Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 1 1 19/3/2008 15:36:03 Tendências em HIV•AIDS Volume 3 - Número 1 - 2008 Editor chefe Ricardo Sobhie Diaz – Universidade Federal de São Paulo Corpo editorial Adauto Castelo Filho – Universidade Federal de São Paulo André Lomar – Hospital Israelita Albert Einstein Artur Kalichman – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP Artur Timerman – Hospital Heliópolis Breno Riegel – Hospital Nossa Senhora da Conceição, Rio Grande do Sul Celina Maria Pereira de Moraes Soares – Universidade Federal de São Paulo Celso Ramos – Universidade Federal do Rio de Janeiro Celso Francisco Hernandes Granato – Professor Adjunto da Universidade Federal de São Paulo David Salomão Lewi – Universidade Federal de São Paulo – Hospital Israelita Albert Einstein Eduardo Sprinz – Universidade Federal do Rio Grande do Sul Érico A. Gomes de Arruda – Hospital São José de Doenças Infecciosas do Ceará Esper George Kallas – Universidade Federal de São Paulo Estevão Portella – Universidade Federal do Rio de Janeiro Giovana L. Baggio – Doutoranda da Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Guido Levi – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo João da Silva Mendonça – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo José Luiz de Andrade Neto – Universidade Federal do Paraná Jeová Keny Baima Colares - Professor da Universidade de Fortaleza Jorge Simão do Rosário Casseb – Médico Pesquisador do Laboratório de Imunologia 56 – LIM56 – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Márcia Rachid – Assessoria de DST/Aids da Secretaria do Estado do Rio de Janeiro Marcos Montani Caseiro – Professor da Fundação Lusíadas, Santos, SP Marcos Vitória – Organização Mundial de Saúde Marinella Della Negra – Instituto de Infectologia Emílio Ribas Paulo Feijó Barroso – Universidade Federal do Rio de Janeiro Paulo Roberto Abrão - Médica-Pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo Reinaldo Salomão – Universidade Federal de São Paulo – Casa de Saúde Santa Marcelina Ricardo Pio Marins – Organização Panamericana de Saúde Rosana Del Bianco – Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo Shirley Cavalcante Vasconcelos Komninakis – Professora da Fundação Lusíadas, Santos – SP Simone Barros Tenore - Médica-Pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo Unaí Tupinambás – Universidade Federal de Minas Gerais Valdez Madruga – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP ÍNDICE O DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO AGUDA COMO ESTRATÉGIA DE PREVENÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV.............................................. 5 Ricardo da Silva de Souza ADESÃO E SUCESSO DA TERAPIA ANTI-RETROVIRAL ............................................................................................................................... 13 Dra. Marcia Rachid CONTRIBUIÇÃO DA APOPTOSE NA DIMINUIÇÃO DA CONTAGEM DE CÉLULAS T CD4 NO PACIENTE HIV .......................................... 18 Giovana L. Baggio – Zappia e Celso Spada A ORIGEM DO HIV EM HUMANOS .................................................................................................................................................................. 23 Luiz Mario Janini DESTAQUES ..................................................................................................................................................................................................... 27 RESUMO DE TESES ......................................................................................................................................................................................... 29 Atha Comunicação & Editora Planejamento Editorial, Diagramação e Produção Gráfica Rua Machado Bittencourt, 190 - Cep: 04044-000 - São Paulo - SP - Tel: 55-11-5087-9502 - Fax: 55-11-5579-5308 E-mail: [email protected] 3 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 3 3 19/3/2008 15:36:10 EDITORIAL Neste fascículo do periódico “Tendências em HIV/AIDS”, o artigo do Dr Ricardo Souza explora aspectos epidemiológicos relacionados à infecção aguda pelo HIV e o potencial do entendimento do perfil destes pacientes no desenvolvimento de instrumentos de prevenção. É interessante notar que a epidemia pelo HIV se faz as custas da alta viremia. Alguns estudos demonstram que quase a totalidade das transmissões das infecções pelo HIV ocorre durante os primeiros 6 meses da aquisição do vírus[Fraser 2006]. É justamente nestes primeiros 6 meses que a carga viral é muito alta, sendo que o platô de replicação viral ocorrerá após o sexto mês. Desta forma interrupção nas cadeias de transmissão do HIV seriam muito mais efetivas a partir do momento que se consegue detectar as pessoas com a infecção recente (menos de 6 meses) ou infecção aguda. Estratégias e instrumentos laboratoriais para identificação destes indivíduos com infecção aguda/recente têm sido desenvolvidos e estão descritos no artigo do Dr Souza. Estas estratégias têm sido aplicadas em pesquisas a partir de amostras de pacientes que procuram os Centros de Testagem anônima em todo o mundo, inclusive no Brasil. De fato, nos dias de hoje, a triagem para a infecção pelo HIV deveria ser amplamente estimulada. Hoje temos instrumentos diagnósticos mais precisos, sabemos exatamente quando intervir com relação ao tratamento anti-retroviral e cadeias de transmissão potencialmente poderiam ser interrompidas com a detecção das pessoas infectadas. Ou seja, nunca existiu melhor hora ou lugar para se saber do status anti-HIV, principalmente em um país que dá acesso aos anti-retrovirais à sua população. A caracterização das amostras de pessoas com infecção aguda ou recente também oferece ricas informações sobre a epidemiologia molecular do HIV. Temos a possibilidade de definir o perfil do vírus que está sendo transmitido no atual momento da epidemia; o vírus que deveria ser, por exemplo, incluído como componente antigênico de uma vacina preventiva em determinada localização geográfica. Em outras palavras, a caracterização do vírus de pessoas cronicamente infectadas não teria importância, pois estes vírus podem não estar sendo transmitidos e ter um papel muito limitado na expansão da epidemia. Da mesma forma, com a análise de amostras de pacientes com infecção recente consegue-se ter uma idéia da expansão de um determinado tipo ou subtipo do HIV em uma determinada área, possibilitando assim o entendimento das razões epidemiológicas ou biológicas para o crescimento de um determinado tipo de vírus. A análise de amostras de infecção recente também nos fornecesse informações com relação a transmissão de vírus resistentes ao anti-retrovirais, na assim chamada de resistência primária. Aliás, a resistência primária representa um problema seriíssimo relacionado à falta de adesão a medidas de prevenção de transmissão. Isto porque quando ocorre a transmissão de um vírus resistente aos anti-retrovirais, em alguma etapa da cadeia de transmissão, algum indivíduo que sabia estar infectados, que tomava anti-retrovirais e falhava ao tratamento anti-retroviral, premeditadamente expôs algum tipo de parceiro à infecção pelo HIV. De fato, estudos realizados nos EUA demonstram que os indivíduos com baixa adesão ao tratamento anti-retroviral são exatamente aqueles que têm menor adesão a profilaxia de transmissão sexual e conseqüentemente os que mais expõem seus parceiros [Flaks 2003]. E é justamente sobre a adesão ao tratamento o artigo escrito pela Dra Márcia Rachid. Poderíamos até dizer que a baixa adesão é um problema que obviamente transcende o tratamento com medicamentos. Ainda o artigo do Dr Souza aponta que entre os indivíduos que procuram os centros de testagem anônima, menos do que a metade retorna para saber sobre o resultado, demonstrando mais uma vez uma falta de adesão ao sistema. A adesão poderia ser considerada, portanto, um estilo de vida, onde as pessoas que aderem mal às normas e regras o fazem de forma ampla. Como exemplo, um estudo em Ribeirão Preto aponta que entre os profissionais de saúde que se expõe a material biológico em acidentes perfuro cortantes, os que faltam as consultas de acompanhamento são os que mais apresentam novos acidentes subseqüentes (manuscrito de tese de livre docência da Profa. Dra Alcione Artioli Machado). Ou seja, as mesmas pessoas que não aderem às consultas de acompanhamento são aquelas que aderem mal às normas para prevenção de acidentes em ambientes hospitalares, como re-encapar agulhas, etc. Aliás, faltas em consultas de rotina têm sido classicamente usadas como marcadores substitutivos de adesão aos medicamentos prescritos. Assim sendo, apesar de todas as importantes normas para melhorar a adesão apresentadas no artigo da Dra Rachid, o desafio que mudar o comportamento de uma pessoa pode ser tarefa fenomenal. Ricardo Sobhie Diaz REFERÊNCIAS Fraser C, Hollingsworth T, Chapman R, et al. Quantifying the impact of primary infection on HIV transmission and control. Program and abstracts of the 13th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections; February 5-8, 2006; Denver, Colorado. Abstract 162. Flaks RC, Burman WJ, Gourley PJ, Rietmeijer CA, Cohn DL. HIV transmission risk behavior and its relation to antiretroviral treatment adherence. Sex Transm Dis. 2003 May;30(5):399-404. 4 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 4 4 19/3/2008 15:36:10 O DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO AGUDA COMO ESTRATÉGIA DE PREVENÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV DIAGNOSIS OF ACUTE HIV INFECTION AS A STRATEGY FOR PREVENTION Ricardo da Silva de Souza Chefe do Laboratório de Pesquisa em HIV/AIDS Universidade de Caxias do Sul RESUMO Recentemente, surgiram novos dados de caráter epidemiológico e biológico que possibilitaram um melhor entendimento do papel e da importância da IAH na transmissão do HIV. Ao mesmo tempo, novas tecnologias laboratoriais foram introduzidas, as quais, tornaram o reconhecimento da IAH na rotina clínica uma realidade. A convergência dessas linhas de pesquisa possibilitou que a IAH se tornasse um ponto focal para inovação na área de prevenção do HIV. Neste trabalho, foram revisados novos dados sobre IAH e métodos de detecção e discutidas as implicações destes para o desenvolvimento de estratégias inovadoras de prevenção Descritores: Infecção aguda pelo HIV, Prevenção, Transmissão do HIV ABSTRACT Recent observations from several groups suggest that individuals with acute (antibody negative) HIV infections may present for ‘routine’ HIV testing in unanticipated numbers. Most of these papers have highlighted the use of group testing strategies to screen antibody negative testing sera for HIV RNA using nucleic acid amplification tests. At the same time, accumulating evidence indicates that acute HIV infection is a time of briefly, but substantially elevated risk for transmission of HIV. In this paper, we review these new data with attention to their implications for HIV prevention strategies. By calling attention to a subset of patients that are both recently infected and at transiently very high risk of transmitting their new infection to partners, acute HIV detection makes it possible to use traditional, network notification-based public health strategies effectively in the fight against HIV. Keywords: Acute HIV infection, Prevention, HIV transmission INTRODUÇÃO Aproximadamente 35.000.000 de pessoas estão infectadas com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)[1] — praticamente todas passaram por um período de infecção aguda pelo HIV (IAH). Embora dezenas de milhares destes indivíduos tenham apresentado sintomas compatíveis com a síndrome retroviral aguda apenas poucos milhares de pacientes com IAH foram diangnosticados até hoje. Historicamente, a dificuldade para identificar pacientes com IAH levou a uma falta de conhecimento sobre sua história natural e consequentemente incertezas sobre a necessidade e o tratamento ideal[2] ou conduta de saúde pública para os casos de AIH. Entretanto, recentemente, surgiram novos dados de caráter epidemiológico e biológico que possibilitaram um melhor entendimento do papel e da importância da IAH na transmissão do HIV. Ao mesmo tempo, novas tecnologias laboratoriais foram introduzidas, as quais, tornaram o reconhecimento da IAH na rotina clínica uma realidade. A convergência dessas linhas de pesquisa possibilitou que a IAH se tornasse um ponto focal para inovação na área de prevenção do HIV. Neste trabalho, foram revisados novos dados sobre IAH e métodos de detecção e discutidas as implicações destes para o desenvolvimento de estratégias inovadoras de prevenção. Notas: 1. Este artigo é uma adaptação do artigo Approaching “HIV elimination”: Interventions for acute HIV infection dos autores Christopher D. Pilcher, Lisa Eaton, Seth Kalichman, Cláudia Bisol e Ricardo da Silva de Souza; publicado no periódico Current HIV/AIDS Reports, Volume 3, Número 4 de Dezembro de 2006 páginas 160 -168. 2. Agradecimentos a Carla T. Souza, Leonardo da Motta e Rosa, Dea Spearhack e Salete Tessari pela ajuda na revisão do manuscrito. 3. Agradecimentos Dr. Christopher Pilcher pela cedência das tabelas e figuras deste artigo. Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 05-12) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 5 5 5 19/3/2008 15:36:10 Infecção Aguda pelo HIV Infecção aguda pelo HIV (IAH) ou infecção primária é o primeiro estágio da doença causada pelo HIV. Nesta fase, o RNA do HIV ou carga viral pode ser detectado no sangue antes do aparecimento de anticorpos específicos. A infecção primária pode ser diferenciada da infecção “recente” (quando a detecção de anticorpos é realizada por meio da utilização de ensaios imunoenzimáticos (EIE) comerciais, mas a concentração ou a avidez dos anticorpos ainda é reduzida); da infecção estabelecida, ou crônica, quando a resposta mediada por anticorpos está completamente desenvolvida (Figura 1). Até 66% dos pacientes com IAH apresentam uma síndrome clínica inespecífica, auto-limitada,semelhante à mononucleose chamada de síndrome retroviral aguda(4-8). Estudos sugerem que o período de incubação da IAH varia de 5 a 31 dias contados a partir da exposição até o aparecimento dos sintomas e possui uma duração média de 14 dias(4,9-11). Uma das principais características da síndrome retroviral aguda inclui o pico de viremia do HIV (tipicamente em milhões de cópias de RNA do HIV por mL de sangue) seguida, uma ou duas semanas mais tarde, pelo aparecimento de anticorpos ou soroconversão(11, 2), e um ou dois meses mais tarde por uma diminuição expressiva da viremia plasmática[13]. O diagnóstico da IAH é dificultado pela ausência de anticorpos durante as primeiras semanas da infecção. Por isto, a avaliação laboratorial deve incluir testes que detectam ácidos nucléicos ou antígenos do HIV, como o antígeno p24. Figura 1. Testes diagnósticos para infecção pelo HIV: O tempo aproximado pelo qual os vários ensaios tornam-se positivos formam a base para a diferenciação dos casos de infecção aguda (RNA ou antigeno p24 positivo e anticorpo negativo), recente (anticorpo positivo e negativo nos ensaios menos sensíveis) ou crônica (fortemente positivo para antifcorpos). (Adaptado de Fiebig) Estratégias para detecção da IAH Estudos que avaliaram os custos e a especificidade imperfeita dos testes adicionais necessários para o diagnóstico da infecção pelo HIV durante a IAH(7, 8) indicam o uso de testes suplementares para detecção do antígeno p24 ou testes de amplificação dos ácidos nucléicos (TAANs) apenas em situações em que haja suspeita clínica de IAH. Tais situações podem não ser tão incomuns como previamente assumido. Rosenberg e colaboradores(14) observaram que 1.0% dos pacientes com testes negativos para mononucleose infecciosa pelo vírus 6 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 6 6 Epstein-Barr (VEB) apresentavam sorologia consistente com infecção aguda pelo HIV. Pincus e colaboradores(15) observaram em um serviço de urgência da cidade de Boston, que 1.0% dos pacientes com “sintomas virais” apresentavam IAH, mesmo na ausência de suspeita clínica. Médicos em serviços de atendimento primário são notadamente avessos a considerar IAH como uma possibilidade de diagnóstico clínico. Em uma revisão de 30 casos bem sucedidos de diagnóstico de IAH no estado da Carolina do Norte (EUA), Weintrob e colaboradores(16) relataram que a maioria dos pacientes necessitaram retornar ao médico pelo menos três vezes até que IAH fosse considerada uma explicação para as queixas inespecíficas de síndrome retroviral aguda. Neste mesmo estudo, o diagnóstico de IAH só foi considerado depois do envolvimento de um médico infectologista em 83% dos casos. Devido às dificuldades associadas ao reconhecimento clínico da IAH, as pesquisas na área têm focado na adaptação de algoritmos de testagem que permitam o uso de ensaios moleculares ou testes para detecção do antígeno p24 na rotina de triagem do HIV como testes suplementares. Atualmente, duas abordagens são utilizadas visando a melhoria da acurácia e da relação de custo-efetividade nos algoritmos de testagem para HIV suplementados para detecção da IAH: 1) algoritmos de testagem em grupo, ou pooling de amostras; e 2) testagem direcionada a populações de alto risco. Testagem em grupo: uma solução para a triagem de populações de baixo risco. Nos ensaios moleculares disponíveis atualmente, o RNA do HIV ou carga viral pode ser detectado com precisão em amostras de sangue periférico alguns dias após a infecção (Figura 1). A estratégia ideal compreende retestar as amostras anti-HIV negativas com metodologias moleculares. Esse procedimento detectaria a maior parte dos casos de IAH nos indivíduos testados, no entanto esta estratégia é de alto custo e também eleva as chances de resultados falso-positivos(8). Estratégias de Testagem em grupo ou “pools” foram utilizadas inicialmente pelos bancos de sangue como uma solução para o elevado custo dos ensaios moleculares. Esta estratégia é baseada na criação de grupos ou pools de amostras de vários indivíduos. Na triagem de grupos de amostras, o grupo que apresentar resultado positivo no ensaio molecular, deverá ser desmembrado e suas amostras testadas individualmente. Os algoritmos de testagem em grupo reduzem o número de amostras individuais que necessitam testagem molecular, reduzindo o custo e, quando feita em níveis, também diminuem o potencial de resultados falso-positivos, aumentando a acurácia do processo de testagem. A aplicação da testagem em pools na triagem para o HIV foi primeiramente sugerida por Quinn, et al(18) e utilizada prospectivamente no programa de testagem público do estado da Carolina do Norte (EUA) na população de indivíduos que buscavam testagem para HIV no início do ano de 2002(19). Nos primeiros 12 meses do programa de testagem suplementar com testes moleculares em pools de amostras anti-HIV negativas na Carolina do Norte, 109.250 pacientes com risco de infecção foram testados em 110 centros de testagem públicos daquele estado, incluindo clínicas de pré-natal, de infecções sexualmente transmissíveis, clínicas de planejamento familiar, prisões e alguns outros locais não tradicionais de testagem. Das 606 novas infecções identificadas, 583 apresentavam anticorpos (anti-HIV positivas) e um número adicional de 23 casos (4% das infecções identificadas no estado) eram anti-HIV negativos, ou seja, apresentavam infecção aguda para o HIV."" Em um ano de testagem contínua, foram observados pelo laTendências em HIV • AIDS (Volume 3- Número 1 - 05-12) 19/3/2008 15:36:11 boratório estadual somente dois resultados falso positivos nos testes moleculares. Estimativas do valor preditivo positivo e especificidade durante o período de uso do algoritmo de testagem em grupo que utiliza testes baseados na amplificação do ácido nucléico (TAAN) ou moleculares foi 0.997 (Internvalo de Confiança de 95%, 0.988 a >0.999) maior que 0.999 (Intervalo de Confiança de 95%, 0.999 a >0.999), respectivamente; e o custo adicional por teste realizado neste estudo foi de apenas $3.63 dólares americanos. Os autores concluíram que os testes convencionais utilizados para triagem baseados na detecção de anticorpos não são suficientemente sensíveis como se acreditava e que os testes utilizados nas rotinas de triagem não são capazes de detectar as infecções na fase de maior potencial de contágio, na infecção aguda. O programa do estado da Carolina do Norte, hoje, tem financiamento permanente e a utilização da testagem em grupo demonstrou resultados consistentes nos anos subseqüentes a sua implantação. Resultados similares foram obtidos em diversas populações urbanas que buscam testagem para HIV: São Francisco(17), Los Angeles(20), Atlanta(21) e Seattle(22) nos Estados Unidos da América e em Johannesberg(23), na Àfrica do Sul, os quais estão resumidos na tabela 1. Estes estudos indicam que a testagem de pools de amostras com TAANs pode ser uma alternativa promissora, entretanto, existem limitações nesta estratégia. Os TAANs são técnica e operacionalmente complexos, necessitam nível avançado de infra-estrutura laboratorial, de programas de qualidade e requerem que as amostras de sangue total sejam processadas previamente à realização do ensaio. Assim sendo, a estratégia de testagem de pools de amostras com TAANs pode não ser viável em áreas com limitada infra-estrutura laboratorial, ou situações onde a flebotomia convencional e o processamento de amostras possam ser problemáticos. Estudo Local População Testagem direcionada a populações de alto risco O desempenho e custo-efetividade dos testes de triagem dependem, em parte, da prevalência da doença na população a ser testada. Em situações em que a testagem em pools seguida de TAAN não seja viável, uma abordagem alternativa para melhorar a acurácia (valor preditivo positivo) e as questões de custo ligadas aos TAANs ou testes de antígenos virais é direcionar a testagem para populações com reconhecida alta prevalência de IAH (ex., mais de 1 caso de IAH por 1.000 amostras anti-HIV negativas). Na Tabela 1 são apresentados cinco estudos recentes que avaliaram prospectivamente estratégias de triagem da IAH em áreas endêmicas como na Índia[5], Sul do Brasil(24), África do Sul(23) e Maláui(13,25). Os pesquisadores identificaram mais de três casos de IAH por 1.000 indivíduos nas suas respectivas populações de testagem e estes casos representam mais de 1% de todos os novos casos de infecção. É importante salientar, que dois estudos(5,25) utilizaram ensaios do tipo enzime linked immunosorbent assay (ELISA) que detectam somente antígeno p24 para identificação de casos agudos e outro estudo(24) utilizou ELISA de quarta geração, ou seja, que detecta simultaneamente antígeno p24 e anticorpo anti-HIV. Estudos formais para avaliar o desempenho serão necessários para determinar o método com maior acurácia e custo-efetividade para a identificação de casos de IAH em áreas com alta prevalência do HIV. Entretanto, esses resultados esclarecem que a detecção de IAH em larga escala com métodos não-moleculares são viáveis mesmo em áreas do mundo com limitada infra-estrutura laboratorial. Testes utilizados n Prevalência* (%) (Anti- HIV+) Casos adicionais de IAH** EIE de 1a geração, pool com TAAN EIE de 2a geração, pool com TAAN 109,250 0.5 (%) 3.6 São Francisco Centros de Testagem Clinica de IST 3,075 3.4 10.5 Los Angeles Clinica de IST 1,712 0.8 7.1 Stekler, et al. [22] Seattle Somente HSH 3,525 2.3 8.6 Priddy, et al. [21] Atlanta 2,202 3.0 6.1 Stevens, et al. [23] Johannesburg, África do Sul 1,906 35.2 1.8 Pilcher, et al. [6] Lilongwe, Maláui 929 46.8 5.0 Fiscus, et al. [25] Lilongwe, Maláui Centro de Testagem e Clinica de IST Centro de testagem e Clinica de IST Clínica ISThomens Clínica de ISTtodos EIE de 2a geração, pool com TAAN EIE de 1a e 3a geração, pool com TAAN EIE de 2a e 3a geração, pool TAAN 1,450 40.5 3.6 deSouza, et al. [24] Porto Alegre, Brazil 933 19.1 2.8 Pilcher, et al. [19] Carolina do Norte Klausner, et al. [17]; Patel, et al. [20] Patel, et al. [20] Centro de Testagem EIE de 3a geração, pool com TAAN Testes rápidos, pool com TAAN Testes rápidos, ELISA p24 padrão e com dissociação de imunocomplexo, pool com TAAN EIE de 3a e 4a geração, pool com TAAN * A prevalência da infecção pelo HIV foi definida como positividade nos ensaios de detecção de anticorpos. **Casos adicionais de IAH (%) foram calculados da seguinte forma: número de casos de IAH dividido pelo número total de casos anti-HIV + x 100. Tabela 1. Estudos Recentes sobre testagem para HIV que inclui detecção de infecção Aguda (IAH). Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 05-12) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 7 7 7 19/3/2008 15:36:11 Estágio da infecção e o risco de transmissão Há muito foi sugerida a hipótese de que a IAH, caracterizada pela viremia acentuada, seria uma fase da infecção em que o paciente apresenta alto potencial de transmissão a terceiros(26). Estudos recentes, permitiram uma melhor compreensão no que tange às características virais e do hospedeiro que contribuem para determinar a transmissão durante o período de infecção aguda e de infecção crônica. A transmissão sexual do HIV depende da contagiosidade do caso índice e da susceptibilidade do parceiro(s) sexual HIV negativo(27). Entre os fatores que contribuem para a probabilidade de transmissão do HIV, acredita-se ser particularmente importante, as concentrações de HIV no sangue e nas secreções genitais do transmissor(28,29). Com o objetivo de caracterizar a história natural da excreção do HIV genital e a sua relação com a transmissão do HIV, grupos de pesquisa internacionais(13,25,30) coletaram amostras de sêmen doadas por pacientes durante a fase de infecção aguda e logo após a sua resolução clinica. Um estudo envolvendo pacientes com infecção aguda causada pelo subtipo C em clínicas de infecções sexualmente transmissíveis do Maláui e seguidos longitudinalmente para avaliação da excreção genital do HIV, observou um aumento significativo e reprodutível da excreção viral em torno da quarta semana da infecção durante o período de IAH, com a excreção caindo rapidamente em torno da oitava semana após a exposição efetiva. Estes resultados foram reproduzidos em outros estudos mais detalhados sobre a excreção genital do HIV que foram realizadas em macacos com infecção aguda experimental por SHIV[31]. Modelos matemáticos(32,3) sugerem que a magnitude da excreção ou shedding do HIV em torno dessa fase é suficiente para causar aumentos abruptos nas chances de transmissão por ato sexual. O rápido declínio da excreção genital do HIV entre a quarta e oitava semanas da infecção aguda, reforça a idéia de que as pesquisas de intervenção devem voltar suas atenções para os períodos mais iniciais da infecção. Evidências epidemiológicas corroboram a idéia de que a excreção transitória do HIV nas secreções genitais que ocorre durante IAH pode levar a transmissão eficiente. Os pesquisadores de modelos matemáticos Jacquez(33) e Koopman(34) demonstraram que os aumentos observados na epidemia nas décadas de 80 e 90 na cidade de São Francisco nos EUA, poderiam ser explicados por modelos matemáticos que consideravam a eficiência da transmissão durante a IAH. Em estudos abrangendo outras populações, Peterman(35) e Leynaert[36] confirmaram que os parceiros sexuais de soroconversores recentes apresentavam maior incidência para o HIV quando comparados com os parceiros de pessoas infectadas cronicamente. Os dados mais sugestivos neste assunto, entretanto, têm origem no estudo realizado no distrito de Rakai, Uganda, conduzido por Wawer e colaboradores(37). Estes dados sugerem que a “hipercontagiosidade” da IAH pode ter um impacto significativo na disseminação do HIV(38). Entre 1994 e 1999, foi conduzido um grande ensaio clínico em Rakai com o objetivo de determinar se o tratamento intenso e intermitente com terapias contra infecções sexualmente transmissíveis poderia reduzir a disseminação do HIV(39). Um total de 15.127 sujeitos de 56 vilarejos contribuíram com dados sobre o seu comportamento sexual e de seus parceiros durante o estudo, permitindo aos pesquisadores avaliar retrospectivamente e realizar o seguimento longitudinal de 235 casais em que apenas um dos parceiros fosse HIV positivo, conhecidos como casais discordantes. Os pesquisadores conseguiram, assim, calcular a taxa pela qual o HIV foi transmitido dos pacientes índices para os 8 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 8 8 parceiros susceptíveis, por coito, e de acordo com o estágio da infecção do paciente índice. Pacientes índice com infecção recente (infectado em media há 2.5 meses) transmitiram o HIV para os seus parceiros a uma taxa de 8.2/1000. Sujeitos com infecção crônica pelo HIV transmitiram com menor eficiência (com uma taxa de 7-15 transmissões por 10.000 coitos), e aqueles com infecção avançada (não controlada e não tratada) transmitiram o HIV a uma taxa de 2.8/1000 [37]. Este importante trabalho também foi o primeiro a estimar empiricamente a proporção de parceiros potenciais a ser infectados durante os primeiros cinco meses de infecção aguda (43%), um número semelhante aos números observados no estudo de coorte realizado na Carolina do Norte, em que os pacientes identificados com AIH eram contatados em tempo real como parte do processo de testagem ampliada(40). A lógica para intervenção de saúde pública O atual conhecimento sobre a transmissão do HIV durante a infecção aguda requer uma nova abordagem no âmbito da saúde pública para o HIV(38). O modelo mais conhecido para o combate de doenças sexualmente transmissíveis em sua fase aguda é sem dúvida o modelo de prevenção e controle da sífilis, conhecido como “eliminação da sífilis”[41]. Neste modelo, o monitoramento e a prevenção são suplementados por uma estratégia de intervenção em rede que reconhece a importância central da identificação precoce da sífilis na cadeia de transmissão (Figura 2). Figure 2. Adotando o paradigma da sífilis: trabalhando com casos agudos. Em um sistema de notificação centrado na identifcação de casos de IAH, similar ao modelo da sífilis, o reconhecimento de um caso agudo (círculo xadrez) é visto como um evento de monitoramento que aciona a busca ativa de parceiros para entrevistas, aconselhamento para redução de risco de exposição e, quando apropriado, testagem para o HIV. Individuos são identificados com risco de infecção ao HIV (círculos claros) ou doença ativa (círculos escuros) e um risco aumentado de transmissão. Intervenções comportamentais devem ser aplicadas em vários locais da rede para evitar maior disseminação. Nesse modelo os casos de sífilis primária são imediatamente aconselhados e tratados para reduzir o potencial de transmissão em curto prazo enquanto o processo de busca ativa e notificação do parceiro visa identificar os parceiros próximos do paciente agudo para aconselhamento e triagem para sífilis. Nesta abordagem, que