A cultivar de triticale BRS Minotauro

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Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
143
Foto: Paulo Kurtz/Embrapa
ISSN 1517-4964
Outubro, 2005
Passo Fundo, RS
A cultivar de triticale BRS Minotauro
Alfredo do Nascimento Junior1, Augusto
Carlos Baier2, Leo de Jesus Antunes Del
Duca1, Aroldo Gallon Linhares1, Cantídio
Nicolau Alves de Sousa2, Pedro Luiz
Scheeren1, Luiz Eichelberger1, Márcio Só e
Silva1, Ana Christina Sagebin Albuquerque1
Introdução
Apesar do progresso genético já
alcançado na resistência à giberela,
A Embrapa Trigo, juntamente com
o CIMMYT (Centro Internacional de às manchas foliares e à germinação
em pré-colheita, os níveis obtidos
Melhoramento de Milho e Trigo),
ainda são insuficientes. A pesquisa
disponibilizou no Brasil, em pouco
em melhoramento genético de
mais de duas décadas, nove
triticale deve enfatizar a obtenção de
cultivares de triticale, e, hoje,
novos genótipos para incorporar
algumas destas participam com
características de adaptação
mais de 75% do total de sementes
específica ao ambiente dos genótipos
comercializado no país. Além da
de trigo e de centeio cultivados
Embrapa Trigo, outras instituições
de pesquisa brasileiras contribuíram regionalmente e para aumentar a
variabilidade genética, objetivando
para o crescimento da cultura de
possibilitar a seleção de genótipos
triticale no Brasil, desenvolvendo
superiores. O trigo e o centeio,
germoplasma com adaptação às
cultivados no Brasil há mais de um
condições de cultivo, tendo sido
século, têm características genéticas
cultivados ao redor de 100 mil
que podem ser transferidas ao
hectares anuais nas últimas cinco
safras. Entretanto, as adversidades triticale para melhorar a adaptação
deste. A seleção natural contribuiu
climáticas e biológicas prejudicam a
para acumular genes de adaptação
estabilidade de produção das
local. A base genética dos genótipos
cultivares indicadas, em razão da
de triticale no mundo é estreita e
suscetibilidade a determinadas
deveria ser ampliada. Isso também se
moléstias, o que exige que novos
aplica ao Brasil, pois todas as
genótipos, mais adaptados, sejam
cultivares recomendadas foram
desenvolvidos para permitir
introduzidas do CIMMYT (Baier et al.,
estabilidade e incrementos de
produção nas áreas tradicionais de 1994).
cultivo ou nas fronteiras agrícolas
Seguindo essa estratégia de
para os cereais de inverno, como
concentrar genes adaptados às
nos estados de São Paulo, de Mato condições brasileiras, diversos
Grosso do Sul e de Minas Gerais.
cruzamentos foram realizados
1
Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail do
autor para correspondência: [email protected]
2
Pesquisador da Embrapa Trigo, aposentado.
dos primeiros, não requeriam a
emasculação de espigas, obtendose, assim, o cruzamento natural
com a bordadura desejada. As
espigas foram colhidas em massa
e trilhadas, e todas as sementes
foram semeadas em campo, no
ano de 1996, sendo selecionadas
200 espigas de plantas com
características distintas na
Material e Métodos
parcela. Essas espigas foram
semeadas em 1997 em sistema de
espiga por fileira (1,5 metro de
Para o desenvolvimento da cultivar comprimento cada linha) e
de triticale BRS Minotauro, em
numeradas de um a 200, sendo
1991, foi realizado, em Passo
selecionadas 12 espigas da linha
Fundo, RS, o cruzamento da
de número 14, que foram
linhagem de trigo PF 89358 (BR
semeadas em 1998 em sistema de
35*3//BR 14*2/LARGO) com
espigas por fileira, realizando-se,
Centeio BR1. No ano de 1992, 25 nesse ano, uma seleção massal
sementes de cinco espigas
modificada, com seleção de
haplóides (n=4x) foram semeadas plantas nas linhas e entre as linhas
em vasos em casa de vegetação,
e eliminação de plantas fora de
onde receberam tratamento com
padrão. No ano de 1999, esse
colchicina para duplicação
material foi avaliado em coleção
cromossômica. Após esse
de avaliação interna e multiplicado
processo, apenas três plantas
em espigas, sofrendo rigorosa
sobreviveram. Destas, apenas duas seleção para produção de semente
plantas produziram grãos férteis,
genética. Em 2000, a progênie foi
com cinco espigas e 36 grãos. Em novamente purificada e colhida e
1993, foi realizada semeadura
recebeu a denominação de PFT
manual em telado, em sistema
008, quando começou a ser
espiga por fileira, com os novos
avaliada nos ensaios preliminares
octoplóides (2n=8x), recebendo
de rendimento de grãos e nas
esse cruzamento a denominação de coleções de avaliação internas da
OCTO 92-3. Em 1994, cinco
Embrapa Trigo (épocas de
plantas selecionadas foram
semeadura, reação à giberela, ao
semeadas em campo, onde
alumínio e ao vírus do mosaico).
