Outubro 2015 Volume 14 | Número 2 Relatório de Estabilidade Financeira Outubro 2015 Volume 14 | Número 2 ISSN 2176-8102 CNPJ 00.038.166/0001-05 Relatório de Estabilidade Financeira Brasília v. 14 nº 2 out. 2015 p. 1-69 Relatório de Estabilidade Financeira Publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB) É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, volume 14, nº 2. Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos. Não são citadas as fontes das tabelas e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil. Atendimento ao Cidadão Banco Central do Brasil SBS – Quadra 3 – Bloco B – Edifício-Sede – 2º subsolo 70074-900 Brasília – DF Telefone: 145 (custo de ligação local) Internet: <www.bcb.gov.br/pre/portalCidadao/bcb/atendimento.asp?idpai=PORTALBCB> Sumário Prefácio5 Sumário executivo 6 1 Ambiente macroeconômico e financeiro 8 1.1Introdução____________________________________________________________________ 8 1.2 Mercados financeiros internacionais________________________________________________ 8 1.3 Mercado financeiro nacional_____________________________________________________ 12 2 Sistema financeiro 2.1Introdução___________________________________________________________________ 2.2 Liquidez_____________________________________________________________________ 2.3 Crédito______________________________________________________________________ 2.4 Rentabilidade_________________________________________________________________ 2.5 Solvência____________________________________________________________________ 2.6 Testes de estresse de capital______________________________________________________ 2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas_____________ 2.6.2 Análise de sensibilidade____________________________________________________ 2.7 Shadow banking_______________________________________________________________ 3 Sistema de Pagamentos Brasileiro 16 16 17 22 28 31 33 33 34 40 42 3.1 Desempenho do sistema de transferência de fundos sistemicamente importante_____________ 43 3.2 Desempenho dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio nos quais há uma entidade que atue como contraparte central__________ 43 4 Organização do Sistema Financeiro Nacional 4.1Introdução___________________________________________________________________ 4.2 Instituições bancárias___________________________________________________________ 4.3 Níveis de concentração no Sistema Financeiro Nacional_______________________________ 4.4 Instituições não bancárias_______________________________________________________ 4.5 Participação estrangeira no Sistema Financeiro Nacional_______________________________ 4.6 Participação de instituições financeiras brasileiras no exterior___________________________ 48 48 48 49 51 51 51 5 Regulação do Sistema Financeiro Nacional Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – Limite de aplicação no ativo permanente e limites de exposição por cliente______________________________________ Indicador de liquidez de curto prazo___________________________________________________ Razão de Alavancagem ____________________________________________________________ Instituições sistêmicas em âmbito global_______________________________________________ Modernização do Sistema de Transferência Internacional de Reais___________________________ Aplicações de investidor não residente no Brasil nos mercados financeiro e de capitais do país____ Registro de informações referentes a garantias constituídas sobre imóveis_____________________ 52 52 52 53 53 53 54 54 Boxes Índice de Liquidez Estrutural________________________________________________________ Impactos de Contágio do Setor Real no Sistema Financeiro________________________________ Atividade de Registro e de Depósito Centralizado de Ativos Financeiros______________________ Trabalhos para Discussão que Versam sobre Estabilidade Financeira_________________________ 20 36 47 56 Apêndice57 Anexo 62 Conceitos e Metodologias___________________________________________________________ 62 Conceitos e Metodologias – Estresse de capital__________________________________________ 66 Prefácio O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) é uma publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB) destinada a apresentar, com foco no risco sistêmico, os principais resultados das análises sobre o Sistema Financeiro Nacional (SFN), especialmente com respeito à sua dinâmica recente, às suas perspectivas e ao grau de resistência a eventuais choques na economia brasileira ou no próprio sistema. Esta edição concentra-se nos eventos ocorridos no primeiro semestre de 2015. Este relatório é constituído por cinco capítulos. No Capítulo 1 – Ambiente macroeconômico e financeiro –, é realizada a análise dos principais mercados internacionais e o seu reflexo no mercado financeiro nacional. O Capítulo 2 – Sistema financeiro – apresenta um panorama da exposição a riscos, da rentabilidade e da solvência das instituições e dos conglomerados que compõem o sistema financeiro brasileiro. Os testes de estresse de risco de mercado e de crédito e seus reflexos sobre a situação de solvência das instituições estão incluídos nesse capítulo. No Capítulo 3 – Sistema de Pagamentos Brasileiro –, são descritos os resultados da avaliação acerca do funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e do desempenho dos sistemas de liquidação, as principais atividades e os avanços ocorridos no período, o comportamento da liquidez intradia e o resultado dos testes de estresse dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos e valores mobiliários, de derivativos e de câmbio interbancário. O Capítulo 4 – Organização do Sistema Financeiro Nacional – analisa as principais alterações ocorridas no controle acionário de instituições financeiras. O Capítulo 5 – Regulação do Sistema Financeiro Nacional – trata das principais normas aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo BCB para regular o funcionamento do SFN. Atividade de Registro e de Depósito Centralizado de Ativos Financeiros, além dos Trabalhos para Discussão que Versam sobre Estabilidade Financeira. No mesmo endereço eletrônico onde está disponível o REF, <www.bcb.gov.br/?relestab>, encontra-se a base de dados utilizada para a elaboração dos gráficos e tabelas do Capítulo 2, além de outros dados de interesse, como a matriz de migração de classificação de crédito e comparativos internacionais dos principais Financial Soundness Indicators (FSIs). Adicionalmente, as séries temporais relacionadas a estabilidade financeira (Índice de Basileia, ativos líquidos sobre passivos de curto prazo, índice de inadimplência e retorno sobre patrimônio líquido, por exemplo) podem ser encontradas em <https://www3.bcb.gov.br/sgspub/ localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTel aLocalizarSeries>. Esta edição apresenta, também, boxes que tratam de Índice de Liquidez Estrutural (ILE), Impactos de Contágio do Setor Real no Sistema Financeiro e Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 5 Sumário executivo A evolução do cenário externo permaneceu complexa no primeiro semestre de 2015. Embora tenham sido reduzidos os riscos derivados do baixo crescimento nas economias maduras, focos de volatilidade foram observados nos mercados de moedas, de ações e de renda fixa. Os riscos associados aos mercados emergentes aumentaram no período, refletindo a desaceleração do crescimento econômico, a deterioração das condições de financiamento e, para os países exportadores de commodities, a redução dos preços das matérias-primas. Em posição mais avançada no ciclo de crescimento econômico, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos da América (EUA), sinalizou a proximidade do início da normalização da sua política monetária. Em situação menos favorável, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ) mantiveram seus programas de compras de ativos, ainda com os objetivos de estimular a recuperação econômica e de afastar o risco de deflação. Em consequência dessas diferentes dinâmicas, o dólar seguiu valorizando-se ante as principais moedas. Na Europa, o acirramento da crise na Grécia exigiu a assinatura de novo acordo com a União Europeia em julho. Na China, a economia continuou em desaceleração, registrando expressivas baixas no mercado acionário a partir de junho, que motivaram a adoção de medidas extraordinárias para a estabilização das bolsas de valores. No âmbito interno, o BCB elevou em 2,0 pontos percentuais (p.p.) a meta para a taxa Selic ao longo do semestre, a fim de impedir que o realinhamento de preços relativos, intensificados nos primeiros meses de 2015, contaminassem as expectativas inflacionárias e as desviasse da trajetória de convergência da inflação para a meta de 4,5% ao final de 2016. No sistema bancário, o risco de liquidez de curto prazo apresentou aumento no último semestre, mas permaneceu em nível confortável. O risco de liquidez estrutural não se alterou, e as operações de longo prazo continuam suportadas por fontes de recursos estáveis. Segue baixa a dependência de recursos externos. O cenário de desaquecimento econômico, elevação de juros, condições menos favoráveis no nível de emprego e redução da confiança dos consumidores e dos empresários levou à redução na demanda por crédito e à adoção de critérios de concessão mais conservadores pelas instituições financeiras, contribuindo para reduzir a taxa de crescimento da carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Mesmo nesse ambiente, a inadimplência não apresentou aumento significativo até o encerramento do semestre, ainda que, em parte, devido a cessões e renegociações de crédito. O montante de provisões continua significativamente superior à inadimplência, o que evidencia a resistência do sistema de crédito ante o cenário acima descrito. A rentabilidade do sistema bancário aumentou, influenciada por maiores margens de intermediação, com destaque para ajustes nas taxas de concessão e resultados com tesouraria. Em ambiente de condições econômicas adversas, os bancos enfrentam maiores perdas com provisões. Entretanto, seguem direcionando esforços para ganhos de eficiência e buscando fontes diversas de receita, com incremento de rendas advindas do segmento de seguros, serviços, meios de pagamento e ampliação de outros resultados de participação societária na formação do lucro líquido. A confortável situação de solvência do sistema pôde ser constatada pela estabilidade, no semestre, dos elevados níveis de capitalização e pelos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III, da introdução do futuro requerimento de Razão de Alavancagem e dos testes de estresse. Esses últimos mostraram que o sistema bancário brasileiro apresentou Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 6 adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos bem como de mudanças abruptas nas taxas de juros e de câmbio, na inadimplência ou nos preços dos imóveis residenciais. A estimativa do shadow banking brasileiro continua a mostrar que os riscos provenientes desse setor são conhecidos e limitados. Contudo, o caráter dinâmico do mercado financeiro tem levado as autoridades reguladoras a se manterem atentas à sua evolução. O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) funcionou de forma eficiente e segura no primeiro semestre de 2015. As análises de backtesting, periodicamente realizadas para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais há uma entidade que atue como contraparte central (CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre. Os demais sistemas de compensação e de liquidação de ativos também apresentaram funcionamento normal. Nos sistemas de transferência de fundos, a liquidez intradia agregada disponível continuou acima das necessidades das instituições financeiras participantes, o que garante que as liquidações ocorram com tranquilidade. da Razão de Alavancagem (RA), o estabelecimento de limites mínimos para o indicador Liquidez de Curto Prazo (LCR) e a metodologia para seu cálculo, as regras para apuração e divulgação de informações para avaliar a importância sistêmica global de instituições financeiras, além da atualização da regulamentação do capital estrangeiro no país, relativa a aplicações de investidor residente no exterior nos mercados financeiro e de capitais e da atualização da regulamentação cambial, visando a modernização do Sistema de Transferência Internacional de Reais (TIR). Cabe destacar a adoção de normas que têm por objeto o registro de informações referentes a garantias constituídas sobre veículos automotores e imóveis, com vistas a ampliar a capacidade de monitoramento das instituições do sistema financeiro bem como contribuir para o aprimoramento do processo de originação de créditos imobiliários. No início do ano, foi editada a regulação do BCB que disciplina as atividades de registro e de depósito centralizado de ativos financeiros (Circular n° 3.743, de 8 de janeiro de 2015). A consolidação desse novo arcabouço jurídico deverá agregar maior segurança às operações no âmbito do SPB, contribuindo positivamente no seu papel referente à estabilidade financeira. No tocante a composição e evolução do segmento das instituições bancárias, destaca-se a ampliação da atuação brasileira no exterior, com a aquisição de um banco suíço. Quanto às instituições não bancárias, merece destaque a continuação da redução no quantitativo de Cooperativas de Crédito, em razão de processos de incorporação e de liquidações ordinárias. O nível de concentração no segmento bancário, medido pelo Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH), manteve-se dentro do intervalo considerado como de moderada concentração, segundo referência adotada pelo BCB. No primeiro semestre de 2015, foram adotadas medidas regulatórias alinhadas à manutenção da estabilidade e à ampliação da eficiência do sistema financeiro, destacando-se a divulgação da metodologia de cálculo Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 7 Ambiente macroeconômico e financeiro 1.1Introdução No primeiro semestre de 2015, as políticas monetárias permaneceram acomodatícias nas economias avançadas, condicionadas por seus diferentes posicionamentos no ciclo econômico. Simultaneamente, os Estados Unidos da América (EUA) se aproximaram do início da normalização de sua política monetária, e outros bancos centrais de economias maduras sinalizaram a manutenção de taxas de juros nominais próximas de zero por tempo prolongado e a continuidade de seus programas de compra de ativos1. As economias emergentes, em particular a da China, continuaram em transição para um padrão de expansão econômica mais moderada. Nesse cenário, novos desafios associados ao declínio nos preços das matérias-primas e à valorização do dólar dos EUA podem exacerbar vulnerabilidades financeiras, em especial à medida que se aproxima o início da normalização da política monetária dos EUA. O ambiente de taxas de juros internacionais muito reduzidas fortaleceu as preocupações associadas à tomada excessiva de risco e ao aumento do grau de alavancagem. Aumentou a volatilidade nos mercados de bônus, nos quais a redução da liquidez favoreceu a propagação de choques para outras classes de ativos. Nesse ambiente, a atuação dos bancos centrais seguiu pautada pela contenção dos riscos à estabilidade nos mercados financeiros e seus eventuais impactos sobre o processo de retomada do crescimento econômico. 1 1.2 Mercados financeiros internacionais Os mercados financeiros internacionais reagiram a realinhamentos episódicos das expectativas sobre o início da elevação das taxas de juros nos EUA, com impactos generalizados sobre a precificação de ativos, em especial nos mercados de bônus e cambiais. De forma distinta, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ) mantiveram políticas de expansão de ativos, evidenciando a dependência de estímulos monetários adicionais para consolidação da recuperação econômica. Títulos soberanos, de forma geral, apresentaram evolução desfavorável até abril, registrando-se rendimentos negativos para papéis de menor maturidade, entre os quais os Bunds alemães. Em julho, depois de prolongado impasse, a Grécia firmou acordo com a União Europeia, referente ao terceiro programa de ajuda financeira, com duração de três anos e condicionado à implementação de reformas estruturais. O agravamento da crise grega ampliou a volatilidade nos mercados europeus, sem, contudo, acarretar impacto sistêmico importante, permanecendo contidos os indicadores de risco soberano e corporativo do continente. Na China, em meados de junho, uma onda de vendas nas bolsas de valores provocou forte recuo dos principais índices do mercado acionário, motivando a adoção de medidas pelo governo, com vistas a conter a venda desordenada de ações. 1/ Na Área do Euro, o BCE se comprometeu a manter o programa de compras de ativos pelo menos até setembro de 2016. No Japão, o BoJ não definiu uma data para encerramento do programa, mas explicitou a intenção de continuá-lo até que seja alcançada, de forma estável, sua meta de estabilidade de preços (variação anual do Índice de Preços ao Consumidor – IPC – de 2%). Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 8 Nesse contexto, os rendimentos anuais dos títulos de 10 anos dos EUA, do Reino Unido, da Alemanha e do Japão elevaram-se 18 p.b., 27 p.b., 22 p.b. e 14 p.b., respectivamente, no semestre, situando-se em 2,35%, 2,02%, 0,76% e 0,47% em 30 de junho2 (Gráfico 1.2.1). Ucrânia e a recuperação parcial nos preços do petróleo, os prêmios dos CDS da Rússia recuaram de 476 para 342 (-28%) (Gráfico 1.2.3). Gráfico 1.2.3 – CDS soberanos (5 anos) Economias emergentes p.b. 650 Gráfico 1.2.1 – Rendimento de títulos soberanos (10 anos) % a.a. 530 3,50 410 2,80 290 2,10 170 1,40 0,70 Jun 2013 Set Nov Fev 2014 EUA Abr Jun Set Alemanha Nov Fev 2015 Abr Reino Unido Jun Jun 2013 Set Fev 2014 Abr África do Sul Brasil 0,00 Japão Nov Jun Set Nov Fev 2015 Abr Rússia México Jun 50 Turquia Chile Fonte: Bloomberg Fonte: Bloomberg Os prêmios dos Credit Default Swaps (CDS) de cinco anos das economias da Área do Euro foram pouco afetados pelo ambiente de maior aversão ao risco e pelas incertezas quanto à solvência da dívida soberana da Grécia. Nesse cenário, destacou-se a elevação dos prêmios dos títulos espanhóis, que aumentaram de 96,9 p.b. para 110 p.b. no semestre (Gráfico 1.2.2). Gráfico 1.2.2 – CDS soberanos (5 anos) Economias avançadas p.b. No mercado de câmbio, o dólar dos EUA prosseguiu com a tendência altista iniciada no segundo semestre de 2014. Nesse sentido, o Dollar Index Major3 subiu 5,8% no primeiro semestre de 2015 (19,7% em 12 meses). O dólar apreciou 8,6% perante o euro e 2,3% ante o iene, depreciando 0,8% em relação à libra esterlina. Ressalvese que, no período de doze meses, o dólar acumula altas respectivas de 22,9%, 20,9% e 8,9% em relação a essas mesmas moedas (Gráfico 1.2.4). Gráfico 1.2.4 – Taxas de câmbio de economias avançadas 300 30.06.2013 = 100 240 130 180 120 120 110 60 Jun 2013 Set Nov Alemanha Fev 2014 Abr Jun França Set Nov Fev 2015 Espanha Abr Jun 100 0 Itália Fonte: Bloomberg 90 Jun 2013 Set Nov Fev 2014 Abr Jun Set Nov Fev 2015 Abr Jun Euro/dólar Iene/dólar Libra/dólar Índice dólar (major) 80 Na mesma base de comparação, observaram-se elevações nos prêmios dos CDS de economias emergentes relevantes, destacando-se as altas registradas para o Brasil, de 201 para 260; Turquia, de 184 para 225; África do Sul, de 192 para 209; e México, de 103 para 131. Ressalte-se que, com o arrefecimento do conflito na Em relação às moedas de economias emergentes e/ou exportadoras de matérias-primas, o movimento do dólar refletiu, por um lado, a expectativa de alta nos juros básicos dos EUA, por outro, a redução nos preços internacionais 2/ Destaque-se que os retornos anuais de títulos correspondentes das chamadas economias periféricas da Área do Euro, Espanha e Itália, elevaram-se 0,69 p.b. e 0,57 p.b., respectivamente, para 2,30% e 2,14%. 3/ O Dollar Index Major, índice calculado pela Intercontinental Exchange (ICE), expressa o dólar dos EUA em relação a uma cesta de seis moedas: euro, iene, libra esterlina, dólar canadense, franco suíço e coroa sueca. Fonte: Bloomberg Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 9 daqueles produtos. No semestre, destacou-se a apreciação do dólar dos EUA ante o real brasileiro (16,8%), o dólar neozelandês (15,3%), a lira turca (14,8%), o peso mexicano (6,7%) e o peso chileno (5,4%). Ante o rublo russo, o dólar desvalorizou-se 8,9% no semestre, mas, em 12 meses, a moeda russa foi a que acumulou a maior depreciação entre as principais economias emergentes, recuando 38,6% perante o dólar (Gráfico 1.2.5). Gráfico 1.2.5 – Taxas de câmbio EMEs e/ou países exportadores de commodities versus dólar dos EUA 30.06.2013 = 100 215 188 161 investimento em ações e medidas de afrouxamento monetário. Esse quadro, então, reverteu-se com vendas expressivas de ações que resultaram em recuo de 17% até o final de junho e valorização de 32,2% no semestre. A despeito das medidas editadas para conter as perdas dos investidores e mitigar os riscos para o sistema financeiro, a bolsa chinesa se manteve volátil em julho. Ainda que os impactos sobre o crescimento econômico permaneçam limitados, a fragilização de bancos e Gráfico para apresentação do Diretor corretoras envolvidos em transações de maior risco pode comprometer a confiança dos agentes na economia chinesa e acentuar a sua desaceleração. Em outros mercados, destacou-se a elevação nos principais índices do Brasil, 6,1%; do México, 4,4%; e da África do Sul, 4,1%. Foi observada retração nos índices da Indonésia, 6,1%; e da Turquia, 4,0% (Gráfico 1.2.7). 134 107 Jun 2013 Set Nov Fev Abr 2014 Real brasileiro Lira turca Rublo russo Jun Set Nov Fev Abr Jun 2015 Dólar neozelandês Peso mexicano Peso chileno Gráfico 1.2.7 – Bolsas de valores Economias emergentes 80 30.06.2013 = 100 270 230 Fonte: Bloomberg 190 Nos mercados acionários, os índices do Japão (Nikkei-225), da França (CAC 40) e da Alemanha (DAX) seguiram valorizando-se no primeiro semestre, registrando altas respectivas de 16%, 12,1% e 11,6%. No mesmo período, os índices das bolsas dos EUA (Standard & Poor’s – S&P 500) e do Reino Unido (FTSE 100) apresentaram variações, na ordem, de 0,2% e -0,7% (Gráfico 1.2.6). Gráfico 1.2.6 – Bolsas de valores Economias desenvolvidas 30.06.2013 = 100 165 150 135 120 105 Jun 2013 Set Nov Fev 2014 EUA – S&P 500 Alemanha – DAX Abr Jun Set Nov Fev 2015 Abr Jun 90 Reino Unido – FTSE 100 Japão – Nikkei 225 Fonte: Bloomberg Entre as economias emergentes, o mercado acionário chinês acumulou valorização de 59,7% entre 31 de dezembro de 2014 e 12 de junho último, refletindo, entre outros fatores, incentivos governamentais ao 150 110 Jun 2013 Set Nov Fev 2014 Abr Brasil Indonésia Jun Set África do Sul México Nov Fev 2015 Abr Jun 70 China Turquia Fonte: Bloomberg O índice Chicago Board Options Volatility Index (VIX), que mede a volatilidade implícita de curto prazo dos preços das opções do índice S&P 500, manteve trajetória declinante na maior parte do semestre. Contudo, a partir de meados de maio, o índice apresentou elevação, refletindo o acirramento do impasse entre a Grécia e seus credores, a instabilidade nos mercados financeiros chineses e a incerteza quanto ao início da alta das taxas de juros nos EUA. No final de junho, 75 o índice alcançou 18,2 pontos, comparativamente a 19,2 15 pontos no final de 2014 (Gráfico 1.2.8). Os índices Morgan Stanley Capital International (MSCI)4, referentes à valoração das ações de bancos dos EUA e da Europa, elevaram-se 2,3% e 11,6%, respectivamente, no primeiro semestre de 2015, em comparação a 7,5% e -0,9% no semestre anterior. As ações que compõem os índices 4/ Os índices refletem médias ponderadas dos preços das ações das respectivas indústrias bancárias. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 10 foram favorecidas pelos sinais de recuperação econômica, especialmente na Área do Euro, onde a concessão de crédito apresentou trajetória positiva. O MSCI referente a mercados emergentes recuou -1,5%, reforçando a retração observada no segundo semestre de 2014 (-4%), em linha com a desaceleração econômica (Gráfico 1.2.9). elevado endividamento público permanece como entrave para a recuperação econômica, principalmente na Área do Euro, onde a debilidade do nível de atividade tem afetado negativamente a dinâmica da dívida pública6. Há, porém, crescente percepção de que a política monetária expansionista vem contribuindo positivamente para a recuperação da economia bem como das expectativas. gráfico para apresentação do diretor Gráfico 1.2.8 – CBOE Volatility Index – VIX Índice de volatilidade pontos Gráfico 1.2.10 – CDS de 5 anos – Bancos Prêmios médios de países selecionados1/ p.b. 30 390 26 312 22 234 18 156 14 Jun 2013 Set Nov Fev 2014 Abr Jun Set Nov Fev 2015 Abr Jun 78 10 Jun 2013 Fonte: Bloomberg Set Nov Fev 2014 Abr Espanha Reino Unido Gráfico 1.2.9 – Índice acionário MSCI bancos 30.06.2013 = 100 Jun França EUA Set Nov Fev 2015 Abr Jun 0 Alemanha Itália Fonte: Bloomberg 1/ Calculados pela média aritmética dos prêmios de CDS dos dois maiores bancos pelo critério de capitalização de mercado de cada país. Exceção nos EUA: JPM Chase e Bank of America. 