se mostrou bem sucedida ao longo dos anos, os casos agudos têm um caráter sentinela, criando Tendências em HIV • AIDS (Volume 3- Número 1 - 05-12) 19/3/2008 15:36:11 assim oportunidades para ação imediata para interromper a cadeia de transmissão. Estratégias para a redução do risco do indivíduo. Casos de infecção aguda pelo HIV proporcionam uma oportunidade idêntica ao modelo da sífilis para a interrupção da cadeia de transmissão nas redes de contato sexual ou de uso de drogas injetáveis. Similar aos casos de sífilis primária, o período existente para ações imediatas e eficazes de intervenção objetivando a prevenção da transmissão por um paciente com infecção aguda é muito pequeno (4 a 8 semanas). A eficiência de qualquer intervenção está diretamente relacionada à intensidade e rapidez com a qual ela é aplicada. Diagnóstico precoce, rapidez na devolução de resultados e procedimentos eficientes de notificação de resultados são fatores importantes para os resultados da intervenção da IAH (Figura 3). As intervenções para IAH devem apresentar um impacto imediato no comportamento de risco do indivíduo; elas também devem ser entregues no momento certo tanto para o paciente com AIH e para os membros da cadeia que estejam em risco. Vários tipos de intervenção existentes podem ter um papel importante nestas situações. A terapia com anti-retrovirais pode reduzir a infectividade nos primeiros meses da IAH, especialmente nos casos de gravidez(42). A simples notificação de um resultado positivo a um paciente, a doação de preservativos ou propiciar aconselhamento específico podem ter um efeito similar ou até maior na transmissão sexual do HIV. Intervenções baseadas em aconselhamento breve e direciona- Figure 3. Linha do tempo para intervenção para a infecção aguda: O período de maior contagiosidade na IAH está concentrado nas primeira oito semanas após o início da viremia. Assim, a eficácia de qualquer intervenção depende não apenas da testagem precoce, mas também de um tempo curto para intervenção no paciente agudo e seus parceiros. O potencial para interrrupção da cadeia de transmissão é representado pela faixa preta. do para redução de risco têm se mostrado efetivas em vários cortes populacionais(43). Encontros com sessão única podem resultar em significativa mudança de comportamento de risco quando realizado em serviço de saúde, especialmente quando os pacientes estão motivados para mudança. Os chamados “momentos de aprendizado” incluem serviços de orientações sobre infecções sexualmente transmissíveis e também testagem para HIV. Por exemplo, o Centro para o Controle e Prevenção de Doenças, nos Estados Unidos (CDC) demonstrou no projeto RESPECT que duas sessões de aconselhamento para redução de risco com duração de 20 minutos cada combinada com a testagem para HIV apresentou a mesma eficiência na Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 05-12) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 9 9 redução de comportamento de risco para HIV e recorrência de infecções sexualmente transmissíveis comparado com quatro sessões de intervenção com aconselhamento ampliado(44). A intervenção com aconselhamento do projeto RESPECT é centrada na disponibilização de educação relativa à redução de risco e avaliação do risco individual que formam a base de um plano individualizado de redução de risco. O aconselhamento do projeto RESPECT também se baseia no relacionamento estabelecido entre o aconselhador e o cliente dentro do contexto dos serviços oferecidos em clinicas de infecções sexualmente transmissíveis (IST). Os resultados demonstraram que os participantes das duas sessões de intervenção com aconselhamento para redução do comportamento de risco apresentaram uma redução de 30% no número de novas IST em seis meses de seguimento e de 20% em 12 meses de seguimento quando comparado com os participantes que receberam apenas informações teóricas sobre o assunto. Assim sendo, duas sessões de aconselhamento realizadas em conjunto com a testagem para o HIV demonstraram uma redução importante na recorrência de IST. Resultados semelhantes foram publicados em um estudo posterior que ocorreu no contexto de um programa de testagem rápida para HIV(45). Os resultados dos dois estudos são particularmente importantes, pois referem-se a indivíduos que apresentaram resultados negativos no teste para o HIV, os quais são menos susceptíveis a mudanças de comportamento após o processo de testagem. Weinhardt et al [46] demonstraram que os indivíduos com resultados positivos no teste para HIV apresentam maior grau de mudança comportamental pós-testagem. Existem evidências que mudanças no comportamento de risco após o recebimento de resultado positivo para o HIV são mantidas por longos períodos de tempo(47). Aconselhamentos breves para a redução de risco podem ser realizados em populações de alto risco para a infecção, independentemente da testagem para HIV(48-50). Estes modelos são adaptáveis para uso em situações com IAH e podem ser utilizados em trabalho de campo como parte dos procedimentos para notificação de parceiros descritos abaixo. É importante salientar, que um pequeno número de pessoas que recebe resultado positivo para o HIV reverte para um comportamento de alto risco, necessitando de intervenção comportamental além do aconselhamento e testagem convencionais. Não está claro, ainda, se a redução de comportamento de risco de longa duração é mantida ou melhorada com a entrada do paciente no sistema de saúde. Desta forma, ações de saúde pública voltadas para a IHA devem fazer parte e ser integradas com aos serviços médicos e de saúde pública oferecidos na comunidade. Intervenção rápida nas redes de transmissão: Serviços de Aconselhamento e Referenciamento de Parceiros (SARP) Como nos casos de sífilis primária e mantendo o modelo da eliminação da sífilis, a investigação epidemiológica ativa dos casos de IAH pode propiciar a notificação do parceiro/rede de transmissão e ações de redução de risco (testagem, aconselhamento, tratamento) para interromper a cadeia de transmissão do HIV. Serviços de Aconselhamento e Referenciamento de Parceiros (SARP) são conhecidos como uma estratégia eficaz para aumentar o número de pessoas que recebem aconselhamento e o resultado do teste de HIV e, conseqüentemente, reduzir o número de indivíduos que desconhecem o seu estado sorológico(51-53). Os parceiros podem ser notificados de 9 19/3/2008 15:36:11 várias maneiras, entretanto, a notificação é geralmente feita de maneira voluntária por meio de referenciamento por parte do paciente ou profissional da saúde. O sucesso da notificação de parceiros, avaliada de acordo com os números de parceiros contatados, é, na maioria dos casos, mais bem sucedida quando o referenciamento é realizado por um profissional de saúde(54). Nessas circunstâncias o profissional de saúde, conhecido como especialista de intervenção, irá notificar parceiros passados do indivíduo infectado pelo HIV (paciente índice) sem identicá-lo. Embora exista preocupação em relação as consequências da notificação para o paciente índice, como a perda da confidencialidade e possível retaliação por parte do parceiro, os indivíduos contatados pelo SARP podem ser beneficiados pela oportunidade da testagem pelo HIV e, no caso de resultado positivo, pelo melhor acompanhamento de sua infecção e tratamento quando necessário(55). A aceitação do SARP foi bem estabelecida em várias situações: Passin e colaboradores(56) revisaram 25 estudos relacionados a notificação de parceiros nos EUA e relataram que a maioria das pessoas nestes estudos estavam dispostas a participar do programa de referenciamento de parceiros (5597%) e quase a totalidade dos pacientes estavam dispostos a participar do programa se referenciamento fosse realizado por profissionais da saúde, (mulheres-89%; homens heterosexuais 92%), entretanto, homens que fazem sexo com homens (HSH) se mostraram menos dispostos a participar (80%). Concluindo, indivíduos preferem ter seus parceiros atuais e passados notificados por um profissional da saúde ao invés de ter que fazê-lo pessoalmente. As razões associadas a esta preferência foram atribuidas a fatores relacionados com a orientação sexual, tipo de relacionamento com o parceiro e história de uso de drogas. Embora as barreiras a notificação, tais como reações negativas de parceiros (abuso, violência. abandono, etc.) sejam reais, os estudos observaram que, na realidade, os participantes desses estudos relataram poucas experiências negativas e que os seus relacionamentos, em geral, não haviam terminado como resultado da notificação(56). Ainda que essa estratégia seja aceitável a os argumentos sejam fortes para a utilização do SARP nas situações de IAH e infecções tardias, a eficácia do SARP como instrumento para a redução da transmissão do HIV não está totalmente comprovada. Atualmente, aproximadamente, um terço dos indivíduos com novo diagnóstico de infecção pelo HIV nos EUA recebem alguma forma de SARP. Esses programs apresentam condições e circunstâncias diferentes e também váriado grau de sucesso na localização de parceiros. Embora Foust e colaboradores tenham observado 87% de sucesso na busca de parceiros nominados e detecção de um novo caso de infecção pelo HIV para cada 11 parceiros nominados no estado da Carolina do Norte [57], Golden e colaboradores [58] mostraram que em Seattle, EUA, até 39% dos parceiros identificados pelo paciente índice não podiam ser localizados, se recusavam a fazer o teste ou negavam o diagnóstico de HIV do parceiro. Em outro estudo sobre notificação de parceiros o índice de sucesso de localização foi de 70% para os parceiros atuais e 0% para os parceiros passados(55). Experiências iniciais com SARP no contexto da infecção aguda pelo HIV As primeiras experiências com SARP no contexto da infecção aguda pelo HIV foram realizadas no estado da Carolina do Norte (EUA)(40): Entre os meses de novembro de 2002 e outubro de 2004, o sistema público de testagem daquele estado iden- 10 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 10 10 ficou 48 indivíduos com infecção aguda, apresentando resultados TAAN+/Ab- para o HIV; 45 (94%) foram aconselhados com sucesso e 44 tiveram seus resultados confirmados para infecção aguda. Em suas entrevistas com os especialistas de intervenção, os casos índice com IAH relataram ter tido, em media, 130 parceiros nominados e 69 parceiros anônimos nos últimos seis meses. Estes resultados apontam uma taxa de 3.17 parceiros nominados por caso índice, aproximadamente 6 vezes maior que a taxa observada por Foust no mesmo estado para parceiros de pacientes com infecção crônica pelo HIV. Em torno de 78% dos parceiros nominados por pacientes com IAH foram notificados com sucesso, e 67% dos parceiros HIV negativos aceitaram a testagem. Estimou-se que em 56% dos casos, o provável paciente fonte da infecção foi entrevistado e aconselhado. Considerando todos os parceiros nominados pelo pacientes índice, 39% eram HIV positivos. Foi identificada, nestas redes, uma prevalência de11% para o HIV entre os parceiros com teste HIV negativo recente. O sucesso desse esforço em rapidamente contatar, aconselhar e entrevistar indivíduos no contexto das redes de alto risco com eventos de transmissão ocorrendo em tempo real, representa prova conceitual de que a estratégia de combate a sífilis pode ser aplicada para a “eliminação do HIV”. Desenvolvendo estratégias para “eliminação do HIV” como um desafio global Para que a detecção dos casos de IAH e consequente intervenção possam contribuir para o controle da transmissão a nível global é necessário o desenvolvimento de estratégias eficazez e culturalmente apropriadas as necessidades e locais. Embora esses programas possam variar em magnitude e objetivos, todos devem possuir certos quesitos básicos: 1) um sistema de testagem e aconselhamento que consiga alcançar boa parte das pessoas em risco de infecção; 2) testes laboratoriais capazes de diferenciar com acurárcia indivíduos com IAH e infecção crônica; 3) habilidade de devolver os resultados dos testes aos pacientes com rapidez; 4) capacidade de intervenção direta nas redes de risco infecção (ex. programas do tipo SARP); e 5) estratégias para redução do risco que incluam vínculo com os serviços de saúde e prevenção para as pessoas que participam dessas redes. Exemplo do Brasil Na condição de um país em desenvolvimento com uma prevalência moderada (0.65%; Programa Nacional de AIDS, 2007), o Brasil é reconhecido por controlar ativamente a epidemia do HIV por meio de uma resposta de saúde pública abrangente, que inclui acesso universal aos anti-retrovirais(59) e a programas de testagem, aconselhamento e monitoramento da infecção(60). Programas de redução de danos e distribuição de preservativos têm sido descritos como bem sucedidos(60,61), como também esforços recentes que visam dobrar o número de pessoas que buscam testagem e aconselhamento para o HIV nos próximos anos(62). O diagnóstico da infecção pelo HIV no Brasil segue as normas da Portaria número 59 de 2003 que determina o conjunto de procedimentos para o diagnóstico sorológico da infecção pelo HIV e pela Portaria número 34 de 2005 que regulamenta e propõe um algoritmo com testes rápidos, recentemente validados no país. Mesmo assim, a epidemia no Brasil apresenta desafios importantes. Com um número estimado de 600,000 casos [63] concentrados em algumas regiões do país e o aparecimento recente, na região sul, de uma epidemia dominada pelo HIV subtipo C(64) com características epidemiológicas distintas(65) há muito ainda a ser feito. Nos maiores centros de testagem e Tendências em HIV • AIDS (Volume 3- Número 1 - 05-12) 19/3/2008 15:36:12 aconselhamento do sul do Brasil, as estimativas de prevalência da infecção pelo HIV variam entre 12 to 19%. Como então as estratégias para “eliminação do HIV” devem ser incorporadas a um programa de prevenção e controle de doenças para combater esta epidemia? Primeiro, resultados de testes de HIV devem estar disponíveis com rapidez e qualidade. Atualmente, testes de HIV estão disponíveis em todas as regiões brasileiras, entretanto centros especializados com testes confirmatórios são menos comuns e, especilamente, na Região Norte, aonde a transmissão vertical do HIV e sífilis congênita continuam sendo um problema, as dificuldades operacionais e a centralização da rede laboratorial acarreta longos períodos de tempo para a devolução dos resultados laboratoriais, chegando até a algumas semanas(66). Outra situação comun é a dificuldade na devolução dos resultados devido ao não retorno dos pacientes aos centros de saúde. Estudo recente sobre os centros de testagem brasileiros demonstrou que 30.3% têm uma taxa de retorno que fica entre 51% e 75%(69). Com o objetivo de melhorar o acesso a testagem e aumentar o número de indivíduos que completam o processo de testagem, o governo brasileiro começou a investir em testes rápidos para o HIV, realizando estudos de validação[67], estimulando a produção nacional e desenvolvendo uma rede descentralizada para a implementação de centros de testagem com testes rápidos. No Brasil, as estratégias para identificar e intervir na IAH devem ser planejadas como parte de uma estratégia nacional compatível com o programa de teste rápidos. Testes de baixa complexidade operacional, baixo custo, alta qualidade e que possibilitem uma rápida devolução de resultados, são pontos importantes a serem considerados. Testagem em grupo ou “pools” de amostras com testes de amplificação