- Faculdade de Letras

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE LETRAS E ARTES
FACULDADE DE LETRAS
FLÁVIA TEIXEIRA PAIXÃO
O VALOR ASPECTUAL VEICULADO AO PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO
DO ESPANHOL NA VARIANTE MEXICANA
RIO DE JANEIRO
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
O VALOR ASPECTUAL VEICULADO AO PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO DO
ESPANHOL NA VARIANTE MEXICANA
Flávia Teixeira Paixão
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade
Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção
do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos
Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola)
Orientadora: Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro
Quintans Sebold
Rio de Janeiro
Agosto de 2011
O VALOR ASPECTUAL VEICULADO AO PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO DO
ESPANHOL NA VARIANTE MEXICANA
Flávia Teixeira Paixão
Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos mínimos para a
obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção:
Língua Espanhola)
Aprovada por:
______________________________________________________________________
Presidente, Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold
______________________________________________________________________
Prof. Doutor Celso Vieira Novaes - UFRJ
______________________________________________________________________
Prof. Doutora Viviane C. Antunes Lima (UFRRJ)
______________________________________________________________________
Profa. Doutora Angela Maria da Silva Corrêa – UFRJ, Suplente
______________________________________________________________________
Profa. Doutora Adriana Leitão Martins – UFRJ, Suplente
Rio de Janeiro
Agosto de 2011
Paixão, Flávia Teixeira.
O valor aspectual veiculado ao pretérito perfeito composto do espanhol na variante
mexicana / Flávia Teixeira Paixão. – Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2011.
xi, 99f.: Il.; 31 cm.
Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de
Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Língua Espanhola), 2011.
Referências Bibliográficas: f. 112–116.
1. Pretérito perfeito composto. 2. Aspecto gramatical. 3. Gramática Gerativa. I.
Sebold, Maria Mercedes Riveiro Quintans. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas. III. Título.
Dedico esta dissertação àqueles que têm dedicado parte
dos últimos vinte e cinco anos de suas vidas à minha vida.
Aos meus pais, Sandra e Farias, a minha linda avó Wilma
e minha irmã Fernanda.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela oportunidade de estar aqui, por tudo o que sou e tenho e por tantas e
tantas bençãos que me proporciona. Ao mestre Jesus pelo seu amor, ao meu anjo guardião e
todos os amigos espirituais.
Aos meus pais, pelo amor e apoio incondicionais e pela educação moral e escolar que
me deram. À minha mãe, por ser a melhor mãe que eu poderia ter, por cuidar tão bem de mim,
ainda que seja da sua forma.
À minha linda avó Wilma, por também me amar incondicionalmente, cuidar sempre de
mim e pelas orações para que eu conseguisse chegar até aqui com um pouco mais de calma e
discernimento.
À minha irmã Fernanda, que apesar das inúmeras brigas, nos momentos difíceis
sempre deixa claro seu grande amor por mim. Por estar sempre na torcida e me ajudar
inúmeras vezes a corrigir testes, trabalhos e provas para que sobrasse tempo para eu fazer esta
dissertação. E à minha irmãzinha Paola, que mesmo falando sempre no meu ouvido, quando
eu estava triste, olhar para a alegria dela muitas vezes foi o que me animou. Ao meu irmãocunhado Juju, por estar sempre disposto a me ajudar e por ser um amor em nossas vidas.
A Leandro Miranda pela imensurável compreensão e paciência de esperar, por tanto
apoio e amor dedicados a mim. E principalmente por entender todas as minhas oscilações de
humor.
À família Velho Miranda por sempre torcer por mim, por me receber de braços abertos
todas as vezes que ia em suas casas. Às orações feitas pela minha sogra Neuza.
Aos meus amigos de anos que estiveram sempre prontos a ouvir minhas lamentações e
reclamações, pela paciência e por entender que eu não poderia mais sair sempre. Obrigada,
Carlinha Jales, Dayse Lucy, Manu Passos, Priscila Barbosa e Rachel Xavier. Amo vocês!!!
À minha querida orientadora de Mestrado, por me aceitar em seu grupo de pesquisa,
por confiar em mim mais do que eu mesma, por tantas oportunidades que me deu e por toda a
sua compreensão. Obrigada, também, pelas terapias que fazíamos em nossas “caronas
orientações” e me mostrar que é possível um professor de faculdade pública ter vida
acadêmica e vida pessoal. Obrigada por tudo!!!
Ao professor Celso Novaes, que teve que me receber com minhas diversas dúvidas,
que teve paciência para as minhas chatices. Por ter sido um exemplo de professor e
pesquisador, por ter respostas para tudo e por me fazer entender e gostar do Gerativismo.
Aos professores da Graduação que foram exemplos para mim do que é ser um
verdadeiro PROFESSOR, com quem tanto aprendi durante todos estes anos na UFRJ. Meu
muito obrigada aos caríssimos professores: Mercedes Sebold, Eline Resende, Silvia Cárcamo,
Lúcia Helena Gouveia, Mônica Orsini, Fabiana Almeida, Mônica Fagundes e Celso Novaes.
A todos os professores da graduação que contribuíram de alguma forma na minha formação
como profissional e como pessoa.
Às minhas queridas amigas e companheiras de jornada: Camilla Santero, Carolina
Parrini e Mariana Ruas (a “nem”), por compartilharem do desespero, das vitórias, das
lágrimas, dos congressos e de tudo o mais que a Pós-Graduação nos proporcionou durante
esses dois cansativos anos. Ao mais recente amigo Diego Vargas pelas dicas, auxílio e
conversas pelo facebook. As minhas amigas “Clacquianas”: Taiana Braga, Lays e todas as
outras.
À Priscila Santos e Bianca Florêncio pela inestimável por me ajudar a utilizar os
programas para a análise.
À Luciana Nascimento, pelas aulas de italiano que possibilitaram meu ingresso no
Mestrado.
Às meninas do grupo de IC que sempre foram uns amores: Leitão, Estrela, Lessa,
Fernandinha, Sara, Letícia, Anne e todas as outras.
Às minhas amigas da Graduação: Aretha Aguiar, Poliana Braga, Carol Carrilho, entre
outros, agradeço pelo carinho de sempre e pelo companheirismo na primeira etapa da vida
acadêmica.
À Carla Cristina minha grande e fiel amiga que apesar da distância que nos separa
agora, sempre, em todos os momentos esteve presente em minha vida, me apoiando, me
animando e me ajudando. Te amo amiga!
A minha mais recente amiga Cátia Nery, por toda a sua alegria e amizade!!!
A todos os amigos do Centro Espírita Meimei: Cláudia, Cláudio, Dione, Flávia Falcão,
Jailton, Jorge, Lívia, D. Maria do Valle, Marta, Mariluci, Rebeca, Rita, Wanessa, por todo o
apoio, orações, preocupações e por ser uma grande família para mim. Agradeço, também, aos
meus anjinhos da evangelização, por serem pequenas luzes em minha vida. Não esqueço dos
jovens da casa pelos quais também sou apaixonada!!!
A todos do CIEP 239, mas principalmente à Christiane, Claúdia Trevas, Juliana, Lígia,
Louise, Maria Engracia, Natália, Telma, Sandra. Obrigada por tudo!!!
Aos meus queridos alunos do CIEP 239 que, apesar das “baguncinhas”, me alegram e
me fazem sentir uma pessoa melhor e mais feliz.
A todos os amigos, conhecidos, vizinhos que de alguma forma me ajudaram a ser
quem eu sou, tanto como pessoa quanto profissionalmente.
RESUMO
O VALOR ASPECTUAL VEICULADO AO PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO DO
ESPANHOL NA VARIANTE MEXICANA
Flávia Teixeira Paixão
Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em
Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos
Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).
O objetivo principal deste trabalho é analisar, a partir de um estudo gerativista, o valor
aspectual veiculado ao pretérito perfecto compuesto (he ido) na variante mexicana do
espanhol. O pretérito perfeito composto (PC) é uma forma verbal que apresenta grandes
divergências de uso entre as línguas românicas e também entre variantes geográficas — e
sociais — de uma mesma língua.
Segundo García Fernández (2000), o PC no espanhol pode ter duas leituras aspectuais:
uma de Perfeito (perfect) e outra de perfectivo. Martínez-Atienza (2008) destaca três
subvariedades do aspecto Perfeito: o resultativo, o experiencial e o continuativo. E afirma
que, na variante mexicana, o PC está veiculado ao aspecto Perfeito continuativo (ação iniciada
no passado, que continua no presente e pode seguir acontecendo no futuro). Objetivo,
portanto, neste trabalho observar, se, atualmente, o PC está veiculado apenas ao valor
aspectual de Perfeito continuativo, no espanhol mexicano. As minhas hipóteses iniciais são:
1ª) que todo o PC nessa variante está veiculado ao aspecto Perfeito; 2ª) o PC está veiculado ao
Perfeito continuativo.
O corpus utilizado consiste em oito entrevistas do projeto PRESEEA México, sendo
dois homens e duas mulheres do grupo dos jovens (20-34 anos) e dois homens e duas
mulheres dos adultos (35-54), todos com nível superior.
Os resultados obtidos demonstram que PC, no México, ainda está, na maior parte dos
casos (78,6%), veiculado ao Perfeito continuativo. Contudo, 21,4% dos dados tinham o valor
de relevância presente (Perfeito experiencial ou Perfeito resultativo), resultado esse que
confirmou minha primeira hipótese, entretanto refutou a segunda.
Palavras-chave: Pretérito perfeito composto, aspecto gramatical, Gramática Gerativa.
Rio de Janeiro
Agosto de 2011
RESUMEN
O VALOR ASPECTUAL VEICULADO AO PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO DO
ESPANHOL NA VARIANTE MEXICANA
Flávia Teixeira Paixão
Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold
Resumen da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em
Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos
Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).
El objetivo principal de este estudio es analizar, a partir de un estudio generativo, el
valor aspectual relacionado al pretérito perfecto compuesto (he ido) en la variante mexicana
del español. El pretérito compuesto (PC) es una forma verbal que muestra grandes diferencias
en el uso entre las lenguas romances y también entre las variantes geográficas – y sociales –
de una misma lengua.
De acuerdo con García Fernández (2000), el PC puede tener dos lecturas aspectuales:
una de Perfecto (perfect) y una de perfectivo. Martínez-Atienza (2008) destaca tres subtipos
del aspecto perfecto: el resultativo, el experiencial y el continuativo. Se dice que en la variante
mexicana, el PC se relaciona al aspecto Perfecto continuativo (la acción se inició en el pasado,
sigue en el presente y puede seguir en el futuro). Objetivo, por lo tanto, en este trabajo,
observar, si, actualmente, el PC sólo se relaciona al valor aspectual de Perfecto continuativo
en el español de México. Mis hipótesis iniciales son: 1ª) que todo PC en esa variante está
relacionado al aspecto Perfecto; 2ª) el PC está relacionado al Perfecto continuativo.
El corpus utilizado se compone de ocho entrevistas del proyecto PRESEEA México,
dos hombres y dos mujeres en el grupo de jóvenes (20-34 años) y dos hombres y dos mujeres
de los adultos (35-54), todos con la educación superior.
Los resultados obtenidos demuestran que el PC, en México, todavía está, en la
mayoría de los casos (78,6%), relacionado al Perfecto continuativo. Sin embargo, el 21,4%
del valor de los datos tenían el valor de relevancia presente (Perfecto resultativo o Perfecto
experimental), un resultado que ha confirmado mi primera hipótesis, sin embargo refutó a la
segunda.
Palabras clave: Pretérito perfecto compuesto, aspecto gramatical, la Gramática Generativa.
Rio de Janeiro
Agosto de 2011
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
1. ASPECTO DO PONTO DE VISTA DA TEORIA LINGUÍSTICA .................................... 15
1.1. A Teoria Gerativa ............................................................................................................. 15
1.1.2. Representação sintática ................................................................................................ 22
1.2. Distinção entre Tempo e Aspecto Gramatical .................................................................. 30
2. O PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO ......................................................................... 40
2.1. O aspecto Perfectivo e o aspecto Perfeito ........................................................................ 40
2.2. A formação …................................................................................................................... 46
2.3. O pretérito perfeito composto no Português e em outras línguas .................................... 47
2.4. O pretérito perfecto compuesto no Espanhol ................................................................... 54
2.4.1 O PC na variante mexicana do espanhol ........................................................................ 64
2.5. A representação do PC nas árvores .................................................................................. 70
3. METODOLOGIA E CORPUS …....................................................................................... 77
4. ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................................... 84
4.1. Resultados da análise dos dados ...................................................................................... 84
4.2. A representação sintática do pretérito perfeito composto na variante mexicana ........... 106
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 109
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 112
ANEXOS............................................................................................................................... 117
12
INTRODUÇÃO
Chomsky (1986) afirmava que se um cientista marciano chegasse a nosso planeta sem
conhecer nada sobre linguagem e observasse como se comportam, concluiria que haveria
apenas uma única linguagem humana, com diferenças apenas marginais. Chomsky pretendia
com essa metáfora demonstrar que as línguas seriam muito mais parecidas do que diferentes.
Ao comparar diversas línguas, se poderia pensar que há muitas diferenças entre elas,
que entre algumas, inclusive, não existiria nenhuma semelhança. Entretanto, estudos,
principalmente realizados depois da segunda metade do século XX, demonstram e defendem
que há muito mais semelhanças que diferenças entre as línguas. Um dos argumentos que
reforça essa visão universalista é que dispomos de uma Gramática Universal que disponibiliza
todos os traços possíveis de serem realizados em uma língua natural.
A fim de provar que as línguas são mais semelhantes que diferentes, estudos
gerativistas atuais têm realizado comparações entre elas, tendo como hipótese que por detrás
das variedades, pode-se encontrar os componentes invariáveis de todas as línguas. Alguns
desses estudos têm como objeto de análise as noções de tempo e aspecto e suas formas de
realização morfológica.
Este trabalho também utilizará as noções de tempo e aspecto. Parte-se, aqui, da ideia
de que a aspectualidade, ou seja, o visualizar as ações como acabadas, em transcurso, ou com
consequências no presente é um processo mental, comum a todos os seres humanos e por isso
existe em qualquer língua, ainda que haja diferentes formas de realizações de tal aspecto.
Deste modo, a pesquisa, aqui feita, baseia-se nas teorias gerativistas que assumem que o
aspecto é inerente, inato a todas as línguas, e que a diferença entre estas consiste na realização
morfológica de cada uma.
Tratarei acerca da noção de tempo e aspecto ao analisar o pretérito perfecto compuesto
(PC) do espanhol. O PC é uma forma verbal que apresenta grandes divergências de uso entre
as línguas românicas e também entre variantes geográficas — e sociais — de uma mesma
língua. Pode-se dizer que o PC é uma categoria temporal-aspectual, uma vez que carrega
traços de tempo e aspecto. A princípio, essa forma composta1 estaria veiculada ao aspecto
Perfeito2. Martínez-Atienza (2008) destaca três subvariedades do aspecto Perfeito: o
resultativo, o experiencial e o continuativo. Entretanto, enquanto no português, o PC estaria,
1
Sempre que utilizar a expressão “forma composta” estarei referindo-me ao pretérito perfeito composto. Já ao
mencionar a forma simples, estarei citando o pretérito perfeito simples.
2
Para diferencial o aspecto Perfeito do tempo verbal pretérito perfeito, utilizarei a letra maiúscula quando fizer
referência ao aspecto.
13
de fato, apenas veiculado à leitura aspectual de Perfeito continuativo, veremos mais
detalhadamente, neste trabalho, que há a possibilidade, em espanhol, segundo alguns autores
(Bartens & Kempas, 2007 e Carrasco Gutiérrez, 2008), do PC poder, a princípio, na variante
peninsular do espanhol, e no norte da Argentina estar veiculado a dois aspectos: Perfeito3 ou
Perfectivo.
Há muitos estudos dedicados a debater o uso do PC em espanhol, a descrever os
contextos onde aparecem nas diferentes variantes dessa língua. Entretanto, poucos abordam a
questão deste tempo verbal poder veicular dois diferentes aspectos, o perfectivo (evento
concluído) ou o Perfeito (consequência no presente de um evento passado).
O estudo de Harris (1982, apud Akerberg 2008) analisa o uso do PC nas línguas
românicas. Com a evolução dessas línguas, o uso desse tempo verbal foi se modificando e
com isso o valor aspectual veiculado a ele também. O autor descreve a evolução da categoria
do PC em diferentes etapas e propõe que o PC pode estar em 4 estágios. Harris, (ibidem)
demonstra o que representa o PC em cada etapa e mostra que ao se desenvolver e passar para
outro estágio, a língua não perderá os valores já existentes. A escala do autor começa com a
etapa onde o PC encontra-se apenas veiculado ao Perfeito resultativo, já a última fase, seria
aquela onde o PC fosse utilizado em contextos nos quais deveria-se usar a forma simples, ou
seja, em contexto de aspecto perfectivo.
O meu projeto inicial ao entrar no mestrado era analisar o PC no português do Brasil,
na variante madrilena e mexicana do espanhol. Escolhi usar o PC porque apesar dele existir
no português e no espanhol, os valores semânticos nem sempre são equivalentes nessas
línguas.
Contudo, quando fui buscar dados no corpus brasileiro que iria usar, NURC-RJ
(Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro), apenas encontrei cinco ocorrências
de PC, quantidade que seria insuficiente para análise. Recorri a outro corpus, Peul (Projeto de
Estudos sobre o Uso da Língua), onde havia somente uma ocorrência. Essas poucas
ocorrências, poderiam, a princípio, demonstrar que nessa língua há um baixo uso do PC, que
poderia ser justificado pela questão de estar vinculado apenas a contextos de Perfeito
continuativo, ou por estar sendo substituído pela perífrase estar + gerúndio.
Nesta dissertação, analisarei, portanto, o uso do PC na variante do México. Entretanto,
ainda que os dados analisados sejam dessa variante, não deixarei de fazer comparações com o
português e com a variante mexicana do espanhol.
3
O termo em é inglês perfect e aparece em Comrie (1976).
14
Estudos4 defendem que a variante mexicana do espanhol, utiliza o PC apenas
veiculado a leitura de Perfeito continuativo, ou seja, refere-se a ações que começaram no
passado, continuam no presente e podem ocorrer no futuro.
Minhas hipóteses iniciais são que: 1ª) de fato o PC no México estaria veiculado ao
aspecto Perfeito; 2ª) o PC estaria veiculado basicamente ao Perfeito continuativo.
Ao realizar este trabalho, tenho como objetivos descrever o uso do PC na variante do
México, em quais contextos ele aparece. Além disso, confirmar se, de fato, o PC da variante
mexicana está veiculado ao Perfeito continuativo. E por último, observar a relação do PC com
os marcadores temporais; uma vez que esse é um dos pontos a que muitos se referem quando
tratam da diferença entre a forma simples e a composta do pretérito perfeito do indicativo.
Para realizar minha análise, utilizarei um corpus que consiste de oito entrevistas do
projeto PRESEEA (Proyecto para el Estudio Sociolingüístico del Español de España y de
América) México, sendo dois homens e duas mulheres do grupo dos jovens (20-34 anos) e
dois homens e duas mulheres dos adultos (35-54), todos com nível superior.
Tendo em vista os objetivos supracitados, este texto divide-se em cinco capítulos. No
primeiro, apresento o quadro teórico da Gramática Gerativa, defino o que é tempo e aspecto e
defendo a existência de um nódulo aspectual da árvore sintática. No segundo, exponho acerca
do aspecto Perfeito, da formação do PC e do seu uso nas diversas línguas e variantes. No
terceiro, apresento a metodologia e o corpus utilizado e no quarto, faço a análise dos dados
levantados. No quinto apresento, então, as considerações finais.
4
Estudos como Akerberg (2008), Bergareche (2008) e Martinez-Atienza (2008).
15
1. ASPECTO DO PONTO DE VISTA DA TEORIA LINGUÍSTICA
Neste capítulo, apresentarei dois conceitos fundamentais para a análise que me proponho a
fazer: o de tempo e o de aspecto. Entretanto, antes de tratar especificamente sobre eles,
apresentarei a Teoria Gerativa, na qual me baseio nesta dissertação.
1.1. A Teoria Gerativa
Nesta seção, apresentarei os princípios básicos da Teoria Gerativa, em seguida as
quatro questões fundamentais para a investigação gerativista, para depois expor sobre o modo
de representação usado nessa teoria, e propor que, assim como o tempo, o aspecto deveria ter
um lugar na árvore sintática.
1.1.1. Princípios básicos
Até meados da década de 50, o campo da linguística era dominado pelo estruturalismo
clássico, por pressupostos teóricos behavioristas, em que a aquisição da linguagem era vista
como resultado da observação do comportamento dos adultos e da formação de hábitos. Os
behavioristas estudavam o comportamento, pois esse poderia ser algo observável. Para esses
estudiosos, o “não observável” não poderia ser estudado cientificamente e comprovadamente.
Suas pesquisas tinham ênfase nos princípios básicos da aprendizagem e da mudança de
comportamento, defendiam que todo o comportamento seria aprendido. Na teoria
behaviorista, o indivíduo seria um ser passivo no processo de aprendizagem sofrendo
influência do meio externo. Entretanto, esse meio poderia ser manipulado, modificando assim
o comportamento do indivíduo.
Em 1957, Chomsky publica Estruturas Sintáticas (Syntactic Structures) e inicia, assim,
uma nova linha teórica, a da Gramática Gerativa, tendo como principal objeto de estudo a
gramática universal (GU). A GU é o estágio inicial da faculdade da linguagem (FL), que seria
inata a todos os seres humanos. A criança, portanto, já nasceria com um sistema composto por
princípios fixos e universais, podendo tornar-se falante de qualquer língua a que fosse
exposta, e quando isso ocorresse esses princípios seriam parametrizados ou não dependendo
do idioma, formando assim a gramática particular de cada indivíduo. Isso quer dizer, que a
criança ao nascer tem a capacidade de aprender qualquer língua, entretanto, irá aprender
apenas aquela que é utilizada no meio externo onde vive. O programa gerativista baseava-se,
16
portanto, no princípio de que cada falante possuía uma gramática interiorizada composta por
um dicionário mental das formas da língua e por um sistema de regras que permitia combinar
essas formas à semelhança do processamento computacional.
Assumir uma proposta inatista não significa dizer que a criança já nasça com sua
gramática particular pronta, como explica Raposo (1998), e sim que já possua uma
predisposição para sua formação, que depende de um “gatilho” que será dado pela interação
desse aparato interno com os dados do meio ambiente. Isso significa a maturação da
gramática interna. Pode-se observar, portanto, que a Gramática Gerativa não nega que os
dados linguísticos do meio externo influenciem na aquisição da linguagem da criança, mas
afirma que sem o dispositivo linguístico inato à criança, apenas o meio exterior não
conseguiria formar a gramática particular de um falante.
A Gramática Gerativa considera que os seres humanos possuem a faculdade da
linguagem e que essa seria específica da mente humana, ainda que outras espécies disponham
de sistemas de linguagem (comunicação). Dessa forma, assume-se que as propriedades
essenciais da linguagem são diretamente determinadas pelas propriedades mentais dos seres
humanos e estudar a linguagem humana consiste em estudar determinadas propriedades da
mente dos homens (CHOMSKY, 1986). Portanto, a natureza dos estudos gerativistas é
mentalista, ou seja, seu objeto de estudo está baseado em um sistema de regras e princípios
radicados em última instância na mente humana.
Afirmar que existe uma faculdade da linguagem, é assumir a modularidade da mente,
assumir, também, que a mente é composta de módulos autônomos, e que um deles seria o da
faculdade da linguagem. É importante ressaltar que dizer que um módulo é autônomo não é
defender que ele não interaja com outros módulos, como por exemplo, com os de
desempenho: sistema articulatório-perceptual, que interpreta e regula as propriedades
fonéticas, e o sistema conceptual, que interpreta e regula as propriedades semânticas. O que se
quer defender é que cada faculdade da mente tem suas propriedades exclusivas e, por isso,
deve ser observada e analisada separadamente.
Um dos autores que argumentou a favor da modularidade da mente foi Curtiss (1981).
A autora, através de estudos de casos de crianças5, defende a ideia de que a mente humana
apresenta diversos módulos independentes constituídos por diferentes sistemas cognitivos. A
aquisição da linguagem, não dependeria apenas do desenvolvimento sensório-motor, ela se
5
Os estudos apresentados pela autora são com uma criança que não teve convívio social na época em que se
adquire a linguagem e outra com retardo mental.
17
desenvolveria através de mecanismos específicos da linguagem.
Essas crianças apresentavam claras dissociações entre a linguagem e outras
habilidades cognitivas não-linguísticas, ou seja, poderiam conseguir produzir frases com boa
sintaxe e morfologicamente correta, entretanto sem sentido ou vice-versa. Uma dessas
crianças que Curtis (ibidem) analisa é Marta, uma menina de 16 (dezesseis) anos com retardo
mental que conseguia produzir frases com morfologia e sintaxe correta, mas sem sentido
lógico. Com os testes neuropsicológicos aplicados a Marta, a autora chega a conclusão que a
faculdade que está relacionada às habilidades sintática e morfológica, não é a mesma
relacionada ao aspecto semântico das frases.
Outra questão a ser apresentada sobre a teoria gerativista é seu caráter universalista, ou
seja, defende-se que todas as línguas humanas possuem propriedades comuns, mesmo não
havendo, anteriormente, qualquer contato que permita atribuir essas características comuns à
difusão cultural. Isso se deve ao fato da GU possibilitar, em seu estágio inicial, as realizações
de todos os sistemas linguísticos do mundo, ou seja, possibilitaria o desenvolvimento de
qualquer língua.
Assume-se que a FL é constituída pelo léxico e pelo sistema computacional6. O léxico
seria como um “armazém” de itens lexicais, entradas lexicais que contêm informações
minimamente de natureza fonética, sintáticas, semânticas. As entradas lexicais teriam também
informações de natureza idiossincráticas, do tipo – óculos (só existe no plural). Já o sistema
computacional estaria formado por princípios invariáveis com opções restritas aos elementos
funcionais e propriedades gerais do léxico, as computações também podem ser chamadas de
derivações. O sistema computacional produz representações que podem convergir ou
fracassar, isto é, elas convergem quando conseguem ser legíveis pelos sistemas de interface,
caso isso não ocorra, há o fracasso, conhecido na literatura como crash. Defende-se, nessa
fase da teoria, que há um vocabulário universal invariante de onde são retirados os elementos
substantivos, e as categorias funcionais seriam os únicos elementos parametrizáveis
(CHOMSKY, 1995). Defende-se, dessa forma, que as línguas são muito mais semelhantes do
que distintas, já que possuem princípios universais. As variações e diferenças entre as línguas
encontram-se nas diferentes formas de realização dos traços dos itens lexicais.
Chomsky (2001), ao tratar sobre as diferenças entre as línguas, propõe o princípio da
6
A Teoria da Gramática Gerativa começa em uma época que está em auge o desenvolvimento dos computadores,
e acaba sofrendo influência do vocabulário dessa área e também comparações da mente com um computador.
Defende-se, nessa teoria, que as sentenças são geradas por procedimentos subconscientes (como um programa de
computador). O sistema computacional seria a capacidade de gerar um número infinito de sentenças a partir de
um número finito de regras.
18
Uniformidade, e em um primeiro momento assume essa proposta de que, em termos gerais, a
linguagem é uniforme e de que todas as línguas têm acesso a todos os traços dos itens
lexicais. Entretanto, mais adiante, no mesmo texto, o autor defende o princípio da
Seletividade que seria baseado na proposta de que diferentes línguas selecionariam distintos
traços de um conjunto de traços universais do léxico. Sigurðsson (2005) defende que apenas o
princípio de Uniformidade explicaria a diferença entre as línguas
Analisando tais diferenças, Sigurðsson (ibidem) defende o fato de que se um traço não
for realizado morfologicamente não significa que ele não exista em determinada língua. O
autor propõe o “Princípio do Silêncio”, isto é, as línguas possuiriam “silêncios com
significados” (meaningful silence). Esses silêncios seriam traços que são semanticamente
interpretáveis, mas fonologicamente silenciados. Sigurðsson (ibidem) assume, portanto, que
todas as línguas têm acesso a todos os traços, que podem ser realizados fonologicamente ou
não.
Um exemplo para a proposta do autor de “Princípio do Silêncio” seria o da ausência
de sujeito e de morfema explícito para marcar número e pessoa no verbo das orações nãofinitas no português. Em: Carla disse [__querer aquela saia], é possível saber quem é o
sujeito do verbo querer, uma vez que existe um sujeito abstrato (denominado PRO) coreferenciado ao sujeito da oração principal e que apresenta, portanto, os mesmos traços desse.
Ao pensar nas diferenças entre as línguas e nas variações dentro de uma própria
língua, Menegotto (2003) também apresenta elementos da Gramática Gerativa que permitem
entender como é possível que haja diferenças entre as línguas se a GU é algo inato aos seres
humanos7.
Menegotto (ibidem) cita o Princípio da uniformidade (CHOMSKY 2001), para
apresentar a questão da variação. A faculdade da linguagem seria, portanto, um sistema
perfeito, com sintaxe perfeita e pura e as imperfeições viriam dos sistemas de desempenho. A
variação é, portanto, uma imperfeição e por isso deveria ser atribuída a fenômenos
observáveis. A autora explica que a faculdade da linguagem precisa adaptar seu conteúdo aos
sistemas de desempenho8 e que as aparentes imperfeições entre as línguas seriam resultados
dessa adaptação. Dessa forma, a autora expõe que essas imperfeições não procedem do
sistema computacional e sim das interfaces que se relacionam com os outros sistemas
envolvidos na linguagem (articulatório-perceptual e conceptual-intencional)
7
Os argumentos de Menegotto (2003) são baseados no Programa Minimalista. Esta fase da Gramática Gerativa
será apresentada nesta dissertação mais à frente.
8
Princípio da Condição de legibilidade do Programa minimalista. Nesta dissertação, apresentaremos esse
princípio mais a frente.
19
Como dispomos de um repertório muito amplo de opções léxicas, sintáticas e
fonológicas, conseguimos nos comunicar de forma efetiva em diferentes situações
comunicativas. O fato de que um falante use diferentes construções em distintas situações não
é algo que deva ser explicado através do conceito da gramática universal, entretanto, a GU
deve ser capaz de explicar satisfatoriamente porque todas essas construções são possíveis.
Sendo assim, defende-se, então, que a variação se encontra no léxico, e que a sintaxe é
a mesma e única para todas as línguas. A criança selecionaria em sua gramática os traços que
são relevantes em sua língua e iriam associando-os aos morfemas. Essa associação, segundo
Menegotto (ibidem), poderia ser de um morfema com um traço ou poderia acontecer que o
mesmo morfema se associasse a mais de um traço9.
A questão do universalismo, da uniformidade e do lugar da variação, segundo a
Gramática Gerativa, foram tratadas pelo fato de serem questões fundamentais para explicar o
fenômeno que estudo nesta dissertação. O aspecto é um traço disposto em todas as línguas
como propõe o universalismo, entretanto as diferenças existentes em suas formas de
realizações encontram-se relacionadas à morfologia. Menegotto (ibidem) defende, por
exemplo, que é possível dizer que duas línguas podem ser diferentes na especificação
categorial dos itens que expressam tempo, ou seja, diferenciam-se em relação aos morfemas
temporais que se associam com diferentes traços para determinar seu status categorial. Dessa
forma, a princípio, podemos pensar que os distintos valores veiculados ao pretérito composto
nas diversas variantes do mundo hispânico, possam ser justificados pela associação de algum
morfema a diferentes traços aspectuais ou temporais. Ao propor uma árvore sintática para o
uso do PC com valor de Perfeito e outra para o uso do PC com valor de Perfectivo, explorarei
mais essa relação entre morfema e traços.
Voltando à apresentação dos princípios e pressupostos da Gramática Gerativa, faz-se
necessário apresentar a questão central de pesquisa desse quadro teórico. O objetivo dos
linguistas gerativistas é a compreensão de quais são os estados mentais que correspondem ao
conhecimento de uma língua. Assim sendo, Chomsky (1988) formula quatro questões
fundamentais que são a base de toda a investigação gerativista:
1) O que constitui o sistema de conhecimento linguístico?
2) Como esse sistema de conhecimento surge na mente/cérebro?
3) Como esse sistema de conhecimento é posto em uso?
4) Quais são os mecanismos físicos que servem de base para esse sistema de
9
Tem-se como exemplo, a desinência -va do pretérito imperfeito do indicativo, que contém traço de tempo e de
aspecto.
20
conhecimento e para o uso do mesmo?
A primeira pergunta busca saber quais estados mentais correspondem a conhecer uma
língua. O objetivo é tentar entender os estados mentais da mente humana, compreender o
conteúdo desse sistema de conhecimento. Entretanto, para estudar, de fato, as questões
relacionadas à pergunta número 1, é necessário diferenciar os conceitos de competência e
desempenho linguísticos. Chomsky (ibidem) define competência como conhecimento
linguístico, é algo inconsciente, não escolarizado. A competência estaria relacionada aos
princípios da GU.
Já o desempenho corresponde à habilidade linguística e está relacionado ao modo
como esse conhecimento é posto em uso. O desempenho é a interação da faculdade da
linguagem com os sistemas que põem em uso esse conhecimento linguístico (competência).
No desempenho podem surgir alguns problemas, devido a algumas falhas, como, por
exemplo, de atenção ou de memória.
Esses princípios fornecidos pela GU ofereceriam mais de uma possibilidade de realização
morfológica, entretanto, quando a criança entra em contato com os dados de sua língua
materna uma dessas possibilidades é fixada na mente do indivíduo.
Para exemplificar a questão da fixação de um parâmetro, pode-se citar a possibilidade
de haver sujeito nulo10 nas diferentes línguas. O português e espanhol, por exemplo, permitem
frases sem a presença do sujeito fonético, o que já não ocorre no italiano. Pode-se explicar
essa questão pelo fato de que a GU possui um princípio que determina a existência da posição
de sujeito nas orações.
Para que se possa responder à primeira questão proposta – o que constitui o
conhecimento linguístico de um indivíduo –, é necessário que sejam descritos os princípios
inatos, que caracterizam a GU, e os parâmetros específicos a sua língua.
A segunda questão tem recebido uma especial atenção nos estudos gerativistas, está
focada na pesquisa do modo como adquirimos esse sistema de conhecimento. Trata-se do
estudo sobre aquisição de linguagem. Essa questão está ligada à primeira pergunta, pois para
estudar a aquisição na teoria gerativista, se faz necessário assumir uma visão inatista,
aceitando a existência da GU.
Chomsky (ibidem), ao tratar dessa questão cita o “Problema de Platão”. Ele questiona
como os seres humanos com um contato tão breve, pessoal e limitado com o mundo são
10
Essa questão na literatura, encontra-se geralmente associado ao Parâmetro pro-drop na Teoria de Princípios e
Parâmetros. Entretanto o fenômeno do sujeito nulo também se encontra associado a Princípios de economia, ao
se considerar o Programa Minimalista.
21
capazes de saber tanto. A resposta dada é que esses já nasceriam com um conhecimento
prévio, inato, uma herança biológica, geneticamente determinada, igual a outros elementos
próprios aos seres humanos que fazem com que tenhamos pernas e braços ao invés de asas,
por exemplo. Portanto, para responder à segunda questão, é necessário pesquisar como se dá a
fixação dos parâmetros presentes na GU quando o indivíduo é inserido no ambiente
linguístico.
Em relação à questão 3, que busca saber como esse sistema de conhecimento é
utilizado pelo falante em situações discursivas concretas, o que se deve observar é o
desempenho linguístico, isto é, como se põe em uso a competência linguística do indivíduo.
Chomsky (ibidem) defende que essa questão se divide em dois aspectos: o problema da
percepção (como interpretamos o que ouvimos) e o problema da produção (o que dizemos e
porquê dizemos algo). O autor relaciona este último ao “problema de Descartes”, que defende
o aspecto criativo do uso da linguagem. O ser humano, portanto, não repete apenas o que
ouve, ele produz novas formas linguísticas (novas em sua própria experiência linguística ou
na história da língua) e não existe limites para esta inovação. Chomsky (ibidem) conclui que
os homens são capazes de criar / compreender um número infinito de expressões linguísticas a
partir de um número finito de regras, estipuladas pelos princípios inatos e pelos parâmetros da
língua.
E, por fim, a quarta questão se refere aos mecanismos físicos, neuronais que suportam
a linguagem como sistema mental. Para se estudar essa questão seria necessário encontrar
mecanismos físicos que correspondessem aos conceitos abstratos propostos pelos linguistas
gerativistas. Isso só será possível se houver um trabalho conjunto entre linguistas,
neurologistas, psicólogos e patologistas da fala.