150 136 122 108 94 Jun 2013 Set Nov EUA Fev 2014 Abr Jun Europa Set Nov Fev 2015 Abr Jun 80 Economias emergentes Fonte: Bloomberg O CDS dos bancos5 aumentaram no Reino Unido (54,9%), Espanha (45,1%), Alemanha (24,6%), Itália (22,1%), EUA (11,9%) e França (9,4%), refletindo incertezas quanto à permanência da Grécia na Área do Euro (Gráfico 1.2.10). No entanto, os prêmios dos CDS permaneceram em patamares significativamente inferiores aos registrados em episódios recentes de tensão no continente, sinalizando maior resiliência do sistema bancário. O crescimento econômico global permanece contido e desigual. Nos EUA, a recuperação econômica apresenta sinais de maior sustentabilidade, em especial no mercado de trabalho, ao passo que na Área do Euro e no Japão estímulos monetários adicionais ainda são empregados. O 5/ Média aritmética dos dois maiores bancos de cada país pelo critério de capitalização de mercado. As economias emergentes, por sua vez, impactadas pela desaceleração da economia chinesa, seguem em transição para um ritmo de crescimento econômico mais moderado, com destaque negativo para as exportadoras de commodities, desfavorecidas pela redução dos preços internacionais. A cotação do petróleo, que vinha se recuperando entre janeiro e maio, voltou a recuar desde então, em cenário de oferta global abundante e arrefecimento da demanda, e segue como fonte de incertezas para o risco de crédito soberano de países exportadores e de empresas do setor energético. Nesse ambiente de recuperação econômica nas economias avançadas, de desaceleração nas economias emergentes, de redução de preços das commodities e de provável início do ciclo de alta nas taxas de juros dos EUA, com a consequente valorização do dólar, aumentou o risco de exacerbação das vulnerabilidades financeiras das economias emergentes. Por outro lado, os realinhamentos cambiais em andamento tendem, no médio prazo, a impulsionar a atividade econômica das economias que registraram desvalorização importante em suas moedas. 6/ O processo de consolidação fiscal avançou nos últimos anos, e o custo de emissão de novos papéis se reduziu substancialmente. Porém, o Fundo Monetário Internacional (FMI) (Fiscal Monitor, de abril de 2015) estimou que o ritmo da consolidação fiscal de economias avançadas recuou de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano, de 2011-2013, para 0,5% do PIB em 2014. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 11 Ainda que os riscos para as economias emergentes estejam mais evidentes, o fortalecimento dos fundamentos econômicos nas últimas duas décadas elevou a resiliência desses mercados a choques externos, tendo em vista a presença de sistemas financeiros mais robustos, com regulação prudencial mais severa e supervisão mais efetiva; mercados domésticos de títulos mais profundos e com mais instrumentos de hedge; e elevados volumes de reservas internacionais. Adicionalmente, regimes cambiais mais flexíveis em importantes mercados emergentes favorecem a mitigação de eventuais desequilíbrios nas contas externas. Embora seja relativamente baixa a probabilidade de ocorrência de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais, os riscos para a estabilidade financeira global permanecem elevados, com destaque para os derivados de mudanças na inclinação da curva de juros em economias maduras. De forma geral, a postura gradualista do Fed em seus comunicados tende a atenuar os riscos associados a correções de preços na sequência do início da elevação da taxa de juros. No mesmo sentido, a continuidade da política acomodatícia do BCE e do BoJ contribui para limitar os impactos sobre a parte longa da curva de juros dos EUA. Persiste, contudo, o risco de aumentos ocasionais da aversão ao risco com intensificação da volatilidade em mercados de ativos mais sensíveis a alterações nas taxas de juros internacionais, tais como os mercados de bônus e de câmbio. Nesse sentido, o Bank for International Settlements (BIS) tem alertado sobre a evidência de fragilidades nos mercados financeiros, dados os surtos recorrentes de volatilidade e os indícios de escassez de liquidez em mercados de renda fixa.7 favorável. Diante disso, a postura firme do BCB objetivou impedir que esses reajustes contaminassem as expectativas inflacionárias para 2016, reafirmando o compromisso com o atingimento da meta de inflação de 4,5%9 ao final de 2016. A despeito de as elevadas taxas mensais de inflação acumularem 6,17% no semestre (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA) e a acumulada em doze meses continuar em trajetória de ascensão10, as expectativas para a inflação11 entraram em trajetória decrescente. No mercado futuro de taxas de juros, as taxas mantiveram a trajetória ascendente registrada no semestre anterior. Apesar do ambiente de redução do nível de atividade12 e de moderação na expansão do crédito, as taxas referentes aos prazos mais curtos seguiram a alta da taxa básica e o discurso mais enfático do BCB de perseguir a meta de inflação para 2016. As taxas para prazos mais longos, por sua vez, acompanharam as oscilações das expectativas quanto ao início do ciclo de elevação das taxas de juros pelo Fed e as dificuldades surgidas para aprovação e implementação das medidas de ajuste fiscal anunciadas pelo governo federal. As oscilações das taxas de juros dos prazos mais curtos foram ainda maiores, o que se refletiu em alterações expressivas na inclinação da curva de juros, particularmente ao final do semestre (Gráfico 1.3.1). Gráfico 1.3.1 – Evolução das taxas de juros Taxa Selic e swap de 3 e 6 meses, 1 ano, 2 e 5 anos % a.a. 14,5 13,7 12,9 12,1 1.3 Mercado financeiro nacional O Banco Central do Brasil (BCB) prosseguiu com o ciclo de aperto monetário retomado ao final de outubro de 20148 e voltou a elevar a meta para a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual (p.p.) em cada uma das quatro reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) realizadas entre janeiro e junho, quando, então, a meta para a taxa Selic alcançou 13,75%. A intensificação do realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e a concentração do reajuste dos preços administrados tornaram o balanço de riscos para a inflação menos 7/ Relatório Anual do BIS 2014/2015, junho de 2015, Capítulo II. Disponível em <http://www.bis.org/publ/arpdf/ar2015e2.htm>. 8/ Após manter a meta para a taxa Selic em 11,0% desde abril de 2014, seguindo o aumento de 3,75 p.p., o Copom elevou-a em 0,25 p.p. em outubro e em 0,50 p.p. em dezembro. 11,3 Jul Ago 2014 Set Out Nov Taxa Selic 1 ano Dez Jan 2015 Fev 3 meses 2 anos Mar Abr Mai Jun 10,5 6 meses 5 anos Fontes: BM&FBovespa e BCB 9/ As Resoluções nº 4.237, de 28 de junho de 2013, e nº 4.345, de 25 de junho de 2014, do Conselho Monetário Nacional (CMN), fixaram, respectivamente, as metas de inflação para 2015 e 2016 em 4,5%, com intervalo de tolerância em 2,0 p.p. abaixo e acima da meta. A Resolução nº 4.419, de 25 de junho de 2015, também fixou a meta de inflação de 2017 em 4,5%, mas reduziu os intervalos de tolerância para 1,5 p.p. abaixo e acima da meta. 10/ O IPCA acumulado em doze meses subiu monotonicamente de 6,41% em dezembro de 2014 para 8,89% em junho de 2015. 11/ Segundo o relatório Focus, a mediana das expectativas de inflação (IPCA) acumulada para os próximos doze meses (suavizada) caiu de 6,61% ao final de dezembro de 2014 para 5,92% ao final de junho. Da mesma forma, a mediana das expectativas de inflação para 2016, no mesmo período, caiu de 5,70% para 5,50%. 12/ O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou queda de 2,37% no primeiro semestre, na série dessazonalizada. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 12 Ao longo do primeiro trimestre do ano, o movimento das taxas para os prazos mais longos apresentou maior correlação com o da taxa de câmbio (R$/US$), e, dada a ancoragem das taxas curtas à gradual subida da meta para a taxa Selic, isso se refletiu em alterações na inclinação da curva de juros. Ainda assim, a declividade se manteve negativa para prazos acima de um ano. No início de 2015, o real apresentava valorização em relação ao dólar norte-americano, e a nova equipe econômica reforçara o compromisso do governo com o ajuste fiscal, ao aumentar o contingenciamento de 1/12 para 1/18 para o montante de gastos mensais autorizados até a aprovação do orçamento pelo Congresso Nacional. A queda das taxas dos treasuries e o anúncio do programa de quantitative easing pelo BCE em janeiro também contribuíram para que, no Brasil, as taxas de juros de prazos mais longos recuassem. Entretanto, já ao final desse mês, uma conjunção de fatores levou à reversão desse movimento, que perdurou até meados de março: a crescente preocupação com a situação do sistema elétrico nacional e o risco de racionamento de água e de energia; a divulgação do resultado fiscal de 2014 abaixo do esperado e as crescentes dúvidas quanto à aprovação das medidas de ajuste fiscal e ao cumprimento da meta de superavit primário anunciada13; o aumento da aversão ao risco Brasil14; e a expressiva desvalorização da moeda nacional ante o dólar, que foi decorrente também do movimento ascendente das treasuries. A partir da segunda quinzena de março, entretanto, essas taxas voltaram a ceder com a expectativa de ajuste mais lento das taxas de juros de referência do Fed. Além disso, não só o BCB reafirmou que a política monetária permaneceria vigilante, mas também o dólar recuou, fatores que contribuíram para que o segmento mais longo da curva de juros fizesse o mesmo. As expectativas de inflação para 2015 seguiram sendo revistas para cima, apesar do aumento da distensão no mercado de trabalho15. A partir de maio, em razão do discurso mais enfático da autoridade monetária de se manter vigilante para assegurar a convergência da inflação à meta no final de 2016, a perspectiva sobre o aperto monetário foi revista para um ciclo maior e mais prolongado, o que levou ao aumento do trecho curto da curva de juros. A desaceleração do nível de atividade, a aprovação de medidas do ajuste fiscal16, a perspectiva de postergação do início da normalização da política monetária norte-americana e o influxo de capital estrangeiro levaram a curva de juros a ficar mais negativamente inclinada. Em junho, no cenário externo, incertezas quanto ao início da normalização da política monetária norte-americana pelo Fed, aumento da aversão ao risco com a situação da Grécia e, no cenário doméstico, dificuldades para a aprovação de medidas do ajuste fiscal, levaram a curva a ficar menos negativamente inclinada. A volatilidade das taxas de juros domésticas apresentou leve queda em relação ao semestre anterior. No início do ano, até o final de janeiro, a volatilidade das taxas longas e a das taxas de médio prazo mantiveram a trajetória de queda registrada desde outubro. No entanto, a partir de fevereiro e, principalmente, em março, a volatilidade das taxas de juros subiu, tendo a de prazo intermediário ultrapassado o pico do semestre anterior. Esse aumento refletiu os movimentos das taxas de juros ante o cenário interno mais adverso e a depreciação da taxa de câmbio17. A partir de abril, com o câmbio mais estável e uma percepção dos agentes de mercado de maior compromisso do BCB com a meta de 4,5% para 2016, a volatilidade dessas taxas diminuiu, com pequena oscilação ao final de junho, acompanhando a maior incerteza do cenário externo. Quanto à volatilidade das taxas de juros de prazo mais curto, embora tenha se mantido baixa, o discurso mais enfático do BCB levou os agentes de mercado a postergarem sucessivamente sua expectativa de encerramento da política monetária contracionista, o que impediu o recuo aos níveis registrados em meados do ano anterior (Gráfico 1.3.2). Gráfico 1.3.2 – Volatilidade das taxas de juros % a.a. 4,0 3,2 2,4 1,6 0,8 Jul 2014 Ago Set Out Nov Curto 13/ Meta de superavit primário de 1,1% do PIB em 2015 e de 2,0% em 2016. 14/ Nesse período ocorreu o rebaixamento da nota de crédito da Petróleo do Brasil S.A. (Petrobras) pela agência de classificação de risco Moody’s. 15/ A taxa de desemprego, consideradas as seis regiões metropolitanas abrangidas pela Pesquisa Mensal do Emprego (PME-IBGE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), subiu monotonicamente de 4,3% em dezembro para 6,9% em junho. No semestre, enquanto que a População Economicamente Ativa (PEA) subiu 0,7%, a população ocupada (PO) caiu 2,0%, reforçando a pressão sobre a taxa de desemprego. Dez Jan 2015 Fev Médio Mar Abr Mai Jun 0,0 Longo Fontes: BM&FBovespa e BCB 16/ Destaque-se a aprovação das Medidas Provisórias nº 664 (alterou as regras de acesso aos benefícios de pensão por morte e auxílio-doença) e nº 665 (alterou as regras de acesso ao abono salarial e ao seguro-desemprego), ambas de 30 de dezembro de 2014, aprovadas pelo Senado em 27 e 26 de maio de 2015, respectivamente. 17/ De 22 de janeiro a 19 de março a taxa de câmbio apresentou depreciação de 26,7%. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 13 O comportamento da taxa de câmbio apresentou os seguintes padrões no semestre: iniciou com ligeira apreciação e, já ao final de janeiro, apresentou forte depreciação, que perdurou até o início da segunda quinzena de março; em abril, devido à depreciação do dólar norteamericano no mercado internacional, o real acompanhou a tendência das demais moedas e se apreciou; ao final de maio, já havia atingido um patamar intermediário, prosseguindo com relativa estabilidade até o final de junho. A taxa de câmbio subiu 16,8% em dólar e 7,2% em euro, encerrando o semestre em R$3,10/US$18 e R$3,46/Euro. As principais fontes de incerteza que influenciaram a taxa de câmbio no período referem-se ao início da normalização da política monetária nos EUA e à capacidade do governo em cumprir a meta de superávit fiscal. Em março, não só a trajetória da taxa de câmbio, mas também sua volatilidade, continuavam em elevação19. Além dos fatores já citados, as dúvidas sobre o futuro do programa de swaps do BCB contribuíram para a oscilação das cotações. Em 24 de março, o BCB anunciou a não renovação do programa de swaps, porém confirmou a disposição de renovar integralmente os swaps vincendos a partir de 1º de maio de 2015, levando em consideração a demanda pelo instrumento e as condições de mercado. A partir do final de março observou-se redução da volatilidade da moeda local, embora tenha se mantido em patamares historicamente elevados. Somente em junho, com a captação da Petrobras no mercado internacional, seguida pela de outras empresas, o real voltou a se apreciar. (Gráfico 1.3.3). Gráfico 1.3.3 – Taxa de câmbio R$/US$ EUR/US$ 3,35 0,96 3,11 0,91 2,87 0,86 2,63 0,82 2,39 0,77 2,15 Jul Ago 2014 Set Out Nov Dez R$/US$ Jan Fev 2015 Mar Abr Mai Jun No semestre, o BCB efetuou leilões de swap cambial tradicional20 no valor nocional equivalente a US$58 bilhões (incluídas as rolagens de vencimentos), terminando o período com uma posição líquida (em swap) passiva em câmbio de US$110,8 bilhões21, ante US$109,6 bilhões em dezembro de 2014. O saldo de câmbio contratado registrou fluxo positivo de US$11,1 bilhões no primeiro semestre de 2015 e foi composto por entradas de US$9,8 bilhões no comercial e de US$1,3 bilhão no financeiro. O volume líquido de Investimento Direto no País (IDP)22 foi de US$30,9 bilhões. Já as reservas internacionais, no conceito de caixa, encerraram o semestre em US$368,7 bilhões, com acréscimo de 1,4% em relação ao final de dezembro de 2014. No mercado acionário, a partir de fevereiro, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) encerrou a trajetória de baixa iniciada em setembro de 2014 e fechou o primeiro semestre de 2015 com alta de 6,1% (Gráfico 1.3.4). A elevação do índice deveu-se, principalmente, à apreciação do dólar que tornou o preço das ações brasileiras atraente, favorecendo o fluxo de entrada. De fato, somente em abril, o ingresso líquido dos investimentos estrangeiros somou R$7,6 bilhões. Assim, do início do ano até 5 de maio, o Ibovespa havia acumulado alta de 16,1%. A partir de então, o índice voltou a cair, influenciado pelas incertezas quanto ao cenário internacional e ao cenário fiscal doméstico. Ainda assim, no semestre, o ingresso líquido dos investimentos estrangeiros foi de R$21,5 bilhões. Ao longo do semestre, as incertezas quanto ao início do ciclo de elevação das taxas de juros pelo Fed e a queda no nível de atividade da economia brasileira influenciaram o mercado financeiro nacional. A concentração do reajuste dos preços administrados e a intensificação do realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais tornou menos favorável o balanço 0,72 EUR/US$ 18/ Cotação da taxa de câmbio R$/US$ divulgada pelo BCB (PTAX) calculada segundo metodologia divulgada pela Circular BCB n° 3.506, de 23 de setembro de 2010, e atualizada conforme Circular BCB n° 3.537, de 25 de maio de 2011. 19/ Em 17 de março a cotação da moeda alcançou R$3,27/US$. 20/ Operação de swap cambial em que o Banco Central assume posição passiva em câmbio mais cupom cambial e posição ativa na taxa de juros doméstica (taxa Selic). 21/ Esse valor inclui a rolagem parcial do vencimento de junho, mas já em 1º de julho deve apresentar queda de US$2,6 bilhões devido à rolagem parcial do vencimento desta data. 22/ Desde abril de 2015, o Banco Central do Brasil (BCB) passou a publicar as estatísticas do setor externo da economia brasileira em conformidade com o a sexta edição do Manual de Balanço de Pagamentos e Posição Internacional de Investimento do Fundo Monetário Internacional (BPM6). Anteriormente, essas estatísticas eram divulgadas pelo BCB de acordo com a quinta edição do Manual de Balanço de Pagamentos (BPM5). Assim, o Investimento Direto Estrangeiro (IED ­– BPM5) passou a ser denominado de Investimento Direto no País (IDP – BPM6). Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 14 de riscos para a inflação. A postura vigilante do BCB, entretanto, impediu que o realinhamento de preços relativos contaminasse as expectativas inflacionárias para 2016, a despeito das dificuldades surgidas para aprovação e implementação das medidas de ajuste fiscal. Nesse cenário, as taxas de juros domésticas prosseguiram em trajetória ascendente e o real depreciou-se ao longo do período, enquanto o Ibovespa recuperou-se da queda registrada no semestre anterior. Gráfico 1.3.4 – Índice Bovespa Pontos (mil) 62 59 56 52 49 Jul Ago 2014 Set Out Nov Dez Jan Fev 2015 Mar Abr Mai Jun 46 Fonte: BM&Bovespa Adicionalmente, o BCB, por meio de seu Teste de Estresse Macroeconômico, identificou que choques adversos associados à trajetória da taxa de juros dos EUA não geram efeitos significativos no sistema financeiro brasileiro em um horizonte de seis trimestres, mesmo considerando-se que o ritmo e a transparência do processo de normalização da política monetária americana podem afetar o comportamento do Risco Brasil. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 15 2 Sistema financeiro 2.1Introdução No sistema bancário, o risco de liquidez de curto prazo apresentou aumento no último semestre, mas permaneceu em nível confortável. O risco de liquidez estrutural não se alterou, e as operações de longo prazo continuam suportadas por fontes de recursos estáveis. Segue baixa a dependência de recursos externos. No primeiro semestre de 2015, o ambiente de crédito espelhou o cenário de desaquecimento econômico, juros mais elevados, condições menos favoráveis no nível de emprego e redução no nível de confiança dos consumidores e dos empresários. Esse cenário levou à redução na demanda por crédito e à adoção de critérios de concessão mais conservadores por parte das instituições financeiras, contribuindo para reduzir a taxa de crescimento da carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Apesar do cenário, a inadimplência23 agregada do sistema não apresentou aumento significativo até o encerramento do semestre, variando 0,2 p.p. Essa variação foi, em parte, contida por renegociações de crédito e por cessões de créditos inadimplentes sem retenção de riscos24. A cobertura da inadimplência por provisões continua em nível satisfatório, o que evidencia a resistência do sistema de crédito ante o cenário acima descrito. 23/ A inadimplência é mensurada pelo quociente entre o saldo total de operações de crédito que apresentam parcelas vencidas há mais de noventa dias e o saldo total da carteira de crédito. 24/ A renegociação de crédito é um procedimento a princípio saudável para buscar ajustar o serviço da dívida à capacidade de pagamento do tomador de crédito quando essa capacidade se reduz. A cessão de créditos inadimplentes sem retenção de riscos por parte do cedente também pode representar prática adequada de gestão, por ter como objetivo a geração de valor mediante a venda definitiva de carteira problemática. No entanto, ambos os eventos reduzem o saldo total de operações inadimplentes sem que, necessariamente, haja pagamento de dívidas em atraso. A rentabilidade do sistema bancário aumentou, influenciada por maiores margens de intermediação, com destaque para ajustes nas taxas de concessão e fortes resultados com tesouraria. Em ambiente de condições econômicas adversas, os bancos enfrentam maiores perdas com provisões. Entretanto, seguem direcionando esforços para ganhos de eficiência e buscando fontes diversas de receita, com incremento de rendas advindas do segmento de seguros, serviços, meios de pagamento e ampliação de outros resultados de participação societária na formação do lucro líquido. A confortável situação de solvência do sistema pôde ser constatada pela estabilidade, no semestre, dos elevados níveis de capitalização e pelos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III, da introdução do futuro requerimento de Razão de Alavancagem, e dos testes de estresse. Esses últimos mostraram que o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos, bem como de mudanças abruptas nas taxas de juros e de câmbio, na inadimplência ou nos preços dos imóveis residenciais. A estimativa do shadow banking brasileiro continua a mostrar que os riscos provenientes desse setor são conhecidos e limitados. Contudo, o caráter dinâmico do mercado financeiro tem levado as autoridades reguladoras a se manterem atentas à sua evolução. Ainda que os testes de estresse demonstrem a adequada capacidade do sistema bancário para suportar cenários adversos, convém destacar os eventos com maior potencial de impacto e que, por essa razão, são objetos de contínuo monitoramento. Os principais fatores de risco que podem impactar ainda mais o mercado de crédito e a inadimplência estão associados aos efeitos de uma eventual deterioração mais significativa dos ambientes econômicos interno e externo, gerando pressões adicionais sobre Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 16 emprego e renda das famílias e sobre custos e receitas das empresas. Novos requerimentos de recuperação judicial de empresas como as envolvidas na operação Lava Jato e o endividamento das empresas em moeda estrangeira são exemplos de situações que demandam atenção especial. No caso do endividamento em moeda estrangeira, ressalte-se o efeito mitigador de riscos proporcionado pela existência em larga escala de hedge operacional e financeiro. Destaque-se que, para efeito das seções 2.2 Liquidez, 2.4 Rentabilidade e 2.6 Testes de estresse de capital, o escopo das análises é o sistema bancário, aqui constituído pelas instituições Banco Comercial, Banco Múltiplo, Caixa Econômica, Banco de Câmbio e Banco de Investimento, e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Os Bancos de Desenvolvimento não estão incluídos, exceto na seção 2.3 Crédito, na qual as análises envolvem todo o SFN. A seção 2.5 Solvência, por exigência regulatória vigente desde 1º de janeiro de 2015, tem como escopo o conglomerado prudencial. A seção 2.6 Shadow banking abrange também outras entidades e atividades não reguladas pelo BCB. 2.2Liquidez No semestre, o sistema bancário apresentou redução nos ativos líquidos e desaceleração do ritmo de crescimento do crédito e das captações. Nesse contexto, o risco de liquidez de curto prazo aumentou, embora permaneça em nível confortável. Já o risco de liquidez estrutural não se alterou, e as captações estáveis mantiveram-se em patamar suficiente para suportar os ativos de longo prazo. O Índice de Liquidez (IL25) do sistema reduziu-se de 2,01 para 1,73 (Gráfico 2.2.1) em decorrência da queda dos ativos líquidos e do incremento da simulação do fluxo de caixa estressado das instituições financeiras. O aumento de R$38 bilhões no fluxo de caixa estressado é explicado pela elevação da métrica que estima a expectativa de saques de depositantes em conjunto com o já mencionado aumento da exposição das instituições financeiras a riscos de mercado. A elevação da métrica, por sua vez, deriva do comportamento das captações líquidas observadas em Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e letras financeiras, insuficientes para compensar os saques em instrumentos como poupança, depósitos a vista e a prazo. Tal comportamento também reduziu o ritmo de crescimento das captações e aprofundou a mudança que vem ocorrendo em seu mix. Gráfico 2.2.1 – Índice de Liquidez un. R$ bilhões 800 2,00 640 1,60 480 1,20 320 0,80 160 0,40 0 Jan 2012 Jul Jan 2013 Jul Jan 2014 Jul 0,00 Jan 2015 Ativos líquidos Fluxo de caixa estressado Índice de Liquidez Base de dados A distribuição do risco de liquidez entre as instituições continua não causando preocupação, pois a representatividade das instituições financeiras com IL abaixo de um permanece baixa (Gráfico 2.2.2). Gráfico 2.2.2 – Distribuição de frequência para o Índice de Liquidez1/ % dos ativos do sistema 55 Os ativos líquidos reduziram-se em R$24 bilhões em decorrência da queda no estoque de títulos públicos federais detidos pelas instituições financeiras. Essa queda é explicada pelo aumento de margens depositadas em câmaras de compensação, efeito da maior exposição das instituições financeiras a taxas de juros prefixadas e dólar, e pela transferência de liquidez para os demais segmentos da economia. 