do ácido nucléico foram adotados pelos países desenvolvidos e pela maioria dos programas de triagem para IAH dos EUA, porém é um processo operacionalmente complexo talvez mais apropirado para grandes laboratórios centralizados. Entretanto, existe uma alternativa mais apropriada para a realidade do Brasil. Os EIE de quarta geração desenvolvidos para detectar casos de IAH por meio da detecção simultânea de anticorpos e antigeno p24 já estão disponíveis comercialmente no Brasil e em outros países. Devido a seu formato ELISA esses testes estão sendo utilizados em laboratórios com grande ou pequeno volume de testes em sua rotina. Quando utilizados em conjunto com o resultado de um teste rápido anti-HIV no contexto de uma rede laboratorial descentralizada, os teste de quarta geração pode ser uma alternativa simples e rápida para confirmar testes rápidos positivos e detectar casos de IAH entre os testes rápidos negativos. Nesse cenário, um paciente com resultado de teste de quarta geração positivo e resultado de teste rápido negativo seria considerado “possível IAH’; um paciente com os dois resultados positivos seria considerado como tendo infecção confirmada pela detecção de anti-HIV. O custo-efetividade, sensibilidade e valor preditivo positivo dos esaios de quarta geração para identificar pacientes com IAH em indivíduos HIV negativos são desconhecidos, mas podem ser facilmente estabelicido. Como um método para identificar IAH, é importante salientar que o uso de dois testes em paralelo (um para detectar anticorpos, e outro para detectar anticorpo/antígeno) seria mais eficaz se utilizado em populações ou áreas do Brasil com altas taxas de infecção aguda. Especificamente direcionando a testagem para IAH em areas de alto impacto se estaria consistente com a estratégia “eliminação do HIV”. A segundo maior desafio para implemtar um programa de prevenção e controle direcionado a IAH é escolher umaa estratégia de intervnenção capaz de conciliar a redução de riscos dos membros das redes ligadas ao caso de IAH a curto (imediatamente) e médio prazo (manutenção). Existe uma esforço de notificação de resultados no Brasil, com até 67% das clínicas apresentando algum tipo de procedimento para contato de pacientes para garantir a devolução dos resultados(59). Mesmo assim, existem poucos trabalhos publicados em relação ao aconselhamento e referenciamento de pacientes(68). O desenvolvimento de procedimentos especificos para o SARP deve levar em conta a realidade cultural e as bases teóricas existentes como as descritas anteriormente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (UNAIDS). UNAIDS 2007 report on the global AIDS epidemic. http://www.unaids.org. Accessado February 29, 2009. 2. Smith DE, Walker BD, Cooper DA, et al. Is antiretroviral treatment of primary HIV infection clinically justified on the basis of current evidence? AIDS 2004, 18:709-718. 3. Pilcher CD, Eron JJ Jr., Galvin S, et al. Acute HIV Revisited: New opportunities for Treatment and Prevention. J Clin Invest 2004, 113: 937-945. 4. Schacker T, Collier AC, Hughes J, et al. Clinical and epidemiologic features of primary HIV infection. Ann Intern Med 1996, 125:257-264. 5. Bollinger RC, Brookmeyer RS, Mehendale SM, et al. Risk factors and clinical presentation of acute primary HIV infection in India. JAMA 1997, 278: 20852089. 6. Pilcher CD, Price MA, Hoffman IF, et al. Frequent detection of acute primary HIV infection in men in Maláui. AIDS 2004, 18:517-524. 7. Daar ES, Little S, Pitt J, et al. Diagnosis of primary HIV-1 infection. Ann Intern Med 2001, 134:25-29. 8. Hecht FM, Busch MP, Rawal B, et al. Use of laboratory tests and clinical symptoms for identification of primary HIV infection. AIDS 2002, 16:11191129 9. Pilcher CD, Eron JJ, Vernazza P, et al. Sexual transmission during the incubation perios of primary HIV infection. J Am Med Assoc 2001, 268:17131714. 10. Borrow P, Lewicki H, Wei X, et al. Antiviral pressure exerted by HIV-1-specific cytotoxic T lymphocytes (CTLs) during primary infection demonstrated by rapid selection of CTL escape virus. Nat Med 1997, 2:205-211. 11. Lindback S, Thorstensson R, Karlsson AC, et al. Diagnosis of primary HIV-1 Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 05-12) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 11 11 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. infection and duration of follow-up after HIV exposure. Karolinska Institute Primary HIV Infection Study Group. AIDS 2000, 14:2333-2339. Lindback S, Karlsson AC, Mittler J, et al. Viral dynamics in primary HIV-1 infection. Karolinska Institutet Primary HIV Infection Study Group. AIDS 2000, 14:2283-2291. Pilcher CD, Tien HC, Eron JJ Jr, et al. Duke-UNC-Emory Acute HIV Consortium. Brief but efficient: Acute HIV infection and the sexual transmission of HIV. J Infect Dis 2004, 189:1785-1792. Rosenberg ES, Caliendo AM, Walker BD: Acute HIV infection among patients tested for mononucleosis. N Engl J Med 1999, 340:969. Pincus JM, Crosby SS, Losina E, et al. Acute human immunodeficiency virus infection in patients presenting to an urban urgent care center. Clin Infect Dis 2003, 37:1699-1704. Weintrob AC, Giner J, Menezes P, et al. Infrequent Diagnosis of Primary Human Immunodeficiency Virus Infection: Missed Opportunities in Acute Care Settings. Arch Intern Med 2003, 163:2097-2100. Klausner JD, Grant RM, Kent CK: Detection of acute HIV infections. N Engl J Med 2005, 353:631-633 Quinn TC, Brookmeyer R, Kline R, et al. Feasibility of pooling sera for HIV1 viral RNA to diagnose acute primary HIV-1 infection and estimate HIV incidence. AIDS 2000, 14:2751-2757. Pilcher CD, Fiscus SA, Nguyen TQ, Foust E, McPherson JT, Williams D, Ashby R, Owen O’Dowd J, Miller W, Eron Jr. JJ, Cohen MS and Leone PA. Detection of acute HIV infections during HIV testing in North Carolina. New Engl J Med 2005, 152:1873-1883 Patel P, Klausner JD, Bacon OM, Liska S, Taylor M, Gonzalez A, Kohn RP, Wong W, Harvey S, Kerndt PR, Holmberg SD.Detection of acute HIV 11 19/3/2008 15:36:12 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. infections in high-risk patients in California.J Acquir Immune Defic Syndr. 2006 May;42(1):75-9 Priddy F, Pilcher CD, Moore R, Tambe P, Turner M, Fiscus S, Park M, Feinberg M, and C del Rio. NAAT-based Screening for Acute HIV Infection in an Urban HIV Counseling and Testing Population in the Southeastern United States. In: Program and Abstracts, 12th Conf Retroviruses Opp Infect; Boston, February 22-25, 2005: Abstract 964 Stekler J, Swenson PD, Wood RW, et al. Targeted screening for primary HIV infection through pooled HIV-RNA testing in men who have sex with men. AIDS 2005, 19:1323-1325 Stevens W, Akkers E, Scott L, Myers M, Motloung T, Pilcher C, Rees H, Cohen MS and WDFVenter. High prevalence of undetected, acute HIV infection in a South African primary care clinic. 3rd IAS Conference on HIV Pathogenesis and Treatment, 2005. Rio de Janeiro: Abstr. MoOa0108 deSouza R, Pilcher CD, Fiscus SA, et al. Rapid and efficient acute HIV detection by 4th generation Ag/Ab ELISA. XVI International AIDS Conference 2006. Toronto: Abstr. TUAB0201 Fiscus S, Pilcher CD, Miller W, Hoffman I, Price M, Chilongozi D, Mapanje C, Krysiak R, Hosseinipour M, Galvin S, Gama S, Martinson F, and M Cohen. Real-time Detection of Patients with Acute HIV Infection in Africa. In: Program and Abstracts, 12th Conf Retroviruses Opp Infect; Boston, February 22-25, 2005: Abstract 20 Daar ES, Moudgil T, Meyer RD, Ho DD: Transient high levels of viremia in patients with primary human immunodeficiency virus type 1 infection. N Engl J Med 1991, 324:961-964. Vernazza PL, Eron JJ, Fiscus SA, Cohen MS: Sexual transmission of HIV: infectiousness and prevention. AIDS 1999, 13:155-166. Quinn TC, Wawer MJ, Sewankambo N, et al. Viral load and heterosexual transmission of human immunodeficiency virus type 1. N Engl J Med 2000, 342:921. Gray RH, Wawer MJ, Brookmeyer R, et al. Probability of HIV-1 transmission per coital act in monogamous, heterosexual, HIV-1-discordant couples in Rakai, Uganda. Lancet 2001, 357:1149-1153. Stekler J, Sycks B, Holte S, et al. Semen HIV Dynamics and Effect of ART following Primary HIV Infection. 13th Conf Retroviruses Opp Infect 2006. Denver: Abstract 396. Pullium JK, Adams DR, Jackson E, et al. Pig-tailed macaques infected with human immunodeficiency virus (HIV) type 2GB122 or simian/HIV89.6p express virus in semen during primary infection: new model for genital tract shedding and transmission. J Infect Dis 2001, 183:1023-1030. Chakraborty H, Sen PK, Helms RW, et al. Viral burden in genital secretions determines male-to-female sexual transmission of HIV-1: a probabilistic empiric model. AIDS 2001, 15:621-627. Jacquez JA, Koopman JS, Simon CP, et al. 1994. Role of the primary infection in epidemics of HIV infection in gay cohorts. J Acquir Immune Defic Syndr 1994, 7:1169-1184. Koopman JS, Jacquez JA, Welch GW, et al. The role of early HIV infection in the spread of HIV through populations. J Acquir Immune Defic Syndr Hum Retrovirol 1997, 14:249-258. Peterman TA, Stoneburner RL, Allen JR, et al. Risk of human immunodeficiency virus transmission from heterosexual adults with transfusion-associated infections. JAMA 1988, 259:55-58. Leynaert B, Downs AM, de Vincenzi I: Heterosexual transmission of human immunodeficiency virus: variability of infectivity throughout the course of infection. European Study Group on Heterosexual Transmission of HIV. Am J Epidemiol 1998, 148:88-96. Wawer MJ, Gray RH, Sewankambo NK, et al. Rates of HIV-1 transmission per coital act, by stage of HIV-1 infection, in Rakai, Uganda. J Infect Dis 2005, 191:1403-1409 Cohen MS and CD Pilcher. Amplified transmission and new approaches to HIV prevention. J Infect Dis 2005;191:1391-1393 Wawer MJ, Gray RH, Sewankambo NK, et al. A randomized, community trial of intensive sexually transmitted disease control for AIDS prevention, Rakai, Uganda. AIDS 1998, 12:1211-1225. Pilcher CD, Foust E, Ashby R, Kuruc J, Nguyen T, Hightow L, Harrison N, 12 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 12 12 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. McCoy S, Williams D and PA Leone. Sexual Transmission Risk and Rapid Public Health Intervention in Acute HIV Infection. In: Program and Abstracts, 13th Conf Retroviruses Opp Infect; Denver, February 4-8, 2006: Abstract 371 Centers for Disease Control and Prevention. Report of the Syphilis Elimination Consultation, 1-2 August 2005. Atlanta. October 2005. Disponível: http:// www.cdc.gov/stopsyphilis/SyphElimConsultationMeeting.pdf Patterson KB; Leone PA, Fiscus SA, Kuruc J, McCoy S, Wolf L ; Foust E, Williams D, Ashby R and CD Pilcher. Detection of Acute HIV Infection in Pregnant Women in North Carolina. In: Program and Abstracts, 13th Conf Retroviruses Opp Infect; Denver, February 4-8, 2006. Abstract 370 Kalichman SC, DiFonzo K, Kyomugsha F, et al. When Briefer Can Be Better: Single Session Approaches to HIV Risk Reduction Interventions. Interamerican Journal of Psychology 2001, 35:41-58. Kamb M, Fishbein M, Douglas J, et al. Efficacy of risk-reduction counseling to prevent Human Immunodeficiency Virus and Sexually Transmitted Diseases. JAMA 1998, 280:1161-1167. Metcalf C, Douglas J, Malotte CK, et al. Relative efficacy of prevention counseling with rapid HIV testing: A randomized, controlled trial (RESPECT2). Sex Transm Dis 2005, 32:130-138. Weinhardt LS, Carey MP, Johnson BT, Bickham NL: Effects of HIV counseling and testing on sexual risk behavior: Meta-analysis of published research, 1985-1997. Am J Public Health 1999, 89:1397-1405. Weinhardt LS: (2005). HIV Diagnosis and Risk Behavior. In Positive Prevention: Sourcebook for HIV Risk Reduction with People Living with HIV/ AIDS. Edited by Kalichman SC. City: Springer/Kluwer Publishing; 2005: page numbers. Belcher L, Kalichman SC, Topping M, Smith S, Emshoff J, Norris F, Nurss J A. Randomized trial of a brief HIV risk reduction counseling intervention for women. J Consult Clin Psychol 1998: 66; 856-861 Kalichman SC, Weinhardt LS, Benotsch E, Zweben A, Bjodstrup B, Cain D, Swain G.. Experimental components analysis of brief theory-based HIV-AIDS risk reduction counseling for sexually transmitted infection patients. Health Psychol 2005: 24; 198-208 Simbayi LC, Kalichman SC, Skinner D, Jooste S, Cain D, Cherry C, Mathiti V, Dlakulu R, Unddemanns N, Bruinders V, Jacobs C, van Wyk R, Arendse C, Croome J, Bok W. Theory-based HIV risk reduction counseling for sexually transmitted infection clinic patients in Cape Town, South Africa. Sex Transmit Dis 2004: 31; 727-733 Khalsa AM: Preventive counseling, screening, and therapy for the patient with newly diagnosed HIV infection. Am Fam Physician 2006, 73:271-280. CDC. Centers for Disease Control and Prevention. (2006). A glance at the HIV/AIDS epidemic. http://www.cdc.gov/hiv/resources/factsheets/At-AGlance.htm. Accesso 10 de Maio de 2006. NIAID. National Institute of Allergy and Infectious Diseases. (2005). HIV infection and AIDS: An overview. http://www.niaid.nih.gov/factsheets/hivinf. htm. Accesso 10 de Maio de 2006. Golub, Indyk: HIV-Infected individuals as partners in prevention: A redefinition of the partner notification process. Soc Work Health Care 2006, 42:225-235. de Souza L, Munday PE: Audit of HIV partner notification in a district general hospital. Int J STD AIDS 2003, 14:854-855. Passin WF, Kim AS, Hutchinson AB, et al. A systematic review of the HIV partner counseling and referral services: Client and provider attitudes, preferences, practices, and experiences. Sex Transm Dis 2006, 33:320-328. Foust E, Leone P, Vanhoy T, et al. Partner counseling and referral services to identify persons with undiagnosed HIV---North Carolina, 2001. Mor Mortal Wkly Rep 2003, 52:1181-1184 Golden MR, Hogben M, Potterat JJ, Handsfield HH: HIV partner notification in the United States. A national survey of program coverage and outcomes. Sex Transm Dis 2004, 31:709-712. Melchior R: HIV/AIDS NO BRASIL - Análise de 322 serviços em 7 estados brasileiros (CE, MA, MS, PA, RJ, RS, SP). Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 2003. Tendências em HIV • AIDS (Volume 3- Número 1 - 05-12) 19/3/2008 15:36:12 ADESÃO E SUCESSO DA TERAPIA ANTI-RETROVIRAL ADHERENCE AND SUCCESS OF ANTI-RETROVIRAL THERAPY Marcia Rachid Médica da Gerência de DST/Aids, Sangue e Hemoderivados SESDEC-RJ (Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro); Membro do Grupo de Consenso para Terapia Anti-Retroviral do Ministério da Saúde; Coordenadora da Câmara Técnica de AIDS do CREMERJ. RESUMO A terapia anti-retroviral altamente ativa ou terapia tripla se tornou disponível a partir de 1996, reduzindo a mortalidade e melhorando a qualidade de vida do paciente HIV soropositivo. Devido à complexidade dos esquemas terapêuticos a decisão sobre quando e como começar é extremamente importante. Os anti-retrovirais reduzem drasticamente a carga viral plasmática, sendo a adesão ao tratamento um dos pontos mais importantes para a manutenção dos níveis de replicação indetectáveis, além de impedir o surgimento de resistência viral. Dados sugerem que a adesão em torno de 80% é suficiente para o tratamento de diferentes doenças crônicas, no entanto, a adesão deve ser superior a 95% para que a terapia anti-retroviral seja eficiente. Este artigo pretende discutir as causas da falta de adesão relacionadas ao paciente, assim como discutir medidas que possam ser úteis no sentido de tornar o paciente aderente à terapia anti-retroviral. Descritores: Adesão terapêutica, Terapia anti-retroviral tripla. ABSTRACT The highly active anti-retroviral therapy or HAART is under use since 1996, improving both the length and quality of life in HIVinfected patients. Because of the complexity of the therapeutic schemes the decision about when and how to start is extremely important. HAART drastically reduces HIV plasmatic viral load, and adherence is one of the most important contributing factors, conversely, resistant strains of HIV arise when drug adherence is poor. Studies suggest that about 80% of adherence is sufficient to treat some chronic disease; however, the adherence must be up to 95% to an efficient anti-retroviral therapy. This article aims to discuss the causes of the lack of adherence among the HIV seropositive patients as well to discuss the strategies that can help to improve the adherence to HAART among these patients, improving their management. Keywords: Therapeutic adherence, Highly active anti-retroviral therapy, HAART. INTRODUÇÃO A terapia anti-retroviral altamente ativa (HAART ou terapia tripla ou, ainda, coquetel, como é mais conhecida entre os leigos) se tornou disponível a partir de 1996, modificando a evolução da infecção pelo HIV, reduzindo a mortalidade e melhorando a qualidade de vida do paciente ao prevenir a progressão da imunodeficiência(14,16). Devido à complexidade dos esquemas, a decisão de quando e como começar é muito importante. O paciente precisa compreender não só o regime terapêutico proposto, mas também que há risco de desenvolvimento de resistência do HIV quando ocorrem falhas na administração da medicação(13). O início da terapia deve coincidir com o momento em que o paciente se sente seguro e já tenha entendido bem os objetivos e a necessidade de adesão ao tratamento(13,25). Os esquemas anti-retrovirais reduzem rapidamente a carga viral plasmática quando a pessoa é virgem de tratamento e a adesão adequada é um dos principais responsáveis pela manutenção dessa indetectabilidade, impedindo a resistência viral(21). Na prática (vida real), diferente do que é observado nos ensaios clínicos, somente 50 a 70% dos pacientes alcançam Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 13-15) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 13 13 esse objetivo(5,9,12,24) e a razão principal é a falta de adesão à terapia. Pode haver perda da motivação ou esquecimento de doses à medida que aumenta o tempo de tratamento. Há relatos de que a adesão em torno de 80% pode ser suficiente para o tratamento de diferentes doenças crônicas, mas em relação à terapia anti-retroviral a adesão deve ser superior a 95%(17,19). O QUE É ADESÃO O termo “adesão” ao tratamento deve ser visto como uma atividade conjunta na qual o paciente não apenas obedece às orientações médicas, mas entende, concorda e segue a prescrição. Significa que deve existir uma “aliança” entre médico e paciente, na qual são reconhecidas não apenas a responsabilidade específica de cada um no processo, mas também de todos que estão envolvidos no tratamento(25). Não se pode predizer como será a adesão a partir da “personalidade” ou do “comportamento” do paciente. Há relação direta com o dia a dia do paciente porque diversas mudanças podem ocorrer ao longo do tempo de tratamento. Não é um processo linear e dificuldades podem surgir, havendo momentos de 13 19/3/2008 15:36:12 maior ou menor adesão. Portanto, não é uma característica do paciente de “ser aderente”, mas sim uma condição momentânea de “estar aderente”(13). O convívio diário com preconceitos e discriminação, especialmente no trabalho e entre os familiares, pode contribuir para a baixa adesão. Além disso, atitudes negativas relacionadas à medicação também aparecem em alguns estudos como fatores que podem influenciar na adesão como, por exemplo, as crenças de que “tomar muito remédio faz mal” ou que não é bom fazer uso da medicação por períodos longos(13). FATORES RELACIONADOS À PERDA DE DOSES Muitos fatores interferem diretamente na perda de doses e falha terapêutica: esquecimento, isolamento social, efeitos adversos, depressão, mudanças na rotina, posologia dos medicamentos, complexidade do esquema, falta de supervisão adequada, doença grave concomitante, uso de álcool ou drogas ilícitas(2,3,8). A adesão pode não ter nenhuma relação com as condições econômicas, classe social, ocupação ou nível educacional. Quando há restrições alimentares a adesão pode piorar(7). De modo geral, as doenças crônicas ou aquelas que requerem longo período de supervisão ou cuidado especial levam à maior dificuldade de adesão(15). AVALIANDO A ADESÂO É difícil medir a adesão, mas há dados que mostram que perguntar diretamente ao paciente pode ser a melhor maneira de avaliar o que está ocorrendo e como buscar soluções(10). A pergunta não pode expressar dúvida ou pré-julgamento para permitir que o paciente se sinta bem para conversar sobre o assunto. Em vários estudos foi demonstrado que 80% dos pacientes respondem a verdade(Sackett, 1976; Haubrich, 1999). PREVENINDO A FALTA DE ADESÃO E A FALHA TERAPÊUTICA O acesso à equipe de saúde é fundamental em caso de urgências ou dúvidas relacionadas ao tratamento. A possibilidade de telefonar ou enviar mensagem via correio eletrônico facilita muito, reduzindo a ansiedade e permitindo a solução mais rápida de possíveis problemas. A boa relação médicopaciente contribui bastante para a adesão à terapia. Há dados que mostram que os pacientes que confiam em seus médicos e criam vínculos afetivos têm melhor adesão(4,22,23). Um aspecto que deve ser sempre abordado é que há risco de interação entre os anti-retrovirais e diversos outros medicamentos, podendo haver comprometimento da eficácia do tratamento ou aumento da toxicidade. O médico deve fornecer por escrito os nomes de medicamentos contra-indicados. Drogas recreativas e o uso abusivo de álcool podem aumentar o risco de esquecimento da medicação(20). Outro ponto importante é que não pode haver interrupção do tratamento em nenhuma circunstância. Perder doses, tomar doses erradas ou fora dos horários previstos levam facilmente à resistência viral devido à baixa concentração sanguínea dos 14 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 14 14 medicamentos, permitindo a reprodução do vírus na presença da medicação e o surgimento de mutações. Por essa mesma razão, não pode faltar a medicação nas farmácias(6). Em caso de falha terapêutica, devem ser avaliados os fatores responsáveis antes de indicar a troca do esquema, pois, na maioria das vezes, o novo regime será ainda mais complexo. COMO MELHORAR A ADESÃO • Transmitir, mesmo antes de iniciar a terapia, o conceito de adesão e de resistência do HIV. • Ressaltar a importância de seguir com rigor os horários e as doses prescritas. • Lembrar que atrasos e perdas de doses permitem o aumento da carga viral e levam à resistência viral, comprometendo opções terapêuticas futuras. • O atraso ou antecipação dos horários das doses, especialmente de determinados medicamentos, pode ser tão grave como não tomar a medicação. • O esquema terapêutico deve ser adaptado ao estilo e à rotina de vida do paciente. • Pode ser uma boa estratégia contar os comprimidos ao abrir cada frasco. • Preparar uma caixa de comprimidos (kit) para cada dia (mínimo duas doses de cada medicamento para eventuais imprevistos) ou para a semana. • Deixar um kit no trabalho ou em outros locais que costuma freqüentar ou mesmo na própria mochila para evitar o risco de perda de doses em caso de imprevistos. • Preparar um “kit” com mais doses do que as necessárias para períodos de viagens ou final de semana ou ausência da residência por tempo maior do que o esperado. • Anotar na agenda e marcar a dose tomada para evitar perdas ou repetição. • Programar o alarme de relógio ou do celular. • A participação de um amigo ou parceiro ou familiar para ajudar a lembrar das doses pode ser fundamental na fase inicial de tratamento. • Quando a privacidade é importante, deve ser previamente escolhido e programado o local mais adequado para tomar a medicação no ambiente de trabalho. • Manter o paciente informado sobre os progressos de seu tratamento e sobre o significado dos resultados de exames laboratoriais favorece a boa relação, reduz a ansiedade e estimula a manutenção da adesão necessária. • Durante a visita médica é importante rever detalhes do tratamento e esclarecer dúvidas relacionadas à medicação ou a qualquer outro assunto de interesse do paciente. • Fornecer textos, revistas ou outros materiais que informem sobre a importância da adesão, sobre o que é a resistência viral ou sobre qualquer outro assunto que possa contribuir com o sucesso terapêutico. • É necessário que o acesso à equipe profissional seja fácil para possíveis esclarecimentos e para criar vínculos. • Controlar o fornecimento dos medicamentos nas Farmácias (anotar datas de entrega e retorno, quantidade, frascos devolvidos se for o caso) e estimular a volta no período pré-estabelecido. • Gestantes e crianças necessitam de cuidados especiais para reforçar a adesão considerando-se as especificidades de cada caso. Tendências em HIV • AIDS (Volume 3- Número 1 - 13-15) 19/3/2008 15:36:12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Carter M. NAM. Information series for HIV-positive people: Adherence. 2nd edition, 2004. www.aidsmap.com 2. Cheever LW, Wu AW. Medication adherence among HIV infected patients: understanding the complex behavior of taking this complex therapy. Curr Infect Dis Rep 1: 401-407, 1999. 3. Chesney MA. New antiretroviral therapies: adherence challenges and strategies. Abstracts of the 37th Interscience Conference on Antimicrobial Agents and Chemotherapy, Toronto, Canada. Evolving HIV Treatments: Advances and the Challenge of Adherence Symposium, 1997. 4. Chesney M. Adherence to HAART regimens. AIDS Patient Care STDS 17:169-77, 2003. 5. Deeks S, Loftus R, Cohen P, et al: Incidence and predictors of virologic failure to indinavir (IDV) and/or ritonavir (RTV) in an urban health clinic. Abstracts of the 37th Interscience Conference on Antimicrobial Agents and Chemotherapy, Toronto, Canada, Abstract LB-2, 1997. 6. Diabaté S, Alary M, Koffi C. Determinants of adherence to highly active antiretroviral therapy among HIV-1-infected patients in Côte d’Ivoire. AIDS 21:1799–1803, 2007. 7. Gallant JE, Block DS. Adherence to antiretroviral regimens in HIV-infected patients: results of a survey among physicians and patients. J Int Assoc Physicians AIDS Care May 1998. 8. Gifford AL, Bormann JE, Shively MJ, Wright BC, Richman DD, Bozzette SA. Predictors of self-reported adherence and plasma HIV concentrations in patients on multidrug antiretroviral regimens. JAIDS 23: 386 395, 2000. 9. Haynes RB. Interventions for helping patients to follow prescriptions for medications. Cochrane Database of Systematic Reviews, Issue 1, 2001. 10. Icovicks J. Behavioral measures. Adherence to New HIV Therapies: a Research Conference. Washington, DC, NIH Office of AIDS Research, 15-18, 1997. 11. Kaplan A, Golin C, Beck K, et al. Adherence to protease inhibitor therapy and viral load. Program and Abstracts of the 6th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections, Chicago. Abstract 96, 1999. 12. Lucas GM, Chaisson RE, Moore RD. Highly active antiretroviral therapy in a large urban clinic: risk factors for virologic failure and adverse drug reactions Ann Intern Med 131: 81 - 87, 1999. Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 13-15) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 15 15 13. Ministério da Saúde do Brasil. Recomendações para Terapia Anti-retroviral em Adultos e Adolescentes Infectados pelo HIV, 2007/2008. 14. Mocroft A, Ledergerber B, Katlama C, Kirk O, Reiss P, d’Arminio Monforte A, et al. Decline in the AIDS and death rates in the EuroSIDAstudy: anobservational study. Lancet 362:22–29, 2003. 15. Owing M. Dictionary of health services management, 2nd ed. National Health Publishing, 1982. 16. Palella FJ Jr, Delaney KM, Moorman AC, Loveless MO, Fuhrer J, Satten GA, et al. Declining morbidity and mortality among patients with advanced human immunodeficiency virus infection. HIV Outpatient Study Investigators. N Engl J Med 338:853–860, 1998. 17. Paterson D, Swindells S, Mohr J, et al. How much adherence is enough: a prospective study of adherence to protease inhibitor therapy using MEMS Caps. 18. Program and Abstracts of the 6th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections, Chicago. Abstract 092, 1999. 19. Paterson D, Swindells S, Mohr J et al. Adherence to protease inhibitor therapy and outcomes in patients with HIV infection. Ann Int Med 133 (1): 21-30, 2000. 20. Powell-Cope GM, White J, Henkelman EJ, Turner BJ. Qualitative and quantitative assessments of HAART adherence of substance-abusing women. AIDS Care 15:239–249, 2003. 21. Raboud JM, Harris M, Rae S, et al. Impact of adherence on duration of virological suppression among patients receiving combination antiretroviral therapy. HIV Medicine 3: 118-124, 2002. 22. Roberts KJ, Volberding P. Adherence communication: a qualitative analysis of physician-patient dialogue. AIDS 13:1771-8, 1999. 23 Roberts KJ. Physician-patient relationships, patient satisfaction, and antiretroviral medication adherence among HIV-infected adults attending a public health clinic. AIDS Patient Care STDS 16:43-50, 2002. 24. Sackett D et al. Patient compliance with antihypertensive regimens. Patient Counselling & Health Education 11:18-21, 1978. 25. Vitória M. Adesão ao tratamento anti-retroviral: o que podemos fazer para melhorar? Manual de Assistência Psiquiátrica em HIV/AIDS, Ministério da Saúde do Brasil 61-66, 2000. 