares. Os achados deste estudo são semelhantes aos da literatura. Unitermos: Esôfago, Esofagite Eosinofílica, Endoscopia Digestiva Alta. Summary 103 30(3):103-109 Resumo Background: Eosinophilic esophagitis (EE) is a low prevalence desease which consists on the infiltration of eosinophils on the esophagic mucosa. Its main symptoms are disfagy and eating inability. The diagnosis for this illness is established through endoscopy and histologic analysis of the esophagic mucosa. The most effective treatment until this date has been topical corticotherapy. There have been good clinical and histologic responses to this treatment. There are still few studies and clinical descriptions about the presentation of this illness in the adult population in Brazil. Objectives: To describe the clinical, endoscopic and hystopathologic characteristics of a series of cases of patients with eosinophilic esophagitis. Methods: Descriptive study of a series of cases. The sample for this study consisted on patients with eosinophilic infiltration on the esophagic mucosa between the years of 2007 and 2010 in a private 1. Acadêmico de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina Pedra Branca (UNISUL), Florianópolis - SC. 2. Membro Titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), Florianópolis - SC. 3. Membro Titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), Sócio Titular da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), Diretor Técnico do Centro Médico do Aparelho Digestivo (CEMAD), Florianópolis - SC. 4. Médica patologista do Laboratório de Anatomia Patológica Macro&Micro, Florianópolis - SC. Endereço para correspondência: Gabriel Corbetta Regis – Rua Frei Caneca, 100 – apto. 602, Bloco A - Florianópolis – SC – CEP 88025-000 - e-mail: [email protected]. Recebido em: 20/06/2011. Aprovado em: 27/07/2011. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):103-109 Revista GED03 Julho2011-E.indd 103 21.09.11 14:42:14 Esofagite Eosinofílica - Estudo de uma Série de Casos em Adultos medical center. Clinical, endoscopic and histologic data from these patients has been collected. The Dellon et al13 criteria was applied for the final eosinophilic esophagitis diagnosis of those cases. Results: Were included in this study 29 patients, from which 90% were male. The average age of the patients was 42,5 years of age (18-66 years old). 59% of the patients presented disfagy, 45% presented heartburn/ acid regurgitation, presented 27% food impaction and 24% of chest pain. Endoscopic findings of the desease were observed in all patients: linear furrows in 72%, white plaques in 55%, rings in 41% and hiatal hernia in 3%. All patients presented at least 15 eosinophils in at least one high-power field and 83% of them presented eosinophilic degranulation. Conclusions: The patients in this series have the following profile: 42,5 years old; predominantly male; disfagy was the most common clinical complaint; the average count of eosinophils per high-power field on the sample was 20,9 and linear furrows were the most common endoscopic findings. The findings of this study were similar to those in the literature. 30(3):103-109 104 Keywords: Esophagus, Eosinophilic Esophagitis, Digestive Endoscopy. Introdução Esofagite eosinofílica (EE) é uma doença considerada de baixa prevalência. Inicialmente achava-se que acometia somente a população pediátrica, porém, em 1978, Landres, Kuster e Strum 1 descreveram pela primeira vez esta doença em um adulto. Na última década, e especialmente nos últimos cinco anos, a EE está sendo reconhecida com frequência crescente na população adulta 2. Esofagite eosinofílica é uma doença inflamatória crônica com infiltração eosinofílica densa da mucosa esofágica. A presença de eosinófilos na mucosa esofágica não é exclusiva da EE. Outras doenças, como doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), doença de Crohn, doenças do colágeno, infecções esofágicas (e.g. herpes e candida) e esofagite induzida por medicamentos também podem aumentar o número de eosinófilos na mucosa esofágica3. Os achados clínicos em crianças e adultos com EE são divergentes. O sintoma mais comum em adultos é a disfagia para sólidos (60-90%), seguido por impactação alimentar (50-60%) 4,5. Além disso, os sintomas da DRGE (pirose e regurgitação ácida) também são comuns em adultos com EE, relatados em 24% dos pacientes em uma metanálise6. Os principais achados endoscópicos compatíveis com a doença são formações anelares (traqueização esofágica), sulcos lineares, placas/exsudatos brancacentos e estenoses 7,8. Já os achados histológicos mais característicos são grande número de eosinófilos esofágicos, microabscessos eosinofílicos, camadas superficiais de eosinófilos, hiperplasia da camada basal, alongamentos papilares, fibrose e inflamação da lâmina própria 9,10. Todos os pacientes com achados clínicos compatíveis com a doença devem ser submetidos à endoscopia digestiva alta (EDA) com, pelo menos, a retirada de cinco fragmentos da mucosa esofágica, por biópsia, para o estudo histológico2. Por se tratar de uma doença relativamente nova e pouco conhecida, os critérios diagnósticos têm sofrido constantes alterações, sendo alvo de grande controvérsia nos últimos anos. Os critérios para o diagnóstico da EE, segundo o consenso recente da American Gastroenterology Association (AGA) 11, são os seguintes: 1) quadro clínico compatível (disfagia, impactação alimentar, azia ou intolerância alimentar); 2) 15 ou mais eosinófilos por campo de grande aumento (eos/cga) em pelo menos um fragmento da mucosa esofágica, obtido por biópsia; 3) exclusão de outras desordens que cursam com eosinofilia esofágica, e 4) uso de inibidor de bomba protônica (IBP) por dois meses sem resposta adequada ou 5) pHmetria sem alteração. O principal diagnóstico diferencial é com a DRGE. O grande desafio atual é identificar critérios diagnósticos, eminentemente endoscópicos e histológicos, com especificidade aceitável para o diagnóstico da EE. Atualmente, a principal estratégia terapêutica se faz com uso de corticoterapia tópica, todavia o prognóstico da doença permanece incerto.12 O objetivo do presente trabalho foi de descrever as características clínicas, endoscópicas e histopatológicas de uma série de casos de pacientes com esofagite eosinofílica. Casuística e Métodos Trata-se de um estudo descritivo de uma série de casos. Foram selecionados todos os pacientes que realizaram endoscopia digestiva alta (EDA) no Centro Médico do Aparelho Digestivo (CEMAD), Florianópolis (SC), no período de 21/06/2007 a 10/08/2010, em que os fragmentos da mucosa do esôfago obtidos por biópsias apresentavam laudo anatomopatológico, com infiltração eosinofílica da mucosa esofágica de 15 ou mais eosinófilos por campo de grande aumento (eos/cga). Os critérios de inclusão foram: EDA com fragmentos da mucosa do esôfago apresentando infiltração eosinofílica (≥ 15 eos/cga) e pacientes com ≥18 anos de idade. Os critérios de exclusão foram: pacientes sem informação sobre a queixa clínica; sem dados demográficos registrados no prontuário (idade, sexo); GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):103-109 Revista GED03 Julho2011-E.indd 104 21.09.11 14:42:15 G. C. reGis, a. C. Guimarães, o. e. C. reGis, i. v. souZa lâmina de fragmentos da mucosa esofágica indisponível para revisão do patologista; outro diagnóstico que explique a infiltração eosinofílica da mucosa esofágica, tais como DRGE, doença de Crohn, doenças do colágeno, infecções esofágicas (e.g. herpes e candida) e esofagite induzida por medicamentos. O desenho do estudo está descrito na figura abaixo. Endoscopias realizadas num serviço privado entre Junho/2007 e Agosto/2010 Tabela 1 - Critérios de Dellon e col.13 1) Idade na biópsia esofágica 2) Disfagia (sintoma) 3) Alergia alimentar (documentada) 4) Formações anelares na EDA 5) Placas/exsudatos brancacentos na EDA 6) Sulcos lineares na EDA 7) Ausência de hérnia hiatal na EDA Revisão do prontuário Dados clínicos Variáveis: 1) Queixa principal; 2) História de alergia; 3) Idade e 4) Sexo. Revisão das biópsias de esôfago com o patologista Endoscopia Variáveis: 1) Aneis; 2) Sulcos lineares; 3) Placas e 4) Hérnia de hiato. Patologia Variáveis: 1) Contagem de eosinófilos/CGA e 2) Presença de degranulação de eosinófilos. Seis ou mais critérios de Dellon e col.13 NÃO SIM Infiltração eosinofílica de outra causa Diagnóstico de Esofagite Eosinofílica Nos prontuários médicos foram coletadas as seguintes informações: idade, sexo, queixa clínica, alergia documentada (dosagem de IgE total, eosinofilia periférica, história de asma ou rinite alérgica) e alergia alimentar (paciente sintomático com reintrodução do alimento ou com teste alimentar direto realizado por alergista). Os fragmentos obtidos por biópsia do esôfago foram revisados por patologista, sendo registrada a contagem máxima de eosinófilos por campo de grande aumento, hiperplasia da camada basal, microabscesso eosinofílico e a presença ou não de degranulação eosinofílica. Os laudos das endoscopias foram revisados e os seguintes achados endoscópicos analisados: sulcos lineares, formações anelares (traqueização esofágica), placas/exsudatos brancacentos e hérnia hiatal. O diagnóstico de EE foi definido pela presença de seis ou mais critérios de Dellon e col.13 que estão apresentados na Tabela 1. 8) Contagem de eosinófilos por campo de grande aumento 9) Degranulação eosinofílica Considerou-se alergia alimentar documentada: paciente sintomático com reintrodução do alimento suspeito ou com teste alimentar direto realizado por alergista. Neste estudo, consideramos como presente este critério quando o paciente possuía no prontuário história pregressa de asma ou rinite alérgica. Foi considerado como critério positivo a presença de 15 ou mais eosinófilos em pelo menos um campo de grande aumento dentre cinco analisados. O estudo está de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O projeto de pesquisa foi submetido à análise do CEP-UNISUL e aprovado sob o registro 09.507.4.01.III. 105 30(3):103-109 Critérios de Inclusão 1) Biópsia de esôfago com infiltração eosinofílica da mucosa (≥15 eosinófilos/cga); 2) Idade superior a 18 anos. Introdução No período de 21/06/2007 a 10/08/2010, foram realizadas 17.887 endoscopias digestivas altas no CEMAD. Destas, foram obtidos, por biópsia, fragmentos esofágicos em 405. Em apenas 7,1% (IC 95% 5,2-9,1) (n=29) destas biópsias, foram encontrados ≥ 15 eos/cga, tendo como laudo histológico o descritor infiltração eosinofílica da mucosa esofágica. Todos os pacientes possuíam dados demográficos, queixa clínica e achados endoscópicos registrados no prontuário, além de todos os laudos histológicos completos. Dos 29 pacientes analisados, 90% (n=26) era do sexo masculino, a idade média dos pacientes na biópsia esofágica de 42,5 anos (DP=15), sendo que o paciente mais novo tinha 18 e o mais idoso, 66 anos. Alergia documentada (dosagem de IgE total, eosinofilia periférica, história de asma ou rinite alérgica) foi encontrada em 69% (n=20) dos pacientes, todavia nenhum deles apresentava informações suficientes de alergia alimentar. A sintomatologia clínica mais comum foi disfagia, presente em 59% (n=17) pacientes, seguida de sintomas típicos de DRGE em 45% (n=13), impactação alimentar em 27% (n=8) e dor retroesternal em 24% (n=7). (Gráfico 1). GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):103-109 Revista GED03 Julho2011-E.indd 105 21.09.11 14:42:15 Esofagite Eosinofílica - Estudo de uma Série de Casos em Adultos Gráfico 1 - Sintomatologia clínica na amostra estudada Gráfico 3 - Contagem do número de eosinófilos por campo de grande aumento na amostra 100% 90% 100% 80% 90% 70% 80% 60% 70% 50% 60% 40% 50% 30% 40% 20% 30% 10% 20% 10% 0% Disfalgia DRGE like* Impactação alimentar 0% Dor retroesternal ≥ 15 eos/cga *Pirose/regurgitação ácida Quanto aos achados endoscópicos, 72% (n=21) apresentava sulcos lineares, 55% (n=16) com placas/exsudatos brancacentos, formações anelares em 41% (n=12). Apenas um paciente apresentou hérnia hiatal (Gráfico 2). 