25/ O IL tem como objetivo mensurar se os bancos possuem fontes suficientemente líquidas de recursos para financiar suas necessidades de caixa de curto prazo em cenário de estresse. Instituições com IL superior a um (100%) possuem ativos líquidos suficientes para suportar esse cenário. Para detalhes da definição da métrica, vide Conceitos e Metodologias, item a. 71 72 44 33 8 22 4 17 18 <0,8 3 4 0,8-1,0 13 7 5 1,0-1,2 1,2-1,4 8 9 1,4-1,6 5 1,6-1,8 9 11 12 1,8-2,0 ≥2,0 0 Índice de Liquidez Dezembro 2014 Junho 2015 1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Liquidez pertencente ao intervalo correspondente. Base de dados Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17 O risco de liquidez estrutural do sistema bancário, mensurado dessa edição do REF em diante pelo Índice de Liquidez Estrutural26 (ILE), fechou o primeiro semestre de 2015 no patamar de 1,07 (Gráfico 2.2.3), indicando que, de forma agregada, os bancos contam com fontes de recursos estáveis em níveis acima do necessário para suportar os ativos de longo prazo. Gráfico 2.2.4 – Distribuição de frequência para o Índice de Liquidez Estrutural1/ % dos ativos do sistema 70 23 56 22 42 28 Esse risco vinha aumentando nos últimos anos, decorrente do maior ritmo de expansão da carteira de crédito, principalmente por parte dos bancos públicos, e do aumento de outros ativos de longo prazo, como créditos tributários e participações societárias em companhias coligadas e controladas, fazendo com que o ILE saísse de 1,12 ao fim de 2011 para 1,06 no encerramento de 2013. Desde 2014, vem ocorrendo desaceleração do crédito e, de forma proporcional, das captações estáveis, tendência que permaneceu no primeiro semestre deste ano, sem impacto significativo na liquidez estrutural dos bancos. Gráfico 2.2.3 – Índice de Liquidez Estrutural un. R$ bilhões 5.000 1,20 4.000 1,06 3.000 0,92 2.000 0,78 1.000 0,64 0 Dez 2011 Jun Dez 2012 Jun Dez 2013 Jun Dez 2014 Jun 0,50 Recursos estáveis disponíveis Recursos estáveis necessários Índice de Liquidez Estrutural 10 8 10 < 0,8 10 8 0,8-0,9 10 11 14 0,9-1,0 14 13 1,0-1,1 1,1-1,2 10 59 1,2-1,3 57 0 ≥ 1,3 Índice de Liquidez Estrutural Dezembro 2014 Junho 2015 1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Liquidez Estrutural pertencente ao intervalo correspondente. Base de dados A dependência do sistema bancário de funding de origem externa27 continua baixa (Gráfico 2.2.5). As captações no exterior permanecem nos patamares do semestre anterior, sendo seu aumento em reais decorrente da desvalorização da moeda ante o dólar norte-americano em 2015. Em moeda estrangeira, o funding internalizado reduziu 4,5% (Gráfico 2.2.6), variação concentrada em captações livres. As captações de linhas externas vinculadas a operações de crédito interno, destinadas a repasses ou financiamentos do comércio exterior, mantiveram-se estáveis, indicando confiança no sistema financeiro brasileiro e disponibilidade de liquidez internacional. Gráfico 2.2.5 – Perfil das captações externas Como percentual das captações totais % 20 Base de dados 16 Houve melhora na dispersão do risco de liquidez estrutural das instituições (Gráfico 2.2.4), sob a ótica da representatividade do valor dos ativos. As instituições financeiras que apresentavam ILE igual ou superior a um correspondiam a 93% dos ativos do sistema no encerramento do primeiro semestre de 2015, ante 85% ao fim de 2014. O número e a representatividade das instituições financeiras que financiam parte de suas operações de longo prazo com passivos menos estáveis permaneceram praticamente inalterados. 26/ O ILE tem como objetivo mensurar se os bancos possuem fontes suficientemente estáveis de recursos para financiar suas atividades de longo prazo. Assim, instituições com ILE igual ou superior a um (100%) são menos suscetíveis a futuros problemas de liquidez. Para detalhes da definição da métrica vide boxe Índice de Liquidez Estrutural e no anexo Conceitos e Metodologias, item b. 12 8 4 Dez 2010 Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez 0 Jun 2015 Captações externas mantidas no exterior versus captações totais Captações externas que ingressam (vinculadas) versus captações totais Captações externas que ingressam (livres) versus captações totais Base de dados 27/ A métrica Captações externas mantidas no exterior versus captações totais está sendo alterada a partir desta edição do REF. Foram incluídas as captações em depósitos interfinanceiros pelas dependências dos bancos brasileiros no exterior junto a não ligadas. O indicador foi recalculado desde o início da série, resultando na elevação das captações mantidas no exterior de 5,2% para 6,2% das captações totais no fechamento do primeiro semestre de 2015. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 18 Gráfico 2.2.6 – Perfil das captações externas Valores absolutos em dólares US$ bi 250 200 150 100 50 Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez 0 Jun 2015 Captações externas mantidas no exterior Captações externas que ingressam (vinculadas) Captações externas que ingressam (livres) Base de dados Assim, o risco de liquidez agregado permanece baixo, tanto em uma perspectiva de curto como de médio prazo. A distribuição do risco de liquidez entre as instituições financeiras demonstra situação confortável, e a dependência de funding externo continua reduzida. Em suma, as instituições financeiras apresentam capacidade de suportar cenários adversos de restrição de liquidez. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 19 Índice de Liquidez Estrutural 1 Contexto do desenvolvimento da métrica A crise financeira internacional revelou fragilidades na gestão do risco de liquidez por parte dos bancos e chamou a atenção dos reguladores para a necessidade de se desenvolverem mecanismos de monitoramento e gestão desse risco, tanto no campo microprudencial quanto em âmbito sistêmico. Em resposta a essas vulnerabilidades, o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (BCBS) estabeleceu, dentro do arcabouço denominado Basileia III, dois requerimentos de liquidez. Um deles, denominado Liquidity Coverage Ratio (LCR)1, refere-se a um indicador de liquidez de curto prazo que já foi incorporado à regulamentação brasileira2 e será exigido a partir de outubro de 2015. Outro requerimento, denominado Net Stable Funding Ratio (NSFR)3, abrange a liquidez estrutural e tem recomendação de implementação a partir de 2018, conforme cronograma acordado pelos países do G-20. Buscando incorporar os conceitos do NSFR ao processo regular de monitoramento, o BCB desenvolveu o Índice de Liquidez Estrutural (ILE), proxy do indicador do BCBS. 2 Síntese dos conceitos e da metodologia O risco de liquidez estrutural ocorre quando ativos de longo prazo4 são financiados com recursos que podem 1/ <http://www.bis.org/publ/bcbs238.htm> 2/ Resolução CMN n° 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, com metodologia definida pela Circular BCB nº 3.749, de 5 de março de 2015. 3/ <http://www.bis.org/bcbs/publ/d295.htm> 4/ No risco de liquidez, são considerados de longo prazo os ativos e os passivos com maturidade acima de um ano. ser exigidos no curto e no médio prazo. Para que não ocorram problemas futuros de liquidez, esses ativos necessitam de funding compatível com sua estrutura de vencimentos. Para mensurar esse risco, construiu-se o ILE, que corresponde à razão entre os recursos estáveis disponíveis – formados pelas captações que a instituição espera manter no horizonte de um ano (recursos de terceiros) e pelo capital (recursos próprios) – e os recursos estáveis necessários – representados pelo total de ativos, até mesmo fora de balanço, com prazos acima de um ano e/ou baixa liquidez. Um índice superior a 1,0 (100%) sugere uma estrutura de funding adequada ao tipo de negócio da instituição financeira. Os recursos estáveis disponíveis e necessários são calculados com base na soma dos saldos das contas passivas (incluindo-se o patrimônio) e ativas, respectivamente, após a aplicação de fatores de ponderação5, que refletem o grau de exigibilidade6 e de liquidez7 desses componentes. As informações de prazos e contrapartes são obtidas nas centrais de registro e custódia e no Sistema de Informações de Crédito (SCR). 3 Análise da liquidez estrutural do sistema bancário Na evolução do ILE (Gráfico 1), pode-se observar os efeitos das mudanças ocorridas no Sistema Financeiro Nacional (SFN) nos últimos anos. 5/ Para detalhes dos ponderadores aplicados, vide anexo Conceitos e Metodologias, item b. 6/ Quanto maior o ponderador (0% a 100%), maior a estabilidade do funding. 7/ Quanto maior o ponderador (0% a 100%), maior a necessidade de o ativo ser financiado com recursos estáveis. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 20 A ampliação de instrumentos de captação com maior maturidade, como Letras Financeiras (LF), e aqueles direcionados a clientes de varejo – principal fonte de financiamento estável dos bancos (Gráfico 2) –, tais como emissões de letras de crédito e depósitos de poupança, elevaram a participação das captações consideradas como recursos estáveis disponíveis no passivo total, que passaram de 63% em dezembro de 2011 para 66% em junho de 2015. No lado do ativo, o crescimento de modalidades de crédito mais longas como crédito consignado e imobiliário, que constituem a principal exigência por funding estável (Gráfico 3), juntamente com o aumento de títulos de baixa liquidez8 e outros ativos de longo prazo, tais como créditos tributários e participações societárias, elevaram a necessidade por recursos estáveis, saindo de 56% dos ativos totais em dezembro de 2011 para 62% em junho de 2015. Gráfico 1 – ILE e representatividade dos componentes no balanço un. % 1,15 75 1,09 70 1,03 65 0,97 60 0,91 55 0,85 Dez 2011 Jun Dez 2012 Jun Dez 2013 Jun Dez 2014 Jun 50 Recursos estáveis necessários/ativos totais Recursos estáveis disponíveis/passivos totais ILE (eixo da esquerda) Base de dados Gráfico 2 – Evolução dos recursos estáveis disponíveis Valores ponderados R$ bilhões 4.000 O processo de alongamento de captações e concessão de empréstimos de longo prazo perde força a partir de meados de 2014, fazendo com que o ILE, que vinha se reduzindo gradativamente, esteja praticamente estável e em nível acima do mínimo desejável (1,07 em junho de 2015). Assim, pode-se afirmar que as instituições financeiras têm conseguido alongar as operações de crédito e viabilizar a continuidade do processo de intermediação financeira sem comprometer a gestão do risco de liquidez estrutural. 13% 13% 15% 22% 21% 15% 22% 24% 21% 20% 12% 22% 22% 22% 23% 41% 41% 43% 43% 43% Dez 2011 Dez 2012 Dez 2013 Dez 2014 Jun 2015 3.200 2.400 1.600 800 0 Captações varejo (< 1 ano) Captações varejo/atacado (> 1 ano) Capital Captações atacado (< 1 ano) Base de dados Gráfico 3 – Evolução dos recursos estáveis necessários Valores ponderados R$ bilhões 4.000 21% 10% 11% 21% 12% 12% 47% 47% Dez 2011 Dez 2012 19% 20% 3.200 12% 11% 12% 10% 2.400 50% 52% 51% Dez 2013 Dez 2014 Jun 2015 20% 12% 11% 1.600 800 0 Operações de crédito longo prazo Operações de crédito curto prazo TVM e derivativos Outros ativos Base de dados 8/ Títulos Públicos Federais (TPFs) vinculados a garantias e títulos privados sem liquidez no mercado secundário. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 21 2.3Crédito No primeiro semestre de 2015, o ambiente de crédito caracterizou-se pelo aprofundamento de tendências observadas no semestre anterior: desaquecimento econômico, juros mais elevados, condições menos favoráveis no nível de emprego e redução no nível de confiança dos consumidores e dos empresários. Esse cenário levou à redução na demanda por crédito e à adoção de critérios de concessão mais conservadores por parte das instituições financeiras. Tal ambiente contribuiu para reduzir a taxa de crescimento da carteira de crédito do SFN, ocorrendo, até mesmo, variação real negativa nos bancos privados. Como consequência do ambiente mais adverso, houve aumento nas taxas de inadimplência, principalmente no crédito a pequenas e médias empresas e nas linhas concedidas a pessoas físicas que apresentam maior risco de inadimplência, como cheque especial, empréstimo sem consignação e rotativo de cartão de crédito. Em todas essas situações, esse efeito foi mais pronunciado nos bancos públicos, uma vez que os bancos privados, conforme já destacado em Relatórios de Estabilidade Financeira (REFs) anteriores, vem, há alguns semestres, direcionando suas carteiras para linhas de crédito com menor inadimplência. Apesar do cenário e dos aumentos nas linhas destacadas, a inadimplência agregada do sistema não apresentou aumento significativo até o encerramento do semestre, variando 0,2 ponto percentual (p.p.). Essa variação foi em parte contida por cessões de créditos inadimplentes e renegociações de crédito. Destaca-se que o montante de provisões continua significativamente superior à inadimplência, o que evidencia a resistência do sistema de crédito ante o cenário acima descrito. Há, no entanto, diferenças relevantes entre esses indicadores de crescimento, inadimplência e provisões quando segmentados por tipo de controle, por porte de tomador ou por produto, conforme análises a seguir. O estoque de crédito doméstico28 continuou a crescer no primeiro semestre, mas a taxas cada vez menores. Até junho de 2015, o crescimento em doze meses ficou em 9,8% (Gráfico 2.3.1). Esse percentual inclui a 28/ Crédito doméstico: operações de crédito concedidas por instituições financeiras no Brasil. contribuição da desvalorização cambial, que elevou o estoque em reais das operações referenciadas em moeda estrangeira29. Descontando a inflação do período, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 8,9%, o crescimento real foi de 0,9% (Gráfico 2.3.2). Essa redução no crescimento foi observada tanto nos bancos públicos quanto nos privados. Nos públicos, a carteira de crédito doméstico encerrou junho de 2015 com variação em doze meses de 14,3%, ante 17,2% um ano antes. Nos bancos privados, apesar de o ritmo de crescimento ser bem inferior ao dos bancos públicos nos últimos três anos, também houve desaceleração no período: a variação em doze meses ficou em 4,7%, contra 5,9% no período anterior, em termos nominais. O crescimento real do crédito nos bancos públicos e privados foi de 5,0% e -3,8%, respectivamente, de junho de 2014 a junho de 2015 (Gráfico 2.3.2)30. As diferentes taxas de crescimento entre esses dois segmentos fizeram aumentar novamente a participação das instituições públicas no crédito doméstico total, que atingiu 55,0% em junho de 2015. Gráfico 2.3.1 – Crescimento anual nominal do crédito doméstico por controle % 35 28 21 14 7 Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Público Dez Jun 2013 Privado Dez Jun 2014 Dez 0 Jun 2015 Total Base de dados As taxas de juros continuaram sua trajetória de elevação no primeiro semestre de 2015 (Gráfico 2.3.3), tanto para os créditos livres quanto para os direcionados, influenciada pelo repasse, por parte das instituições financeiras, das elevações da taxa Selic31 e pela revisão 29/ Do total de operações do crédito doméstico em junho de 2015, 7,2% eram representadas por operações referenciadas em moeda estrangeira, quase sempre o dólar dos Estados Unidos da América (EUA). A desvalorização de 40,9% do real ante o dólar dos EUA no período de doze meses foi responsável por aproximadamente 2,0 p.p. do crescimento anual das operações de crédito doméstico. 30/ Valores do Gráfico 2.3.2 deflacionados, considerando a variação do IPCA. 31/ No segundo semestre de 2014, a meta para a taxa Selic variou de 11,00% para 11,75%. No primeiro semestre de 2015, variou de 11,75% para 13,75%. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 22 da política governamental para o crédito direcionado32. Aumentos foram observados em todas as modalidades de crédito, com mais intensidade naquelas que apresentam maior inadimplência, como cheque especial, rotativo de cartão de crédito e crédito pessoal não consignado. Gráfico 2.3.2 – Crescimento anual deflacionado do crédito doméstico por controle % 24 18 12 6 0 crédito33. O aumento da inadimplência foi mais relevante nos bancos públicos, embora nos bancos privados também tenha havido acréscimo, invertendo a tendência dos últimos anos (Gráfico 2.3.4). No primeiro semestre de 2015, manteve-se a tendência de diminuição da diferença entre a inadimplência dos bancos privados e a dos bancos públicos. Esse processo se iniciou em 2013, quando os bancos privados aumentaram a sua aversão ao risco e passaram a mudar a composição de sua carteira de crédito, privilegiando modalidades de menor risco de inadimplência. Por outro lado, os bancos públicos seguiram tendência contrária, o que explica, em parte, o aumento de sua inadimplência. Gráfico 2.3.4 – Inadimplência por controle % Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Público Dez Jun 2013 Privado Dez Jun 2014 Dez -6 6,0 Jun 2015 4,8 Total 3,6 Base de dados 2,4 Gráfico 2.3.3 – Evolução das taxas de juros anuais Recursos livres e direcionados 1,2 % 60 48 Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Público 12 Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez Livre PJ Livre PF Direcionado PJ Direcionado PF 0 Jun 2015 Base de dados Apesar do cenário adverso, a inadimplência não teve aumento significativo, atingindo 2,9% em junho de 2015, índice 0,2 p.p. superior a dezembro de 2014. Ressaltese, porém, que tal aumento ocorreu mesmo diante de eventos que tendem a arrefecer esse indicador, como a realização, na carteira de operações inadimplentes, de cessões sem retenção de riscos e de renegociações de 32/ Nos empréstimos direcionados, o aumento de taxas decorre da política de redução de subsídios governamentais na economia, especialmente em relação ao crédito rural e às operações com repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Dez Privado Jun 2014 Dez 0,0 Jun 2015 Total Base de dados 36 24 Jun 2013 A pré-inadimplência 34 , que constitui indicador antecedente da inadimplência, aumentou no primeiro semestre de 2015 em patamares mais elevados dos que os ocorridos nos primeiros semestres dos anos anteriores (Gráfico 2.3.5). Tradicionalmente, a pré-inadimplência aumenta no primeiro trimestre e recua no segundo. Neste ano, no entanto, não mostra sinais de recuo, tendo havido aumento atípico em junho. Esse movimento aponta para provável continuidade de pressão para aumento da inadimplência durante o segundo semestre. A cobertura da inadimplência por provisões continua satisfatória, conforme corroborado pelo cálculo do Índice de Cobertura da Inadimplência (ICI)35, uma vez 33/ Em junho de 2015, houve cessões de operações inadimplentes, sem retenção de riscos, realizadas por bancos públicos para fora do SFN. A cessão de créditos inadimplentes sem retenção de riscos implica a baixa contábil desses ativos, reduzindo o índice de inadimplência da instituição cedente. Tanto as cessões quanto as renegociações de operações inadimplentes foram mais relevantes nos bancos públicos. 34/ A pré-inadimplência é mensurada pelo quociente entre o saldo total de operações de crédito que apresentam parcelas vencidas entre 15 e 90 dias e o saldo total da carteira de crédito. 35/ O ICI mede a razão entre a provisão contabilizada e o saldo total das operações vencidas há mais de noventa dias. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 23 que a provisão é, aproximadamente, 70% maior do que a inadimplência, tanto nos bancos públicos quanto nos privados (Gráfico 2.3.6). Gráfico 2.3.5 – Pré-inadimplência 15 dias a 90 dias por controle % 6,0 4,8 inadimplência. Destaque-se que esse grupo representa mais de 95% da carteira de crédito doméstico em junho de 2015. Por outro lado, instituições financeiras com indicador inferior a 1,0 representam somente 3,1% do total da carteira de crédito doméstico (Gráfico 2.3.8). Gráfico 2.3.7 – Inadimplência, provisões e baixas para prejuízo % Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Público Jun 2013 Dez Privado Jun 2014 Dez 3,6 6,0 2,4 4,8 1,2 3,6 0,0 Jun 2015 2,4 1,2 Total Jun 2011 Base de dados Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 0,0 Jun 2015 Dez Carteira de crédito classificada nos níveis de E até H Provisões Inadimplência Créditos baixados doze meses seguintes Gráfico 2.3.6 – Índice de Cobertura da Inadimplência por segmento 3,0 Base de dados 2,4 1,8 Gráfico 2.3.8 – Distribuição de frequência para o Índice de Cobertura da Inadimplência1/ 1,2 55% 61 0,6 Jun 2011 Dez Jun 2012 Público Dez Jun 2013 Dez Privado Jun 2014 Dez 58 0,0 Jun 2015 33% 14 12 A avaliação da suficiência da cobertura da inadimplência por provisões permanece, como no semestre anterior, sendo corroborada por outras métricas, como a relação entre as provisões constituídas e os créditos baixados para prejuízo nos doze meses seguintes, ou, especialmente, pela manutenção da proporção entre as provisões constituídas e o total da carteira que apresenta maior risco, composta pelas operações de crédito classificadas nos níveis de E a H (Gráfico 2.3.7). A análise da dispersão do ICI por instituição financeira36 evidencia que a ampla maioria das instituições continua a apresentar provisões no mínimo 30% superiores à 36/ O termo instituição financeira utilizado aqui engloba tanto as instituições financeiras pertencentes a conglomerados quanto instituições financeiras independentes. Nesse teste, as cooperativas de crédito e as instituições financeiras não bancárias não foram consideradas, pois, apesar de serem em grande número, respondiam somente por 3,2% do crédito doméstico total em junho de 2015. 22% 13 11 Total Base de dados 44% 11% 8 7 <0,7 11 18 16 13 0,7≤IC<1 1≤IC<1,3 Dezembro 2014 1,3≤IC<1,6 1,6≤IC<1,9 ≥1,9 0% Junho 2015 1/ As barras indicam a representatividade da carteira e os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Cobertura da Inadimplência naquele intervalo. Base de dados Relativamente ao crédito às famílias, considerando o cenário descrito no início desta seção, importante ponto a ser avaliado refere-se à preservação da capacidade de pagamento das pessoas físicas. Nesse sentido, os indicadores de comprometimento de renda mantêm níveis relativamente similares aos observados no semestre anterior, mas com sinais que demandam atenção contínua. Observa-se que o Comprometimento de Renda das Famílias (CRF)37 indica leve alta em 2015 (Gráfico 2.3.9), influenciado por crescimento menor da renda, aumento da taxa de juros e maior participação de dívidas mais caras no total do endividamento. 37/ Divulgado no Sistema Gerenciador de Séries Temporais (SGS) – Série 19.881. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 24 Gráfico 2.3.9 – Comprometimento de renda Pessoa física % 24 23 22 22 financiamento imobiliário contratadas no âmbito do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) sofreram a maior desaceleração, impactadas pela menor disponibilidade de recursos. A queda nos depósitos de poupança levou diversos bancos a adotarem políticas de concessão mais restritivas, por meio da redução do percentual máximo de financiamento do valor do imóvel, principalmente, e do aumento nas taxas de juros. 21 Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 20 Jun 2015 Dez CRF Base de dados O Comprometimento de Renda dos Tomadores de Crédito no SFN (CRTC)38 também indica pequena elevação no semestre. Entretanto, a análise por faixa de renda aponta estabilidade, exceto na faixa de menor renda (Gráfico 2.3.10). Gráfico 2.3.10 – CR dos tomadores de crédito no SFN Pessoa física % 25 20 15 A carteira de crédito pessoal consignado retomou a tendência de redução gradual do crescimento que vinha sendo observada desde 2013, interrompida no segundo semestre de 2014 pelo aumento das concessões e refinanciamentos ocorrido em razão da elevação dos prazos máximos regulamentares do crédito consignado para servidores públicos federais e para aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)39. A retração da carteira de financiamento de veículos aprofundou-se e atingiu variação anual negativa de 8,5% ao fim do semestre. Contribuíram para essa retração, num primeiro momento, o fim da alíquota reduzida de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em dezembro de 2014, que impactou significativamente as vendas de veículos em 2015, e posteriormente o cenário de maior desemprego e queda da confiança, que atua desestimulando a aquisição de bens de consumo. 10 5 Até 3 s.m. 3 a 5 s.m. 5 a 10 s.m. Dezembro 2014 > 10 s.m. SFN Gráfico 2.3.11 – Crescimento anual do crédito Principais modalidades PF % 0 40 Junho 2015 30 Base de dados O crescimento da carteira de crédito a pessoas físicas sofreu desaceleração nas principais modalidades (Gráfico 2.3.11), consequência do cenário econômico mais adverso. A carteira de financiamento imobiliário apresentou desaceleração expressiva no segundo trimestre, embora tenha mantido a maior taxa de crescimento entre as modalidades, superior a 20% a.a. As operações de 38/ O Comprometimento de Renda dos Tomadores de Crédito considera apenas a renda das pessoas físicas que possuem endividamento no SFN. É realizado o cálculo individualizado, tomador a tomador, e, então, é utilizada a mediana. Trata-se de métrica distinta do comprometimento de renda das famílias, divulgado no SGS – Série 19.881, que computa a renda de toda a população conforme metodologia utilizada internacionalmente. Para maiores detalhes sobre o Comprometimento de Renda dos Tomadores de Crédito no SFN, ver anexo Conceitos e Metodologias, item c. 20 10 0 Dez 2012 Jun 2013 Dez 2013 Jun 2014 Dez 2014 Imobiliário Consignado Cartão de crédito Sem consignação -10 Jun 2015 Veículos Base de dados Apesar de a inadimplência da carteira de pessoas físicas ter se mantido estável no semestre, comportamentos 39/ As operações de crédito consignado para servidores públicos federais tiveram o prazo máximo elevado de 60 meses para 96 meses e para aposentados e pensionistas do INSS de 60 para 72 meses. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 25 distintos são observados nas principais modalidades (Gráfico 2.3.12). A inadimplência das operações de cartão de crédito e de crédito pessoal sem consignação, modalidades mais sensíveis a pioras no cenário econômico, apresentaram crescimento acentuado no segundo trimestre, movimento ocorrido principalmente nos bancos públicos40. O nível de atrasos da carteira de financiamento de veículos permaneceu estável no semestre, após o fim do longo ciclo de queda da inadimplência, que vinha ocorrendo nos últimos anos, consequência da adoção de políticas conservadoras de concessão pelas instituições financeiras e das baixas para prejuízo das operações de risco elevado concedidas até 2012. Nos semestres anteriores, a queda da inadimplência da carteira de veículos vinha contribuindo significativamente para a redução desse mesmo indicador para o agregado de crédito a pessoas físicas. Esse efeito cessou em 2015, com a estabilização dos atrasos. A inadimplência da carteira de crédito imobiliário apresentou comportamento semelhante ao observado nos semestres anteriores, com tendência de aumento até maio e redução acentuada em junho. Parte significativa dessa redução na inadimplência decorre das renegociações de contratos em atraso que são realizadas com maior intensidade no último mês do semestre, principalmente pelos bancos públicos. Trimestral de Condições de Crédito no Brasil (PTCC) de junho de 2015, realizada pelo BCB, indica arrefecimento adicional na oferta e na demanda de crédito. Essa retração tende a ocorrer tanto no crédito de consumo quanto no financiamento habitacional e é motivada pela deterioração das condições de emprego, pelo comprometimento de renda dos tomadores de crédito, pelo aumento da inadimplência e pela menor confiança dos consumidores. No crédito habitacional, também contribuem para esse cenário a maior taxa de juros e a menor disponibilidade de funding. Passando à análise do crédito às pessoas jurídicas, destaca-se no semestre a redução na taxa de crescimento do endividamento total das empresas não financeiras41. Tanto o crédito bancário doméstico quanto o mercado de capitais registraram queda na representatividade sobre o endividamento total. A participação da dívida contraída no mercado externo, por sua vez, aumentou de 28,9% em dezembro de 2014 para 32,2% em junho de 2015 (Gráfico 2.3.13). Esse incremento, no entanto, ocorreu como consequência da variação cambial no período e não de novas captações no exterior. Gráfico 2.3.13 – Participação no endividamento PJ Por fonte de recursos % 100 80 Gráfico 2.3.12 – Inadimplência Principais modalidades PF 60 % 40 10 20 8 6 4 Jun 2012 Dez Jun 2013 Crédito livre Mercado de capitais 2 Jun 2011 Dez 2011 Jun 2012 Dez 2012 Jun 2013 Dez 2013 Jun 2014 Dez 2014 Dez Jun 2014 Dez 0 Jun 2015 Crédito direcionado Mercado externo Base de dados 0 Jun 2015 Em relação às perspectivas para o mercado de crédito à pessoa física para os próximos meses, a Pesquisa A desvalorização do real ante o dólar pode suscitar preocupações quanto à capacidade de pagamento das empresas, porém uma avaliação mais detalhada aponta para riscos controlados numa perspectiva agregada do SFN. Observa-se que parte significativa da dívida vinculada a moeda estrangeira refere-se a empresas exportadoras, que possuem hedge natural relativo à sua atividade operacional, a companhias que utilizam 40/ A queda da inadimplência da modalidade crédito pessoal sem consignação em junho decorre de cessão sem retenção de riscos de operações inadimplentes para fora do SFN. 41/ No endividamento pessoa jurídica, são considerados o crédito bancário doméstico, o mercado de capitais (debêntures e notas promissórias) e a dívida externa. Imobiliário Consignado Cartão de crédito Sem consignação Veículos Base de dados Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 26 o mercado de derivativos local para proteger suas exposições, a corporações que pertencem a um grupo econômico com sede no exterior, o que aumentaria a possibilidade de suporte financeiro intragrupo, e, ainda, a firmas com ativos no exterior em montante relevante, que possam compensar ou justificar economicamente a exposição em moeda estrangeira. O grupo de devedores que não possui proteção cambial relevante e conhecida42 é restrito. A exposição em moeda estrangeira dessas empresas aumentou de 3,1% do PIB em dezembro de 2014 para 3,3% em junho de 2015 (Gráfico 2.3.14), refletindo a desvalorização do real no período. Para esse grupo de empresas não exportadoras, sem hedge financeiro identificado, sem suporte intragrupo e sem ativos no exterior, o impacto da variação cambial em suas dívidas pode resultar em fragilidade financeira e, ainda que até o momento não tenha se traduzido em aumento de sua inadimplência no SFN, trata-se de situação continuamente monitorada. Gráfico 2.3.14 – Dívida das empresas não financeiras Por moeda 3,1 3,1 3,3 3,6 3,3 4,0 6,4 7,3 28,8 28,1 Os bancos públicos, que vinham sustentando a oferta de crédito para as PMEs, encerraram o semestre com crescimento próximo a zero nesse segmento, e os privados apresentam retração nessa carteira desde maio de 2014. Para as grandes empresas, embora os bancos privados tenham registrado taxa de crescimento do crédito menor em 2015, em torno de 16%, os públicos mantêm ritmo próximo a 20% em relação a um ano antes. Gráfico 2.3.15 – Crescimento anual do crédito Pessoa jurídica % 36 27 18 % PIB Jun 2015 9 50 0 40 30 20 Dez 2014 crédito à pessoa jurídica, visto que a carteira de crédito para tais empresas registrou desaceleração cada vez maior, e a carteira para as de grande porte ainda indica crescimento anual de 18,7%, patamar semelhante ao observado em semestres anteriores (Gráfico 2.3.15). Jun 2012 Dez Jun 2013 Dívida em moeda estrangeira (não exportadora sem hedge - outros) Dívida em moeda estrangeira (não exportadora sem hedge - com ativo no exterior) Dívida em moeda estrangeira (não exportadora sem hedge - matriz no exterior) Dívida em moeda estrangeira (não exportadora com hedge local) Dívida em moeda estrangeira (exportadora) Dívida em moeda local Base de dados No crédito bancário doméstico, o estoque de crédito às pessoas jurídicas manteve crescimento inferior ao estoque de crédito às pessoas físicas. A análise por porte indica que as pequenas e médias empresas (PMEs)43 continuaram perdendo participação no estoque total de 42/ Para detalhes sobre os conceitos utilizados para definir cada grupo de empresas com exposição em moeda estrangeira, ver boxe Evolução do Endividamento das Empresas não Financeiras após a Crise Internacional de 2008, do Relatório de Estabilidade Financeira de setembro de 2014. 43/ A segregação por porte utilizou como proxy o valor devido das operações de crédito doméstico. As PMEs são aquelas cujas dívidas são inferiores a R$100 milhões, e as grandes, as com dívidas iguais ou superiores a R$100 milhões. Jun 2014 Dez -9 Jun 2015 PME – Total PME – Privado PME – Público Grandes – Total Grandes – Privado Grandes – Público 10 0 Dez Base de dados A inadimplência das PMEs nos bancos públicos consolidou a tendência de alta e atingiu o maior valor da série histórica no primeiro semestre de 2015, chegando a 5,2% em maio de 2015. Nos bancos privados, também se observa ascensão da inadimplência nesse segmento, embora em menor magnitude (Gráfico 2.3.16), pois medidas para reduzir o risco foram adotadas por tais instituições financeiras desde 2013. Nas empresas de grande porte, o aumento da inadimplência em 2015 foi influenciado fortemente por algumas empresas do setor de energia nos bancos privados. A pré-inadimplência 44 manteve-se em patamares superiores aos observados em períodos anteriores (Gráfico 2.3.17), o que indica provável aumento da inadimplência para ambos os portes no próximo semestre, 44/ A reversão da pré-inadimplência nas grandes empresas ao final do semestre está associada à renegociação de créditos em atraso. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 27 se os créditos que se encontram nesta situação não forem cedidos, renegociados e/ou regularizados. Gráfico 2.3.16 – Inadimplência Pessoa jurídica % 6 5 Em se tratando das perspectivas de mercado, tanto para pessoas físicas quanto para empresas, o ritmo cada vez menor de crescimento das carteiras, observado ao longo de 2014, continuou presente em 2015, o que indica manutenção do baixo crescimento do crédito no segundo semestre. Quanto à inadimplência, a eventual manutenção do cenário adverso para o crédito indica provável continuidade da tendência de aumento dos atrasos nos próximos meses. 4 2 1 Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez 0 Jun 2015 PME – Total PME – Privado PME – Público Grandes – Total Grandes – Privado Grandes – Público Base de dados Gráfico 2.3.17 – Pré-inadimplência 15 dias a 90 dias Pessoa jurídica % 5 4 3 2 1 Jun 2012 Dez Jun 2013 Total PJ Dez Jun 2014 PME Dez Jun 2015 0 Grande Base de dados Para o universo das empresas não financeiras, a Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito no Brasil (PTCC) indica uma expectativa de oferta menor de crédito para as grandes empresas ao longo do próximo trimestre, em razão das condições gerais da economia doméstica, das condições específicas da indústria/setor ou empresa e da percepção de risco de cada cliente. No caso das micro, pequenas e médias empresas, os níveis de inadimplência e de tolerância ao risco continuam sendo os principais limitadores à oferta de crédito. Do ponto de vista da demanda, o principal fator de impacto para a tomada de crédito é a redução da necessidade de investimento em capacidade instalada e, para as micro, pequenas e médias empresas, também o aumento na taxa de juros. Ainda assim, o SFN apresenta fundamentos adequados para fazer frente a esse ambiente, notadamente, políticas conservadoras na concessão de crédito, conjugadas com elevado grau de provisões em relação à inadimplência para a cobertura da eventual materialização dos riscos advindos do cenário macroeconômico. Por fim, em que pese os bons indicadores de resistência apresentados e a adequada capacidade do sistema bancário para suportar cenários adversos, evidenciada pelos testes de estresse, convém destacar os eventos com maior potencial de impacto e que, por essa razão, são objetos de contínuo monitoramento. Os principais fatores de risco que podem impactar ainda mais o mercado de crédito e a inadimplência estão associados aos efeitos de eventual deterioração mais significativa dos ambientes econômicos interno e externo, gerando pressões adicionais sobre emprego e renda das famílias e sobre custos e receitas das empresas. Novos requerimentos de recuperação judicial de empresas como as envolvidas na operação Lava Jato e o endividamento das empresas em moeda estrangeira são exemplos de situações que demandam atenção especial. No caso do endividamento em moeda estrangeira, ressalte-se o efeito mitigador de riscos proporcionado pela existência em larga escala de hedge operacional e financeiro. 2.4Rentabilidade A rentabilidade do sistema bancário apresentou elevação no primeiro semestre de 2015. O Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RSPL) do sistema bancário atingiu 14,8% a.a. em junho de 2015, alta de 1,7 p.p. em relação a dezembro de 2014. O aumento no lucro líquido (LL) do sistema foi impulsionado principalmente pelo resultado dos bancos privados, que cresceu 20,2% no período. Já o LL dos bancos públicos apresentou alta de 9,8%. No Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 28 entanto, desconsiderando resultados não recorrentes45, houve avanço moderado nos privados e recuo da rentabilidade nos públicos (Gráficos 2.4.1 e 2.4.2). Gráfico 2.4.1 – Retorno sobre o Patrimônio Líquido anual1/ 2/ Acumulado nos últimos doze meses un. % 2,2 18 2,0 15 1,8 12 1,6 9 1,4 6 1,2 Dez Jun 2009 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez Jun 2015 3 As condições econômicas adversas limitaram a expansão das carteiras de crédito, o que aumentou a relevância de fontes alternativas de receita. Permanece o crescimento da participação de rendas advindas do setor de seguros, previdência e capitalização, de meios de pagamento e serviços na formação do lucro líquido. Desse modo, a diversificação das receitas torna o sistema bancário menos dependente dos resultados de intermediação financeira e mais resiliente aos ciclos econômicos. (Gráfico 2.4.3). Gráfico 2.4.3 – Composição do resultado, antes de tributos sobre faturamento e lucro Acumulado nos últimos doze meses R$ bilhões R$ bilhões 240 120 184 90 128 60 72 30 16 0 RSPL anual RSPL anual ajustado1/ Proxy para taxa livre de risco2/ RSPL anual / proxy para taxa livre de risco (eixo da esquerda) RSPL anual ajustado / proxy para taxa livre de risco (eixo da esquerda) 1/ Desconsidera resultados não recorrentes. 2/ Para efeito de comparação com o RSPL, utilizou-se como proxy para taxa livre de risco a média anual da Selic acumulada nos últimos 36 meses, multiplicada por 0,85 para minimizar efeitos tributários. O prazo de 36 meses foi definido com base no prazo médio da carteira de crédito, principal fonte de receita do sistema bancário. Base de dados -40 Dez 2012 Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez Jun 2015 -30 Resultado com crédito Gráfico 2.4.2 – Lucro líquido e RSPL anual por controle acionário Acumulado nos últimos doze meses Resultado com tesouraria Receitas com serviços Outros resultados operacionais e não operacionais Resultado de participação societária R$ bilhões % 84 26 67 22 50 18 34 14 17 10 0 Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 6 LL bancos públicos (eixo da esquerda) LL bancos privados (eixo da esquerda) RSPL bancos privados RSPL bancos privados ajustado1/ RSPL bancos públicos RSPL bancos públicos ajustado1/ 1/ Desconsidera resultados não recorrentes. Base de dados 45/ Em novembro de 2014, o Banco do Brasil (BB) e a Cielo fundaram uma empresa de cartões. Essa operação societária gerou acréscimo de R$3,2 bilhões ao LL do sistema bancário no primeiro trimestre de 2015. Além disso, o Banco Santander obteve decisão favorável no Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito de cobrança de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) incidente sobre instituições financeiras e, assim, reverteu provisões para contingências fiscais no valor de R$4,8 bilhões. O banco realizou reforço de provisões de R$1,6 bilhão, resultando em lucro líquido não recorrente de R$3,2 bilhões em junho de 2015. Despesas administrativas (eixo da esquerda) Base de dados O resultado líquido da intermediação financeira atingiu R$181,5 bilhões, aumento de 3,1% em relação a dezembro de 2014. A margem de intermediação foi positivamente influenciada pelo resultado de tesouraria, reflexo da elevação da Selic. Entretanto, a dinâmica entre bancos públicos e privados foi distinta. A maior participação de operações direcionadas na carteira de crédito dos bancos públicos reduz a capacidade de transferir aumentos da Selic às taxas de concessão. Além disso, a elevação das despesas de provisão, reflexo do rápido crescimento das carteiras de crédito e da piora do cenário econômico, pressionou as margens líquidas. Os bancos privados, por sua vez, já vinham direcionando suas concessões para operações de menor risco de inadimplência nos semestres anteriores. No entanto, as recentes condições econômicas provocaram elevação nas despesas de provisão. Ainda assim, os ajustes nas taxas de concessão e os resultados com tesouraria superaram Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 29 as perdas com provisões, acarretando crescimento da margem líquida de intermediação (Gráficos 2.4.4 e 2.4.5). Gráfico 2.4.6 – Decomposição do índice de eficiência1/ não ajustado ao risco, por item de despesa % Gráfico 2.4.4 – Margem de intermediação financeira, por controle acionário1/ Acumulado nos últimos doze meses 64 51 % 38 12 26 10 13 8 6 Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun 2011 2012 2013 2014 2015 2011 2012 2013 2014 2015 Bancos públicos comerciais 4 Dez 2009 Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez Bancos privados (nacionais e estrangeiros) Outras despesas administrativas Instalações (manutenção, conservação, água, energia, gás e aluguel) TI, telecomunicações e comunicação Depreciação e amortização Serviços de terceiros Pessoal Índice de eficiência 2 Jun 2015 Margem bruta de intermediação financeira: bancos privados 0 1/ Mede a relação entre as despesas administrativas e as receitas de serviços e o resultado de intermediação financeira bruto. Quanto menor o índice, melhor a eficiência. Margem líquida de intermediação financeira: bancos privados Margem bruta de intermediação financeira: bancos públicos Margem líquida de intermediação financeira: bancos públicos Base de dados Margem bruta de intermediação financeira: sistema bancário Margem líquida de intermediação financeira: sistema bancário 1/ Resultado de intermediação financeira dos últimos 12 meses dividido pela média dos ativos geradores de renda de intermediação dos últimos 13 meses. Base de dados Gráfico 2.4.5 – Margem de crédito, por controle acionário Acumulado nos últimos doze meses % 18 14 A quantidade de instituições com retorno abaixo da proxy para taxa livre de risco apresentou pequeno aumento, de 72 para 74. O número de instituições com prejuízo acumulado em doze meses representou 4,0% dos ativos totais do sistema bancário, aumentando de 25 para 30 bancos no primeiro semestre de 2015, sendo 17 nacionais e 13 de controle estrangeiro (Gráfico 2.4.7). Gráfico 2.4.7 – Distribuição de frequência do RSPL anual1/ % dos ativos do sistema 11 100 7 80 4 Dez 2009 Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez 60 0 60 Jun 2015 Rentabilidade líquida das operações: bancos privados Rentabilidade líquida das operações: bancos públicos Custo de captação: bancos privados Custo de captação: bancos públicos Margem líquida de crédito: bancos privados Margem líquida de crédito: bancos públicos Base de dados No primeiro semestre, permaneceram os esforços para melhorar os índices de eficiência, principalmente nos bancos privados. No entanto, após o crescimento acentuado das receitas de serviços e a contenção de despesas administrativas observadas nos últimos períodos, resta menos espaço para ganhos adicionais de eficiência (Gráfico 2.4.6). 25 47 30 RSPL < 0 59 20 44 0 < RSPL < 0,85 * Selic Dezembro 2014 40 RSPL > 0,85 * Selic 0 Junho 2015 1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com RSPL anual pertencente ao intervalo correspondente. Base de dados No segundo semestre, os resultados da intermediação financeira devem ser positivamente impactados por ajustes nas margens de intermediação, favorecidos por maiores resultados com tesouraria e por ajustes nas taxas de concessão de crédito. Os bancos devem seguir a tendência de busca por fontes alternativas de receita como seguros, meios de pagamento, cartões e serviços diversos, porém os ganhos adicionais de eficiência devem ser Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 30 menores. Por fim, o ambiente econômico deve continuar exercendo pressão sobre os indicadores de inadimplência, com impactos diretos nas despesas de provisão. Gráfico 2.5.1 – Índices de capitalização e exigência regulatória1/ % 20 2.5Solvência A solvência do sistema bancário permaneceu estável e em patamar elevado no semestre, conforme revelam as métricas utilizadas para sua avaliação. Os índices de capitalização continuaram em níveis superiores aos requerimentos regulatórios, o que, associado aos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III e da introdução do futuro requerimento de Razão de Alavancagem, confirmaram a confortável situação de solvência do sistema. Em junho de 2015, o Índice de Basileia (IB) atingiu 16,3% (Gráfico 2.5.1), redução de 0,4 p.p. em relação a dezembro de 2014, influenciado pelos ajustes prudenciais progressivos para a adoção completa das regras de Basileia III e por mudanças de escopo de consolidação46. É importante destacar que o capital principal, considerado de melhor qualidade, continuou superando os três requerimentos de capital em vigor [capital principal (de 4,5% dos ativos ponderados pelo risco – RWA), nível 1 (de 6,0% do RWA) e capital total (de 11% do RWA)], tendo o Índice de Capital Principal (ICP) apresentado redução de 0,2 p.p. no período, para 12,1%. O Patrimônio de Referência (PR) atingiu R$664,9 bilhões em junho de 2015, aumento de 0,2% em relação a dezembro de 2014. Destaca-se como fator de elevação do PR o resultado retido de aproximadamente R$24,0 bilhões e, como redutores, os aumentos de ajustes prudenciais progressivos de BIII (R$21,1 bilhões) e de outros ajustes de avaliação patrimonial (R$5,6 bilhões), em especial as obrigações referentes a planos de previdência de benefício definido de funcionários. 46/ As Resoluções nº 4.278 e nº 4.281, ambas de 31 de outubro de 2013, estabelecem que a apuração do Patrimônio de Referência (PR) e o cálculo dos requerimentos mínimos de capital, a partir de 1º de janeiro de 2015, devem ser feitos com base nas instituições integrantes do conglomerado prudencial. A Resolução nº 4.280, de 31 de outubro de 2013, estabelece que além das instituições financeiras e das demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, devem compor o conglomerado prudencial: administradoras de consórcio; instituições de pagamento; sociedades que realizem aquisição de operações de crédito, incluindo-se imobiliário, ou de direitos creditórios, a exemplo de sociedades de fomento mercantil, sociedades securitizadoras e sociedades de objeto exclusivo; outras pessoas jurídicas sediadas no país que tenham por objeto social exclusivo a participação nas entidades mencionadas acima; e os fundos de investimentos nos quais as entidades integrantes do conglomerado prudencial, sob qualquer forma, assumam ou retenham substancialmente riscos e benefícios. 16,1 16,3 12,6 12,9 11,5 12,1 16 12 8 4 Dez 2013 Jun 2014 Dez 0 Jun 2015 Índice de Capital Principal Índice de Patrimônio de Referência Nível I Índice de Basileia 1/ As setas representam os requerimentos regulatórios para os diferentes níveis de capital. Desde janeiro de 2015, o requerimento de Nível I passa a ser de 6%, ante 5,5% que vigorou até dezembro de 2014. Base de dados O RWA aumentou 2,4% no semestre, para R$4.072,6 bilhões em junho de 2015, sendo 89% do montante total referentes a risco de crédito. As parcelas de risco de mercado e de risco operacional, essa última influenciada pelo cronograma de transição47, apresentaram crescimento percentual de 5,6% e 7,5%, respectivamente, superior à parcela de risco de crédito, que avançou 1,8%. Mesmo assim, a distribuição do cumprimento do ICP ponderado por ativos das instituições financeiras (Gráfico 2.5.2), embora mostre algum recuo em relação a dezembro de 2014, revela que todas as instituições, exceto uma de baixíssima representatividade, apresentaram nível de capital principal superior a 7% do RWA, que será o nível requerido em 2019, caso o adicional de capital principal mantenha-se nos limites inferiores estabelecidos48 no art. 8º, incisos I a IV, da Resolução nº 4.193, de 1º de março de 2013. Quando se simula a aplicação dos ajustes regulatórios de Basileia III em sua totalidade aos dados de junho de 2015, evidencia-se discreta melhora no nível de capitalização em relação aos resultados simulados para dezembro de 2014. Nesse caso, o IB projetado49 apresentaria aumento de 0,4 p.p., para 13%, com redução da necessidade 47/ Para maiores informações, ver Circular nº 3.739, de 17 de dezembro de 2014, disponível em <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/circ/2014/ pdf/circ_3739_v1_O.pdf>. 48/ A Circular nº 3.741, de 29 de dezembro de 2014, que dispõe sobre a fixação do valor do Adicional de Capital Principal (ACP), estabeleceu nos limites inferiores do art. 8º, incisos I a IV, da Resolução nº 4.193, de 1° de março de 2013, o valor do ACP que vigorará a partir de 1º de janeiro de 2016. 49/ A simulação da plena implementação de Basileia III foi ajustada e passou a deduzir os ativos intangíveis constituídos até outubro de 2013 e a adotar o fator F que vigerá em 2019 (8%), conforme artigo 4º da Resolução 4.193, de 2013. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 31 total50 de capital de R$10,7 bilhões para R$8,3 bilhões, equivalente a 1,2% do PR do SFN ou a um terço do lucro retido no semestre. A distribuição de frequência revela estabilidade no nível de capitalização das instituições financeiras (Gráfico 2.5.3.). Gráfico 2.5.4 – Distribuição de frequência para a Razão de Alavancagem ponderado por ativos1/ % 80 64 48 Gráfico 2.5.2 – Distribuição de frequência para o Índice de Capital Principal ponderado por ativos1/ 32 14 % 80 0 64 0-3% 3-5% 121 11 0 0 0 - 4,5 0 0 0 4,5-5,125 5,125-7 7-10,5 Dezembro 2014 5-7% 0 >10,5 17 16 99 7-9% 95 0 >9% Junho 2015 1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com Índice de Alavancagem pertencente àquele intervalo. Base de dados 16 8 1 32 13 Dezembro 2014 48 124 10 9 6 2 A percepção da robustez do SFN é corroborada quando se comparam métricas de estabilidade financeira entre pares internacionais. Os indicadores brasileiros, como o IB e a relação capital/ativos, uma medida mais simples de alavancagem, estão entre os maiores e colocam o país como um dos mais bem capitalizados ante os riscos assumidos (Gráfico 2.5.5). Junho 2015 1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com Índice de Basileia pertencente àquele intervalo. Base de dados Gráfico 2.5.3 – Distribuição de frequência para a projeção do Índice de Capital Principal ponderado por ativos1/ % 50 Gráfico 2.5.5 – Capital/ativos e IB Últimos dados disponíveis1/ Capital/ativos (%) 40 15 30 15 4 1 2 <4,5 0 15 112 108 8 4,5-5,125 5,125-7 Dezembro 2014 7-10,5 >10,5 USA IN 10 0 AR RU 20 SA CH 0 AU TU MX KO IT JP CA 12 ID 9 BR2/ FR 6 UK GE 3 Junho 2015 1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com Índice de Capital Principal pertencente àquele intervalo. Base de dados A solidez do SFN é também constatada quando se analisa a adequação das instituições financeiras em relação ao futuro requerimento regulatório, denominado Razão de Alavancagem51 (Gráfico 2.5.4). Verifica-se leve aumento para o indicador (0,1 p.p.), o qual alcançou 7,2% em junho de 2015, muito acima da proposta de requerimento internacional (mínimo de 3%). 