CASA DA SUSTENTABILIDADE COMPONENTES ARQUITETONICOS AÇÕES DE AUTO ABASTECIMENTO UTILIZAÇÃO DE MATERIAS CÍCLICOS AÇÕES DE PAISAGISMO CENÁRIO E POSSIBILIDADE A vulgarização da palavra sustentabilidade está em voga. Em função da eminente preocupação com a manutenção do recursos naturais, ao contrário do que se imagina, gera-se uma grande desinformação. Palavras como “ecológico”, “reciclável”, “biodegradável”, dentre outras, estão presentes nos mais diversos produtos do nosso dia-dia. Disputas e desastres ambientais não saem das manchetes dos jornais. Os lados intitulam uns aos outros, de ruralistas e ecochatos. Nesse cenário de mar revolto, a Casa da Sustentabilidade se apresenta como grande oportunidade. Oportunidade didática e representativa. Didática ao visitante, ao usuário, que vislumbra na exREFERÊNCIA: periência da construção uma alternativa, compreende um diálogo CABANA PRIMITIVA aberto e saudável entre arquitetura e natureza, entre construir e VIOLLET LE- DUC preservar. Vê ali aspectos que pode incorporar em sua própria casa. Representativa na medida em que assegura ao CONDEMA uma po espaços distintos e semelhantes, forma de dizer que a partir sede condizente com a instituição, com suas premissas, ao abrir de um sistema de agrupação de peças semelhantes, criam-se suas portas e entranhas, ao convidar o cidadão a participar. espaços distintos, que hora são reclusos com menos luz em certos momentos, hora amplos com maior permeabilidade de iluLOCALIZAÇÃO E PERCEPÇÃO minação natural. O entorno no qual está inscrito, na parte oeste do Parque do Taquaral, é configurado por uma área descampada com pequenos maciços arbóreos ao redor. Ao norte e leste estão duas lagoas conectadas por um pequeno córrego, que ao alcançar a área proposta para o concurso, é canalizado e enterrado. O que vemos ali é a ocasião de gerar uma arquitetura que suscita o equilíbrio com o entorno no qual se inscreve, ou seja, uma arquitetura que atua como agente catalizador, que se baseia na compreensão técnica da natureza para validar a elaboração de uma nova paisagem, em que arquitetura e ambiente estabelecem trocas simbióticas, em que ambos ganham. Vigas de cobertura em madeira Manejo de águas pluviais filtradas por vegetação hidrófila e armazemento para o uso do edifício Utilização das coberturas para captação da energia solar Compensação da madera utilizada para a construção do edifício através de um programa de reflorestamento do parque Reutillização dos resíduos de demolição para a conformação dos pilares Geração de microclimas através da plantação de bosques produtivos Limpeza de águas pluviais através de tanques de biorremediação Sistema de cobertura: filtragem da luz direta Sistema de ventilação natural pelas janelas pivotantes localiazadas na união dos painéis com as vigas Utilizacao da terra escavada para fabricação de tijolos de barro prensados Fechamentos internos feitos em madeira reciclada (OSB) Conformação de zonas úmidas e de um sistema de irrigação por gravidade Seção florestal garantindo a entrada de luz natural no edificio A estrutura da cobertura é conformada por vigas primárias e vigas secundárias. Vigas estas que tem altura e espaçamento definidos de forma a permitir a circulação cruzada do ar, filtrar a luz solar, e possibilitar a iluminação natural do edifício. A densidade da luz tem grande importância no desenho e percepção do espaço. ENERGIAS / MATERIAIS RENOVÁVEIS E ESTRATÉGIAS DE COMPENSAÇÃO ECOLOGICA Na busca de um equilíbrio com a natureza, adotou-se uma série de estratégias construtivas renováveis e de mínimo impacto amTERRITÓRIO, PAISAGEM E OCUPAÇÃO biental. Dentre as principais estão: No piso utiliza-se tijolo ecológico possível de ser fabricado com a A lógica socioeconômica da ocupação do território tende a um viés terra do terreno, provenientes das escavações para o plantio do de estratificação no qual se segregam zonas unicamente rurais ou bosque, misturada e prensada in loco, evitando a queima do tijolo urbanas. Sempre em detrimento daquilo que já existia, a natureza, e a consequente emissão de gases poluentes. seus rios, seus bosques. O que se busca nesse projeto é justamente uma arquitetura de diálogo. Os pilares funcionam como depósitos de materiais decorrentes da construção civil local, uma opção da baixo custo e que O projeto planteia a articulação da estrutura do edifício com a aber- dá função ao que seria apenas resíduo dos processos físicos de tura da rede hídrica que conecta os dois lagos existentes no parque, transformação urbana. Tem em sua parte externa a armação de de forma a gerar uma ressignificação do movimento de água no ferro e telas que trabalham a tração e em seu interior os resíterritório. Sendo o desenhos da planta e a consequente localização duos que trabalham a compressão. dos ambientes, definidos pela interpolação do sistema construtivo, da paisagem (aquela que se busca dinamizar) e do programa. Na cobertura são utilizadas vigas de madeira laminada colada (MLC) que são produzidas por plantio de reflorestamento e utiEm busca da valoração da paisagem, na envoltória do edifício, o lizam resinas a base de água que não agridem o meio ambienplantio de um bosque nativo, zona de alta biodiversidade, permite a te. A madeira se mostrou o material mais adequado devido ao compensação da madeira cortada para a construção do edifício, en- seu ciclo renovável, baixo despendimento de energia para sua quanto o plantio de um bosque comestível, composto por arbustos produção, e o sequestro de carbono realizado durante seu cresfrutíferos, produz