receberam os números de estaca
Essa linhagem foi avaliada nos
de 408102 a 408106. Na estaca
ensaios de VCU (valor de cultivo e
408102, foram selecionadas 11
uso) a partir de 2001, na Região
espigas, semeadas em 1995 para
Sul do Brasil (RS, SC, PR e SP),
avaliação, seleção e cruzamento.
caracterizada nos ensaios de DHE
Usou-se semeadura em linhas por
(distinguibilidade, homogeneidade
espiga, alternadas com triticale
e estabilidade) em 2002 e 2003,
hexaplóide (2n=6x) Triticale BR4,
em Passo Fundo, RS, e
para possibilitar o cruzamento
considerada apta para ser
natural nos triticales octoplóides e registrada como BRS Minotauro
hexaplóides, os quais, em razão da em 2004.
elevada esterilidade polínica
nos últimos anos na Embrapa Trigo.
Desse processo, foi originada a
cultivar BRS Minotauro, primeira
cultivar de triticale desenvolvida no
país, utilizando trigo e centeio
brasileiros realmente adaptados às
condições edafoclimáticas de
cultivo do Sul do Brasil.
Resultados e Discussão
testemunhas e aos demais materiais
em cultivo: para o peso do hectolitro,
foi em média um ponto superior;
A cultivar BRS Minotauro tem ciclo quanto ao número de queda (Hagberg
médio (média de 86 dias da
Falling Number), situou-se acima de
emergência ao espigamento e de
120 segundos (com máximo de 250
143 à maturação), estatura média– segundos); e relativamente à
alta (média de 113 cm em Passo
severidade à giberela, foi inferior à
Fundo). Apresenta pigmentação
maioria das cultivares em
antociânica das aurículas ausente
recomendação, sob inoculação
ou muito fraca e cerosidade da
artificial.
bainha da folha bandeira de média
a forte. As espigas são
completamente aristadas, claras na Conclusão
maturação, fusiformes, com
pigmentação fraca das aristas e de
Em função do desempenho do
média a fraca das anteras (Tabela
material e da similaridade climática e
1).
de cultivo existentes em Santa
Em relação às principais
Catarina e no Rio Grande do Sul
enfermidades, BRS Minotauro é
(Região Sul) e no Paraná, em Mato
resistente ao crestamento, à
Grosso do Sul e em São Paulo
ferrugem do colmo e à ferrugem da (Região Centro-sul) e das tecnologias
folha, moderadamente resistente às de cultivo atualmente à disposição
manchas foliares, ao vírus do
dos agricultores, a cultivar de triticale
mosaico e ao vírus do nanismo
BRS Minotauro foi registrada para
amarelo da cevada (VNAC) e
comercialização visando à produção
moderadamente suscetível à
de grãos nas regiões tritícolas sul e
giberela e à germinação na espiga
centro-sul do Brasil (RS, SC, PR, MS
(Tabela 1).
e SP), em cultivo de sequeiro na
Em ensaios de VCU conduzidos no estação fria.
Rio Grande do Sul, em Santa
Catarina, no Paraná e em São
Paulo, no período de 2001/03, BRS Referência Bibliográfica
Minotauro teve rendimento de
grãos de 3.790 kg/ha, superando
BAIER, A. C.; NEDEL, J. L.; REIS, E.
em 9% a produtividade média das
M.; WIETHÖLTER, S. Triticale:
testemunhas (Tabela 2).
cultivo e aproveitamento. Passo
BRS Minotauro apresentou, em
Fundo: Embrapa-CNPT, 1994. 72 p.
avaliações realizadas na Embrapa
(Embrapa-CNPT. Documentos, 19).
Trigo, destaque em relação às
Tabela 1. Principais descritores agronômicos e morfológicos da cultivar de
triticale BRS Minotauro.