50/ Em 2019, considera-se requerimento de 7% do RWA constituído sob a forma de capital principal, 8,5% do RWA sob a forma de capital nível I e 10,5% do RWA sob a forma de PR, contemplando o limite inferior do adicional de capital principal, conforme a Resolução nº 4.193, de 2013. 51/ A metodologia para apuração da Razão de Alavancagem foi definida pelo BCB por meio da Circular 3.748, de 27 de fevereiro de 2015. 10 12 14 16 18 20 22 0 IB (%) Fonte: FMI. 1/ As siglas acima correspondem a: AR = Argentina; AU = Austrália; BR = Brasil; CA = Canadá; CH = China; FR = França; GE = Alemanha; ID = Indonésia; IN = Índia; IT = Itália; JP = Japão; KO = Coreia do Sul; MX = México; RU = Rússia; SA = África do Sul; TU = Turquia; UK = Reino Unido; e USA = Estados Unidos da América. 2/ As informações divergem dos dados encontrados em <http://fsi.imf.org/Default.aspx>, em razão de serem utilizados dados de junho de 2015 do BCB, ainda não disponíveis no referido sítio. Base de dados Assim, a solvência do sistema bancário continua elevada, com níveis de capitalização adequados para suportar os riscos assumidos. Simulações da plena implementação de Basileia III e da introdução do futuro requerimento de Razão de Alavancagem reforçam essa conclusão acerca da estabilidade da solvência em patamar elevado. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 32 2.6 Testes de estresse de capital52 Com a finalidade de mensurar a resistência, bem como a capacidade de absorção de perdas causadas por eventual materialização dos principais riscos a que o sistema bancário se encontra exposto, foram simuladas alterações extremas e adversas nas principais variáveis econômicas e financeiras. Embora os efeitos não sejam lineares para todas as instituições e algumas apresentem desenquadramento em algum requerimento, como resultado das simulações, os resultados obtidos permitem concluir que o sistema bancário brasileiro apresenta adequada capacidade de suportar tanto os efeitos de choques decorrentes de cenários adversos por seis trimestres consecutivos quanto mudanças abruptas nas taxas de juros e de câmbio, na inadimplência, ou quedas generalizadas dos preços dos imóveis residenciais. 2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas A análise de cenário baseia-se na aplicação de um modelo estatístico que relaciona cenários macroeconômicos ao risco da carteira de crédito dos bancos. Nessa análise, para cada cenário são projetados, para um horizonte de seis trimestres consecutivos, o crescimento e a inadimplência da carteira de crédito. Todos os cenários se fundamentam na projeção da atividade econômica, da inflação e das taxas de juros e de câmbio, além de choques externos medidos pelo prêmio de risco Brasil e pelos juros americanos. Na Tabela 2.6.1 podem ser observadas as variáveis que compõem cada cenário analisado: Cenário Base, VAR Estressado, Quebra Estrutural e Pior Histórico. As inadimplências projetadas podem ser vistas no Gráfico 2.6.1. Os resultados do cenário VAR Estressado revelam que a inadimplência projetada atingiria, em dezembro de 2016, o máximo de 5,7%, superando as provisões atualmente existentes em 0,50 p.p. Para o cenário de quebra estrutural, na mesma data, o máximo seria de 5,8%. Tabela 2.6.1 – Cenários de estresse macroeconômico (dezembro de 2016) Jun 2015 Cenário base1/ Atividade econômica (IBC-Br) -1,6% Juros (Selic) Cenários Adversos3/ VAR estressado (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico -0,2% -4,6% -4,6% -1,9% 13,1% 12,0% 14,2% 26,4% 18,1% Câmbio (R$/US$) 3,07 3,59 4,55 4,77 3,67 Inflação (IPCA) 8,6% 5,4% 6,5% 19,8% 9,4% Desemprego (PME-IBGE) 6,9% 6,9% 10,8% 10,8% 7,4% 304 304 304 304 385 2,2% 4,0% 5,4% 5,4% 1,7% Prêmio de risco (EMBI+ Br)2/ Juros americanos (Treasury 10 anos) (1) As variáveis obtidas da pesquisa Focus são a previsão para o PIB, a Selic, o câmbio e a inflação. As demais variáveis são constantes por todo o período de projeção (exceto os juros americanos, que seguem trajetória semelhante à utilizada pelo Federal Reserve no Dodd-Frank Act Stress Testing (DFAST) 2015 para o cenário baseline ). (2) Para o VAR estressado e quebra estrutural, o prêmio de risco Brasil (EMBI+Br) máximo, igual a 572, é atingido em dezembro de 2015, retornando gradativamente ao valor inicial em dezembro de 2016. (3) Os critérios de construção de cada cenário são descritos no anexo Conceitos e Metodologias – Estresse de capital. Base de dados 52/ Para detalhes sobre o conceito de Testes de Estresse e a metodologia relacionada aos testes e cenários, refira-se ao anexo Conceitos e Metodologias – Estresse de capital. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 33 Gráfico 2.6.1 – Estresse macroeconômico Inadimplência projetada Gráfico 2.6.3 – Necessidades de capital VAR estressado % Jun 2015 Set Dez Mar 2016 Jun Set Índice de Basileia (%) % do PR 7,0 18,0 0,5 5,6 14,4 0,4 4,2 10,8 0,3 2,8 7,2 0,2 1,4 3,6 0,1 0,0 Dez 2016 0,0 Cenário Focus VAR estressado (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico Provisões constituídas (jun./2015) Jun 2015 Set Dez Mar 2016 Jun Set Dez 2016 Capital Principal (dir.) Complementar (dir.) Nível 2 (dir.) Índice de Basileia 0,0 Base de dados Base de dados Apesar de o nível projetado das variáveis do cenário VAR estressado ser maior em relação aos testes efetuados em dezembro de 2014, houve redução da necessidade de capital (Gráfico 2.6.2) por conta da redução da projeção do crescimento do crédito. Em todos os cenários, o sistema bancário permanece com seus índices de capitalização acima dos mínimos regulamentares. Gráfico 2.6.2 – Necessidades de capital VAR estressado – Evolução % do PR 0,8 0,6 0,5 0,3 0,2 0 1 2 3 4 5 6 0,0 Trimestres Data-base dezembro 2014 Data-base junho 2015 Base de dados Após seis trimestres de deterioração macroeconômica, a necessidade estimada de capitalização do sistema para que nenhum banco se desenquadre53 seria de 0,11% do PR atual do sistema (Gráfico 2.6.3). 53/ Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a, pelo menos, um dos três índices de exigência de capital: Índice de Basileia (IB), Índice de Capital de nível I (IPR1) e Índice de Capital Principal (ICP). 2.6.2 Análise de sensibilidade A análise de sensibilidade consiste na aplicação de variações incrementais nas taxas de juros e de câmbio, de aumento da inadimplência e de redução nos preços de imóveis residenciais, com o objetivo de se medir o efeito isolado das alterações de cada uma dessas variáveis sobre o capital e os índices de capitalização dos bancos, mantendo-se os demais fatores de risco inalterados. Os testes de sensibilidade às taxas de câmbio e de juros revelam que os impactos seriam irrelevantes para o sistema. O resultado dos testes de sensibilidade à materialização do risco de crédito, sumarizados no Gráfico 2.6.4, indica que, caso se repita a maior inadimplência já observada no sistema bancário brasileiro desde dezembro de 2000, próxima a 7%, a representatividade dos ativos das instituições bancárias desenquadradas seria de 0,5% do total de ativos do sistema bancário. Em uma situação de inadimplência extrema, próxima de 14,1%, as instituições desenquadradas necessitariam de um aporte de capital de 7,1% do PR do sistema para que se evitasse o desenquadramento. Na simulação de reduções sequenciais nos preços de imóveis, somente após 30% de queda – variação próxima à depreciação acumulada em três anos, ocorrida na última crise imobiliária norte-americana – uma instituição ficaria desenquadrada. Em relação à insolvência, seria necessária uma queda de mais de 45% para que uma instituição ficasse com seu capital principal negativo. O Gráfico 2.6.5 detalha os resultados. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 34 As análises de sensibilidade confirmam que o sistema bancário brasileiro apresenta elevada resistência, uma vez que o Índice de Basileia do conjunto de instituições bancárias somente se situa abaixo do mínimo regulamentar em situações extremamente adversas. Gráfico 2.6.4 – Análise de sensibilidade Risco de crédito 33,2 18 23,9 16 0,4 0,0 0,0 16,3 14 13,1 12 10 Maior inadimplência Provisão observada constituída (desde dez./2000) atual 8 6 4 6,1 2 0,6 0,4 0 3 5 7 9 11 Inadimplência média do sistema (%) 13 Necessidade de capital (% do capital total): Bancos desenquadrados (% do ativo total) Nível II Complementar Bancos em insolvência (% do ativo total) Principal IB estressado (%) Base de dados Gráfico 2.6.5 – Análise de sensibilidade Risco de crédito imobiliário residencial 23,6 23,5 23,5 0,0 0,0 16,3 8,6 Queda (%) acumulada do S&P Case-Shiller 10 (EUA) durante a crise.do subprime (abr./2006 a mai./2009) 17,1 0,8 27,9 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Queda no preço dos imóveis (%) Necessidade de capital (% do capital total): Nível II Bancos desenquadrados (% do ativo total) Complementar Bancos em insolvência (% do ativo total) Principal IB estressado (%) IB Estressado (%) Base de dados Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 35 Impactos de Contágio do Setor Real no Sistema Financeiro Na busca constante de desenvolvimento e aperfeiçoamento de ferramentas de monitoramento do Sistema Financeiro Nacional (SFN), o BCB construiu uma metodologia de contágio para estimar riscos e potenciais impactos provenientes de default de empresas do setor real da economia no sistema financeiro. A metodologia visa estimar o impacto, sobre o SFN, não só das empresas em análise, mas também daquelas que integram a sua rede de conexões, quer sejam, os seus fornecedores, prestadores de serviços e funcionários que, potencialmente, seriam afetados direta ou indiretamente, em caso de default. Com base na estimação dos impactos derivados das exposições do sistema financeiro ao grupo de empresas e famílias, busca-se também estimar o contágio interfinanceiro, representado pelo impacto de problemas em uma instituição financeira no restante do sistema. Este boxe descreve a metodologia empregada e apresenta o resultado de sua aplicação na estimativa de possíveis efeitos do default de empresas citadas na Operação Lava Jato1. 1) Rede e contágio no setor real da economia O desafio de estruturação de uma rede de conexões no setor real da economia e a avaliação do impacto do default que uma ou mais empresas podem gerar não se limita a identificar suas conexões diretas e relevantes com fornecedores e prestadores de serviço, mas também as conexões destes últimos com seus próprios fornecedores e prestadores de serviço, e assim sucessivamente. Cada empresa tem relacionamentos financeiros e comerciais com diferentes fornecedores e prestadores de serviços. Identificar e avaliar a natureza e a relevância de cada um deles e estimar sua interdependência são processos complexos. Uma forma de aquilatar esses relacionamentos e estimar uma medida de dependência econômica entre as empresas é partir da análise dos fluxos de pagamentos e recebimentos entre empresas, calculando a relevância dos pagamentos de uma empresa no total recebido por outra, em certo período de tempo. Essa estimativa foi feita utilizando-se o somatório das Transferências Eletrônicas Disponíveis (TED), registradas no Sistema Brasileiro de Pagamentos (SPB). A representação de uma rede de conexões de empresas do setor real pode ser vista na Figura 1. Com essa medida, é possível estimar a rede de conexões das empresas a partir de determinado grau de dependência. A última etapa da formação da rede de conexões é associar a cada empresa potencialmente impactada a força de trabalho empregada, para o que foram utilizados os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). 1/ Operação Lava Jato é o nome de uma investigação realizada pela Polícia Federal do Brasil, cuja deflagração da primeira fase ostensiva deu-se em 17 de março de 2014. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 36 Figura 1 – Rede de conexões do setor real Cada esfera representa um grupo econômico. O tamanho delas é proporcional à sua participação no fluxo de transferências do SPB. As cores das arestas refletem a importância do fluxo de TED para a empresa recebedora – quanto mais vermelho, maior a importância e maiores as chances de contágio. Nem todos os grupos estão representados. Nos casos em que a empresa é integrante de um grupo econômico, a análise pode ser feita pelo grupo, e não pelas empresas individualmente. O mapeamento das empresas em grupos econômicos é realizado com a utilização de fontes diversas, tais como informações de participação societária provenientes da Receita Federal, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e publicações em demonstrações financeiras. 2) Impactos e contágio no Sistema Financeiro Nacional Na sequência, são avaliadas as exposições do sistema financeiro a cada empresa da rede e seus funcionários. Essas exposições são obtidas de diversas fontes, dependendo de sua natureza, entre elas: • crédito e garantias prestadas no país (fonte: BCB/SCR); •debêntures e notas comerciais (fonte: Cetip, BMF&Bovespa); •dívida externa – BCB/Sistema Câmbio (ROF). Estabelecida a rede de conexões do setor real e identificada sua exposição no SFN, é possível simular os efeitos de contágio causados pela quebra de um ou mais grupos econômicos simultaneamente, incluindo-se o impacto de seus fornecedores e prestadores de serviço diretos e de todas as demais empresas que indiretamente dependam deles de forma relevante, além dos empregados de cada uma dessas empresas. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 37 As exposições das empresas e de seus empregados são o ponto de partida para medir o impacto no SFN. Por meio delas, tem-se a estimativa do impacto sobre cada instituição financeira. Entretanto, caso uma determinada instituição financeira2 não possua capital suficiente para suportar as perdas simuladas e entre em default, um novo processo de contágio, agora no sistema financeiro3, é iniciado. O sistema entra em equilíbrio quando não são observadas quebras adicionais de instituições financeiras. As interconexões entre IFs estão representadas na Figura 2. Figura 2 – Rede interfinanceira As esferas azuis referem-se aos Bancos Múltiplos e Comerciais, as verdes, aos Bancos de Desenvolvimento, as vermelhas, aos Bancos de Investimento, as laranjas, às Cooperativas de Crédito e Financeiras, e as amarelas, às Corretoras e empresas de leasing. 3) Aplicação: estimativas dos efeitos da Operação Lava Jato no Sistema Financeiro Nacional Uma aplicação recente do modelo de contágio adotado pelo Banco Central, descrito neste boxe, é a avaliação da resistência do sistema financeiro a possíveis impactos do default das empresas citadas no âmbito da Operação Lava Jato (construtoras, empreiteiras e grupos econômicos de que fazem parte). Tomando-se por base esse grupo, foi formado um subgrupo de empresas mais vulneráveis denominado Grupo B. Para compor o Grupo B, foram considerados fatores como: (i) classificação média de risco no SCR; (ii) existência de pedido de recuperação judicial; (iii) ocorrência de default no pagamento de títulos no país ou no exterior; e/ou (iv) elevada dependência da Petrobras em sua geração de receitas (Figura 3). O exercício contemplou vários cenários, até mesmo com premissas extremamente conservadoras, como o default de todas as empresas integrantes dos grupos econômicos selecionados e de todas as empresas e grupos econômicos que fazem parte da rede de conexões desses grupos, incluindo-se os funcionários de todas as empresas. Além disso, foram simuladas perdas integrais em caso de default, desconsiderando garantias, seguros e outras formas de mitigação de prejuízos. Destaca-se que os grupos econômicos atuam em vários setores da economia, e nem todos os setores foram envolvidos ou alcançados pelos eventos em debate. Ademais, os modelos de negócios são, em sua maioria, 2/ O conceito de instituição financeira abrange os conglomerados (grupos) financeiros. 3/ A rede do SFN é construída a partir das exposições que os conglomerados financeiros têm entre si. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 38 estruturados com um conjunto razoável de garantias do próprio empreendimento, o que pode reduzir significativamente o contágio de eventual evento extremo. Figura 3 – Representação do modelo SFN Rede de conexões do setor real 1º nível Inad. 2º nível (contágio SPB) Perda Impacto direto Grupos econômicos Fornecedores impactados 3º nível (contágio interfinanceiro) Inad. Inad. Perda • • • • Formação dos grupos econômicos Definição dos grupos “vulneráveis” Cadeia de contágio pela dependência de pagamentos Informações do SPB Impacto no emprego Perda Fontes de dados das exposições Impacto direto • • • • • Pessoas ligadas às empresas SCR ROF Sisbacen Cetiip BM&FBovespa Mesmo com o elevado grau de conservadorismo, as simulações realizadas indicam que o sistema financeiro teria condições de absorver os impactos de default das empresas mais vulneráveis citadas na Lava Jato e seu respectivo contágio, incluindo o inadimplemento de empresas fornecedoras e dos seus funcionários. Embora a rentabilidade fosse bastante afetada, nenhuma instituição financeira ficaria insolvente, e o impacto geraria necessidade de capital de R$130 milhões para o reenquadramento de instituições financeiras. Mesmo ampliando a hipótese de default para todas as empresas citadas, seus respectivos grupos, rede de conexões e funcionários, o SFN continuaria mostrando alta resistência, com nenhuma instituição insolvente e uma necessidade de capital para reenquadramento de R$3,4 bilhões, o que equivale a 0,4% do PR atual do sistema. Evidentemente que, nas hipóteses mais extremas, a rentabilidade do SFN seria impactada de forma ainda mais severa. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 39 2.7 Shadow banking Embora o shadow banking brasileiro continue apresentando baixa representatividade em relação ao sistema financeiro, as autoridades reguladoras nacionais entendem a importância de identificar e monitorar as entidades ou atividades que apresentem riscos característicos deste segmento. Assim, a partir desta edição do REF será incluída uma seção específica sobre esse tema, nos moldes do boxe “Shadow banking no Brasil”, publicado no Relatório de Estabilidade Financeira em março de 201554. No boxe foram apresentadas duas estimativas para o shadow banking: uma ampla, outra estrita. Importa destacar que essas métricas estão em constante aperfeiçoamento pelos reguladores nacionais e internacionais, a fim de melhor estimar o objeto em debate; logo, os valores apresentados nesta seção não são exatamente aqueles divulgados no boxe55. A estimativa ampla do shadow banking no Brasil compreende ativos financeiros de entidades não bancárias que fazem intermediação de crédito, cujas atividades podem estar envolvidas em transferência de risco de crédito, alavancagem e transformação de maturidade e de liquidez. Fazem parte dessa estimativa as seguintes entidades: fundos de investimento, fundos de investimento em direitos creditórios, fundos de investimento imobiliário, corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários, companhias financeiras – sociedades de arrendamento mercantil, sociedades de crédito imobiliário e sociedades de crédito ao microempreendedor –, sociedades de capitalização e credenciadores não bancários de cartão de crédito. A medida estrita, por sua vez, tem por objetivo mensurar os ativos financeiros relacionados a todas as atividades que representem riscos típicos de shadow banking e que estejam no balanço de qualquer entidade fora do sistema bancário tradicional, independentemente da sua forma ou natureza legal. Assim, a medida estrita resulta de um refinamento que classifica as entidades 54/ Disponível no sítio <http://www.bcb.gov.br/htms/estabilidade/2015_03/ refC6P_1.pdf>. 55/ Segundo a metodologia do FSB, a métrica atual do shadow banking estrito baseia-se no conceito de atividades econômicas, e não apenas em entidades, o que permite aumentar o foco do monitoramento na intermediação de crédito do segmento não bancário que realmente apresenta riscos de shadow banking. Mais informações sobre essa metodologia estão disponíveis em <http://www.financialstabilityboard. org/wp-content/uploads/r_130829c.pdf>. em funções econômicas que detenham esses tipos de riscos (Tabela 2.7.1). Os ativos financeiros das entidades que compõem o shadow banking estrito brasileiro totalizaram R$389,13 bilhões em 2014, ante R$338,38 bilhões em dezembro de 201356. Desse montante, os fundos de investimento representavam 79,3%. Em 2014, o shadow banking estrito cresceu 15,0%, influenciado principalmente pela expansão dos ativos financeiros dos fundos multimercados e referenciados, selecionados conforme os critérios apresentados na Tabela 2.7.1, e dos seguros de crédito, na ordem, 33,9%, 22,9% e 18,8%. No que tange à interconectividade, apenas 0,3% dos ativos financeiros do sistema bancário estavam aplicados nas entidades do shadow banking estrito, e as captações do setor bancário provenientes desse setor – principalmente por meio de letras financeiras – representavam apenas 2,0% dos ativos financeiros bancários (Tabela 2.7.2) em dezembro de 2014. Entretanto, para as entidades do shadow banking estrito, essa interconectividade é mais importante, uma vez que elas investem 25,5% dos seus ativos nos bancos. As estimativas correntes do shadow banking estrito no país possibilitam deduzir que o setor ainda é pouco relevante no sistema financeiro brasileiro, representando 6,6% do total dos ativos financeiros do sistema bancário tradicional e 7,0% do PIB do país. Em relação aos riscos desse segmento, o de maior relevância é o de liquidez, sobre o qual a CVM estabelece regras para os fundos de investimento, com o objetivo de mitigar os riscos de corrida. Como exemplo, é possível citar os mecanismos de gestão de risco de liquidez, incluindo-se a realização de testes de estresse de liquidez57, a marcação a mercado de cotas e de ativos e a suspensão de resgates em situações de estresse de liquidez. 56/ No REF de março de 2015, os ativos financeiros do shadow banking estrito alcançaram R$382,0 bilhões em dezembro de 2013. 57/ A metodologia do Indicador de Resgate em Situações de Estresse da CVM está disponível em http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/ menu/acesso_informacao/serieshist/estudos/anexos/Teste-de-Estressede-Liquidez-para-Fundos-de-Investimento_vfinal.pdf. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 40 Tabela 2.7.1 – Estimativa do shadow banking estrito no Brasil Função econômica Descrição das atividades típicas Entidades Ativos (R$ milhões) 1 Veículos de investimento coletivo sujeitos a corridas. Compreende os fundos de investimento envolvidos em intermediação de crédito com transformação de maturidade/liquidez e/ou alavancagem. Fundos de investimento com alavancagem superior a 25% ou razão entre ativos líquidos e ativos financeiros totais menor que: - 37% no caso dos fundos referenciados; - 28% no caso dos fundos de renda fixa; e - 26% no caso dos fundos multimercado. 308.772 2 Concessão de crédito com funding de curto prazo. Sociedades de arrendamento mercantil, sociedades de crédito ao microempreendedor, sociedades de crédito imobiliário e sociedades de crédito imobiliário repassadoras não ligadas a conglomerados bancários, cuja razão crédito sobre ativos financeiros seja superior a 10%. Embora essas entidades sejam reguladas e supervisionadas pelo BCB de forma similar às entidades bancárias, foram incluídas pela possibilidade de estarem envolvidas na concessão de crédito e não possuírem acesso direto às linhas de liquidez do BCB nem ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC), em linha com os padrões internacionais. 2.917 3 Atividades de intermediação de mercado dependentes de funding de curto prazo ou de funding com garantia de ativos de clientes. Corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários não ligadas a conglomerado bancários. Essas entidades, reguladas e supervisionadas pelo BCB de forma similar às entidades bancárias, foram incluídas nessa função econômica por se envolverem em financiamentos a seus clientes com funding de curto prazo. 5.697 4 Facilitação de concessão de crédito. Compreende os seguros celebrados em paralelo a um contrato de empréstimo ou financiamento sem os quais a concessão do crédito fica dificultada ou mesmo inviabilizada. Seguradoras. Nas demais funções econômicas, foram considerados os ativos financeiros totais das entidades. Nesta, tendo em vista a pouca relevância do risco de crédito no balanço das seguradoras, foram consideradas apenas as provisões técnicas dos ramos de seguro que se enquadram no conceito dessa função econômica. Os códigos desses ramos são: 0739, 0740, 0745, 0747, 0748, 0749, 0750, 0775, 0776, 0819, 0859, 0860, 0870, 0977, 1061, 1065, 1068, 1101, 1102, 1103, 1104, 1105, 1106, 1107, 1108, 1109, 1130, 1162, 1163 e 1377. Para maiores detalhes, consulte o Sistema de Estatísticas da Susep, disponível em http://www2.susep.gov.br/menuestatistica/SES/principal.aspx. 16.393 5 Intermediação de crédito baseada em securitização e funding de entidades financeiras. Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). Os FIDCs da Vale e da Petrobras foram excluídos, pois são usados eminentemente para gestão de caixa dessas empresas. 55.350 389.129 Fontes: BCB, CVM e Susep Tabela 2.7.2 – Interconectividade1/ entre o sistema bancário2/ e o shadow banking estrito Dezembro de 2014 Ativos financeiros Bancos investindo no SB SB investindo em bancos % dos ativos bancários 0,3 2,0 % dos ativos do SB 4,0 25,5 Fonte: BCB 1/ As operações compromissadas com Títulos Públicos Federais, muito embora sejam consideradas na medida do tamanho do shadow banking estrito, são desconsideradas na medida de interconectividade, haja vista o elevado grau de liquidez dos ativos-lastro. 