A pesquisa que será feita, nesta dissertação, está relacionada com a questão (1), pois
pretendo descrever fenômenos observados através do desempenho linguístico dos
informantes, tentando compreender o que se passa na mente de um falante quando utiliza o
tempo verbal estudado, e como é possível que o PC esteja relacionado a diferentes leituras
aspectuais. A seguir apresentarei a forma de representação sintática utilizada na Gramática
Gerativa.
1.1.2. Representação sintática
Raposo (1992) explica que as sentenças das línguas são formadas superficialmente por
uma sequência linear ordenada de itens
lexicais que podem ser identificadas
22
aproximadamente com as palavras. Contudo, não seriam todas as sequências que
constituiriam expressões gramaticais. O autor apresenta como exemplo as três frases a seguir
(p.65):
(a) O mecânico limpou o automóvel com um pano.
(b) * O limpou mecânico automóvel o pano um com.
(c) * O um o com mecânico limpou automóvel pano.
Como é possível observar, as sentenças (b) e (c) são agramaticais11, ou seja, são
sentenças que não têm sentido na língua portuguesa. Ao observar esses exemplos, pode-se
supor que na mente do falante haveria um mecanismo que estabeleceria uma estrutura interna
à sequência linear entre os elementos dentro de uma oração. As frases (b) e (c) não estariam
compatíveis com essa sequência.
Para que uma sentença seja formada, há sucessivas uniões de elementos de nível
inferior em grupos maiores, começando pelos itens lexicais. Esse tipo de organização em
grupos hierárquicos complexos denomina-se estrutura de constituintes. Observe a estrutura de
constituintes da frase (a), segundo Raposo (ibidem, p. 66):
Como é possível observar, na formação de uma frase temos diversos grupos menores.
Por exemplo, os constituintes o e mecânico juntaram-se formando um grupo hierarquicamente
superior (um constituinte sintagmático), o que podemos ver também com o automóvel e um
pano. Em seguida a palavra com se une ao grupo um pano, formando, consequentemente,
11
Frases que não foram formadas de acordo com os princípios e regras da gramática de um falante português.
23
outra unidade de nível superior. Dessa forma, as sequências vão se unindo, formando sempre
níveis superiores, até chegar à sequência estrutural mais elevada que é a frase. Nas frases, (b)
e (c), há a junção de elementos que não é permitida pelas regras da gramática do falante, e por
isso são sentenças agramaticais.
Como expus anteriormente, os estudos gerativistas se propõem a pesquisar quais são
os estados mentais que correspondem ao conhecimento de uma língua e como seria a
representação mental de uma sentença composta de constituintes sintagmáticos. A gramática
gerativa representa esses sintagmas e seus movimentos dentro da sentença através de uma
estrutura hierárquica composta por nódulos binários, chamada de “árvore sintática”. Nessa
representação, cada constituinte corresponde a um nó, que tem o nome da categoria que ele
representa. Os diversos elementos que formam a estrutura de uma expressão linguística são
classificados em um número finito de categorias. Essa classificação depende da natureza das
palavras e essas categorias são o produto da combinação de traços distintivos binários12.
Ao citar o modelo de representação da árvore sintática é importante apresentar o
modelo da Teoria X-barra, que consiste na inclusão de categorias de nível intermediário
posicionadas entre as categorias mínimas (as categorias lexicais) e as categorias máximas (as
categorias sintagmáticas).
Para os gerativistas, as frases possuem esquemas sintáticos abstratos em que se
reconhecem três níveis hierárquicos, em vez de dois (as categorias lexicais – nome (N), verbo
(V), preposição (P), adjetivo (Adj) e as categorias sintagmáticas - SN, SV, SP, Sadj). São três
níveis de projeção sintática a partir das categorias lexicais V, N, A e P. A projeção sintática de
nível 1 seria o resultado da combinação da categoria lexical com os seus complementos e
representa-se como X', sendo que X se refere a uma variável que pode ser preenchida por uma
categoria N', V', A' ou P'. A projeção sintática de nível 2 é o resultado da composição da
categoria X' (obtida através da primeira projeção) com o especificador da categoria lexical em
questão, representando-se como X" (variável que pode ser N", V", A", P''). Os especificadores
não fazem parte da composição das categorias lexicais nem tampouco podem ser categorias
lexicais, mas servem-lhes de modificadores. A configuração abstrata da teoria X-Barra será,
dessa forma, representada segundo o esquema:
12
Dizer que os traços são binários quer dizer que um traço pode ser marcado positivamente, caso esteja presente
ou negativamente, se for ausente. Dessa forma, podemos considerar que o nome pode ser marcado como
[+N]ome e [-V]erbo, isso quer dizer, o nome tem o traço de nome, mas não tem o de verbo.
24
Em um primeiro momento, as frases poderiam ser classificadas baseadas na estrutura
morfológica da flexão verbal, propôs-se, então, que a categoria da flexão (INFL13 ou I) fosse
o núcleo da sentença. Assim, a sentença (S) passou a ser considerada a projeção máxima de
INFL. A flexão verbal pode projetar novos níveis, sendo, portanto, uma categoria funcional de
grande importância na sintaxe da frase. Veja abaixo como seria a árvore sintática com INFL:
Árvore sintática com INFL14
O nódulo de flexão tinha como núcleo INFL e como complemento VP. A categoria
flexional INFL seria composta por um conjunto de traços binários de Tempo – [± T] e
Concordância – [± Agr]. A partir do momento em que se definiu INFL como núcleo da
sentença, vários estudos começaram a surgir sobre a camada flexional.
Um desses estudos foi o de Pollack (1989). A partir de um estudo feito por Edmond
(1976), em que o autor propunha que todos os verbos em francês se moviam para a camada
flexional (IP), Pollack (op. cit.) faz um estudo comparativo detalhado entre o francês e o
inglês. O autor tinha como objetivo encontrar uma explicação que desse conta da posição dos
verbos em relação aos advérbios (intra-sentenciares), às partículas de negação e ao
13
Nesta dissertação, serão utilizadas as siglas do inglês, por serem consagradas na literatura. INFL (inflection flexão)
14
IP (inflection phrase) é a categoria flexional.
25
quantificadores em ambas as línguas.
Ele objetivava conseguir que uma mesma árvore
pudesse conter todos os nódulos necessários para todo tipo de movimento do verbo.
Baseado em diversos exemplos extraídos das duas línguas e a partir da assunção de
que o advérbio tem posição fixa na sentença e que a posição de origem é [Adv + V], Pollock
(op. cit.) observou que, em sentenças finitas no francês, o verbo sempre se deslocava para a
esquerda do advérbio quando havia um marcador de negação ou um quantificador; no inglês,
não havia tal movimento, salvo com verbos não-lexicais (be / have). Já nas orações não-finitas
com verbos lexicais, o verbo segue o marcador de negação (Neg + V) e antecede o advérbio
(V + Adv) no Francês e, em inglês, a negação antecede o verbo (Neg + V). Com verbos não
lexicais o verbo pode anteceder ou se pospor à negação no Francês, no inglês a possibilidade
de [V+Neg] seria duvidável.
Pollock (op. cit.) propôs, então, que não haveria somente um sítio de aterrissagem para
o verbo, IP, e sim dois, um para o que chamou de movimento curto e outro para o movimento
longo. O movimento curto ocorre quando os verbos não-finitos se movem para uma posição
entre a partícula de negação e a posição ocupada pelo advérbio / quantificador, esse sítio de
aterrissagem seria o nódulo que abrigaria as informações de concordância (AgrP). Já os
verbos lexicais realizariam os movimentos longos e o sítio de aterrissagem abrigaria as
informações de tempo verbal (TP).
Assim sendo, para dar conta do comportamento do verbo em orações finitas e nãofinitas e, após observar tais movimentos, Pollock (op. cit.) conclui que uma única camada
flexional não poderia dar conta das diferentes posições do verbo no francês, o que o leva a
propor a cisão da camada flexional em duas: tempo e concordância. O autor alega que a
diferença entre as duas línguas residiria na força de AGR, que é o que faz com que os
movimentos ocorram. Assim sendo, em línguas com AGR opaco (inglês, por exemplo), os
verbos lexicais não se movimentam em direção à INFL porque precisam atribuir papel
temático (se subissem não conseguiriam fazê-lo). Já em línguas de AGR transparente (francês,
por exemplo) o verbo lexical se movimenta em direção à INFL e mesmo assim é capaz de
transmitir papel temático.
Pollock (op. cit.) propõe, então, que o nódulo flexional seja dividido em duas camadas:
uma abrigando traços de tempo e outra abrigando traços de concordância. Dessa forma, a
diferença entre o francês e o inglês residiria na riqueza morfológica. O inglês seria uma língua
com morfologia pobre e o francês uma língua com morfologia rica. Veja abaixo a árvore
proposta, pelo autor:
26
Árvore sintática proposta por Pollock (apud LESSA, 2010)
Na proposta de Pollock (op. cit.), o nódulo de tempo (TP) dominaria o nódulo de
concordância (AgrP). Muitos foram os estudos que surgiram analisando se realmente TP
dominaria AgrP.
Na década de 90, Chomsky, através de seus estudos, observa que devem ocorrer
algumas mudanças no quadro teórico da Gramática Gerativa. Nessa época, o que se defendia
era a teoria de Princípios e Parâmetros, contudo com esse objetivo de fazer algumas mudanças
no quadro atual, Chomsky apresenta suas novas propostas e denomina essa fase da Gramática
Gerativa como Programa Minimalista (PM)15. Como anteriormente, se continuará observando
a língua, sua representação e seus constituintes. Dessa forma, no PM haverá uma importante
mudança na estrutura da representação sintática proposta por Pollock (op. cit.).
Neste novo momento da teoria gerativista, a linguagem passou a ser descrita em
termos de economia e simplicidade e as demais faculdades mentais que interagem com a FL16
passaram a ter mais destaque na teoria. Essas faculdades mentais seriam os sistemas de
desempenho: o articulatório-perceptual, responsável pelas informações referentes ao som e o
sistema conceptual-intencional, responsável pelas informações referentes ao significado.
No modelo do PM, mantém-se a ideia de que a FL é constituída pelo léxico e pelo
sistema computacional, entretanto, agora, propõe-se que as diferenças entre as línguas não se
15
É necessário esclarecer que o PM não é um novo quadro da Gramática Gerativa, na verdade ele apenas traz
algumas modificações com relação aos modelos anteriores. Por ter havido algumas mudanças, um novo nome foi
apresentado.
16
Faculdade da linguagem.
27
encontram no sistema computacional e sim no léxico. Dessa forma, como as línguas são mais
semelhantes do que diferentes, uma vez que possuem os princípios universais, a variação e as
distinções entre as línguas encontrariam-se nas diferentes formas de realização dos traços dos
itens lexicais.
Três princípios centrais do PM são os de: Condição de economia, de legibilidade e de
Interpretação Plena. A condição de economia diz respeito a formação de uma expressão
linguística, essa sempre será feita através da derivação que seja mais econômica, que tenha
menos passos, isto é, o processo que seja menos custoso.
A condição de legibilidade refere-se ao fato de que os sistemas de desempenho
precisam ser capazes de compreender as instruções que os níveis linguísticos (forma
fonológica e a forma lógica17) emitem. Portanto, para que sejam aproveitadas, as expressões
geradas pela FL devem satisfazer as condições de legibilidade impostas por esses sistemas. E
por último, a interpretação plena está relacionada ao fato de não poder haver símbolos
supérfluos na representação gerada. A forma fonológica não pode gerar, por exemplo, um tipo
de som que não tenha correspondente no sistema de desempenho, pois isso seria apenas ruído.
Outra mudança do PM é que já não se defende mais a operação de movimento do
verbo como servindo para a incorporação de afixos verbais ao radical. O movimento agora é
compreendido como uma operação para a checagem dos traços flexionais presentes nos
verbos de uma determinada língua – informação já disponível na entrada lexical – com os
traços invariáveis presentes nas categorias flexionais das línguas. Portanto, antes se
defendia a ideia de que o verbo vinha do léxico nu e se movimentava para incorporar os
morfemas de tempo, concordância, etc, depois se passou a defender que o verbo já viria
flexionado e se movimentaria para checar a compatibilidade desse morfema com os traços
especificados na categoria funcional.
A visão de checagem de traços é importante, pois se assume dessa forma que certos
traços formais de um item lexical podem ser eliminados durante seu processo de geração pelo
sistema computacional. Por exemplo, os traços formais fortes não são lidos pela interface
lógica e, por isso, precisam ser eliminados antes de spell-out18, ou seja, na sintaxe aberta19,
para satisfazer as condições de legibilidade impostas pelos sistemas de desempenho.
Considerando a questão da interpretabilidade dos traços pelos sistemas de desempenho
17
A forma fonológica é o nível que estabelece interface com sistema articulatório perceptual. Já a forma lógica é
o nível que estabelece relação com o sistema com sistema conceptual.
18
Ponto a partir do qual, não se pode mais inserir nenhum item lexical.
19
Tudo que acontece na sintaxe aberta terá repercussão nas duas interfaces – de som e de significado. Será algo
audível, terá repercussão na ordem das palavras, por exemplo.
28
e tendo como objetivo apresentar uma organização do sistema linguístico de uma forma mais
econômica, Chomsky (1995) sugere que a representação dos sintagmas nas árvores devesse
ser feita apenas quando esses fossem semanticamente relevantes. O autor, através de suas
análises, conclui que traços formais fortes não são interpretáveis pela interface lógica,
devendo, dessa forma, ser eliminados na sintaxe aberta. Propõe, então, que as categorias que
só tivessem traços não-interpretáveis deveriam ser completamente eliminadas da teoria.
Chomsky (ibidem), a partir de dados em inglês, observou que o traço formal de
concordância dos verbos era não-interpretável pela interface lógica, ou seja, não era
conceptualmente motivado e, por isso, não havia necessidade de se manter como núcleo de
uma categoria funcional. O autor argumenta que para a interpretação de um conceito expresso
por um substantivo é relevante o fato desse ser singular ou plural, o que não aconteceria com
a interpretação de um verbo, na qual a concordância de número do verbo não interferiria.
Chomsky (ibidem), propõe, portanto, que se elimine o nódulo de concordância (Agr)
da árvore como categoria funcional e inicia-se, então, uma nova pesquisa em busca de uma
categoria que pudesse ocupar o nódulo de Agr junto com o tempo.
Bok-Bennema (2001), para analisar a categoria flexional, baseia suas observações em
dados do francês e do espanhol e assume a proposta de Cinque (1999) de que há uma ordem
dos advérbios e que em muitas línguas esta hierarquia é constante. Bok-Bennema (op. cit.)
realiza sua análise tentando dar conta das diferentes posições dos verbos em relação aos
advérbios, os quais divide em advérbios de modo, “intermediários” e modais. A autora
defende que, uma vez que se submetem à operação merge20, os advérbios não se movem21
mais.
Após seus resultados, a autora postula quais seriam os sítios de aterrissagem do
movimento longo e curto do francês e do espanhol, com o verbo finito ou não-finito. BokBennema (op. cit.), alcança importantes observações a partir da análise de tempos compostos
– verbo auxiliar flexionado e verbo principal no particípio. A autora explica que o alvo do
movimento do particípio passado, tanto no francês como no espanhol, seria F222. Ela defende
que esses particípios codificam, tipicamente, traços de aspecto, e que o fato de eles se
moverem para F2 indicaria que F2 é um núcleo aspectual que conteria traços [± Perfectivo].
20
Operação responsável pela ligação de objetos linguísticos já formados, para a construção de uma expressão
linguística maior.
21
Com exceção dos casos como o de movimento wh. Movimento wh ocorre em interrogativas, refere-se ao
movimento do pronome interrogativo. A sigla wh deve-se ao fato desses pronomes em inglês começarem com
essas letras (what, where, who, when, why).
22
A autora, a princípio, denomina como F1 o sítio de aterrissagem do movimento longo do verbo, e como F2 o
sítio de aterrissagem do movimento curto.
29
Dessa forma, a autora propõe que a camada flexional seja composta por tempo, que seria o
F1, e por aspecto, que seria F2.
Estudos mais recentes, da área da neurolinguística, trouxeram dados que poderiam
confirmar a proposta de que o nódulo aspectual deveria ser o novo ramo da árvore que
substituiria o nódulo de concordância.
Um desses trabalhos é o de Novaes & Braga (2005) que investigaram o déficit na
produção do aspecto verbal de uma afásica. Nesse estudo, foram aplicados a uma paciente /
informante dois testes de preenchimento de lacuna com o intuito de observar a sua produção
dos aspectos perfectivo e imperfectivo. Os dados revelaram uma dissociação na produção dos
verbos no perfectivo e no imperfectivo. Os autores concluíram, de fato, que a paciente tinha
mais problemas com o aspecto imperfectivo do que com o aspecto perfectivo. Os autores
informaram que a paciente apresentou problemas com aspecto, mas não com tempo e
concordância. Essa observação parece confirmar a proposta de que o nódulo de aspecto possa
substituir o de concordância.
Portanto, dentro da linha teórica adotada, a da Gramática Gerativa no modelo do
Programa Minimalista, baseada no universalismo, considera-se que o aspecto é inerente, inato
a todas as línguas, apenas realizando-se de formas distintas em cada uma. O aspecto é, então,
considerado, nesta dissertação, uma categoria funcional conceptualmente motivada, ou seja,
composta por traços [+interpretáveis] e, por isso, é importante nos estudos da linguagem.
Após esta apresentação do quadro da gramática gerativa, a seguir tratarei da
distinção entre tempo e aspecto gramatical, que é um ponto fundamental para compreender
a proposta de estudo deste trabalho.
1.2. Distinção entre Tempo e Aspecto Gramatical
Segundo Comrie (1976), o tempo verbal (tense) é uma expressão gramaticalizada de
localização no tempo, já o aspecto relaciona-se aos diferentes modos de ver a constituição
temporal interna de uma situação23, ou seja, como ocorreu a situação independente de
quando. Assim sendo, Comrie (ibidem) define, a princípio, dois aspectos como básicos:
perfectivo e imperfectivo. O autor denomina como aspecto perfectivo24 quando há uma visão
de um evento como um todo (Comi uma maçã) e o imperfectivo quando há, essencialmente,
23
24
“Aspects are different ways of viewing the internal temporal constituency of a situation” (p.3)
Alguns autores como Kempas (2006) ao invés de usar Perfectivo usam o termo Aoristo.
30
uma atenção à estrutura interna da situação (Comia maçãs).
Comrie (ibidem) analisa algumas suposições acerca desses aspectos. O autor refuta,
primeiro, a ligação que autores fazem entre esses aspectos e o tempo de duração, quando
defendem a ideia de que o aspecto perfectivo indicaria ações de curta duração, enquanto o
imperfectivo indicaria as de longa duração. Comrie (ibidem) expõe que ambos aspectos
podem ser utilizados para se referir à mesma duração de tempo. Ele cita como exemplos duas
frases em francês (p.17):
(a) Il régna trente ans.
(b) Il régnair trente ans.25
Na letra (a), estaria sendo relatado o evento de reinar como um todo (perfectivo), já a
letra (b), estaria se referindo ao fato de que durante trinta anos a pessoa estava reinando, e
está, portanto, tratando-se da duração dessa ação (imperfectivo). Entretanto, pode-se observar
que em ambas frases o tempo de duração é o mesmo – trinta anos.
Comrie (ibidem), em seguida, refuta a ideia de que o aspecto perfectivo está
relacionado a verbos que expressam eventos com uma duração limitada, pontual ou
momentânea. Ressalta também que a perfectividade não indicaria apenas ações completas,
como defendem alguns autores.
Na distinção entre tempo e aspecto, De Miguel (1999) expõe que tanto tempo quanto
aspecto são noções relacionadas à temporalidade dos eventos verbais. Entretanto, essa recebe
um tratamento diferente em cada noção. O tempo localizaria o evento em um tempo externo,
localizando-o em relação ao momento de fala, ou seja, marcando se o evento ocorreu antes do
momento da enunciação (passado), se está ocorrendo (presente) ou se ainda ocorrerá (futuro).
O tempo seria, portanto, uma categoria dêitica. Já o aspecto trataria essa temporalidade como
uma propriedade inerente ou interna do próprio evento, sem fazer referência ao momento da
fala. Dessa forma, o aspecto seria, então, definido como uma categoria não dêitica, uma vez
que nesse há uma visão do evento como um todo, sem se fazer referência ao momento da
enunciação.
Ao estudar o tempo verbal, cabe fazer referência ao sistema de Reichenbach (1947,
apud Carrasco Gutiérrez 2008) que desenvolve uma teoria dos tempos verbais baseada em
três entidades temporais primitivas: S (speech time) que é o tempo da enunciação ou da fala;
E (event time) que é o tempo do evento (o evento referido pelo predicado da sentença); e R
(reference time) que é o tempo de referência. Entretanto, ao tratar mais a frente da
25
(a) Ele reinou trinta anos. (b) Ele reinava há trinta anos. Tradução livre feita por mim.
31
representação dos tempos verbais na árvore, mostrarei e assumirei a proposta de Carrasco
Gutiérrez (2008). Isso ocorre, pois como se observará adiante, apenas as três entidades
primitivas não possibilitam uma compreensão completa do significado dos tempos verbais.
Segundo Reichenbach (op. cit.), os tempos verbais ordenam, de diversas maneiras, as
três entidades temporais acima. O tempo presente, por exemplo, pode ser representado por
S,R,E (onde a vírgula significa coincidência ou superposição), ou seja, no presente, o tempo
da enunciação coincide com o tempo de referência que coincide com o tempo do evento.
Para dar um exemplo da perspectiva de tempo, segundo o sistema de Reichenbach, e
aspecto, observe as frases abaixo:
a) He estado muy preocupado.
b) Ayer vi a Pedro.
Em (a), o pretérito perfeito composto (doravante PC) he estado representa o aspecto
Perfeito: a perspectiva temporal é aberta e a situação passada (E – tempo do evento) continua
e/ou segue relevante durante o momento da enunciação (S). O ponto de referência (R)
coincide com o momento da fala. Já em (b), o pretérito simples tem o aspecto perfectivo, e
tanto o ponto do evento (E) como o de referência (R) coincidem, sendo anteriores ao
momento da enunciação (S).
Ainda estabelecendo as diferenças entre tempo e aspecto, García Fernández (2000),
baseado em Klein (1992) define o aspecto como a relação entre o tempo da Situação e o
tempo do Foco. O tempo da Situação seria o tempo durante o qual tem lugar o evento
denotado pela parte léxica do verbo. E o tempo do Foco é o período no qual é válida uma
determinada afirmação em uma dada ocasião. O autor afirma que essa seria, ao contrário do
que é expresso pelo tempo, uma relação não dêitica.
Merece destaque também a explicação de Costa (2002) a respeito das duas categorias
em questão. A autora esclarece que tempo e aspecto são categorias temporais no sentido de
que têm por base referencial o tempo físico, mas se distinguem do ponto de vista semântico,
basicamente a partir da concepção de tempo interno (aspecto) e tempo externo (tempo). As
noções semânticas do âmbito do tempo externo dizem respeito à localização do fato
enunciado relativamente ao momento da enunciação; são, em linhas gerais, as noções de
presente, passado e futuro e suas subdivisões. As noções semânticas do âmbito do aspecto são
as noções de duração, instantaneidade, começo, desenvolvimento e fim; são noções que se
referem à maneira como o tempo decorrido é tratado dentro dos limites do fato; o aspecto é a
categoria linguística que informa se o falante toma em consideração ou não a constituição
temporal interna dos fatos enunciados. Essa referência centra o tempo no fato e não o fato no
32
tempo.
Tendo em vista, os conceitos apresentados pelos autores citados, assumo nesta
dissertação que, de fato, tempo e aspectos são categorias que estão sempre relacionadas e de
alguma forma têm como base o tempo físico. Entretanto, quando falo de tempo, trato de uma
categoria dêitica, que se relaciona com as noções de presente, passado e futuro. E aspecto está
relacionado ao tempo interno do evento.
Deve-se observar, também, que embora tempo e aspecto representem conceitos
diferentes, muitas vezes eles são representados morfologicamente através de um mesmo
morfema verbal nas línguas. Entretanto, isso não quer dizer que percam seus valores. Na
língua portuguesa, por exemplo, nos verbos conjugados no Pretérito Imperfeito, a desinência -va (caminhava) acumula a noção de tempo (passado) e de aspecto (imperfectivo).
Em relação ao aspecto, faz-se necessário citar que esse pode estar expresso de duas
formas, na semântica do verbo (aspecto lexical) ou em sua morfologia (aspecto gramatical26,
esse já exposto acima segundo a visão de diferentes pesquisadores). O aspecto lexical
(aspecto de situação27; Aktionsart, tipo de situação28) diz respeito à característica semântica
expressa em verbos como ser, estar e ter, que, por si só, representariam um caráter transitório
ou permanente do sintagma. Já o aspecto gramatical refere-se ao modo como o falante
apresenta um evento ou uma situação através da escolha de tempos verbais. Smith (1991)
afirma que essas duas formas existem devido à natureza composta do aspecto.
O aspecto lexical se entende como as qualidades temporais próprias da situação
designada por um verbo ou uma predicação. Normalmente é considerado como uma
característica inerente dos lexemas verbais. Aristóteles foi quem começou a estudar o aspecto
como um elemento da gramática das línguas naturais inerentes a itens lexicais. Ele
estabeleceu dois tipos diferentes de fenômenos relacionados a verbos: movimentos e
realizações. Vendler (1967), na linguística moderna, é quem reestrutura a ideia de Aristóteles
e apresenta um esquema de tempo pressuposto por vários verbos. Muitos trabalhos
linguísticos seguem a classificação de Vendler (ibidem), que separa os verbos em quatros
tipos de aspectos lexicais: estados, atividades, processos culminados (accomplishment) e
culminação (achievement).
Neste trabalho, também seguiremos a classificação proposta por Vendler (ibidem) e,
para tanto, detalharemos seu trabalho a seguir. Pode-se dizer que sua classificação se baseia
26
Pode-se dizer aspecto verbal ou gramatical.
De Miguel (1999).
28
Smith (1991) denomina dessa forma, pois defende que esse tipo aspecto refere-se às propriedades aspectuais
do evento descrito pelo predicado, ou seja, pela união do verbo com seus possíveis argumentos.
27
33
em três oposições que permitem definir cada tipo de aspecto como um conjunto de traços:
1- A dinamicidade opõe os estados ([ - dinâmico]) aos demais tipos ([ + dinâmicos]);
2- Ser pontual opõe as culminação ([ + pontual ]) aos demais ([ - pontual], ou seja,
durativos);
3- A telicidade que opõe processos culminados ([ + télico]) às atividades ([- télico]).
Uma situação é télica se existe um final inerente a mesma, que deve ser alcançado para
que se possa dizer que tal situação aconteceu (Escreveu um livro).
Uma situação é atélica quando não possui um fim inerente, tem lugar desde o
momento que começa e a partir daí pode prolongar-se indefinidamente (Ele escreve livros).
Os verbos de atividade são aqueles que descrevem processos dinâmicos e atélicos,
ou seja, o final da ação não é intrínseco ao verbo, e a ação, em si, pode durar para sempre; a
atividade não termina, mas cessa (o ponto final é decidido por alguém ou alguma coisa,
portanto, arbitrário).
Esses verbos admitem pequenos intervalos na atividade sem que isso ponha em causa
o próprio processo. Numa frase como: Ela estudou o dia todo, a existência de pequenos
lapsos de tempo em que ela não estudou não impede a leitura de estudar como um processo.
Portanto, pode-se dizer que as atividades terminam, se completam ou param com a
possibilidade de voltar e seguir fazendo-as.
Os verbos cujo aspecto lexical é de processo culminado, são verbos com duração
intrínseca, com estágios sucessivos e um ponto de culminância, que representa a finalização
do processo com uma mudança de estado, como por exemplo: Maria cozinhou um bolo.
Os verbos de culminação são os que descrevem eventos instantâneos e não possuem
estágios. Opõem-se aos de processo culminado por referirem-se ao fim da ação e não ao
processo inteiro. Exemplo: Encontrei Maria.
E finalmente os verbos de estado são os que não possuem mudança durante o período
de tempo em que representam uma verdade. No exemplo, João ama Maria, em qualquer
subdivisão temporal possível dessa oração, será verdade que João ama Maria.
Em relação aos verbos de atividade e aos de processo culminado, observa-se que
ambos têm traços muito próximos ([+ durativos] e [+ dinâmico]) e se diferenciam apenas pela
telicidade. Dessa forma um verbo de atividade pode se tornar facilmente de processo
culminado, a partir do uso de um complemento. Isso quer dizer que, a atividade de “desenhar”
pode se transformar em um processo culminado uma vez que se estabeleça uma faixa
limítrofe ou uma meta a partir da inserção de um complemento, como em “desenhar um
coração”.
34
Portanto, nota-se que a cardinalidade do sintagma determinante do complemento
verbal é um elemento que influencia na leitura do aspecto lexical de um verbo. Segundo
Slabakova (2000), a cardinalidade é determinada pela mensurabilidade do sintagma
determinante. Se o objeto denotado puder ser exaustivamente contado ou mensurado será
classificado como de cardinalidade especificada (Vender um livro). Caso contrário, se o objeto
denotado não puder ser mensurado ou contado com exatidão será de cardinalidade não
especificada (Vender livros). Artigos, definidos ou indefinidos, pronomes e numerais são
classificados como sintagmas determinantes de cardinalidade especificada. Por outro lado,
quando o complemento verbal é um nome no singular ou plural e não apresenta um artigo, o
complemento é caracterizado como um sintagma determinante de cardinalidade não
especificada.
A cardinalidade dos argumentos nominais, segundo Verkuyl (1993), determina a
interpretação de um evento como télico ou atélico. Dessa forma, um complemento verbal que
tenha um sintagma determinante de cardinalidade especificada implica em uma leitura télica
do evento, já se o complemento verbal tiver um sintagma determinante de cardinalidade não
especificada implicará uma leitura atélica do evento. Para que se possa observar essa questão,
observe os exemplos abaixo:
a) “escrever” – Como não há um complemento, tem-se a leitura de um evento atélico que
demonstra uma atividade.
b) “escrever carta” – Observa-se que há um complemento com sintagma determinante de
cardinalidade não especificada (palavra no singular sem artigo) tem-se a leitura de um evento
atélico que demonstra uma atividade.
c) “escrever cartas” – Um complemento com sintagma determinante de cardinalidade não
especificada (palavra no plural sem artigo), tem-se a leitura de um evento atélico que
demonstra uma atividade.
d) “escrever uma carta” – Nesse caso, tem-se um complemento com sintagma determinante de
cardinalidade especificada e por isso há a leitura de um evento télico que demonstra um
processo culminado.
Outra autora que analisa a questão do aspecto é De Miguel (1999). A autora utiliza
em seus estudos o conceito de “aspectualidade” que define como sendo a noção que informa
sobre como um evento se desenvolve e se distribui no tempo. Ela expõe que o aspecto lexical
e o aspecto flexivo (gramatical) estão englobados sob o termo de aspectualidade. A autora
também observa a questão supracitada de que um complemento pode modificar o tipo de
verbo. De Miguel (ibidem) relaciona esse fato à natureza composicional do aspecto léxico, ou
35
seja, a possibilidade do verbo poder ser modificado pelas informações contidas em outros
elementos da frase – sujeito, complementos, modificadores adverbiais de tempo e lugar, a
negação e a própria informação temporal-aspectual da forma na qual a raiz do verbo aparece
flexionada. Abaixo podemos observar o esquema proposto pela autora para ilustrar as
possibilidades de expressão das distintas informações contidas na aspectualidade.
Esquema de aspectualidade (DE MIGUEL 1999, p. 2993)
Como é possível observar, De Miguel (ibidem) apresenta o aspecto flexivo, o
aspecto léxico e o aspecto léxico-semântico (relação entre o aspecto lexical e outros
elementos da frase que traz informações aspectuais). Após assumir que admite que os
significados aspectuais podem ser expressos no interior do verbo ou em estruturas mais
amplas, a autora enumera os diferentes elementos que influenciam na especificação aspectual
de um predicado. A seguir, pode-se observar, resumidamente, como os elementos citados pela
autora trazem informações aspectuais.
O primeiro que cita é a raiz verbal, defende que os diferentes significados aspectuais
podem ser trazidos pelo verbo, mais especificamente pela raiz verbal. Exemplifica mostrando
verbos que expressam eventos que não mudam (odiar, saber) e verbos que expressam ou que
significam uma mudança (construir, trabalhar); depois mostra que há verbos que trazem a
ideia de eventos que acabam (nascer, morrer) e os que não acabam (andar, viajar), e assim
36
por diante. Essas características ajudam na compreensão da classificação proposta por Vendler
(1967), pois se o evento expresso pelo verbo não muda, tem-se verbos de estados, se não
acabam, verbos de atividade, se acabam podem ser processos culminados ou culminações.
Outro elemento que influenciaria na especificação aspectual de um predicado seria o
afixo derivativo. A autora exemplifica com o prefixo re-, que estaria dotado de um valor
intensificador. Quando utilizado com um verbo que indica um evento delimitado, esse prefixo
admite repetição, ele dá ao verbo um valor iterativo, portanto reconquistar é voltar a
conquistar. Entretanto, quando o verbo indica um evento não delimitado, o valor que
acrescenta é o intensivo, sendo assim rebuscar não indicaria a repetição da ação, e sim
demonstraria a intensidade com que se realiza o evento. A autora ressalva que há certos
verbos delimitados como cortar ou matar com os quais o prefixo re- apenas traria o valor
intensivo. Isso se daria devido ao fato de que os objetos desse tipo de verbos deixam de existir
uma vez que o evento acaba, sendo assim a ação não poderia ser feita da mesma forma sobre
o mesmo objeto (não se pode matar alguém pela segunda vez - “rematar”).
O se (me, te...) delimitador também é, no espanhol, um outro elemento explicitado
pela autora. Esse se traz uma marca aspectual que informa a delimitação de um evento. O se
aparecerá com verbo que marque que o evento tem um limite, um fim e esse pronome só
poderá aparecer se o verbo tiver um complemento direto. Observe os exemplos que a autora
utiliza (p.2995):
a) Juan (*se) come normalmente en este bar.
b) Juan (*se) come tortilla siempre que puede.
c) Juan #(se) comió una tortilla él solo29.
Segundo, De Miguel (ibidem) apenas será possível utilizar o se na letra (c), uma vez
que o complemento una tortilla traz um limite para o evento. Observa-se nesse caso que o se
não é obrigatório, entretanto ele reforça a ideia de limite do evento.
Outro uso do se é com verbos inacusativos, ainda será necessário que haja alguma
delimitação do evento para que esse pronome possa ser utilizado. Nesses casos, o que trará
essa delimitação será um sintagma que marque explícita ou implicitamente o início do evento,
ou seja, com verbos inacusativos, o se também traz uma marca aspectual de limite, entretanto,
é um limite inicial. Em El libro #(se) ha caído del estante30, o sintagma preposicional del
estante marca o ponto de partida do evento, sendo assim é permitido o uso do se, ao contrário
29
a) Juan (*se) come normalmente neste bar.
b) Juan (*se) como omelete sempre que pode.
c) Juan #(se) comeu um omelete sozinho.
30
O livro #(se) caiu da estante.
37
do que ocorre em La lluvia (*se) cae31.
A seguir De Miguel (ibidem) trata dos elementos que estão relacionados ao contexto
sintático que se encontra em torno do verbo. Segundo a autora, o contexto sintático contém
diferentes fatores que são determinantes na aspectualidade de um predicado e cita alguns
desses fatores – os complementos dos verbos32, os advérbios ou locuções adverbiais, o sujeito
da oração e os verbos modais.
Ao tratar dos advérbios e locuções adverbiais, De Miguel (ibidem) afirma que a
presença desses pode reforçar ou modificar determinado valor aspectual do verbo como
unidade léxica. Dentre os exemplos dados pela autora, destaco alguns para melhor
compreensão (p. 3000):
a) El secretario leyó el informe durante una hora.
b) El secretario leyó el informe en una hora33.
Nota-se que na frase (a), devido à locução adverbial temporal, é possível entender
que a ação de leer el informe aconteceu por uma hora e em cada momento desse intervalo de
tempo é verdade que o sujeito esteve lendo o documento. Já em (b), o marcador temporal en
una hora, demonstra o tempo que o sujeito levou para ler o documento, o que não ocorre em
nenhum momento do intervalo descrito, ou seja, antes de uma hora, a ação de ler o documento
ainda não havia ocorrido.
Outros exemplos são (p.3002):
a) De repente, Inés se acordó de aquel inquietante sueño.
b) Durante años, Inés se acordó de aquel inquietante sueño34.
Em (a), o marcador temporal, de repente, traz uma leitura aspectual pontual do
evento. Entretanto, durante años, é um advérbio que implica em uma leitura reiterativa.