15 19/3/2008 15:36:12 CONTRIBUIÇÃO DA APOPTOSE NA DIMINUIÇÃO DA CONTAGEM DE CÉLULAS T CD4 NO PACIENTE HIV CONTRIBUTION OF APOPTOSIS IN CD4 T-CELL DEPLETION IN THE HIV SEROPOSITIVE PATIENT Giovana L. Baggio – Zappia1, Celso Spada2 1 - Laboratório de Virologia e Imunologia I, Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP 2 - Departamento de Análises Clínicas, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC RESUMO A apoptose ou morte celular programada desempenha papel importante no desenvolvimento e na manutenção da homeostasia dos tecidos, sendo essencial ao sistema imune no processo de seleção clonal e um importante mecanismo de defesa, eliminando células infectadas por vírus e células tumorais. Existem evidências de que a apoptose é uma das causas da depleção das células T periféricas nos pacientes infectados pelo HIV. Vários estudos relatam níveis elevados de apoptose tanto in vitro quanto in vivo nas células T CD4 e T CD8 de pacientes HIV soropositivos, sendo que os níveis são mais elevados em pacientes sintomáticos quando comparados aos indivíduos progressores lentos. Esta revisão pretende apresentar a contribuição da apoptose na diminuição da contagem de células T nos pacientes HIV soropositivos, assim como os mecanismos envolvidos nesse processo. Descritores: Apoptose, HIV/AIDS, Morte celular programada. ABSTRACT Apoptosis or programmed cell death plays a central role in the development and homeostasis of all tissues. Apoptosis is essential for clonal selection processes and an important mechanism of defense, eliminating viral infected cells as well tumor cells. There are increasing evidences that associated lymphocyte apoptosis is an important contributor to the loss of peripheral T cells in HIV infected patients. Several studies demonstrated that increased levels of apoptosis are observed in vivo and in vitro in the T CD4 and T CD8 cells of the HIV seropositive patients; in addition, apoptosis is greater in HIV symptomatic patients when compared with long term non progressors. This review focus on the role of apoptosis as an important mechanism involved in decreased T cell count in HIV seropositive patients as well discusses its underlying mechanisms. Keywords: apoptosis, HIV/AIDS, programmed cell death. INTRODUÇÃO A Apoptose A apoptose é uma forma fisiológica de morte celular geneticamente codificada, indispensável na manutenção da homeostasia dos tecidos. É essencial ao sistema imune no processo de seleção clonal, eliminando células não reativas e autorreativas, além de exercer papel fundamental na eliminação de células infectadas por vírus e células neoplásicas(1, 2). A apoptose é caracterizada por contração da célula, condensação da cromatina, permeabilização da membrana citoplasmática com ativação de um processo endonucleolítico com clivagem do DNA, formação de pregas na membrana plasmática com exposição de resíduos fosfatidilserina e formação dos corpos apoptóticos que se tornam alvo para os fagócitos. Este processo ocorre em três estágios: a) recepção de sinais intra e extracelulares iniciadores; b) morte celular em decorrência da ativação das proteases intracelulares e c) remoção das células apoptóticas pelos fagócitos(3). Falhas no mecanismo de morte celular programada, com insuficiente morte celular, podem levar ao câncer, infecções virais persistentes e doenças autoimunes(4). No entanto, altos níveis de apoptose podem contribuir para a depleção do sistema imune celular, conforme verificado em pacientes imunocomprometidos, principalmente na infecção pelo HIV e acelerar a Abreviaturas: Apaf-1, apoptotic protease activating factor 1; CAT, catalase; c-FLIP, FLICE-like inhibitory protein; FADD, adaptador do domínio de morte (Fas Adaptor Death Domain), IAPs, Inhibitor of Apoptosis Protein; TGF-β, fator β de transformação e crescimento; TNF- α, fator de necrose tumoral-α; TNFRs, receptores de TNF; sTNFR-II, forma solúvel do receptor de TNF; TRECS, T-cell receptor excision circles; smac/DIABLO, segundo ativador das caspases derivado da mitocôndria (second mithocondria-derived activator of caspases/ Direct IAP-Binding Protein with Low pI); SOD, superóxido dismutase. 18 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 18 18 Tendências em HIV • AIDS (Volume 3- Número 1 - 18-22) 19/3/2008 15:36:13 progressão de doenças neurodegenerativas como nas Síndromes de Alzheimer e Parkinson(5, 6, 7). Estímulos internos e externos induzem a apoptose, geralmente envolvendo as caspases que são proteases específicas(8). Estas enzimas são sintetizadas como precursores inativos, ativados por clivagem proteolítica catalisada por outras caspases. Desta forma atuam em cascata degradando as proteínas celulares, culminando com o desarranjo do DNA cromossômico e morte celular. Dentre os estímulos ativadores da apoptose estão o TNF- α (fator de necrose tumoral-α), Fas-L (CD95L), TGF-β (Fator β de transformação e crescimento) e os glicocorticóides 3. Em contrapartida, CD40L, genes virais como E1B do adenovírus e p35 do baculovírus e os genes antiapoptóticos da família Bcl-2 são fatores inibidores da apoptose. Atualmente são conhecidas duas vias principais pelas quais o programa de morte celular pode ser ativado. Na via intrínseca, sinais de estresse como agentes quimioterápicos, falta de fatores de crescimento, baixa quantidade de nutrientes, radiação ultravioleta, níveis elevados de espécies reativas de oxigênio (EROs) e concentrações elevadas de glicocorticóides induzem à mudanças na mitocôndria que incluem aumento da permeabilidade com perda do potencial de membrana (∆Ψm), liberando proteínas regulatórias como citocromo c(9,10). Uma vez liberado no citoplasma, o citocromo c liga-se à Apaf-1 e este complexo, citocromo c/Apaf-1, ativa a enzima iniciadora caspase-9, que por sua vez ativa a caspase-3 desencadeando o processo de apoptose(11,12 13,14). A via extrínseca é ativada através da ocupação dos receptores Fas (CD95) e TNFRI por seus respectivos ligantes, FasL (CD95L) e TNF-α(15). Esta ligação induz a trimerização do receptor e recrutamento dos domínios de morte intracelulares com ativação da enzima iniciadora caspase-8 que ativa a enzima efetora, a caspase-3, desencadeando a morte celular. Proteínas da família Bcl-2 atuam na membrana mitocondrial regulando a apoptose(16). Os membros dessa família como Bcl-2 e Bcl-XL inibem a apoptose, pois previnem a liberação de citocromo c e são chamados de reguladores anti-apoptóticos. A expressão de Bcl-2 é capaz de inibir a geração de EROs e a acidificação intracelular, bem como estabilizar o ∆Ψm da mitocôndria. A atividade enzimática das caspases também pode ser regulada por uma família de proteínas inibidoras da apoptose ou IAPs (Inhibitor of Apoptosis Protein)(17,18). As IAPs foram primeiramente isoladas do genoma do Baculovírus(19), com base na capacidade desse vírus em suprimir a apoptose nas células infectadas, através da inibição das caspases. Os alvos dessas proteínas são a caspase iniciadora, caspase-9 e as efetoras, caspases-3 e 7(20). Durante a apoptose as IAPs são removidas por uma proteína liberada da mitocôndria denominada smac/DIABLO ou segundo ativador das caspases derivado da mitocôndria (second mithocondria-derived activator of caspases/ Direct IAP-Binding Protein with Low pI)(20,21,22,23). Após o dano mitocondrial smac/ DIABLO é liberada do espaço intermembrana para o citoplasma, juntamente com o citocromo c. Enquanto citocromo c liga-se à Apaf-1 e ativa diretamente a caspase-9, smac/DIABLO remove as IAPs de sua ligação inibitória às caspases. A família c-FLIP (FLICE-like inhibitory protein) também atua regulando a apoptose; estas proteínas inibem a apoptose ligando-se ao FADD (Fas Adaptor Death Domain), uma proteína adaptadora ligada ao Fas, prevenindo assim a ativação da caspase 8/FLICE. Como exemplo, a regulação negativa da proliferação dos linfócitos T ocorre através da apoptose via c-FLIP. Após a ativação das células T, a expressão de c-FLIP Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 18-22) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 19 19 diminui e as células tornam-se susceptíveis à morte celular via Fas/FasL e ativação da caspase-8(3). A apoptose também pode ser mediada pelos linfócitos T citotóxicos que liberam perforina, uma proteína que abre canais na membrana citoplasmática permitindo a entrada de granzima B, uma serino protease que ativa diretamente as caspases3, 7, 8 e 10(24). Células infectadas por vírus e células tumorais são alvos da morte celular via linfócitos T citotóxicos(25). Apoptose no Paciente HIV Os pacientes HIV soropositivos apresentam alterações qualitativas e quantitativas nas células T, com decréscimo na contagem de linfócitos T CD4 e inversão da relação CD4/CD8, sendo a contagem de células T CD4 um dos marcadores mais utilizados para avaliação da progressão da doença(5). A diminuição da contagem de células T CD4 está associada à interferência do HIV sobre os processos de renovação celular no timo, devido à destruição precoce das células T maduras. Em concordância, as células progenitoras CD34+ de indivíduos HIV soropositivos apresentam reduzida capacidade de desenvolvimento. A contribuição do timo na homeostase celular pode ser demonstrada através da análise dos TRECs (T-cell receptor excision circles) nas células T naïve, formados a partir do rearranjo dos receptores de células T, no timo(2). O número de TRECs está relacionado à função tímica e encontra-se reduzido após alguns meses de infecção pelo HIV(5). Além de a produção celular estar comprometida, existem evidências de que a apoptose é uma das causas da depleção das células T periféricas nos pacientes infectados pelo HIV(5, 26). Vários estudos relataram níveis elevados de apoptose tanto in vitro(7, 27) quanto in vivo(28) nas células T CD4 e T CD8 de pacientes HIV soropositivos. Cotton e colaboradores(29) afirmam que a magnitude dos níveis de apoptose está estreitamente correlacionada ao estágio da doença pelo HIV, sendo que os níveis são mais elevados em pacientes sintomáticos quando comparados aos indivíduos progressores lentos (LTNP)(30). Os mecanismos envolvidos na apoptose de linfócitos nos pacientes HIV soropositivos incluem: a) morte das células infectadas pelo efeito citopático do próprio vírus; b) ativação imune crônica; c) morte das células não infectadas através de proteínas virais pró-apoptóticas liberadas pelas células infectadas; d) morte das células infectadas através do reconhecimento pelos linfócitos T citotóxicos; e, e) citotoxicidade mediada por anticorpos . A ativação imune crônica é o mecanismo primário envolvido na morte de células T em pacientes HIV soropositivos(31,32). Estudos desenvolvidos na África demonstraram que a infecção pelo HIV-2, menos patogênico que o HIV-1, está associada à menor ativação imune e níveis diminuídos de apoptose(33). Uma vez ativadas, as células T expressam receptores que sinalizam a apoptose, como Fas (CD95) e TNFR-I(34). Os mecanismos pelos quais o HIV causa constante ativação imune ainda não estão bem esclarecidos, entretanto, vários mecanismos podem contribuir para esse desequilíbrio. A disfunção das células T é uma característica da infecção pelo HIV, tanto como resposta ao perfil alterado de citocinas quanto pelas vias de sinalização desencadeadas pelas proteínas do HIV que estão cronicamente expressas. Conforme a infecção progride, as citocinas produzidas pelas células Th1 como IL-2 e INF-γ diminuem, em detrimento de um aumento das citocinas liberadas pelas células Th2 como IL-4, IL-5, IL-6 e IL-10, que promovem a resposta imune humoral(35,36,37). Segundo Badley(9), a resistência à apoptose na infecção pelo SIV (vírus da imuno- 19 19/3/2008 15:36:13 deficiência símia) e pelo HIV está associada à predominância do fenótipo Th1, sendo que a ativação imune crônica e fenótipo Th2 podem promover a apoptose. As células de pacientes HIV soropositivos e as células infectadas pelo HIV in vitro apresentam um aumento da expressão do CD95 na membrana celular e maior susceptibilidade à apoptose via Fas/FasL, bem como diminuição das proteínas anti-apoptóticas Bcl-2 e Bcl-XL e aumento concomitante das proteínas pró-apoptóticas BclXS e Bax . A apoptose via TNFRs também está aumentada nos pacientes soropositivos para o HIV. A ligação entre o co-receptor CXCR4 e a proteína viral Env aumenta a expressão do TNFR-II pelas células T, tornando-as susceptíveis à apoptose via TNF de membrana expresso pelos macrófagos . Os elevados níveis plasmáticos de TNF, ligante para os TNFRs, detectados nos pacientes HIV, também contribuem para o aumento da apoptose. Segundo Gougeon(5), os níveis de sTNFR-II (forma solúvel do TNFR-II) são preditivos de progressão para AIDS. As proteínas virais pró-apoptóticas como Tat, Nef, Vpr, gp120 e gp41, induzem apoptose através de mecanismos que incluem as vias receptor-ligante, formação de sincícios e citotoxicidade direta(5,9). A proteína viral Tat é capaz de ativar diretamente a caspase-8 e causar morte celular através do mecanismo Fas/FasL(38); além disso, Tat é capaz de inibir a transcrição do gene da enzima superóxido dismutase e diminuir a expressão da proteína antiapoptótica Bcl-2, tornando a mitocôndria vulnerável ao ataque por espécies reativas de oxigênio (EROs)(5,39). Nef, essencial para infectividade viral e responsável pela manutenção de altas taxas de vírus circulante, está envolvida no aumento dos níveis de apoptose via Fas/FasL(5). O mecanismo envolve a interação da proteína viral com os receptores TCRζ e o aumento da expressão do CD95 tornando a célula susceptível à morte celular via CD95L expresso nas células T citotóxicas. Enquanto promove a apoptose de células T CD4 não infectadas, Nef é capaz de bloquear a apoptose nessas mesmas células quando infectadas, através da interação com o TNF-α. O TNF-α, abundantemente produzido na infecção pelo HIV, além de responsável pelo incremento na replicação viral através da ativação do fator de transcrição NF-κB é responsável pela manutenção dos sinais de sobrevivência e conseqüente inibição da apoptose nas células que expressam Nef(40). A proteína Vpr pode alterar o ∆Ψm da mitocôndria, mesmo em células não infectadas e em mitocôndrias isoladas. A porção C terminal da Vpr (Vpr52-96) causa a liberação do citocromo c e do fator indutor de apoptose (AIF, apoptosis inducing factor), desacoplamento da cadeia mitocondrial transportadora de elétrons, colapso da fosforilação oxidativa 41 e ativação das caspases com indução da apoptose(39). A protease viral é capaz de induzir apoptose em células saudáveis e em bactérias transfectadas(42), além de clivar diretamente a caspase-8 com subseqüente clivagem do Bid e do Bcl-2, seguida por liberação do citocromo c e ativação das caspases efetoras, culminando com fragmentação nuclear e apoptose(9). O complexo glicoprotéico gp120-gp41 pode estar presente na superfície das células infectadas nas partículas virais ou na sua forma solúvel(43). Env é um potente indutor de apoptose tanto em células infectadas, quanto nas células não infectadas. Esse complexo interage com os receptores CD4 induzindo ligações célula a célula, formando aglomerados celulares conhecidos como sincícios, que resultam em apoptose via mitocôndria(31,32,44). A relevância da formação de sincícios com subseqüente indução de apoptose na patogênese da AIDS confirma-se pela observação de que cepas indutoras 20 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 20 20 de sincícios são mais patogênicas e progridem mais rapidamente para AIDS. Além disso, a gp120 é capaz de ativar diretamente a caspase-3, induzir à rápida perda do ∆Ψm na mitocôndria, diminuir a expressão de Bcl-2 e aumentar a expressão de Bax (45). Estresse Oxidativo e Apoptose no Paciente HIV A infecção pelo HIV, bem como as infecções oportunistas características da AIDS, estão associadas à produção elevada de radicais livres e conseqüente estresse oxidativo, caracterizado pelo desequilíbrio entre as reservas antioxidantes e a produção de EROs. As EROs são produzidas em conseqüência de processos fisiológicos, como perda de elétrons das cadeias de transferência de elétrons celulares e como subprodutos do metabolismo de lipídios. Em situações de infecção, as EROs são produzidas pelas células fagocíticas como meio de destruir os microrganismos invasores, porém, quando o estímulo se torna constante e sistêmico como no caso da AIDS, a produção aumentada de EROs pelos monócitos/macrófagos e neutrófilos, pode provocar efeitos tóxicos às células e tecidos. Este mecanismo pode contribuir para a diminuição das células T CD4 durante a infecção pelo HIV e progressão para AIDS(46, 47) IPK. Nestes pacientes, ocorre significativa amplificação na geração de espécies reativas de oxigênio, especialmente do ânion su. peróxido (O2 ) e do peróxido de hidrogênio (H2O2), produzidos pelas células mononucleares desde os estágios iniciais da infecção, mesmo nos pacientes assintomáticos e com contagens de linfócitos T CD4 acima de 500 células/mm3(48). Este fenômeno, combinado com a deficiência de enzimas antioxidantes como a SOD, a catalase (CAT) e glutationa, e a diminuição dos níveis plasmáticos de vitaminas antioxidantes, Vitamina E, C, carotenóides e selênio, podem levar esses pacientes ao estresse oxidativo e progressão acelerada para AIDS(47). A apoptose mediada