30(3):103-109 106 > 25 eos/cga > 35 eos/cga Gráfico 4 - Achados histológicos na amostra 100% 90% 80% Gráfico 2 - Achados endoscópicos na amostra 70% 60% 50% 100% 40% 90% 30% 80% 20% 70% 10% 60% 0% 50% Hiperplasia camada basal 40% Degranulação eosinofílica Microabscessos eosinofílicos 30% 20% Gráfico 5 - Achados demográficos, clínicos, endoscópicos e histológicos segundo os critérios de Dellon e col13 10% s ico s nd o se ac ha do do ch a 2a 3+ se Hé nd rn os ia có p sc óp ico al hia t ela re an es aç õ m Fo r 100% 90% Pla ca s/ ex su da to sb ra Su lco sl nc a ine ar e s ce nt os s 0% 80% 70% 50% 40% 30% 20% 10% /c ga a 15 e os of ≥ eo o çã ia De gr an ula rn Hé de ia Au sê nc sin l( ta hia lar sa ne aç õe m ílic ED A) DA ) es (E (E DA ) DA ) en to s ac ra nc at o ud ex s s/ Pla ca Fo r sb Su er lco gia sl do ine ar cu m es en (E ta da gia sfa Di Al ad en ab ióp sia ≥1 8a no s 0% Id Todos os pacientes apresentavam 15 ou mais eos/cga e hiperplasia da camada basal. Apenas dois pacientes apresentavam mais que 35 eos/cga (Gráfico 3). Foram observados microabscessos eosinofílicos em 17% (n=5) e degranulação eosinofílica em 83% (n=24) pacientes (Gráfico 4). Os critérios de Dellon e col.13 foram utilizados para fazer o diagnóstico de EE neste estudo. Todos os pacientes incluídos neste estudo apresentavam idade ≥18 anos, disfagia em 59%, alergia documentada em 69%, sulcos lineares na EDA 72%, placas/exsudatos brancacentos na EDA 48%, formações anelares na EDA 45%, ausência de hérnia hiatal na EDA em 97%, degranulação eosinofílica em 83% e ≥ 15 eos/cga em 100%. (Gráfico 5). 60% GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):103-109 Revista GED03 Julho2011-E.indd 106 21.09.11 14:42:15 G. C. reGis, a. C. Guimarães, o. e. C. reGis, i. v. souZa Todos os pacientes apresentavam seis ou mais critérios de Dellon e col.13. Foram encontrados seis critérios em 45% (n=13), sete critérios em 38% (n=11), oito critérios em 14% (n=4) e todos os critérios positivos em apenas 3% (n=1) dos pacientes (Gráfico 6). Gráfico 6 - Número de critérios de Dellon e col.13/paciente O presente estudo consiste em revisão de prontuários, logo, estamos restritos aos dados produzidos e registrados no prontuário pelo médico assistente. Por conseguinte, fica evidente a utilidade do escore diagnóstico de Dellon porque, na medida em que ele nos permite identificar com segurança razoável um caso de EE, sem a necessidade de testes terapêuticos, exames de pHmetria e nova endoscopia com biópsias do esôfago, ele aumenta o poder da nossa amostra, tornando as características observadas e relatadas nesse estudo bem mais próximas da realidade. 100% Nesta amostra, todos os pacientes apresentaram pelo menos seis critérios de Dellon e col.13, o que reduz de maneira significativa a ocorrência de diagnósticos alternativos como causa da infiltração eosinofílica, o que, como já foi dito, aumenta o nosso poder de comparação com outras séries de pacientes com EE diagnosticada pelos critérios tradicionais. 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 6 7 8 9 No Apêndice A estão descritos a sintomatologia clínica, os achados endoscópicos e histológicos da amostra estudada. Discussão A grande dificuldade no diagnóstico da esofagite eosinofílica é a diferenciação com infiltração eosinofílica secundária à DRGE. Pelos critérios vigentes 11, todo paciente com infiltração eosinofílica (≥15 na mucosa esofágica eos/cga) deve ser submetido a um curso de tratamento com IBPs e, então, repetir o exame endoscópico, com retirada de fragmentos esofágicos, para verificar a regressão ou não da infiltração eosinofílica. Somente nos casos em que não existe regressão da infiltração eosinofílica é que se faz o diagnóstico formal de EE. Nos demais, o diagnóstico de EE é equivocado. Alternativamente, podemos realizar um exame de pHmetria esofágica prolongada para afastar ou confirmar o diagnóstico de EE. Esse cenário realça a dificuldade que o clínico enfrenta para fazer um diagnóstico correto de EE. Diante disso, foi optado por usar o escore de critérios de Dellon e col.13 para o diagnóstico da EE. Esse escore permite ao clínico realizar o diagnóstico da EE retrospectivamente e sem a necessidade de testes terapêuticos ou exame de pHmetria, sem abrir mão de sensibilidade e especificidade relevantes. Esses autores descreveram nove preditores que diferenciam com bastante precisão os pacientes com EE dos pacientes com DRGE, apesar desse escore de critérios ainda não ter sido validado amplamente. Foram descritos em nosso estudo 29 casos de esofagite eosinofílica. Com exceção de alergia alimentar, todos os outros critérios de Dellon e col.13 foram observados nos pacientes estudados. O critério alergia alimentar foi substituído por história prévia de rinite ou asma. Em um estudo de série de casos com 31 pacientes, 77% era de homens e a idade média de 34 anos (intervalo 14 a 77 anos) 14. Nesta amostra, 90% dos pacientes eram homens e a idade média de 42,5 anos, sendo que o paciente mais jovem tinha 18 e o mais idoso 66 anos. Dellon e col. 13 descreveram 151 casos de EE, no qual 73% dos pacientes apresentavam disfagia, pirose em 42%, 30% com impactação alimentar e 8% com dor retroesternal. Nesta casuística, foram encontradas disfagia em 59% dos pacientes, seguida de sintomas típicos de DRGE (pirose e regurgitação ácida) em 45%, impactação alimentar em 27% e dor retroesternal em 24%. Outros estudos encontraram resultados semelhantes 5,15,16. 107 30(3):103-109 90% Os achados endoscópicos da doença foram encontrados em todos os pacientes. São eles: sulcos lineares em 72% (n=21), placas/exsudatos brancacentos em 55% (n=16), formações anelares em 41% (n=12) e hérnia hiatal em apenas 3% (n=1) dos pacientes. Em um estudo retrospectivo de 117 pacientes com diagnóstico de EE, os principais achados endoscópicos foram exsudatos brancacentos (25,6%), sulcos lineares (25,6%), formações anelares (18,8%) e estenose (16,2%). A mucosa esofágica foi considerada “normal” em 24,8% dos pacientes 17. Em um relato de caso, o valor da sensibilidade, especificidade e valor preditivo negativo em pacientes com achados endoscópicos descritos acima foi de 72%, 89% e 98%, respectivamente 15. No presente estudo, todos os pacientes apresentavam pelo menos GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):103-109 Revista GED03 Julho2011-E.indd 107 21.09.11 14:42:16 Esofagite Eosinofílica - Estudo de uma Série de Casos em Adultos Apêndice A - Dados clínicos, endoscópicos e histológicos da amostra Sexo Idade 30(3):103-109 108 Clínica EDA Histologia Alergia Critérios Dellon 1 M 57 Disfagia + Dor Retroesternal + DRGE Sulcos lineares + Exsudatos brancacentos > 25 eos/cga + dgn eos Sim 8 2 M 29 Disfagia Sulcos lin. + Formações anelares > 15 eos/cga + dgn eos Não 7 3 M 18 Disfagia +DRGE Sulcos lineares + Exsud. branc. + Formações anelares > 35 eos/cga + dgn eos Sim 9 4 M 23 DRGE Exsud. branc. + Form. anelares > 25 eos/cga + dgn eos Não 6 5 M 21 Disfagia Sulcos lineares > 25 eos/cga + dgn eos Não 6 6 M 37 Disfagia + Impactação Alimentar Sulcos lineares > 25 eos/cga + dgn eos Sim 7 7 M 25 DRGE Sulcos lin. + Formações anelares > 15 eos/cga Sim 6 8 M 55 Disfagia Exsudatos brancacentos > 35 eos/cga + dgn eos Sim 7 9 M 60 Disfagia Exsud. branc. + Form. anelares > 15 eos/cga + dgn eos Não 7 10 M 66 Dor Retroesternal + DRGE Formações anelares > 15 eos/cga + dgn eos Sim 6 11 M 50 Impactação Alimentar Sucos lin. + Exsud. brancacentos > 15 eos/cga + dgn eos Sim 7 12 M 48 Impactação Alimentar Sucos lineares > 15 eos/cga + dgn eos Sim 6 13 M 56 Disfagia Sucos lin. + Exsud. brancacentos > 25 eos/cga + dgn eos Não 7 14 M 38 DRGE Sucos lin. + Exsud. brancacentos + Hérnia hiatal > 25 eos/cga + dgn eos Sim 6 15 M 53 Impactação Alimentar + DRGE Sucos lin. + Exsud. brancacentos + Formações anelares > 15 eos/cga Não 6 16 M 51 Disfagia Exsudatos brancacentos > 15 eos/cga + dgn eos Sim 7 17 M 20 Disfagia + Dor Retroesternal + DRGE Sucos lin. + Exsudatos brancacentos > 25 eos/cga Sim 6 18 M 63 Impactação Alimentar Exsudatos brancacentos > 25 eos/cga + dgn eos Sim 6 19 M 41 Disfagia + Dor Retroesternal Sucos lin. + Exsud. brancacentos > 25 eos/cga + dgn eos Não 7 20 F 58 Disfagia + Dor Retroest. + DRGE Exsudatos brancacentos > 25 eos/cga + dgn eos Não 6 21 F 25 Dor Retroesternal Sucos lin. + Formações anelares > 15 eos/cga + dgn eos Sim 7 22 M 31 Disfagia + Impactação Alimentar Sucos lin. + Formações anelares > 15 eos/cga + dgn eos Sim 8 23 M 50 Disfagia + Impactação Alimentar Form. anelares + Exsud. branc. > 25 eos/cga + dgn eos Sim 8 24 M 33 Disfagia + DRGE Sucos lin. + Exsud. brancacentos > 25 eos/cga Sim 7 25 M 43 DRGE Sucos lineares > 15 eos/cga + dgn eos Sim 6 26 M 53 Dor Retroesternal Sucos lineares > 15 eos/cga + dgn eos Sim 6 27 M 33 DRGE Sucos lin. + Formações anelares > 25 eos/cga + dgn eos Não 6 28 F 53 Disfagia + Impact. Alim. + DRGE Sucos lin. + Formações anelares > 15 eos/cga + dgn eos Sim 8 29 M 37 Disfagia Sucos lineares > 25 eos/cga + dgn eos Sim 7 GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):103-109 Revista GED03 Julho2011-E.indd 108 21.09.11 14:42:16 G. C. Regis, A. C. Guimarães, O. E. C. Regis, I. V. Souza Conclusão O perfil dos pacientes da nossa série é o seguinte: homens com idade média de 30-40 anos, com disfagia e história pregressa de doenças alérgicas. Todos os pacientes apresentaram pelo menos um achado endoscópico compatível com a doença (sulcos lineares, formações anelares, placas/exsudatos brancacentos). A degranulação eosinofílica estava presente em 83% dos pacientes e todos apresentavam >15 eosinófilos por campo de grande aumento. Referências 1. Landres RT, Kuster GG, Strum WB. Eosinophilic esophagitis 2. 3. 4. 5. 6. in a patient with vigorous achalasia. Gastroenterology. 1978;74:1298-1301. Villarín LJA, Alonso GC, Sánchez MN, Chavarri SM, Senent SG, Grau PC, et al. 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Dellon ES, Gibbs WB, Fritchie KJ, Rubinas TC, Wilson LA, Woosley JT, et al. Clinical, endoscopic, and histologic findings distinguish eosinophilic esophagitis from gastroesophageal reflux disease. Clin Gastroenterol Hepatol. 2009;7:13051313. 14. Croese J, Fairley SK, Masson JW, Chong AK, Whitaker DA, Kanowski PA, et al. Clinical and endoscopic features of eosinophilic esophagitis in adults. Gastrointest Endosc. 2003;58:516-522. 15. Veerappan GR, Perry JL, Duncan TJ, Baker TP, Maydonovitch C, Lake JM, et al. Prevalence of eosinophilic esophagitis in an adult population undergoing upper endoscopy: a prospective study. Clin Gastroenterol Hepatol. 2009;7:420426. 16. Vitellas KM, Bennett WF, Bova JG, Johnston JC, Caldwell JH, Mayle JE. Idiopathic eosinophilic esophagitis. Radiology. 1993;186:789-793. 17. Remedios M, Campbell C, Jones DM, Kerlin P. Eosinophilic esophagitis in adults: clinical, endoscopic, histologic findings, and response to treatment with fluticasone proprionate. Gastrointest Endosc. 2006;63:3-12. 18. Abe Y, Iijima K, Ohara S, Koike T, Ara N, Uno K, et al. A Japanese case series of 12 patients with esophageal eosinophilia. J Gastroenterol. 