O próximo elemento sobre o qual De Miguel (ibidem) expõe é o sujeito da oração, a
autora defende que o valor aspectual de certos predicados irá variar dependendo do tipo de
sujeito (contável ou não contável35; coletivo ou individual36; agentivo ou não agentivo37;
31
A chuva (*se) cai.
Não apresentarei a proposta da autora para os complementos dos verbos, pois é a mesma citada anteriormente
nesta dissertação, quando abordou-se a questão da cardinalidade dos complementos. Entretanto a autora não
utiliza o termo cardinalidade, ela utiliza os termos determinado ou não determinado.
33
a) O secretário leu o relatório durante uma hora.
b) O secretário leu o informa em uma hora.
34
a) De repente, Inés se lembrou daquele inquietante sonho.
b) Durante anos, Inés se lembrou daquele inquietante sonho.
35
Classificar o sujeito como contável ou não contável, tem a ver com o tipo de substantivo que se encontra no
sujeito. Substantivos contáveis são aqueles que se referem a coisas que não podem ser divididas sem deixar de
ser o que são (árvore, mesa). Já os não contáveis, podem ser divididos e não deixam de ser o que são (água,
vinho). Um pouco de vinho, sempre será vinho, mas um pedaço de mesa, não será uma mesa.
32
38
genérico ou específico38).
Entre muitos exemplos que a autora apresenta, exponho abaixo alguns para que se
possa compreender um pouco mais sobre a influência do sujeito na aspectualidade da frase.
Observe (p. 3004):
a) La lluvia cayó durante toda la tarde.
b) El árbol cayó al golpearlo el hacha39.
Em (a), o sujeito chuva (lluvia) é não contável e por isso não pode delimitar o evento
de cair a chuva, sendo assim tem-se uma leitura de evento não delimitado e durativo. Já
árvore (árbol) é um nome contável possível de delimitar o evento no qual participa, por isso
tem-se então uma leitura de evento delimitado e pontual.
Todas essas questões referentes à aspectualidade são relevantes nesta dissertação,
uma vez que ao analisar os dados encontrados no corpus selecionado, tais questões serão
levadas em consideração.
Após expor acerca da diferença entre tempo e aspecto (gramatical e lexical), no
próximo capítulo, definirei e descreverei de forma mais detalhada os aspectos Perfeito e
perfectivo que são os aspectos que podem estar veiculados ao tempo verbal analisado neste
estudo – o pretérito perfeito composto. Tratarei sobre o PC, sua formação e seu uso em
diferentes línguas.
36
O substantivo coletivo é um nome no singular que se refere a um conjunto de elemento (família, cardume). O
individual, ao contrário, se refere a um só elemento (mãe, peixe).
37
Sujeito agentivo é aquele que provoca a ação, enquanto o não agentivo é aquele que sofre o efeito da ação.
38
O sujeito específico será quando se referir a um objeto ou indivíduo determinado. Já o genérico, é o contrário,
se refere a objetos ou indivíduos não determinados.
39
a) A chuva caiu durante toda a tarde.
b) A árvore caiu ao ao ser golpeada pelo machado.
39
2. O PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO
Neste capítulo, retomarei o conceito de aspecto perfectivo, para compará-lo ao aspecto
Perfeito, que a princípio seria o aspecto veiculado ao tempo verbal analisado neste trabalho –
o pretérito perfeito composto. Após a apresentação dos valores aspectuais, tratarei brevemente
da formação desse tempo verbal, para em seguida apresentar o que os estudos propõem em
relação ao uso do PC e seu valor no português e em outras línguas. Sigo com as informações
acerca do PC nas diferentes variantes do espanhol, para enfim, tratar especificamente do uso
do PC na variante mexicana.
2.1. O aspecto Perfectivo e o aspecto Perfeito
Comrie (1976) define dois aspectos como básicos: o perfectivo e o imperfectivo.
Descreverei mais detalhadamente o aspecto perfectivo, uma vez que esse está na base deste
trabalho e depois apresentarei o aspecto Perfeito.
Comrie (ibidem) apresenta o perfectivo como o aspecto em que se vê a situação como
um todo, é um olhar de fora, sem dividir a situação em qualquer estrutura interna, ao contrário
do imperfectivo que olha para dentro da situação e preocupa-se crucialmente com a estrutura
interna da situação40. Smith (1991) explica que os eventos apresentados no perfectivo
apresentam, normalmente, tanto o ponto inicial quanto o ponto final de uma situação,
desconsiderando sua estrutura interna.
Quando o evento é visto como um todo, circunscrito a um determinado intervalo de
tempo, Carrasco Gutiérrez (2008), também o denomina como tendo uma leitura de aspecto
perfectivo. Dessa forma, todo o evento, desde seu início até seu fim tem de ser anterior ao
momento da fala. Para o aspecto perfectivo a autora apresenta os seguintes exemplos (p.32):
– ¿Viste ayer al compañero de Juan?
– No, estuvo en Lisboa por razones de trabajo41.
Nesse exemplo, segundo Carrasco Gutiérrez (ibidem), a permanência do companheiro
de Juan em Lisboa se limita ao dia anterior do momento da enunciação. Não é possível nesse
caso que o companheiro de Juan esteja em Lisboa antes do período sinalizado nem que
40
“Perfectivity indicates the view of a situation as a single whole, without distinction of the various separate
phases that make up that situation; while the imperfective pays essential attention to the internal structure of the
situation.” (p.16)
41
- Você viu ontem o companheiro do Juan?
- Não, esteve em Lisboa por razões de trabalho.
40
continue na cidade depois. Isso ocorre porque o pretérito simples (estuvo), marca o aspecto
perfectivo, isto é, identifica um evento como um todo, terminado, que está completo. Segundo
a autora, a anterioridade apresentada pelo perfectivo tem que ser de todo o evento desde que
comece até que acabe.
Ao trabalhar o aspecto perfectivo, alguns autores utilizam outro termo para denominar
o mesmo valor aspectual. Kempas (2006), por exemplo, ao invés de utilizar o termo
perfectivo, utiliza aoristo42, mas explica que na literatura é natural que esses termos sejam
usados como sinônimos. Ele cita autores que adotam esse termo, tais como: Bertinetto (1986),
García Fernández (2000) e Thieroff (2000). Já Dahl (1985 y 2000), Bybee, Pagliuca e Perkins
(1991), Schwenter (1994) e Serrano (1994: 39) utilizam o termo perfectivo. Kempas (op. cit.)
afirma que há autores, como por exemplo, Sánchez y Sarmiento (1989) que usam o termo
perfectivo com o sentido oposto, ou seja, com o sentido de aspecto Perfeito43.
O autor define o aspecto aoristo como aquele que expressa uma ação claramente
terminada no passado que está desvinculada do momento da enunciação. Acrescenta que
quando se expressa o aspecto aoristo tanto o ponto de referência como o do evento são
anteriores ao momento da fala44.
Prosseguindo com as definições dos aspectos trabalhados neste trabalho, volto a citar
Comrie (1976). Como supracitado, a princípio, o autor define dois aspectos básicos:
perfectivo e imperfectivo, entretanto, mais adiante em seu livro é apresentado o aspecto
Perfeito:
The perfect is rather different from these aspects, since it tells us nothing
directly about the situation in itself, but rather relates some state to a
preceding situation. (…) it expresses a relation between two time-points, on
the one hand the time of the state resulting from a prior situation, and on the
other the time of that prior situation.45 (p.52)
42
Segundo o autor, o termo “aoristo”, está baseado no tempo verbal da língua grega de mesmo nome, conhecido
pelo seu uso para expressar o mesmo tipo de ação do aspecto em questão.
43
Sánchez y Sarmiento (1989, p. 143 apud Kempas 2006): “Merece la pena destacar, sin embargo, el valor del
pretérito perfecto: en cuanto “perfectivo”, señala que la acción espeficada ha terminado ya, pero el hablante la
asocia o engloba en su presente, generalmente porque es relevante para el sujeto por alguna razón. Conviene
tener en cuenta que el hablante puede considerar como englobado en el presente cualquier espacio temporal, ya
sea reducido o extenso, de días, semanas, años o siglos:
En la historia del hombre sobre la tierra, ha habido momentos de especial desarrollo genético.”
Tradução: “Vale a pena destacar, entretanto, que o valor do pretérito perfeito: enquanto “perfectivo”,
marca que a ação expressa já terminou, mas o falante a associa ou engloba com o seu presente, geralmente
porque é relevante para o sujeito por alguma razão. Convém compreender que o falante pode considerar como
englobado no presente qualquer espaço temporal, seja curto ou longo, de dias, semanas, anos ou séculos.”
44
El aoristo (…) corresponde a una perspectiva temporal cerrada y a una situación pasada percibida como
claramente terminada respecto al momento del habla (H): tanto el punto del evento (E) como el de referencia (R)
coinciden, siendo anteriores al momento del habla (H).
45
O perfeito é muito diferente desses aspectos, já que não nos diz nada diretamente sobre a situação per se, mas
antes relaciona um estado a um evento precedente. (...) ele expressa uma relação entre dois pontos, de um lado o
41
Seria, portanto, o Perfeito um aspecto que relaciona um estado a um evento anterior,
precedente. Ao tratar o Perfeito (perfect) como aspecto, Comrie (ibidem) não deixa claro se
esse faz parte de um dos aspectos básicos definidos por ele anteriormente. Nesta dissertação,
consideramos o Perfeito como um aspecto independente dos outros, e que tem a leitura de
uma relação entre um evento passado com o momento presente.
Comrie (ibidem) apresenta quatro valores diferentes para o aspecto perfeito:
• perfeito de resultado – estado presente como resultado de um evento passado. Esse seria um
exemplo típico de perfeito que atribui o valor atual de uma situação que se deu no passado.
Exemplo: He ido al médico46. O que importa não é o fato de ir ao médico em si, e sim as
consequências que isso tem no momento da enunciação.
• perfeito experiencial – dada situação ocorreu pelo menos uma vez no passado, deixando
uma experiência e essa se interpreta como uma relevância atual deste evento. Exemplo: ¿Ya
has ido a Brasil47? Considera-se as consequências obtidas através dessa experiência.
• perfeito de passado presente – relevância presente de um fato passado. Comrie (ibidem)
adverte que embora o nome faça crer que este uso refere-se apenas a um evento ocorrido
recentemente, na verdade, este uso implica uma relevância presente de um fato passado que
não necessariamente seja recente. Muitos autores acreditam, inclusive, que a proximidade ou
não do fato passado é muito subjetiva e depende da intenção do falante. Exemplo: Todavía no
han comprado los billetes48. Essa situação tem, portanto, uma proximidade com o momento
presente, contudo essa noção é subjetiva.
• perfeito de situação que persiste – o evento ocorreu, começou no passado e persiste no
presente, consequentemente há uma reiteração. Exemplo: He ido a la playa49. Aqui o que se
ressalta, portanto, é a repetição ou duração de uma ação no passado até o momento da
enunciação, podendo persistir no futuro.
Ao se referir ao aspecto Perfeito, Kempas (2006) explica que usa o termo Anterior
para expressar esse aspecto. Segundo o autor, o aspecto Anterior se refere a uma perspectiva
temporal aberta e a situação passada continua e/ou segue relevante durante o momento
comunicativo, ou seja, a ação passada expressa pelo predicado pode continuar ou se repetir no
momento da fala50.
tempo do estado resultante de uma situação anterior, e do outro, o tempo da situação anterior.
46
Fui ao médico. (Não traduzo com o pretérito composto do português, pois no perfeito de resultado não há a
presença de duratividade ou iteratividade, como deve haver no PC do português.)
47
Você já foi ao Brasil?
48
Ainda não compraram os tíquetes.
49
Tenho ido à praia.
50
En (…) el aspecto anterior (en adelante ANT): la perspectiva temporal es abierta y la situación pasada (E)
42
Ao explicar o uso dos termos perfeito e anterior, Kempas (ibidem) esclarece que em
primeiro lugar, a palavra “perfeito” vem do latim perfectum e significa originalmente
“acabado” ou “consumado”, o que estaria em contradição com a perspectiva temporal aberta
associada a esse aspecto, sobretudo nos casos em que a ação expressa continua durante o
momento da enunciação ou depois dele, como por exemplo, numa oração como: “He estado
muy ocupado últimamente51.”
Em segundo lugar, o autor expõe que uma combinação como “Pretérito Perfecto
perfecto” soa mal, assim como “Perfecto Compuesto perfecto” (nesse caso, perfecto se refere
ao aspecto Perfeito, Anterior), por isso, o autor decide pelo termo Anterior. Por último,
Kempas (ibidem) afirma que na literatura se utiliza bastante o termo “Perfectivo”, além de
“Aoristo” para indicar o contrário do aspecto anterior (Perfeito), e que o uso dos termos
Perfeito e perfectivo como noções aspectuais contrárias podem causar confusões. Por último,
o autor afirma que seria impossível justificar essa diferença semanticamente, ele questiona:
“¿cómo denotaría el término ‘perfectivo’ una acción más claramente terminada respecto al
momento comunicativo que ‘perfecto’52?” Como é possível observar, a questão levantada pelo
autor é que uma ação perfeita, seria aquela que já está terminada, acabada, e não é essa a
leitura do aspecto Perfeito, esses conceitos poderiam, portanto, causar confusões.
Nesta dissertação, utilizarei os termos “perfectivo” e “Perfeito”, uma vez que já estão
mais consagrados na literatura, e porque acredito que uma vez que fique clara a leitura
aspectual de cada um53, não haverá confusões. Além disso, quando o leitor estiver
comparando este trabalho, com outros que tratem do mesmo tema, não terá dificuldade de
fazer relações entre eles, umas vez que os termos utilizados serão os mesmos na maioria dos
trabalhos. Contudo, utilizarei os outros termos, aoristo e Anterior, quando for citar autores que
os utilizam. É importante ressaltar, entretanto, que eles sempre serão tratados como
sinônimos54.
Comrie (1976), ao observar o aspecto Perfeito, não focaliza seus estudos na língua
continúa y/o sigue relevante durante el momento comunicativo (H). El punto de referencia (R) coincide con el
momento comunicativo.
51
Tenho estado muito ocupado ultimamente.
52
Como o termo “perfectivo” denotaria uma ação mais claramente terminada respeito ao momento comunicativo
que “Perfeito”.
53
Neste trabalho, utilizaremos três aspectos básicos, perfectivo, imperfectivo e perfeito.
Perfectivo: ação vista como um todo, terminada, sem relação com o presente. Comprei um quadro novo.
Imperfectivo: olhar para a estrutura interna do evento, se relaciona à duração da ação. Comprava muitos quadro
quando trabalhava no museu.
Perfeito: relaciona-se dois momentos: quando aconteceu o evento e qual seu resultado, consequência com o
momento presente. No caso do perfeito continuativo, a ação que começou no passado se estende até o presente.
Tenho estudado muito.
54
Perfectivo sinônimo de aoristo, e Perfeito sinônimo de Anterior.
43
espanhola. Ao contrário deste autor, García Fernández (2000, p. 57 - 58) realizou um estudo
específico desse aspecto no espanhol. O autor apresenta, entretanto, não quatro, mas três
subvariedades do Perfeito, a saber: resultativo, experiencial e continuativo. Os dois primeiros
são equivalentes ao Perfeito de resultado e ao Perfeito experiencial propostos por Comrie (op.
cit.): “En el resultativo hablamos del resultado de un único evento, mientras que en el
experiencial hablamos del estado de cosas que supone estar en posesión de un cierto tipo de
experiencia, en el sentido más amplio del término”55. Já o continuativo corresponde ao
Perfeito de situação que persiste: “lo que caracteriza al Perfecto continuativo es que las
situaciones son prolongables, es decir no se afirma nada sobre el final de las mismas, tal y
como ocurre con el Imperfecto56”.
Ao tentar mostrar que a classificação de Comrie para o aspecto Perfeito, não é a mais
indicada para a análise do PC em espanhol, Kempas (2006), cita Dahl (1985). Este autor
critica Comrie por não distinguir claramente entre as categorias semânticas e as categorias
funcionais, para Dahl (1985 apud Kempas 2006), a classificação de Comrie parece estar
relacionada com as categorias semânticas, e para o autor, o ponto de partida de Comrie
deveria ser funcional. O autor diz também que as funções atribuídas aos subtipos de perfeito,
muitas vezes se sobrepõem, principalmente o Perfeito de resultado e o de passado recente.
Ainda na tentativa de mostrar que a classificação de Comrie (op. cit.) não é a mais
indicada para a análise do PC em espanhol, Kempas (op. cit.) defende a ideia de que para o
estudo do espanhol peninsular o Perfeito de passado recente apresentaria um problema, pois
nessa variante o perfeito de passado recente poderia ser interpretado como perfectivo ou como
Perfeito. Segundo o autor, isso ocorre devido ao que ele chama de gramaticalização do PC
como tempo aorístico hodiernal57, como o que ocorre em: Hoy he almorzado a las doce.
Nesse exemplo, o PC tem valor aoristo, uma vez que a ação foi realizada e não tem relação
com o presente. Entretanto, essa oração poderia ser considerada como de aspecto Perfeito se o
fato dele ter almoçado as duas da tarde tenha trazido consequências para o momento da
enunciação. Por exemplo, se são oito da noite e a pessoa ainda não comeu nada, ela pode
dizer: Hoy he almorzado a las doce y por eso tengo mucha hambre58.
Ainda sobre a distinção entre o aspecto perfectivo e o Perfeito, García Fernández
55
“No resultativo falamos do resultado de um único evento, enquanto no experiencial falamos do estado de
coisas que supõe estar em pose de um certo tipo de experiência, no sentido mais amplo do termo.”
56
“o que caracteriza ao Perfeito continuativo é que as situações são prolongáveis, ou seja, não se afirma nada
sobre o final das mesmas, assim como ocorre com o Imperfeito.” (O “Imperfeito” a que se refere é o pretérito
imperfeito.
57
Refere-se ao uso do PC com valor aspectual de aoristo para indicar ações que acontecem no mesmo dia do
momento da enunciação. Ex.: Esta mañana me he despertado a las seis.
58
Hoje almocei ao meio dia e por isso estou com fome.
44
(2008), em relação à interpretação aspectual do pretérito composto afirma que:
Dado que en el Aoristo se focaliza todo el evento verbal y que en el Perfecto
se focaliza un período que sigue al evento, esta última interpretación se
siente como aspectualmente marcada, mientras que la primera se siente
como aspectualmente neutra. Por ello, muchos autores hablan de una
interpretación aspectual, la de Perfecto, y de una interpretación temporal, la
de Aoristo. Sin embargo, lo que en realidad sucede, en nuestra opinión, es
que cada forma verbal tiene un contenido aspectual y otro temporal59. (p.
362)
Portanto, segundo a autora, ambos têm um valor temporal e um aspectual, entretanto,
no aspecto perfectivo, que vê a ação passada como um todo e essa já estar concluída,
poderíamos propor que teríamos menos informação aspectual do que quando temos uma
situação de aspecto perfeito que relaciona dois momentos: o passado, quando ocorreu a ação,
com o presente (momento da enunciação).
Essa questão implicará também nas representações sintáticas arbóreas que se faz para
o pretérito composto que apresentarei mais a frente, havendo uma para quando há uma leitura
perfectiva, e outra para quando é uma de Perfeito.
Em relação aos subtipos de Perfeito, também assumimos os defendidos por García
Fernández (op. cit.), que são o Perfeito resultativo, o experiencial e o continuativo. Não
assumo a de Comrie (op. cit.), pois assim como Kempas (op. cit.) defendo a ideia que um
evento ter acontecido próximo ao presente não indica que se tenha uma leitura de Perfeito,
pois essa ação não necessariamente tem consequência no momento da enunciação. Por isso, as
ações que seriam consideradas de passado recente por Comrie (op. cit.), nesta dissertação,
serão consideradas como Perfeito resultativo (se houver consequências no momento presente)
ou perfectivo, se o PC for usado apenas porque é uma ação próxima ao momento da
enunciação. Essa escolha em relação à análise dos dados, será retomada na parte de
Metodologia.
A seguir apresentarei a formação do pretérito perfeito composto, para em seguida,
apresentar seus usos e valores em diferentes línguas e/ou variantes.
59
Tendo em vista que o aoristo foca todo o evento verbal e que no perfeito se foca um período que segue o
evento, esta última interpretação se nota como aspectualmente marcada, enquanto que a primeira se observa
como aspectualmente neutra. Por isso, muitos autores falam de uma interpretação aspectual de perfeito, e uma
interpretação temporal de aoristo. Entretanto, o que em realidade acontece, em nossa opinião, é que cada forma
verbal tem um conteúdo aspectual e outro temporal.
45
2.2. Sua formação
O pretérito perfeito composto60 é uma perífrase verbal formada pelo auxiliar TER ou
HAVER + um verbo no particípio. Sua origem é uma perífrase latina de valor resultativo,
como se pode comprovar no exemplo abaixo, dado por Carrasco Guriérrez (2008, p.14):
Habeo
epistulam
tengo
carta
scriptam.
escrita
“tengo la carta escrita”
Nesse exemplo, pode-se observar que essas perífrases resultativas latinas são formadas
por um verbo pleno com significado de posse e dois constituintes, um nominal e outro
adjetival, entre os quais se estabelece uma relação de predicação. O verbo habere com o
particípio de outro verbo indicava a ação efetuada, mas mantida em si mesma ou em suas
consequências, como em espanhol com o verbo tener (tengo la carta escrita).
Carrasco Gutiérrez (ibidem) explica que para passar da perífrase do exemplo acima
para o PC atual do espanhol (ha escrito la carta) foram necessárias quatro modificações: a) a
gramaticalização do verbo haver; b) a identificação entre o sujeito de haver e o sujeito agente
implícito no particípio; c) a fixação do particípio do masculino singular; d) a impossibilidade
quase absoluta de interposição entre o auxiliar e o particípio. Esta última varia dependendo da
língua romance, em português, por exemplo, essa interposição é possível – Ele tem me
ajudado muito.
Com a evolução das línguas românicas, o uso do PC foi se modificando e com isso o
valor aspectual veiculado a ele também. Harris (1982, apud Akerberg 2008) descreve a
evolução da categoria do PC em diferentes etapas e estágios, o que fez com que as línguas se
diferenciassem, uma vez que umas desenvolveram mais estágios do que as outras.
1. A primeira etapa encontra-se no latim com o verbo habere, significando “possuir” e
um particípio (habeo factum), e também um objeto, como teríamos em português em frases
como: Tenho a comida feita. Nesse caso, é possível observar a relação estreita com o presente
desta forma verbal, já que o resultado de uma ação passada está presente. Este tipo de
construção seria o único uso do PC em alguns dialetos do sul da Itália.
2. Na segunda fase, o PC indicaria uma situação que ocorreu, começou no passado e
ainda tem efeitos no presente e possibilidade de continuar no futuro (perfeito persistente,
60
Para muitos autores, como por exemplo, Cardoso e Pereira (2003) essa designação de pretérito perfeito
composto para a perífrase ter + particípio em português não é válida já que, segundo eles, não há mais
perfectividade na maior parte das sentenças contemporâneas.
46
continuativo). Teria o uso aspectualmente durativo ou repetitivo. Esse seria o estágio em que
se encontra o português, o galego e várias variedades do espanhol da América61: Tem chovido
muito. Ha llovido mucho.
3. O mais prototípico dos usos do PC é o do terceiro estágio. Esse se refere a uma ação
terminada no passado com relevância para o presente (Perfeito de resultado e Perfeito
experiencial). O evento se deu e terminou no passado, mas não interessa o momento exato, só
o resultado ou a experiência que deixou. Apesar de ser muito frequente no espanhol da
Espanha e existir no da América62, esse uso do PC a princípio não existe em português. Em
espanhol seria He ido a Francia, enquanto em português utilizaria-se a forma simples – Fui à
França.
4. Finalmente a última etapa seria, segundo Harris (ibidem), o uso do PC estendido
para incluir qualquer ação do passado com ou sem relevância para o presente.
Consequentemente há a neutralização da distinção entre o pretérito simples e o pretérito
composto. Encontrariam-se nesta etapa o francês, o italiano do norte e o romeno. Como por
exemplo, He visto a Juan hoy, em português utilizamos a forma simples – Vi o Juan hoje.
Podemos observar que, segundo Harris (ibidem), as línguas vão se desenvolvendo e
passando para a outra etapa do esquema. A princípio, todas as línguas poderiam se
desenvolver, passando por cada etapa proposta pelo autor. Essa ideia parece favorecer ao
pressuposto da Gramática Gerativa, de que as línguas são mais semelhantes do que diferentes.
Portanto, no quadro teórico desta dissertação, entende-se que as línguas são muito
mais parecidas do que diferentes e que essas diferenças se encontram no léxico63. Para ver um
pouco dessas semelhanças e diferenças no que diz respeito ao PC, a seguir vou expor como é
o uso desse tempo verbal no português e em algumas outras línguas.
2.3. O pretérito perfeito composto no Português e em outras línguas
A primeira ideia que tive para fazer este trabalho era pesquisar e comparar o uso do PC
e os aspectos veiculados a ele no português do Brasil (PB), na variante mexicana e castelhana
do espanhol. Entretanto, ao tentar compor o corpus do PB para a pesquisa, não foi possível
encontrar ocorrências suficientes do PC para que a pesquisa fosse realizada. Por esse motivo,
optamos minha orientadora e eu por retirar o português da análise. Contudo, como este é um
61
Akerberg (2008), Carrasco Gutiérrez (2008).
Voltaremos a esse tema mais detalhadamente.
63
É interessante relembrar que segunda a Gramática Gerativa, a Faculdade da linguagem é composta pelo léxico
(dicionário mental das formas da língua) e pelo sistema computacional.
62
47
trabalho feito no Brasil, é interessante pelo menos na parte teórica expor de forma um pouco
mais detalhada o uso do PC em português. Uma das principais causas para isso, é que
professores de espanhol como língua estrangeira possam ter mais informações sobre as
diferenças e semelhanças desse tempo verbal nas duas línguas, dando foco também às leituras
aspectuais veiculadas ao PC.
Sobre o PC no português do Brasil, Cunha (2001) afirma que:
Ao contrário do que ocorre em algumas línguas românicas, há em português
clara distinção no emprego das duas formas do PRETÉRITO PERFEITO: a
SIMPLES e a COMPOSTA, constituída do presente do indicativo do auxiliar
‘ter’ e do particípio do verbo principal. (...)
A FORMA COMPOSTA exprime geralmente a repetição de um ato ou sua
continuidade até o presente em que falamos.
Cunha (ibidem), ao comparar o português com as outras línguas românicas, faz
menção àquelas que, atualmente oscilam entre as formas simples e compostas de passado e
àquelas onde, inclusive, já houve neutralização dos usos dessas formas, ou seja, que utilizam
o PC em contextos em que antes só se usava o pretérito simples, como, por exemplo, no
francês falado.
Segundo Ilari (2001),
1. O passado composto português exprime iteração, cf.;
(1) Ele tem-nos visitado várias vezes / * uma vez.
2. exprime iteração independentemente de estar presente na oração um advérbio indicando
frequência64;
(2) Ele nos visitou. (= uma vez ou várias vezes)
(3) Ele nos visitou várias vezes. (= várias vezes)
(4) Ele nos tem visitado. (= mais de uma vez)
3. assume eventualmente um valor de continuidade:
(5) Tenho estado doente.
4. diz respeito a um período que começa no passado, mas não se conclui no passado;
(6) Le Monde tem sido entregue em São Paulo pelo correio aéreo desde 1927. / * desde 1927
até 1968.
5. a distinção de um valor durativo e um valor iterativo tem a ver com características
aspectuais do predicado, sendo relevante a Aktionsart (aspecto lexical) do verbo;
64
O autor compara o uso da forma simples com o da forma composta quando há na frase um advérbio indicando
freqüência.
48
(7) O Fernando tem publicado na série “Novos Escritores” da Editora Ática.
(8) A este governo tem faltado vontade política para a solução dos problemas.
6. o passado composto é inadequado não só para descrever fatos que ocorreram uma única
vez, mas ainda para descrever a repetição, se se quer ao mesmo tempo explicitar quantas
vezes o fato se repetiu;
(9) *Eles têm vindo três vezes (cf. fr. Ils sont venus trois fois, it. Sono venuti tre volte).
(10) Eles têm vindo muitas vezes / milhares de vezes.
Como é possível observar, em todos os exemplos do autor, nota-se que o PC no
português está relacionado à noção de iteratividade ou duratividade.
A perífrase [Ter+Particípio] no presente do indicativo, segundo Travaglia (1981,
p.186), através dos exemplos abaixo, é definida como sendo uma construção verbal que marca
o aspecto imperfectivo, o não acabado e o iterativo:
a)
Meu irmão tem mandado notícias. (imperfectivo, iterativo, não-acabado).
b) Tenho amado você desde que te conheci. (imperfectivo, cursivo, durativo, não-acabado).
Ao tentar classificar aspectualmente o PC, Beline (2005 apud Fonseca, 2006)
apresenta o quadro abaixo:
Critério qualitativo
Imperfectivo
João tem trabalhado pela modernização da área.
Perfectivo
Acuda-me, senhor! Aliás, estou perdido e
Henriqueta imolada! A mãe tem decidido* que
receba o Pancrário.
Critério quantitativo
Iterativo
João tem viajado de carro.
* Texto de 1925, perífrase [Ter+Particípio] com valor perfectivo, uso antigo e raro na atualidade.
Como é possível notar a partir das citações acima e das exposições acerca dos aspectos
perfectivo e Perfeito, o PC do português está veiculado ao aspecto perfeito continuativo, que
possui noção aspectual de iteração e, em alguns casos, duração. Na nossa língua, o aspecto
resultativo não é mais caracterizado por essa perífrase, a não ser que concordemos o particípio
em gênero e número com o objeto (Tenho a roupa lavada).
Ao analisar o uso do PC, Bergareche (2008), defende que a diferença de uso desse
tempo verbal entre as línguas românicas baseia-se em três questões: a) a extensão do uso de
um auxiliar alternativo esse para verbos intransitivos; b) a concordância do particípio com o
49
complemento direto (comum da perífrase resultativa original do latim); c) a substituição nos
tempos compostos do auxiliar habere por um auxiliar derivado de tenere.
Segundo o autor, a perífrase habere + particípio estava limitada, originalmente, apenas
a verbos transitivos e só depois, a medida que se desenvolvia seu valor de aspecto Perfeito, foi
ampliando seu uso a outros tipos de verbos. Entretanto, já na Idade Média havia o uso de esse
+ particípio com verbos intransitivos.
Atualmente, o catalão, romeno, espanhol, os dialetos do sul da Itália utilizam apenas a
perífrase com habere. Já em italiano, a construção com habere é reservada às construções
com verbos transitivos. Todos os outros tipos de verbos formam o PC com o auxiliar esse
(essere). Há um pequeno grupo de verbos que podem estar acompanhados do auxiliar habere
ou esse. Observe os exemplos abaixo:
a) He legit un llibre. (Li um livro65.) - Catalão.
b) Am cântat. (Cantei.) – Romeno.
c) A murutu. (Morreu.) – Dialetos do sul da Itália66.
d) Non siamo stati troppo gentili. (Nós não fomos muito gentis.) – Italiano → uso do auxiliar
esse.
e) Ho visto un film. (Eu vi um filme.) - Italiano → uso do auxiliar habere.
O francês tem apenas um pequeno grupo de verbos que formam o PC com esse, seriam
verbos inacusativos que indicam estado, movimento e mudança de estado. No mesmo grupo
estariam incluídos também os verbos pronominais e as construções reflexivas. Nessa língua,
assim como no italiano, há também um pequeno número de verbos que admitem os dois
auxiliares67. Todo o restante apenas admite habere.
a) Il s'est tué. (Ele se matou.) – Francês → verbos que permitem o auxiliar esse.
b) Il a été une grande fête. – (Foi uma grande festa.) Francês → verbos que admitem o
auxiliar habere.
Já no sardo, apenas os verbos transitivos acompanham o auxiliar habere, os outros vão
com esse.
a) Karkunu est arrivatu. (Chegou alguém.)
Em relação à concordância do particípio com o complemento direto, Bergareche
65
As traduções foram feitas livremente por mim, entretanto é importante ressaltar que não mantenho o PC, uma
vez que no português do Brasil esse tempo verbal só é usado com o valor de Perfeito continuativo, sendo assim,
na hora de traduzir utilizei o pretérito simples. Isso ocorreu porque no PB quando temos o Perfeito experiencial,
resultativo ou de passado recente é esse o tempo verbal utilizado.
66
O autor sinaliza que nos dialetos italianos centro-meridionais, é possível encontrar o uso do PC com auxiliar
esse com os verbos transitivos.
67
Os verbos como augmenter (aumentar), baiser (beijar), changer (mudar), vieillir (envelhecer), (...) aceitariam
ambos os auxiliares.
50
(ibidem) informa que em latim a construção precursora das formas românicas compostas,
habere + particípio, era uma estrutura transitiva na qual o particípio acompanhava e esse
concordava com o complemento direto do verbo habere. Essa concordância pode ser
observada no catalão, sardo, no francês standard, no italiano e dialetos do sul da Itália. No
galego, português, francês falado, espanhol e romeno, não é possível encontrá-la.
Algumas línguas, portanto, teriam substituído o habere por tenere no uso do PC.
Atualmente, encontramos esse uso no galego, português e em alguns dialetos italianos centromeridionais.
Abaixo segue uma tabela feita por Bergareche (ibidem, p. 90) que trata dos traços
formais do PC com habere nas línguas românicas.
Perf. com habere + Concordância com Tenere X habere
Perf. com esse
particípio / CD
Galego-português
-
-
+
Espanhol
-
-
-
Catalão
-
+
-
Ocitano
+
+
-
Francês
+
+
-
Retorromânico
+
+
-
Sardo
+
+
-
Italiano
+
+
-
Dialetos do sul da
+
+
-
-
-
-
Itália
Romeno
Bergareche (ibidem) também analisa o valor aspectual do PC em diversos idiomas. Ele
defende que esse tempo verbal pode estar veiculado ao aspecto Perfeito ou aoristo. O autor
define o aspecto Perfeito como aquele que descreve os casos em que se focalizam os
resultados de um evento já concluído, mas que o estado resultante dessa ação pode chegar até
o presente e inclusive estar situado no momento de enunciação. O aspecto aoristo apareceria
quando o evento fosse visto como concluído, o foco estaria em sua totalidade, desde o seu
início até o fim. Segundo Bergareche (ibidem), o PC com leitura de aspecto aoristo está
particularmente veiculado com a referência temporal de passado e por isso seu uso estende-se
51
a contextos próprios do pretérito simples. O autor ressalta que em alguns casos esse tipo de
PC poderia chegar a eliminar o pretérito simples em algumas línguas.
Ao caracterizar o valor aspectual do PC em diversas línguas, o autor as divide em
grupos que apresentam o valor de Perfeito experiencial, outros de Perfeito inclusivo e outros
de Perfeito de passado recente. Ressalta, no entanto, que as línguas podem ter o PC com mais
de um tipo de leitura dependendo do contexto.
O perfeito experiencial se referiria a estados que são resultados de repetições de uma
mesma ação e da experiência gerada por eles. Os exemplos dados por Bergareche (ibidem,
p.93) estão em calabrês (dialeto italiano meridional):
a) Aju jutu. (Fui.)
b) L''aju fattu. (Fi-lo)
Ao tratar do Perfeito inclusivo, o autor expõe que o crucial, nessa leitura aspectual, é
que o evento descrito alcance o seu desenvolvimento até o momento presente. O português
estaria dentro do grupo que tem o PC com esse tipo de Perfeito. Segundo Squartini/Bertinetto
(2000, apud Bergareche 2008), nessa língua, a forma composta só se combinaria com
predicados durativos e algum predicado télico suscetível de interpretações iterativas, dotado,
portanto, em certo modo, de duratividade. Veja os exemplos dados por Bergareche (ibidem,
p.94):
a) Tenho estudado inmenso desde que decidi fazer o exame68.
b) Nos últimos dias o João tem chegado tarde.
c) *O João tem chegado às quatro da manhã.
d) *Ultimamente o João tem lido um romance de Eça de Queiroz.
Ao analisar os exemplos, o autor defende que, em (a) e (b), têm-se exemplos de
atividades ou predicados télicos de leitura iterativa e por isso são possíveis no português. Os
outros dois exemplos seriam agramaticais, pois apresentariam predicados télicos não
durativos.
Entretanto, em orações como – O João tem chegado às quatro da manhã., podem ser
possíveis no português no Brasil, a partir do momento que o contexto indique que essa ação
do João esteja se repetindo diariamente, semanalmente, etc, – O João tem chegado às quatro
da manhã todos os dias.
Ao tratar da leitura aspectual de Perfeito de passado recente, Bergareche (ibidem)
afirma que o uso do PC para descrever eventos situados em um passado recente cria de algum
68
Observa-se que são exemplos tirados do português de Portugal.
52
modo uma ponte entre o uso de PC com valor de Perfeito e o uso do PC com valor aorístico.
