IV Seminário de Iniciação Científica www.prp.ueg.br www.ueg.br EFEITO DO USO DE RECURSO VISUAL NA COMPREENSÃO DA ADAPTAÇÃO EVOLUTIVA Nelson Silva Pinto1,3 ; Adriana Rosa Carvalho2,3 1 Bolsista PIBIC/ CNPq Pesquisadora - Orientadora 3 Curso de Ciências Biológicas, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, UEG 2 Resumo: A teoria da Evolução por meio da seleção natural, embora imprescindível para a compreensão da diversificação dos seres vivos, permanece envolta em controvérsias que, indubitavelmente, moldam as interpretações acerca da mesma, ocasionando dificuldades para sua assimilação por estudantes de Ensino Médio. Em razão desta problemática, o objetivo deste trabalho foi testar a eficácia do uso de recursos visuais no ensino de temas relativos à adaptação evolutiva, utilizando, para tanto, questionários e análise estatística adequada (teste-t ‘pareado’). O questionário foi aplicado a 130 estudantes de seis instituições da cidade de Anápolis-GO. Os resultados demonstram que há modificação na concepção dos alunos acerca dos temas, demonstrado pelo aumento significativo no número de respostas com conteúdo Darwinista (de 31,7% para 53,4%), confirmado ao nível de significância estabelecido (α = 5%) através de confrontação de valores encontrados (t = 9,0) com valores tabelados (t = 1,9) para a análise total de questionários. Palavras-chave: Adaptação Evolutiva; Recursos visuais; Ensino Médio. Introdução: A teoria da evolução por seleção natural é imprescindível na compreensão da diversificação dos seres vivos, embora permaneça rodeada de controvérsias que variam de questões religiosas a divergências na própria ciência. Estas controvérsias causam dificuldades na compreensão da mesma, que podem ser expressas, no contexto escolar, através de interpretações errôneas de que a evolução é o mesmo que progresso, além da idéia de que o homem veio do macaco (Zimmer, 2003; Santos, 2002; Angelini, 2004). Lamarck, um dos primeiros naturalistas a analisar a possibilidade da ocorrência da evolução, adepto da teoria do Uniformitarismo, acreditava que ela se processava através do uso e desuso e este era um dos meios que usava para explicar as novas características que sur giam em espécies mais complexas (Valva & Diniz-Filho,1998). No Ensino Médio, a teoria ‘Lamarckista’ chega com sérias discrepâncias da original. Os livros didáticos ainda apresentam a idéia de que os órgãos que existem só existem para servir a alguma função, confrontando-os, desta forma, com idéias básicas, tais como os órgãos vestigiais, que intuitivamente indicam o processo evolutivo (Rumjanek, 2004). 280 IV Seminário de Iniciação Científica www.ueg.br www.prp.ueg.br Ainda segundo Rumjanek (op.cit.), a alternativa científica a esta teoria não é atraente e por isso sua assimilação é mais difícil. Esta teoria comumente chamada Darwinismo foi proposta por Charles Robert Darwin (1809-1882), apresentando um mecanismo para a ocorrência da evolução: a seleção natural. O fato de certas características serem cultivadas por agricultores e criadores (seleção artificial) levou Darwin a questionar se o mesmo não ocorreria na natureza (seleção natural), lenta e gradualmente. Deste modo, admitindo a existência de pressões seletivas no meio ambiente, e que os seres vivos apresentam variações em suas linhagens, ocorrendo a permanência de variações favoráveis, que, gradualmente poderiam conduzir ao surgimento de novas espécies (Darwin, 2004). Oliveira & Carvalho (2004) observaram que em uma amostra de 121 alunos do Ens ino Médio de quatro instituições em média 37% argumentavam conceitos evolutivos sob a teoria adaptativa Lamarckista, 28% apresentavam explicações Darwinistas e 14% não faziam distinção entre ambas, apresentando respostas dúbias. Contudo esta averiguação foi parcial já que os alunos não se identificavam ao responder o questionário usado. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi registrar com o uso de questionário o conceito de adaptação que alunos do Ensino Médio possuem e com o uso de maquetes como recurso visual e lúdico verificar se há mudança conceitual na compreensão de temas relacionados à Teoria da Evolução. Material e Métodos: As unidades amostrais foram instituições de ensino da rede pública e particular da cidade de Anápolis-GO, a saber: Col. Est. Aplicação, Col. Est. Polivalente Frei João Batista, Col. Est. Rotary Donana, Col. Exato, SESI – Unidade Jundiaí e SESI – Unidade Jaiara. Com o intuito de avaliar como o uso de recurso visual influenciaria a compreensão dos alunos acerca da adaptação evolutiva, um questionário composto por cinco questões abertas e fechadas foi aplicado aos estudantes de Ensino Médio das seis instituições (pré-teste), ao que se seguiu uma breve palestra com o uso das maquetes e reaplicação do questionário (pós-teste). As questões abordavam temas diretamente relacionados às maquetes, permitindo que o aluno expressasse sua compreensão sobre os temas, modificando-se, desta forma, a metodologia proposta por Pádua & Jacobson (1993). 281 IV Seminário de Iniciação Científica www.prp.ueg.br www.ueg.br As maquetes foram confeccionadas em isopor e biscuit com o intuito de simular eventos que propiciam adaptação evolutiva, que são estudados no Ensino Médio para não abordar assuntos além dos conhecimentos adquiridos pelos estudantes. Desta forma os temas escolhidos versam sobre Seleção Natural, Isolamento Reprodutivo e Seleção por uso de defensivos agrícolas. Esperou-se, desta maneira, testar as seguintes hipóteses: 1. Não há diferença significativa entre os pré e os pós-testes; 2. Não há dificuldades na compreensão da teoria da evolução; 3. Não há diferença na forma de compreensão da teoria por parte dos alunos da rede pública e da rede particular; 4. Não existe mudança na forma de compreensão, com ou sem palestra explicativa. Para compreender como os estudantes assimilavam a adaptação evolutiva antes e após a palestra, os dados obtidos foram confrontados através do teste-t ‘pareado’ conforme Vieira (1991). Resultados e Discussão: Os dados relativos à análise estatística distribuem-se na Tabela 4. Tabela 4: Resultados do teste-t ‘pareado’ para instituições públicas, particulares e para todas as instituições (d= média das diferenças; n-1= número de graus de liberdade; s²= variância das diferenças; Darwin d n-1 s² t-crit t-abs Instituição 1 0,70 26 1,13 2,06 3,44 Instituição 2 0,88 25 2,26 2,06 2,99 Instituição 3 1,46 23 8,86 2,07 2,40 Instituição 4 1,44 22 2,44 2,07 4,20 Instituição 5 1,15 13 2,60 2,16 2,67 Instituição 6 0,87 15 0,92 2,13 3,64 Todas as instituições Inst. de 1 a 6 1,09 129 1,84 1,98 9,00 Lamarck d n-1 s² t-crit t-abs -0,22 26 1,36 2,06 0,99 0,15 25 1,03 2,06 0,77 0,16 23 1,10 2,07 0,76 -0,57 22 3,36 2,07 1,48 -0,21 13 0,64 2,16 1,00 0,06 15 0,33 2,13 0,43 -0,10 129 1,42 1,98 1,00 Dúbia t-crit= valor de ‘t’ tabelado; t-abs= valor de ‘t’ encontrado; α= 5% ). Instituições Públicas de Ensino d n-1 s² t-crit t-abs -0,37 26 1,81 2,06 1,35 -0,42 25 0,58 2,06 2,84 -0,80 23 1,04 2,07 3,81 0,04 22 1,23 2,07 0,18 -0,5 13 0,42 2,16 2,94 -0,31 15 0,36 2,13 2,07 -0,40 129 1,02 1,98 4,44 27 26 24 23 14 N total de questionários Instituições Particulares de Ensino 16 130 282 IV Seminário de Iniciação Científica www.ueg.br www.prp.ueg.br Estes resultados demonstram que, tanto para o total de questionários quanto para as instituições, houve eficácia ao nível de significância estabelecido (α= 5%), evidenciada pelo aumento de respostas baseadas no pressuposto Darwinista (total de questionários, todas as instituições), e diminuição de respostas com conteúdo dúbio (total de questionários, instituições 2, 3, 4 e 5). Ressalta-se, no entanto, que, ao nível de significância estabelecido, não foi possível verificar eficácia para respostas com teor Lamarckista (total de questionários, instituições 1 a 6), e dúbio nas instituições 1 e 4. De modo geral houve certa homogeneidade no número de respostas Darwinistas e Lamarckistas, antes da palestra, evidenciando que os estudantes apresentam dificuldades na compreensão da Teoria da Evolução, o que refuta a hipótese 2 deste trabalho, que atesta não haver problemas na compreensão da