2011;46:25-30. 109 30(3):103-109 um achado endoscópico sugestivo da doença. A média da maior contagem de eos/cga nessa casuística foi de 20,9 eos/ cga. No estudo de Abe Y e col.18 foi de 36,8 eos/cga. Veerappan e col.15 relataram microabscessos eosinofílicos em 24% e degranulação eosinofílica em 36% dos pacientes. No presente estudo foram encontrados microabscessos eosinofílicos em 17% e degranulação eosinofílica em 83%. Em resumo, os achados de nossos pacientes foram similares aos descritos na literatura, com exceção do número de eosinófilos encontrados na mucosa esofágica. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):103-109 Revista GED03 Julho2011-E.indd 109 21.09.11 14:42:16 Relato de Caso Diagnóstico, tratamento e acompanhamento do carcinoma hepatocelular variante fibrolamelar Diagnosis, treatment and monitoring of hepatocellular carcinoma variant fibrolamellar Ari Ben-Hur Stefani Leão1, Lucas Maggioni1, Carlos Kupski1, Gabriel Stefani Leão2 Resumo 30(3):110-112 110 Objetivos: Descrever um caso de carcinoma hepatocelular variante fibrolamelar, uma patologia pouco comum e com tratamento de escolha ainda controverso. Descrição do caso: Aqui relatamos o caso de um paciente masculino de 45 anos, com diagnóstico de carcinoma hepatocelular variante fibrolamelar que foi submetido à hepatectomia parcial com ressecção tumoral, e encontra-se momentaneamente livre de doença após o seguimento de um ano. Conclusão: A variante fibrolamelar do carcinoma hepatocelular acomete geralmente em pacientes jovens, com fígado não-cirrótico, apresentando crescimento tumoral indolente e com melhores taxas de cura em comparação à forma clássica do carcinoma hepatocelular. and is momentarily free of disease after one year follow up. Conclusion: Fibrolamellar variant of hepatocellular carcinoma usually affects young patients with non-cirrhotic liver and has indolent tumor growth and better cure rates in comparison to the classic form of hepatocellular carcinoma. Keywords: Fibrolamellar Hepatocellular Carcinoma, Subtotal Hepatectomy, Hepatocellular Carcinoma, Sirurgical Management of Fibrolamellar Hepatocellular Carcinoma. Introdução Summary O carcinoma hepatocelular fibrolamelar (CHC-FL) é uma variante rara do carcinoma hepatocelular (CHC), correspondendo a cerca de 1% de todos os casos de CHC, primeiramente descrito por Edmondson em 19561,3,4,5,6,7,8. Tipicamente ocorre em jovens com média de idade em torno de 25 anos, com distribuição equivalente entre os sexos, diferentemente da forma clássica do CHC que acomete cerca de 4-8 vezes mais o sexo masculino, tem crescimento indolente e taxa de mortalidade reduzida em comparação à forma clássica1,3,4,5,8. Aim: To describe a case of hepatocellular carcinoma fibrolamellar variant, an unusual pathology and treatment of choice remains controversial. Case Description: Here we report the case of a male patient of 45 years diagnosed with hepatocellular carcinoma variant fibrolamellar who underwent hepatectomy with tumor resection O CHC-FL diferentemente do CHC, em geral, ocorre em fígados normais e sem comorbidades como hepatite B ou C crônicas e cirrose1. O aumento sérico da alfa-fetoproteína também é raro, porém há descrições de elevações de neurotensina, capacidade de ligação da vitamina B12 e des-gama-carboxi protrombina1,10. A maioria destes Unitermos: Carcinoma Hepatocelular Fibrolamelar, Carcinoma Hepatocelular, Fibrolamelar, Hepatectomia Subtotal, Tratamento Cirúrgico do Carcinoma Hepatocelular Fibrolamelar. 1. Serviço de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Porto Alegre - RS - Brasil. 2. Acadêmico do Curso de Medicina da Unisul - Tubarão - SC - Brasil. Endereço para correspondência: Ari Ben-Hur Stefani Leão - Travessa Vileta 230 – apto. 404 - Jardim Botânico - Porto Alegre – RS - CEP: 90690-150 – e-mail: [email protected]. Recebido em: 18/04/2011. Aprovação em: 02/05/2011. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(2):110-112 Revista GED03 Julho2011-E.indd 110 21.09.11 14:42:16 a. B. s. leão, l. maGGioni, C. KuPsKi, G. s. leão tumores é único, grande e bem circunscrito; em geral cursa com sintomas vagos de dor abdominal, náuseas, vômitos, inapetência e emagrecimento9,11. As características histopatológicas consistem em células eosinofílicas poligonais e trabeculadas separadas por lamelas paralelas de colágeno hialino1,6,9. O tratamento de escolha para esta patologia é a hepatectomia subtotal e, em alguns casos selecionados, o transplante hepático é uma alternativa1,4,5,9,11. Metodologia e Aspectos Éticos Relato de Caso Paciente com 45 anos, masculino, branco, chega ao atendimento de emergência com queixa de astenia e emagrecimento de 6 kg em cerca de 30 dias. Relatava ainda que, neste período, apresentava episódios diários de sudorese noturna. Negava consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo. Ao exame físico apresentava-se anictérico, com sinais vitais estáveis, hidratado e sem outras particularidades. Aos exames complementares de análise bioquímica, apresentou leve alteração em transaminases, 1,5 vezes o limite superior da normalidade (LSN), gama GT elevada em 2 vezes o LSN e fosfatase alcalina elevada em 1,5 vezes o limite superior da normalidade. Não apresentava alterações relevantes na função renal, bilirrubinas e tempo de protrombina; encontrava-se discretamente anêmico com hematócrito de 30 e hemoglobina de 10,8. Aos exames complementares de imagem apresentou ecografia com lesão hepática expansiva sólida, medindo 12 x 10 cm em seus maiores diâmetros. Realizado tomografia computadorizada (TC) de abdômen, caracterizando a lesão hepática como sólida, expansiva, heterogenia ao contraste iodado, medindo cerca de 14 x 10 cm em seus maiores eixos e com áreas centrais sugestivas de necrose (figura 1). Optado por punção percutânea da lesão hepática guiada por ultrassonografia (US) que, ao exame histológico, Figura 1 - Tomografia computadorizada de abdômen com contraste endovenoso, evidenciando a lesão expansiva com 14 x 10 cm de diâmetro nos seus maiores eixos e áreas centrais sugestivas de necrose. foi diagnóstico de carcinoma hepatocelular fibrolamelar. Realizado CT de tórax e crânio para estadiamento, sem alterações assim como exames pré-operatórios dentro dos limites da normalidade. 111 30(3):110-112 O presente relato de caso refere-se a um paciente internado aos cuidados do Serviço de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva do Hospital São Lucas da PUCRS, no período de novembro a dezembro de 2008. Para a publicação, este relato foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa desta instituição (CEP 10/05103). A opção de terapêutica diante do estadiamento tumoral consistiu na realização de hepatectomia subtotal, com exérese do tumor que envolvia os seguimentos hepáticos IV A, IV B, VII e VIII e retirada de um linfonodo junto ao pedículo hepático. Ao exame anatomopatológico macroscopicamente, o tumor apresentava 742,3 g de peso, 12,5 x 12,0 x 8,4 cm de diâmetro, multiloculado e à microscopia carcinoma hepatocelular fibrolamelar com margens livres. O pós-operatório cursou com quadro clínico de hipertensão porta e dano hepático transitório, caracterizado respectivamente por formação de ascite e elevação dos níveis de transaminases acima de 10 vezes o LSN, e prolongamento do tempo de protrombina chegando a 37% (RNI: 2,05). Ainda nos primeiros dias do pós-operatório, o paciente apresentou sepses de origem pulmonar, necessitando fazer uso prolongado de ventilação mecânica por cinco dias e tratamento com antibioticoterapia e antifúngico (meropenem, vancomicina e fluconazol) por duas semanas. No decorrer da internação, o paciente apresentou recuperação da lesão hepática com normalização nos níveis das aminotransferases e tempo de protrombina, assim como GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(2):110-112 Revista GED03 Julho2011-E.indd 111 21.09.11 14:42:17 Diagnóstico, tratamento e acompanhamento do carcinoma hepatocelular variante fibrolamelar resolução do quadro séptico. Recebeu alta hospitalar trinta dias após o procedimento cirúrgico em bom estado geral para manter seguimento em nível ambulatorial, no qual, ao final de um ano de acompanhamento, encontra-se sem evidências de recidiva tumoral por controles clínicos, laboratoriais e de imagem com a realização periódica de TC de abdômen. de recidivas mais comuns o fígado, linfonodos regionais, peritônio e pulmões14. O relato do caso em questão justifica-se pela apresentação incomum desta patologia, potencialmente curável e que deve ser sempre lembrada no diagnóstico diferencial das lesões hepáticas. Discussão O carcinoma hepatocelular é uma das neoplasias mais frequentes em todo o mundo, porém a sua variante fibrolamelar é rara e acomete um grupo distinto de pacientes, em geral jovens, sem hepatite, cirrose ou elevação de alfafetoproteína3,4,5,8. 30(3):110-112 112 Ao exame anatomopatológico, apresenta-se como células eosinofílicas poligonais e trabeculadas separadas por lamelas paralelas de colágeno hialino1,6,9. Estes tumores são de crescimento indolente e biologicamente menos agressivos do que o CHC1,3,4,5,8. Em semelhança a outros tumores hepáticos, os melhores exames de imagem para delineamento da lesão no pré-operatório são TC e ressonância magnética (RM)12. Em uma série com 31 casos de CHC-FL avaliados por CT e ou RM, 77% dos tumores apresentavam margens bem definidas, 68% tinham calcificações e em 71% havia necrose central13. O diagnóstico do CHC-FL, algumas vezes, pode ser feito pelas características de imagem da CT ou RM; para os casos indeterminados, a biópsia guiada por TC ou US e a punção por agulha fina podem ser utilizadas12. O melhor tratamento disponível para esta patologia é a ressecção cirúrgica quando possível. Stipa et al.12 demonstraram uma sobrevida em cinco anos de 76% em uma série de vinte e oito casos de CHC-FL com ressecção completa e com melhor resultado que nas séries anteriores que apresentavam taxas de sobrevida em cinco anos entre 37% a 70%4,6,11. O transplante hepático tem sido utilizado em pacientes com CHC-FL2,4, porém com pior sobrevida em comparação com a hepatectomia parcial4, muito provavelmente porque os tumores tratados por transplante apresentam características mais agressivas12. A presença de múltiplos tumores, invasão vascular e linfonodos positivos têm sido demonstradas como fator prognóstico negativo para sobrevida 4,6. A eficácia da quimioterapia nesta patologia é questionável12. Apesar de uma biologia molecular relativamente indolente, este tumor apresenta frequente recidiva após ressecção completa, sendo os locais Referências 1. P inna AD, Iwatsuki S, Lee RG, Todo S, Madariaga JF et al. Treatment of fibrolamellar hepatoma with subtotal hepatectomyor transplantation. Hepatology 1997;26:877– 883. 2. Edmondson HA. Differential diagnosis of tumors and tumorlike lesions of the liver in infancy and childhoo. Am J Dis Child 1956;91:168-186. 3. Nagorney DM, Adson MA, Weiland LH, Knight CD, Smalley SR, Zinsmeister AR. Fibrolamellar hepatoma. Am J Surg 1985;149:113-119. 4. Ringe B, Wittekind C, Weimann A, Tusch G, Pichlmayr R. Results of hepatic ressection and transplantation for fibrolamellar hepatoma. Surg Gynecol Obstet 1992;175:299-305. 5. Starzl TE, Iwatsuki S, Shaw BW, nalesnik MA, Farhi DC, Van Thiel DH. 