Segundo o autor, o espanhol peninsular moderno tende a ampliar o uso do PC em passados
recentes que ultrapassam o limite de vinte e quatro horas que é o que se denomina passado
hodiernal. O espanhol peninsular, seria pois, um exemplo do início do deslocamento do PC
com valor de Perfeito para usos aorísticos típicos do pretérito simples. Squartini/Bertinetto
(2000, apud Bergareche 2008) defendem que frases como Esta noche me he despertado a las
cuatro de la mañana, tem o valor aspectual de aoristo. A proposta feita por esses autores
também é assumida nesta dissertação, uma vez que se um evento está marcado como
finalizado e não há nenhuma marca de estado resultante no momento presente, esse não pode
ser analisado como Perfeito, devendo portanto, ser identificado como sendo de leitura
aspectual perfectiva (aorística). A frase dada como exemplo pelos autores poderia ser
classificada como Perfeito se houvesse uma consequência da ação de acordar às quatro da
manhã, como por exemplo, o falante em seguida dizer que é por esse motivo que ele está
muito cansado.
Abaixo segue o quadro sobre os valores aspectuais do PC em algumas variedades
românicas proposto por Bergareche (ibidem).
Perfeito
Perfeito
Perfeito +
Perfecto +
inclusivo
Experiencial
passado hodiernal
Aoristo
Galego-português
X
Espanhol da
X
América
Espanhol peninsular
X
Catalão
X
Ocitano
X
Francês
X
Retorromânico
X
Sardo
X
Italiano
X
Calabrês
Siciliano
Romeno
X
X
X
A seguir tratarei do uso do pretérito composto no espanhol, observando diversas
53
variantes desse idioma, para em seguida analisar o uso desse tempo verbal no espanhol do
México que é foco desta dissertação.
2.4. O pretérito perfecto compuesto no Espanhol
Ao contrário do que Cunha (2001) afirma para o português – língua em que há
distinção clara entre os tempos simples e compostos do passado – em espanhol há muitas
pesquisas acerca dos usos do pretérito simple (PS) e do compuesto, principalmente quando se
trata das diferenças dialetais.
Desde meados do século XVI, os estudos gramaticais reconhecem a existência de
propriedades que diferenciam o pretérito simple do pretérito compuesto. Esses estudos
observaram que uma diferença essencial era o uso da forma composta quando houvesse uma
marca de relação de um evento passado com o presente (aspecto Perfeito), e o uso da simples
para indicar um passado sem maior precisão significativa (aspecto perfectivo).
Para A. Bello (1847 apud Piñero Piñero, 2000), a diferença fundamental dos dois
tempos está na marca de relação com o presente, para ela a forma simples “significa a
anterioridade do evento ao ato da palavra”69 e a composta “sempre que há no verbo alguma
relação com o presente”70. Essa relação com o presente, segundo A. Bello (ibidem), pode ser
real ou afetiva, ou seja, depende da intenção do falante. Autores71 que defendem esta ideia de
que essa relação com o presente está ligada à subjetividade do falante afirmam que se para o
enunciador um evento que ocorreu na década passada ainda tem importância, usará o PC,
entretanto uma situação que possa ter acontecido na noite anterior, mas que para ele não tem
valor será expressa com a forma simples. Seguem abaixo os exemplos:
a) Mi padre ha muerto hace dos años.
b) Ayer salí con mi madre.72
Em (a), a ação já aconteceu faz dois anos, entretanto, para o falante isso ainda tem
relação com o seu presente. Já em (b), ainda que a ação de sair tenha sido mais recente –
ontem, para o falante esse evento não tem nenhuma relação com o momento da enunciação.
Como se sabe, a língua espanhola é constituída por diversas variantes, a maneira mais
simples de dividi-la é em espanhol da Espanha e espanhol da América, mas essa não passa de
69
Significa la anterioridad del atributo al acto de la palabra.
Siempre que va envuelta en el verbo alguna relación a lo presente.
71
Cerny (1972), Hernández Alonso (1996), Otálora Otálora (1970).
72
a) Meu pai morreu faz dois anos.
b) Ontem saí com minha mãe.
70
54
uma simplificação. Os teóricos73 observaram que muitas vezes o espanhol de determinado
lugar da Espanha tem semelhanças sintáticas, fonéticas e morfológicas mais parecidas com o
espanhol americano do que com o da cidade ao lado.
Entretanto, nesta dissertação, utilizarei a forma simplificada utilizando a divisão
espanhol peninsular e espanhol americano, pois a diferença que irei expor – o uso do PC –
pode ser trabalhada, de uma forma geral, dividida dessa forma. Contudo, ressalto que
denomino como espanhol americano a maior parte das regiões com exceção das regiões
andinas do nordeste da Argentina, da Bolívia, do Equador e do Peru. E de espanhol peninsular
toda a Espanha com exceção ao espanhol das Canárias e de algumas regiões limítrofes a
Portugal e Galícia.
Akerberg (2008) afirma que o uso do PC para o passado recente (relativo as últimas
vinte e quatro hora – hoy)74 é um diferenciador do espanhol peninsular, entretanto coexistem
nessa variante todos os outros tipos de usos (Perfeito experiencial, resultativo, continuativo),
já que tendo em vista as etapas de Harris (1982), esta variante estaria entrando na última etapa
e por isso possuiria o valor do PC dessa etapa e das anteriores.
Contudo, o espanhol americano estaria, segundo a autora, na segunda etapa da escala
de Harris (ibidem), ainda que seja possível encontrar ocorrências de Perfeito resultativo ou
experiencial. A autora diz haver, nessa variante, uma preferência do PC para exprimir uma
situação durativa no passado com a possibilidade de continuar.
Há também, em relação aos advérbios, alguns usos mais gramaticalizados, como por
exemplo, o advérbio todavia no enseja o uso do PC, e outros que divergem conforme a região,
como se pode observar com o uso de ya, há a preferência do uso do PC no espanhol
peninsular e do PS no americano.
A autora mostra essas diferenças através de um quadro:
Espanha
México*
1.Esta mañana lo he visto.
1.Esta mañana lo vi.
2.Ya lo hemos terminado.
2.Ya lo terminamos.
3.He trabajado mucho últimamente.
3.He trabajado mucho últimamente.
*Representante do espanhol americano.
Podemos observar no exemplo 1, um caso de PC sendo usado para relatar eventos
recentes no espanhol peninsular, porém no americano se utilizou o PS por ser uma ação
completamente terminada. No exemplo 3, as variantes coincidem no uso do PC para expressar
73
74
Como por exemplo, Moreno Fernandez (2000), que divide o mundo hispânico em oito sub-regiões.
Exemplo: Hoy me he levantado a las seis. (Hoje me levantei as seis.)
55
o Perfeito continuativo.
Segundo Bergareche (2008), no espanhol americano o valor aspectual veiculado ao PC
se parece ao do português. O autor relata que as descrições do uso na Colômbia, Argentina e
principalmente no México ressaltam as diferenças de frequência, muito menor, com o
espanhol peninsular. Excluiria-se também dessas variantes o uso do PC como passado recente,
que é tão próprio do espanhol peninsular.
As formas compostas em espanhol, incluindo, portanto o PC, têm, segundo Garcia
Fernández (2000 apud Martinez-Atienza, 2006), duas estruturas temporais diferentes: uma de
presente, com interpretação aspectual de perfeito (S,R,E75), e outra de antepresente, com
interpretação aspectual de aoristo (E – S, R).
Outro autor que defende essa ideia é Kempas (2006), que expõe que na variante
peninsular, o PC está sendo usado, em grande medida, nos contextos reservados antes para o
pretérito simples. Nesses casos, ele se apresentaria como tempo verbal que expressa ações
passadas desvinculadas do momento da enunciação e tidas como claramente terminadas em
relação a ele (aspecto aoristo), mas desenvolvidas durante o dia da fala (contextos
hodiernais76). O autor apresenta dois exemplos do PC hodiernal (relativo ao dia da
enunciação): “Hoy he almorzado a las dos” e “Juan ha llegado hace media hora”. Kempas
(ibidem) explica que apesar desse uso do PC hodiernal ser bem estendido na variante
peninsular, o PC não é o único tempo aorístico nos contextos hodiernais, na maioria dos casos
ele alterna com o pretérito simples.
Ainda sobre duplo valor aspectual veiculado ao PC, ou seja, o de perfectivo e o de
Perfeito, Kempas (ibidem) afirma que quando o PC tem valor de Perfeito, será sempre
utilizado para indicar uma ação passada que esteja vinculada com o momento da enunciação,
como em He estado en España numerosas veces / No ha vuelto todavía. Segundo o autor,
nesses exemplos a perspectiva temporal é aberta, ou seja, a ação passada expressa pelo
predicado pode continuar ou repetir-se no momento da fala. Entretanto, o autor defende que,
no espanhol peninsular, o PC também pode possuir o valor aspectual de aoristo. Essa leitura
aspectual ocorreria-se quando o PC estivesse se referindo a uma ação claramente terminada
no passado e desvinculada do momento da comunicação. Esse PC manifestaria-se nos
contextos hodiernais, ou seja, relacionados com o dia da comunicação, nos quais o PC se usa
75
Representação proposta por Reichenbach.
Kempas (2006) explica que irá utilizar os termos de “contexto hodiernal” e “contexto prehodiernal” para se
referir a uma situação na qual um modificador temporal (complemento / locução adverbial de tempo) está
presente na oração, indicando se a ação indicado pelo predicado se situa dentro do dia a comunicação ou antes
do mesmo.
76
56
para expressar eventos ações acabadas em relação ao momento da fala, como em Me he
levantado a las ocho. Luego me he duchado y he desayunado. Después, he salido.
Mais adiante o autor afirma que esses usos estão sendo estendidos para contextos
anteriores ao dia da fala. Apesar do seu foco de pesquisa ser o uso do PC em contextos
prehodiernais, com marcadores temporais, esse trabalho disponibiliza uma grande literatura
acerca do uso do PC.
Copple (2009), ao fazer um estudo diacrônico do uso do PC no espanhol peninsular e
sua relação com os marcadores temporais, afirma que atualmente o PC assume cada vez mais
o valor de perfectivo, ou seja, mudando seu enfoque de indicar uma ação como anterior para
reportar a ação em si. Segundo a autora, atualmente a gramaticalização desse uso do PC é
bastante avançada, entretanto essa inovação não seria recente. Copple (ibidem) apresenta dois
exemplos de PC com valor aspectual de perfectivo gramaticalizado encontrados em textos
teatrais dos séculos XV e XIX:
a) Que has sido oy buscada del padre de la desposada77.
b) Y yo he visto ayer, a la salida de Triana, al negro con los caballos78.
Em (b), pode-se observar que o PC com aspecto perfectivo encontra-se, inclusive com
o marcador temporal ayer (ontem).
Outra autora que analisa a interpretação dos tempos compostos em espanhol é
Carrasco Gutiérrez (2008, p. 22). Abaixo apresenta-se três das orações que ela apresenta em
seu estudo:
1- a) Juan ha escrito la carta a las tres.
b) Juan escribe la carta.
2- Juan ya ha escrito la carta (*a las tres)79.
Ao comparar-se o tempo composto de (1a), com o tempo ao que se relaciona
morfologicamente, o presente, segundo a autora, observa-se que o PC acrescenta um conteúdo
de anterioridade a indicação que o verbo no presente realiza. O PC, portanto, é um
antepresente em termos de localização temporal. Ao explicar a oração (2), a autora afirma que
a indicação que o PC realiza dessa vez não é distinta da feita pelo presente de (1b). Segundo
Carrasco Gutiérrez (ibidem), este PC não seria um antepresente e sim um presente em termos
de localização temporal, e por isso a oração (2) é agramatical com a expressão a las tres
77
ROJAS, Fernando. La Celestina . (1987)
DUQUE DE RIVAS, ª Don Álvaro o la fuerza del sino. (1835)
79
a) Juan escreveu a carta às três.
b) Juan escreve a carta.
c) Juan já escreveu a carta (*às três).
78
57
explícita, diferentemente do que acontece em (1a).
A autora acrescenta que em (2) se fala do estado de coisas que segue e é consequência
de escrever a carta, ou seja, ter escrito ou ter a carta escrita. Esse estado de coisas é
simultâneo ao momento da fala, mas o evento de escrever é anterior. Carrasco Gutiérrez
(ibidem) conclui que esse conteúdo de anterioridade é resultado do significado aspectual de
Perfeito da oração (2).
Para finalizar a exposição acerca do uso do PC na variante peninsular, cito MartinezAtienza (2008) ao afrimar que o PC com valor aspectual de aoristo focaliza o evento
completo, tanto o início como o final e pode vir acompanhado por complementos adverbiais
de localização pontual, como por exemplo em “Nuria ha salido a las ocho”. Entretanto,
quando o PC se interpreta aspectualmente como Perfeito, o que se focaliza são os resultados
de um determinado exemplo e têm restrições de vir acompanhados por marcadores temporais
pontuais.
Gutiérrez Araus (2001) propõe-se a estudar o PC composto em diversas países da
América. Explica que há poucos livros que tratem sobre o uso do PC no espanhol americano,
entretanto, afirma que existem trabalhos monográficos que trazem esse tipo de informação. A
autora, utilizando-se de citações de trabalhos de diversos autores traz características de
diversos países americanos.
Em relação a Porto Rico, a autora afirma que ao contrário do que havia afirmado Gili
Gaya, nessa região não há o predomínio absoluto da forma simples frente à composta, e
apresenta dados estatísticos ao propor isso – uma forma composta para três da simples. Além
disso, os homens utilizariam um pouco mais a forma composta. Segundo Cordona (1979 apud
Gutiérrez Araus, (ibidem), o aspecto lexical dos verbos não influenciam no uso de uma ou
outra forma, pois é possível encontrar o uso de ambas com os mesmos verbos.
O tipo de tema das entrevistas também seria um elemento que influenciaria na
frequência da forma simples e composta A forma simples estaria presente em entrevistas com
narração de fatos concretos e particulares, já o PC estaria presente em temas gerais e
abstratos. A forma composta teria sua maior frequência em comentários e opiniões e quase
não seria usada na narração de eventos concretos.
Em relação ao tipo de advérbio que acompanha o PC em Porto Rico, o mais usado
seria o no de negação, e em seguida, os marcadores de ações habituais – siempre, nunca, a
cada rato, muchas veces.
Ao tratar da Venezuela, Gutiérrez Araus, (ibidem) apresenta o trabalho de Bentivoglio
58
e Sedano (1992), que consideram o PC com uma leitura aspectual imperfectiva80, de ação não
terminada, com uma perspectiva atual. Contudo, nesse país, um outro uso do PC seria em
situações nas quais o falante queira dar grande força emotiva a uma ação que se concluiu no
passado. Esse uso seria mais comum quando o evento marcasse um ponto culminante de
vários outros eventos (em pretérito simples) de uma narração: “... y de repente vino una
persona, vino una mano y le ha dado un golpe tan duro en la espalda que le quedó la marca
de la mano81. Esse seria, portanto, um uso emotivo do PC. Esse tipo de uso, não estaria
enquadrado nas possibilidades de leituras aspectuais que apresentei anteriormente. Poderia
pensar que le ha dado estaria na forma composta, pois teria mais relevância atual para o
falante. Entretanto, se assim fosse, o verbo quedo também deveria estar na forma composta.
Sendo assim, a princípio, não vejo como classificar esse uso emotivo do PC. Segundo
Gutiérrez Araus, (op. cit.), esse seria um caso de PC “enfatizador em textos narrativos”.
Segundo Berschin (1975 apud Gutiérrez Araus, op. cit.), na Colômbia, o PC seria
usado em contextos de ações que começaram no passado, estão incluídas no presente e podem
prolongar-se até o futuro, seriam contextos representados pelo marcador hasta hora, explícita
ou implicitamente usado. Nessa região, tanto em contextos com hoy (hoje) como os com ayer,
(ontem) usa-se o pretérito simples, se a ação não estiver começado no passado e persistir até o
momento da enunciação.
Ao tratar do Equador, tem-se que, nesse país, há um uso diferente do PC, já que esse
tempo verbal utiliza-se para demonstrar um matiz de surpresa, admiração, ou para designar
que se descobriu algo que antes era ignorado. Veja os exemplos82:
a) Fulano ha sido (es) Ministro de las Relaciones públicas.
b) Hoy ha sido (es) día de fiesta83.
Em ambos exemplos, tem-se o uso do PC, para relatar uma ação presente, entretanto
que era ignorada até um pouco antes do momento da enunciação.
Além desse tipo de contexto, o PC aparecerá em contextos de Perfeito continuativo e
80
Nesta dissertação, classificamos esse tipo de PC como perfeito persistente (continuativo) e não imperfectivo,
uma vez que, considero como aspecto imperfectivo aquele que se refere a ações que tiveram duração, mas que já
foram concluídas.
81
E de repente veio uma pessoa, veio uma mão e lhe deu um golpe tão forte nas costas que ficou com a mar da
mão.
82
Não é possível apresentar a página onde os exemplos se encontram, pois o artigo se encontra disponível em
um site, em formato html, sem ter suas páginas numeradas.
83
a) Fulano foi (é) Ministro das Relações Públicas.
b) Hoje foi (é) dia de festa.
Volto a ressaltar que o PC do espanhol só pode ser traduzido pelo PC do português quando tem leitura
aspectual de Perfeito continuativo. Dessa forma, ao utilizar a tradução para o português, é difícil, as vezes,
explicar o uso do PC em cada variante do espanhol.
59
também de passado recente (uso, a princípio, inexistentes nos países anteriormente citados).
Em uma conversa entre duas irmãs com um bebê brincando, e então ele caí, se ouvirá: El
guagua se ha caído. Esse é um típico uso do espanhol peninsular que também aparece no
Equador e refere-se a um passado imediato.
Já na Bolívia, segundo Mendonza (1991 apud Gutiérrez Araus op. cit.), o PC
praticamente ocupa todos os contextos da forma simples, mas o autor não deixa claro em
quais funções isso ocorre. Acredita-se que a influência das línguas indígenas foi muito forte
no sistema verbal do espanhol de La Paz.
Oliveira (2010) em sua tese, analisa o PC em sete capitais hispano-falantes84,
utilizando dados presentes em notícias de periódicos virtuais. Em relação a capital boliviana,
apesar dos estudos defenderem que o PC está sendo utilizado em contextos favoráveis à forma
simples, houve apenas um percentual 6,6% de frequência da forma composta no total de
ocorrências de pretérito simples e composto. Das 31 ocorrências, 21 eram PC de continuidade
e 10 seriam classificadas como do estágio 3 do esquema de Harris (1982), ou seja, de
relevância presente85. Portanto, observa-se, nessa variante, o predomínio de PC de
continuidade. Seguem abaixo os exemplos que a autora apresenta para a variante de La Paz.
a) Durante más de tres horas y media, desde aproximadamente las 12:30 de ayer, esta sala ha
acogido la primera etapa de las exequias papales. (PC de continuidade)
b) En la sala han rendido tributo a Juan Pablo II muchos cardenales, mientras que el resto de
los purpurados electores han sido ya avisados para que lleguen al Vaticano para participar
en el cónclave, que tendrá su primera reunión hoy. (PC de relevância presente – resultado)
c) Destacó que en Brasil, autoridades del Ministerio de Agricultura de dicho país han
emitido una cifra inferior a la estimada por analistas internacionales, reajustando la
producción a 53 millones de toneladas de soya, llegando así a una pérdida del 16 por ciento
de la producción estimada a principio de la campaña86.
Em (b), tem-se o marcador , que segundo García Fernández (2000) é um advérbio de
fase que, possibilita a leitura de aspecto perfectivo ou de Perfeito experiencial ou de resultado.
84
Buenos Aires, Santiago do Chile, La Paz, Lima, Havana, Cidade do México e Madri.
Relevância presente engloba os casos de Perfeito experiencial e Perfeito de resultado (resultados persistente
de uma ação passada).
86
a) Durante mais de três horas e meia, desde aproximadamente as 12:30 de ontem, esta sala tem acolhido a
primeira etapa das exéquias papais.
b) Na sala, muitos cardeais renderam tributo a João Paulo II, enquanto que o resto dos eleitores purpurados já
foram avisados para que cheguem ao Vaticano para participar no conclave, que terá sua primeira reunião hoje.
c) Destacou que no Brasil, autoridades do Ministério da Agricultura de dito país emitiu uma cifra inferior à
estimada por analistas internacionais, reajustando a produção a 53 milhões de toneladas de soja, chegando assim
a uma perda de 16% da produção estimada ao início da campanha.
85
60
Oliveira (op. cit.) classifica essa ocorrência com interpretação de resultado, ou seja, não é a
ação de avisar que se quer ressaltar e sim o resultado dos eleitores já estarem avisados sobre a
reunião. Já a ocorrência (c), foi mais difícil de ser classificada segundo a autora, observe:
A ausência de um complemento adverbial de localização (de tempo)
impossibilita a classificação de “han emitido” como um PPC Aoristo. (…) A
construção com objeto direto singular “una cifra inferior a la estimada por
analistas internacionales” também descarta a leitura iterativa; e a soma de
um verbo do tipo [- durativo] com a ausência de um CA de duração rejeita a
leitura durativa. Dessa forma forma, a interpretação viável para o dado “han
emitido” é de um PPC de experiência: ao menos uma vez, autoridades do
Ministério da Agricultura do Brasil emitiram uma cifra de produção de soja
inferior à estimada por analistas internacionais. (p.189)
Como é possível observar, a autora utiliza vários critérios para conseguir classificar o
PC, isso acontece devido às diversas possibilidades de leituras aspectuais possíveis para esse
tempo verbal.
Sobre o Peru, segundo Gutiérrez Araus (2001), quase não há referências, entretanto,
afirma-se que há um grande uso do PC, nesse país, o que seria uma marca característica dos
países andinos.
Através dos dados observados em sua análise, Oliveira (op. cit.) relata que em Lima, o
percentual de uso de PC aumenta em comparação às capitais dos outros países andinos.
Dentre as ocorrências de pretérito simples e composto, 12,6% dos dados encontravam-se na
forma composta, sendo no total 270 ocorrências. A análise dos resultados, demonstrou que, a
princípio, nessa capital o uso do PC estaria em um estágio mais avançado do esquema
proposto por Harris (op. cit.), podendo apresentar dados da fase 4. Dos dados analisados,
51,2% eram de leitura de relevância presente, 44,2% de continuidade e 2,3% aoristo. O
número de ocorrências de PC de relevância presente está acima do PC de continuidade, o que
não foi observado em nenhum outra variante americana. Observa-se também que houve
apenas um caso de aoristo, mas esse deve ser levado em consideração, uma vez que o foi
encontrado em um periódico, onde, a princípio, as normas gramaticais são mais preservadas.
Abaixo apresento alguns dos exemplos apresentados (p.191):
a) La tensión aumentaba en la madrugada en torno al Vaticano y algunas fuentes señalaban
que el Papa había recibido incluso la extremaunción, aunque no ha sido confirmado ni
desmentido oficialmente. (PC de continuidade)
b) (…) “Nuestro principal objetivo era que Terry muriera en paz y con dignidad y lo hemos
logrado”, señaló el letrado en una conferencia de prensa. (PC de relevância presente –
resultado)
61
c) El funcionario precisó que estas son dos de las instrucciones que ha recibido del
mandatario Alejandro Toledo en lo que se refiere a su administración. (PC de relevância
presente – experiência)
d) “El lunes en la noche hemos entrado a una reunión con los dirigentes de los algodoneros87
(…) (Aoristo)
Nota-se que em (d), o marcador temporal de localização permite classificar esse PC
como aoristo. Os dados da autora reforçam a ideia de que na capital de Lima há um uso
significativo do PC e que essa variante já se encontra no estágio 3 da proposta de Harris
(1982).
No Chile, segundo Gutiérrez Araus (op. cit.), diferentemente do Peru, há menos
ocorrências da forma composta, prevalecendo a simples. Contudo, nessa região, Oroz (1996
apud Gutiérrez Araus op. cit.) esclarece que os usos de ambas as formas estariam delimitados
– forma simples para ações acabadas e passadas; formas compostas para eventos que vão até o
momento da enunciação.
Segundo Oliveira (op. cit.), na capital chilena, houve 7,7% de casos de PC entre as
formas de pretérito perfeito no corpus analisado, sendo um total de 182 ocorrências. O valor
aspectual do PC nessa variante pode ser, a princípio, através dos dados, de continuidade ou de
perfeito experiencial ou resultativo. Do primeiro houve uma frequência de 60% e do segundo
de 40%. Abaixo alguns dos exemplos apresentados pela autora:
a) “Los tailandeses que vienen por aquí dicen que por las noches ven fantasmas y se
escuchan voces,, yo les creo porque llevo aquí diez años y me han ocurrido cosas iguales
muchas veces”, comentó. (PC de continuidade)
b) Precisamente varias docenas de manzanas de esta zona, conocida en inglés como “Ninth
Ward” han quedado bajo nueve metros de agua. Sin embargo, todos los residentes de aquí
fueron evacuados. (Relevância presente - resultado)
c) Wilma ha azotado con especial fuerza al idílico balneario de Cancún.88 (Relevância
87
a) A tensão aumentava de madrugada em volta do Vaticano e algumas fontes informavam que o Papa tinha
ainda recebido inclusive a extrema unção, mesmo que não tenha sido confirmado e nem negado oficialmente.
b) (...) "Nossa principal objetivo era que Terry morresse em paz e com dignidade, e nós conseguimos", disse o
assessor em uma entrevista coletiva.
c) O funcionário disse que essas são duas das instruções que recebeu do governante Alejandro Toledo no que se
refere a sua administração.
d) "Na noite de segunda-feira, começamos uma reunião com os líderes do algodão.
88
a) “Os tailandeses que vêm por aqui dizem que de noite veem fantasmas e se escutam vozes, eu acredito neles
porque vivo dez ano aqui e me aconteceram coisas iguais muitas vezes”, comentou.
b) Precisamente várias duzias de maças desta zona, conhecida em inglês como”Ninth Ward” ficaram nove
metros abaixo de água. Entretanto, todos os residentes daqui foram evacuados.
c) Wilma atingiu com especial força ao balneário de Cancun.
62
presente - experiencial)
Oliveira (op. cit) explica que classificou a ocorrência (b) como resultado baseada no
tipo de aspecto lexical do verbo quedar. Segundo a autora, esse verbo é de estado e estaria
evidenciando o resultado persistente de uma situação passada, ou seja, o estado que o furacão
Wilma deixou os quarteirões.
Ao se tratar do uso do PC na Argentina, divide-se em duas áreas, de um lado o norte
do país e do outro o litoral e Buenos Aires. Enquanto no norte há a preferência pela forma
composta, na área portenha se prefere a forma simples. Segundo Kubarth (1992 apud
Gutiérrez Araus, op. cit.), Buenos Aires tem uma tendência a eliminar o pretérito composto, e
isso seria algo muito particular dessa região. Contudo, nas classes altas e nas gerações mais
avançadas a forma composta ainda seria um prestígio, já os jovens independente da classe
usariam mais a forma simples.
Ao observar o uso dos pretéritos em Buenos Aires, Oliveira (op. cit.), explica que
apenas 4,7% de pretérito dos seus dados estava na forma composta, apesar de ser um
percentual baixo, esse número deixa claro que o PC ainda está em uso nessa variante. Em
relação ao valor aspectual do PC, em Buenos Aires, a autora diz que 52% dos seus dados tinha
uma leitura de Perfeito continuativo, e 40% seria de PC de relevância presente, portanto essa
variante representa o estágio II no esquema de Harris (1982), mas que está a caminho do
terceiro. Abaixo, apresento alguns exemplos dados pela autora (p.183):
a) Las conclusiones, si son intelectualmente honestas, no deberían llegar de forma sencilla y
rápida. La figura de Juan Pablo II como símbolo – y este es uno de los pontífices que más ha
prestado valor a lo simbólico – es difícil de escrutar... (PC de continuidade - durativo)
b) El mundo ha perdido un campeón de la libertad. (PC de relevância presente – resultado)
c) Este Papa ha sido amargamente responsabilizado de trabajar en asociación estrecha de
propósitos con Ronald Reagan en los años 80...89 (PC de relevância presente – experiencial)
Oliveira (op. cit.) explica que em (c), em um primeiro momento houve uma leitura de
situação durativa, principalmente por haver o verbo ser, entretanto, após uma análise
detalhada e levando em consideração o verbo responsabilizar, classificou esse PC como
experiencial, pelo menos uma vez no passado o Papa foi responsabilizado e isso tem
consequências atuais.
89
a) As conclusões, se são intelectualmente honestas, não deveriam chegar de forma simples e rápida. A figura
de João Paulo II como símbolo – e este é um dos papas que mais deu valor ao simbólico – é difícil de escrutinar.
b) O mundo perdeu um campeão da liberdade.
c) Esta papa foi duramente acusado de trabalhar em estreita parceria com os propósitos de Ronald Reagan nos
anos 80.
63
Foram encontrados dados, em Kempas (2006), a favor de que no noroeste da
Argentina (especificamente Santiago del Estero) seria considerado correto, pelos falantes, o
uso do PC em situações pré-hodiernais, ou seja, que se referem a momentos anteriores ao dia
da enunciação. Usando a frase - Ayer he ido a ver a mi abuela; o autor mostra que de 52
informantes, 32 (61,5%) consideram essa frase como gramaticalmente correta. Através de
vários testes apresentados pelo autor, é possível observar que, de fato, nessa região argentina,
o uso do PC em situações pre-hodiernais está bem difundida e aceita.
Após apresentar um pouco do que se tem observado sobre o PC em diversas variantes
do espanhol, a seguir focarei apenas a variante mexicana, pois é a que analiso nesta
dissertação.
2.4.1 O PC na variante mexicana do espanhol
Lope Blanch (1961) analisa diferentes características do espanhol, inclusive acerca do
uso do PC. Segundo ele, o PC não corre o risco de ser eliminado nessa variante apesar de não
ser tão frequente, mas isso se justifica pela determinação de valores para cada forma do
pretérito simples e do composto. Sendo assim, o PC não seria tão utilizado, pois o contexto
onde esse aparecerá é bem delimitado. A diferença entre a forma simples e a composta seria
aspectual e não temporal (passado próximo ou remoto). Lope Blanch (op. cit., p. 130)
apresenta dois esquemas que representariam os valores fundamentais do uso das duas formas
do pretérito perfeito do México.
Como é possível observar o autor não está usando a classificação dos aspectos básicos
propostos nesta dissertação, ou seja, aspecto perfectivo, imperfectivo e perfeito. Ele usa
noções aspectuais de duratividade, iteratividade, pontualidade. Dessa forma, através das
64
noções que o autor designa para o PC – duratividade e iteratividade, nota-se que, para o autor,
nessa variante, há a predominância do uso da forma composta com o valor aspectual de
Perfeito continuativo. Gutiérrez Araus (2001), ao se referir à questão do termo imperfectivo
defende que o PC é um passado habitual no mundo comentado, isto é, em uma perspectiva
discursiva atual, ao contrário do imperfeito do indicativo que está relacionado ao passado
habitual do mundo narrado. Sendo assim, a autora defende que ser permanente não representa
uma repetição e por isso prefere dizer que o valor aspectual do PC é resultativo-continuativo e
não imperfectivo.
O PC no México expressa, segundo Lope Blanch (op. cit.), ações imperfeitas. O que o
autor denomina como imperfectivo seriam ações que começam no passado e seguem até o
presente, podendo persistir no futuro, ou então ações que ainda não aconteceram no passado,
mas podem vir a acontecer. Como é possível observar, não são esses tipos de eventos que
classifico aqui como imperfectivo. A imperfectividade assumida aqui refere-se a ações
durativas, que já tenham acabado.
Apesar da diferença na nomenclatura, o que Lope Blanch (op. cit.) defende é também
o que, a princípio, eu assumo, ou seja, que o PC no México refere-se ao Perfeito continuativo,
marcando ações que se relacionam tanto com o passado quanto com o presente.
Como o PC não apareceria em situações pontuais, esse tempo verbal não poderia vir
acompanhado do advérbio ya, nesses casos o falante usaria a forma simples.
a) ¡Al fin! ¡Ya lo acabé.
b) *¡Al fin! Yo lo he acabado90.
O autor afirma que ainda que haja um marcador temporal que inclua o momento
presente, se a ação for perfectiva, a forma usada será a simples – Esta mañana llovió un
poquito (p.130). Se não houver marcador temporal e o evento for perfectivo, uma vez mais a
forma simples é a que será utilizada – Le dije que viniera hoy en la tardecita.
Nas frases em que seja possível ambas as formas, Lope Blanch (op. cit.) esclarece que
o uso de uma ou outra será uma escolha em relação ao aspecto. Observe (p.131):
a) Este mes estudié mucho.
b) Este mes he estudiado mucho
c) ¡Vamos! El maestro no vino.
d) ¡Vamos! El maestro no ha venido.
e) ¿Pensaste bien en lo que te dije?
90
Exemplo meu para mostrar a forma que não ocorre no México.
65
f) ¿Has pensado bien en lo que te dije?
A diferenças entre (a) e (b), segundo o autor, é aspectual, uma vez que ao escolher a
forma simples, como em (a), o falante indica que o estudo já acabou. Entretanto, ao utilizar a
forma composta, sinaliza-se que o falante continua estudando. Já entre (c) e (d), a forma
simples encerra a possibilidade de que o professor possa vir, enquanto a composta deixa a
perspectiva temporal aberta, logo indica que o professor ainda pode chegar. E finalmente, ao
comparar as sentenças interrogativas, Lope Blanch (op. cit.) explica que em frases como a
letra (e), o falante supõe que seu interlocutor já chegou a uma conclusão, enquanto que em (f),
a forma composta indica que ainda concede-se tempo para que a pessoa possa responder.
Como é possível observar, de fato, segundo os exemplos apresentados pelo autor, a
diferença entre as formas simples e composta seria aspectual e o PC estaria sempre se
referindo a uma ação que estará relacionada ao momento presente. É fundamental observar
que muitos autores ao tratar o uso do PC no México o comparam ao do Brasil, dizendo que
ambos estão veiculados ao aspecto de Perfeito continuativo91. Entretanto, se formos comparar
exatamente os valores veremos que há diferenças. De fato, ambos relatam situações passadas
que continuam até o momento presente, entretanto no espanhol mexicano, isso inclui eventos
que ainda não ocorreram também, o que não é possível no português:
a) Nunca he ido a Francia.
b) Nunca fui a Francia.
c) Nunca fui à França.
Em (a), ao utilizar-se o composto, o falante estaria dizendo que nunca foi, continua
assim até o momento presente, mas que poderá mudar. A perspectiva temporal inclui,
portanto, o presente e está aberta. Já em (b), ao usar a forma simples, a perspectiva temporal
está fechada, o falante não foi à França e acredita que não irá nunca. Ao compararmos com o
português, exemplo (c), vemos que independente se o falante pode ou não mudar o fato de
não ter ido à França, a forma simples será sempre usada. Isso ocorre pelo fato de no
português, o contexto de uso do PC ser muito restrito e referir-se apenas a ações iterativas ou
durativas.
Lope Blanch (op. cit.) também apresenta o uso com as locuções temporais todavía no,
aún no e outras semelhantes. Essas seriam utilizadas sempre com o PC, ou quando não, com o
presente do indicativo. Isso ocorre, pois a ação que se nega no passado pode ocorrer em um
futuro imediato. Gutiérrez Araus (2011), sobre o uso do PC em frases que representam
91
Akerberg (2008), Bergareche (2008) e Martinez-Atienza (2008) são exemplos de autores que fazem essa
comparação.
66
negação, propõe que a relação da negação com o PC pode-se explicar pelo fato de que ao
negar que algo haja acontecido até o momento presente, há uma equivalência entre o passado
e o presente, como em - ¿tu hermano? Todavía no llega/ha llegado. / Hace ocho días que no
duermo/he dormido. Observa-se que, nesses exemplos, pode-se usar tanto a forma do presente
do indicativo, quanto o PC. Poderia-se propor, portanto, que a negação traria um traço de
duração ao predicado, pois é algo que não aconteceu e isso persiste até o momento presente.
Lope Blanch (op. cit.) apresenta dois exemplos para mostrar que o PC no México
também se refere a fatos repetidos, ações reiteradas.
a) Eso ya lo discutimos ayer.
b) Eso lo hemos discutido muchas veces.92
Em (b), pode-se observar que a ação de discutir ocorreu algumas vezes, tanto pelo uso
do PC quanto pela presença do marcador. Já em (a), o evento é perfectivo.