teoria evolutiva, e confirma a hipótese 3, que afirma não existir distinção entre a forma de compreensão dos alunos de rede pública e particular. Isto pode decorrer de problemas na assimilação de importantes fatos científicos (como a Teoria da Evolução por meio da seleção natural), causados por deturpações em livros didáticos e meios de comunicação (Feynman 2000; Luiz 2003; Sagan 2004). O uso de fontes secundárias de informação sobre evolução, indica que, apesar de muito citada por professores, a obra de Darwin e suas idéias acerca do processo evolutivo são pouco conhecidas e utilizadas, contribuindo para o surgimento de disparidades entre a realidade escolar e o universo científico, o que impede as instituições de ensino de promover aos estudantes maneiras práticas de assimilar conceitos técnico-científicos, conduzindo, inexoravelmente, à compreensão da ciência com uma atividade distante do cotidiano ou, até mesmo, desnecessária (Hawking, 1995; Valadares, 2002; Bizzo & Molina, 2004; Rumjanek, 2005). Conforme o resultado verifica-se que, para o total de questionários, bem como para instituições particulares e públicas, houve eficácia ao nível de significância estabelecida (α= 5%; Tabela 4), possibilitando refutar as hipóteses 1 e 4, que pressupunham, respectivamente, não haver diferença significativa entre os pré e pós-testes, bem como na forma de compreensão, com ou sem palestra explicativa. Isto é evidenciado pelo aumento relevante de respostas com teor Darwinista e diminuição de respostas com teor dúbio, que foram confirmados pelas significâncias estatísticas verificadas pelo teste–t (Tabela 4). Este fato observado relaciona-se à indução à criatividade e admiração, através do uso de recursos que permitam extrapolar altos graus de abstração, visto que estas são pressupostos básicos ao aprendizado de Ciência, como também 283 IV Seminário de Iniciação Científica www.ueg.br www.prp.ueg.br tornar o aprendizado mais agradável, permitindo o desenvolvimento gradativo do prazer pelo raciocínio lógico e interpretativo, o que culminaria numa possível desmistificação do pensamento cientifico (Alves, 2001; Valadares, op. cit; Sagan, 2004). Apesar de mudanças significativas relativas ao número de respostas com teor Darwinista (que aumentaram) e dúbias (que diminuíram), o número de respostas relacionadas à compreensão da adaptação pela ótica Lamarckista praticamente não se alterou, o que indica que apesar de se aceitar a Evolução como fato, recorre-se, facilmente, a argumentos atribuídos a Lamarck, ou relacionados ao aumento de complexidade e/ou progresso (Angelini, 2004; Oliveira & Carvalho, 2004; Rumjanek, 2004). Uma mudança significativa deste quadro depende de uma melhor formação de professores, propiciando o surgimento de novas formas de realizar a prática docente, bem como, da maneira com que importantes idéias cientificas são explicadas, para que não haja transmissão de conhecimentos de forma simplista ou superficial que propiciam erros de interpretação (Oliveira & Carvalho, op. cit; Valadares, op. cit.). Considerações Finais: Os resultados demonstram que o uso de recursos visuais promove melhorias no aprendizado da adaptação evolutiva, denotando que há modificação nos conceitos demonstrados pelos estudantes para explicar os tópicos relacionados à teoria. Desta forma, os educadores podem recorrer aos recursos visuais para o esclarecimento de dúvidas potenciais relativos aos fenômenos biológicos. Novas formas de desenvolver a prática docente necessitam ser desenvolvidas para que a educação cumpra o papel de transformador social e não somente informacional (Valadares, op. cit; Geraque, 2006). O uso de recursos de baixo custo (como as maquetes confeccionadas para a execução deste trabalho) pode ser uma alternativa para o docente que visa aliar obras didáticas e entusiasmo dos alunos propiciando a estes maior aprendizado e interesse pelas ciências. Bibliografia 284 IV Seminário de Iniciação Científica www.ueg.br www.prp.ueg.br Alves, R.2001. Filosofia da Ciência. 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