2/ Apenas bancos e conglomerados bancários. Base de dados Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 41 3 Sistema de Pagamentos Brasileiro O SPB58 funcionou de forma eficiente e segura no primeiro semestre de 2015. Conforme divulgado no Comunicado nº 25.097, de 10 de janeiro de 2014, os sistemas que desempenham as atividades de registro, depósito centralizado, processamento e liquidação de operações têm sua segurança, eficiência, integridade e confiabilidade monitorados e avaliados com base nos Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro (Principles for Financial Market Infrastructures – PFMI), publicados pelo Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações Internacionais (CPSS/BIS) e pelo Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores (TC/IOSCO). O Comunicado nº 27.115, de 20 de janeiro de 2015, divulga os sistemas em funcionamento no âmbito do SPB, bem como os princípios com base nos quais cada sistema é avaliado. As análises de backtesting, periodicamente realizadas para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira (BM&FBovespa – Ações, Câmara BM&FBovespa, BM&FBovespa – Câmbio e BM&FBovespa – Ativos), nos quais há uma entidade que atua como contraparte central (CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre. No que tange às garantias exigidas nesses sistemas, não foi observada deficiência de cobertura do risco de crédito apresentado pelos participantes. Os cenários utilizados para o cálculo de garantias foram satisfatórios, quando comparados às variações dos fatores de risco efetivamente ocorridas no mercado. Os demais sistemas de compensação e de liquidação de ativos (Selic, Cetip, CIP-C3 e Sistema de Registro da BM&FBovespa) também apresentaram funcionamento normal. Nos sistemas de transferência de fundos, a liquidez intradia agregada disponível continuou acima das necessidades das instituições financeiras participantes, o que garante que as liquidações ocorram com tranquilidade, sobretudo no que diz respeito ao Sistema de Transferência de Reservas (STR). Os demais sistemas de transferência de fundos (CIP-Sitraf, CIP-Siloc, Compe, Cielo e Rede) também apresentaram funcionamento normal. Como decorrência do novo marco normativo de arranjos e instituições de pagamento, os instituidores de arranjos de pagamento sujeitos a pedido de autorização ao BCB tiveram até 1º de dezembro de 2014 para ingressar com os pedidos. Foram recebidos cerca de quarenta pedidos de autorização de arranjos e setenta de instituições de pagamento. O processo de autorização é a primeira ação de vigilância do BCB sobre os arranjos e as instituições de pagamento integrantes do SPB. Os pedidos de autorização encontram-se em análise, ao final da qual se decidirá pelo seu deferimento ou indeferimento. Caso necessário, o BCB poderá requerer ajustes nas regras do arranjo ou no modelo de negócio da instituição de pagamento para que os pedidos sejam aprovados, sempre observando os princípios estabelecidos na Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, e os objetivos prescritos pelo CMN. 58/ O SPB compreende as entidades, os sistemas e os procedimentos relacionados com as atividades de registro, depósito centralizado, processamento e liquidação de operações, de que tratam a Circular nº 3.057, de 31 de agosto de 2001 e a Circular nº 3.743, de 8 de janeiro de 2015, bem como os arranjos e as instituições de pagamento de que tratam as Circulares nº 3.682 e nº 3.683, ambas de 4 de novembro de 2013. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 42 3.1 Desempenho do sistema de transferência de fundos sistemicamente importante Durante o primeiro semestre de 2015, o funcionamento do STR foi normal, apresentando, ao final do período, índice de disponibilidade próximo de 100,0%, dentro da meta regulamentar estabelecida para sistemas desse tipo, de, no mínimo, 99,8% de disponibilidade. Um perfil de distribuição intradia de operações (Gráfico 3.1.1) mais bem distribuído ao longo do dia contribui para mitigar riscos operacionais. Embora o principal período de concentração tenha ocorrido entre 16h e 17h30 (que representa 26,4% do total)59, também houve significativa concentração de transações no período entre 10h e 11h30, (que representa 23,4% do total). confortável para garantir a fluidez dos pagamentos. O volume e a distribuição de liquidez foram adequados para garantir a liquidação das ordens de transferência de fundos, não havendo ocorrência de travamento de pagamentos (gridlock) no período considerado. Gráfico 3.1.2 – Necessidade de liquidez intradia R$ bilhões 1.200 960 720 480 240 Jul 2014 Ago Set Out Nov Jan 2015 Fev Mar Abr Mai Jun 0 Títulos livres Compulsórios Reservas início de dia Gráfico 3.1.1 – STR Quantidade – Perfil intradia (1º semestre de 2015) % Dez Necessidade efetiva de liquidez % acumulado 100 15 Tabela 3.1.1 – STR Necessidade efetiva de liquidez Percentual da necessidade efetiva 2014 2015 2º semestre 1º semestre 12 80 9 60 disponibilidade total de liquidez 6 40 De 0% a 10% 103 89,6 103 88,7 De 10% a 20% 12 3,8 14 4,1 De 20% a 30% 6 2,0 6 2,0 De 30% a 40% 4 1,0 4 1,3 De 40% a 50% 2 0,8 3 1,1 Faixa: média +/- desvio-padrão De 50% a 60% Percentual médio 2 0,9 2 0,8 De 60% a 70% 2 0,8 1 0,7 De 70% a 80% 1 0,8 1 0,7 De 80% a 90% 1 0,2 1 0,6 De 90% a 100% 2 0,1 2 0,1 135 100,0 137 100,0 20 3 0 6:30 8:00 9:30 11:00 12:30 14:00 15:30 17:00 18:30 0 20:00 Percentual médio acumulado Os títulos públicos permaneceram como a principal fonte de liquidez intradia do sistema no primeiro semestre de 2015 (Gráfico 3.1.2). Em média, a necessidade de liquidez intradia agregada do sistema ficou em 3,2% da liquidez intradia disponível. Não houve alterações significativas na distribuição da necessidade efetiva de liquidez intradia (Tabela 3.1.1) entre o segundo semestre de 2014 e o primeiro semestre de 2015. Com 117 das 137 instituições financeiras na faixa de baixo percentual de necessidade de liquidez (inferior a 20%), dezessete na faixa de percentual intermediário de necessidade de liquidez (entre 20% e 80% do potencial) e três com necessidade de liquidez acima de 80% do potencial, mas com apenas 0,7% dos pagamentos totais efetuados, o cenário de distribuição de liquidez permanece 59/ O percentual reportado é a soma dos percentuais médios de três períodos de meia-hora consecutivos, informados no Gráfico 3.1.1. de liquidez em relação à Total Nº de IF % 1/ Nº de IF % 1/ 1/ Participação percentual dos pagamentos efetuados pelas instituições que se enquadram na classe em relação ao giro financeiro total. 3.2 Desempenho dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio nos quais há uma entidade que atue como contraparte central Para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira nos quais há uma entidade que atue como CPC, realizam-se análises de backtesting. Tais entidades são consideradas sistemicamente importantes, Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 43 e falhas em seus mecanismos de contenção de riscos têm grande potencial para contaminar o SFN por meio do efeito contágio. Nesse sentido, os backtestings têm o propósito de avaliar contínua e diariamente se a constituição de garantias e salvaguardas adicionais em uma CPC está adequada para a cobertura da exposição dos participantes. São, portanto, importantes ferramentas que informam não só a evolução histórica dos riscos assumidos em uma CPC, mas também sinalizam futuras tendências, subsidiando melhor a tomada de decisão. Para isso são utilizados dois indicadores, o Risco Financeiro (RF)60 e o Risco Financeiro Líquido (RFL)61. Para cada dia, são selecionados os valores de RF e RFL dos dois participantes com maiores valores de RFL no dia. Na análise de backtesting da Câmara de Ações da BM&FBovespa (BM&FBovespa – Ações), no dia em que o RFL para os dois participantes mais críticos (Gráfico 3.2.1) atingiu seu valor máximo, ele correspondeu a 0,8% das salvaguardas adicionais disponíveis (como fundos mutualizados)62. devedores (Gráfico 3.2.3), de forma tempestiva. No entanto, cabe destacar que o montante das garantias depositadas suportaria o risco de crédito, conforme apontado no parágrafo anterior. Gráfico 3.2.1 – BM&FBovespa – Ações Risco Financeiro Líquido R$ milhões 6,0 4,8 3,6 2,4 1,2 Jan 2015 Fev Mar Abr Mai 0,0 Jun Fontes: BM&FBovespa e BCB Gráfico 3.2.2 – Câmara BM&FBovespa Risco Financeiro Líquido R$ milhões 35 28 Para a Câmara BM&FBovespa (antiga Câmara de Derivativos da BM&FBovespa), no dia que o RFL para os dois participantes mais críticos (Gráfico 3.2.2) atingiu seu valor máximo, ele correspondeu a 4,5% das salvaguardas adicionais disponíveis. Para a Câmara de Câmbio da BM&FBovespa (BM&FBovespa – Câmbio), o valor do RFL foi nulo em todo o período, visto que as garantias individuais foram suficientes para cobrir as exposições geradas pelos participantes. 21 14 7 Jan 2015 Fev Mar Abr Mai 0 Jun Fontes: BM&FBovespa e BCB Gráfico 3.2.3 – BM&FBovespa – Câmbio Deficit de liquidez R$ milhões 1.000 Em relação ao risco de liquidez em reais, houve seis dias em que as linhas de liquidez contratadas pela BM&FBovespa não seriam suficientes para converter em reais os dólares entregues pelos participantes adimplentes e cobrir a inadimplência simultânea dos dois maiores 800 600 400 200 60/ O RF representa o custo de reposição da câmara em relação a eventual inadimplência de um participante a cada dia, com base nas variações reais dos preços dos ativos. 61/ O RFL representa o custo em que a câmara iria incorrer para encerrar a carteira de determinado participante, caso se tornasse inadimplente, subtraído do total de garantias por ele constituídas, com base nas variações reais dos preços dos ativos. Representa, pois, a parcela de exposição ao risco que não é coberta pelas garantias individuais do participante. Para cada dia, são considerados os dois participantes aos quais a câmara esteja mais exposta, isto é, os dois participantes que apresentarem maior valor de RFL. 62/ Cada câmara dispõe de um fundo de liquidação composto por contribuições dos participantes e da própria câmara, cuja regra de utilização consta dos regulamentos e manuais de cada sistema. Jan 2015 Fev Mar Abr Falha de um membro da câmara Mai Jun 0 Falha de dois membros da câmara As garantias depositadas na BM&FBovespa – Ações (Tabela 3.2.1) foram compostas, majoritariamente, por ações e títulos públicos federais, que, somadas, representaram mais de 94,9% das garantias totais depositadas nos últimos dias de cada mês. Por sua vez, as garantias depositadas na Câmara BM&FBovespa (Tabela Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 44 3.2.2) foram compostas, majoritariamente, por títulos públicos federais, que representaram mais de 94,4% das garantias totais depositadas. As garantias depositadas na BM&FBovespa – Câmbio foram compostas, majoritariamente, por títulos públicos federais, oscilando entre 71,8% e 100,0% das garantias totais depositadas no período. As demais garantias foram compostas por moeda estrangeira (dólar). Tabela 3.2.1 – BM&FBovespa – Ações % 2015 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Título público 52,4 50,4 52,1 51,1 53,0 54,1 Ações 42,5 45,0 43,7 44,1 42,7 41,8 3,4 2,8 2,7 3,2 2,9 2,8 0,9 0,8 0,7 0,6 0,6 0,5 0,4 0,3 0,3 0,3 0,4 0,3 Dinheiro 0,3 0,4 0,4 0,4 0,2 0,2 Outros 0,2 0,2 0,1 0,2 0,2 0,2 Título internacional 2/ CFI CDB 3/ Fatores Primitivos de Risco (FPR) 1/ Discriminação Fontes: BM&FBovespa e BCB 1/ Consideram-se apenas garantias vinculadas. 2/ Carta de fiança interbancária. 1/ Mín Máx N 2/ Confiança do VaR Ibovespa a vista -25% 25% 0 99% Dólar a vista -27% 39% 0 99% Pré 42 -1% 11% 0 99% Pré 126 -11% 15% 0 99% Pré 252 -16% 21% 0 99% Pré 756 Garantias por tipo de ativo1/ Discriminação Tabela 3.2.3 – Câmara BM&FBovespa -15% 16% 0 99% DDI 180 4/ -28% 7% 0 99% DDI 360 -24% 8% 0 99% DDI 1080 -23% 10% 0 99% 3/ Fontes: BM&FBovespa e BCB 1/ Percentual atingido em relação aos cenários de baixa e alta no 1º semestre de 2015. 2/ N é o número de exceções observadas na amostra de tamanho T. 3/ Teste de Kupiec, T = 255 dias. 4/ Cupom cambial. A acurácia64 do modelo de risco utilizado pela Câmara BM&FBovespa na determinação dos níveis de garantias individuais dos seus participantes permaneceu acima dos 99% (Gráfico 3.2.4) recomendados pelos Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro65. 3/ Certificado de Depósito Bancário. Gráfico 3.2.4 – Câmara BM&FBovespa Risco de crédito1/ Tabela 3.2.2 – Câmara BM&FBovespa Garantias por tipo de ativo 100,0% % Discriminação Títulos Públicos Federais 99,8% 2015 Jan Fev Mar Abr Mai Jun 94,4 94,4 94,9 94,8 94,9 95,0 Ações 2,8 2,9 2,5 2,9 2,6 2,6 Cartas fiança 1,5 1,2 1,4 1,2 1,3 1,3 CDB 0,7 0,7 0,7 0,4 0,6 0,5 Dinheiro 0,5 0,6 0,5 0,6 0,7 0,5 Outros 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 Fontes: BM&FBovespa e BCB No primeiro semestre de 2015, as variações acumuladas de dois dias nos principais Fatores Primitivos de Risco (FPR)63 utilizados pela Câmara BM&FBovespa para cálculo de garantias mantiveram-se dentro dos limites estabelecidos em seus cenários de estresse (Tabela 3.2.3). 63/ FPR associado a um contrato derivativo é a denominação dada à variável financeira relevante à formação do valor, ou preço, do contrato. Ao se determinar o valor de um contrato derivativo por meio de uma relação matemática bem definida que envolve um conjunto de variáveis econômicas, como a que resulta da assunção do Princípio de nãoArbitragem, define-se que tais variáveis representam os fatores primitivos de risco do contrato. 99,6% 99,4% 99,2% Jan 2015 Fev Mar Abr Mai Jun 99,0% 1/ Estimativas de acurácia do modelo de cálculo de garantias individuais, realizadas com janela móvel dos últimos três meses (63 dias). 64/ O nível de acurácia é definido como a proporção de acertos de um modelo de gerenciamento de riscos em determinado período de tempo. No caso de câmara de liquidação que atua como CPC, o nível de acurácia é dado, simplificadamente, pelo número de vezes em que as garantias requeridas dos participantes foram superiores ao risco de fato incorrido pela CPC, dividido pelo número total de participantes que tiveram sua exposição ao risco verificada, em um determinado período de tempo. 65/ Os Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro (Principles for Financial Market Infrastructures – PFMI) foram publicados em abril de 2012 pelo Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações Internacionais (CPSS/BIS) e pelo Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores (TC/IOSCO). O propósito dos PFMI é reforçar a segurança e a eficiência das infraestruturas do mercado financeiro. PFMI 6, KC 3: “A CCP should adopt initial margin models and parameters that are risk-based and generate margin requirements sufficient to cover its potential future exposure to participants in the interval between the last margin collection and the close out of positions following a participant default. Initial margin should meet an established single-tailed confidence level of at least 99 percent with respect to the estimated distribution of future exposure.” Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 45 Tabela 3.2.4 – Visão geral do Sistema de Pagamentos Brasileiro: 1º semestre de 2015 Principais operações liquidadas Discriminação Forma de liquidação Contraparte central Giro – Valor Giro – Quantidade Poder de Economia Média diária Média diária compensação de liquidez R$ bilhões Mil operações % Média diária R$ bilhões Sistemas de transferência de fundos STR Selic, câmaras, TED1/ e outros pagamentos críticos 2/ 3/ CIP – Sitraf TED CIP – Siloc Boleto de pagamento4/, LBTR - 1.069,5 159,0 - - Híbrido - 16,3 1.073,4 - - 11,3 cartão de pagamento e DOC LDL - 13,7 25.535,6 82,7 Compe Cheque5/ LDL - 4,2 2.923,7 92,5 3,9 Cielo Cartão de pagamento LDL - 1,8 24.801,1 n.d. n.d. Rede Cartão de pagamento LDL - 1,5 13.011,4 n.d. n.d. LBTR Não 939,4 7,0 - - LBTR Não 30,1 3,5 - - LDL Não 20,6 1,7 55,3 11,4 Sistemas de compensação e liquidação de ativos Selic Títulos Públicos Federais Cetip Títulos privados, títulos estaduais e municipais e swaps Câmara Mercadorias, futuros, BM&FBovespa opções e swaps BM&FBovespa – Ações Ações e outros títulos priv. LDL Sim 10,7 225,5 81,5 8,7 LDL Sim 7,1 918,1 92,0 LBTR Não 0,2 0,0 - 6,6 40,4 - BM&FBovespa – Câmbio Câmbio interbancário CIP-C3 Cessão de crédito BM&FBovespa – Títulos Públicos Ativos Federais LDL Sim 4,1 0,1 LBTR Não 0,2 0,0 - 1,6 LDL Sim 0,0 0,0 - - LBTR Não 0,0 0,0 - - - BM&FBovespa – Sistema de registro 6/ Renda fixa e COE 1/ O STR liquida qualquer Transferência Eletrônica Disponível por conta de cliente e qualquer Transferência Eletrônica Disponível por conta de instituição financeira. 2/ Incluída a liquidação bilateral de cheques de valor unitário igual ou superior a R$250 mil e de boletos de pagamentos com valor unitário igual ou superior a R$250 mil. 3/ O CIP-Sitraf só liquida Transferência Eletrônica Disponível por conta de cliente de valor inferior a R$1 milhão. 4/ Boletos de pagamento de valor unitário menor que R$250 mil. 5/ Cheques de valor unitário menor que R$250 mil. 6/ CDB, LCI e LF. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 46 Atividade de Registro e de Depósito Centralizado de Ativos Financeiros O registro de ativos financeiros tem como um de seus principais objetivos a utilização das informações para fins de monitoramento e supervisão do SFN. O depósito centralizado de ativos financeiros, além dos benefícios propiciados pelo armazenamento de informações sobre o ativo, confere ainda mais segurança e eficiência ao processo de negociação e liquidação de operações com esses ativos, ao garantir a sua titularidade efetiva. respeito ao processo de autorização, ao regulamento da infraestrutura e aos requisitos para realização dessas atividades. Essas atividades, desempenhadas no âmbito de infraestruturas do mercado financeiro, são fundamentais para assegurar um sistema financeiro sólido e eficiente, razão pela qual ganharam relevância no contexto internacional, sobretudo nos debates pós-crise 2008 e na elaboração do novo conjunto de Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro, publicados em 2012. A consolidação desse novo arcabouço jurídico, até mesmo por meio da adequação das entidades ao modelo ora vigente, deverá agregar mais segurança às operações no âmbito do SPB, contribuindo positivamente no seu papel referente à estabilidade financeira. Para se adequar às novas regras, as entidades que operam infraestruturas que desempenham as atividades de registro e de depósito centralizado submeteram ao BCB requerimento de ajustes em seus procedimentos. No Brasil, as atividades de registro e de depósito centralizado vêm sendo realizadas desde a década de 1980, tendo se tornado obrigatório, em 2005, o registro de títulos e valores mobiliários de emissão, aceite ou garantia de instituições autorizadas a funcionar pelo BCB. Ambas as atividades eram desempenhadas, desde 2001, sob a regência da Lei n° 10.214, de 27 de março de 2001, no âmbito dos sistemas de compensação e liquidação. Considerando a sua relevância no contexto atual, construiu-se um arcabouço jurídico específico, inaugurado pela Lei n° 12.810, de 15 de maio de 2013, atribuindo-se competência regulatória ao BCB no campo dos ativos financeiros. A regulação do BCB foi editada no início do ano, com a publicação da Circular n° 3.743, de 8 de janeiro de 2015, com disposições harmônicas em relação à regulação do tema no campo dos valores mobiliários, editada pela CVM. As regras dizem Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 47 Organização do Sistema Financeiro Nacional 4 4.1Introdução Transferências do Controle Societário O segmento das instituições bancárias não apresentou, neste primeiro semestre, nenhum movimento que tenha alterado de forma relevante a sua composição. • Banco Bonsucesso Consignado S.A. – para Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S.A., instituição integrante do Conglomerado Santander, em 26 de fevereiro de 2015; No tocante às instituições não bancárias, merece destaque o prosseguimento do processo de consolidação das cooperativas de crédito, por meio de incorporações e de saídas organizadas de cooperativas com dificuldade de continuação de seus negócios, por meio de cancelamento e de liquidação por iniciativa dos próprios cooperados. 4.2 Instituições bancárias Os movimentos orgânicos relativos ao segmento das instituições bancárias envolveram quatro mudanças de objeto social e quatro transferências de controle, conforme descrição a seguir. Mudanças de objeto social • Banco Gerador S.A. (de Banco Múltiplo para Banco Comercial), em 30 de abril de 2015; • Intesa Sanpaolo Brasil S.A. – Banco Múltiplo (de Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários para Banco Múltiplo), em 8 de maio de 2015; • Banco Paulista S.A. (de Banco Comercial para Banco Múltiplo), em 13 de janeiro de 2015; • Banco And-Bank (Brasil) S.A. (de Banco Comercial para Banco Múltiplo), em 13 de março de 2015. • Banco And-Bank (Brasil) S.A. – para o Andorra Banc Agrícol Reig S.A., sediado em Escaldes-Engordany, Principado de Andorra, em 13 de março de 2015; • Banco Standard de Investimentos S.A. – para o Banco Inbursa, S.A. Institución de Banca Múltiple, Grupo Financeiro Inbursa, com sede no México, em 15 de maio de 2015; • Banco Confidence de Câmbio S.A. – para Travelex Limited, com sede em Londres, em 20 de fevereiro de 2015. A Tabela 4.2.1 informa o quantitativo de movimentos ocorridos por tipos de instituições no semestre. Tabela 4.2.1 – Movimentação orgânica no SFN Processos aprovados e publicados no Diário Oficial da União Janeiro a junho de 2015 Eventos BM BC Autorização - - - - 1 - 1 - - - - Cancelamento - - - - 3 1 1 - - - - 8 Incorporação - - - 1 1 - - - - - - 14 Cisão - - - 1 - - - - - - - - – entrada 3 1 - - - - - - - - - - – saída 1 2 - - 1 - - - - - - - Liquidação extrajudicial - - - - - - - - - - - - Intervenção - - - - - - - - - - - - RAET - - - - - - - - - - - - BI CFI DTVM CTVM CC SCI SCM SAM CH Coop 1 Mudança de objeto social Fonte: Diário Oficial da União Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 48 A Tabela 4.2.2 apresenta o quantitativo de instituições autorizadas para cada um dos segmentos do SFN. Tabela 4.2.3 – Distribuição de agências bancárias por região Tabela 4.2.2 – Evolução do quantitativo de instituições 1/ financeiras autorizadas Tipo de instituição Bancos Múltiplos dos bancos privados e comportamento estável para os bancos sob controle estrangeiro. Quantidade de agências 2012 2013 2014 2015 Dez Dez Dez Jun Região Nordeste 138 132 130 132 Nacionais sem particip. estrang. 67 63 63 59 Nacionais com particip. estrang. 15 15 14 16 Sob controle estrangeiro 56 54 53 57 Comerciais e filiais de bancos Centro-Oeste Sudeste Sul 23 23 22 21 Total 13 12 11 11 Fonte: Unicad Nacionais com particip. estrang. 1 1 1 1 Sob controle estrangeiro 3 4 4 3 Filiais de bancos estrangeiros 6 6 6 6 4 4 4 4 14 14 14 14 2 3 3 3 1 1 1 1 Desenvolvimento Investimento Câmbio Caixa Econômica Federal Sociedades Arrendamento Mercantil 30 29 27 27 Crédito, Financiamento e Investimento 59 58 55 54 40 38 40 40 12 11 9 9 95 93 92 90 57 62 66 67 118 116 108 105 16 16 16 16 7 8 7 7 1.269 1.209 1.163 1.140 Crédito ao Microempreendedor 2012 2013 2014 2015 Dez Dez Dez Dez Jun 3.202 3.474 3.609 3.665 3.673 Norte Nacionais sem particip. estrang. estrangeiros 2011 980 1.067 1.106 1.135 1.150 1.607 1.698 1.820 1.848 1.849 11.349 11.725 12.024 12.105 12.064 4.082 4.254 4.359 4.373 4.366 21.220 22.218 22.918 23.126 23.102 Tabela 4.2.4 – Número de agências bancárias1/ por origem de capital Quantidade de agências Discriminação 2011 2012 2013 2014 2015 Dez Dez Dez Dez Jun Público 8.533 9.315 9.951 10.231 10.286 Privado nacional 9.071 9.206 9.200 9.164 9.083 Estrangeiro 3.616 3.697 3.767 3.731 3.733 21.220 22.218 22.918 23.126 23.102 Total Fonte: Unicad/Capef 1/ Bancos Múltiplos, Comerciais e a Caixa Econômica Federal. Crédito Imobiliário, Associações de Poupança e Empréstimo e repassadoras Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários Corretoras de Câmbio Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários Agências de fomento Companhias Hipotecárias Cooperativas Administradoras de consórcio Total 222 199 186 178 2.107 2.016 1.943 1.908 Fonte: Unicad e Capef 1/ Foram consideradas as instituições nas situações "Autorizada sem atividade", "Autorizada em atividade", "Em intervenção", "Paralisada" e 'Em administração especial temporária". No tocante aos quantitativos de agências bancárias por região geográfica, conforme a Tabela 4.2.3, observouse, no semestre, aumento de 1,3% na região norte e comportamento estável nas demais regiões. Em relação aos quantitativos de agências, sob a ótica da origem de capital das instituições, apresentados na Tabela 4.2.4, observa-se aumento de 0,5% das redes de agências dos bancos públicos, redução de 0,9% das redes 4.3 Níveis de concentração no Sistema Financeiro Nacional Para o monitoramento sistemático dos níveis de concentração do segmento bancário do SFN o BCB utiliza o Índice de Herfindahl-Hirschmann (IHH)66 e a Razão de Concentração dos quatro maiores (RC4)67 e dos dez maiores participantes (RC10) nos ativos totais, nas operações de crédito e nos depósitos totais do segmento. Os valores dos indicadores de concentração do segmento bancário relativos a junho de 2015, para cada um dos três agregados contábeis considerados, são os seguintes. 66/ O IHH é utilizado pelas autoridades nacionais e internacionais de defesa da concorrência como instrumento acessório na avaliação de níveis de concentração econômica. Conforme o Guia para Análise de Atos de Concentração, divulgado pelo Comunicado nº 22.366, de 27 de abril de 2012, o BCB considera que mercados que registraram valores para o IHH situados entre 0 e 1.000 são considerados de baixa concentração; entre 1.000 e 1.800, de moderada concentração; e acima de 1.800, de elevada concentração. O IHH é obtido pelo somatório do quadrado da participação de cada instituição financeira no mercado considerado: IHH = (IF1)2 + (IF2)2 +... + (IFn)2. 67/ O RC4 e o RC10 representam a participação acumulada dos quatro e dos dez maiores concorrentes, respectivamente, em cada mercado. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 49 • IHH – Índice Herfindahl-Hirschmann - Ativos totais: 1.369 Gráfico 4.3.1 – Evolução dos níveis de concentração – Segmento bancário Índice de Herfindahl-Hirschman – IHH IHH - Operações de crédito: 1.662 1.800 1.600 - Depósitos totais: 1.625 1.400 • RC4 – Razão de Concentração para os quatro maiores participantes - Ativos totais: 69,84% 1.200 1.000 Jun 2007 - Operações de crédito: 76,37% - Depósitos totais: 75,48% • RC10 – Razão de Concentração para os dez maiores participantes Jun 2008 Jun 2009 Jun 2010 Ativos Jun 2011 Jun 2012 Jun 2013 Operações de crédito Jun 2014 800 Jun 2015 Depósitos Gráfico 4.3.2 – Evolução dos níveis de concentração – Segmento bancário Razão de Concentração – RC4 RC4 % 80 - Ativos totais: 89,38% 74 68 - Operações de crédito: 92,14% 62 - Depósitos totais: 91,20% Diante dos dados acima apresentados, percebe-se que, para os três agregados contábeis, o IHH manteve-se dentro do intervalo considerado como de moderada concentração, segundo referência adotada pelo BCB (vide nota de rodapé anterior, acerca do IHH), uma vez que os valores mantiveram-se entre 1.000 e 1.800. Os gráficos 4.3.1, 4.3.2 e 4.3.3 apresentam a evolução de dezembro de 2006 a Junho/2015 do IHH, do RC4 e do RC10, do segmento bancário para cada um dos agregados considerados. Em relação às evoluções apresentadas, merecem destaque: a) o aumento no semestre do IHH relativo às Operações de Crédito e as reduções do IHH referentes aos Ativos Totais e Depósitos Totais (Gráfico 4.3.1); b) o aumento no semestre do RC4 relativo às Operações de Crédito e as reduções do RC4 referentes aos Ativos Totais e aos Depósitos Totais (Gráfico 4.3.2); e c) o aumento no semestre do RC10 relativo às Operações de Crédito e as reduções do RC10 referentes aos Ativos Totais e Depósitos Totais (Gráfico 4.3.3). 56 Jun 2007 Jun 2008 Jun 2009 Jun 2010 Ativos Jun 2011 Jun 2012 Jun 2013 Operações de crédito Jun 2014 50 Jun 2015 Depósitos Gráfico 4.3.3 – Evolução dos níveis de concentração – Segmento bancário Razão de Concentração – RC10 RC10 % 95 91 87 83 79 Jun 2007 Jun 2008 Jun 2009 Jun 2010 Ativos Outubro 2015 Jun 2011 Jun 2012 Operações de crédito | Jun 2013 Jun 2014 75 Jun 2015 Depósitos Relatório de Estabilidade Financeira | 50 4.4 Instituições não bancárias Dentre as movimentações no semestre envolvendo o segmento das instituições não bancárias merece destaque a redução nos quantitativos das Cooperativas de Crédito. O segmento das Cooperativas de Crédito apresentou redução de vinte e três instituições em seu quantitativo, valor equivalente a 2% do segmento e similar aos decréscimos ocorridos no primeiro e no segundo semestre de 2014. Da mesma forma que em períodos anteriores, tal movimento resulta, em sua maioria, de casos de incorporação de cooperativas e de processos de cancelamentos de autorização para funcionamento por ingresso no regime de liquidação ordinária, decorrentes do movimento em curso de saneamento e fortalecimento das cooperativas de crédito, no contexto do processo de consolidação por que passa o segmento. As autorizações para transferência de controle que envolve instituições do segmento não bancário no semestre foram as seguintes: Tabela 4.5.1 – Instituições financeiras com controle ou participação minoritária estrangeira no país1/ 2/ 3/ Discriminação 2011 2012 2013 2014 2015 Dez Dez Dez Dez Jun Com controle (> 50%) 129 130 131 133 135 49 43 41 40 38 178 173 172 173 173 Com participação (≥ 10% e < 50%) Total Fonte: Capef 1/ Instituições bancárias e instituições financeiras de outro tipo. 2/ Dados ainda não refletem mudanças na composição societária que eventualmente tenham sido encaminhadas ao Banco Central pelas instituições, mas que se encontram em processo de validação. 3/ Participação no capital votante. 4.6 Participação de instituições financeiras brasileiras no exterior Na participação no exterior das instituições integrantes do SFN, merece destaque a aquisição pelo Banco BTG Pactual S.A. do Banco BSI, sediado na Suíça. Com a operação, o quantitativo de subsidiárias no exterior da instituição alterou-se de 18 para 35 unidades. • Revaisa Administradora de Consórcios S/C Ltda. – Para Liane Silveira Martins e Denise Silveira Martins Santos, em 18 de fevereiro de 2015; • Acción Microfinanças – Sociedade de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de Pequeno Porte S.A. – Para a Access Microfinance Holding AG, em 3 de outubro de 2014; • Via Certa Administradora de Consórcios S.A. – Para Agipar Holding Financeira S.A., em 5 de dezembro de 2014. 4.5 Participação estrangeira no Sistema Financeiro Nacional Quanto à participação do capital estrangeiro na composição societária das instituições integrantes do SFN, Tabela 4.5.1, merecem destaque a transferência de controle do Banco Bonsucesso Consignado S.A. para instituição integrante do conglomerado Santander e a do Banco Confidence de Câmbio S.A. para Travelex Limited, com sede em Londres. Em relação às participações minoritárias de estrangeiros no capital votante das instituições do SFN, não foi registrada nenhuma alteração relevante. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 51 Regulação do Sistema Financeiro Nacional No primeiro semestre de 2015, foram adotadas medidas regulatórias alinhadas à manutenção da estabilidade e à ampliação da eficiência do sistema financeiro, destacando-se a divulgação da metodologia de cálculo da Razão de Alavancagem (RA), o estabelecimento de limites mínimos para o indicador Liquidez de Curto Prazo (LCR) e a metodologia para seu cálculo, as regras para apuração e divulgação de informações para avaliar a importância sistêmica global de instituições financeiras, além da atualização da regulamentação do capital estrangeiro no país relativa a aplicações de investidor residente no exterior nos mercados financeiro e de capitais e da atualização da regulamentação cambial, visando a modernização do Sistema de Transferência Internacional de Reais (TIR). Cabe destacar a adoção de normas que têm por objeto o registro de informações referentes a garantias constituídas sobre veículos automotores e imóveis, com vistas a ampliar a capacidade de monitoramento das instituições do sistema financeiro, bem como contribuir para aprimoramento do processo de originação de créditos imobiliários. Essas normas são detalhadas nos tópicos a seguir. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – Limite de aplicação no ativo permanente e limites de exposição por cliente A Resolução nº 4.430, de 25 de junho de 2015, do CMN, alterou o tratamento dispensado ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para fins da apuração do limite de aplicação de recursos no ativo permanente e dos limites de exposição por cliente. O normativo prevê o retorno à base de cálculo desses limites das ações provenientes dos setores petrolífero, 5 elétrico e de mineração, adquiridas pelo BNDES com condições específicas. Referida norma estabelece a eliminação do eventual excesso em relação aos limites, segundo um cronograma em três etapas trienais, com início em 2015 e término em 2024. Também é determinada a dedução da parcela não eliminada, conforme o respectivo percentual fixado, ao final de cada etapa quando houver apuração do componente Capital Principal do PR. Por fim, a Resolução estabelece que o atendimento aos comandos de eliminação do excesso apurado, bem como a dedução do componente Capital Principal do PR, implicam enquadramento do BNDES aos limites de exposição por cliente, estando o banco impedido de contratar novas operações que acarretem ampliação de eventuais excessos verificados. Em suma, o novo tratamento busca ajustar o cronograma de eliminação do tratamento específico dado às ações mencionadas adquiridas pelo BNDES e de seu enquadramento aos mencionados limites operacionais, conforme estabelecido na regulação anterior que tratava do assunto, de maneira que se mantenha o percentual de eliminação de eventuais excessos verificados, ampliando-se, no entanto, os períodos de avaliação e de estabelecimento de estratégias, preservadas as datas de início e término do referido cronograma. Indicador de liquidez de curto prazo A Resolução nº 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, do CMN, definiu os limites mínimos do indicador de liquidez de curto prazo (LCR) e estabeleceu as condições para sua observância. Em complemento, o BCB editou a Circular nº 3.749, de 5 de março de 2015, que estabeleceu a metodologia de cálculo do LCR e dispôs sobre a divulgação de informações relativas ao indicador. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 52 O LCR corresponde à razão entre o estoque de ativos de alta liquidez (HQLA) e as saídas líquidas de caixa previstas para o período de trinta dias, assumindo condições de estresse. O principal objetivo do indicador é propiciar acumulação e manutenção de uma reserva mínima de ativos líquidos em condições normais de mercado, que possa ser utilizada em períodos de maior escassez ou necessidade de liquidez, sem acarretar prejuízo à continuidade dos negócios da instituição e à estabilidade do sistema financeiro. O indicador será requerido das instituições bancárias com ativo total superior a R$100 bilhões ou que sejam integrantes de conglomerado prudencial, nos termos da Resolução nº 4.280, de 31 de outubro de 2013, com ativo total superior ao referido valor. O limite mínimo deverá ser observado pelas instituições financeiras a partir de 1º de outubro de 2015, quando entram em vigor a Resolução nº 4.401, de 2015, e a Circular º 3.749, de 2015. A observância de critérios mínimos para a manutenção de um colchão de liquidez, aliada às regras já implantadas de aprimoramento da estrutura de capital, tem como objetivo aperfeiçoar a capacidade de as instituições financeiras absorverem choques provenientes do próprio sistema financeiro ou dos demais setores da economia, em benefício da manutenção da estabilidade financeira. Razão de Alavancagem O Banco Central do Brasil editou a Circular nº 3.748, de 27 de fevereiro de 2015, que dispõe sobre a metodologia para apuração da Razão de Alavancagem (RA), remessa ao Banco Central do Brasil e divulgação das respectivas informações. Alinhada com as recomendações do Comitê de Basileia para Supervisão Bancária conhecidas em seu conjunto como Basileia III, a RA busca evidenciar o grau de alavancagem das instituições financeiras, uma informação importante para acompanhamento do risco sistêmico que não é capturada adequadamente nas metodologias de requerimento de capital baseadas em risco. A RA é definida como a razão entre o Nível I do PR, componente do capital regulamentar de alta qualidade mantido pelos bancos, e a Exposição Total da instituição. Ainda não foi acordado pelos integrantes do Comitê de Basileia um valor mínimo a ser requerido para a RA, o que deve ocorrer até 2018, com base nas informações obtidas das instituições financeiras. Instituições sistêmicas em âmbito global O Banco Central do Brasil editou a Circular nº 3.751, em 19 de março de 2015, que dispõe sobre a apuração de informações que permitem avaliar a importância sistêmica global (IAISG) de instituições financeiras e sobre a remessa de dados ao BCB e a divulgação das respectivas informações ao público em geral. As regras para apuração e divulgação se inserem no esforço internacional acordado na reunião do G-20, de novembro de 2011, coordenado pelo Comitê de Basileia, com vistas a identificar e mitigar os efeitos resultantes da presença de bancos sistemicamente importantes em âmbito global (Global Systemically Important Banks – G-SIBs). As regras estabelecidas na referida Circular nº 3.751, de 2015, aplicam-se a bancos múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento e caixas econômicas que sejam controladas por pessoas naturais ou jurídicas residentes ou domiciliadas no país e que possuam Exposição Total superior a R$500 bilhões. Na hipótese de determinação de sua importância sistêmica em âmbito global, de acordo com a metodologia recomendada pelo Comitê de Basileia, a instituição financeira nacional passará a estar sujeita a requerimentos prudenciais adicionais. Atualmente, nenhuma instituição financeira nacional é considerada G-SIB. Modernização do Sistema de Transferência Internacional de Reais Em 11 de março de 2015, foi editada a Circular nº 3.750, de 2015, que, em virtude da modernização do Sistema de Transferências Internacionais em Reais (TIR), dispõe sobre cadastramento e movimentação de contas de depósito em moeda nacional tituladas por residentes, domiciliados ou com sede no exterior. A modernização do Sistema TIR dá continuidade ao processo de atualização das bases de dados, do processamento das informações e da forma de comunicação entre os sistemas do BCB e das instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio. Em 2013, por meio da Circular nº 3.627, de 11 de março de 2015, o Sistema TIR passou a admitir a transmissão das informações por meio de arquivo mensal para as transações entre R$10 mil e R$100 mil, desde que não sujeitas a registro de capitais estrangeiros. O novo Sistema TIR torna o processo de envio de informações pelas instituições autorizadas mais eficiente e tempestivo, aumentando a qualidade das informações Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 53 das operações cursadas no mercado de câmbio, além de harmonizar os procedimentos com a sistemática atual de transmissão e processamento de informações do Sistema Câmbio atual, implementado em 2011. Um dos propósitos da mencionada Resolução é permitir a construção de uma base de dados padronizada com informações sobre imóveis e veículos objetos de garantia em operações de crédito, com vistas ao aprimoramento das ferramentas de monitoramento desses mercados. Aplicações de investidor não residente no Brasil nos mercados financeiro e de capitais do país A Circular nº 3.616, de 30 de novembro de 2012, estabeleceu as condições para registro das informações a respeito das garantias constituídas sobre veículos automotores. O Departamento de Regulação do Sistema Financeiro (Denor) e o Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro (Desig) editaram a Carta Circular nº 3.596, de 29 de abril de 2013, com regras complementares necessárias ao cumprimento da mencionada Circular. O BCB publicou a Circular n° 3.752, de 27 de março de 2015, que regulamentou a Resolução nº 4.373, de 29 de setembro de 2014. Ambas as normas entraram em vigor em 30 de março de 2015 e dispõem sobre aplicações – e respectivos registros – de investidor não residente no Brasil nos mercados financeiro e de capitais do país, até por meio do mecanismo Depositary Receipt (DR). A nova regulação foi resultado de trabalho conjunto do BCB e da CVM, além de consulta pública. A Circular n° 3.752, de 2015, atualizou a regulação aplicada ao capital estrangeiro no país, dispondo sobre o registro das aplicações, em harmonia com os preceitos estabelecidos na Resolução nº 4.373, de 2014, quanto aos objetivos de racionalização e simplificação de processos, contribuindo para ganho de eficiência e redução de custos de observância do SFN. Registro de informações referentes a garantias constituídas sobre imóveis A Resolução nº 4.088, de 24 de maio de 2012, com vistas a ampliar a capacidade de monitoramento das instituições do sistema financeiro bem como contribuir para o aprimoramento do processo de originação de créditos imobiliários, estabeleceu que as instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB devem registrar, em sistema de registro de ativos, informações acerca das garantias constituídas sobre veículos automotores e imóveis relativas às operações de crédito. Essa Resolução atribuiu ainda, ao BCB, competência para disciplinar as informações requeridas para o registro e o cronograma para sua implementação, considerando a necessidade de oferecer prazo para ajustes nas rotinas e sistemas internos das instituições financeiras e dos próprios sistemas nos quais as informações seriam registradas. No que se refere a imóveis, a Circular nº 3.747, de 27 de fevereiro de 2015, disciplinou o registro das informações a respeito das garantias constituídas sobre imóveis urbanos, exceto terrenos não construídos, em operações de financiamento para a aquisição de imóvel residencial e de empréstimo a pessoa natural garantido por imóvel residencial, inclusive as operações decorrentes de portabilidade. Essa Circular detalha as informações que devem ser prestadas pelas instituições contratantes das citadas operações quanto à caracterização do credor, do devedor, da operação de crédito e do imóvel que garante a operação. Em relação às características dos imóveis, o armazenamento padronizado de informações em sistemas eletrônicos disciplinados pelo BCB permite aprimorar determinados pontos do monitoramento do mercado imobiliário, ao mesmo tempo que traz benefícios às próprias instituições concedentes de crédito imobiliário, mediante o desenvolvimento de ferramentas de precificação dos imóveis dados em garantia. A mencionada Circular amplia também o conjunto de informações disponíveis para o desenvolvimento de índices de preços de imóveis e outros indicadores do mercado imobiliário. Isso porque a incorporação dessas informações, que englobam as características detalhadas do imóvel, tais como sua tipologia, estado de conservação, padrão de acabamento, benfeitorias, serviços condominiais e sua localização, possibilita identificar os determinantes do comportamento dos preços dos imóveis, facilitando não só a atuação regulatória e fiscalizadora voltada a corrigir desequilíbrios no mercado de crédito imobiliário, mas também as próprias decisões dos agentes econômicos. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 54 Por outro lado, a disponibilidade de um conjunto de informações detalhadas sobre imóveis aumenta a precisão, a transparência e a independência da atividade de avaliação de imóveis para fins de concessão de novos financiamentos, na medida em que as avaliações realizadas podem ser confrontadas com avaliações existentes de imóveis com características similares. O aprimoramento da atividade de avaliação de imóveis está em consonância com as recomendações internacionais que regem a boa prática na originação de créditos imobiliários, pois contribuem para a limitação e mitigação do risco das operações, conforme o Princípio 4, Effective collateral management, do relatório FSB Principles for Sound Residential Mortgage Underwriting Practices, publicado em abril de 2012, pelo Comitê de Estabilidade Financeira (FSB). Nesse contexto de alinhamento com as recomendações internacionais, ressalta-se que as informações a serem registradas devem refletir fielmente as constantes do laudo de avaliação do imóvel, em consonância com a exigência de documentação das informações relativas à avaliação do imóvel e de sua disponibilização ao BCB durante a vigência do financiamento, como prevê a Resolução nº 4.271, de 30 de setembro de 2013. Cabe salientar que as informações a serem prestadas pelas instituições influenciam diretamente o cálculo da cota de financiamento, ou LTV (do inglês, loan-to-value), dada pela razão entre o valor financiado e o valor de avaliação do imóvel. O LTV é uma das mais importantes medidas de qualidade da operação de crédito, uma vez que seu valor está relacionado à propensão do mutuário a pagar o financiamento e, portanto, à avaliação do risco de crédito da operação. A precisão dessa medida, que é função direta da qualidade da avaliação do imóvel, beneficia tanto a autoridade monetária, em suas atividades de regulação e fiscalização, como as instituições concedentes de crédito imobiliário, que adotam limites de LTV em suas políticas de concessão de crédito. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 55 Trabalhos para Discussão que Versam sobre Estabilidade Financeira Os trabalhos para discussão não devem ser citados como textos representativos do ponto de vista do BCB. As opiniões expressas nos trabalhos são exclusivamente do(s) autor(es) e não refletem necessariamente a visão do BCB. 391. Network Structure Analysis of the Brazilian Interbank Market Thiago Christiano Silva, Sergio Rubens Stancato de Souza e Benjamin Miranda Tabak Junho/2015 Resumo Texto completo 388. Do Financial Crises Erode Potential Output? A cross country analysis of industrial and emerging economies Fernando N. de Oliveira e Myrian Petrassi Junho/2015 Resumo Texto completo 387. Foreign Capital Flows, Credit Growth and Macroprudential Policy in a DSGE Model with Traditional and Matter-of-Fact Financial Frictions Fabia A. de Carvalho e Marcos R. Castro Maio/2015 Resumo Texto completo 386. Há Efeito Manada em Ações com Alta Liquidez do Mercado Brasileiro? Juliana Xavier Serapio da Silva, Cláudio Henrique da Silveira Barbedo e Gustavo Silva Araújo Abril/2015 Resumo Texto completo 385. Business and Financial Cycles: an estimation of cycles’ length focusing on Macroprudential Policy Rodrigo Barbone Gonzalez, Joaquim Lima e Leonardo Marinho Abril/2015 Resumo Texto completo 384. Countercyclical Capital Buffers: bayesian estimates and alternatives focusing on credit growth Rodrigo Barbone Gonzalez, Joaquim Lima e Leonardo Marinho Abril/2015 Resumo Texto completo 380. Implementing Loan-to-Value Ratios: the case of auto loans in Brazil (2010-2011) Tarsila S. Afanasieff, Fabiana L. C. A. Carvalho, Eduardo C. de Castro, Rodrigo L. P. Coelho e Jaime Gregório Março/2015 Resumo Texto completo 379. OTC Derivatives: Impacts of Regulatory Changes in the Non-Financial Sector Gustavo Silva Araujo e Sérgio Leão Março/2015 Resumo Texto completo Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 56 Apêndice Administração do Banco Central do Brasil Siglas Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 57 Administração do Banco Central do Brasil (Referente a 30 de junho de 2015) Diretoria Colegiada Alexandre Antonio Tombini Presidente Aldo Luiz Mendes Diretor Altamir Lopes Diretor Anthero de Moraes Meirelles Diretor Luiz Awazu Pereira da Silva Diretor Luiz Edson Feltrim Diretor Otávio Ribeiro Damaso Diretor Sidnei Corrêa Marques Diretor Tony Volpon Diretor Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 58 Siglas a.a. ao ano ATA ativo total ajustado BC Banco Comercial BCB Banco Central do Brasil BCE Banco Central Europeu BI Banco de Investimento BIS Bank for International Settlements BM Banco Múltiplo BM&FBovespa Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros BM&FBovespa – Ações Câmara de Ações da BM&FBovespa BM&FBovespa – Câmbio Câmara de Câmbio da BM&FBovespa BM&FBovespa – Derivativos Câmara de Derivativos da BM&FBovespa BoJ Banco do Japão BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAC 40 Cotation Assistée en Continu 40 CDB Certificado de Depósito Bancário CDS Credit Default Swap Cetip Central de Liquidação e Custódia de Títulos Privados CIP Câmara Interbancária de Pagamentos CMN Conselho Monetário Nacional Compe Centralizadora da Compensação de Cheques Copom Comitê de Política Monetária CPC contraparte central CPSS/BIS Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações Internacionais CRF Comprometimento de renda das famílias CRTC Comprometimento de Renda dos Tomadores de Crédito no SFN CTVM Corretora de Títulos e Valores Mobiliários CVM Comissão de Valores Mobiliários C3 Central de Cessões de Crédito DAX Deutscher Aktienindex DFAST Dodd-Frank Act Stress Testing DI Depósito interfinanceiro DOC Documento de Ordem de Crédito DPGE Depósito a Prazo com Garantia Especial do FGC DTVM Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários EMBI+Br Emerging Markets Bond Index Plus EUA Estados Unidos da América Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 59 Fed Federal Reserve FGC Fundo Garantidor de Crédito FMI Fundo Monetário Internacional FPR Fator Primitivo de Risco FSB Comitê de Estabilidade Financeira FSI Financial Soundness Indicator FTSE 100 Financial Times Securities Exchange Index 100 IB Índice de Basileia IBC-Br Índice de Atividade Econômica do Banco Central IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Ibovespa Índice da Bolsa de Valores de São Paulo ICI Índice de Cobertura da Inadimplência ICP Índice de Capital Principal IDP Investimento Direto no País IF instituição financeira IHH Índice de Herfindahl-Hirschman IL Índice de Liquidez ILE Índice de Liquidez Estrutural IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo IPR1 Índice de Capital de nível I KC Key Consideration (Consideração Chave) LBTR Liquidação Bruta em Tempo Real LCA Letra de Crédito do Agronegócio LCI Letra de Crédito Imobiliário LCR Liquidity Coverage Ratio LDL Liquidação Diferida Líquida LF Letra Financeira LL Lucro líquido MSCI Morgan Stanley Capital International Nikkei-225 Nikkei-225 Stock Average NSFR Net Stable Funding Ratio p.b.pontos-base PF pessoa física PFMI Principles for Financial Market Infrastructures PIB Produto Interno Bruto PJ pessoa jurídica PME Pequena e média empresa PME-IBGE Pesquisa Mensal de Emprego publicada pelo IBGE p.p. ponto percentual PR Patrimônio de Referência RAIS Relação Anual de Informações Sociais RC4 Razão de Concentração dos quatro maiores RDB Recibo de Depósito Bancário REF Relatório de Estabilidade Financeira RF Risco Financeiro RFL Risco Financeiro Líquido ROF Registro de Operações Financeiras RSPL Retorno sobre o Patrimônio Líquido RWA Risk-weighted assets (ativos ponderados pelo risco) SAM Sociedade de Arrendamento Mercantil Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 60 SCM Sociedade de Crédito ao Microempreendedor SCI Sociedade de Crédito Imobiliário SCR Sistema de Informações de Crédito do BCB Selic Sistema Especial de Liquidação e de Custódia SFN Sistema Financeiro Nacional SGS Sistema Gerenciador de Séries Temporais Sitraf Sistema de Transferência de Fundos Siloc Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito S&P 500 Standard & Poor’s 500 SPB Sistema de Pagamentos Brasileiro STR Sistema de Transferência de Reservas Susep Superintendência de Seguros Privados TC/IOSCO Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores TED Transferência Eletrônica Disponível TPF Título Público Federal VAR Vetor Autorregressivo VIX Chicago Board Options Volatility Index Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 61 Anexo Conceitos e Metodologias a) Índice de Liquidez (IL) – O cálculo relaciona o volume de ativos líquidos disponíveis para a instituição com o fluxo de caixa estressado (desembolso dos 30 dias/21 dias úteis subsequentes em cenário de estresse). O fluxo de caixa estressado simula desembolsos em padrões bem acima dos esperados, tendo por parâmetro o histórico de crises passadas. Instituições com IL superior a um (100%) possuem ativos líquidos suficientes para suportar esse cenário de estresse. Como a metodologia simula um cenário de trinta dias, período no qual os ativos líquidos teriam que ser monetizados, eles são marcados a mercado e/ou sofrem ponderação que simulam reduções de preços no caso de vendas forçadas. Cabe ressaltar que o Liquidity Coverage Ratio (LCR), índice introduzido por Basileia III, é definido pela mesma relação de ativos líquidos e saídas líquidas de caixa sob um cenário de estresse de trinta dias, portanto, IL e LCR possuem conceitos similares. A propósito, a primeira divulgação pública do LCR será relativa ao segundo trimestre de 2016. i. Ativos líquidos – Recursos líquidos disponíveis para cada conglomerado/instituição honrar seu fluxo de caixa estressado dos próximos trinta dias. Os ativos líquidos são o somatório dos ativos de alta liquidez, compulsório liberado e recursos suplementares. a. Ativos de alta liquidez – Abrangem Títulos Públicos Federais (TPFs), excedente de garantias em bolsas, ações Ibovespa, cotas de fundos de investimento, folga de caixa e margem de compulsório. i) TPFs em poder da instituição compreendem o montante em poder da instituição nas posições livre ou recebido como lastro de operações compromissadas (posição doadora/bancada) e o montante excedente do valor depositado em garantia nas câmaras de negociação (somente se TPF). ii) Valor presente do estoque de ações que fazem parte do Ibovespa. iii) Valor presente de cotas dos fundos de investimento regulados pela Instrução Normativa CVM nº 409, de 18 de agosto de 2009. iv) Folga de caixa compreende a diferença entre o saldo da conta caixa e o encaixe mínimo obrigatório. b. Compulsório liberado – Montante de depósito compulsório que será retornado à instituição em decorrência da saída de depósitos estimada no fluxo de caixa estressado. c. Recursos suplementares – Outras opções para realização de caixa no horizonte do cenário. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 62 i) Títulos privados – Certificado de Depósito Bancário (CDB), Recibo de Depósito Bancário (RDB), Depósito Interfinanceiro (DI), posições ativas em estratégias de box, posições doadoras em operações compromissadas lastreadas em títulos privados, depósito a prazo com garantia especial do FGC (DPGE) (após o prazo de carência para resgate antecipado) com vencimento superior ao horizonte de trinta dias. ii) Cotas de fundos menos líquidas – Cotas seniores de fundos de investimentos em direitos creditórios ou de investimento em cotas desses fundos, regidos pela Instrução CVM nº 356, de 17 de dezembro de 2001. iii) Potencial para cessão de créditos – Montante de recursos a serem obtidos por meio de cessão da carteira de créditos, estimada com base nos critérios passíveis de serem adquiridos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). iv) Disponibilidades no exterior. ii. Fluxo de caixa estressado – Estimativa do montante de recursos de que as instituições necessitariam dispor no horizonte de trinta dias, sob o cenário de estresse. As análises consideram o perfil dos depósitos, as perspectivas de resgate antecipado, a análise do estresse de mercado, o fluxo contratado e demais ativos e obrigações. a. Perfil dos depósitos – Estima o valor necessário para cobrir a possibilidade de saque de clientes em depósitos, poupança, operações de box, títulos de emissão própria e operações compromissadas sem TPF. b. Resgate antecipado – Estimativa do valor necessário para cobrir a possibilidade de solicitação de resgate antecipado das posições passivas efetuadas com as três maiores contrapartes de mercado. c. Estresse de mercado – Cenário de crise – Estima o valor necessário para cobrir perdas decorrentes do impacto de oscilações de mercado (todos os fatores de risco considerados para cálculo de capital) nas posições de ativos líquidos ou naquelas que podem gerar saída de recursos da instituição. As perdas compreendem: i). chamadas adicionais de margem de garantias depositadas em câmaras; ii) desembolsos em posições de mercados derivativos em virtude de pagamentos de ajustes ou liquidação de contratos vincendos no horizonte do cenário de estresse; iii) perda de valor de ativos líquidos; d. Fluxo contratado – Vencimentos e ajustes de posições em derivativos e posições ativas e passivas com agentes de mercado, com vencimento dentro do horizonte do cenário. e. Demais passivos e obrigações – Resgate de outras posições passivas e obrigações não monitoradas diariamente, que compreende captações no exterior, outros passíveis exigíveis, linhas de crédito concedidas e não utilizadas, créditos concedidos a liberar, acordos de compra de créditos e outros compromissos. b) Índice de Liquidez Estrutural – O cálculo é uma razão entre recursos estáveis disponíveis – parcela do capital e dos passivos com a qual a instituição pode contar no horizonte de um ano – e recursos estáveis necessários – parte dos ativos, incluindo-se ativos fora de balanço, que devem ser financiados por recursos estáveis Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 63 por possuírem prazos longos e/ou baixa liquidez. Instituições com ILE igual ou superior a um (100%) são menos suscetíveis a futuros problemas de liquidez. A metodologia de cálculo baseia-se na versão final das regras do Net Stable Funding Ratio (NSFR), publicadas em outubro de 2014 pelo BIS (<www.bis.org/bcbs/ publ/d295.htm>), dentro do arcabouço regulatório denominado Basileia III. O NSFR será exigido como cumprimento mínimo obrigatório pelas instituições a partir de 2018 e representa evolução em relação às tradicionais métricas de crédito versus captações (loan-to-deposit ratios), pois abrange todo o balanço e exposições fora do balanço. O cálculo do ILE é detalhado a seguir. i. Recursos estáveis disponíveis – Recursos que permanecerão na instituição pelo prazo mínimo de um ano. Calculado a partir da aplicação de fatores sobre os saldos contábeis dos diversos passivos e do capital. Quanto maior o ponderador, maior a estabilidade do recurso, conforme apresentado a seguir. a. Fator 100% – Capital e passivos com prazo residual acima de um ano sem possibilidade de resgate antecipado, independentemente da contraparte. b. Fator entre 90% e 95% – Depósitos e captações sem vencimento ou com vencimento inferior a um ano oriundas de clientes de varejo. c. Fator 50% – Depósitos e captações com clientes pessoas jurídicas não financeiras não consideradas de varejo, governo e entidades do setor público, linhas no exterior vinculadas a financiamento de comércio exterior e outros passivos com vencimento entre seis meses e um ano, incluindo-se captações com instituições financeiras, investidores institucionais e fundos. d. Fator 0% – Outros passivos sem vencimento ou com vencimento até seis meses, incluindo-se captações com instituições financeiras, investidores institucionais e fundos, captações no exterior livres, posição líquida a pagar em derivativos, provisões, passivos fiscais e previdenciários, entre outros. ii. Recursos estáveis requeridos – Montante necessário de recursos estáveis, estimado em conformidade com as características de liquidez e do prazo dos ativos mantidos pelas instituições financeiras. Calculado com base na aplicação de fatores sobre os saldos contábeis ou marcados a mercado, quando aplicável. Quanto maior o ponderador, maior o prazo e/ou menor a liquidez do ativo. a. Fator entre 0% e 15% – Disponibilidades, reservas mantidas no BCB, TPFs (incluindo posições livres, excedente de garantias em bolsas e as vinculadas a operações compromissadas com maturidade residual até seis meses), posições ativas em operações compromissadas com lastro em TPF, cotas dos fundos de investimento regulados pela Instrução Normativa CVM nº 409, de 2004, ativos emitidos por outras instituições financeiras com vencimento em até seis meses. b. Fator 50% – Fluxos de caixa das operações de crédito adimplentes (não possui parcela em atraso maior do que noventa dias) com prazo inferior a um ano, exceto as vinculadas a cumprimento de direcionamentos obrigatórios ou financiadas com recursos de repasses, ações negociadas em bolsa, emissões de outras instituições financeiras com vencimento entre seis meses e um ano e demais ativos com vencimento inferior a um ano, incluindo-se títulos privados não considerados na categoria anterior. c. Fator 65% ou 85% – Fluxos de caixa das operações de crédito adimplentes com prazo superior a um ano, exceto as vinculadas a cumprimento de direcionamentos obrigatórios ou financiadas com recursos de repasses, títulos e valores mobiliários privados livres e não consideradas nas categorias anteriores, commodities (ouro) e margens requeridas em bolsas. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 64 d. Fator 100% – Fluxos de caixa das operações de crédito vinculadas a cumprimento de direcionamentos obrigatórios ou originados com recursos de repasses (todas as maturidades), títulos e valores mobiliários financiados em operações compromissadas com prazo acima de seis meses ou vinculados a garantias, exceto bolsa, posição líquida em derivativos a receber, 20% dos derivativos a pagar e demais ativos com prazo superior a um ano ou sem vencimento, incluindo-se operações de crédito inadimplentes, ativo permanente, itens deduzidos do capital regulatório, entre outros. e. Aplica-se, ainda, o fator de 5% para os saldos dos seguintes ativos fora do balanço: coobrigações, garantias prestadas e limites de crédito concedidos não canceláveis. c) Comprometimento de Renda dos Tomadores de Crédito no SFN (CRTC) – Com a implementação da nova versão do Sistema de Informações de Crédito do Banco Central do Brasil (SCR2) em 2012, as instituições financeiras passaram a informar a renda de cada cliente pessoa física, de acordo com as oito faixas similares ao utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tais informações permitiram o desenvolvimento de uma metodologia de comprometimento de renda individualizada para cada tomador de crédito no SFN. O componente relativo ao numerador, que é o serviço da dívida mensal, corresponde aos valores informados ao SCR da carteira ativa a vencer em até trinta dias, exceção feita ao financiamento habitacional e às modalidades com caráter rotativo, estimados pelo sistema de amortização constante e Price, respectivamente. Contempla todas as modalidades de crédito à pessoa física, exceto crédito rural, cartão de crédito a vista e parcelado para lojista e aquelas cujas características tenham natureza de financiamento empresarial, apesar de contratadas com pessoas físicas. Para a renda, com exceção das faixas “até 1 salário mínimo (s.m.)” e “acima de 20 s.m.”, é utilizado o ponto médio dos intervalos de s.m. de cada porte pessoa física informado ao SCR, descontada estimativa da contribuição previdenciária e do imposto de renda. Uma vez que as informações de renda podem divergir, quando provenientes de diferentes instituições financeiras, adotou-se a moda como critério para definir a renda única de cada cliente. O CRTC individual é calculado pela divisão do serviço da dívida de cada cliente pela sua respectiva renda líquida estimada. Como a distribuição dos clientes é mais concentrada nas faixas mais baixas de CRTC, o conceito de mediana é utilizado para obter o CRTC do SFN e para cada faixa de renda. Realiza-se um tratamento de outliers para excluir CRTCs elevados em razão das limitações das informações disponíveis, pois há casos em que a renda considerada na concessão do crédito é a familiar, e não a individual, e, ainda, por não ser possível determinar a renda na faixa “acima de 20 s.m.”. Assim, são excluídos clientes com CRTC maior que o terceiro quartil adicionado de três vezes a distância entre o primeiro e o terceiro quartil. d) Índice de Basileia – Conceito internacional definido pelo Comitê de Basileia que recomenda a relação mínima de 8% entre o PR e o RWA. No Brasil, até setembro de 2013, a relação mínima exigida era dada pelo fator “F”, de acordo com a Resolução nº 3.490, de 29 de agosto de 2007, do CMN, e com a Circular nº 3.360, de 12 de setembro de 2007, do BCB. Devia-se observar o valor de 11% para instituições financeiras e para as demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, exceto para as cooperativas de crédito singulares não filiadas a cooperativas centrais de crédito. A partir de outubro de 2013, a relação mínima exigida passou a ser dada pela Resolução CMN nº 4.193, de 1º de março de 2013, que define um calendário de convergência, o qual especifica a exigência de 11% do RWA de outubro de 2013 a dezembro de 2015; 9,875% em 2016; 9,25% em 2017; 8,625% em 2018; e 8% a partir de 2019. A esse requerimento, soma-se o adicional de capital principal, conforme mencionado no Índice de Capital Principal (ICP). e) Índice de Capital de nível I (IPR1) – Em linha com o estabelecido pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, foi formulado um requerimento mínimo para o capital nível I a partir de outubro de 2013, correspondente a 5,5% do RWA, de outubro de 2013 a dezembro de 2014, e a 6% a partir de janeiro de 2015. A esse requerimento, soma-se o adicional de capital principal, conforme mencionado no ICP. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 65 f) Índice de Capital Principal – Em linha com o estabelecido pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, foi elaborado um requerimento mínimo para o capital principal a partir de outubro de 2013, correspondente a 4,5% dos ativos ponderados pelo risco (RWA). Além desse requerimento, foi adotado o adicional de capital principal, com requerimentos entre: 0,625% e 1,25% de janeiro de 2016 a dezembro de 2016; 1,25% e 2,5% de janeiro de 2017 a dezembro de 2017; 1,875% e 3,75% de janeiro de 2018 a dezembro de 2018; e entre 2,5% e 5% a partir de janeiro de 2019. Conceitos e Metodologias – Estresse de capital Os testes de estresse de capital são utilizados para estimar as potenciais perdas e a nova exigência de capital das instituições financeiras causadas por grandes oscilações nas taxas de juros e de câmbio (risco de mercado) e pelo aumento do risco de crédito. Podem ser aplicados choques individualmente para cada fator de risco ou simultaneamente para vários fatores de risco. Para cada cenário de estresse, são calculados os novos índices de exigência de capital: IB, IPR1 e ICP. Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a qualquer um dos três índices de exigência de capital e insolvente no caso de perda total do capital principal. É avaliada a relevância das instituições que ficariam desenquadradas e/ou tecnicamente insolventes, e o capital adicional necessário para que nenhum banco viesse a desenquadrar-se é calculado. A relevância é apurada a partir da representatividade do ativo total ajustado (ATA) da instituição em relação ao universo analisado. O método assume como premissa que o lucro/prejuízo é o impacto resultante do choque aplicado sobre o fator de risco, que incide diretamente sobre o capital da instituição. Além disso, os efeitos positivos dos possíveis acionamentos dos gatilhos de nível II e de capital complementar, em que os valores são convertidos em capital principal, são considerados como receita. Finalmente, são consideradas as potenciais alterações de constituição e de uso de crédito tributário e suas implicações na apuração do requerimento de capital (RWA), de acordo com a Resolução nº 4.192 do CMN, de 1º de março de 2013, e alterações posteriores. Estresse para risco de mercado – Análise de sensibilidade As exposições sujeitas à variação de taxas de juros (taxas de juros prefixadas e taxas dos cupons de moedas estrangeiras, índices de preços e taxa de juros) classificadas na carteira de negociação são estressadas. As posições por vértices (de 21 dias úteis a 2.520 dias úteis) são recalculadas após a aplicação de choques, e o impacto financeiro sobre o patrimônio é avaliado. Além do impacto sobre o patrimônio, as posições estressadas classificadas na carteira de negociação originam novas parcelas de requerimento de capital para risco de taxas de juros (RWAJUR1, RWAJUR2, RWAJUR3, RWAJUR4). No caso das taxas prefixadas (RWAJUR1), a cada curva de juros gerada por um choque, novos parâmetros regulamentares de exigência de capital são calculados. As exposições em ouro, em moeda estrangeira e em ativos e passivos sujeitos à variação cambial são estressadas, e o impacto financeiro sobre o patrimônio e a nova parcela de requerimento de capital (RWACAM) provocados pelas oscilações das taxas de câmbio são recalculados. Assume-se que todas as exposições sujeitas à variação cambial seguem as oscilações percentuais ocorridas para o cenário de estresse do dólar americano. Os choques alteram, individualmente, as taxas de juros e de câmbio em degraus de 10%, variando-as para baixo até 10% e para cima até 200% da taxa original. Após os impactos, são calculados novos índices de exigência de capital e é avaliada a situação de desenquadramento e de solvência das instituições. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 66 Estresse para risco de crédito 1) Análise de sensibilidade – Aumentos na inadimplência média Essa análise busca medir o efeito do aumento da inadimplência (créditos em atraso superior a noventa dias em relação à carteira de crédito total) sobre o PR e o PRE das instituições. Em incrementos percentuais, a inadimplência é elevada a até 350% do seu valor original. No caso de a provisão contabilizada ser insuficiente para cobrir a inadimplência estressada, o PR e o RWACPAD sofrerão impactos decorrentes do aumento da provisão. Após esses impactos, são calculados os novos índices de exigência de capital e é avaliada a situação de desenquadramento e solvência das instituições. 2) Análise de sensibilidade – Redução de preços de imóveis residenciais O objetivo da análise é estimar os impactos de quedas nos preços de imóveis residenciais sobre o patrimônio das instituições financeiras que possuem carteiras de financiamento habitacional às pessoas físicas. Para isso, considera-se que os preços dos imóveis são atualizados, antes das simulações, pelo Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados (IVG-R). Aplicam-se choques adversos nos preços, simulando uma sequência de quedas em degraus de 5 p.p. Para cada queda, consideram-se como inadimplentes os financiamentos em que o valor do imóvel dado em garantia seja inferior a 90% do saldo devedor. Estima-se que a perda em cada financiamento inadimplente é igual à diferença entre o saldo devedor e o valor presente do montante recuperado com a venda do imóvel em leilão. Para se apurar o montante recuperado, tomase os preços dos imóveis residenciais após a aplicação dos choques, descontando-se os impostos, as despesas de manutenção e as relacionadas ao leilão. Adicionalmente, considera-se que a venda em leilão somente ocorrerá mediante aplicação de deságio proporcional à queda de preço provocada pelo choque aplicado. O valor presente desse montante é obtido descontando-o pela taxa de juro futuro de um ano negociada na BM&FBovespa. Os novos índices de capital regulatório de cada instituição são calculados, considerando as perdas estimadas associadas a cada degrau de queda de preços dos imóveis. 3) Análise de cenário 3.1. Construção de cenários São projetados quatros cenários macroeconômicos para os seis trimestres seguintes em relação à data de referência com base em informações do mercado, em um modelo de Vetor Autorregressivo (VAR) ou na repetição de variações históricas. As variáveis endógenas do VAR são a atividade econômica (média trimestral do índice de atividade econômica do Banco Central [IBC-Br]), a taxa de câmbio do dólar americano (média trimestral da paridade real vs. dólar), a taxa de juros (média trimestral da Selic) e a inflação (Índice de Preços ao Consumidor Amplo [IPCA] acumulado em doze meses). São variáveis exógenas: o prêmio de risco Brasil (média trimestral do spread EMBI+Br calculado pelo J. P. Morgan Chase) e os juros americanos de dez anos (média trimestral do yield das Treasuries com vencimento para dez anos). O desemprego é tratado como uma variável externa ao modelo VAR (média trimestral). O cenário base é construído a partir da mediana das expectativas do mercado (Focus) para as seguintes variáveis componentes do VAR: atividade econômica, juros, taxa de câmbio e inflação. A correlação entre o PIB (expectativa Focus) e o IBC-Br (VAR) é considerada igual a 1. O prêmio de risco Brasil é considerado constante durante os seis trimestres de projeção. Já os juros americanos de dez anos assumem trajetórias de acordo com Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 67 o cenário baseline desenhado pelo Board of Governors of the Federal Reserve System em seu relatório “2014 Supervisory Scenarios for Annual Stress Tests Required under the Dodd-Frank Act Stress Testing Rules and the Capital Plan Rule”1. O cenário VAR Estressado assume a pior inadimplência obtida a partir de quatro projeções feitas por meio do modelo VAR. Em cada uma dessas projeções, considera-se individualmente a trajetória da previsão de cada variável endógena (atividade econômica, câmbio, juros e inflação) a um nível de significância de 5% (unicaudal na direção mais adversa: atividade econômica mais baixa e câmbio, juros e inflação mais altos). As demais variáveis são estimadas pelas funções impulso-resposta, que contêm as relações de dependências entre elas, com o objetivo de manter a consistência de cada projeção. O cenário de quebra estrutural é estimado pelas trajetórias de cada variável endógena (atividade econômica, câmbio, juros e inflação) ao nível de significância de 5% (unicaudal na direção mais adversa, de maneira análoga a apresentada acima). O intervalo de projeção de cada variável depende apenas da variância de sua projeção e desconsidera as relações de dependências entre as variáveis. O cenário histórico simula a repetição do comportamento das variáveis macroeconômicas em janelas de seis trimestres desde julho de 1998. Cada uma dessas janelas de cenário é inserida no painel dinâmico para previsão da inadimplência seis trimestres à frente. O cenário histórico refere-se à previsão que resulta na pior inadimplência projetada dentro desse conjunto de projeções. Os cenários VAR Estressado e Quebra Estrutural assumem trajetórias para a yield das Treasuries de dez anos de acordo com o cenário adverso desenhado pelo Board of Governors of the Federal Reserve System2. A trajetória do EMBI+Br é projetada simulando a repetição da maior variação histórica ocorrida, e, para o desemprego assume-se uma trajetória de aumento linear de dois desvios-padrão, da série iniciada em setembro de 1994, em relação ao valor da data-base. 3.2) Projeção do crédito e da inadimplência Os cenários macroeconômicos gerados são utilizados como entrada nos modelos de painel dinâmico para previsão do crédito e da inadimplência de cada instituição financeira. As carteiras de crédito com as respectivas inadimplências foram segmentadas em: 1) crédito para pessoa física, excluindo o crédito imobiliário; 2) crédito para pessoa jurídica; e 3) crédito imobiliário para pessoa física. Para cada segmento de carteira, são estimados painéis para o crescimento do crédito e para a inadimplência, totalizando seis painéis. Para os painéis de crescimento do crédito, o modelo tem como variável dependente a diferença entre o crescimento do crédito e a tendência do crescimento do crédito calculado pelo filtro Hodrick-Prescott com parâmetro lambda igual a 1.600. As variáveis exógenas incluem a variável dependente defasada, variáveis macroeconômicas (e as respectivas defasagens) e variáveis de controle (e.g. público vs. privado). O crescimento do crédito é controlado pela disponibilidade de capital existente. Nesse sentido, o crescimento do crédito de cada instituição financeira (ex ante os impactos de ajuste de provisão dada a nova inadimplência) fica limitado a montantes que não impliquem índices de capitais (IB, IPR1 e ICP) em desacordo com os limites regulamentares. Para os painéis da inadimplência, a variável dependente é a taxa de inadimplência do segmento transformada por uma função logística. As variáveis exógenas incluem a variável dependente defasada, variáveis macroeconômicas 1/ Vide < http://www.federalreserve.gov/newsevents/press/bcreg/bcreg20141023a1.pdf >. 2/ Vide < http://www.federalreserve.gov/newsevents/press/bcreg/bcreg20141023a1.pdf >. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 68 (assim como as respectivas defasagens) e variáveis de controle (e.g. público vs. privado). O crescimento do crédito do segmento e suas respectivas defasagens são considerados como variáveis predeterminadas. 3.3) Mensuração dos impactos Para cada cenário e para cada instituição financeira, ao longo dos seis trimestres seguintes, caso a provisão constituída seja insuficiente para cobrir a inadimplência projetada, o capital é impactado pela nova necessidade de provisão. Em razão da evolução da carteira de crédito projetada, a nova parcela de requerimento de capital (RWACPAD) é calculada. Assim, são estimados novos índices de exigência de capital para as instituições financeiras e o sistema. Outubro 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 69