O autor observa que com a conjunção desde que não será possível empregar o PC,
uma vez que essa conjunção marca um momento, um ponto, em que se inicia um evento,
portanto, marcaria algo pontual. Segundo Lope Blanch (op. cit.), no México jamais se diria
desde que he llegado. Também não seria possível ver o uso da forma composta com a
conjunção ou interrogativo cuando, já que traz a noção de algo pontual. Não se usaria,
portanto, a frase Cuando vino yo no estaba en casa. As únicas formas que poderiam aparecer
assim, pois já seriam usuais, seriam ¿Cuándo llegaste? ou ¿Cuándo te lo dijo? Entretanto,
quando a ação indicasse iteratividade, o PC seria sempre utilizado – Últimamente te han visto
pasear con F.
O PC em muitos casos poderia, segundo o autor, ser substituído pelo presente do
indicativo, a forma composta abarcaria claramente o presente em casos como “¿Qué tal
Antonio? / ¿Cómo te ha ido?”. Este significado temporal presente, que seria próprio da forma
composta, explicaria a equivalência “presente-pretérito compuesto”, que seria bastante
comum no espanhol do México. O autor apresenta alguns exemplos onde pode haver essa
equivalência entre estes dois tempos verbais (p.135):
a) - ¿Tu hermano?
- Todavía no llega (o ha llegado).
b) Hace ocho días que no duermo (o he dormido) nada.
c) Son ya las seis de la tarde y aún no nos llama (o ha llamado).
d) ¿Cómo has estado? (o estás)
92
a) Isso já discutimos ontem.
b) Temos discutido isso muitas vezes.
67
e) Este año he estudiado mucho” [= 'sigo estudiando'; luego sería como decir estoy
estudiando.93
Para finalizar, o autor apresenta dois valores secundários para o pretérito composto. O
primeiro é o de valor perfectivo, seria usado no lugar da forma simples, normalmente em
frases exclamativas, demonstrando sempre um valor afetivo muito marcado e um claro poder
de atualização. Abaixo os exemplos apresentados pelo autor (p.137)
a) Otro pobre que venía por la misma calle me la pagó... ¡Qué maroma lo he hecho dar!
b) Pasó un carro rozándolo... ¡Qué salto ha dado!94
Outro uso possível é substituindo o pretérito pluscuamperfecto de subjuntivo (hubiese
ido), exclusivamente nas orações subordinadas condicionais. A frase, normalmente, também
será exclamativa, e o conteúdo afetivo influenciará normalmente na construção do verbo
principal (usado no presente do indicativo). Alguns dos exemplos apresentados por Lope
Blanch (op. cit., p. 137) foram:
a) ¡Qué exacto! ¡Si he estado en esa casa cinco segundos más, me hubiera tocado!
b) Si ha salido un poquito antes, no lo hubiera recibido a tiempo.95
Outra autora que estuda o uso do PC, nessa variante, é Martinez-Atienza (2008). A
autora também defende a ideia de que esse tempo verbal, de fato, expressa na maioria dos
contextos o subtipo de Perfeito continuativo. Ela retoma as questões apresentados por Lope
Blanch (op. cit.), entretanto traz novas informações acerca do aspecto lexical dos verbos que
poder vir na forma composta. Martinez-Atienza (op. cit.) defende que um verbo, para que
possa aparecer no pretérito composto, precisa apresentar noções de duratividade ou
iteratividade. Esse requisito se daria-se pelo fato de no espanhol do México, o PC focalizar
um evento desde o seu início até um ponto central do mesmo sem focalizar o final da ação.
Um predicado que representa um evento pontual, seja télico ou atélico só poderá aparecer na
forma composta se forem eventos iterativos, pois assim não se focará um evento único e sim
uma sucessão deles, como se pode perceber nos exemplos abaixo (p.224).
a) *Desde que ha llegado.
93
a) - E teu irmão?
- Ainda não chega (chegou)
b) Faz oito dias que não durmo (ou dormi) nada.
c) São as seis da tarde e ainda não nos chama (ou chamou).
d) Como esteve? (ou está)
e) Este ano tenho estudado muito [= “sigo estudando”; portanto seria capaz de dizer estoy estudiando.
94
a) Outro pobre que vinha na mesma rua me pagou... Que pirueta eu o fiz dar!
b) Passou um carro roçando-lhe... Que salto ele deu!
95
a) Que exato! Se estivesse nessa casa cinco segundos mais, teria conseguido.
b) Se tivesse saído um pouquinho antes, não teria recebido a tempo.
68
b) Juan ha llegado tarde últimamente.
Em (a), a frase é agramatical, uma vez que o verbo llegar é uma culminação, portanto,
é um predicado télico e pontual. Entretanto, (b) é gramatical devido o caráter iterativo que o
verbo apresenta, uma vez que não se está referindo ao evento de chegar e sim a sucessão
dessa ação. Martinez-Atienza (op. cit., p.224) afirma que o requisito do aspecto lexical
também pode ser observado no português:
a) *O João tem chegado agora.
b) Nos últimos dias o João tem chegado tarde.
Pode-se notar, nesses exemplos, a questão da composicionalidade do aspecto, uma vez
que não é só o aspecto lexical que traz uma leitura iterativa do evento, a presença do marcador
temporal “nos últimos días” também é importante.
Martinez-Atienza (op. cit.) conclui retomando a questão que, ao contrário do que
acontece na variante peninsular, no espanhol mexicano o PC não apresenta ambiguidade
aspectual. Esse tempo verbal está relacionado a uma única estrutura temporal – a de presente,
e uma aspectual – a de Perfeito (geralmente o continuativo).
Oliveira (2010), através de sua observação em dados da Cidade do México, reafirma
que de fato, nessa variante, o PC está veiculado principalmente ao Perfeito continuativo. Das
39 ocorrências analisadas pela autora, 87,2% apresentavam as noções de duratividade ou
iteratividade. Entretanto, 12,8% dos dados, estavam relacionados com o estágio 3 do esquema
proposto por Harris (1982), ou seja, PC de relevância presente. Segundo a autora, esse
resultado contradiz García Fernández (2000, p.136) que afirma que “en México el pretérito
perfecto compuesto expresa siempre Perfecto continuativo”. Como afirma Oliveira (op. cit.),
ainda que os dados de relevância presente não sejam muitos, não devem ser ignorados. A
seguir, alguns dos exemplos apresentados pela autora (p. 196):
a) A 19 días de que oficialmente entre la primavera y a 4 meses de que los estragos del
verano aparezcan, inexplicablemente el río Cazone ha descendido notablemente su nivel al
grado de que en algunas secciones es posible atraversarlo a pie (…) - (Perfeito continuativo duração)
b) Asimismo, al Vaticano han llegado las voces de todo el mundo en favor de un
restablecimiento (…) - (Perfeito continuativo – iteração)
c) “Con el voto a favor del desafuero se ha asentado un golpe a la República, a la transición
democrática del país y a la izquierda mexicana”, estableció. - (Perfeito de relevância presente
– resultado)
d) “Queremos avanzar bien en este tema, hay una propuesta de trabajadores que ha
69
planteado el presidente Bush, y dijo le parecía puede ser un primer paso”, subrayó.96 (…) (Perfeito de relevância presente – experiência)
Em (a), a leitura durativa do PC, segundo a autora, é gerada pelo traço [+ durativo] do
verbo descender. Já a iteração de (b), sua leitura foi influenciada pela presença de um sujeito
plural. Em relação à (c), o PC teria leitura de resultado, porque, a princípio, o que o falante
estaria evidenciando seria o resultado presente da decisão judicial. Oliveira (op. cit.) justifica
sua classificação, do exemplo da letra (d), como de experiência, propondo que ha planteado
estaria mostrando que a proposta dos trabalhadores temporais havia sido mencionada em
alguma ocasião pelo presidente Bush.
Concluo, portanto, baseada nos estudos citados, que na variante mexicana do
espanhol, o PC estaria veiculado com o aspecto Perfeito continuativo. Entretanto, poderia ser
encontrado, também, a princípio, relacionado ao Perfeito de experiência ou de resultado, ou
seja, ações que teriam relevância no momento presente. A seguir apresento a proposta de
representação em árvore das possíveis leituras aspectuais que o PC pode ter.
2.5. A representação do PC nas árvores
No início do texto, disse que a base teórica deste trabalho seria a da gramática
gerativa, justifiquei essa escolha, pelo fato dessa teoria afirmar que existe a gramática
universal, composta por princípios fixos e inatos. Baseada nessa linha, pude afirmar que o
aspecto perfeito estaria presente nas duas línguas estudadas, assim como em todas existentes,
embora,
em
algumas
delas
esse
aspecto
não
seja
marcado
gramaticalmente
(morfologicamente).
Outro foco dos estudos gerativistas é pesquisar quais são os estados mentais que
correspondem ao conhecimento de uma língua e como seria a representação mental de uma
sentença, sendo essa composta de constituintes sintagmáticos. E é através da árvore sintática
que esses sintagmas e seus movimentos são representados.
Então como representar o PC do espanhol na árvore sintática? Como representar um
tempo verbal que pode ter dois valores aspectuais, de perfectivo e de Perfeito? Primeiramente,
96
a) A 19 dias para que entre oficialmente a primavera e a quatro meses de que os estragos de verão apareçam,
inexplicavelmente o rio Cazones tem baixado seu nível significativamente a ponto de que em alguns trechos é
possível atravessá-lo a pé (...)
b) Da mesma forma, as vozes do Vaticano têm chegado vozes de todo o mundo a fovor de uma restauração (...)
c) "Com o voto a favor da perda da imunidade jurídica deu-se o golpe na República, a transição democrática do
país e a esquerda mexicana," estabeleceu.
d) "Queremos avançar bem neste tema, existe uma proposta de trabalhadores que o presidente Bush apresentou,
e disse que pensou que poderia ser um primeiro passo", ressaltou.
70
como dito acima, temos que admitir o aspecto como um nódulo funcional. Carrasco Gutiérrez
(2008) propôs dois modelos de árvore que dessem conta do PC com valor aspectual de aoristo
e com o valor de Perfeito. A autora defende que a ambiguidade se encontra no sufixo -do do
particípio, depois da inserção da raiz verbal na sua posição base, uma regra flexiva irá
introduzir a marca de -do associada a uma característica que deverá ser checada ou no nódulo
de Aspº (leitura de Perfeito) ou no nódulo T2º (leitura de aoristo). Isso demonstraria, portanto,
que o PC com valor de Perfeito teria o traço de [+] aspecto, enquanto o PC veiculado ao
aspecto aoristo teria o traço de [+] tempo. Sobre o papel do auxiliar haber, Carrasco Gutiérrez
(ibidem) explica que seria o de fazer possível a realização léxica do conteúdo temporal
associado ao nódulo T1 e às marcas de Concordância. Farei, a seguir, um panorama das etapas
que a autora propôs para chegar a essa conclusão.
Nesse artigo, Carrasco Gutiérrez (op. cit.) trata sobre a ambiguidade do pretérito
composto e cita o sistema de Reichenbach, já mencionado, onde os tempos verbais têm três
entidades temporais primitivas: S (speech time) que é o tempo da enunciação ou da fala; E
(event time) que é o tempo do evento (o evento referido pelo predicado da sentença); e R
(reference time) que é o tempo de referência. Entretanto, a autora, ao citar os usos e
interpretações do condicional e do futuro perfeitos, mostra que apenas S, E, R, não seriam
suficientes para explicar todos os tempos verbais. A autora usa o exemplo (p.28):
a) Dijo que podríamos irnos juntos porque Juan habría acabado el trabajo a las tres en
punto.
------------x------------------------------------------------------------------x--------------------dijo
S
podríamos irnos
habría acabado
A autora afirma, então, que podemos descrever o significado do condicional perfeito
dizendo que E é anterior a um ponto temporal (representado por podrímos irnos), que por sua
vez, é posterior a outro ponto (dijo) que precede a S. Com esse exemplo é possível notar que
dois pontos temporais separam E de S, e por isso Carrasco Gutiérrez (op. cit.) adota a
proposta de Vikner (1985 apud Carrasco Gutiérez op. cit.) e denomina esses dois pontos
temporais de R1 e R2, sendo portanto a estrutura temporal do condicional perfeito a seguinte:
(E-R2) + (R1-R2)+(R1-S)97
97
Onde a vírgula indica a simultaneidade entre os pontos temporais; o traço a relação de sucessão, ou seja, o
ponto a esquerda do traço precede ao ponto que está à direita; e o + representa que o significado do tempo
verbal é a soma do conteúdo entre parênteses.
71
Com mais um ponto de referência se poderia marcar a subesfera do futuro, onde (R1R2), indica que pertence a essa subesfera, e (R2,R1/R1,R2) representa que não pertence98. A
seguir, para uma maior compreensão, apresento as combinações que indicam presente,
passado, ou futuro:
(S, R1) – presente
(R1-S) – passado
(R1-R2) – futuro
A autora explica que o sistema de Reichenbach, apesar de situar a posição do evento
verbal na linha do tempo em relação ao momento da enunciação, não é capaz de distinguir se
é todo o evento que é situado ou apenas uma parte, ou ainda se é um estado de coisas que
coincide com a intenção ou predisposição de terminar um evento. Com isso, a autora diz que é
necessário que se consiga incorporar os conteúdos aspectuais às estruturais temporais, pois só
assim se terá uma compreensão completa do significado dos tempos verbais. E é por isso, que
Carrasco Gutiérrez, baseada em Klein (1992), propõe que o ponto E (tempo total do evento)
de Reichenbach seja substituído por outro primitivo teórico, F, que representa o tempo apenas
da parte do evento de que se fala na oração. Segundo a autora, desse modo é possível dar
conta da ambiguidade das formas verbais compostas.
A autora segue expondo que em muitos estudos sobre os tempos verbais são
frequentes as propostas que tentam dar conta de como obtêm-se esses significados
sintaticamente, e que a sua proposta será baseada em trabalhos como os de Belletti (1990),
Chomsky (1989) e Pollock (1989), que afirmam que tanto as categorias léxicas como os
morfemas com informação gramatical podem ser projetados sintaticamente.
Carrasco Gutiérrez (op. cit.) segue então com sua proposta de árvore, antes explica
que a representação sintática será pautada em quatro primitivos teóricos que explicam o
significado tempo-aspectual dos tempos verbais e que os quatro são proporcionados por
diferentes núcleos sintáticos. Sobre os pontos a autora expõe:
Los puntos S y F se ponen en relación con los núcleos Com[plementante]º y
Asp[ecto]º, respectivamente; los nudos T[iempo]1º y T[iempo]2º
introducirán los puntos de referencia R1 y R2. (…)
El nudo Aspº proporciona el punto F, precisamente, porque la categoría
gramatical del Aspecto es la que nos informa acerca del tiempo de la parte
real del evento de la que se afirma algo en la oración. En cambio, los
morfemas temporais que se proyectan en T1º y T2º serán los que determinen
qué orden existe entre los puntos S, R1, R2 y F.99
98
É importante relatar os passos que a autora seguiu, para depois entender a sua proposta de árvore.
Os pontos S e F relacionam-se com os núcleos Com[plementante]º e Asp[ecto]º, respectivamente; os nódulos
T[empo]1º e T[empo]2º introduzirão os pontos de referência R1 e R2. (…)
O nódulo Aspº proporciona o ponto F, precisamente, porque a categoria gramatical do Aspecto é a que nos
99
72
A autora explica, em seguida, que os núcleos que estão sendo estudados se
caracterizam por ter certo conteúdo semântico relacionado estritamente com o predicado e
que, considerando Poletto (1992, apud Carrasco Gutiérrez op. cit.) os núcleos T1º, T2º e Aspº
são categorias funcionais.
Em seu artigo, Carrasco Gutiérrez (op. cit.) problematiza se um morfema pode se
relacionar com mais de um conteúdo e, portanto, com mais de uma posição sintática; e se é
necessário reservar um nódulo na representação sintática para os conteúdos gramaticais sem
realização fonética. A autora assume que os conteúdos gramaticais de Tempo e Aspecto se
correspondem de forma não ambígua com um único morfema verbal, dando conta assim
sintaticamente da ambiguidade do PC. O sufixo -do poderia ter relação com dois conteúdos
gramaticais diferentes: o temporal de anterioridade de F com respeito a R2 e o aspectual de
perfeito.
Com relação a reservar um nódulo na representação sintática para os conteúdos
gramaticais sem realização fonética, a autora assume a proposta de Hornstein (1990), onde se
defende que ST1 e ST2 são projeções funcionais que estariam presentes na sintaxe inclusive
quando não fosse possível identificar um morfema relacionado com o conteúdo temporal
associados aos seus núcleos. Carrasco Gutierrez (op. cit.) acredita que uma das vantagens
desse ponto de vista é que se permite reservar a opção de não projetar um núcleo temporal
para aqueles casos de verdadeira ausência de conteúdo. Seria isso que aconteceria com as
formas não pessoais do verbo, infinitivo, gerúndio e particípio.
Chega-se, enfim, as árvores propostas pela autora (p.54):
1- Tempo composto com interpretação perfectiva (aoristo):
informa sobre o tempo da parte real do evento da qual se afirma algo na oração. Já os morfemas temporais que se
projetam en T1º e T2º serão os que determinam qual ordem existe entre os pontos S, R1, R2 e F.
73
É valido ressaltar que T1º está vinculado tanto com as informações referidas à posição
de R1 com respeito a S, como com a que tem a ver com a posição de R2 com respeito a R1. Já
o núcleo T2º está relacionado com o conteúdo relativo à posição do tempo do foco com
respeito a R2. O ponto F é dado pela categoria funcional de aspecto, pois ele diz respeito ao
tempo da parte do evento da que se fala na oração. Com o E, a autora diz que se refere ao
tempo real ou a extensão total do evento, diz que esse ponto não faz parte das estruturas
temporais dos tempos verbais, uma vez que não são visíveis para a modificação temporal
deítica.
Pode-se notar, ao observar na árvore que o auxiliar haber se insere acima do nódulo
T2º, onde está a marca do particípio. Segundo a autora, o auxiliar se introduz para possibilitar
a realização léxica do conteúdo temporal associado ao nódulo T1º e das marcas de
concordância.
2- Tempo composto com interpretação de perfeito
74
Em (2), o auxiliar haber também se insere acima do nódulo onde se encontra a marca
do sufixo -do, sendo que quando denota valor de Perfeito essa marca estará no nódulo do
aspecto. A distinta posição do sufixo representa, segundo a defesa de Carrasco Gutiérrez, as
duas interpretações possíveis para os tempos compostos. A posição em (1) marca a indicação
de anterioridade de F com respeito a R2, gerando assim uma leitura perfectiva. Já em (2) onde
a marca -do se encontra em Aspº, indica a anterioridade de E com respeito a F, característica
da leitura de perfeito.
A proposta de representação de Carrasco Gutiérrez (2008), reforça a ideia de que há
sim uma diferença sintática quando se tem uma leitura perfectiva do PC ou uma de perfeito. A
marca do -do, sendo checada no aspecto traria uma leitura, a de Perfeito, já sendo checada em
T2 teria outra interpretação a de aoristo.
Ressalto que assumi essa proposta, em primeiro lugar, por ela dar conta da minha
hipótese de que o uso do PC com valor de Perfeito teria traço [+] aspecto, e que o uso do PC
com valor de Perfectivo, teria traço [+] tempo. Além disso, assumo, também, por ser uma
proposta baseada em clássicos estudos, como Chomsky (1989) e Pollock (1989), e em outros
diversos estudos empíricos relacionados com o tema. É uma proposta de linha gerativa, como
a do presente trabalho e que consegue dar conta da ambiguidade aspectual encontrado no
pretérito composto do espanhol, e todos os seus argumentos foram sempre muito bem
debatidos e comparados a de outros autores.
Entretanto, faz-se necessário fazer algumas ressalvas em relação à proposta da autora e
à visão universalista que assumo. O que me fez apresentar a proposta de Carrasco Gutiérrez
(op. cit.) foi a questão da autora defender que quando o PC tem valor de Perfeito tem-se a
checagem do particípio no nódulo do aspecto, enquanto o PC perfectivo checa no nódulo de
tempo. Contudo, ao observar as duas árvores propostas pela autora, vemos que as posições
75
dos nódulos temporais não se mantêm. Isso indicaria que a proposta da autora não é de uma
árvore universal. Dessa forma, esclareço que concordo com a árvore da autora no que diz
respeito às diferenças de checagem, mas discordo de sua proposta de mudança de posição dos
nódulos. Seria interessante, fazer algumas alterações nessa árvore, porém como o foco desta
dissertação não é a representação sintática, não me ocuparei a fazê-las neste momento. Quiçá
em um trabalho futuro, possa realizá-las.
Após expor acerca da linha teórica seguida, apresentar as diferenças entre Tempo e
Aspecto, diferenciar os aspectos que podem estar veiculados ao pretérito composto – Perfeito
e perfectivo, descrever o uso do PC em diversas línguas e variedades, e demonstrar a proposta
de representação em árvore que assumo, a seguir apresento a metodologia adotada para
realizar a análise dos dados neste trabalho.
76
3. METODOLOGIA E CORPUS
O objetivo deste trabalho é analisar o uso do PC na variante mexicana do espanhol,
tendo como foco os valores aspectuais veiculados a esse tempo verbal. Para isso analiso oito
amostras de fala do Proyecto para el Estudio Sociolingüístico del Español de España y de
América (PRESEEA) – México. Esse projeto é composto por mais de 39 regiões, tanto na
Espanha, como nos diversos países americanos.
O objetivo do PRESEEA é reunir um grande corpus oral, tecnicamente adequado e
sociolinguisticamente representativo de uma ampla mostra de cidades de todo o mundo
hispânico. A intenção é que este corpus de língua falada se converta em um dos maiores da
língua espanhola. Os organizadores do PRESEEA desejam que seus materiais permitam
realizar estudos desde perspectivas muito diferentes, interessando a especialistas de distintos
campos: dialectólogos e sociolinguistas, foneticistas, gramáticos, analistas do discurso,
pragmáticos o etnolinguistas.
Todos os informantes escolhidos para este estudo são de nível superior e estão
divididos em dois grupos: os jovens (20-34 anos) e os adultos100 (35-54). Segue abaixo uma
tabela com suas informações:
CORPUS PRESEEA – MÉXICO. Informantes de nível superior
Inform
Identificação da entrevista no corpus
Sexo / grupo
Idade
1
Entrevista 1
Homem / jovem
25
2
Entrevista 2
Homem / jovem
25
3
Entrevista 11
Mulher / jovem
21
4
Entrevista 12
Mulher / jovem
21
5
Entrevista 16
Homem / adulto
49
6
Entrevista 18
Homem / adulto
45
7
Entrevista 21
Mulher / adulto
43
8
Entrevista 23
Mulher / adulto
41
ante
Apesar de ser composto por diversas regiões, o PRESEEA mantém um nível de
uniformidade através dos seus fundamentos metodológicos, sobre os quais faço uma
exposição a seguir:
100
Classificação dada pelos organizadores do projeto.
77
1- PRESEEA se articula em uma rede de equipes de investigação sociolinguística,
adscritos voluntariamente ao projeto e que se responsabilizam pelo recolhimento dos
materiais de língua falada procedentes de uma comunidade. As comunidades estudadas no
projeto são núcleos urbanos, monolíngues ou bilíngues, com uma população hispano-falante
bem assentada, com consciência de comunidade e suficientemente diversa desde um ponto de
vista sociológico.
2- Os informantes terão de ser por nascimento ou anos de residência, membros
reconhecidos de sua comunidade. A seleção dos informantes para as entrevistas se faz baseada
em critérios fixos em uma mostra por cotas. As cotas são criadas a partir de três variantes:
sexo/gênero, idade e nível de instrução.
3- Os materiais destinados a fazer parte do corpus oral se reúnem mediante conversas
semi-dirigidas e gravadas com microfone a vista na situação de entrevista. As entrevistas se
realizam propondo aos informantes módulos temáticos (saudações, o tempo, lugar onde vive,
família e amizade, costumes, perigo de morte, anedotas importantes na vida, desejo de
melhora econômica) que permitem alcançar diversos tipos de discurso. As conversas têm uma
duração mínima de 45 minutos.
4- As equipes que integram o PRESEEA se organizam para a realização de análises
sobre os materiais de língua falada recopilados.
5- Os materiais gravados se transcrevem seguindo convenções baseadas no sistema
SGML (Standard Generalized Markup Language) e as normas internacionais da TEI (Text
Encoding Initiative).
Durante as entrevistas encontramos vários símbolos, codificações, e como estes
poderão aparecer em futuros exemplos dados neste trabalho, é interessante explicar o
significado deles.
- Dois pontos [:] indicam sílabas ou sons alongados;
- Pontos de exclamação [¡!] indicam exclamações e tom animado.
- Pontos de interrogação [¿?] indicam entonação interrogativa.
- Parênteses duplos [(( ))] especificam algum fenômeno ou ação não verbal. Por exemplo,
((pigarro)), ((interrupção)), ((ruídos)).
- Parêntesis [( )] marcam diversos tipos de informação:
1) passagens incertas da transcrição;
78
2) ruídos ou sons significativos da gravação ( (hh): respiração o aspiração audível; (e:):
titubeio; (ts): muxoxo101; (m:): dúvida; (hm): confirmação; (ahá): entendimento, apoio; (risa =
1): risada do informante, (risa = 2): risada do entrevistador, (risa = todos) risada de ambos;
3) lapsos ou pausas de duração superior a 2 segundos: (lapso = 2): pausa de 2 a 3 segundos,
(lapso = 3): pausa de 3 a 4 segundos, aproximadamente;
- Barra [/] indica pausa: [/]: pausa breve; [//]: pausa média; [///] pausa longa (silêncio de 1,0 a
1,2 segundos);
- Sublinhado [___] indica superposição de discurso;
- Travessão [–] indica palavra ou enunciado cortado, seja por correção ou por hesitação;
- Três pontos [...] indica suspensão do discurso;
- Aspas [« »] indicam citação e estilo direto.
O PRESEEA do México abrange o Distrito Federal e mais onze municípios do
México, como mostra o mapa abaixo, sendo de I a XVI a parte referente ao Distrito Federal e
de 1 ao 11 os outros municípios.
Mapa da área que o PRESEEA – México abrange.
Escolhi trabalhar com entrevistas, pois trata-se de um gênero oral e como tal, é algo
mais espontâneo. Acredito ,também, que o fenômeno estudado seja mais comum na fala,
101
Ruído com a boca, demonstrando insatisfação.
79
tendo em vista que essas mudanças demoram mais a atingir a escrita, pois essa é,
normalmente, mais formal, mais próxima das regras normativas.
As entrevistas acima são classificadas como entrevistas sociolinguistas. Segundo Back
et al (2007), entrevistas sociolinguísticas são caracterizadas pela peculiaridade do método, que
tem como objetivo analisar a fala de uma comunidade, o uso linguístico “espontâneo”. De
acordo com Schiffrin (apud: Back et al, 2007), pode-se realizar um estudo ideal da variação
utilizando as narrativas orais, pois são unidades delimitadas do discurso e apresentam uma
estrutura interna regular. Logra-se, dessa forma, obter uma análise controlada e sistematizada
dos aspectos formais e funcionais da variação. Portanto, observa-se que essas entrevistas
possibilitam realizar pesquisas sobre fenômenos que caracterizam a língua, sendo assim, um
instrumento metodológico de coleta de dados de fala em situações comunicativas naturais e
espontâneas.
Analisei apenas a fala do entrevistado, pois a do entrevistador pode ser mais cuidada,
pode ter sido previamente escrita, estudada, e, além disso, as informações acerca do
entrevistador não são fornecidas, não podendo garantir assim que todos os informantes sejam
da mesma região.
Após selecionar as entrevistas, destaquei todas as ocorrências do PC ocorrentes em
todas as entrevistas através do uso da ferramenta computacional WordSmith Tools em sua
quinta versão, desenvolvida por Mike Scott e Oxford University Press. Este programa é um
grande facilitador para uma análise quantitativa, pois nos mostra todas as ocorrências
existentes do que estamos pesquisando.
Depois do levantamento de todos os dados, estes foram rodados em um programa
computacional utilizado por pesquisadores da sociolinguista quantitativa, o GoldVarb X.
Neste programa, seleciona-se grupos de fatores que nos parecem importante para analisar o
fenômeno. Esses grupos, na verdade, são as nossas hipóteses de que tipo de características
linguísticas e/ou extralinguísticas, poderia influenciar determinada variação ou mudança.
Foram selecionados, portanto, sete grupos de fatores, que após a rodagem no, GoldVarb X me
permitiram analisar os resultados quantitativa e qualitativamente.
O primeiro grupo que seria analisado era o aspecto gramatical, analisar se o PC estava
veiculado ao aspecto Perfeito ou perfectivo. Com esse fator, queria observar se, de fato, na
variante mexicana do espanhol o PC só estaria veiculado ao aspecto Perfeito continuativo, se
poderia ser outro subtipo de Perfeito, ou ainda, algo menos esperado, se encontraria algum
caso de aspecto perfectivo.
Para julgar se o aspecto era um ou outro, utilizei os seguintes critérios:
80
Para julgar como Perfeito:
1- se o verbo indicasse duração, iteração ou evento começado, mas ainda não
terminado;
2- se tivesse indicador temporal como esta semana, hoy, siempre, ahora, todavía no,
nunca, ya102;
3- se não tivesse marcador temporal, mas fosse seguido por verbo no presente que
tivesse relação com o fato, ação, estado expresso pelo PC.
Para julgar se era perfectivo utilizei dois critérios:
1- não haver marcador;
2- não haver nenhuma outra indicação de ligação com o presente.
Ainda que estivesse baseada nos critérios acima, em alguns casos foi difícil decidir se
o verbo era de aspecto Perfeito ou perfectivo. Com relação à dificuldade de assegurar se o PC
tem leitura perfectiva ou de perfeito, Ilpo Kempas (2008), confirma nossa dificuldade de
especificar com exatidão o valor aspectual:
Aunque existen casos indudablemente atribuibles uno u otro aspecto –como
el ejemplo (7f), que representa claramente el PPC AOR– para lograr una
interpretación correcta, es necesario conocer todo el contexto. Aun así,
opinamos que existen casos cuya aspectualidad no es fácil de determinar
con criterios objetivos por un observador externo103.104
Entretanto, após análise dos dados, observei que no México, a forma composta sempre
apresentava aspecto Perfeito. Portanto, o grupo de fatores – aspecto verbal de Perfeito ou
perfectivo foi excluído da análise. Abaixo seguem os sete grupos, que de fato analisei, e a
explicação do porquê de eles estarem sendo analisados:
1- PC de continuidade (d) ou PC de relevância presente (r) – esse grupo está voltado
para a checagem de qual tipo das subvariedades de Perfeito é mais frequente na variante
mexicana, relacionando também a escala proposta por Harris (1982), onde o PC pode passar
por quatro estágios. Dividi os três tipos de Perfeito apresentados por García Fernández (2000)
nos dois grupos que seguem abaixo propostos na escala de Haris (op. cit.):
I- Grupo do PC de continuidade – neste grupo está presente apenas o PC com leitura
de aspecto Perfeito continuativo que pode conter traços de duração ou iteração. O predicado,
nesse caso, uma ação que começou no passado, continua no presente e pode ser projetar para
102
Apesar de ya ser um marcador de fase, observei sua ocorrência junto do grupo de marcadores temporais.
Exemplo (7f) Anoche te he visto em sueños.
104
Embora existam casos, sem dúvida, atribuídos a um ou outro aspecto, como o exemplo (7f), que claramente
representa o PPC AOR- para conseguir uma interpretação correta, é necessário conhecer todo o contexto. Ainda
assim, acreditamos que há casos em que não é facil determinar a aspectualidade com critérios objetivos através
de um observador externo.
103
81
o futuro. Esse tipo de PC seria o representante do estágio 2 da escala proposta por Harris (op.
cit.). Para classificar um PC como desse grupo, utilizei alguns critérios:
1- se ele apresentava traços de duração ou iteração, para isso me apoiava na cardinalidade dos
complementos, nos tipos de marcadores e também no contexto geral da entrevista;
2- se ele estava acompanhado de um marcador de negação ou duração, uma vez que
considero, aqui, que esses marcadores durativizam a ação;
3- se enquadravam-se nos exemplos dados por Lope Blanch (1961), como, por exemplo, el
maestro no ha venido (ainda pode vir), ou em relação às interrogativas – ¿Has pensado bien
en lo que te dije?.
II- Grupo do PC de relevância presente – nesse grupo está presente o PC de leitura de
Perfeito experiencial ou de resultativo, ambos marcam ações já acabadas, mas que tem relação
com o presente. O experiencial é quando o sujeito passou por alguma experiência e isso tem
alguma relevância no momento presente. Já o resultativo é quando se foca o estado resultante
de uma ação passada. O uso desse PC estaria relacionado ao estágio 3 da escala proposta por
Harris (op. cit.). Para classificar o PC como desse grupo, observava se a ação expressa
representa uma experiência do passado relacionada ao momento da enunciação ou um
resultado presente de alguma ação passada.
O esperado é que na variante mexicana grande parte, se não todos os usos de PC, seja
do tipo continuativo.
2- Tipo de verbos – em relação ao aspecto lexical, havia quatro opções, baseadas na
proposta de Vendler (1967): estado (e), atividade (a), processo culminado (u) ou culminação
(h). Abaixo segue os traços que estão envolvidos para a classificação e análise de cada tipo de
verbo:
- Verbos de estado: [- dinâmico], [- pontual] e [- télico].
- Verbos de de atividade: [+ dinâmico], [- pontual] e [- télico].
- Verbos de processo culminado: [+ dinâmico], [- pontual] e [+ télico].
- Verbos de culminação: [+ dinâmico], [+ pontual] e [+ télico]
A base deste trabalho é analisar o aspecto gramatical veiculado ao PC, mas esse grupo
de fator foi criado para que eu pudesse observar se algum tipo de verbo favoreceria o uso do
PC como Perfeito ou como Perfectivo.
Tendo em vista o caráter durativo e iterativo que a princípio o PC do México tem,
minha hipótese inicial é que a maior parte dos verbos sejam de estado e atividade.
3- Pessoa gramatical do sujeito – poderia ser de primeira (1), segunda (2) ou terceira
(3). Ao trabalhar esse grupo de fatores, tinha como objetivo observar se alguma dessas
82
pessoas favoreceria o uso de aspecto perfectivo ou Perfeito, ou ainda, se favoreceria algum
subtipo de Perfeito.
4- Animacidade do sujeito – assim como o grupo anterior, gostaria de observar se o
sujeito ser [+] animado (g) ou [-] animado (b), poderia favorecer um ou outro aspecto ou
subtipo do aspecto Perfeito.
5- Marcador temporal – Com esse grupo de fatores, meu intuito era observar com que
tipos de marcadores temporais os dados de PCs apareceriam e se encontraria algum uso de PC
interpretado como aoristo acompanhado de um marcador temporal que não incluísse o
presente, como por exemplo: “Ayer he visto a Juan”. Nesse grupo de fator, havia duas
possibilidades: com marcador (c) e sem marcador (s).
6- Gênero: masculino (m) e feminino (f) – com esses fatores queria checar se haveria
alguma diferença no uso do PC em relação ao homem e a mulher. De toda a literatura sobre
PC consultada, nenhum trabalho fazia menção a esse fator, mas de qualquer forma, acredito
que pode ser importante controlá-lo.
7- Grupo da faixa etária – jovem (j) ou adulto (v). Como é possível observar na
proposta de Harris (1982), o PC passa por diversos estágios em diversas línguas, podendo
portanto, sofrer modificações em seus valores aspectuais. Ao observar as diferenças entre o
grupo jovem e o adulto, o intuito é ver se há alguma diferença de uso entre as gerações. Isso
poderia indicar que o uso do PC está sofrendo modificações no espanhol do México.
Após apresentar os sete grupos de fatores que serão controlados, no próximo capítulo
apresentarei a análise dos dados.
83
4. ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo, apresentarei os dados levantados e a análise realizada com eles para
em seguida propor uma possível representação em árvore do uso do PC na variante mexicana.
4.1. Resultados da análise dos dados
O objetivo desta dissertação é analisar o uso do pretérito perfeito composto na
variante do México, observando o aspecto gramatical veiculado a esse tempo verbal. As
hipóteses iniciais são
1ª) o PC estará sempre veiculado ao aspecto Perfeito;
2ª) o PC estará veiculado ao aspecto Perfeito do subtipo continuativo.
Para essa análise, utilizei o corpus do projeto PRESEEA – México. Selecionei oito
entrevistas, quatro do grupo de informantes classificado como jovem (20-34 anos), dois
homens e duas mulheres; e quatro entrevistas do grupo de informantes adultos (35-54),
também sendo dois homens e duas mulheres. Em ambos os grupos, todos os informantes
tinham a instrução de ensino de nível superior.
Nas oito entrevistas utilizadas, foram encontradas 154 ocorrências de PC.
Explicitarei e analisarei os resultados de cada grupo de fator observado e relacionarei alguns
desses fatores que podem ter contribuído para uma maior ocorrência de PC veiculado ao
aspecto perfectivo ou Perfeito.
