Fernandes, Florestan. Fundamentos empíricos da explicação sociológica. 1978. Resenha capítulo 4 por Itamar da Rosa. As soluções fundamentais dos problemas da indução sociológica: E. Durkheim A famosa afirmação de Durkheim, tratar os fatos sociais como coisas, tem aspecto explicativo dos fenômenos sociais em um patamar de objetividade. De fato, para Durkheim, segundo Fernandes, “ às peculiaridades da observação dos fenômenos sociais, o sociólogo manipula dados duplamente selecionados, quer quanto aos seus caracteres exteriores comuns, quer quanto ao seu caráter essencial (…) Daí decorre que nem sempre é preciso operar grandes massas de dados, para se estabelecer uma inferência sociológica legítima” (p. 79). Disto podemos extrair, a) que é necessário saber manipular dados, relevantes. Objetivos. b) há contido um esboço de que na investigação sociológica nos deparamos com problemas sociais e problemas sociológicos. Durkheim nega a subjetividade como passível de investigação sociológica? Sim, na medida que esta se constitui um infinito, destarte, impossível de se adequar ao método. Ah! portanto o que importa é o método científico! Durkheim se dedicou a elaborar um método, logo, a sociologia poderia assumir status de ciência. Homem de seu tempo “que confiava na razão dentro dos limites da experiência e que acreditava na experiência segundo as regras da razão.” (p.70). A questão central neste texto é: como podemos investigar em sociologia, com base empírica e não especulativa, considerando a indução como artifício legítimo? F. Fernandes nos diz de fato, que a proposta de Durkheim foi a de realizar uma teoria da investigação sociológica. Uma concepção realista da ciência que propõe a existência de um objeto determinado que a legitima (ideia da separação das disciplinas pelos seus objetos, campos de saberes). Outra questão é que, assim, podemos obter dados precisos e formular leis gerais. Em outras palavras, a sociologia de Durkheim parte do geral para explicar, se necessário for, o específico. O que importa é saber como a sociedade funciona, como os fenômenos nos são apresentados, como podemos controlá-los se for o caso. A ambição repousa na universalidade das ciências, e de fato, num pensamento moderno. O efeito massificador da sociedade era percebido, Durkheim percebeu à sua maneira. Com relação a sua investigação sociológica, é sabido, ao ajustar os dados do mundo sensível aos olhos do observador pesquisado, o sociólogo francês propõem: a) tratar os fatos sociais como coisas, externos aos sujeitos que os representam; b) é preciso se livrar das prenoções, “o sentimento é objeto da ciência, não o critério de verdade” (p.74). Isso é a objetivação dos sentimentos. A grande sacada de Durkheim foi estabelecer relações objetivas dos indivíduos com a estrutura social, tomar por objeto um grupo de fenômenos, com características exteriores (p.75). Esse modelo é ótimo para supor que há um cimento social, um conjunto de valores que norteiam as ações dos indivíduos, mas fatalmente, neste modelo, os indivíduos se tornaram meros executores da consciência coletiva, robôs sociais. De fato, essa metodologia, segundo Durkheim visava tão somente preparar a sociologia para reter, somente, os dados que apresentam suficiente grau de objetividade, isolados de suas manifestações individuais (p.75). Isso, segundo o sociólogo francês daria um caráter científico à sociologia e para a indução, validade ( a indução deixa de ser exercício filosófico formal, lógico); se contrapondo à especulação, ou segundo outro francês mais contemporâneo, evitaria a “sociologia espontânea”1. Agora vamos objetivar alguns pontos do texto. Indução na sociologia: descobrir leis (gerais); estudar fenômenos sociais sem cair na especulação; método como defesa contra a sociologia espontânea; a indução pressupõe o método experimental e formula leis gerais “ é um processo pelo qual nós concluímos que o que é verdadeiro para certos indivíduos de uma classe é verdadeiro para toda classe” (p.78). Neste caso a indução explica o sujeito, num movimento racional e empírico (sujeito/objeto), pois partimos do geral para o particular. A indução é pressuposto dos cientistas sociais para se propor teorias (e hipóteses); não há hipóteses ad hoc sem observação, nem observação sem teoria, mas, a teoria só se completa com as observações. Seleção de base empírica: o tipo de material para investigação depende da preocupação do cientista no momento da pesquisa. É inútil acumular dados inúteis. Temos então, um resultado positivo, de interesse científico, que tem por base dados essenciais. Em outras palavras, o recorte é importante, bem como sua relação com a importância do objeto, exemplo, a divisão do trabalho social, teoria que pode ser aplicada à sociedade moderna e às tradicionais, resguardando suas particularidades. Este é um exemplo claro da macrossociologia de Durkheim, que se propõe universalista. Aqui também surge uma crítica às grandes generalizações, ou melhor, como adequar uma explicação sociológica para sociedades distintas. 1 Ver os trabalhos de Pierre Bourdieu sobre metodologia de pesquisa. Para Durkheim a inferência indutiva como recurso metodológico deve se pautar na interpretação das “coisas”. Da interpretação chegamos a “ordem” social. O poder heurístico da indução está diretamente ligado a concepção de tratar os fatos sociais como coisas. Sem esta objetivação o método se esvai. Outro ponto cientificamente importante, na epistemologia da ciência é a verificação. A verificação, herdada do método das ciências naturais, que visa confirmar certa teoria a partir da reprodução do experimento por outros cientistas, tendo em vista que, se bem procedido os resultados serão os mesmos. Como em sociologia isto é demais pretensioso (ou impossível mesmo), Durkheim apela para a verificação pela comparação. Dito de outra maneira, temos a observação, a teoria, as hipóteses, a indução como recurso para corroborar a teoria. Se outro cientista proceder assim, para tentar uma verificação, ele deve estabelecer pela comparação os elementos comuns e gerais, donde as premissas principais se confirmam (exemplo a divisão do trabalho, os mitos etc.). A sociologia de Durkheim é determinista, macrossociológica, estrutural (pois considera a supremacia das objetivações subjetivas sobre o indivíduo, que se orienta pela ação coletiva, que é coercitiva), tem fundamento causal, é baseada na experiência da observação empírica. De fato ele inaugura uma nova etapa do pensamento cientifico social ao romper com a espontaneidade e a especulação para se explicar o mundo social.