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GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(2):110-112 Revista GED03 Julho2011-E.indd 112 21.09.11 14:42:17 Relato de Caso Estômago em Melancia Watermelon stomach Roberto A. Guimarães1, Daniela M. Sueth2 do A vaí , I taperuna, RJ, B rasil Resumo Introdução Estômago em melancia ou ectasia vascular gástrica é rara causa de hemorragia gastrointestinal alta e anemia ferropriva, sendo responsável por 1,2% a 8% das hemorragias digestivas. Relatamos o caso de uma paciente do sexo feminino, idosa, que apresentava anemia ferropriva crônica, com frequentes hemotransfusões, sendo diagnosticada ectasia vascular antral e realizado tratamento endoscópico com eletrocoagulação com argônio. Foi realizada uma eletrocoagulação com argônio, havendo regressão endoscópica das lesões e resolução da anemia da paciente. Estômago em melancia ou ectasia vascular gástrica é rara causa de hemorragia gastrointestinal alta e anemia ferropriva 3, sendo responsável por 1,2% a 8% das hemorragias digestivas1. Unitermos: Hemorragia Digestiva, Estômago em Melancia, Anemia. Summary A etiologia permanece desconhecida, mas tem sido documentada sua associação a várias entidades patológicas como cirrose, doenças autoimunes, entre outras. Há predomínio do sexo feminino e geralmente ocorre em idade mais avançada3. 113 30(3):113-115 H ospital S ão J osé O diagnóstico se faz através imagem endoscópica típica3 e o tratamento ideal ainda não foi estabelecido, sendo opções conhecidas as terapias farmacológica, endoscópica e cirúrgica3. Relato de caso Watermelon stomach or gastric vascular ectasia is a rare cause of upper gastrointestinal hemorrhage and iron deficiency anemia account for 1,2-8% of all gastrointestinal bleeding. We report a case of elderly female patient with cronic iron deficiency anemia requiring frequents hemotransfusions. We diagnostic gastric vascular ectasia and realized endoscopic treatment with argon plasma coagulation with regression of injuries and anemia resolution. Keywords: Gastrointestinal Bleeding, Watermelon Stomach, Anemia. ZSR, 68 anos, casada, aposentada, natural e residente em Itaperuna, RJ, procurou o ambulatório de gastroenterologia do Hospital São José do Avaí, com quadro “anemia a esclarecer” iniciada há 4 meses. Relatou ter recebido, há uma semana, 600 ml de concentrado de hemácias em outro serviço. Negou doenças patologias crônicas e referiu somente uso de anti-inflamatórios para tratamento de cefaleia do tipo enxaqueca que tinha ocasionalmente. No exame físico, notamos mucosas hipocoradas (3+/4+), sem outras alterações. Foi iniciada investigação sendo solicitados: hemograma, que evidenciou anemia microcítica, hipocrômica com taxa da hemoglobina igual a 4,8 g/dl 1. Mestre em Gastroenterologia pela UFRJ, Membro Titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia e da Federação Brasileira de Hepatologia. 2. Especialista em Clínica Médica, Membro Aspirante da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, Especialização em Gastroenterologia, em curso, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ). Endereço para correspondência: Daniela M. Sueth - Rua da Passagem, 114/1209 - Botafogo - Rio de Janeiro – RJ CEP: 22290-030 - email:[email protected]. Recebido em: 25/04/2011. Aprovação em: 12/05/2011. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):113-115 Revista GED03 Julho2011-E.indd 113 21.09.11 14:42:18 Estômago em Melancia com reticulocitose, e endoscopia digestiva alta, na qual foi diagnosticada ectasia vascular antral (figuras 1), confirmada pela histopatologia, (figura 2 e 3), configurando o de “estômago em melancia”. Sua fisiopatologia permanece desconhecida, embora tenha sido notado sua associação com cirrose hepática (50%), cardiopatias, insuficiência renal crônica e doenças do tecido conjuntivo e autoimune1,4,5. Especula-se que seja resultado de episódios recorrentes de prolapso mucosa antral. Hipercontratilidade antral prolapsa à mucosa fracamente fixada ao piloro com posterior traumatismo e isquemia da mucosa. A repetitividade desses eventos leva dilatação dos vasos da mucosa antral e proliferação de células fusiformes, características estas que ajudam na diferenciação com gastrite aguda e atrófica1,4. A paciente foi encaminhada para tratamento endoscópico com hemostasia por coagulação bipolar com argônio, sendo realizadas 4 sessões com tempo total de tratamento de 12 meses, apresentando regressão das lesões. A paciente segue em acompanhamento ambulatorial. Discussão O diagnóstico é feito com base na história clínica, características endoscópicas e histológicas2,4,6. As apresentações clínicas mais comuns incluem: anemia ferropriva (88%), hemorragia digestiva oculta (42%), melena (15%), hematoquezia (10%)1,4. Há predomínio em mulheres de meia-idade2. A ectasia vascular antral (GAVE) foi reconhecida pela primeira vez em 1953 por Rider and cols8, mas somente em 1984 foi denominada Estômago em Melancia por Jabbari and cols.7 As características endoscópicas são típicas e classificadas em três tipos: pontilhado difuso, pontilhado confluente ou em faixas longitudinais que convergem radialmente até piloro1,2,4,6. 30(3):113-115 114 Histologicamente se caracteriza por dilatação capilares da mucosa, hipertrofia fibromuscular da lâmina própria e presença de trombos de fibrina intravascular1,2,4. Os principais diagnósticos diferenciais são gastropatia da hipertensão porta e gastrite erosiva1. O tratamento pode ser clínico, endoscópico ou cirúrgico. O tratamento clínico abrange a utilização de corticoides, estrogênio e progesterona, entre 4 ! outros que não se mostraram eficazes . A eletrocoagulação com argônio (APC) começou a ser empregada em endosFigura 1 - Aspecto endoscópico: presença de estrias copia digestiva por Grund em 1991. É método de de eritema longitudinal confluindo para o piloro ! ! Figuras 2 e 3 - Imagem histológica: hiperplasia folicular; edema mucosa e dilatação capilar mucosa na lâmina própria em direção à glândula GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):113-115 Revista GED03 Julho2011-E.indd 114 21.09.11 14:42:25 R. A. Guimarães, D. M. Sueth A referida corrente de energia tende a se direcionar para zonas de tecido que apresentam resistência elétrica mais baixa, independentemente do direcionamento do fluxo de gás. Ou seja, tão logo a zona cauterizada sofra necrose de coagulação, elevando sua resistência elétrica, a corrente de energia se direciona para zonas de tecido vivo, de mais baixa resistência 5. Suas vantagens incluem controle da profundidade do dano, facilidade de uso, relativo baixo custo e redução de morbimortalidade, melhor tolerada pelos pacientes e passível de uso ambulatorial5. Geralmente são feitas 3-4 sessões num período de 12 meses1. As recidivas são frequentes, necessitando novas sessões APC4. Yusoff and cols. descreveram taxa de recorrência de 40% após 20 meses da terapia inicial6. Referências 1. De Andrade JPV; Gameiro AM; Cabrita M, Peres L; 2. 3. 4. 5. A antrectomia é técnica cirúrgica empregada e conhecida com única modalidade terapêutica efetiva e curativa, porém as taxas de mortalidade atingem 7,4%1,4. O tratamento endoscópico é o de eleição, portanto, a eletrocoagulação com argônio é técnica segura e efetiva para resolução de diversas lesões sangrantes do trato digestivo, devendo ser considerada terapia de primeira linha para GAVE, ficando a cirurgia reservada para casos refratários, com recidiva frequente com necessidade também de hemotransfusões frequentes2,5,4. 6. Concluímos que GAVE é diagnóstico a ser considerado em idosos com anemia ferropriva crônica. Temos que ter em mente que, como a falta de diagnóstico interfere na qualidade de vida dos pacientes e que doenças raras acontecem, só fazemos seu diagnóstico quando pensamos em hipóteses e diagnósticos diferenciais, quesitos estes indispensáveis para o exercício da clínica médica. 8. 7. Raposo G. Ectasia vascular de antro como causa de anemia ferropênica crônica: a propósito de um caso clínico. J Port Gastrenterol 2008; 15: 213-216. Chaves DM, Sakai P; Oliveira CV; Cheng S, Ishioka S. Watermelon stomach: clinical aspects and treatment with argon plasma coagulation. Arq Gastroenterol 2006; 43: 191-95. Dulal GS; Jensen DM; Kovacs TOG; Gralnek IM, Jutabha R. Endoscopic treatment outcomes in watermelon stomach with and without portal hypertension. Endoscopy 2004; 36: 68-72. Nguyen H; Le C; Nguyen H. Gastric antral vascular ectasia (watermelon stomach) - An enigmatic and oftenOverlooked cause of gastrointestinal bleeding in the elderly.The permanent journal Fall 2009; 13: 146-49. 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GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):113-115 Revista GED03 Julho2011-E.indd 115 21.09.11 14:42:25 Relato de Caso Tratamento de Hepatite C em portador assintomático Treatment of asymptomatic hepatitis C virus carrier Maria Ivonete Bandeira Lages1, Rafael Bandeira Lages2 Resumo 30(3):116-118 116 Os autores apresentam o caso de um paciente de 45 anos, assintomático, portador de HCV genótipo 3a, com baixos títulos de HCV-RNA pré-tratamento e baixo grau de fibrose, submetido ao tratamento com interferon e ribavirina, e que obteve resposta virológica sustentada (RVS), com HCV RNA indetectável seis meses após o término do tratamento. A descrição deste caso justifica-se não pela raridade mas para incentivar a classe médica a manter-se alerta no tocante a essa infecção, promovendo, assim, os benefícios esperados com o diagnóstico e tratamento precoce. Unitermos: Hepatite C, Ribavirina, Interferon Alfa-2a, Adesão à Medicação. Summary The authors present a case of 45-year-old man, asymptomatic, HCV genotype 3a carrier, with low pretreatment serum HCV-RNA levels and low grade fibrosis, who received interferon plus ribavirin therapy and achieved sustained virological response (SVR) presenting undetectable HCVRNA six months after this treatment. This report case is not justified because of its rarity, but we aim to alert about the importance of early diagnosis and treatment of hepatitis C. Keywords: Hepatitis C, Ribavirin, Interferon alfa-2a, Medication Adherence. Introdução A infecção pelo Vírus da Hepatite C (VHC) apresenta distribuição universal, acometendo 3% da população mundial – aproximadamente 170 milhões de pessoas1. No Brasil, estudos de prevalência para o VHC na população geral ainda são escassos. Considerando-se os dados de um estudo populacional no estado de São Paulo e extrapolando-se para o Brasil, estima-se que ela esteja em torno de 1,42% 2. A cronificação ocorre em 70% a 85% dos casos, com evolução assintomática durante anos ou décadas e apresentação clínica inicial variada. Em média, um quarto a um terço destes pode evoluir para formas histológicas graves ou cirrose no período de 20 anos, caso não haja intervenção terapêutica, ao passo que os demais evoluem de forma mais lenta e talvez nunca desenvolvam hepatopatia grave3,4. A história natural da doença é variável. Uma vez evoluída para cirrose, 1% a 4% dos pacientes desenvolve carcinoma hepatocelular5. Para rastreamento da infecção, utiliza-se o exame de pesquisa sorológica do anticorpo anti-VHC pelo ensaio imunoenzimático (ELISA) de terceira geração6. Para a confirmação da replicação viral é necessária a pesquisa qualitativa do HCV-RNA pela reação em PCR. Nos pacientes candidatos a tratamento são necessárias a quantificação do HCV-RNA (carga viral) e a determinação do genótipo. Ambas são importantes fatores preditivos de resposta à terapia antiviral6-8. O tratamento recomendado atualmente é a combinação de formulações de interferon-alfa (INF) e ribavirina, objetivando-se alcançar a Resposta Virológica Sustentada (RVS), isto é, ausência de HCV RNA no soro seis meses após a suspensão do tratamento9. A descrição deste caso justifica-se não pela raridade, mas pela investigação com diagnóstico precoce e pelo sucesso terapêutico com resposta sustentada. Objetiva-se incentivar a classe médica a manter-se alerta no tocante a essa infecção e que, na avaliação clínica diária, seja capaz de rastrear e encaminhar às competências nos níveis de atendimento à infecção pelo vírus da hepatite C, promovendo, assim, os benefícios esperados com o tratamento à população. 