pelo estresse oxidativo é uma das causas diretas de diminuição dos níveis de linfócitos T CD4 nos pacientes HIV soropositivos(49,50,51), as EROs causam mutações no DNA, mudanças na mitocôndria, ativação de genes próapoptóticos e a liberação de proteínas regulatórias como citocromo c, induzindo a apoptose. Danos de extensão limitada aos cromossomos podem ser reparados pelas enzimas celulares(52), contudo, extensos danos ao DNA como ocasionados pelo estresse oxidativo, podem desencadear a apoptose(53). Segundo Arnoult e colaboradores(39), danos à mitocôndria que acarretam mudanças na permeabilidade de membrana são eventos centrais na regulação da apoptose das células T no paciente HIV soropositivo. As EROs promovem danos ao DNA, através de modificações de bases e deleções. Os níveis de bases de DNA modificadas por oxidação estão significativamente aumentados em pacientes soropositivos para o HIV sintomáticos, quando comparados com indivíduos soronegativos. A modificação da base 8hydroxiguanina (8-OH-Gua) apresenta-se em níveis elevados nos pacientes HIV soropositivos sintomáticos, enquanto apresenta-se em níveis normais em pacientes soronegativos para o HIV e pacientes HIV soropositivos assintomáticos. Estes dados fornecem evidências de que o aumento da produção de radicais livres e o conseqüente aumento do dano oxidativo, demonstrado pelas modificações de bases de DNA nos pacientes soropositivos para o HIV sintomáticos contribuem para a depleção das células T CD4 e consequentemente para a progressão da doença. Tendências em HIV • AIDS (Volume 3- Número 1 - 18-22) 19/3/2008 15:36:13 Terapia Antirretroviral e Apoptose A inclusão de inibidores de protease (IPs) no regime antirretroviral trouxe avanços significativos no tratamento do paciente HIV soropositivo. A combinação de IPs com inibidores da transcriptase reversa análogos e não análogos de nucleosídeos (NRTIs; NNRTIs) é capaz de promover a recuperação do sistema imune com aumento sustentado da contagem de células T CD4 e manutenção de níveis indetectáveis de carga viral do HIV. A restauração celular observada após a instituição da TARV deve-se principalmente à diminuição dos níveis de apoptose em função da diminuição da ativação imune, diminuição de proteínas do HIV que possuem ação pró-apoptótica e mesmo do efeito antiapoptótico de algumas drogas antirretrovirais 5. Além de exercer efeito direto na supressão da replicação do HIV, os IPs são capazes de induzir efeitos sobre as células do sistema imune. O ritonavir é capaz de modular a atividade do proteassoma e do complexo maior de histocompatibilidade de classe I (MHC-I), prevenindo a apoptose e a expressão da caspase-1 em cultura de células de pacientes HIV soropositivos e de indivíduos saudáveis(54). Os NRTIs estão associados à efeitos colaterais como miopatia, neuropatia, pancreatite, hepatotoxicidade, lipodistrofia e acidose lática, sendo muitas dessas complicações decorrentes de efeitos tóxicos à mitocôndria(55). Em pacientes HIV soropositivos o AZT causa danos mitocondriais cumulativos que podem levar à apoptose(56). O mecanismo envolve a inibição da enzima DNA polimerase-γ com conseqüente inibição da replicação do DNA mitocondrial(57). O AZT também é responsável pelo aumento da peroxidação lipídica da mitocôndria e oxidação da glutationa mitocondrial, com conseqüente aumento na produção de EROs e peroxinitrito(58), propiciando a ativação de genes pró-apoptóticos. Komarov e colaboradores(59) utilizando macrófagos de ratos demonstraram a capacidade do AZT em aumentar a produção de radicais livres através da ativação da via NADPH-oxidase, demonstrando assim seu efeito pro-oxidante in vitro. Sugere-se que possam ocorrer alterações do estado redox e indução de apoptose com o uso de outros NRTIs, devido à similaridade estrutural dos antirretrovirais pertencentes a esta classe. Da mesma forma, estudos in vitro demonstraram que a lamivudina (3TC) é capaz de induzir apoptose de linfócitos através do aumento da expressão de CD95 e da ativação das caspases. De Oliveira Pinto e colaboradores 60 relataram que pacientes em uso de regimes contendo 3TC apresentaram níveis elevados de apoptose mesmo na presença de sucesso terapêutico, traduzido pelo aumento na contagem de linfócitos T CD4 e supressão da replicação viral. Considerações finais O entendimento dos mecanismos pelos quais o HIV é capaz de aumentar os níveis de apoptose é particularmente importante, considerando que as estratégias terapêuticas utilizadas até o momento não se mostraram capazes de restaurar a imunidade HIV-específica. Sugere-se que a quantificação da apoptose em pacientes infectados pelo HIV seja um importante parâmetro para avaliar o momento mais adequado para instituição da terapia antirretroviral. A suplementação antioxidante associada à terapia antirretroviral pode contribuir para a diminuição da apoptose e aumento da viabilidade celular de linfócitos T CD4 e em conseqüência, auxiliar na reconstituição do sistema imune nesses pacientes, diminuindo a ocorrência de infecções oportunistas associadas à AIDS(49,61,62,63). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Yuan J, Yankner BA. Apoptosis in the nervous system. Nature 2000;407(6805):802-9. Spits H. Development of alphabeta T cells in the human thymus. Nat Rev Immunol 2002;2(10):760-72. Hengartner MO. The biochemistry of apoptosis. Nature 2000;407(6805):7706. Zhang J, Bockler D, Ryschich E, Klemm K, Schumacher H, Schmidt J, et al. Impaired Fas-induced apoptosis of T lymphocytes in patients with abdominal aortic aneurysms. J Vasc Surg 2007;45(5):1039-46. Gougeon ML. Apoptosis as an HIV strategy to escape immune attack. Nat Rev Immunol 2003;3(5):392-404. Estaquier J, Idziorek T, de Bels F, Barre-Sinoussi F, Hurtrel B, Aubertin AM, et al. Programmed cell death and AIDS: significance of T-cell apoptosis in pathogenic and nonpathogenic primate lentiviral infections. Proc Natl Acad Sci U S A 1994;91(20):9431-5. Ameisen JC. Programmed cell death (apoptosis) and AIDS pathogenesis. AIDS Res Hum Retroviruses 1994;10 Suppl 1:S3-5. Shi Y. Mechanisms of caspase activation and inhibition during apoptosis. Mol Cell 2002;9(3):459-70. Badley AD, Pilon AA, Landay A, Lynch DH. Mechanisms of HIV-associated lymphocyte apoptosis. Blood 2000;96(9):2951-64. Smaili SS, Hsu YT, Carvalho AC, Rosenstock TR, Sharpe JC, Youle RJ. Mitochondria, calcium and pro-apoptotic proteins as mediators in cell death signaling. Braz J Med Biol Res 2003;36(2):183-90. Pandey P, Saleh A, Nakazawa A, Kumar S, Srinivasula SM, Kumar V, et al. Negative regulation of cytochrome c-mediated oligomerization of Apaf-1 and activation of procaspase-9 by heat shock protein 90. Embo J 2000;19(16):431022. Saleh A, Srinivasula SM, Balkir L, Robbins PD, Alnemri ES. Negative regulation of the Apaf-1 apoptosome by Hsp70. Nat Cell Biol 2000;2(8):476-83. Cullen SP, Luthi AU, Martin SJ. Analysis of apoptosis in cell-free systems. Methods 2008;44(3):273-9. Li P, Nijhawan D, Budihardjo I, Srinivasula SM, Ahmad M, Alnemri ES, et al. Cytochrome c and dATP-dependent formation of Apaf-1/caspase-9 complex Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 18-22) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 21 21 initiates an apoptotic protease cascade. Cell 1997;91(4):479-89. 15. Xu LG, Wu M, Hu J, Zhai Z, Shu HB. Identification of downstream genes upregulated by the tumor necrosis factor family member TALL-1. J Leukoc Biol 2002;72(2):410-6. 16. Vander Heiden MG, Thompson CB. Bcl-2 proteins: regulators of apoptosis or of mitochondrial homeostasis? Nat Cell Biol 1999;1(8):E209-16. 17. Deveraux QL, Reed JC. IAP family proteins--suppressors of apoptosis. Genes Dev 1999;13(3):239-52. 18. Hay BA. Understanding IAP function and regulation: a view from Drosophila. Cell Death Differ 2000;7(11):1045-56. 19. Vince JE, Wong WW, Khan N, Feltham R, Chau D, Ahmed AU, et al. IAP antagonists target cIAP1 to induce TNFalpha-dependent apoptosis. Cell 2007;131(4):682-93. 20. Nachmias B, Ashhab Y, Ben-Yehuda D. The inhibitor of apoptosis protein family (IAPs): an emerging therapeutic target in cancer. Semin Cancer Biol 2004;14(4):231-43. 21. Wu G, Chai J, Suber TL, Wu JW, Du C, Wang X, et al. Structural basis of IAP recognition by Smac/DIABLO. Nature 2000;408(6815):1008-12. 22. Chai J, Du C, Wu JW, Kyin S, Wang X, Shi Y. Structural and biochemical basis of apoptotic activation by Smac/DIABLO. Nature 2000;406(6798):855-62. 23. Du C, Fang M, Li Y, Li L, Wang X. Smac, a mitochondrial protein that promotes cytochrome c-dependent caspase activation by eliminating IAP inhibition. Cell 2000;102(1):33-42. 24. Trapani JA, Smyth MJ. Functional significance of the perforin/granzyme cell death pathway. Nat Rev Immunol 2002;2(10):735-47. 25. Trambas CM, Griffiths GM. Delivering the kiss of death. Nat Immunol 2003;4(5):399-403. 26. Lelievre JD, Arnoult D, Petit F, Estaquier J. [HIV1-associated CD4 T lymphocyte apoptosis]. Rev Med Interne 2003;24(8):522-9. 27. Oyaizu N, McCloskey TW, Coronesi M, Chirmule N, Kalyanaraman VS, Pahwa S. Accelerated apoptosis in peripheral blood mononuclear cells (PBMCs) from human immunodeficiency virus type-1 infected patients and in CD4 crosslinked PBMCs from normal individuals. Blood 1993;82(11):3392-400. 28. Muro-Cacho CA, Pantaleo G, Fauci AS. Analysis of apoptosis in lymph nodes 21 19/3/2008 15:36:13 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. of HIV-infected persons. Intensity of apoptosis correlates with the general state of activation of the lymphoid tissue and not with stage of disease or viral burden. J Immunol 1995;154(10):5555-66. Cotton MF, Ikle DN, Rapaport EL, Marschner S, Tseng PO, Kurrle R, et al. Apoptosis of CD4+ and CD8+ T cells isolated immediately ex vivo correlates with disease severity in human immunodeficiency virus type 1 infection. Pediatr Res 1997;42(5):656-64. Karmochkine M, Parizot C, Calvez V, Coutellier A, Herson S, Debre P, et al. Susceptibility of peripheral blood mononuclear cells to apoptosis is correlated to plasma HIV load. J Acquir Immune Defic Syndr Hum Retrovirol 1998;17(5):419-23. Castedo M, Perfettini JL, Andreau K, Roumier T, Piacentini M, Kroemer G. Mitochondrial apoptosis induced by the HIV-1 envelope. Ann N Y Acad Sci 2003;1010:19-28. Roumier T, Castedo M, Perfettini JL, Andreau K, Metivier D, Zamzami N, et al. Mitochondrion-dependent caspase activation by the HIV-1 envelope. Biochem Pharmacol 2003;66(8):1321-9. Michel P, Balde AT, Roussilhon C, Aribot G, Sarthou JL, Gougeon ML. Reduced immune activation and T cell apoptosis in human immunodeficiency virus type 2 compared with type 1: correlation of T cell apoptosis with beta2 microglobulin concentration and disease evolution. J Infect Dis 2000;181(1):64-75. de Oliveira Pinto LM, Garcia S, Lecoeur H, Rapp C, Gougeon ML. Increased sensitivity of T lymphocytes to tumor necrosis factor receptor 1 (TNFR1)- and TNFR2-mediated apoptosis in HIV infection: relation to expression of Bcl-2 and active caspase-8 and caspase-3. Blood 2002;99(5):1666-75. Clerici M, Sarin A, Coffman RL, Wynn TA, Blatt SP, Hendrix CW, et al. Type 1/type 2 cytokine modulation of T-cell programmed cell death as a model for human immunodeficiency virus pathogenesis. Proc Natl Acad Sci U S A 1994;91(25):11811-5. Clerici M, Shearer GM. Cellular immunity and a type 1 cytokine profile in protection against HIV infection and progression to AIDS. Res Immunol 1994;145(8-9):635-41; discussion 641-3. Tangsinmankong N, Day NK, Good RA, Haraguchi S. Different mechanisms are utilized by HIV-1 Nef and staphylococcal enterotoxin A to control and regulate interleukin-10 production. Immunol Lett 2002;84(2):97-101. Minami R, Yamamoto M, Takahama S, Miyamura T, Watanabe H, Suematsu E. RCAS1 induced by HIV-Tat is involved in the apoptosis of HIV-1 infected and uninfected CD4+ T cells. Cell Immunol 2006;243(1):41-7. Arnoult D, Petit F, Lelievre JD, Estaquier J. Mitochondria in HIV-1-induced apoptosis. Biochem Biophys Res Commun 2003;304(3):561-74. Mahlknecht U, Deng C, Lu MC, Greenough TC, Sullivan JL, O’Brien WA, et al. Resistance to apoptosis in HIV-infected CD4+ T lymphocytes is mediated by macrophages: role for Nef and immune activation in viral persistence. J Immunol 2000;165(11):6437-46. Macho A, Castedo M, Marchetti P, Aguilar JJ, Decaudin D, Zamzami N, et al. Mitochondrial dysfunctions in circulating T lymphocytes from human immunodeficiency virus-1 carriers. Blood 1995;86(7):2481-7. Adams LD, Tomasselli AG, Robbins P, Moss B, Heinrikson RL. HIV-1 protease cleaves actin during acute infection of human T-lymphocytes. AIDS Res Hum Retroviruses 1992;8(2):291-5. Phenix BN, Badley AD. Influence of mitochondrial control of apoptosis on the pathogenesis, complications and treatment of HIV infection. Biochimie 2002;84(2-3):251-64. Ferri KF, Jacotot E, Blanco J, Este JA, Zamzami N, Susin SA, et al. Apoptosis control in syncytia induced by the HIV type 1-envelope glycoprotein complex: role of mitochondria and caspases. J Exp Med 2000;192(8):1081-92. 22 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 22 22 45. Kaul M, Lipton SA. Chemokines and activated macrophages in HIV gp120induced neuronal apoptosis. Proc Natl Acad Sci U S A 1999;96(14):8212-6. 46. Reynolds A, Laurie C, Mosley RL, Gendelman HE. Oxidative stress and the pathogenesis of neurodegenerative disorders. Int Rev Neurobiol 2007;82:297-325. 47. Gil L, Martinez G, Gonzalez I, Tarinas A, Alvarez A, Giuliani A, et al. Contribution to characterization of oxidative stress in HIV/AIDS patients. Pharmacol Res 2003;47(3):217-24. 48. Elbim C, Pillet S, Prevost MH, Preira A, Girard PM, Rogine N, et al. The role of phagocytes in HIV-related oxidative stress. J Clin Virol 2001;20(3):99-109. 49. de Souza Junior O, Treitinger A, Baggio GL, Michelon C, Verdi JC, Cunha J, et al. alpha-Tocopherol as an antiretroviral therapy supplement for HIV1-infected patients for increased lymphocyte viability. Clin Chem Lab Med 2005;43(4):376-82. 50. Olinski R, Gackowski D, Foksinski M, Rozalski R, Roszkowski K, Jaruga P. Oxidative DNA damage: assessment of the role in carcinogenesis, atherosclerosis, and acquired immunodeficiency syndrome. Free Radic Biol Med 2002;33(2):192-200. 51. Valcour V, Shiramizu B. HIV-associated dementia, mitochondrial dysfunction, and oxidative stress. Mitochondrion 2004;4(2-3):119-29. 52. Cooke MS, Evans MD, Podmore ID, Herbert KE, Mistry N, Mistry P, et al. Novel repair action of vitamin C upon in vivo oxidative DNA damage. FEBS Lett 1998;439(3):363-7. 53. Jaruga P, Jaruga B, Gackowski D, Olczak A, Halota W, Pawlowska M, et al. Supplementation with antioxidant vitamins prevents oxidative modification of DNA in lymphocytes of HIV-infected patients. Free Radic Biol Med 2002;32(5):414-20. 54. Sloand EM, Maciejewski J, Kumar P, Kim S, Chaudhuri A, Young N. Protease inhibitors stimulate hematopoiesis and decrease apoptosis and ICE expression in CD34(+) cells. Blood 2000;96(8):2735-9. 55. Lewis W, Copeland WC, Day BJ. Mitochondrial dna depletion, oxidative stress, and mutation: mechanisms of dysfunction from nucleoside reverse transcriptase inhibitors. Lab Invest 2001;81(6):777-90. 56. Groopman JE. Zidovudine intolerance. Rev Infect Dis 1990;12 Suppl 5: S500-6. 57. Opii WO, Sultana R, Abdul HM, Ansari MA, Nath A, Butterfield DA. Oxidative stress and toxicity induced by the nucleoside reverse transcriptase inhibitor (NRTI)--2’,3’-dideoxycytidine (ddC): relevance to HIV-dementia. Exp Neurol 2007;204(1):29-38. 