Começo comentando sobre o primeiro fator que é o do aspecto gramatical, pois é
nesse que se baseia meu estudo. Em algumas variantes, como por exemplo, a falada em
Buenos Aires, o uso do PC já pode estar veiculado ao aspecto perfectivo, entretanto, na maior
parte das variantes da América, encontra-se o PC apenas com valor de Perfeito. Segue abaixo
a tabela com os resultados dos dados da variante mexicana:
84
Tabela 1- Tipo de aspecto gramatical
Perfeito Continuativo105
Perfeito Experiencial ou resultativo
Perfectivo
(porcentagem / no de
(porcentagem / no de oco)
(porcentagem / no de
oco106)
78,6% (121)
oco)
21,4% (33)
0% (0)
Num total de 154 ocorrências do PC, 78,6% (121 ocorrências) estava veiculado ao aspecto
Perfeito durativo / iterativo e 21,4% (33) ao Perfeito de resultado ou experiência (PC de
relevância presente). Em relação ao aspecto Perfeito continuativo, essa predominância de
ocorrências já era esperada. Entretanto, a princípio, não esperava o número encontrado de
ocorrências de Perfeito experiencial ou de Perfeito resultativo. Nos exemplos abaixo, pode-se
observar o uso do PC veiculado aos diferentes valores aspectuais.
(1) se supone que tenían/ pero pues <~ps> es que ha tenido muchas broncas [esa obra]
(de3bsmj)
(2) yo// le digo// porque/ llegué un día a a principio de semestre/ “ay mamá/ me voy a ir un
mes”// “¿cómo que te vas a ir un mes?// ¿pero qué te pasa?/ ¿cómo vas a comer?” y yo “no/
pues <~pus> es que esta es la idea/ que bla bla bla”// y entonces ella// bueno/ es que siempre
ha sido muy como// protectora// (de3gcfj)
(3) es un area bastante grande// entonces <~entóns> el estructurista no ha propuesto// cómo
va a ser la estructura/ de la cisterna// porque no sabe qué dimensiones está/ en qué ubicación
va a estar// entonces <~entós> hay muchas con-/ incogruencias en el proyecto. (du3gsmj)
(4) entonces es lo mismo con los edificios o sea/ donde hay este// le ponen unos pilotes/ ¿has
visto los pilotes que ponen en los puentes?// donde hay zonas/// o sea un pilote es un elemento
como un poste (da2gsmj)
(5) pero haz de cuenta que/ que si yo com-/ o sea/ no tengo/ ya se me han olvidado muchas
cosas pero/ o sea si/ yo tuviera un piano/ y/ y tengo ahí mis libros de música/ y me dedicara o
sea a tratar de sacarlas/ (ra3bcfv)
(6) pues <~pus> desde/ las perforaciones que se hacen/ la/ chavas/ eso es ya// eso/ afecta
según/ o sea yo he leído y él dice que/ [afecta] (ra1gsmj)107
105
As formas compostas que estejam veiculadas ao Perfeito continuativo, como disse anteriormente, serão
classificadas como PC de continuidade. Já as que tiverem leitura de PC experiencial ou resultativo serão
classificadas como PC de relevância atual, fazemos assim referência à escala de evolução proposta por Harris
(1982)
106
O termo “oco” está sendo utilizado como abreviação para a palavra “ocorrência”.
107
(1) se supõe que tinham/ mas pois é que tem tido muitos problemas [essa obra]
(2) eu// te digo// porque/ cheguei um dia no início do semestre/ “ai mamãe/ me vou por um mês” “como que
85
No exemplo (1), tem-se o exemplo do PC veiculado ao aspecto Perfeito continuativo
com traço de iteração. O verbo tener (ter), apesar de ser de estado, não está, nessa frase ,
representando um estado resultante de uma ação passada e sim uma repetição da mesma ação,
ou seja, a obra tem tido muitos problemas. O complemento muchas broncas por ser de
cardinalidade não especificada, também favorece essa leitura iterativa. Esse tipo de uso do
PC, seria o equivalente ao uso do Brasil. Poderíamos traduzir sem problemas para o
português, mantendo o mesmo tempo verbal – é que tem tido muitos problemas [essa obra].
Também se tem uma leitura de Perfeito continuativo no exemplo (2), entretanto,
dessa vez, o traço é de duração e não de iteração. O verbo ser, como é de estado, ou seja,
marca uma situação permanente, favorece essa leitura durativa. A proteção da mãe é uma
característica que começou no passado e persiste até o momento presente e não há intervalos
nesse estado, o sentimento de proteção é contínuo. O marcador temporal siempre é um
elemento que também indica essa leitura durativa.
Em relação a (3), o PC vem antecedido pelo advérbio de negação no. Segundo
García Fernández (2000), a negação tem a propriedade de durativizar um predicado. Os
marcadores nunca e todavía no108 também teriam essa propriedade. Dessa forma, em (3), o
PC é classificado como de leitura aspectual de Perfeito continuativo com traço de duração. A
ação de propor não ocorreu no passado, segue assim no presente e a perspectiva temporal fica
em aberto, não há o limite da situação e o momento da enunciação está incluído. No exemplo
em questão, ainda não foi feita a proposta da estrutura da cisterna, mas em algum momento
essa será realizada, uma vez que a obra ainda continua sendo realizada.
Ao observar o exemplo (4), nota-se que o PC encontra-se em uma sentença na forma
você se vai por um mês? Mas o que está acontecendo com você? Como vai comer” e eu “não/ pois é que esta é a
ideia/ que blá blá blá” e então ela// bom é que sempre foi muito como// protetora.
(3) é uma área bastante grande// então o engenheiro não propôs// como vai ser a estrutura/ da cisterna// porque
não sabe em quais dimensões está/ em que lugar vai estar// então há muitas con-/incongruências no projeto.
(4) então é o mesmo com os edifícios ou seja/ onde há este// lhe põem una vigas de ferro/ já viu as vigas que
põem nas pontes?// onde há zonas/// ou seja uma viga é um elemento como um pilar
(5) mas faz de conta que/ que se eu com-/ ou seja/ não tenho/ já me esqueci de muitas coisas mas/ ou seja se/ eu
tivesse um piano/ e/ e tenho aí meus livros de música/ e me dedicasse ou seja a tentar tirá-las
(6) pois/ desde/ as perfurações que fazem/ a/ meninas/ isso é já/ isso afeta segundo/ ou seja eu li e ele disse que/
[afeta]
Faz-se necessário chamar atenção para o fato de que estou fazendo traduções livres e como os dados
representam fala espontânea, há cortes, repetições, dessa forma, muitas vezes, a tradução fica um pouco sem
sentido. Além disso, a tradução do PC espanhol para o português se fará, diversas vezes, através do uso da forma
simples, uma vez que só poderia traduzir pela forma composta se o aspecto veiculado ao PC for de
duração/iteração. Algumas vezes, ainda que seja um PC com valor de Perfeito continuativo, dependendo do
marcador temporal, em português usaremos a forma simples. Exemplo: Siempre he sido muy amiga (segue sendo
amiga). Sempre fui muito amiga (segue sendo amiga).
108
O advérbio nunca é classificado por García Fernández (2000) como advérbio de frequência e todavía no
como marcador de fase.
86
interrogativa. Classifico esse PC como de leitura continuativa, com traço de duração. Baseio
minha classificação em Lope Blanch (1961), pois segundo ele, ao fazer uma pergunta com o
PC indica que ainda há a possibilidade da ação se realizar. Ao usar a forma simples, essa
leitura não seria possível, uma vez que a forma simples marcaria que o tempo da ação ocorrer
já estaria concluído. A pergunta, portanto, marca que algo pode ter acontecido ou ainda pode
acontecer, logo, tem-se a perspectiva temporal em aberto.
No exemplo (5), classifiquei o PC como de relevância atual, tendo leitura de Perfeito
de resultado. O informante, ao usar o PC, a princípio, estaria focalizando o estado resultante
de haver esquecido, ou seja, no momento presente ele não sabe mais determinadas coisas
referentes à música, ao piano. Observa-se nesse exemplo, que há o uso do PC com o marcador
ya. Segundo Lope Blanch (ibidem), esse uso não seria possível na variante mexicana.
Analisarei essa questão mais adiante, na parte de marcadores temporais. Ainda que ya109 não
seja classificado como marcador temporal, optei por comentá-lo nessa seção, tendo em vista
que todos são advérbios, ainda que de diferentes tipos.
Também classifico como PC de relevância atual, tendo uma leitura de aspecto
Perfeito experiencial, a forma composta do exemplo (6). O verbo leer (ler) possui um traço [+
durativo], entretanto nesse caso, ele não favorece uma leitura durativa. Não encontrei o
complemento verbal desse verbo na entrevista, mas a princípio, pode-se dizer que
implicitamente existe algo como he leído sobre eso. Esse complemento também poderia
favorecer uma leitura durativa, entretanto o contexto deixa claro que o informante está
falando que no passado leu sobre o assunto e não no presente. Dessa forma, conclui-se, então,
que o que o falante está focalizando é que ele teve a experiência de ler sobre o assunto e isso
atualmente lhe traz um conhecimento sobre o assunto.
Esse resultado de 78,6% das ocorrências estar veiculado ao aspecto Perfeito durativo
/ iterativo e 21,4% (33) ao Perfeito de resultado ou experiência demonstra que parece haver
uma mudança no que diz respeito ao uso do PC nessa variante do espanhol. Pode-se observar
que, a princípio, o espanhol do México estaria começando a entrar para a terceira etapa da
escala proposta por Harris (1982), uma vez que o PC pode estar relacionado a situações que
não estejam apenas relacionadas a ações durativas ou iterativas.
O segundo grupo analisado foi o dos tipos de verbos e sua relação com os subtipos
de Perfeito, uma vez que não houve nenhum caso de aspecto perfectivo. Nesta dissertação,
para observar o aspecto lexical, estou usando a classificação proposta por Vendler (1967), que
109
O advérbio ya é classificado por García Fernández (op. cit.) como advérbio de fase.
87
propõe que o verbo pode ser classificado como de estado, de atividade, de processo
culminado ou de culminação. Para classificar nos diferentes tipos de aspectos lexicais, tinha
como critério observar os traços de dinamicidade, telicidade e pontualidade, como é possível
observar no esquema a seguir que já foi apresentado anteriormente.
- Verbos de estado: [- dinâmico], [- pontual] e [- télico].
- Verbos de de atividade: [+ dinâmico], [- pontual] e [- télico].
- Verbos de processo culminado: [+ dinâmico], [- pontual] e [+ télico].
- Verbos de culminação: [+ dinâmico], [+ pontual] e [+ télico]
A hipótese inicial era a de que houvesse mais verbos de estado e atividade
relacionados ao aspecto Perfeito continuativo, já que esses dois tipos de verbos contém traço
[+ durativo] assim como esse tipo de Perfeito. Se o verbo fosse de processo culminado, até
poderia estar relacionado a esse tipo de aspecto, entretanto teria a noção de iteração e não de
duratividade.
Com relação ao PC do grupo de perfeito de relevância presente (experiencial ou
resultativo), poderia-se esperar que ocorresse com qualquer tipo de verbo, uma vez que os
PCs de Perfeito de Relevância presente focalizam o resultado, as consequências de um evento
já passado em relação ao tempo presente. Com isso, não importa se o evento ocorreu uma ou
mais vezes e se teve duração ou não, o que é valorizado é a relação que o resultado desse
evento tem com o momento da enunciação.
Nas ocorrências analisadas, encontrei dados com todos os tipos de verbos como é
possível observar na tabela a seguir:
Tabela 2- Tipo de Perfeito X Tipo de Verbo
Continuativo
o
Experiencial ou resultativo
(porcentagem / n de oco)
(porcentagem / no de oco)
Atividade
74,2% (66)
25,8% (23)
Estado
90,3% (28)
9,7% (3)
Processo
76,2% (16)
23,8% (5)
84,6% (11)
15,4% (2)
culminado
Culminação
Como os números mostram, o tipo de verbo que mais aparece com o PC é o de
atividade, 89 ocorrências. Dessas, 74,2% está relacionado ao aspecto Perfeito de subtipo
continuativo (durativo / iterativo), o que já era de se esperar, uma vez que na variante
88
mexicana o PC é descrito como continuativo, ou seja, é utilizado para relatar fatos que
começaram no passado e continuam até hoje, e verbos de atividade favorecem essa leitura de
duração. Seguem abaixo exemplos de PC de continuidade e PC de relevância presente com
verbos de atividade:
(7) todos los elementos deben de resistir// o sea/ que el rango de resistencia que tienen/ debe
ser mayor/ por lo de todos los temblores que ha/ que han ocurrido en la ciudad/ entonces
<~entóns> ese rango se ha elevado/ y todos los materiales deben tener la mayor resistencia//
a la que tenían antes/ pero/ de hecho tienen que tener ese conocimiento/ si no no/ no estaría
en pie/ ese edificio
(8) no/ no yo ya se lo he platicado/ y de hecho mi hermana también se lo ha platicado// este/
no/ ese no es mi plan de vida/ digo no por menospreciar lo que tenemos/ porque de eso he
comido/ y de eso tengo tantas cosas//110
Em (7), tem-se um exemplo de PC de continuidade com um verbo de atividade. Essa
forma verbal está marcando que os tremores se repetem na cidade. Além do verbo ocurrir
favorecer essa leitura, o fato de o sujeito todos los temblores estar no plural também favorece
esse interpretação.
Já o exemplo (8), ainda que o verbo platicar (conversar) seja de atividade,
classifiquei o PC como de relevância presente, pois essa ação já aconteceu no passado, o que
se foca aqui não é a ação em si, e sim o resultado da informante já haver conversado com a
mãe dela. Observa-se que esse PC está acompanhado do advérbio ya, que me auxiliou a
classificar o PC como de relevância e não de continuidade.
Quantos aos verbos de estado, 90,3% dos 31 analisados, também tiveram leitura de
Perfeito continuativo. Esse valor alto também era esperado, pois assim como os verbos de
atividade, os de estado também favorecem uma leitura de ações como durativas / iterativas.
Observa-se, ao fazer uma análise proporcional dos dados, que os verbos de estado são os que
mais favorecem a leitura de Perfeito continuativo, uma vez que 90,3% das suas ocorrências
está veiculado a esse aspecto. Em segundo lugar estariam os verbos de estado com 74,2%.
Baseada nos números dos dados encontrados e na divisão entre o tipo de valor aspectual,
poderia concluir que os verbos de atividade favoreciam o uso da forma composta, entretanto,
os verbos de estado seriam os favorecedores do uso do PC veiculado ao valor aspectual de
110
(7) todos os elementos devem resistir// ou seja/ que o grau de resistência que têm/ deve ser maior/ por todos
os tremores que tem/ que têm ocorrido na cidade/ então esse grau aumentou/ e todos os materiais devem ter a
maior resistência// à que tinham antes/ mas/ de fato tem que ter esse conhecimento/ se não não/ não estaria de pé/
esse edifício.
(8) não/ não eu já conversei/ e de fato minha irmã também já conversou// este/ não/ esse não é o meu plano de
vida/ digo não por menosprezar o que temos/ porque disso comi/ e disso tenho tantas coisas//
89
Perfeito continuativo. Seguem abaixo exemplos do PC com verbos de estado.
(9) no no no/ empecé/ en mi casa luego/ me fui a// a/ estuve ahí// en mi casa/ luego estuve en/
en// bueno he estado así en varias partes/ pero así locales est-/ o sea aquí en la Zona Rosa y
aquí (de1gcmj)
(10) conozco también el el hospital de Azcapotzalco/ conozco también estu-/ son los ho-/ los
hospitales que te menciono son donde yo he estado/ eh/ conozco donde yo estuve/ el Legaria
que fue el// este/ el último hospital// donde estuve/ y de ahí me mandaron para acá
(re1gsmv)111
Nos exemplos apresentados, pode-se ver o mesmo verbo de estado (estar) na forma
composta, mas com leituras aspectuais diferentes. Em (9), tem-se a forma composta com
leitura aspectual de Perfeito continuativo. O aspecto lexical do verbo favorece essa leitura,
entretanto, também levei em consideração o sintagma adverbial (en varias partes) que auxilia
na leitura iterativa da ação. O falante está relatando que há cinco anos tem trabalhado em
diversos lugares. Ao longo da entrevista, ele informa que irá viajar a trabalho, o que traz a
ideia de que de fato a ação começou no passado, persiste no presente e, provavelmente, irá
permanecer no futuro.
O PC que se encontra no exemplo (10), apesar de ser um verbo de estado, foi
classificado como pertencente ao grupo de relevância presente. A princípio, poderia classificálo como um PC com valor de Perfeito continuativo, pois o falante está se referindo aos
hospitais em que ele esteve. Uma vez que esse marcador de localização está no plural, poderia
a princípio, favorecer a leitura iterativa, como ocorreu em (9). Entretanto, logo em seguida
tem-se a presença do verbo estar na forma simples, indicando que o informante está se
referindo a ações já realizadas em um tempo anterior ao da enunciação. Dessa forma,
baseando-me na presença do verbo conhecer no presente do indicativo (conozco), conclui que
o que se está focando com o uso da forma composta não é a ação de haver estado nos
hospitais, e sim o resultado disso no momento presente – conhecer diversos hospitais.
Com relação aos verbos de processo culminado, encontrei 21 ocorrências, entretanto
a maioria também estava relacionada à leitura durativa / iterativa, 76,2%. Observa-se que
houve poucas ocorrências com esse tipo de verbo, o que poderia ser um indício de que ele não
é favorecedor de uma leitura de aspecto Perfeito. Entretanto, esse tipo de verbo também
111
(9) não não não/ comecei/ na minha cada e depois/ fui a// a/ estive aí/ na minha casa/ depois estive em/ em//
bem tenho estado assim em várias partes/ mas assim locais est-/ ou seja aqui na Zona Rosa e aqui
(10) conheço também o o hospital de Azcapotzalco/ conheço também estu-/ são os ho-/ os hospitais que te
menciono são onde eu estive/ é/ conheço onde eu estive/ o Legaria que foi o// este/ o último hospital// onde
estive/ e daí me mandaram para cá.
90
caracteriza ações com duração que tenham um ponto final, sendo assim, podem ser
relacionados ao aspecto Perfeito de leitura durativa / iterativa. Abaixo um exemplo de PC de
continuidade, ou seja, com leitura de Perfeito continuativo:
(11) tanto de construcción/ como ya a la hora de que esté la tienda/ en función/ pero estas
familias les afecta// y ellos son los que han hecho todo el argüende/ pero aquí// sólo llega la/
la noticia/ de que hay un Wal Mart <~guol mar> sobre las pirámides// (du3gsfj)112
O verbo hacer (fazer) poderia ser classificado como de atividade, entretanto como
há um complemento de cardinalidade especificada (todo el argüende), tem-se um verbo de
processo culminado. Para classificar quanto ao valor aspectual gramatical, se apenas levasse
em conta o tipo de verbo e de complemento, concluiria que esse PC seria do grupo de
relevância atual (Perfeito experiencial ou de resultado), pois aparentemente essa seria uma
ação concluída. Entretanto, ao analisar o contexto da entrevista percebe-se que a ação de criar
a confusão, a fofoca (hacer el argüende) ainda se repete, dessa forma, a única leitura possível
para o PC é a de Perfeito continuativo com traço de iteratividade.
Ao observar os PCs do grupo de relevância atual, ou seja, que tenham leitura
aspectual de Perfeito experiencial ou de resultado, nota-se que esse tipo de verbo é o segundo
que mais tem esse tipo de leitura. Esse resultado está de acordo com o que se podia esperar,
uma vez que os verbos de processo culminado tem um fim intrínseco e esse tipo de aspecto se
refere a ações já finalizadas, entretanto com resultado persistente ou consequência no
momento da enunciação.
(12) y/ bueno/ ya estando casada con él/ pues he ido/ a Estados Unidos/ de compras// con él
conocí// Disneylandia (ru1gcfv)113
Em (12), o PC foi classificado como pertencente ao grupo de relevância presente,
porque está tratando-se do fato da informante haver ido aos Estados Unidos pelo menos uma
vez no passado, e que isso tem alguma relevância no momento da enunciação.
Quanto aos verbos de culminação, não esperava que houvesse muitas ocorrências
deles relacionados à leitura de Perfeito continuativo, uma vez que esse tipo de verbo marca
um evento instantâneo, ou seja, carregaria o traço [- duração]. Dessa forma, se esse tipo de
verbo aparecesse na forma composta, veiculado ao valor de Perfeito continuativo, teria que
estar relacionado à iteração do evento e não à duração. Nos dados analisados, encontrei 13
112
(11) tanto de construção/ como já à hora de que esteja na loja/ na função/ mas a estas famílias lhes afeta// e
eles são os que têm criado toda a confusão/ mas aqui// só chega a/ a notícia) da que há um Wall Mart sobre as
pirâmides.
113
(12) e/ bom/ já estando casada com ele/ pois fui/ a Estados Unidos/ de compras// com ele conheci//
Disneylândia
91
ocorrências desse tipo de verbo, sendo 84,6% relacionado ao Perfeito continuativo. Quanto à
leitura de Perfeito experiencial ou de resultado, não haveria nenhuma restrição para impedir
que verbos de culminação viessem relacionados a esse tipo de aspecto gramatical. Abaixo
apresento dois exemplos de PC com verbos de culminação:
(13) entonces esa relación del médico y el paciente/ se ha perdido muchísimo// te digo//
(dh3gsfj)
(14) digamos en castellano/ en/ en el idioma que ellos hablan/ puede ser/ no sé/ nos ha
tocado náhuatl/ nos ha tocado/ otomí/ en los diferentes lugares que hemos muestreado//
(rh3bsmv)114
Em (13), tem-se o verbo perder, um evento instantâneo, mas que nesse contexto
ganha uma leitura iterativa, pois a ação de se perder a relação entre médico e paciente
continua acontecendo. Dessa forma, o PC em questão faz parte do grupo de PC de
continuidade, ou seja, está veiculado ao aspecto Perfeito continuativo.
Com relação ao (14), observa-se que a ação já foi concluída de fato e não volta a
repetir-se, entretanto, o evento tem importância, consequência para o informante no momento
da sua enunciação.
Ao finalizar a apresentação de todos os tipos de verbos (vide tabela 2), observo que
com relação a esse grupo de fatores, é possível concluir que os verbos de atividade parecem
favorecer o uso da forma composta, pois dos 154 dados analisados 89 eram de verbos de
atividade. O verbo de culminação seria o que menos favoreceria o uso dessa forma verbal. Já
em relação aos valores de aspecto gramatical, os verbos de estados seriam os favorecedores
do PC com leitura de Perfeito continuativo e os de atividade seriam os que mais favoreceriam
o uso do PC veiculado ao Perfeito experiencial ou resultativo (grupo do PC com relevância
atual).
O terceiro fator analisado foi o número de pessoa gramatical. Esse fator não havia
sido incluído em outros trabalhos que analisam o PC no espanhol. Entretanto, como esse é um
dos fatores analisados em outros fenômenos da língua espanhola, como no uso do futuro
simples ou perifrástico115, optei por controlá-lo. Segue abaixo a tabela com os resultados em
relação ao subtipo do aspecto Perfeito:
114
(13) então essa relação de médico e paciente tem se perdido muito// te digo
(14) digamos em castelhano/ em/ no idioma que eles falam/ pode ser/ não sei/ tivemos náhuatl/ tivemos/ otomí/
nos diferentes lugares que temos feito amostras.
115
Um exemplo de estudo que controla esse fator é o de Sedano (2006 apud Ferreira 2011).
92
Tabela 3- Tipo de Perfeito X Pessoa Gramatical
Continuativo
Experiencial ou resultativo
(porcentagem / no de oco)
(porcentagem / no de oco)
1a pessoa
74% (60)
26% (14)
2a pessoa
100% (7)
0% (0)
3a pessoa
81,1% (54)
18,9% (19)
Como é possível observar na variante mexicana, o PC aparece mais na primeira e
terceira pessoa, entretanto no que diz respeito ao aspecto gramatical, podemos observar que a
segunda pessoa parece ser a que favorece mais a leitura durativa / iterativa. Nota-se, também,
que a primeira pessoa seria o grupo que mais favoreceria o uso do PC de relevância presente,
uma vez que 26% desses dados se referiam ao aspecto Perfeito experiencial ou de resultado.
Pode-se postular que os falantes utilizam mais o PC para relatar eventos passados
relacionados com o presente quando são ações realizadas por eles mesmos. Abaixo seguem
exemplos do PC com os diferentes números de pessoais gramaticais.
(15) puede ser/ sí he sabido de gente (de1gsmj)
(16) entonces pues imagínate/ ya he recorrido varios hospitales [también] (ra1gcmv)
(17) ¿no?/ que le hablan en doble sentido/ como/ ¿tú has oído hablar a los niños de la calle?/
[como] (da2gsmv)
(18) le toman un// un pedacito de su cérvix/ para ver este/ qué tanto ha avanzado el cáncer o
no/ si ya nada más se quedó ahí/ o si ya se fue a otro lado/ (da3bsfj)
(19) pero a mí lo que me ha impresionado más es/ los niños// yo por eso igual y no me
gustaría ser pediatra porque// pues <~pus> como que sufriría mucho (re3bsfj)116
No exemplo (15), tem-se o PC em primeira pessoa veiculado à leitura aspectual de
Perfeito continuativo, o informante continua sabendo de mais pessoas que têm um tendão
cortado ao por um piercing. Para classificar esta forma composta, também me baseei no tipo
de verbo, de estado, que tem traço [+ duração]. Além disso, o complemento verbal, também
favoreceu a minha classificação, uma vez que, ainda que gente não seja um nome no plural,
ele tem uma ideia de plural, pois gente se refere sempre a mais de uma pessoa.
116
(15) pode ser/ sim tenho sabido de gente
(16) então pois imagine/ já recorri vários hospitais [também]
(17) não?/ que lhe falam em duplo sentido/ como/ você ouviu falar aos meninos de rua [como]
(18) lhe tiram um// um pedacinho da sua cérvix/ para ver este/ comoo tem avançado o câncer ou não/ se já nada
mais restou aí/ ou se já foi a outro lado
(19) mas a mim o que me impressionou mais é/ os meninos// eu por isso igual e não gostaria de ser pediatra
porque// pois sofreria muito
93
Já em (16), ainda que o verbo recorrer tenha traço de [+ duração], já que é de
atividade, e que o complemento verbal seja de cardinalidade não especificada, o que também
favorece uma leitura de aspecto Perfeito continuativo, classifiquei esse PC como do grupo de
relevância presente. O que favoreceu essa leitura de Perfeito experiencial (relevância
presente) foi o uso do marcador de fase ya. O ya demonstra que a ação já não ocorre mais,
ainda que tenha relação com o momento da enunciação.
Com relação ao exemplo (17), tem-se a forma composta veiculada ao aspecto de
Perfeito continuativo. O PC encontra-se em uma frase interrogativa e classifico-o dessa
forma, baseando-me em Lope Blanch (1961). Segundo o autor, sempre que uma pergunta
estiver com um PC, indica que para o falante ainda há possibilidade de determinada ação vir a
acontecer. Dessa forma, o informante ao escolher o PC deixa em aberto a possibilidade de que
o interlocutor, caso ainda não tenha ouvido, possa vir a ouvir como falam os meninos de rua.
Ressalto que em português, não seria possível fazer uma pergunta com esse intenção com a
forma composta, seria possível apenas, com a forma simples – Você já ouviu os meninos de
rua falarem?
Os exemplos (18) e (19) apresentam os sujeitos na terceira pessoa. Em (18), tem-se
um PC veiculado ao Perfeito continuativo. Ainda que o complemento verbal seja de
cardinalidade especificada, o que poderia, a princípio, favorecer uma leitura pontual, o tipo de
verbo (atividade) e o contexto fizeram com que se classificasse o PC como de continuidade.
Ao se comparar esse exemplo com o português, observa-se que esse PC poderia ser traduzido
pela forma correspondente do português, uma vez que tem o traço de iteração – para ver o
quanto tem avançado117 o câncer ou não, se nada mais restou.
Com relação ao (19), tem-se o verbo impressionar, classificado por mim como um
verbo de estado. Esse tipo de verbo tem o traço [+ duração] o que poderia favorecer uma
leitura de Perfeito continuativo, entretanto, observa-se na sequência da entrevista que a
informante está relatando uma ação passada e concluída, mas que ainda tem relevância no seu
momento presente. Segundo a informante, em algum momento do seu estágio, ela teve que
lidar com crianças com câncer o que a impressionou muito, e a consequência disso, no
presente, é que ela não desejaria ser pediatra, pois sofreria muito. Ressalto que fiquei em
dúvida sobre a classificação desse PC, pois provavelmente o sentimento ruim que
impressionou a informante ao lidar com essas crianças ainda exista. Contudo, após uma
117
A frase pode parecer estranha, entretanto essa estranheza não seria devido o uso do PC em português e sim a
estrutura da frase que está representando a oralidade, onde o informante pode falar, voltar atrás, mudar seu
pensamento, esse tudo em um mesmo contínuo.
94
análise baseada nos fatores controlados e no contexto da entrevista, optei pela leitura de que
há um estado presente de um evento passado.
Antes de analisar o próximo grupo de fatores, ressalto quanto os PCs encontrados na
segunda pessoa, que das sete ocorrências analisadas, cinco eram perguntas diretas, como ¿sí
has visto los pilotes que ponen en los puentes?. Uma era pergunta indireta – y el inicio de tu
vida sexual y cómo la has llevado. E a última, lo/ no sé si has visto/ en la tele, apesar de ser
um período afirmativo, tem-se subentendido uma dúvida que provavelmente terá uma
resposta, como se fosse uma pergunta.
Observa-se que em todos os exemplos acima, com exceção de: y el inicio de tu vida
sexual y cómo la has llevado, poderiam ter como respostas um sim ou um não. Além disso
esses exemplos também relatam situações que se não aconteceram poderiam vir a acontecer, o
que pode ser comparado com o exemplo dado por Lope Blanch (ibidem) – El maestro no ha
venido. Esses dados podem indicar que as perguntas interrogativas do tipo sim/não podem
favorecer o uso do PC em segunda pessoa.
Segundo Oliveira (2010), as orações interrogativas do tipo sim/não favoreceriam o
uso da forma composta, como em ¿Has notado alguna evolución/ un cambio...?. Já as
perguntas do tipo wh (¿Cómo de conocieron?) viriam com a forma simples. Neste trabalho,
não foi possível fazer uma análise de todos os tipos de interrogativas para ver se nossos dados
corroborariam com a asserção da autora. Entretanto, houve ocorrências da forma composta
em sentenças interrogativas.
Ao analisar o sujeito, além de observar o número da pessoa gramatical, observei
também a animacidade do sujeito, ou seja, se era mais ou menos animado. Segue abaixo a
tabela com os resultados:
Tabela 4 - Tipo de Perfeito X Animacidade do sujeito
Continuativo
Experiencial ou resultativo
(porcentagem / no de oco)
(porcentagem / no de oco)
[+ animado]
80,2% (101)
19,8% (25)
[- animado]
71,4% (20)
28,6% (8)
Nota-se, ao analisar os dados acima, que o PC na variante mexicana ocorre mais
com o sujeito [+ animado]. Ambos os subtipos de Perfeito também estão mais relacionados
com o sujeito [+ animado]. Com relação ao sujeito [- animado], observa-se que esse também
está mais veiculado ao subtipo durativo / iterativo. Apesar de não haver muitas ocorrências de
relevância atual, entende-se que o sujeito [- animado] é o que favorece esse tipo de leitura
95
aspectual. Pode-se postular, também, que a forma composta do pretérito do indicativo teria
seu uso favorecido pela presença de um sujeito com traço [+ animado], tendo em vista que
81,8% dos PCs encontrados tinham esse traço. Abaixo apresento exemplos do uso do PC com
sujeito com traço de [+ animado] e de [- animado]:
(20) ni frijol/ ni calabaza/ es una de las interpretaciones que le han dado/ y bueno/ pues es/
gracias a que tenemos toda una colección/ ¿no?/ de de plantas/ y mira/ lo que hemos
encontrado/ por ejemplo/ mucho/ es amaranto/ (da1gsmv)
(21) ahorita <~orita> estoy dando economía política/ economía política uno/ es de teoría del
valor/ y/ aquí estoy viendo// eh/ tres autores// uno que seguro lo han escuchado/ el/// un
padre de la economía política clásica que es Adam Smith/ [sí lo han oído] (ra3gsfv)
(22) no puedes hacer otra cosa/ más que ayudar al bien morir de tu paciente// y decir “bueno
okey/ pues <~pus> no se pudo/ pues <~pus> vamos a// a que su muerte no sea tan fea”/ es
otra cosa que/ que ha cambiado mucho mi vida/ en serio el/ el valorar la vida/ la muerte/ el
cómo ver eso/ mi vida// mi vida personal también (da3bsfj)
(23) y ellos se fueron a rentar/ mientras construían la// parte de lo que es <~ques> ahora la/
la casa// y después ya se pasaron/ y realmente por falta de recursos económicos/ pues
<~pus> esto ha sido así como que muy// despacio (re3bsfv)118
Em (20), tem-se o PC de continuidade, segundo a proposta de Harris (1982), o que
quer dizer que está veiculado ao aspecto Perfeito continuativo. O sujeito está na primeira
pessoa do plural (nosotros), sendo portanto um sujeito com traço [+ animado]. Sobre a
classificação aspectual, ressalto que o advérbio mucho favoreceu a leitura de iteração do
evento expresso.
O exemplo (21) também tem o sujeito com traço [+ animado], entretanto o foco
agora é a relevância do evento no momento presente, tem-se, portanto, um PC de relevância
presente.
Com relação ao (22), o traço do sujeito é [- animado] e tem-se um PC veiculado ao
aspecto Perfeito continuativo, uma vez que algo fez com que a informante começasse a mudar
118
(20) nem feijão/ nem abóbora/ é uma das interpretações que lhe têm dado/e bom/ pois é/ graças ao fato de
que temos toda uma coleção/ não? De de plantas/ e olha/ o que temos encontrado/ por exemplo/ muitos/ é
amaranto
(21) agorinha estou dando economia política/ economia politica um/ é de teoria do valor/e/ aqui estou vendo// eh/
três autores// alguém que com certeza ouviram falar/ o/// um pai da economia política clássica que é Adam Smith
[lógico que escutaram]
(22) não pode fazer outra coisa/ mais que ajudar a uma morte digna de seu paciente// e dizer “bom ok/ pois não
se pode/ pois vamos a// a que sua morte não seja tão feia”/ é outra coisa que/ que tem mudado muito minha vida/
é serio o/ o valorizar a vida/ a morte/ o como ver isso/ minha vida// minha vida pessoal também
(23) e eles se foram para alugar/ enquanto construíam a// parte do que é agora a/ a casa// e depois já se passaram/
e realmente por falta de recursos econômicos/ pois isso foi assim como que muito// devagar
96
sua vida no passado e essa mudança continua acontecendo. O traço [+ durativo] do verbo
cambiar (mudar) também favorece essa leitura de continuidade.
E finalmente no exemplo (23), observa-se um verbo de estado (ser), entretanto o
traço [+ durativo] desse verbo não é suficiente para classificar o PC como de continuidade.
Nota-se que a ação está imbuída da noção de duração, contudo, os outros verbos próximos ao
PC se encontram na forma simples, demonstrando que o evento já foi concluído. Pode-se
concluir dessa forma, que a escolha pela forma composta tem o intuito de focalizar que esse
evento do passado tem relevância, tem resultado no momento da enunciação, portanto, têm-se
um PC de relevância presente.
O quinto grupo de fatores analisava se havia ou não marcador temporal. Ao analisar
os dados, observei que havia muitas ocorrências do advérbio de fase ya. Ainda que esse não
seja um marcador temporal, resolvi analisar o seu uso neste grupo de fator. Essa minha
escolha se justifica por três fatores, o primeiro é pelo fato desse advérbio ser sempre
considerado no ensino do PC em espanhol. Em segundo lugar, para observar porque encontrei
usos do PC com o ya, se o estudo de Lope Blanch (op. cit.) afirma que isso não seria possível.
E por último, porque Carrasco Gutiérrez (2008) utiliza esse advérbio para diferenciar a leitura
de Perfeito do PC, da leitura perfectiva.