1. Médica Gastroenterologista Clínica e Titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia – FBG. 2. Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Endereço para correspondência: Dra. Maria Ivonete Bandeira Lages – Rua Monsenhor Melo, 311 - Teresina – PI - CEP: 64053-220 - e-mail: [email protected]. Recebido em: 05/02/2011. Aprovação em: 20/02/2011. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):116-118 Revista GED03 Julho2011-E.indd 116 21.09.11 14:42:26 M. I. B. Lages, R. B. Lages Paciente de 45 anos, solteiro, professor universitário, assintomático, procurou consulta de rotina. À anamnese, referiu realização de exodontia há dez anos e exérese de unha após trauma há 03 anos. Relatou que até cerca de 10 anos atrás frequentava barbeiro que usava gilete única para todos os clientes e negou vacinação para hepatite B, hemotransfusão prévia, acupuntura, tabagismo, uso de drogas ilícitas e promiscuidade sexual. Era etilista (cerca de 350 g de etanol por semana há 20 anos) e hipertenso – controlado com uso de candesartan. Ao exame físico apresentava-se em bom estado geral, sem tatuagens ou piercings, anictérico, com sinais vitais normais, circunferência abdominal de 117 cm e IMC=36,5 Kg/m2. O abdome era globoso, simétrico, sem ascite, e indolor à palpação superficial, e profunda, sem hepatoesplenomegalia palpável. Os exames complementares revelaram glicemia sérica de jejum de 153 mg%; AST: 99U/L; ALT: 165U/L; Gama-GT: 334U/L; atividade de protombina, colesterol, triglicerídeos, eritrograma, plaquetas e perfil tireoidiano sem alterações. A ultrassonografia abdominal mostrou infiltração hepática com esteatose grau III. A pesquisa dos marcadores virais para hepatites virais demonstrou Anti-HVA IgM, AgHbs, Anti-Hbc-IgM e HBeAg não reagentes; Anti-HCV, Anti-HVA IgG, Anti-Hbe e Anti-Hbc IgG reagentes; e Anti-Hbs fraco reagente. Não se detectou DNA Hepatite B na realização de PCR quantitativo. Confirmou-se a positividade do HCV-RNA qualitativo por PCR. O paciente foi orientado a fazer abstenção alcoólica e dieta hipoglicídica e, embora com boa adesão, a glicemia apresentava-se com elevação progressiva e iniciou-se, portanto, metformina 500 mg/dia. Após três meses de seguimento, apresentou normalização da glicemia e GamaGT, bem como discreta queda de transaminases. Fez esquema respondedor de vacina para Hepatite B, com títulos acima de 100 mIU/ml. Submeteu-se também à biópsia hepática guiada por US Abdominal, evidenciando Hepatite Crônica Grau I, estádio II (F=2 – Sistema de METAVIR). A dosagem da carga viral por HCV-RNA Quantitativo foi 536.000UI/MI, Log: 5,73, e a genotipagem da Hepatite C revelou genótipo 3a. Iniciou tratamento com interferon convencional alfa-2a e ribavirina após seis meses de completa abstinência alcoólica, comparecendo com boa adesão às consultas nas semanas 2, 4, 8, 12, 16, 20, 24, 36 e 48, conforme orientado pelo protocolo do Ministério da Saúde. Na semana 4 (resposta virológica rápida –RVP), apresentou HCV-RNA por PCR Qualitativo. Detectável passou a usar o interferon peguilado alfa – 2a, associado à mesma dose de ribavirina a partir do décimo sexto dia devido à falta de estoque na farmácia SUS, continuando com este esquema até a vigésima quarta semana. ALT e AST foram decaindo durante o tratamento, vindo a normalizarem no final do tratamento. Apresentou resultado de HCV RNA por PCR Qualitativo Não-detectável nas semanas 12, 24 e 48, quando recebeu alta com bom estado geral, IMC=29,1 Kg/m2, circunferência abdominal de 78 cm e boa função hepática, mas ainda com sinais de esteatose hepática à ultrassonagrafia abdominal. O paciente aderiu bem ao tratamento, não apresentando nem efeitos adversos sérios nem intolerância. Discussão A infecção crônica pelo vírus da hepatite C (VHC) é hoje um problema de saúde pública em todo o mundo, constituindose em uma das principais causas de doença hepática crônica, cirrose e carcinoma hepatocelular10. Os conhecimentos acerca da infecção pelo vírus da hepatite C então se desenvolvendo constantemente desde a identificação de seu agente etiológico em 19894. A sua transmissão ocorre mais frequentemente por via parenteral, por transfusão ou contato com sangue e seus produtos9. As manifestações das hepatites virais agudas são muito diversificadas, variando desde formas subclínicas ou oligossintomáticas até formas de insuficiência hepática aguda grave. A hepatite crônica é, na maior parte dos casos, assintomática ou oligossintomática. Por vezes, o diagnóstico é feito ocasionalmente, a partir de alterações esporádicas de exames de avaliação de rotina ou de triagem em bancos de sangue. Não existem manifestações clínicas ou padrões de evolução patognomônicos dos diferentes agentes. O diagnóstico etiológico é possível apenas mediante exames sorológicos e/ou de biologia molecular 3. 117 30(3):116-118 Relato de Caso No presente caso, apesar de assintomático, o paciente apresentava elevação de transaminases, a qual poderia ser equivocadamente justificada como distúrbio metabólico secundário à obesidade e ao etilismo. Porém, alguns pontos na anamnese, como uso coletivo de lâmina para barbear por longa data, exodontia há dez anos e exérese de unha há três anos, poderiam levar a uma suspeita de infecção por transmissão parenteral, como o HCV. Esse paciente apresentou anti-HCV positivo. E, além do vírus C, também apresentou anti-Hbc reagente com Anti-Hbs de baixa titulagem, não conferindo perfil de imunidade à hepatite B e, portanto, fazendo necessária a vacinação para este vírus. Tal perfil de anti-Hbc isolado é encontrado em cerca de 10 a 20% e sua interpretação é variável. Quando este anticorpo aparece GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):116-118 Revista GED03 Julho2011-E.indd 117 21.09.11 14:42:26 Tratamento de Hepatite C em portador assintomático com o AgHbs, caracteriza o estado de portador do HBV e, associado ao anti-Hbs, caracteriza o perfil de imunidade ao HBV. Na presença de HBV-DNA, dever-se-ia seguir rotina para HbsaAg positivo. Nos casos de carga viral indetectável e ALT normal, os pacientes podem ser susceptíveis, com anti-Hbc falso-positivo e não respondedores à vacinação, o que ocorre em 5% dos adultos saudáveis. Já naqueles com ALT alterada e HBV-DNA indetectável, como no nosso caso, provavelmente trata-se de falso-positivo do anti-Hbc e o paciente deve ser investigado para outras causas, como, por exemplo, HCV, distúrbios tireoidianos, doença hepática esteatótica não-alcóolica, álcool e uso de medicamentos3,9. O genoma do HCV apresenta alto grau de variabilidade genética, apresentando seis genótipos e vários subtipos, os quais apresentam diferentes respostas ao tratamento e distribuição geográfica distinta. A genotipagem é fundamental na estratégia terapêutica da hepatite C crônica. No Brasil, estudos têm mostrado o genótipo 1 como o mais prevalente, seguido pelo genótipo3,11,12. 30(3):116-118 118 O teste qualitativo – HCV RNA é solicitado para confirmar viremia pelo HCV. A quantificação da carga viral é empregada no contexto do tratamento como preditor de resposta e monitoramento da eficácia terapêutica, embora não exerça impacto prognóstico. No Brasil, é recomendado o uso de INF convencional e ribavirina por 24 semanas para portadores dos genótipos 2 e 3, e Peg-INF com ribavirina por 48 semanas para portadores do genótipo 1, conforme as portarias do Ministério da Saúde nº 863, de 4 de novembro de 2002, e nº 43, de 28 de setembro de 2007, embora atualmente, independentemente do genótipo, o padrão-ouro para o tratamento dessa infecção seja a combinação de Peg-INF e ribavirina9. Este paciente apresentou HCV RNA detectável na 4ª semana (RVR – Resposta Virológica Rápida), o que seria um forte indicador de não-resposta ao tratamento, e passou a usar o Peg-INF com ribavirina a partir do 16º dia de tratamento, vindo a manter níveis indetectáveis entre a 12ª e a 24ª semanas de tratamento, assim como seis meses após o fim do tratamento. Atualmente, espera-se a RVS (Resposta Virológica Sustentada) de 75 a 80 % para os genótipos 2 ou 3 e de 40 a 50 % para o genótipo 19. Uma das melhores formas de ajudar ao paciente que foi diagnosticado hepatite C crônica é ensinar-lhe sobre a doença, quais as formas de contaminação, prevenção e, principalmente, que há tratamento eficaz. É muito importante orientá-lo a deixar o hábito do consumo de bebida e outras substâncias, iniciar a prática de exercícios regulares, adotar uma dieta saudável e buscar maneiras de diminuir o estresse da vida diária, encorajando-o a permanecer no tratamento prescrito13-15. Conclusão A infecção pela hepatite C é uma endemia silenciosa que pode ser curada desde que instituído o diagnóstico de forma hábil, com indicação criteriosa do tratamento, obedecendo aos critérios de inclusão, de exclusão, realizando o monitoramento clínico e avaliação da resposta durante o tratamento, utilizando medidas para aumentar a aderência e fazendo da melhor forma para minimizar os eventos adversos. No caso descrito, o diagnóstico precoce, a boa condição clínica e a adesão do paciente ao tratamento possibilitaram a resposta virológica sustentada, favorecendo a erradicação do vírus. Referências 1. Zocrato KBF, Caiaffa WT, Proietti FA, Carneiro-Proietti AB, Mingoti AS, Ribeiro GJC et al. HCV and HIV infection and co-infection: injecting drug use and sexual behavior, AJUDE-Brasil I Project. Cad Saúde Pública. 2006; 22(4):839-48. 2. Foccacia R. Sette H, et al. Estimated Prevalence of Viral Hepatitis in the General Population of the Municipality of São Paulo, Measured by a Serologic Survey of a Stratified, Randomized and Residence-based Population. BJID 1998; 2 (6): 269-84. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Hepatites virais: o Brasil está atento / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – 3. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2008. 4. Strauss E. Hepatite C. Rev Soc Bras Med Trop. 2001; 34(1):69-82. 5. Lauer G and Walker B. Medical Progress: Hepatitis C Virus Infection. The New England Journal of Medicine. 2001, 345: 41-50. 6. Brandão AB, Fuchs SC. Risk factors for hepatitis C virus infection among blood donors in southern Brazil: a case-control study. BMC Gastroenterol. 2002; 2:18. 7. Moreira R, Pinto JRR, Fares J, Oba IT, Cardoso MR, Saraceni CP, Granato C. Prospective study of hepatitis C virus infection in hemodialysis patients by monthly analysis of HCV RNA and antibodies. Can J Microbiol. 2003; 49:503-7. 8. Schneeberger PM, Keur I, van der Vliet W, van Hoek K, Boswijk H, van Loon AM, van Dijk WC, Kauffmann RH, Quint W, van Doorn LJ. Hepatitis C virus infections in dialysis centers in The Netherlands: a national survey by serological and molecular methods. J Clin Microbiol. 1998;36:1711-5. 9. Ferraz MLG, Schiavon JLN, Silva AEB. Guia de hepatologia: guia de medicina ambulatorial e hospitalar. 2 ed. 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Report of a WHO Consultation organized in collaboration with the Viral Hepatitis Prevention Board, Antwerp, Belgium. Journal of Viral Hepatitis 1999; 6: 35-47. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):116-118 Revista GED03 Julho2011-E.indd 118 21.09.11 14:42:26 Relato de Caso Glândulas sebáceas ectópicas no esôfago Ectopic sebaceous glands in the esophagus Fábio Yuji Hondo 1, Isabela Cecílio Sahium 2, Evandro Sobroza de Mello 3, Ricardo Sato Uemura 1, Gabriel Izar Domingues da Costa 2, Bruno da Costa Martins1 Sônia Nádia Fylyk 1, Paulo Sakai 1, Shinichi Ishioka 1 Resumo como resultado de processos metaplásicos e aqueles que o consideram como anomalia congênita. Unitermos: Esôfago, Glândulas Sebáceas, Ectopia. Summary The rare endoscopic finding of ectopic sebaceous glands in the esophagus of a male patient, 67 years old, without symptoms is described. The presence of sebaceous glands, wich are of ectodermal origin, in the esophagus is intriguing since the esophageal stratified epithelium is originated from endodermal cells. Relato de Caso Trata-se de um paciente de 67 anos, masculino, branco, natural e procedente de São Paulo, assintomático, submetido à endoscopia digestiva alta para controle de gastrite e úlcera péptica e em uso contínuo de inibidores de bomba de prótons. O exame endoscópico revelou mucosa esofágica espessada e nacarada associada a múltiplas lesões nodulares branco-amareladas, elevadas, medindo entre 1 e 3 mm, algumas confluentes e distribuídas por toda a extensão do órgão, mais intensamente no seu terço distal. O diagnóstico endoscópico foi esofagite inespecífica, tendo sido efetuadas biópsias (Figuras 1 e 2). Identificou-se ainda gastrite enantemática leve antral. 119 30(3):119-120 Este é um caso raro de ectopia de glândulas sebáceas no esôfago em um paciente do sexo masculino de 67 anos, assintomático submetido à endoscopia digestiva alta. O achado destas glândulas no esôfago se torna interessante pela origem conflitante entre as glândulas sebáceas, de origem ectodérmica, e o epitélio estratificado esofágico, de origem endodérmica. Figuras 1 e 2 – Aspecto endoscópico do esôfago distal com lesões em placas elevadas, confluentes e circunferenciais de coloração amarelada Keywords: Esophagus, Sebaceous Glands, Ectopic. Introdução A doença de Fordyce1, descrita originalmente como a presença de glândulas sebáceas ectópicas em lábios e cavidade oral, tem sido observada em outras localizações como olhos, mãos, pés, genitália externa e glândulas parótidas 2. Todos estes órgãos, assim como as glândulas sebáceas, originam-se do ectoderma, portanto a presença das glândulas sebáceas no esôfago é uma alteração peculiar e intrigante por aparecer em tecido de origem endodérmica, e rara, havendo menos de 30 casos descritos na literatura 3,4. A gênese ainda é incerta e as teorias se dividem entre as que consideram o fenômeno Os achados histopatológicos demonstraram mucosa esofágica com focos de glândulas sebáceas maduras, além de moderada hipercromasia da camada basal e alongamento de papilas, com áreas de moderada exocitose de células inflamatórias, predominantemente linfócitos e, por vezes, com alguns neutrófilos, sem participação significativa de eosinófilos, aspectos demonstrados com coloração pela hema- 1. Médico do Centro de Endoscopia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. 2. Estagiário do Centro de Endoscopia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. 3. Médico Patologista do CICAP - Centro Imunohistoquímica Citopatologia Anátomo Patológico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Endereço para correspondência: R. Panamericana, 64 - São Paulo – SP – CEP 04303-170 - e-mail: [email protected]. Recebido em: 18/04/2011. Aprovado em: 02/05/2011. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):119-120 Revista GED03 Julho2011-E.indd 119 21.09.11 14:42:27 Glândulas sebáceas ectópicas no esôfago toxilina-eosina (H&E) (Figura 3). A imuno-histoquímica mostrou intensa positividade para citoqueratina AE1/AE3 e negatividade para fungos e citomegalovírus (Figura 4). Figura 3 - Coloração H&E das glândulas sebáceas em esôfago 30(3):119-120 120 Figura 4 - Imuno-histoquímica demonstrando positividade para citoqueratina AE1/AE3 Numa análise retrospectiva dos exames deste paciente nos últimos cinco anos, os achados endoscópicos descritos foram semelhantes aos atuais, entretanto os diagnósticos histológicos foram distintos (acantose, paraqueratose, papilomatose) e em apenas um o diagnóstico apresentou-se concordante com o atual. A confirmação diagnóstica foi definida pela realização da imuno-histoquímica, confirmando a presença da queratina e afastando a possibilidade de infecção viral ou fúngica. Discussão Em 1962, De La Pava e Pickren 5, em uma série de 200 cadáveres, observaram a presença de glândulas sebáceas no epitélio estratificado do esôfago em quatro deles. O aspecto endoscópico apresenta-se como pápulas ou nódulos amarelados, medindo entre 1 a 20 mm, variando em número de um a mais de 100, distribuídos em toda extensão do órgão6. Neste caso, as características endoscópicas se assemelham aos descritos, predominando no terço distal esofágico. Estudos sugerem três teorias para a origem das glândulas sebáceas no esôfago: erro embrionário congênito, metaplasia adquirida de glândulas da submucosa, ou metaplasia das células basais do esôfago secundária ao refluxo gastroesofágico. Porém, neste caso, não foi possível definir a etiologia das glândulas. O que podemos afirmar é que certamente trata-se de glândulas sebáceas dada a positividade da citoqueratina AE1/AE2. Não há até o momento nenhum relato de complicações relacionadas a esta condição, nem mesmo a associação com tumores malignos. Em seguimento endoscópico após 8 meses a 5 anos, Kumagai et al.7, não demonstraram nenhuma variação significativa do número ou tamanho das lesões assim como neste caso. Conclusão As glândulas sebáceas ectópicas no esôfago são achados raros de exames endoscópicos, podendo estar associados à doença do refluxo gastroesofágico. É importante o diagnóstico diferencial com outras afecções como a acantose, monilíase associada à diverticulose intramural, papilomatose e esofagite eosinofílica, principalmente naqueles casos com microabscessos e algumas manifestações do refluxo gastroesofágico. A realização de biópsias e o correspondente exame anatomopatológico, com coloração pela HE e complementação com imuno-histoquímica, é essencial para o diagnóstico definitivo desta afecção. Não há tratamento específico proposto na literatura e tampouco consenso quanto à necessidade e periodicidade de seguimento destas lesões. Referências 1. F ordyce JA. Peculiar affection of the mucous membrane of the lips and oral cavity. J Cutan Dis. 1896; 14: 213-9.. 2. Guiducci AA, Pryman AB. Ectopic sebaceous glands: a review of literature regarding their occurrence, histology and embryological relationships. Dermatologica 1962; 125: 44-63. 3. Hoshika K, Inoue S, Mizuno M, Iida M, Shimizu M. Endoscopic detection of ectopic multiple minute sebaceous glands in the oesophagus, report of a case and review of the literature. Dig Dis Sci 1995; 40: 287-90. 4. Wei JF, Chang CC, Fang CL, et al Education and imaging. Gastrointestinal: ectopic sebaceous glands in the oesophagus. J Gastroenterol Hepatol. 2008; 23: 338. 5. De La Pava S, Pickren JW. Ectopic sebaceous glands in the oesophagus. Arch Pathol. 1962; 73: 397-399. 6. Bertoni G, Sassatelli R, Nigrisoli E, Conigliaro R, Bedogni G. Ectopic sebaceous glands in the oesophagus: Report of three new cases and review of literature. Am. J. Gastroenterol. 1994; 89: 1884-1887. 7. Kumagai Y, Makuuchi H, Ohmori T, Mukai m. Four cases of ectopic sebaceous glands confirmed endoscopically in the oesophagus. Dig Endosc. 1993; 5: 238-44. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):119-120 Revista GED03 Julho2011-E.indd 120 21.09.11 14:42:29 Resumos Comentados N esta edição são comentados os resumos dos trabalhos vencedores do Prêmio Jovem Gastro - versão 2010 e aproveitamos a oportunidade para convocar os candidatos ao Prêmio Jovem Gastro - versão 2011, cujo regulamento se encontra no site da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). O Prêmio Jovem Gastro é uma iniciativa da FBG, cujo objetivo é de aproximar, congregar e estimular os jovens iniciantes da especialidade. Serão aceitos relatos de casos clínicos cujo primeiro autor seja médico que esteja sob treinamento, ou tenha concluído estágio ou residência médica nos últimos 3 anos na área de Gastroenterologia, incluindo Cirurgia do Aparelho Digestivo e Gastropediatria. Outras informações e inscrição on-line no site www.fbg.org.br. Jovens Gastroenterologistas, inscrevam-se! Paulo Roberto Arruda Alves Editor Chefe Revista GED Estudo epidemiológico, clínico e molecular do vírus da hepatite B na cidade de Chapecó, Oeste de Santa Catarina Maria Luiza da Nova, Paulo Dominguez Nasser, Helena Scavone Paschoale, Marcelo Moreira Tavares de Souza, Camila da Silva Ferreira, Flair José Carrilho, Suzane Kioko Ono-Nita / Departamento de Gastroenterologia Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Introdução: A hepatite B é uma das doenças infecciosas mais prevalentes no mundo, controlada em países onde a vacinação foi implantada, porém permanece alta em populações de risco e em países onde a transmissão vertical e horizontal intradomiciliar ainda persiste. O estado de Santa Catarina é considerado hoje uma região de alta endemicidade para o VHB, tem uma prevalência estimada de AgHBs em doadores de sangue de 1,14%, o que é consideravelmente maior do que aquela estimada para o Brasil (0,61%). Em Chapecó, oeste de Santa Catarina, a prevalência do AgHBs em doadores de sangue foi de 3,2% em 1999, 1,63% em 2000 e 1,54% em 2001, significativamente maior do que em outras cidades do Estado. Objetivos: Estudar os portadores de hepatite B crônica no município de Chapecó, a fim de possibilitar o conhecimento das características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais do vírus nesta região de alta endemicidade. Métodos: Estudou-se dois grupos de portadores de hepatite B crônica naquela região. O primeiro grupo (Grupo A) foi composto pelos casos notificados no ano de 1996 e o segundo grupo (Grupo B) foi composto pelos casos notificados no ano de 2006. Resultados: Dos 352 pacientes notificados nos anos de 1996 e 2006 como portadores de hepatite B crônica no município de Chapecó, 150 pacientes foram elegíveis após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. A média de idade na época da notificação do grupo A foi de 29,9 anos (± 10,3) e do grupo B foi de 34,9 anos (± 11,9). O principal meio de diagnóstico foi após doação de sangue, sendo 53,6% de pacientes no grupo A e 34,8% de pacientes no grupo B. A maioria nasceu na região oeste de Santa Catarina, sendo a cidade de Chapecó a mais frequente. Seus familiares são naturais, em sua maioria, do Estado do Rio Grande do Sul, sendo que 96,4% dos pacientes do grupo A e 86,4% do grupo B apresentavam AgHBe negativo. A maioria dos pacientes nos dois períodos estudados apresentava valores de ALT até 2x o LSN, sendo que 60,2% dos pacientes AgHBe negativos do grupo A apresentavam carga viral ≤ 2.000 UI/mL, enquanto no grupo B 78,3% apresentavam carga viral > 2.000 UI/mL. Todos os 105 pacientes que tiveram o VHB genotipado apresentaram VHB genótipo D. Conclusões: A maioria dos pacientes é natural do oeste de Santa Catarina e seus familiares do estado do Rio Grande do Sul e Região do Mediterrâneo. Aminotransferases próximas aos limites da normalidade, AgHBe negativo e VHB genótipo D caracterizam os portadores de hepatite B crônica nesta região. A maioria dos pacientes do grupo A apresentou carga viral ≤ 2.000 UI/mL e no grupo B carga