Nome da linhagem
Entidade detentora
Entidade criadora
Cruzamento
Genealogia
Ano de lançamento
Qualidade industrial
Classe comercial
Hábito vegetativo
Coloração das aurículas
Aristas
Pigmentação das anteras
Altura de planta
Forma das espigas
Posição das espigas
Coloração das espigas
Coloração dos grãos
Textura dos grãos
Peso do hectolitro
Peso de mil sementes
Germinação natural do grão
na espiga
Debulha natural
Ciclo
PFT 008
Embrapa Trigo
Embrapa Trigo
OCTO 92-3 (Trigo PF 89358/Centeio BR1)/Triticale BR 4
Obs.: PF 89358 (BR 35*3//BR 14*2/Largo)
T0092-3-1F-1F-14F-0F
2005
Produção de biscoitos, bolachas e ração animal
Brando
Semi-vertical
Ausente ou muito fraca
Completamente aristada
Média a fraca
Média–Alta (média de 113 cm em Passo Fundo)
Fusiforme
Pendente
Clara
Vermelha
Mole
Variável com o ambiente
Variável com o ambiente
Moderadamente suscetível
Resistente
Médio: Espigamento: média de 86 dias (média em Passo
Fundo)
Maturação: média de 143 dias (média em Passo
Fundo)
Reação ao acamamento
Resistente
Reação ao alumínio no solo Resistente
Reação à ferrugem do colmo Resistente
Reação à ferrugem da folha Resistente
Reação à brusone
Suscetível
Reação à giberela
Moderadamente suscetível
Reação ao oídio
Resistente
Reação ao carvão
Resistente
Reação à helmintosporiose
Moderadamente resistente
Reação à septoriose
Moderadamente resistente
Reação ao vírus do mosaico Moderadamente resistente
Reação ao VNAC
Moderadamente resistente
Abrangência geográfica
RS, SC, PR, MS e SP
Tabela 2. Dados de rendimento de grãos de genótipos de triticale (kg/ha),
no período de 2001 a 2003, obtidos em experimentos de Valor
de Cultivo e Uso nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa
Catarina, do Paraná e de São Paulo.
Ano/local
2001
Vacaria/RS
São Luiz Gonzaga/RS
Tapera/RS
Ponta Grossa/PR
Média
2002
Vacaria/RS
São Luiz Gonzaga/RS
Passo Fundo/RS
Abelardo Luz/SC
Ponta Grossa/PR
Média
2003
Vacaria/RS
São Luiz Gonzaga/RS
Passo Fundo/RS
Abelardo Luz/SC
Ibiporã/PR
Ponta Grossa/PR
Avaré/SP
Capão Bonito/SP
Média
CV (%)
Genótipo
BRS
Iapar 23
BRS 203 Embrapa 53
Minotauro Arapoti
Tm1
% rel
Tm2
12,8
15,5
15,5
10,6
-
4.640
2.599
4.273
4.300
3.953
3.510
2.213
3.026
2.680
2.857
4.773
1.809
2.967
3.113
3.166
-
4.142
2.011
2.996
2.896
3.011
112
129
143
148
133
12,4
16,3
15,2
8,9
12,8
-
4.498
2.718
2.250
2.946
2.253
2.933
4.581
2.494
2.709
2.092
2.391
2.853
4.308
2.449
2.943
2.398
2.166
2.853
-
4.444
2.472
2.826
2.245
2.278
2.853
101
110
80
131
99
104
14,6
14,2
10,9
6,3
12,2
10,4
15,1
12,6
-
3.838
3.925
4.486
5.548
3.290
6.654
3.391
2.820
4.244
2.896
4.000
3.663
5.616
4.057
7.381
3.554
2.867
4.254
-
3.803
4.277
4.087
5.808
3.629
6.994
3.292
3.100
4.374
3.350
4.138
3.875
5.712
3.843
7.188
3.423
2.984
4.314
115
95
116
97
86
93
99
95
99
Média Geral (2001/03)
3.790
3.514
2.992
4.374
3.578
1
Média das testemunhas.
2
Porcentagem de rendimento relativo de grãos da cultivar BRS Minotauro em relação à
média das testemunhas.
109
Comunicado
Técnico Online, 143
Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
Embrapa Trigo
Caixa Postal, 451, CEP 99001-970
Passo Fundo, RS
Fone: (54) 311 3444
Fax: (54) 311 3617
E-mail: [email protected]
Expediente
Comitê de Publicações
Presidente: Silvio Tulio Spera
Beatriz Marti Emygdio, Gilberto Omar Tomm, José
Maurício Cunha Fernandes, Luiz Eichelberger, Maria
Imaculada P. Lima, Martha Zavaris de Miranda,
Sandra Patussi Brammer
Referências bibliográficas: Maria Regina Martins
Editoração eletrônica: Márcia Barrocas Moreira
Pimentel
NASCIMENTO JUNIOR, A. do; BAIER, A. C.; DEL DUCA, L. de J. A.;
LINHARES, A. G.; SOUSA, C. N. A. de; SCHEEREN, P. L.; EICHELBERGER,
L.; SÓ E SILVA, M.; ALBUQUERQUE, A. C. S. A cultivar de triticale BRS
Minotauro. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2005. 5 p. html (Embrapa Trigo.
Comunicado Técnico Online, 143). Disponível em:
http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/co/p_co143.htm
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