Dos dados analisados, encontrei apenas 49 ocorrências nas quais houvesse algum
tipo de marcador. Observe abaixo a tabela com os resultados:
Tabela 5 - Tipo de Perfeito X Marcador Temporal
Continuativo
Experiencial ou resultativo
(porcentagem / no de oco)
(porcentagem / no de oco)
Marcador Temp. Ausente
76,2% (80)
23,8% (25)
Marcador Temp. Presente
83,7% (41)
16,3% (8)
É interessante notar que 68,2% das ocorrências não apresentavam nenhum tipo de
marcador relacionado ao PC, o que dificultou toda análise dos dados, uma vez que quando
tem-se esse tipo de marcador, pode-se ter mais certeza se o aspecto é de fato Perfeito e de qual
subtipo é. Contudo, como já foi mencionado na metodologia, tentei estabelecer critérios bem
definidos nessas análises e ser fiel a eles. Portanto, quando houve casos com falta de clareza,
mesmo após analisar todo o contexto, optei por classificar como Perfeito continuativo, uma
vez que os estudos lidos para este trabalho nos informaram que na variante mexicana o PC
está veiculado ao Perfeito continuativo. Cito novamente Lope Blanch (1961) que afirma,
inclusive, que se há uma frase como He estudiado mucho, a escolha do verbo deixa claro que
97
a ação de estudar ainda ocorre, ao contrário de oração Estudié mucho na qual o falante ao
utilizá-la quer marcar que a ação de estudar já acabou.
Sobre essa dificuldade de afirmar uma leitura de perfectivo ou de Perfeito e seus
subtipos, Klein (1992: 531 apud Ilpo Kempas 2008) defende que a noção de relevância
presente é indeterminada e falsa e que é sempre possível encontrar uma razão pela qual um
evento continua tendo relevância particular no presente.
Ao analisar os dados, percebe-se que os marcadores temporais estavam mais
relacionados à leitura de Perfeito continuativo. Apresentarei, abaixo, os marcadores temporais
que encontrei. Os primeiros foram encontrados apenas uma ou duas vezes, entretanto ahorita
e os marcadores listados após esse, apareceram mais vezes.
a) desde que:
(24) como que/ cuestiones importantes/// cosas que sí// que deberían de ser// más relevantes//
en la vida o sea/ en nuestro tiempo// o sea/ en los últimos tiempos/ antes no sé/ pero ahorita/
desde que a mí me ha tocado// nunca// y siempre// ay/ bueno/ siempre/ el problema/ cada año
(dh3bcfj)119
Segundo Lope Blanch (op.cit.), na variante mexicana desde que sempre viria
acompanhado pelo pretérito simples, uma vez que esse determina o momento, o ponto no qual
se inicia a ação principal – Desde que llegué, está oliendo a gas. Entretanto, como é possível
observar acima, um dos dados do corpus apresenta o marcador desde que com a forma
composta. A leitura que fiz a princípio é que, para a informante, desde que a ela cabe fazer
parte do conjunto de alunos sempre tem um mesmo problema todo ano. Como incluiria o
momento presente o fato dela estar nesse grupo, inclusive há o marcador ahorita no período,
resolvi classificar esse dado como de Perfeito continuativo com traço de duração. Essa pode
não ser a melhor classificação, entretanto, como o PC se encontra em um contexto confuso de
fala e a informante utiliza diferentes marcadores em volta da forma composta encontrei
dificuldade para dar uma classificação respaldada em diferentes critérios. Ressalto que, de
fato, os outros usos de desde que com pretérito perfeito do indicativo estavam com a forma
simples, como é possível observar abaixo:
(25) en cuestión de/ años/ [desde] que entré/ ya llevo dieciséis años120
Em (25), observa-se, exatamente, o uso que Lope Blanch (op. cit.) apresenta do
desde que na variante mexicana.
119
(24) Como que// questões importantes/// coisas que sim// que deveriam ser// mais relevantes// na vida ou seja/
em nosso tempo// ou seja/ nos últimos tempos/ antes não sei/ mas agorinha/ desde que me tem cabido// nunca// e
sempre// aí/ bom/ sempre/ o problema/ cada ano
120
(25) em questão de/ anos/ [desde] que entrei/ já levo dezesseis anos
98
b) después
(26) como él le hace/ entonces <~entós>/ yo empecé a hacerlo/ y sí me ha funcionado/
después/ pues <~pus> ya estando aquí/ este/ me dijeron “te vamos a contratar para <~pa>
que te encargues del/ del herbario que tú// este proyectaste”/ “órale”/ y pues <~pus> ya me
contrataron aquí/ (ra3bcmv)121
Observa-se acima que o marcador apresentado marca um momento posterior a ação,
o que favorece a leitura que realizei dessa forma verbal. Classifiquei esse PC como do grupo
de relevância presente, pois marca um resultado de uma experiência passada.
c) cada seis meses
(27) cada seis meses/ entonces <~tons> yo tengo diez años trabajando aquí/ y ha sido/ cada
seis meses/ un contrato/ cada seis meses un contrato/ <...> este/ último contrato/
(de3bcmv)122
O marcador acima está marcando um período que se repete, ocorrendo novamente
uma mesma ação. O verbo de estado ser tem o traço de [+ duração] e, junto com esse
marcador, favorece a leitura do PC como veiculado ao aspecto continuativo, marcando a
iteração do evento
d) últimamente
(28) [fíjate] que últimamente ha estado más cargado/ yo creo que sí aumentó ahí/ el parque
vehicular porque está ¡muy lleno! (de3bcfv)123
Lope Blanch (op. cit.) afirma que na variante mexicana o marcador últimamente,
sempre estará acompanhado da forma composta, uma vez que marca a iteração de um evento.
O dado acima parece confirmar a proposta do autor, já que esse marcador só apareceu uma
vez e estava acompanhado pela forma composta. Esse PC foi classificado como de aspecto
Perfeito continuativo, já que tanto o marcador quanto o verbo de estado (estar) favorecem
essa leitura.
e) media hora
(29) tenemos como media hora y no ha pasado el diamante (du3bcmj)124
No exemplo apresentado, temos um tipo de marcador temporal, que marca o tempo
através de dados sobre a hora. Nessa fala, o informante relata o tempo já passado em que “el
121
(26) como ele faz/ então/ eu comecei a fazê-lo/ e sim me funcionou/ depois/ pois já estando aqui/ este/ me
disseram “vamos te contratar para que se encarregue do/ do herbário que você/ este projetou”/ oras/ e pois já me
contrataram aqui
122
(27) cada seis meses- então eu tenho dez anos trabalhando aqui/ e tem sido/ cada seis meses/ um contrato/
cada seis meses um contrato/ este/ último contrato.
123
(28) olha/ que ultimamente tem estado mais pesado/ eu creio que sim aumentou aí/ a frota porque está muito
cheio!
124
(29) temos como meia hora e não passou o diamante
99
diamante”125 não passou
e que continuou sem passar. O verbo pasar é de processo
culminado, uma vez que tem um complemento de cardinalidade especificada, tendo portanto
o traço de [+ duração]. O marcador unido ao tipo de verbo favoreceram a leitura do PC como
veiculado ao aspecto Perfeito continuativo.
f) hasta
(30) [¡ah!]/ no eh/ hasta el momento no (…) no/ no/ más que nada// pues// no han ido a
reclamarme/ ni nada (da3gcmj)126
O marcador apresentado, acima, favorece o uso do PC, pois inclui o momento
presente na fala do informante. O verbo de atividade também favorece o uso do PC, pois
apresenta o traço [+ durativo]. Dessa forma, tem-se o PC com traço [+ durativo], ou seja, há
uma leitura de Perfeito continuativo.
g) ahorita
(31) mh estamos dándole ahorita <~orita> un este/ eh como/ mi hija es la que nos ha salido
un poquito así renuente/ [porque ahorita está] (de3gcmv)127
Assim como hasta el momento, o marcador ahorita também inclui a ação no
momento presente. O verbo em questão está com um sentido conotativo, salir não está
marcando uma ação de ir de um lugar a outro e sim demonstrando como é uma pessoa. O
informante parece escolher o PC, pois está relatando que sua filha agora tem se mostrado um
pouco relutante.
h) ya
(32) ¡mal! está mal/ yo he leído ya varias cosas de esas cosas y/ y créeme que/ pero ya no se
las puedes quitar/ ¿sí?/ ¿ves? (ra1gcmv)128
Em (32), tem-se um PC com leitura de Perfeito experiencial, o informante teve a
experiência de já ter lido várias vezes sobre o assunto, e isso tem um resultado no presente,
pois agora ele tem um conhecimento que é relevante no momento da enunciação. O verbo de
atividade leer tem o traço de [+ duração] e o complemento do verbo sendo de cardinalidade
não especificada (várias cosas) também favorece uma leitura durativa/iterativa. Contudo, o
contexto deixava claro que era uma ação que já não acontecia mais. Além disso, o advérbio
125
Não consegui encontrar a tradução exata para diamante, entretanto pela contexto, sabe-se que é algo referente
ao gravador, pois o informante está preocupado em haver um problema na gravação, uma vez que não passou o
diamante.
126
(30) ah/ não é/ até o momento não (…) não/ não/ mais que nada// pois// não tem ido reclamar nem nada
comigo
127
(31) mh estamos dando agorinha um este/ eh como/ minha filha é a que nos tem saído um pouco assim como
relutante/ [porque agorinha está]
128
(32) mau! Está mau! Eu já li varias coisas dessas coisas e/ e acredite em mim que/ mas já não pode tirá-las/
sim? Vê?
100
ya, segundo Henderson (2010), favoreceria uma leitura experiencial. Para García Fernández
(2000) o ya com o PC sugeriria tanto a leitura experiencial, quanto a resultativa, mas nunca a
continuativa.
O exemplo, acima, traz o marcador ya, que segundo Lope Blanch (1961), nunca
viria acompanhado de PC, uma vez que ele marcaria uma ação concluída no passado.
Entretanto, no corpus analisado, encontrei nove vezes o ya com PC. Esse número apesar de
pequeno, tendo em vista a quantidade de dados, é significativo, uma vez que o autor afirma
que na variante mexicana o ya sempre virá acompanhado da forma simples. Poderia postular,
portanto, que está havendo uma mudança no uso do PC desde a época descrita pelo autor até a
atualidade.
Vale a pena ressaltar que um destes dados, classifiquei como PC de continuidade:
(33) así como que despedida porque ya se van los antropólogos/ ¿no?// y este/ y bueno/ y
pues <~pus> ya/ ya no hemos regresado porque// pues hasta que nos diga si aceptan o no el
proyecto/ o qué pues/ (du1gcmv)129
Em (33), apesar de haver o advérbio ya, que favoreceria o uso do PC de relevância
presente, o advérbio de negação no, durativiza a ação. Dessa forma, a ação continua da
mesma forma no passado e no momento presente, ou seja, sem ser realizada, entretanto, ainda
pode se realizar em um momento futuro.
Encontrei também o uso do ya com a forma simples como é possível observar em
(34):
(34) me hice pero/ ya me los taparon// o se-/ me los tapó/ otro ta-// con otro tatuaje me
taparon el que [me había hecho] 130
Segundo Henderson (op. cit.), o uso do ya com a forma simples segue tendo a ideia
de experiência vivida. A princípio, essa variação que ocorre com a presença do advérbio ya,
pode ser um indício de que de fato, está havendo uma mudança nos valores veiculados ao PC
na variante mexicana. Sendo assim, antes, quando Lope Blanch (op. cit.) fez sua descrição,
teria-se o PC apenas com valor de Perfeito continuativo, entretanto, há algum tempo essa
forma composta começou há retratar também valores de Perfeito experiencial e resultativo.
Logo, essa variação poderia ser sinal de uma mudança em curso.
i) siempre -
129
(33) assim como que despedida porque já se vão os antropólogos/ não?// e este/ e bom/ e pois já/ já não temos
regressado porque// pois até que nos diga se aceitam ou não o projeto/ o que pois/
130
(34) me fiz mas/ já as taparam// o se-/ me as tapo/ outra ta-// com outra tatuagem me taparam a que [me tinha
feito]
101
(35) siempre/ he vivido aquí (de1gcmj)131
Observa-se, no exemplo (35), o marcador temporal siempre. Ele marca a duração de
algum evento, seja em um momento passado – eu sempre ia à praia, ou que inclua o presente
– eu sempre vou à praia. O verbo de estado vivir também possui o traço de duratividade.
Sendo assim, classifiquei esse PC com valor aspectual de Perfeito continuativo. Vale ressaltar
que em português o PC, ainda que marque iteração ou duração, não é compatível com esse
marcador, o que é possível em espanhol, como pode-se observar acima.
Lope Blanch (op. cit.) relata que em espanhol o advérbio siempre pode vir
acompanhado da forma simples ou da composta e que a escolha de um ou outro traria uma
diferença aspectual. Para o autor, ao dizer – siempre fue muy ingenua, o falante refere-se à
uma pessoa morta ou com a qual não mantém mais contato. Já ao dizer – siempre ha sido muy
ingenua, a pessoa ainda é assim e seguirá sendo.
Nos dados analisados, também encontrei ocorrências de siempre seguido pela forma
simples, como é possível observar em (36):
(36) bueno/ a mí me gusta/ siem-/ eso sí// como soy de aquí// del D F <~de efe> y todo/ este/
yo siempre dije/ “ay los aztecas son los// los buenos para todo”/ y pues <~pus> eso/ eso
también es otra idea comercial que te venden132
No exemplo acima, há o uso do siempre com a forma simples (dije). Entretanto, essa
ocorrência pode ser justificada pelo contexto dado pela entrevista, a informante está se
referindo a uma ação que sempre teve, mas que depois que conheceu mais sobre os astecas
mudou de atitude. Dessa forma, não se justificaria o uso de um PC, uma vez que ele é
utilizado para uma ação que se desenvolve até o momento presente. Em (37), ocorre o
mesmo, é uma narração passada, de uma professora que a informante teve e já não tem mais.
(37) bueno// yo tuve un problema porque la maestra/ nunca nos dio/ la maestra con la que
originalmente yo me iba a ir// nunca nos dio nada// nada bien/ nunca nos dijo ni qué íbamos
a hacer/ siempre se la pasó yéndose por las ramas/133
Os exemplos acima, (35) e (36), estão de acordo com a proposta de Lope Blanch
(op. cit.) da diferença aspectual entre o uso de siempre com a forma simples e do seu uso com
a forma composta. Contudo, encontrei três ocorrências que não saberia justificar o porquê de
usarem o siempre com o simples, principalmente porque foi em uma mesma informante e
131
(35) sempre/ vivi aqui
(36) bom/ eu gosto/ sem-/ isso sim// como sou daqui// do DF e todo/ este/ eu sempre disse/ “ai os astecas som
os// os bons para tudo”/ e pois isso/ isso também é outra ideia comercial que te vendem
133
(37) bom// eu tive um problema porque a professora/ nunca nos deu/ a professora com a que oficialmente eu
ia// nunca nos deu nada// nada bem/ nunca nos disse nem o que íamos fazer/ sempre foi enrolando
132
102
porque ela em contextos iguais utilizava uma hora o siempre com a forma simples e em outra
com a composta. Encontrei em sua entrevista oito vezes o uso desse marcador com uma forma
de pretérito perfeito, sendo cinco com a forma composta e três com a simples.
(38) voluntad de mis abuelos// entonces// mi papá siempre fue muy enérgico y/ y hasta hace
poco nos recordó/ cómo fue la/ la boda/ que mi abuela finalmente sí le orde-/ no fueron a la
boda de mi mamá mis abuelos maternos
(39) mi papá siempre/ ha sido muy estricto/ demasiado estricto/ y mi mamá pues fue/ era la
apapachadora/ ¿no?
(40) y con tanta/ responsabilidad/ porque mi mamá siempre anduvo al pendiente de/ [de]
(41) que la lleven/ pero en general es una familia/// este// unida/// con sus/ te digo con sus
caracteres/ porque mi papá siempre ha sido/ de un carácter muy fuerte entonces yo siento
que// que la mayoría de nosotros somos así/ a veces somos orgullosos/ y nos cuesta un
poquito de trabajo// como que reconocer nuestros errores y (de3gcfv)134
Em (39), a forma composta é justificada, uma vez que parece que o pai segue vivo e
que provavelmente ele mantenha essa mesma característica. Entretanto, logo em seguida, ao
falar da mãe a informante usa a forma simples, sendo que o contexto é exatamente o mesmo.
Ao comparar-se (38) com (41), é possível observar que, em ambos, a informante fala da
mesma pessoa (o pai), relatando uma característica dele, utiliza o mesmo verbo, entretanto, a
forma verbal utilizada é outra. A princípio, não encontro justificativa para esse tipo de uso e
acredito que seria necessário que se fizesse um estudo posterior sobre o uso deste marcador
temporal na variante mexicana.
j) nunca
(42) la verdad nunca he investigado/ a mí me han comentado// pero es que haz de cuenta/
cuando tú pones abajo una canica/ y ruedas una tabla (da1gcmj)135
O último marcador que apresentarei é o nunca. Assim como a negação, considero,
aqui, que o nunca também durativiza uma ação. Algo que nunca aconteceu, segue assim no
momento presente, mas pode vir a acontecer em um momento futuro. A circunstância
134
(38) vontade dos meus avós// então// meu pai sempre foi muito enérgico e/ e até há pouco nos lembrou/ como
foi o/ o casamento/ que minha vó finalmente sim lhe orde-/ não foram ao casamento da minha mãe os avós
maternos
(39) meu pai sempre/ foi muito rigoroso/ demasiadamente rigoroso/ e minha mãe pois foi/ era a [acolhedora]
(40) e com tanta/ responsabilidade/ porque minha mãe sempre andou pendente de/ [de]
(41) que a levem/ mas em geral é uma família/// este// unida/// com suas/ te digo com suas características/
porque meu foi sempre foi/ de um carácter muito forte então eu sinto que// que a maioria de nós somos assim/ às
vezes somos orgulhosos/ nos custa um pouco de trabalho// reconhecer nossos erros e
135
(42) a verdade nunca investiguei/ me comentaram// mas é que faz de conta/ quando você coloca abaixo uma
bola de gude/ e roda uma tábua
103
temporal dessa ação está em aberto. Segundo García Fernández (2000), o nunca e o siempre
podem receber a interpretação de durante todo el período, isso colocaria em evidência a
propriedade desses advérbios de durativizar o predicado que modificam.
Em (42), classifiquei o PC que acompanha o nunca como com leitura aspectual de
Perfeito continuativo. Tanto o marcador, quanto o aspecto lexical do verbo investigar
(atividade) favorecem essa leitura através do traço de [+ durativo].
Assim como com o marcador siempre, também encontrei nunca acompanhado da
forma simples.
(43) tú dices/ “ay/ pues <~pus> sí/ yo quiero hacer eso/ ha de ser bien padre/ bien divertido/
me la voy a pasar// de lujo/ ¿no?”/ yo decía// pero/ ya que entr-/ ya que entré// y ya que
empecé a ver las clases/// y/ y o sea y toda la/ el plan/ y luego las posibilidades de trabajo/ y
todo eso// es un rollo completamente distinto/ porque/// yo nunca pensé// que iba a tener que
hacer/ clases de estadística//136
Nesse exemplo, o uso do nunca mais a forma simples justifica-se pelo fato de ser
uma ação passada, já concluída e que não tem relação com o presente. O informante relata
que, durante um momento passado de sua vida, ele nunca havia pensado em estudar estatística
e que depois ele estudou.
Da mesma forma que ocorre com o siempre, pode-se postular que o uso do nunca
com a forma simples ou seu uso com a forma composta, caracteriza uma diferença aspectual.
Isso quer dizer que, ao usar esse marcador com a forma simples, a ação não tem mais chance
de ocorrer ou era algo que ele não nunca havia feito durante um tempo, mas depois acabou
fazendo. Já o nunca mais PC referiria-se a ações que nunca ocorreram, que seguem assim,
mas que podem vir a acontecer.
O sexto fator analisado foi o gênero do informante, gostaria de observar se havia
alguma diferença entre a fala dos homens e a fala das mulheres. Esse fator é analisado, muitas
vezes, em outros fenômenos137, entretanto, sobre o PC esse fator não havia sido antes
controlado. Segue a tabela com os resultados:
136
(43) você diz/ “ai/ pois sim) eu quero fazer isso/ há de ser bem legal/ bem divertido/ vou me divertir// muit/
não?” eu dizia// mas/ já que entr-/ já que entrei// e já que comecei a ver as aulas/// e/ e ou seja e toda a/ o plano/ e
depois as possibilidades de trabalho/ e tudo isso// é uma coisa completamente diferente/ porque/// eu nunca
pensei// que ia ter que fazer/ aulas de estatística
137
Parra (2005 apud Ferreira 2011), por exemplo, analisa o fator do gênero ao analisar a escolha pelo uso da
forma simples do futuro ou pela perifrástica (ir + a + infinitivo). A autora chega a conclusão de que as mulheres
jovens utilizam mais a forma perifrástica do que os homens, o que demonstraria que elas são mais inovadoras.
104
Tabela 6 - Tipo de Perfeito X Gênero
Continuativo
Experiencial ou resultativo
(porcentagem / no de oco)
(porcentagem / no de oco)
Masculino
74,7% (59)
25,3% (20)
Feminino
82,7% (62)
17,3% (13)
Nota-se que o PC no México é utilizado, a princípio, com quase a mesma frequência
por homens e mulheres e ambos utilizam mais esse tempo verbal relacionado ao aspecto
Perfeito continuativo (iterativo / durativo). Contudo, ao analisar os dados de PC de relevância
presente, observa-se que há um pouco mais de ocorrências na fala masculina. Essa diferença
pode ser um indício de que os homens são os que mais usam esse valor aspectual, que
segundo os outros autores não seria o esperado dessa variante do espanhol. Portanto, os
homens poderiam ser mais inovadores do que as mulheres.
O último fator a ser analisado foi o da faixa etária. Ao observá-lo, meu objetivo era
verificar se haveria alguma mudança atual no uso do PC ou no valor veiculado a ele
determinada pela idade. Se houvesse alguma diferença entre um grupo ou outro, isso poderia
sugerir algum tipo de mudança na língua. Abaixo apresento a tabela com os dados referentes a
esse fator:
Tabela 7 - Tipo de Perfeito X Faixa etária
Continuativo
Experiencial ou resultativo
(porcentagem / no de oco)
(porcentagem / no de oco)
Jovem (20-34 anos)
83,1% (64)
16,9% (13)
Adultos (35-54)
74% (57)
26% (20)
Como se pode observar encontrei 77 ocorrências de PC tanto na fala dos mais jovens
quanto no grupo dos classificados como adultos, o que me permitiria dizer que, a princípio,
nessa variante, a frequência de uso do PC é igual em ambas as faixas de idades. Indicaria
também que a presença do PC no México não está diminuindo, pelo menos não de uma
geração para outra.
Em relação ao aspecto gramatical veiculado ao PC, encontrei mais o Perfeito de
relevância presente na fala dos informantes mais velhos. Como esse tipo de valor aspectual
veiculado ao PC seria uma inovação no México, o esperado seria que os mais novos
105
utilizassem mais a forma composta com esse valor. Ainda que a diferença seja apenas de 7
ocorrências, entre o uso do grupo jovem para o do grupo adulto, esse dado nos mostra que,
aparentemente, o PC de relevância presente (Perfeito experiencial ou resultativo), não é uma
inovação atual. Poderia postular, que essa mudança já vem ocorrendo há algum tempo.
Como foi possível observar, após a apresentação e análise dos dados, os resultados
encontrados estão de uma forma geral, de acordo com as hipóteses iniciais, de que no México
o PC estaria relacionado ao aspecto Perfeito continuativo. Contudo, os números de
ocorrências de PC classificados como do grupo de relevância presente (Perfeito resultativo ou
Perfeito experiencial) não podem ser ignorados, uma vez que eles sugerem uma mudança,
ainda que não seja atual138, no valor aspectual veiculado ao PC nessa variante. Esses números,
a princípio, demonstram que, assim como em outras línguas, o PC pode abarcar outros
contextos que antes não eram encontrados. O PC, na variante mexicana, estaria entrando,
portanto, na terceira fase proposta por Harris (1982), onde essa forma verbal cobre contextos
de duração / iteração (Perfeito continuativo), mas também de relevância presente (Perfeito
resultativo ou experiencial), tal como ocorreu, por exemplo, com a variante peninsular e com
o catalão.
4.2. A representação sintática do pretérito perfeito composto na variante mexicana
Na seção 2.4, apresentei a proposta de representação de árvore sintática, feita por
Carrasco Gutiérrez (2008), para cada valor possível de leitura aspectual veiculado ao PC.
A autora defende a ideia de que o PC pode estar veiculado a dois valores aspectuais
e que essa diferença seria sintática. A ambiguidade dessa forma verbal, encontraria-se no
sufixo -do do particípio, que pode ser checada no nódulo Aspo (leitura de Perfeito) ou no
nódulo T2o (leitura de Aoristo). Dessa forma, o PC com leitura de Perfeito teria o traço de [+]
aspecto, enquanto o PC com leitura de aoristo carregaria o traço de [+] tempo.
Como foi possível observar, na variante aqui analisada, ou seja, a do México, o PC
apresenta apenas o valor de Perfeito. Retomo, portanto, abaixo, a árvore proposta pela autora
(p.54).
138
Postulo que não seria uma mudança atual, que começou agora, tendo em vista que os informantes mais velhos
apresentam mais ocorrências de PC veiculado ao aspecto Perfeito resultativo ou experiencial do que os jovens.
Sendo assim, de fato, há uma mudança acontecendo na variante mexicana do espanhol no que diz respeito ao uso
do PC e dos valores aspectuais veiculados a ele, entretanto, essa mudança parece já ter começado há algum
tempo.
106
Agora para exemplificar como ocorre no México, proponho uma representação em
árvore de uma oração do meu corpus:
107
Nessa oração há o PC com valor de Perfeito, portanto, mantemos na árvore o
particípio -do no nódulo aspectual. Conclui-se, então, que o PC no México tem traço [+]
aspecto, diferentemente de outras variantes do espanhol, como por exemplo, na variante de
Buenos Aires, e aparentemente em alguns casos da variante peninsular. Este tempo verbal em
línguas como o francês carregaria o traço de [+] tempo e [-] aspecto.
Após apresentação dos fundamentos teóricos no capítulo 1, do histórico do pretérito
composto (formação, uso atual e aspectos veiculados a ele) no capítulo 2, haver explicado no
capítulo 3 qual seria a metodologia adotada e o corpus utilizado, e haver analisado no capítulo
4 os dados encontrados, a seguir apresento as considerações finais desta dissertação.
108
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se, nesta dissertação, que o pretérito perfeito composto é uma forma verbal
que, a princípio, carregaria traços de aspecto e tempo. Entretanto, com a evolução das línguas
românicas, nota-se que o PC começou a ser utilizado em mais contextos. Dessa forma, em
algumas línguas esse tempo verbal começou a perder o traço [+] aspecto e ficar apenas com o
traço [+] tempo, como é possível concluir ao analisar o francês.
Ao tratar do mundo hispânico, conclui-se que a maioria das variantes ainda mantêm os
traços de [+] tempo e [+] aspecto. Contudo, estudos têm demonstrado que em algumas
variantes, como a peninsular e a do norte da Argentina, o pretérito perfeito composto tem
apresentado realizações que se caracterizam por apresentar o traço [+] tempo e [-] aspecto.
O presente trabalho objetivou observar quais os aspectos veiculados ao uso do PC na
variante mexicana do espanhol e analisar quais seriam os contextos favorecedores do uso
dessa forma verbal e das diferentes leituras aspectuais que esse tempo pode ter (as
subvariedades de Perfeito ou perfectivo). Além disso, observar a relação do PC com os
diferentes marcadores temporais. Assumi que a linha teórica que seguiria seria a da Gramática
Gerativa.
Minhas hipóteses iniciais eram que o PC na variante mexicana estaria veiculado ao
aspecto perfeito e que, a maior parte, teria leitura de Perfeito continuativo. Além disso,
esperava-se que os marcadores temporais que acompanhassem o PC tivessem traço de
duração ou iteração.
Apresentei este trabalho em cinco capítulos. No primeiro, expus os princípios básicos
da Gramática Gerativa, linha teórica assumida aqui. E em seguida fiz uma distinção
fundamental para este estudo, que é a diferença entre tempo e aspecto.
No segundo, apresentei a diferença entre aspecto Perfeito e perfectivo. Depois, fiz um
panorama dos estudos que tratam sobre o uso do PC, tratei sobre sua formação e de seus usos
em diferentes línguas e variantes, para em seguida defender a existência de um nódulo
aspectual na árvore sintática. Como o trabalho está baseado na Gramática Gerativa, apresentei
uma proposta de representação arbórea, assumi a proposta de Carrasco Gutiérrez (2008) que
defende a ideia que a ambiguidade encontrada no uso do PC em espanhol pode ser explicada
pela marca de particípio -do, que dependendo de onde for checada terá uma leitura aspectual
distinta, se for no nódulo do aspecto a interpretação será de perfeito, se for em T2 de aoristo.
No terceiro apresentei a metodologia e o corpus utilizado, explicando cada grupo de
fatores que seriam utilizados como base para a análise. Já no quarto capítulo, realizei a análise
dos dados levantados, exemplificando e tentando justificar os usos e valores aspectuais
109
encontrados. E finalmente, aqui, no quinto, apresento, então, as considerações finais.
Sobre o uso do PC na variante mexicana, os dados encontrados estão de acordo com o
que é descrito por outros pesquisadores. Observei que, de fato, não há nessa variante,
ocorrências do PC veiculado ao aspecto Perfectivo. Confirmou-se, também, que a leitura
típica de Perfeito no México é a de continuativo, entretanto, há um número de ocorrências de
PCs veiculados ao aspecto Perfeito resultativo ou ao Perfeito experiencial que deve ser
considerado. Esse tipo de uso, não seria típico, a princípio, dessa variante, portanto, esse
resultado poderia corroborar com a ideia de que o PC do México está começando a ser
utilizado em mais contextos do que era anteriormente. Pode-se postular, a partir desses dados,
que a variante do México está entrando no terceiro estágio na escala proposta por Harris
(1982).
Ao analisar o grupo de fatores de tipos de verbos, destaquei que a maioria são verbos
de atividade, o que, realmente, poderia favorecer a leitura de Perfeito continuativo do PC.
Entretanto, se compararmos proporcionalmente, se observará que os verbos de estado foram
os que mais favoreceram a leitura de Perfeito continuativo do PC. Isso também era esperado,
uma vez que esse tipo de verbo tem traço de [+] duração.
Outro fator analisado foi o de pessoa gramatical do sujeito da forma verbal, observei
que o PC apareceu mais na primeira pessoa, depois na terceira e por último na segunda.
Entretanto, a segunda pessoa seria a que mais favoreceria a leitura de PC como de Perfeito
continuativo. Também em relação ao sujeito, analisei o fator de animacidade, se haveria
traços de [+] ou [-] animado. O resultado obtido foi que tanto o PC com valor de Perfeito
continuativo, quanto o PC de valor de Perfeito experiencial ou resultativo, ocorreram mais em
sentenças com o sujeito com traço de [+] animado.
Outro fator analisado foi o de marcador temporal. Ressalto que 68,2% das ocorrências
não apresentava nenhum tipo de marcador, o que dificultou minha análise. Ainda assim, ao
analisar os marcadores levantados, observei que, em sua maioria, eles tinham traço de [+]
duração, o que favoreceu a leitura de Perfeito continuativo.
Os dois últimos fatores analisados foram o de gênero e faixa etária do informante.
Apesar do pequeno universo de dados, observei que os homens foram os que mais
apresentaram o uso do PC de relevância presente139 e as mulheres, aparentemente, utilizariam
mais o PC com leitura de continuativo. Já em relação à idade, observei que os informantes
mais velhos (35-54 anos) utilizavam mais o PC de relevância presente e os mais novos (20139
Classifica-se o PC como de relevância presente, quando está veiculado ao valor de Perfeito resultativo ou
experiencial.
110
34) produziriam mais o PC continuativo. Esse resultado é interessante, pois a princípio,
poderia demonstrar que essa mudança nos valores aspectuais do PC na variante mexicana não
seria algo recente. Poderia-se, portanto, postular que já há algum tempo que a variante
mexicana está entrando no terceiro estágio da proposta de Harris (op. cit.), ou seja, estaria
usando o PC com valores de Perfeito resultativo e experiencial.
Acredito que com os dados que foram levantados e toda a análise feita, este trabalho
poderá acrescentar, aos atuais estudos, novos dados sobre o tratamento da noção aspectual
para descrever o pretérito PC do espanhol. Além disso, esse trabalho poderia ajudar a que
professores brasileiros de espanhol como língua estrangeira possam ter conhecimento da
diferença entre tempo e aspecto e da importância que a leitura aspectual tem na distinção dos
valores das formas verbais. Com isso, refletiriam, também, acerca de uma série de questões,
como por exemplo: entender por que usar um tempo verbal em detrimento de outro; e que um
mesmo tempo verbal nem sempre veicula um único aspecto, o que pode ser interessante para
a compreensão de certos enunciados e para a tradução. Auxiliaria, também, a entender que a
escolha do tempo verbal não decorre apenas da presença de determinados marcadores
temporais, como sugerem os livros didáticos. Ao observar a análise dos dados, se observará
que os marcadores nunca e sempre, que aparecem em todos os livros didáticos e que segundo
esses, seriam usados sempre com o PC, podem ser usados com a forma simples. E nesse
ponto, seria fundamental entender a diferença aspectual, pois esses marcadores estarão, sim,
como o PC quando este tiver uma leitura de Perfeito continuativo, e por isso, apresentarão
eventos que começaram no passado e seguem no presente (siempre) ou que não aconteceu,
continua assim, mas pode acontecer em qualquer momento (nunca)140. Entretanto, eles
aparecerão com a forma simples se o evento não estiver incluído no momento da enunciação.
Conclui-se, portanto, que como o pretérito composto é um tempo verbal que carrega
traço de tempo e aspecto, para analisá-lo, compreendê-lo e/ou ensiná-lo é importante
considerar essas duas noções (tempo e aspecto). Além disso, é importante, também, ter
conhecimento das diferenças dos valores aspectuais que esse tempo pode ter de língua para
língua, podendo passar de uma forma verbal que carrega traços [+] tempo e [+] aspecto (como
na variante mexicana), para uma forma verbal com traços [+] tempo e [-] aspecto (como no
francês).
140
Noções veiculados ao Perfeito continuativo.
111
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México.
Materiales
de
PRESEEA
–
MÉXICO.
Disponível
em:
http://lef.colmex.mx/Sociolinguistica/CSCM/Corpus.htm
116
ANEXO
Oco
1.
I: pero es que un día antes de/ un día antes de irte/ me también me dijo él// y
además/ pues <~ps> sí era una maqueta grande// y supuestamente urgía/ bueno/
sí urgía/ pero ya ves que está ahí/ [ni la han ocupado]
2.
I: tenemos como media hora y no ha pasado el diamante (silencio)
3.
I: no/ él se ofrece// bueno/ por lo que me han comentado/ ¿no?/ que haz de
cuenta/ que le dicen// “hay que sacar una licencia en la D G C H <~de ge ce
hache>”// y él dice “no pues <~ps> yo tengo amigos/ yo la saco”// y luego dicen/
“hay que hacer esto”/ y él dice “bueno/ yo lo hago”// entonces <~entós>/ se lo
dejan que lo haga él/ pero a la mera hora ni hace una cosa/ ni hace otra
4.
I: se supone que tenían/ pero pues <~ps> es que ha tenido muchas broncas [esa
obra]
5.
I: es un área bastante grande// entonces <~entóns> el estructurista no ha
propuesto// cómo va a ser la estructura/ de la cisterna// porque no sabe qué
dimensiones está/ en qué ubicación va a estar// entonces <~entós> hay muchas
con-/ incongruencias en el proyecto
6.
I: o sea hay un nuevo reglamento/ donde te dice que ya las columnas no deben de
ir ligadas con la losa de cimentación// o sea/ por eso ahora la mayoría de las
construcciones// usan lo que es una placa// no viste la/ (carraspeo) ¿no te has
fijado en Gandhi/ el que acaban de poner?/ bueno/ el que está enfrente del
Gandhi anterior
7.
> I: (risa) pues <~pus> yo tampoco sé/ pero lo que también me han comentado
es eso o sea que/ [o sea ar-]
8.
> I: la verdad nunca he investigado/ a mí me han comentado// pero es que haz de
cuenta/ cuando tú pones abajo una canica/ y ruedas una tabla
9.
> I: la verdad nunca he investigado/ a mí me han comentado// pero es que haz
de cuenta/ cuando tú pones abajo una canica/ y ruedas una tabla
10.
I: pues dicen que hay unos como tipo de baleros/ que yo tampoco los he visto/ ni
los/ los desconozco totalmente/ ¿no?
11.
I: entonces es lo mismo con los edificios/ o sea/ donde hay este// le ponen unos
pilotes/ ¿sí has visto los pilotes que ponen en los puentes?// donde hay zonas/// o
sea un pilote es un elemento como un poste
12.
entonces <~entóns> llega un supervisor/ y agarra/ así como una muestra/ de
concreto/ y la manda al laboratorio// entonces/ en el laboratorio/ cuando está
seco// hay un aparato que los pone a compresión// que lo presiona así// el
cilindro/ [lo/ no sé si has visto/ en la tele]
117
13.