viral > 2.000 UI/mL. 121 30(3):121-122 Resumos Análise do impacto da vacinação contra hepatite B no número de casos confirmados no Brasil durante o período de 1996 a 2009 Tiago Nunes Santos, Luciano Freiberger, Julia Cardoso Vaz Dias, José Murilo Robilota Zeitune, Elza Cotrim Soares/ Hospital Universitário – Unicamp A hepatite B é um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de dois bilhões de pessoas já tiveram contato com o vírus da hepatite B (VHB), dos quais 350 milhões estão cronicamente infectados. No Brasil, estima-se que, pelo menos, 15% da população já teve contato com o VHB e que 1% dela apresenta formas crônicas. Subdivide-se o Brasil de acordo com a endemicidade. O VHB é transmitido por via percutânea ou por exposição de mucosas a sangue ou líquidos biológicos altamente infectantes. Desde 1998, o Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde, recomenda a vacinação universal das crianças contra hepatite B em menores de um ano. A partir de 2001, a faixa etária alvo foi GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):121-122 Revista GED03 Julho2011-E.indd 121 21.09.11 14:42:29 Resumos Comentados 30(3):121-122 122 ampliada até os 19 anos. Atualmente, indica-se imunização também para os adultos pertencentes aos grupos de risco. O objetivo deste trabalho é avaliar o impacto da vacina contra hepatite B no número de casos confirmados após o início do programa brasileiro de imunização. Foi analisado o número de casos confirmados de hepatite B através da detecção de marcadores sorológicos, incluindo formas agudas e crônicas, durante o período de 1996 a 2009, calculando-se a incidência anual dos casos confirmados por 100.000 habitantes em cada região brasileira, na população total, nas faixas etárias de zero a 19 anos e em menores de um ano. Posteriormente, avaliou-se a cobertura da vacina contra hepatite B durante o mesmo período em questão. Observou-se um aumento crescente e expressivo do número de casos confirmados ao longo dos anos. Foi evidenciada tendência de queda do número de casos confirmados de hepatite B nas regiões sul, sudeste, centro-oeste e nordeste quando analisou-se a população com idade de zero a 19 anos. Na faixa etária de menores de um ano, notou-se também tendência de queda nas regiões centro-oeste, sul e nordeste. Foi verificado um aumento significativo da cobertura vacinal referente à população-alvo a partir de 1998. É possível que o tempo decorrente entre a vacinação e a análise dos dados não permitiu ainda queda expressiva do número de pacientes com hepatite B. Comentários O intuito do Prêmio Jovem Gastro, em sua primeira edição, foi abrir espaço para gerar interesse e conhecimento sobre aspectos epidemiológicos regionais de doenças gastroenterológicas no Brasil1. É comum que se citem sempre dados estatísticos do hemisfério norte, que são os que estão amplamente disponíveis em todos os meios de comunicação científicos mais confiáveis. Porém, como bem mencionado pelo Professor Eamonn Quigley, ex-presidente da Organização Mundial de Gastroenterologia (OMG), nesta cerimônia de premiação, é fundamental conhecer o que acontece no restante do planeta2. Sem dúvida, cabe aos pesquisadores brasileiros revelar o que ocorre em cada meandro deste país, suas particularidades demográficas, genéticas e ambientais encontradas. Curiosamente, os dois trabalhos premiados trataram da hepatite B, questão mundial de saúde pública. A vacina para hepatite B passou a ser oferecida pelo SUS desde a década de 1990, inicialmente apenas na Região Norte, área endêmica e habitada por populações mais vulneráveis. Gradativamente, o programa de vacinação estendeu atendimento para todas as crianças recém-nascidas até adolescentes. Instituiu-se que o dia 28 de Julho é o Dia Mundial do Combate a Hepatites Virais, e a mídia frequentemente informa ações no sentido de ampliar compra de vacinas e de medicações para tratamento da hepatite B compradas. 3 O trabalho de Santos e cols. analisa o impacto deste programa de vacinação para a hepatite B, tendo obtido números oficiais do Ministério da Saúde e da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), a saber, indicadores de dados básicos do DATASUS, do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Os autores enfatizam a tendência de queda do número de casos confirmados de hepatite B nas crianças e jovens de todo o país, exceto da região norte. Esse perfil é inversamente proporcional à crescente curva da cobertura vacinal, embora reconheçam que o período seja escasso para conclusões claras. A confiabilidade destes números, porém, esbarra em questões primárias, a começar da frequência com que os casos são notificados. Quantos médicos, mesmo os que atuam no serviço público na área de hepatologia, encontram condições de realizar a notificação de casos novos adequadamente? Como se assegura que o extenso formulário preenchido manualmente chega até as vias burocráticas finais, e de fato alimenta os números do SINAN? As tendências positivas reveladas por Santos e cols. deverão estimular os médicos a orientar os pacientes não vacinados durante suas consultas por quaisquer outras razões. Os números descritos de portadores crônicos neste trabalho dão respaldo para o Programa Nacional de Hepatites Virais (PNHV) que permite fornecimento gratuito dos antivirais indicados para o tratamento da hepatite B. Mas o mérito deste levantamento também é trazer à tona a questão do empenho ainda faltante para a confiabilidade e eficácia dos registros estatísticos brasileiros. Já o trabalho de Da Nova e cols. arrebatou o primeiro lugar com sua minuciosa caracterização da hepatite crônica pelo VHB em uma população específica. O levantamento realizado caso-a-caso demandou pesquisa de registros in loco, até mesmo ligações telefônicas e encontros presenciais e envolveu estudo das rotas de migração na colonização da região. Mais ainda, os autores aprofundaram seu levantamento epidemiológico valendo-se de sofisticadas técnicas de biologia molecular. Como resultado, e na contramão dos dados mais alarmantes e ameaçadores a respeito da evolução da hepatite crônica B, os autores surpreendem ao revelar cargas virais reduzidas, sobrevida e taxa de complicações que traduzem tolerância dos hospedeiros no convívio com o VHB. Longe de minimizar a relevância do PNHV, estes resultados devem despertar nos jovens pesquisadores o desejo de compreender os motivos que permitem a essa população melhor tolerância à infecção crônica pelo VHB 3. Marta Mitiko Deguti Coordenadora do Projeto Jovem Gastro FBG - Gestão 2008/2010 José Murilo Robilota Zeitune Editor da Área de Gastroenterologia – Revista GED Referências 1. P rêmio Jovem Gastro www.jovemgastro.com.br 2. World Gastroenterology Organization. 3. Ministério da Saúde do Brasil. Ministério da Saúde. Profissional e Gestor. Hepatites. http:// portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1523 GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):121-122 Revista GED03 Julho2011-E.indd 122 21.09.11 14:42:29 Imagem em Foco Responsável: Eduardo Guimarães Hourneaux de Moura (e-mail: [email protected]) Gastrite Atrófica Gastritis Atrophic Carolina Vieira de Faria, Ângelo Gualberto de Macedo, Antonio Carlos de Faria, Luiz Carlos Bertges S anta C asa de M isericórdia de P iumbi – F aculdade de C iências M édicas e da S aúde de J uiz de F ora – MG Comentários 123 30(3):123-124 A gastrite atrófica é uma afecção gástrica relativamente frequente, principalmente na população acima dos 60 anos, e se caracteriza por um adelgaçamento da parede gástrica (especialmente da mucosa) que cursa com redução na secreção ácida. A atrofia gástrica é uma causa frequente de anemia por redução na produção de fator intrínseco, o que diminui a absorção de vitamina B12. Além disso, ela pode evoluir para neoplasia gástrica conforme proposto por Pelayo-Correa: infecção pelo H. pylori – gastrite atrófica – metaplasia intestinal – câncer gástrico (adenocarcinoma gástrico tipo intestinal de Lauren). Endoscopicamente, a gastrite atrófica se caracteriza por redução do pregueado gástrico e visualização dos vasos sanguíneos submucosos por transparência. A cromoscopia com vermelho congo é um método rápido, de fácil interpretação e baixo custo, que pode auxiliar no diagnóstico de gastrite atrófica. Trata-se de um corante que tem originalmente cor vermelha, mas que se torna negro em meio ácido. Desta forma, a mucosa secretora de ácido fica revestida por corante enegrecido, enquanto a não- secretora por corante vermelho. Descrição do Caso Clínico Paciente do sexo feminino, sexagenária, apresentando dispepsia crônica e anemia. Usa medicação antihipertensiva (IECA). Exame físico nada digno de nota, exceto mucosas ligeiramente hipocoradas (Hb: 10,2). Abdome livre à palpação. Submetida à EDA para se tentar diagnosticar a causa da anemia. Durante EDA se observou adelgaçamento difuso da mucosa gástrica, com ilhas de tecido gástrico preservado, ao nível do corpo gástrico (foto 1). Endereço para correspondência: e-mail: [email protected]. Recebido em: 24/08/2010 . Aprovação em: 29/08/2010. GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):123-124 Revista GED03 Julho2011-E.indd 123 21.09.11 14:42:29 Gastrite Atrófica Feito cromoscopia com vermelho congo revelando que as ilhas de tecido preservado eram secretoras de ácido (foto 2). O teste da urease foi negativo. Resultado da histopatologia. Antro: mucosa antral apresentando epitélio foveolar com depleção dos depósitos de muco e atipias degenerativas/regenerativas moderadas. Pesquisa de HP negativa. Corpo: mucosa oxíntica apresentando epitélio foveolar, com depleção dos depósitos de muco e atipias degenerativas/regenerativas moderadas. Há áreas com rarefação glandular e metaplasia intestinal moderada /acentuada, do tipo completa. Pesquisa de HP negativa. Corpo - ilhas: mucosa oxíntica apresentando epitélio foveolar, com depleção dos depósitos de muco e atipias degenerativas/regenerativas moderadas. Pesquisa de HP negativa. A paciente está sendo tratada com ácido fólico (oral) e vitamina B12 (parenteral) com boa resposta clínica. Proposto tratamento clínico e acompanhamento endoscópico a cada 2 a 3 anos para avaliação da gastrite atrófica. FOTO 1 30(3):123-124 124 FOTO 2 GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(3):123-124 Revista GED03 Julho2011-E.indd 124 21.09.11 14:42:31 125 Revista GED03 Julho2011-E.indd 125 21.09.11 14:42:33 A 2 d R a l 5 e U f a t o a C c a e e p c P e e o I c R d d d d n s p M Revista GED03 Julho2011-E.indd 126 21.09.11 14:42:38 Reduz a colestase1-6 Apresentações: caixas contendo 20 comprimidos de 50, 150 e 300 mg de ácido ursodesoxicólico Referências Bibliográficas: 1. Hirschfield GM et al. Reviews in basic and clinical gastroenterology and hepatology. Gastroenterology. 2010; 139:1481-1496. 2. Trauner M & Graziadei IW. Review article: mechanisms of action and therapeutic applications of ursodeoxycholic acid in chronic liver diseases. Aliment Pharmacol Ther. 1999; 13(8):979-96. 3. Van Erpecum KJ et al. Rationale for therapy with ursodeoxycholic acid in patients with cholestatic liver disease. Neth J Med. 1993;43(5-6):233-8. 4. Palma J et al. Ursodeoxycholic acid in the treatment of cholestasis of pregnancy: a randomized, double blind study controlled with placebo. J. Hepatology. 1997; 27: 1022-1028. 5. Podda M et al. Effects of ursodeoxycholic acid and taurine on serum liver enzymes and bile acids in chronic hepatitis. Gastroenterology. 1990; 98(4): 1044-1050. 