comida e beneficia o desenvolvimento da fauna. cimento. Amplamente desenvolvido na Europa e hoje tomando Estes dois tipos de bosque permitem a criação de um microclima, porte no Brasil, o sistema de madeira laminada colada pode proprotegendo dos ventos dominantes e captando o sol no inverno para duzir vigas de até 25 metros e peças que podem ficar expostas ás o cultivo de hortas pedagógicas. intempéries contanto que tenham o devido tratamento. Sob a cobertura, alinhados longitudinalmente com relação as Tanques naturais de biorremediação/lagunagem que fundamen- vigas, estarão instalados painéis fotovoltaicos, que farão a contam-se na introdução de micro-organismos que fazem a remoção versão dos raios solares em energia elétrica. Para tanto a oriende contaminantes, que além do auxílio no processo de tratamento tação solar é o fator delineador da implantação norte-sul do de água residuais, suprirá a irrigação das zonas de cultivos agrí- edifício. Também estarão distribuídos pontualmente pequenos colas por meio da gravidade. A sustentabilidade aqui se traduz na geradores eólicos que convertem a energia cinética da incidência adequada gestão dos recursos hídricos e na sua restituição da água dos ventos em eletricidade. A energia proveniente das placas foao sistema natural, uma vez que limpa. tovoltaicas será destinado ao abastecimento do edifício, enquanto a energia eólicas será utilizada na iluminação dos passeios do Esses espaços de biodiversidade e de produção estão vinculados parque. Em ambos os casos serão instalados sistema de compor um sistema de irrigação que atravessa o edifício e o articula pensação de créditos com a concessionária de energia, retirando com o espaço exterior, permitindo a distribuição e a retenção de a necessidade do armazenamento das energias produzidas nos água. A conformação de tanques abastecidos com espécies hidró- momentos de baixo consumo. filas promove a preservação das zonas úmidas necessárias para o equilíbrio ecológico da região. No âmbito geral, o projeto ilustra um conceito de sustentabilidade há muito já esquecido, que se compromete com uma visão ESTRUTURA E ESPAÇO global de ecossistema, na qual os resíduos de um são os recursos de outros, onde se articulam dinâmicas naturais e humanas Como uma marcação cartográfica, pilares cruciformes demarcam através da arquitetura, resultando, por fim, em uma construção a superfície de forma a delimitar pontos nodais, tanto na percepção equilibrada e durável. O edifício promove uma arquitetura que visual quanto estrutural. Cria-se sobre eles uma cobertura que se- volta a se aproximar de possibilidades locais e que se transgue uma lógica construtiva diáfana que caracteriza ao mesmo tem- forma em instrumento de conciliação entre homem e natureza. Vigas primárias longitudinais PLANTA GERAL 1:500 Vigas primárias transversais Programa: Auditórios Salas de exposição Oficinas Serviços Bosque denso Bosque de recreação Bosque baixo INTERAÇÃO ENTRE O PROJETO E O PARQUE TAQUARAL Reflorestamento de zonas abertas com espécies nativas cultivadas no viveiro da Casa da Sustentabilidade para a conformação de um bosque urbano de escala metropolitana. ETAPAS DE CONSTRUÇÃO DO PROJETO 1. Reconhecimento da desconexão entre os dois corpos de água 2. Conexão dos corpos de água através da geração de uma estrutura hídrica 3. Articulação entre o programa e a estrutura hídrica 4. Simbiose entre o edifício e o entorno através da cobertura Circulação Pilares: estrutura metálica + material de demolição 139 Isómetrica Geral CONCURSO PÚBLICO NACIONAL DE ARQUITETURA “CASA DA SUSTENTABILIDADE” PARQUE TAQUARAL - CAMPINAS-SP 1 2 DETALHE Sistema de captação de água nos pátios para irrigação dos jardins. Confirguração da seção ascendente da vegetação para aproveitamento do sol e proteção do vento. Vista do interior da galeria DIAGRAMA DE FLUXOS BIOENERGÉTICOS DIAGRAMA DE PERMEABILIDADE A primeira vista pode ser considerada uma decisão acertada no âmbito da arquitetura ecológica a suspensão de um edifício do solo. Porém após supormos esta possibilidade neste sítio, chegamos a seguintes casos que justificariam esta ação. -Suspender para liberar térreo e aumentar sua área permeável. -Suspender para evitar grandes movimentações de terra, em geral terrenos com acentuada declividade. -Suspender para preservar fauna e flora já existentes. No caso do sítio da Casa da Sustentabilidade, os dois últimos parâmetros claramente não se aplicam. Com relação ao primeiro item, o da permeabilidade, também entendemos que não, pois trata-se de um programa com ambientes de dimensões consideráveis que gerariam uma grande “sombra” sobre o terreno (onde a água da chuva não chegaria), um espaço baixo que não justificaria intervenções paisagísticas e ademais geraria um vasto adendo ao orçamento. Portanto tomamos como partido assentar o projeto no solo e transformar a cobertura em um grande guarda-chuva inverso que que capta a água pluvial, que após ser tratada é usada tanto no abastecimento do edifício quanto nos bosques, viveiros e hortas. COMPONENTES PAISAGISTICOS O sistema hídrico permite a conformação de zonas úmidas e a irrigação de cultivos Espaços de hortas pedagógicas e de viveiro para a produção de espécies nativas Vista do auditório para o pátio de recolhimento de águas Bosque comestível composto de espécies nativas frutíferas Bosque denso para a compensação das árvores cortadas para a construção do edifício Vista da praça de entrada 139 CONCURSO PÚBLICO NACIONAL DE ARQUITETURA “CASA DA SUSTENTABILIDADE” PARQUE TAQUARAL - CAMPINAS-SP 2 2