Kehoe, Louise. “Crise no setor de tecnologia se assemelha à dos anos 80” São Paulo: Folha de São Paulo, 18 de abril de 2001. Jel: G e O Crise no setor de tecnologia se assemelha à dos anos 80 Louise Kehoe. DO "FINANCIAL TIMES" "Os negócios estão péssimos", disse um executivo de uma das empresas mais conhecidas do Vale do Silício. "Caímos no abismo." Essas podem parecer palavras dos atuais líderes americanos de alta tecnologia, mas foram tiradas de reportagens sobre o Vale do Silício publicadas no "Financial Times" 16 anos atrás, durante o que ficou conhecido como a "recessão tecnológica". Os paralelos entre 1985 e hoje são impressionantes. Em março de 1985, por exemplo, relatamos que bastaram seis meses para a indústria de chips americana passar de um recorde de vendas para uma queda acentuada. Há algumas semanas, a notícia era sobre a Cisco Systems, o maior fornecedor mundial de equipamentos para redes. A Cisco, disse seu principal executivo, John Chambers, sofrera "o que talvez seja a desaceleração mais rápida que qualquer empresa já experimentou". Talvez não. Em dezembro, Carly Fiorina, a principal executiva da Hewlett-Packard, declarou que "as luzes apagaram". Em outras palavras, os negócios estão péssimos. É claro que a indústria de eletrônica e computadores, como costumávamos chamá-la, mudou radicalmente nos últimos 16 anos. Naquela época, poucos tinham ouvido falar na internet. E a influência do setor de tecnologia nos índices do mercado financeiro ainda não havia surgido. Mas a dinâmica do setor no meio dos anos 80 era muito semelhante à de hoje. Em dezembro de 1984, eu escrevi: "Segundo estimativas, as empresas de software para computadores pessoais americanas no início deste ano são cerca de 6.000. Em janeiro de 1985, menos de metade dessas empresas devem continuar operando". Substitua "computadores pessoais" por "internet" e essas notícias serviriam para hoje. Novas tecnologias de comunicações digitais anunciavam, em 1985, uma "reformulação do setor de equipamentos de telecomunicações", nós dissemos. Com a ascensão da Cisco, podemos dizer que pelo menos nisso acertamos. Com a perspectiva do tempo, é difícil entender por que tão poucos analistas reconheceram os perigos do estouro da internet. Tanto o PC quanto a internet foram avanços tecnológicos revolucionários que ajudaram a criar novos setores e prejudicaram as empresas estabelecidas. Ambos se tornaram ferramentas essenciais nos negócios, na educação e no governo e mudaram a vida de milhares de pessoas. Mas a enorme diferença entre o atual declínio da tecnologia e o dos anos 80 é que hoje muito mais pessoas participam do jogo. Até alguns anos atrás, novas empresas apresentavam vários trimestres de operações rentáveis para oferecer suas ações ao público. Durante um breve período, essas regras foram suspensas. É seguro dizer que a maioria dos que se aproveitaram disso não deram atenção aos dados históricos. As reportagens de meados dos anos 80 oferecem lições e advertências. O ano de 1985 foi também quando Intel lançou o microprocessador 386 e a Texas Instruments introduziu seu novo conjunto de chips para redes de área local. O chip da Intel, nós relatamos, "encerra a promessa de computadores realmente fáceis de usar", enquanto o chip da Texas Instruments poderia "definir um padrão para a maneira de os computadores se comunicarem". Talvez tenhamos sido otimistas demais. Os PCs ainda são difíceis de usar quando as coisas dão errado. Além disso, foi necessária a internet para que todos os computadores trocassem informações. Por outro lado, o "FT" deu apenas 174 palavras para um anúncio dos planos da Microsoft de fazer uma oferta pública de ações em 1986. Isso foi considerado uma "parte da ressurgência de ofertas públicas por empresas de alta tecnologia depois do resfriamento desse mercado no ano passado". Pelo preço proposto na oferta, a Microsoft teria uma capitalização total de mercado de aproximadamente US$ 400 milhões, fazendo do negócio uma ninharia. Se a história serve de professor, investidores e observadores devem estar atentos a recém-chegados com tecnologias pioneiras no próximo ano. Seria vergonhoso desconsiderar a próxima Microsoft.