6. Attili AF et al. The effect of ursodeoxycholic acid on serum enzymes and liver histology in patients with chronic active hepatitis. A 12-month double-blind, placebo-controlled trial. J Hepatology. 1994;20:315-320. Ursacol®, ácido ursodesoxicólico. Comprimido simples 50, 150 e 300 mg, embalagens com 20 comprimidos. Uso oral - Uso adulto. Indicações: dissolução dos cálculos biliares, formados por colesterol que apresentam litíase por cálculos não radiopacos, com diâmetro inferior a 1 cm, em vesícula funcionante ou no canal colédoco; para pacientes que recusaram a intervenção cirúrgica ou apresentam contraindicações para a mesma; em casos de supersaturação biliar de colesterol na análise da bile colhida por cateterismo duodenal. Cirrose biliar: tratamento da forma sintomática da cirrose biliar primária; alterações qualitativas e quantitativas da bile; colecistopatia calculosa em vesícula biliar funcionante; litíase residual do colédoco ou recidivas após intervenção sobre as vias biliares; síndrome dispéptico-dolorosas das colecistopatias com ou sem cálculos e pós-colecistectomia; discinesias das vias biliares e síndrome associada; alterações lipêmicas por aumento do colesterol e/ou triglicérides; terapêutica coadjuvante da litotripsia extracorpórea. Contraindicações: icterícia obstrutiva e hepatites agudas graves; colecistite, cólicas biliares frequentes, úlcera gastroduodenal em fase ativa; alterações hepáticas e intestinais que interferem com a circulação entero-hepática dos ácidos biliares; insuficiência renal grave; pacientes em estado terminal de cirrose biliar primária. É contraindicado em processos inflamatórios do intestino delgado ou do intestino grosso e em caso de hipersensibilidade aos componentes da fórmula. Precauções e advertências: - Gerais: os cálculos radiotransparentes, que melhor respondem ao tratamento litolítico, são aqueles pequenos e múltiplos em vesícula biliar funcionante; um eventual controle da composição biliar, para verificar a saturação em colesterol, representa importante elemento de previsão para um êxito favorável do tratamento. - Gravidez e/ou lactação: este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica. Informe imediatamente seu médico em caso de suspeita de gravidez. Não há estudos que confirmem ou não a eliminação através do leite materno e, portanto, não é recomendado a mulheres que estejam amamentando. Interações medicamentosas: com antiácidos à base de alumínio, colestiramina, clofibrato e neomicina. Reações adversas: diarreia, dores estomacais, náusea a vômito, constipação intestinal, dor de cabeça, indigestão ou gosto metálico na boca. Posologia e administração: a dose diária deve ser administrada em 2 ou 3 vezes ao dia, após as refeições. Metade da dose diária poderá ser administrada após o jantar. A ingestão antes de deitar aumenta a eficácia do medicamento. - Dissolução de cálculos biliares: 5 a 10 mg/kg de peso corporal, dividida em duas ou três tomadas, por períodos de 4 a 6 meses, pelo menos, podendo chegar a 12 meses. - Sintomas dispépticos: geralmente são suficientes doses de 50 mg três vezes ao dia, ou 150 mg duas vezes ao dia. - Cirrose biliar primária estágio I a III: 12 a 15 mg/kg/dia, dividida em duas a quatro doses, por um período de 9 meses a 2 anos de tratamento. - Cirrose biliar primária estágio IV com bilirrubinemia normal: 12 a 15 mg/kg/dia, dividida em duas a quatro doses, por um período de 9 meses a 2 anos de tratamento, devendo ser realizado controle periódico da função hepática. - Cirrose biliar primária estágio IV com bilirrubinemia elevada: 6 a 8 mg/kg/dia (metade da normal), dividida em duas a quatro doses. - Terapia coadjuvante de litotripsia extracorpórea: 8 mg/kg/dia, associada a 7 mg/kg/dia de ácido ursodesoxicólico, por um período de tratamento que se inicia 2 a 3 semanas antes da intervenção até 1 mês após o procedimento. Não é necessária a redução posológica na insuficiência renal, uma vez que o ácido ursodesoxicólico é excretado predominantemente pela bile e somente uma quantidade muito pequena pela urina. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. Registro MS.: 1.0084.0067. A PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Revista GED03 Julho2011-E.indd 127 21.09.11 14:42:44 Líder em receituário6* 7 Dias de Tratamento tríplice: Para eliminação H pylorii 11,22 do H.pylori 14 ou 28 dias de tratamento adicional com lansoprazol: Para eliminação do H.pylori e cicatrização da úlcera 11,33 Retratamento: Coom dose única díária Com de levofloxacino pela manhã4,5 1-5 *Pyloripac® IBP Referências: 1. Bula do produto. MS.: 1.0181 811.031 031 319. 2.2 Lim AG 319 AG, Walker CC, Chambers S,S Gould SR. SR Helicobacter pylori eradication eradicati using a 7-day regimen i off low-dose l d clarithromycin, l ith i lansoprazole l and amoxycillin. Aliment Phama macol Ther. 1997; 11(3): 537-40. 3. Higuchi K, et al. Is eradiccatation sufficient to heal gastric ulcers in patients infected with Helicobacter pylori? A radomized, controlled, prospective study. Aliment Pharmacol Ther. 2003; 17(1): 111-7. 4. Bula do produto Registro no M.S.: 1.0181.0579. 5. Saad RJ, Scho hoen e feld P, Kim HM, Chey WD. Levofloxacin-based triple therapy versus bismuth-based quadruple therapy for persistent Helicobacter pylori infection: a meta-analysis. Am J Gaststroenterol. 2006; 101(3): 488-96. 6. Dados CloseUp - Classssee A0 A 2B2 - Maio/2011. ® ® ® ® PyloriPac y - PyloriPac y IBP - lannso sopprazol 30 mgg + claritromicina 500 mgg + amoxicilina 500 mg.g Apresentações: p ç PyloriPac y : caixas com 7 cartelas do esquema q tríplice. p PyloriPac y IBP: caixa co c m 7 cartelas do esquema tríplice + 14 oouu 28 cápsulas de lansoprazol. p Indicações: ç alívio dos sintomas dispépticos p p relacionados à infecção ç por Helicobacter pyloriri e sua erradicação; pacientes com úlceras atativas ou história de úúlclcereraa há uumm an anoo. Co Conntraindicações: ç ppacientes com história de reação ç alérgica g às penicilinas, p , hipersensibilidade p aos componentes p da fórmula, à eritromicina, a ou outros macrolídeos; distúrúbios eletrolíticos, pproblemas cardíacos; ppacientes em tratamento com terfenadina. Precauções ç e Advertências: não abrir ou mastigar g as cápsulas; p cautela em ppacientes idosos, com disfuunçção hepática p e/ou insuficiência renal moderada ou grave; possibilidade de resistência cruzada com outros macrolídeos; pode ocorrer anafilaxia, principalmente em histórias de hipersensibilidade às ppenicilinas,, às cefalosporinas, p , não existem estudos adequados durante a gestação humana; a amoxicilina é excretada no leite materno. Interações medicamentosas: lansoprazol: teofilina, sucralfato, fármacos que deependam do pH ggástrico;; claritromicina: teofilina, carbamazepina, p digoxina, g cisaprida, p pprimozida,terfenadina, astemizol, zidovudina; amoxicilina: pprobenecida, antibacterianos bacteriostáticos, alopurinol p l, digoxina, g contraceptivos p orais. Reações ç adversas: diarreia, cefaleia, tontura, náusea, constipação, p ç epigastralgia, p g g vômito, paladar p alterado, elevação ç transitória de enzimas hepáticas p incluindo aumento de enzimas hep epá páticas, hepatite p colestática e/ou hepatocelular, p com ou sem icterícia, glossite, g estomatite e monilíase oral, reações ç alérgicas, g desde urticária e erupções pç cutâneas leves, até anafilaxia e síndrome de Stevens-Johnson, co colite pseudomembranosa, p anemia, trombocitopenia, p púrpura p p trombocitopênica, p eosinofilia, leucopenia p e agranulocitose. g Posologia: g Pyloripac y p ®: 1 cápsula p de lansoprazol p 30 mg,g 1 comprimido p de claritromicinaa 50 500 mgg e 2 cápsulas p de ® amoxicilina 500 mg,g ingeridos g à cada 12 horas, em jjejum, j durante 7, 10 ou 14 dias. Pyloripac y p IBP: 1 cápsula p de lansoprazol p 30 mg,g uma vez ao dia, de 1 a 2 semanas. Após p o uso de lannsoprazol, p iniciar o esquema q tríplice p ingeridos g a cada 12 horas, em jjejum, j durante 7 dias. Pode-se também utilizar 1 cápsula psula ula de lansoprazol lansop azol 30 mg,g, pporr 1 a 2 semanas e após pós o esquema e quema de eliminação elimin ção do H. pylyloroorii, para p complementação p ç do ttratamento ata e to e cicatrização c cat aç açãoo da úlcera ú ce a péptica. ppéptp ca Registro egg st o no M.S.: 1.0181.0319. USO ADULTO. VENDA SOB PRESCRIÇÃO Ç MÉDICA - SÓ PODE SER VENDIDO COM RETENÇÃO Ç DA RE RECEITA. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. PyloriPac® y Retrat - lansoprazol p 30 mgg + levofloxacino 500 mgg + amoxicilina 500 mg.g Apresentações: p ç 10 blísters com 2 cáp ápsulas p de lansoprazol p 30 mg,g 1 comprimido revestido de levofloxacino 500 mgg e 4 cápsulas p de amoxicilina 500 mgg em cada blíster. Indicações: ç Retratamento para eliminação da bactéria H. pyloriri associada a úlclceras gástricas ou duodenais ativas ou cicatrizadas. Contraindicações: ç ppacientes com história de reação ç alérgica g às ppenicilinas,, hipersensibilidade p ao lansoprazol, p levofloxacino, a oututrras quinolonas q ou a quaisquer q q outros componentes p da fórmula, pacientes p com epilepsia, p p com problemas p no tendão, crianças ç ou adolescentes; durante a ggravidez; mulheres lactantes. Precauções ç e Advertênc nciaias: não abrir ou mastigar g as cápsulas; p cautela em pacientes idosos, com disfunção hepática e/ou insuficiência renal moderada ou grave; há risco de tendinite; pode ocorrer anafilaxia, principalmente em hiiststóórias de hipersensibilidade às ppenicilinas,, às cefalosporinas, p , não existem estudos adequados durante a gestação humana; a amoxicilina é excretada no leite materno. Interações medicamentosas: lansoprpraazol: teofilina, sucralfato, fármacos que dependam p do pH p ggástrico;; levofloxacino: antiácido contendo magnésio g ou alumínio, sucralfato, teofilina, fenbufeno, probenecida, p cimetidina, ciclosporina p na, va varfarina; amoxicilina: probenecida, p antibacterianos bacteriostáticos, alopurinol, p digoxina, g contraceptivos p orais. Reações ç adversas: lansoprazol p l: diarreia, cefaleia, tontura, náusea, constipação, p ç epigastralgia, p g g flatutulêlênncia, mal-estar; levofloxacinoo: náusea, diarreia, prurido, p eerupção upção ç cutâ cutânea, ea, eelevação e ação ç das eenzimas as hepáticas; epát p cas; aamoxicilina o c a: rash as eritematoso e te atoso e uurticária; t cá a; náusea, áusea, vômitos ô tos e ddiarreia, a e a, au aumento e to das eenzimas as hepática epát caas, aanemia, e a, ttrombocitopenia, o boc tope a, ag agranulocitose. a u ooc tose Posologia: oso ogg a Pela ea manhã, em jjejum, j uma cápsula p de lansoprazol p 30 mg,g um comprimido p de levofloxacino 500 mgg e duas cápsulas p de amoxicilina 500 mg.g Aguardar g pelo p o me menos 30 minutos ppara se alimentar. À noite, em jjejum j de 3 horas, uma cápsula de lansoprazol p 30 mgg e 2 cápsulas p de amoxicilina 500 mg.g Aguardar g ar pelo menos 30 minutos para se alimenta alimentar. Idososs: lansoprazo a sop a ol: caute cau cautela a telaa eem ddisfunções s u ções hepáticas; epát cas; aamoxicilina: ajustar j a dose mediante comprometimento co p o et e to renal e a ggrave. a e Registro egg st o noo M.S.: S 1.0181.0579. 0 8 05 9 USO ADULTO. U O VENDA SOB SO PRESCRIÇÃO SC Ç O MÉDICA C - SÓ PODE O SER S VE VEND NDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Material destinado aos profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicaame mentntoos. © Medley 2011 ® Marca Registrada - Anúncio Pyloripac - 50512723 - JULHO/2011 A linha completa contra o H.pylori Uma empresa do Grupo sanofi-aventis A0013-11 Anuncio Pyloripac Familia 3 Ged Jul.indd 1 Revista GED03 Julho2011-E.indd 128 7/21/11 2:53:34 PM 21.09.11 14:42:56