I: ¿nunca has visto en la tele?
14.
> I: [ah no/ porque sí s-/ sí tenía]/ o sea/ antes sí tenían el conocimiento/ aunque
ahora sea// ¿cómo te diré?/ ahora a través de la experiencia// que tengas que
realizar mayores este/// todos los elementos deben de resistir// o sea/ que el rango
de resistencia que tienen/ debe ser mayor/ por lo de todos los temblores que ha/
que han ocurrido en la ciudad/ entonces <~entóns> ese rango se ha elevado/ y
todos los materiales deben tener la mayor resistencia// a la que tenían antes/ pero/
de hecho tienen que tener ese conocimiento/ si no no/ no estaría en pie/ ese
edificio
15.
el rango de resistencia que tienen/ debe ser mayor/ por lo de todos los temblores
que ha/ que han ocurrido en la ciudad/ entonces <~entóns> ese rango se ha
elevado/ y todos los materiales deben tener la mayor resistencia// a la que tenían
antes/ pero/ de hecho tienen que tener ese conocimiento/ si no no/ no estaría en
pie/ ese edificio
16.
I: o sea/ no es que se haya descubierto/ o sea sí se ha descubierto nuevos
sistemas/ a lo mejor/ o nuevas formas de calcular/ y eso quién sabe// pero de que
lo tenían lo tenían/ porque si no no estuviera en pie
17.
> I: no no no/ empecé/ en mi casa luego/ me fui a// a/ estuve ahí// en mi casa/
luego estuve en/ en// bueno he estado así en varias partes/ pero así locales est-/ o
sea aquí en la Zona Rosa y aquí
18.
I: no/ no/ más que nada// pues// no han ido a reclamarme/ ni nada
19.
I: sí/ sí/ más que nada así/ como que llegan más hom-/ más hombres// mujeres/
como que un poco menos pero// más bien eh <~eh:>/ he perforado a mu-/ a
muj-/ chavas
20.
I: así han llegado más a perforarse// así/ genitales y todo/ que [hombres]
21.
I: siempre/ he vivido aqui
22.
I: sí afecta ¿no? en/ la audición// se supone pero// pero pues <∼pus> yo no he
visto ninguna
23.
I: pues <∼pus> desde/ las perforaciones que se hacen/ las/ chavas/ eso es ya// eso/
afecta según/ o sea yo he leído y él dice que/ [afecta]
24.
I: porque yo he sabido de/ de gente que pues <∼ps>/ pues <~pue> se queda//
[¿cómo se llama?]
25.
I: puede ser/ sí he sabido de gente
26.
I: no/ o sea/ a mí/ yo no los he hecho pero sí/
27.
I: [sí he escuchado]/ he escuchado que
28.
I: pues <~pue::s>/ he hecho// hago también// lo que se llama// implantes
118
29.
I: y yo he quitado aretes/ de la lengua/ porque ponen una/ una pieza así/ ¿no?/ lo
que es un arete de de aquí// en la lengua/ y la lengua se hincha// entonces
<~entóns> imagínate/ con un aretito/ entonces <~entóns> se incrusta el/ el arete
en la lengua
30.
I: [ajá]// sí/ pues <~pus> he enseñado a varios// a perforar
31.
I: [no sí]/ me han dicho varios
32.
I: o sea las playeras sí y todo pero// así/ comprar aquí/ no he comprado
33.
I: pues <~ps> a mí sí me han llegado y me han dicho eso/ pero yo nunca lo he
hecho
34.
I: pues <~ps> a mí sí me han llegado y me han dicho eso/ pero yo nunca lo he
hecho
35.
I: pues <~ps> a mí sí me han llegado y me han dicho eso/ pero yo nunca lo he
hecho
36.
I: yo nunca lo he hecho// o sea/ nunca he experimentado a ver/ si me pongo hielo
y luego <...>
37.
I: yo nunca lo he hecho// o sea/ nunca he experimentado a ver/ si me pongo
hielo y luego <...>
38.
I: y ahí como que// ¿sí has ido? ¿no?/ al templo Krishna/ ¿no?
39.
> I: como que/ cuestiones importantes/// cosas que sí// que deberían de ser// más
relevantes// en la vida o sea/ en nuestro tiempo// o sea/ en los últimos tiempos/
antes no sé/ pero ahorita/ desde que a mí me ha tocado// nunca// y siempre// ay/
bueno/ siempre/ el problema/ cada año
40.
I: y pues <~pus> sí digo/ también ya voy en séptimo semestre// es muy buena
época para hacerlo/ porque si no/ si no supiera ni siquiera eso/ significaría que//
que ni he aprovechado el tiempo/ ¿no?/ bueno/ yo así lo veo
41.
entonces/ no/ no era de que/ de que podías/ irte/ porque ya/ ya te había fastidiado/
no// te tenías que quedar// y todas las cosas de// de alojamiento y eso// nos tocó/
que el presidente municipal// nos prestó un centro de salud// que todavía no
inaguran (sic)/ inauguran// y/ que se está cayendo// porque por eso no lo han
abierto/ al público/ porque [está mal/ construido tiene/ grietas]
42.
yo// le digo// porque/ llegué un día a principio de semestre/ “ay mamá/ me voy a
ir un mes”// “¿cómo que te vas a ir un mes?/ ¿pero qué te pasa?/ y ¿cómo vamos
a…? este/ ¿cómo vas a comer?”/ y yo/ “no/ pues <~pus> es que esta es la idea/
que bla bla bla”// y entonces ella// bueno/ es que siempre ha sido muy como//
protectora// entonces siempre era de que/ “ay/ me hablas…”/ este/ cuando iba en
la prepa/ o en la secundaria
43.
I: pero no sé por qué/ no le quise hablar/ no le pude hablar/ no sé qué pasó// y
119
llego/ el// lunes o/ no sé/ las primeras son de tres días/ entonces <~entóns> ya
llegué/ cuando terminó la práctica// “pero es que// ¿por qué no me hablaste?/ yo
estaba con el pendiente/ es que no sé ni dónde estás durmiendo// y no sé/ si estás
bien/ no sé qué pasó”// entonces/ en ese aspecto// ya con mi mamá ha sido de
que// más tranquila/ así de como que ya/ sabe que me tengo que ir// y que me
voy// o sea aunque no le parezca/ pues <~pus> es que me voy//
44.
I: su asunto// y con// con mis amigos/// bueno/ los de antes/ ¿no?/ te referías///
me/ no me he distanciado/// pero/ sí ya no los veo tan seguido// bueno/ a
algunos/ a otros sí/ los veo cada semana/ o todos los días// y este/// pero/ a todo
mundo// lo típico// “¿qué haces?/ ¡ah!/ y ¿cómo te ha ido?/ y ¿qué/ qué has
hecho?/
45.
I: que yo sea arqueóloga// bueno/ que esté estudiando para ser arqueóloga/// pero/
así de// bueno/ y yo sí/ he sentido que han cambiado mis gustos// o que/ o que
soy más tolerante
46.
I: que yo sea arqueóloga// bueno/ que esté estudiando para ser arqueóloga/// pero/
así de// bueno/ y yo sí/ he sentido que han cambiado mis gustos// o que/ o que
soy más tolerante
47.
I: sí/ porque// por ejemplo/ la/ en música/ en la música/ es donde yo me he dado
cuenta
48.
I: cómo se la pasan oyendo eso/ que está tan horrible”// y entonces aquí/ me he
dado cuenta/ que no es mala música/ y que/ pues <~pus> si estás en una fiesta o/
cualquier cosa/
49.
I: [entonces ya no digo que es de nacos]// sí/ qué importa/ si es de nacos o no/
porque ya de hecho ya digo/ ash/ qué mensa era// es la verdad/ o sea/ digo ya/
pues <~pus> qué tonta que// no sé/ no sé qué pensaba/ pero ya// en ese aspecto/
sí/ yo también he cambiado// y luego sí digo// que// luego sí/ también como que
digo/ “ay/ qué mensa era/ cuando era// cuando iba en la prepa”
50.
I: [mh]// sí/ yo/ sí me ha pasado eso/ ya// como que/ y también como que ves la//
la vida// eh/ fijándote en otras cosas/ que antes las dabas// o o las dabas por
hecho/ o ni siquiera les prestabas atención//
51.
I: tanto de construcción/ como ya a la hora de que esté la tienda/ en función/ pero
estas familias les afecta// y ellos son los que han hecho todo el argüende/ pero
aquí// sólo llega la/ la noticia/ de que hay un Wal Mart <~guol mar> sobre las
pirámides// [entonces agarra la gente y dice que]
52.
I: por// por ser prácticos// y por ser realistas// pues sí/ te conviene/ primero/
atender al que está vivo// porque el que está muerto// pues <~pus>/ ya está
muerto// y/ a menos de que/ en serio se destruyera// no sé/ la evidencia de que en
ese lugar// era el Palacio de Gobierno de Teotihuacan// que tampoco han
encontrado// este/// por tener/ eh// no sé// te digo/ no soy buena con los espacios/
eh// cien metros/ cuadrados
53.
I: y como sea// pero en sí/ mucha gente/ y eso también lo he visto en los museos/
120
van los niños de secundaria// con su mugre cuadernito// y se la pasan copiando
todas las fichas// pero ni entienden// ni aprenden// ni nada// entonces <~entóns>
no/ no creo que haya/ un/ provecho en ese aspecto/ lo que se tendría que hacer//
es/ plantear otras formas de/ de llegarle a la gente
54.
I: quimioterapia que ha recibido o mal// pero pues ya/ los ojos/ las ves y llegan
así de “doctora/ sí se pudo/ ya estoy súper bien/ este ya me pinto/ ya como/ ya
esto/ ya lo otro”/ y también está esa parte donde te agradecen
55.
I: hay muchas experiencias que yo he visto/ porque/ con mi mamá había visto
experiencias/ pero bonitas/ o casos interesantes// pero ya meter-/ meterte en algo
tan sentimental ellos tienen todo el derecho de saber qué es lo que les está
pasando// muchas personas
56.
todo el mundo dice “yo me voy a ir al Ángeles/ yo me voy a ir al/ al Inglés/ yo
me voy a ir aquí/ me voy a ir al Pedregal y no sé qué”/ y tú dices “bueno pues
<~pus> ya/ pues <~pus> es tu vida”/ y ya cada quien/ pues <~pus> escoge lo que
quiere hacer/// ¿no?/ entonces esa relación del médico y el paciente/ se ha
perdido muchísimo// te digo// ya es así como que// “ay/ otro paciente/ okey/ a
ver échamelo”/ y y sí son buenos los médicos
57.
o cuando presentan siempre dicen/ “masculino de/ siete años de edad/ que tiene
diagnós-”/ no// el ese masculino/ no es el masculino/ se llama Fernando/ y es
Fernando y/ y háblale porque/ pues <~pus> es Fernando/// entonces/ pues
<~pus> sí digo/ quién de nosotros no ha estado enfermo/ y y que te traten mal/ o
sea todavía estás enfermo/ y todavía que te traten mal/ y te hagan caras/ y te
digan “ay/ ¿por qué te enfermas?”//
58.
I: este/ porque no/ a mí me gusta mucho apapachar al paciente/ me gusta//
decirle/ “oiga// pues <~pus> mire/ yo soy la doctora pero pues <~pus> quiero/
pues <~pus> saber/ ¿cómo se siente usted?”/ eso cómo me interesa/ híjole// y
siempre/ se lo he dicho a todos/ “oiga// ¿y cómo está?”// y cada vez que yo he
hecho esa pregunta en/ en los hospitales/ dicen/ “ay este/ pues bien/ ahorita/ me
acaban de poner”/ y de hecho/ hasta el paciente ya sabe qué le pusieron/ qué le
hicieron
59.
I: este/ porque no/ a mí me gusta mucho apapachar al paciente/ me gusta//
decirle/ “oiga// pues <~pus> mire/ yo soy la doctora pero pues <~pus> quiero/
pues <~pus> saber/ ¿cómo se siente usted?”/ eso cómo me interesa/ híjole// y
siempre/ se lo he dicho a todos/ “oiga// ¿y cómo está?”// y cada vez que yo he
hecho esa pregunta en/ en los hospitales/ dicen/ “ay este/ pues bien/ ahorita/ me
acaban de poner”/ y de hecho/ hasta el paciente ya sabe qué le pusieron/ qué le
hicieron
60.
pero a mí lo que me ha impresionado más es/ los niños// yo por eso igual y no
me gustaría ser pediatra porque// pues <~pus> como que sufriría mucho/ pero a
la vez me gustaría ayudarlos// pero/ pero sí es/ es/ es muy impresionante
61.
yo creo que/ gran/ gran compromiso lo tenemos nosotros los médicos// porque//
pues <~pus> no no/ las pacientes no saben/ no saben/ solamente acuden/ y yo lo
121
he visto/ ¿eh?/ la incidencia va/// entre los cuarenta cuarenta y cinco años/ es el
primer pico/ y el segundo pico se da entre/ sesenta y/ sesenta y cinco
62.
la señora ya llevaba un tratamiento/ la señora ya sabía que tenía cáncer// y este/ y
de hecho le habían mandado a hacer una biopsia/ eso quiere decir que le/ le
toman un// un pedacito de su cérvix/ para ver este/ qué tanto ha avanzado el
cáncer o no/ si ya nada más se quedó ahí/ o si ya se fue a otro lado/
63.
desde que inicias tu/ tu tu vida sexual// pues creo que es una parte importante/ y
debes de dejar afuera todos esos tabús de/ “ay no/ yo estoy muy pequeña/ y cómo
no/ eso ya es para las grandes”/ no no no/ desde ahorita porque/ dependiendo las
parejas sexuales/ y el inicio de tu vida sexual y cómo la has llevado/ pues
<~pus> aguas/ hay que/ hay que/ ver qué/ qué está pasando
64.
sí hay que hacer una campaña de difusión// y hay que ver eso/ porque/ realmente
a mí/ en la escuela me ha tocado/ ir a las secundarias/ y explicar el uso del
condón y esto pero/ yo creo que// pues <~pus> que hay que agarrar al/ es que
ahorita ya ni se sabe/
65.
I: eran/ bisexuales u homosexuales/ y este// y// pues mira cuando yo/ vi a todos
estos pacientes/ yo no los vi en la etapa crítica// nunca he visto un paciente
sidoso en una etapa crítica/ nunca/ nunca lo he visto// y yo creo que sería muy
deprimente por todos los síntomas que tienen// pero estos pacientes ya estaban
así como que más recuperados
66.
I: eran/ bisexuales u homosexuales/ y este// y// pues mira cuando yo/ vi a todos
estos pacientes/ yo no los vi en la etapa crítica// nunca he visto un paciente
sidoso en una etapa crítica/ nunca/ nunca lo he visto// y yo creo que sería muy
deprimente por todos los síntomas que tienen// pero estos pacientes ya estaban
así como que más recuperados
67.
I: ah/ claro/ sí/ ha cambiado muchísimo/ muchísimo/ primero porque// cambia
en todos los aspectos/ primero porque yo era/ el meterte a esta carrera e-// al
principio yo pensé que estaba influenciada por mi/ por mi familia// porque mi
mamá es médico
68.
no puedes hacer otra cosa// no puedes competir tú como médico con la muerte y/
“no te la lleves/ y espérame y…”/ no// digo/ tú haces todo lo posible/ bueno más
bien/ he visto que hacen todo lo posible// y pues <~pus> ya/ no se pudo y/ pues
<~pus> ni modo/ no se pudo// y no puedes hacer otra cosa/ más que ayudar al
bien morir de tu paciente
69.
no puedes hacer otra cosa/ más que ayudar al bien morir de tu paciente// y decir
“bueno okey/ pues <~pus> no se pudo/ pues <~pus> vamos a// a que su muerte
no sea tan fea”/ es otra cosa que/ que ha cambiado mucho mi vida/ en serio el/ el
valorar la vida/ la muerte/ el cómo ver eso/ mi vida// mi vida personal también
70.
yo tengo malos días/ y me va mal en la escuela/ porque no contesté/ porque no
pude/ porque no supe y// y me deprimo y digo “es que no sé nada mamá/ no sé
qué hago aquí o sea/ ¿por qué?”// pero pues <~pus> ya después se me pasa y otra
122
vez// entonces sí/ he tenido así como que mis/ voy así como que/ arriba abajo
arriba
71.
I: ¿dónde me gustaría trabajar?/ ¡ih!/ no/ no he pensado en eso/ eh/ yo quiero/
irme de aquí de México// yo no voy a estar aquí
72.
porque yo lo que quiero es terminar ahorita mi carrera// y después empezar mi
especialidad/ luego luego/ porque muchas personas me han recomendado que/
termine mi carrera/ me espere unos dos años// y este/ para que agarre experiencia
un poquito más/ y después ya meterme a la especialidad
73.
I: este/ sí// sí lo que pasa es que/ yo tengo que hacer el curso/ y realmente no lo
he hecho/ entonces/ por ejemplo si hago este curso/ dura tres años el curso para
que/ en donde te preparan/ para que tú hagas un examen/ en Estados Unidos/ en
Canadá/ en Europa/ o en donde quieras
74.
I: no/ no yo ya se lo he platicado/ y de hecho mi hermana también se lo ha
platicado// este/ no/ ese no es mi plan de vida/ digo no por menospreciar lo que
tenemos/ porque de eso he comido/ y de eso tengo tantas cosas// y a mi mamá le
ha costado tanto trabajo/ y claro/ yo la voy a apoyar en todo/ pero no me voy a
estancar ahí// o sea/ sí la voy a apoyar/ voy a estar ahí/ en lo que ella me necesite/
ahí voy a estar/ pero quedarme de planta/ estancada ahí// probablemente
75.
I: no/ no yo ya se lo he platicado/ y de hecho mi hermana también se lo ha
platicado// este/ no/ ese no es mi plan de vida/ digo no por menospreciar lo que
tenemos/ porque de eso he comido/ y de eso tengo tantas cosas// y a mi mamá le
ha costado tanto trabajo/ y claro/ yo la voy a apoyar en todo/ pero no me voy a
estancar ahí// o sea/ sí la voy a apoyar/ voy a estar ahí/ en lo que ella me necesite/
ahí voy a estar/ pero quedarme de planta/ estancada ahí// probablemente/ yo sé
que me voy a quedar con el negocio/ igual y sueno así toda/ “ay sí”/ [no]
76.
I: no/ no yo ya se lo he platicado/ y de hecho mi hermana también se lo ha
platicado// este/ no/ ese no es mi plan de vida/ digo no por menospreciar lo que
tenemos/ porque de eso he comido/ y de eso tengo tantas cosas// y a mi mamá le
ha costado tanto trabajo/ y claro/ yo la voy a apoyar en todo/ pero no me voy a
estancar ahí// o sea/ sí la voy a apoyar/ voy a estar ahí/ en lo que ella me necesite
77.
I: no/ no yo ya se lo he platicado/ y de hecho mi hermana también se lo ha
platicado// este/ no/ ese no es mi plan de vida/ digo no por menospreciar lo que
tenemos/ porque de eso he comido/ y de eso tengo tantas cosas// y a mi mamá le
ha costado tanto trabajo/ y claro/ yo la voy a apoyar en todo/ pero no me voy a
estancar ahí// o sea/ sí la voy a apoyar/ voy a estar ahí/ en lo que ella me necesite/
ahí voy a estar/ pero quedarme de planta/ estancada ahí//
78.
pero siempre he trabajado en el departamento/ o sea que a nivel/ años perdón/ a
nivel
79.
entonces pues imagínate/ ya he recorrido varios hospitales [también]
80.
conozco también el el hospital de Azcapotzalco/ conozco también estu-/ son los
ho-/ los hospitales que te menciono son donde yo he estado/ eh/ conozco donde
123
yo estuve/ el Legaria que fue el// este/ el último hospital// donde estuve/ y de ahí
me mandaron para acá
81.
callas/ ¿no?/ ¿sí?/ y es por eso que también pues no pudieron// y así te digo he
pasado/ situaciones muy duras/ modestia aparte/ y pues aquí me tienes/ ¿sí?/ he
seguido/ con muchas ganas/ con muchos deseos/ y también la misma necesidad
te hace/ ¿sí?/ pues que sigas trabajando/ ¿no?/ porque ahorita pues <~ps> ya a la
edad que yo tengo también/ no es fácil encontrar un trabajo
82.
callas/ ¿no?/ ¿sí?/ y es por eso que también pues no pudieron// y así te digo he
pasado/ situaciones muy duras/ modestia aparte/ y pues aquí me tienes/ ¿sí?/ he
seguido/ con muchas ganas/ con muchos deseos/ y también la misma necesidad
te hace/ ¿sí?/ pues que sigas trabajando/ ¿no?/ porque ahorita pues <~ps> ya a la
edad que yo tengo también/ no es fácil encontrar un trabajo
83.
y sí/ nos ha salido bien fíjate
84.
mh estamos dándole ahorita <~orita> un este/ eh como/ mi hija es la que nos ha
salido un poquito así renuente/ [porque ahorita está]
85.
[¿sí?]/ pero yo he tratado de/ a veces de buscarle/ y me rompo la cabeza con su
madre platicando y diciendo y/ a veces sí/ yo sé que/ pues como pa-/ todos los
padres quizás/ pues <~pus> he levantado la voz/ ¡nunca la he tocado!/ en el buen
sentido de la palabra/ me refiero al sentido de que/ [de que]
86.
[¿sí?]/ pero yo he tratado de/ a veces de buscarle/ y me rompo la cabeza con su
madre platicando y diciendo y/ a veces sí/ yo sé que/ pues como pa-/ todos los
padres quizás/ pues <~pus> he levantado la voz/ ¡nunca la he tocado!/ en el
buen sentido de la palabra/ me refiero al sentido de que/ [de que]
87.
[¿sí?]/ pero yo he tratado de/ a veces de buscarle/ y me rompo la cabeza con su
madre platicando y diciendo y/ a veces sí/ yo sé que/ pues como pa-/ todos los
padres quizás/ pues <~pus> he levantado la voz/ ¡nunca la he tocado!/ en el
buen sentido de la palabra/ me refiero al sentido de que/ [de que]
88.
y así/ además ya/ también ella ha hecho de las suyas/ también me ha hecho
varias cosas de que/ “ahorita <~orita> vengo papá vamos a ir a los al…“ este/
¿cómo se llama? “al/ este/ museo equis” [¿sí?]
89.
y así/ además ya/ también ella ha hecho de las suyas/ también me ha hecho
varias cosas de que/ “ahorita <~orita> vengo papá vamos a ir a los al…“ este/
¿cómo se llama? “al/ este/ museo equis” [¿sí?]
90.
¿sí?/ como le he dicho/ “mira hija mía/ el día que te quieras ir/ no me va a dar
coraje/ si me lo dices/ [por tu propio beneficio]
91.
¡mal! está mal/ yo he leído ya varias cosas de esas cosas y/ y créeme que/ pero
ya no se las puedes quitar/ ¿sí?/ ¿ves?
92.
sí/ no/ pues <~pus>/ “¿tú quién eres?”/ y unos nombres medio raros/ ¿no?/ ¿sí?/
unos me cuelgan// no me sostienen sí sí sí otros me dicen/ ¡pras! así/ me alcanzan
124
o me ¡quisieron decir algo!/ pero no/ mejor cuelgan/ ¿sí?/ o otros que de repente
he bajado y/ la he visto ahí/ y sale pero volando/ ¿sí? (…) y fíjate <~fíate> que
no están haciendo malas cosas
93.
sí/ no/ pues <~pus>/ “¿tú quién eres?”/ y unos nombres medio raros/ ¿no?/ ¿sí?/
unos me cuelgan// no me sostienen sí sí sí otros me dicen/ ¡pras! así/ me alcanzan
o me ¡quisieron decir algo!/ pero no/ mejor cuelgan/ ¿sí?/ o otros que de repente
he bajado y/ la he visto ahí/ y sale pero volando/ ¿sí?
94.
claro que se les dan las libertades hasta donde cabe y donde se puede/ de lo que
pues <~pus> uno puede/ “papá que me das permiso de ir acá”/ “sí hombre”/ pero
ya sabes dónde van/ a qué <~qui> horas viene y demás/ eso sí ya se les ha
marcado ya más/ exigencia/ “si no me vienes a tal hora/ nada <~na> más te lo
digo desde ahorita/ ya no te vuelvo a/ ya no vuelve a haber este permisos”// y así
o sea irles apretando las tuercas un poquito
95.
yo tengo social <~sósial> security <~secúriti>/ tengo el high <~jai> school
<~escul>/ tengo este// pues <~pus> ya ni me acuerdo que tengo/ pero me han
dicho que todavía ese me vale
96.
el social <~sósial> security <~secúriti>/ que es de por vida/ no sabía yo/ ¿eh?/ no
te sé decir/ ahí sí no estoy seguro/ pero sí me han dicho que si tú vas y todo/
tienes este una/ como aquí el seguro social/ ¿no?/ una [prestación]
97.
¿no?/ que le hablan en doble sentido/ como/ ¿tú has oído hablar a los niños de la
calle?/ [como]
98.
algo así/ pero en chiquito/ pues <~pus> bueno/ y bueno/ presentar un proyecto de
qué hacer con esta zona/ desde/ no sé/ des-/ siempre que él ha sido/
administrador/ bueno y otros más/ como que les ha/ yo no sé qué quieren hacer
con esa parte/ no/ es una parte silvestre que debe quedarse así/ o sea/ no deben
alterarla/ no de-/ o sea no sé/ ¿no?/ pero la idea de ellos/ uno// bueno él él/ la idea
de él/ de A/ era construir un corredor/ [para]
99.
como él le hace/ entonces <~entós>/ yo empecé a hacerlo/ y sí me ha
funcionado/ después/ pues <~pus> ya estando aquí/ este/ me dijeron “te vamos a
contratar para <~pa> que te encargues del/ del herbario que tú// este
proyectaste”/ “órale”/ y pues <~pus> ya me contrataron aquí/
100.
o por cuestiones culturales// y no/ hasta ahorita nos hemos topado/ que más bien
es por cuestiones culturales/ ¿no?/ especialmente/ en dos o tres pueblos/
101.
entonces <~tos>/ hemos dádonos cuenta que son// cuestiones culturales/ ¿no?/ y
seguimos/ seguimos muestreando/ huertos/ en los diferentes pueblos del Alto
Balsas
102.
digamos en castellano/ en/ en el idioma que ellos hablan/ puede ser/ no sé/ nos
ha tocado náhuatl/ nos ha tocado/ otomí/ en los diferentes lugares que hemos
muestreado// este// el nombre científico// la familia científica a la que pertenece/
103.
digamos en castellano/ en/ en el idioma que ellos hablan/ puede ser/ no sé/ nos ha
125
tocado náhuatl/ nos ha tocado/ otomí/ en los diferentes lugares que hemos
muestreado// este// el nombre científico// la familia científica a la que pertenece/
104.
digamos en castellano/ en/ en el idioma que ellos hablan/ puede ser/ no sé/ nos ha
tocado náhuatl/ nos ha tocado/ otomí/ en los diferentes lugares que hemos
muestreado// este// el nombre científico// la familia científica a la que pertenece/
105.
además/ ella lo incrementó/ con sus propias plantas/ que no las hemos ingresado
por cierto/ están en una de estas cajas// entonces <~entóns>/ pues este/ sí les
sirve/ ¿no?/ esas/ ellas fueron las dos// lo más
reciente/ ¿no?/ de/ de/ que usan el laboratorio para eso
106.
se llama San Francisco Zomatlán/ este// ahí la idea era/ presentar un proyecto de/
reforestación/ porque es un pueblo en donde/ se han especializado en hacer
máscaras
107.
y primero empezar a conocer a la gente/ con quién/ podíamos llegar/ a quién le
podíamos plantear el proyecto/ cómo eran las autoridades y todo este asunto//
afortunadamente siempre hemos caído con la mejor gente/ es más/ yo creo que
todos/ son muy buenos/
108.
así como que despedida porque ya se van los antropólogos/ ¿no?// y este/ y
bueno/ y pues <~pus> ya/ ya no hemos regresado porque// pues hasta que nos
diga si aceptan o no el proyecto/ o qué pues/
109.
ya les volvimos a decir “es que no hay dinero”/ es más/ si lo aceptan y
empezamos/ bueno no es/ hasta que lo acepten/ hemos tratado de buscar/ alguna
fundación/ que lo quiera hacer/ pero hasta la fecha/ no podemos/
110.
o sea ellos son como maquileros/ ¿no?/ o sea hacen la/ hacen la tira/ en Chilapa
la compran/ ahí en// seleccionan para qué pueden servir/ si para sombreros/
petates/ o flores/ o bolsas/ lo que sea/ de lo que más les ha dejado es el
sombrero// el sombrero se lo llevan a otro pueblo/ es más/ se lo llevan hasta
Michoacán//
111.
en la roza/ tumba/ y quema// y entonces/ eh/ presenta-/ bueno/ armamos el
proyecto y él/ dijo “bueno/ eh/ en cuanto pueda/ me desocupe/ lo empezamos a
hacer”/ pero ya no hemos sabido de él/ entonces <~entóns>/ pues ya no/ pero/
quiero decir/ estuvo bien/
112.
de hoja/ fragmentos de tallo// insectos/ fragmentos de insecto/ cosas muy
extrañas que no hemos podido identificar/ algunas esférulas/ algunos huevos de
insecto/ probablemente// cosas que// eh/ pues/ no nos arriesgamos a decir qué es
113.
a la mejor son indicadores/ de algún tipo de contaminación// en la época
prehispánica/ esa es nuestra idea/ ¿no?/ pero bueno/ en eso estamos// este/ por
ejemplo/ este/ N/ que está trabajando el interior/ lo que tenía una vasija creo// y
ha/ ha encontrado// maíz/ carbonizado/ mucho tomate/ probablemente chile/ y
muchas cosas/ ¿no?
114.
ni frijol/ ni calabaza/ es una de las interpretaciones que le han dado/ y bueno/
126
pues es/ gracias a que tenemos toda una colección/ ¿no?/ de de plantas/ y mira/ lo
que hemos encontrado/ por ejemplo/
mucho/ es amaranto/
115.
ni frijol/ ni calabaza/ es una de las interpretaciones que le han dado/ y bueno/
pues es/ gracias a que tenemos toda una colección/ ¿no?/ de de plantas/ y mira/ lo
que hemos encontrado/ por ejemplo/ mucho/ es amaranto/
116.
ajá/ y no solamente eso/ ¿no?/ son/ todas las plantas asociadas a eso/ al amaranto/
o al maíz// y bueno/ y y y las/ y que se han fechado/ y todo
ese asunto/ ¿no?/
117.
cada seis meses/ entonces <~tons> yo tengo diez años trabajando aquí/ y ha sido/
cada seis meses/ un contrato/ cada seis meses un contrato/ <...> este/ último
contrato/
118.
tengo un grupo de/ treinta alumnos// eh/ esta clase/ tenía desde ochenta y nueve/
que no la daba/ y he dado micro-/ economía y macroeconomía// y como
asistente/ soy/ la que lleva// todo el trabajo/
119.
parece que los/ que vivieran en Chapultepec/ no hay vacaciones sin que// o sea/
ninguna vacación hemos dejado pasar Chapultepec// este
120.
estar escuchando/ fíjate que es de los/ de los// pocos círculos/ donde yo he
encontrado// que todavía// tienen// cuatro hijos
121.
no/ yo yo/ yo siempre he tenido un refrán que dice
122.
en los demás/ no/ fíjate que vienen y me cuentan este// cualquier cantidad de co-/
de aquí no sale pero sí/ he tenido que dar consejos de
123.
desde la tarde/ hasta la cena/ una vez en su casa/ otra vez en mi casa// o sea que
la he visto más que a mis primas
124.
porque pues uno se pre-/ había presentado cuatro clases// pero entonces este/
esto/ me ha significado que me estoy parando a las cuatro de la mañana a
preparar la clase/
125.
ahorita <~orita> estoy dando economía política/ economía política uno/ es de
teoría del valor/ y/ aquí estoy viendo// eh/ tres autores// uno que seguro lo han
escuchado/ el/// un padre de la economía política clásica que es Adam Smith/ [sí
lo han oído]
126.
ahorita <~orita> estoy dando economía política/ economía política uno/ es de
teoría del valor/ y/ aquí estoy viendo// eh/ tres autores// uno que seguro lo han
escuchado/ el/// un padre de la economía política clásica que es Adam Smith/ [sí
lo han oído]
127.
y del liberalismo económico// después viene/ otro autor/ muy famoso/ que/ a lo
mejor este no lo han oído/ <…>/ que es Carlos Marx
127
128.
[fíjate] que últimamente ha estado más cargado/ yo creo que sí aumentó ahí/ el
parque vehicular porque está ¡muy lleno!
129.
me estaba acordando que no saqué nada del congelador// pero sí/ he estado
aceleradona/ este
130.
[yo creo] que como todas las mujeres este/ deberían ser reporteras de la revista/
Chilango/ ¿no la han leído?
131.
no han oído/ o sea cuando te dan el reportaje de/ los antros/ eh/ una decoración
kitsch <~kitch>/ y yo digo/ qué será [eso de kitsch <~kitch>]
132.
este/ ahora del día del amor y la amistad no/ no no me ha llegado/ pero debe de
venir
133.
este/ no me pierdo todo los días este/ Catón/ del Reforma/ no/ ¿sí lo han visto?//
en la página central de la sección A/ del Reforma
134.
en la escuela saben/ manejarse bien/ son listos// entonces/ ya saben/ yo siempre
les he dicho/
135.
ha funcionado
136.
trato de que sean lo más honestos posibles/ pero sí les he dado tips así medio///
[medio feos]
137.
[he tratado de] cuidar esas cosas/ yo sé que/ va a haber cosas que no/ pueda
cuidar/ ellos se han ido soltando/ poco a poco
138.
desafortunadamente/ es malo decirlo/ ¿no?/ que había puentes/ y ahí íbamos a
los/ a los viajes/ ahorita como no ha habido puentes/ no he hecho los/ los viajes
en toda la República/ ¿no?/ las playas principalmente
139.
desafortunadamente/ es malo decirlo/ ¿no?/ que había puentes/ y ahí íbamos a
los/ a los viajes/ ahorita como no ha habido puentes/ no he hecho los/ los viajes
en toda la República/ ¿no?/ las playas principalmente
140.
antes de casarme sí/ sí hice// un viaje a Inglaterra porque mi hermana vive allá/ y/
bueno/ ya estando casada con él/ pues he ido/ a Estados Unidos/ de compras//
con él conocí// Disneylandia
141.
no tengo ese/ ese tiempo/ la verdad/ este/ quisiera/ hacerlo/ he intentado
comprar// novelas o/ best sellers <~betselers>/ y empiezo a leer y/ y ya no lo sigo
porque// estoy tan cansada que prefiero dormirme (risa)
142.
mi papá siempre/ ha sido muy estricto/ demasiado estricto/ y mi mamá pues fue/
era la apapachadora/ ¿no?
143.
y ellos se fueron a rentar/ mientras construían la// parte de lo que es <~ques>
ahora la/ la casa// y después ya se pasaron/ y realmente por falta de recursos
económicos/ pues <~pus> esto ha sido así como que muy// despacio
128
144.
y/ bueno/ este// sí/ en síntesis es/ es difícil ahora la vida para mis padres// creo
que siempre ha sido/// difícil
145.
porque mi papá siempre ha sido/ de un carácter muy fuerte entonces
146.
[las últimas noticias!”/ ¿no?]/ pero sí este// en eso/ andamos ahorita/ que por
cierto no// [no he visto los últimos boletines (risa)]
147.
llegué a la casa toda nerviosa/ porque a mí siempre me ha gustado mucho/ esa
parte/ me gustaba mucho/ bailar/ y tirarme al piso/
148.
[ay sí]/ siempre ha sido una persona muy coqueta
149.
sí claro/ no quiere decir con esto que se olvide de ellas/ yo lo he platicado/ van a
ser sus hijas y todo esto pero// pero creo que ya vienen más gastos con mis hijos/
porque ellos están/ creciendo y/ y pues/ también él tiene que
150.
¿y no se ha casado ella?
151.
así lo/ lo/ lo sabe/ ¿no?/ se ha desarrollado también su/ [su oído]
152.
aparte de lo que ha hecho en el ballet/ ¿no?/ y eso es parte del arte/ del arte que/
que yo quiero que no/ que no pierdan/ J A también estuvo en la Escuela Nacional
de Música
153.
pero haz de cuenta que/ que si yo com-/ o sea/ no tengo/ ya se me han olvidado
muchas cosas pero/ o sea si/ yo tuviera un piano/ y/ y tengo ahí mis libros de
música/ y me dedicara o sea a tratar de sacarlas/ [lo
154.
y/ pero M no/ M es de/ de aprendérsela/ es floja para leer/ ¿no?/ y eso le ha
costado/ mucho trabajo/ porque [haz de cuenta]
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