58. de la Asuncion JG, Del Olmo ML, Gomez-Cambronero LG, Sastre J, Pallardo FV, Vina J. AZT induces oxidative damage to cardiac mitochondria: protective effect of vitamins C and E. Life Sci 2004;76(1):47-56. 59. Komarov AM, Hall JM, Weglicki WB. Azidothymidine promotes free radical generation by activated macrophages and hydrogen peroxide-iron-mediated oxidation in a cell-free system. Biochim Biophys Acta 2004;1688(3):257-64. 60. de Oliveira Pinto LM, Lecoeur H, Ledru E, Rapp C, Patey O, Gougeon ML. Lack of control of T cell apoptosis under HAART. Influence of therapy regimen in vivo and in vitro. Aids 2002;16(3):329-39. 61. Fawzi WW, Msamanga GI, Spiegelman D, Wei R, Kapiga S, Villamor E, et al. A randomized trial of multivitamin supplements and HIV disease progression and mortality. N Engl J Med 2004;351(1):23-32. 62. Fawzi WW, Msamanga GI, Kupka R, Spiegelman D, Villamor E, Mugusi F, et al. Multivitamin supplementation improves hematologic status in HIV-infected women and their children in Tanzania. Am J Clin Nutr 2007;85(5):1335-43. 63. Mehta S, Fawzi W. Effects of Vitamins, Including Vitamin A, on HIV/AIDS Patients. Vitam Horm 2007;75:355-83. Tendências em HIV • AIDS (Volume 3- Número 1 - 18-22) 19/3/2008 15:36:13 A ORIGEM DO HIV EM HUMANOS HIV ORIGIN BETWEEN HUMANS Luiz Mario Janini Disciplina de Microbiologia, Departamento de Microbiologia Imunologia Parasitologia, Disciplina de Infectologia Departamento de Medicina, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo RESUMO O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) foi identificado no início da década de 1980. Logo após a sua identificação, sua capacidade de estabelecer epidemias foi reconhecida assim como a sua diversidade genética. Hoje há em torno de 40 milhões de pessoas infectadas pelo HIV que possui uma epidemia estruturada em linhagens genéticas bem definidas e circulação de vírus recombinantes. Mas como surgiu o HIV e como e onde ocorreram as primeiras infecções humanas por este vírus? Estudos epidemiológicos apontam o continente Africano como o ponto de partida da epidemia global do HIV. Além disto, análises de seqüências virais indicam que o Vírus da Imunodeficiência Símia prevalente em chimpanzés é o que mais se assemelha geneticamente ao HIV. Há desta forma, fortes indícios de que o HIV tenha origem em vírus de símios e que tenha sido contraído por humanos pelo contato entre o sangue de caçadores tribais e o sangue de primatas infectados. Embora existam outras teorias para a origem do HIV, a “Teoria do Caçador” permanece como a hipótese mais plausível. Descritores: HIV, origem, espécie humana ABSTRACT HIV was first identified during the first years of 1980. By the time of it discovery, it became clear that HIV had establish a global epidemic with well defined genetic lineages and circulating recombinants. Nowadays there are 40 million people living with HIV. But where it came from and how it reached humans? Different studies point towards Africa as the original place from where HIV emerged. In addition, genetic analysis showed that SIVcpz, a prevalent virus among African primates is closely related to HIV. According to the “Hunter Theory”, HIV reached humans through a close contact between human and infected animal blood. The “Hunter Theory” is up to now the main hypothesis concerning the human origin of HIV. Keywords: HIV, origin, humans INTRODUÇÃO A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foi identificada e definida primeiramente nos Estados Unidos, em 1981, pelo CDC (United States Centers for Disease Control), a partir da identificação de um número elevado de pacientes adultos do sexo masculino, homossexuais e moradores de São Francisco ou Nova York, que apresentavam sarcoma de Kaposi, pneumonia por Pneumocystis carinii e comprometimento do sistema imune. Essas observações despertaram preocupações às autoridades de saúde pública dos Estados Unidos(1,2). A observação do grupo de doenças que acometiam os pacientes infectados pelo agente causador da AIDS e da ocorrência dessa doença em grupos de risco bastante diversos, (usuários de drogas injetáveis, hemofílicos, crianças nascidas de mães portadoras do vírus), levou à conclusão em 1982, que a AIDS era causada por um microorganismo infeccioso, transmitido de maneira semelhante ao vírus da Hepatite B (HBV): por contato sexual; uso de drogas; exposição a sangue e derivados e transmissão vertical. Em 1983, Luc Montagnier (França), isolou um vírus, denominado LAV – Lymphadenopathy Associated Vírus, que possuía a enzima transcriptase reversa (enzima que caracteriza os retrovírus) e parecia ser o primeiro indício Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 23-26) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 23 23 do agente etiológico da AIDS (Barre-Sinoussi et al., 1983). Em 1984, Robert Gallo e Jay Levy (EUA), isolaram dois vírus contendo a enzima transcriptase reversa. Estes foram respectivamente denominados: HTLV-III (Human T-Lymphotropic Vírus Type III) e ARV (Associated Retrovírus). O HTLV-III apresentava proteínas com diferenças significativas quando comparadas com as dos vírus então recentemente descritos (HTLV-I e HTLV-II). Em decorrência da identificação da seqüência de nucleotídeos destes vírus, constatou-se que os vírus anteriormente denominados de LAV, HTLV-III e ARV eram variações genéticas do mesmo vírus. Dessa forma, constatou-se que o agente causador desta nova doença era um retrovírus(4,5,6,7). A Comissão para Taxonomia de Vírus recomendou, em 1986, a adoção da designação de Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV (da sigla em inglês: HIV - Human Immunodeficiency Vírus) para o novo vírus e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – SIDA (da sigla em inglês: AIDS - Acquired Immune Deficiency Syndrome), para a doença causada pelo mesmo(8). E em 1989, foi estabelecido pelo ICTV (International Committee of Viral Taxonomy), de acordo com as normas internacionais, baseadas principalmente nas características da estrutura da partícula viral, que o HIV pertencia à família Retroviridae e ao gênero Lentivírus(8). 23 19/3/2008 15:36:13 O HIV apresenta elevada diversidade genética, resultado de sua alta taxa de incorporação de erros durante a replicação viral e adaptação ao hospedeiro resultando ou não na fixação destas mutações na população viral(10). Esta diversidade ocorre devido a uma combinação de fatores, incluindo; muitos eventos de recombinação por ciclo replicativo, elevado tamanho populacional, e o fato de que a enzima transcriptase reversa, por não possuir atividade corretora durante a síntese do DNA viral, pode incorporar nucleotídeos errados na taxa de 10-3 a 10-5 por sítio, por ciclo único de replicação. Considerando-se que, a cada dia, são produzidas uma média de 1010 novas partículas virais, sendo que o tempo de geração viral é inferior a 1.5 dias e que o indivíduo infectado carrega o vírus por toda a vida, é impossível vislumbra-se a total diversidade genética viral potencialmente gerada durante o longo curso da infecção. Com a constante geração de mutantes, formase uma população viral que sob diversas pressões seletivas, mostra-se como uma distribuição de mutantes. Esta distribuição chamada de quasispecies, funciona como um organismo único, que tenta aumentar o seu sucesso adaptativo(2,11,12,13,14). A combinação de geração de diversidade e seleção contribui para que, em cada 25 gerações, surja uma substituição no envelope (env) do HIV-1, que confere vantagem adaptativa, ou seja, a cada 2,5 meses uma nova mutação é fixada por seleção(15). As implicações desta diversificação constituem um dos maiores obstáculos para a implementação de estratégias vacinais(16,26), além de constituírem um fator muito importante na geração de variantes de resistência a droga antivirais de intervenção(18,19). A análise filogenética de fragmentos genéticos e do genoma do vírus possibilitou a classificação do HIV-1 em três grupos: M (main ou major); O (outlier) e N (new), os quais podem ter tido origem zoonótica a partir de eventos independentes de cruzamento de barreira inter espécie(20,21,22). O grupo M é predominante na epidemia global de AIDS e compreende os vírus responsáveis pela manutenção e avanço da epidemia sobre as populações humanas. O grupo M é representado por linhagens geneticamente distintas (subtipos) que são agrupadas filogeneticamente. Isso permite que os vírus pertencentes ao grupo M possam ser classificados em diversos subtipos de A1, A2, B, C, D, F1, F2, G, H, J a K (os numerais denotam uma divisão adicional dentro dos subtipos A e F, podendo ser referidos como sub-subtipos) distantes entre si entre de 10 a 30%, dependendo da região gênica analisada(23). Além destes, mais de 30 formas recombinantes (CRF) circulam na epidemia ( www.hiv.lanl.gov)(2). A distribuição geográfica e o padrão de disseminação dos diferentes subtipos do HIV-1 são bastante heterogêneos. O subtipo B é o principal responsável pela disseminação da AIDS fora da África (http://www.unaids.org). Entretanto, o subtipo C é o causador do maior número de infecções sendo o vírus mais prevalente nas epidemias da Índia e África(24,25). Estimase que aproximadamente 39,5 milhões de pessoas estejam infectadas pelo HIV no mundo e que a maioria dos casos (aproximadamente 24,7 milhões de pessoas) concentram-se nos países da região subsaariana. (http://www.unaids.org). 24 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 24 24 Notavelmente, na África, ocorrem todos subtipos já descritos, além de inúmeras formas recombinantes. Além disso, a diversidade genética do subtipo C no Congo é tão grande quanto à diversidade global estimada para o subtipo B(26). Mas como surgiu o HIV-1 entre os humanos? Estudos de regressão linear, baseados no acúmulo gradual de mutações no genoma do HIV-1, e observações sobre as características da epidemia global, incluindo a distribuição desigual de subtipos, sugerem que as primeiras infecções ocorreram na África na década de 1930(27). Há a sugestão de que o HIV-1 tenha sido inicialmente contraído por caçadores africanos de símios que provavelmente se feriram ao abrir a carcaça dos animais e ao carregar os animais. Deste modo, houve o contato entre o sangue humano e o sangue do animal infectado. O vírus terá então se espalhado nas regiões rurais extremamente lentamente, tendo migrado para as cidades com o início da grande onda de urbanização na África nos anos 1960. Uma amostra de sangue datada de 1959 proveniente de um homem de Kinshasa, República Democrática do Congo, é o primeiro registro documentado laboratorialmente de uma infecção de HIV em humanos(28). Os primeiros registros de morte por AIDS remontam a 1969 quando um paciente morreu nos Estados Unidos e um marinheiro trabalhando na costa Ocidental Africana transmitiu o vírus para sua mulher e ambos morreram assim como a a filha deles de 9 anos. Em 1976 uma médica dinamarquesa contraiu a doença no Zaire (hoje República Democrática do Congo ) e veio a falecer. De qualquer forma, a introdução do HIV na espécie humana ocorreu durante o período de dominação colonial Francesa sobre a África Central entre 1919 e 1960. Há indícios de que as práticas coloniais de trabalho forçado e imposição de imunizações coletivas contra como por exemplo a Doença do Sono, havendo o compartilhamento de agulhas sem a devida esterilização tenham contribuido para a aceleração da disseminação do HIV-1 no continente Africano(29,30). O entendimento do contexto histórico dá impulso à Teoria do Caçador se aceitarmos que as práticas coloniais acima citadas incluindo o trabalho forçado e imunizações coletivas causaram perturbações profundas na sociedade Africana da época. A busca pelo alimento escasso devido à priorização da dieta do colonizador Europeu, pode ter levado a população local a ir cada vez mais dentro da floresta promovendo a introdução do HIV-1 no homen. No entanto, só em 1980 começaram a aparecer os casos inexplicáveis de doenças oportunistas em homossexuais nos Estados Unidos, nas cidades de São Francisco, Los Angeles e Nova Iorque que culminaram na identificação e classificação do HIV(1). Há portanto uma lacuna de tempo entre 1930, na África, quando ocorreram os primeiros cruzamentos inter espécie e1980 quando o HIV-1 aparece no Estados Unidos. Nestes 50 anos, o que aconteceu para que o HIV já em 1980 apresentasse uma epidemia geneticamente tão estrutura em grupos, subtipos, e formas recombinantes circulantes? Seriam os 30 anos dos primórdios da epidemia Africana rural suficientes para o estabelecimento das linhagens genéticas que vemos hoje em dia? Há portanto ainda espaço para a especulação sobre a origem do HIV em humanos. Embora existam várias teorias sobre o assunto, nenhuma hipótese é aceita de forma definitiva e o tópico permanece controverso(20,31). Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 23-26) 19/3/2008 15:36:14 A hipótese da origem a partir de Chimpanzés da República dos Camarões A teoria mais aceita hoje em dia é a Teoria do Caçador, na qual a transmissão do HIV para humanos ocorreu pela mordida do animal infectado, ou pelo contato direto entre o sangue humano e o do animal infectado durante a manipulação de carcaças(32). Fonte:http://okapi.wildlifedirect.org/2007/04/23/patrol-organization-operation/ Acessado em: 10/03/2008 Figura 1. Teoria do Caçador. O HIV teria se originado no homem pelo contato entre o sangue humano e o sangue dos animais infectados durante a caça e manipulação de carcaças de primatas africanos. Em maio de 2006 Beatrice Hahn anunciou que o HIV deve ter se originado em chimpanzés de vida selvagem que habitavam as florestas do sudeste da República dos Camarões(33,34) e não Kinshasa, República Democrática do Congo, como antes acreditado. Neste estudo de 7 anos, onde 1.300 amostras de chimpanzé foram analisadas, comunidades de chimpanzés que habitam a região do Rio Sanaga em Camarões podem ter sido as possíveis comunidades reservatório do HIV ou de um ancestral símio do HIV que atuaram como doadores na origem viral humana. A análise das amostras coletadas reafirmou que os virus geneticamente mais similares ao HIV-1 são os virus da imunodeficiência símia (SIV) que haviam até o momento do estudo apenas sido identificados em animais em cativeiro da sub-espécie de chimpanzés Pan troglodytes troglodytes. No estudo aqui mencionado, ocorreu a identificação de anticorpos e ácidos nucleicos de SIVcpz em amostras fecais de chimpanzés P. t. troglodytes de vida selvagem. Em algumas destas possíveis comunidades reservatório a prevalência do SIVPcpz foi de 29 a 35%. Por análise de sequências de amostras de SIVcpz endêmicos entre os chimpanzés, os pesquisadores acreditam terem traçado a origem tanto da pandemia representada pelos HIV-1 classificados no grupo M como de HIV-1 não pandêmico representado por vírus do group N que se originaram de comunidades distintas de chimpanzés isoladas geograficamente na África Central. De acordo com este estudo a sub-espécie P. t. troglodytes deve ser reconhecida como a espécie animal reservatório da epidemia do HIV-1 em humanos(34). A Hipótese da origem pela vacinação oral contra o vírus da Poliomielite A possibilidade de que a origem do HIV/AIDS no homem tenha sido causada pela pesquisa em elaboração de vacinas contra a Poliomielite, conduzidas na África, mais especificamente no Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 23-26) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 25 25 antigo Congo Belga, na década de 1950, por Hilary Koprowski, causou intenso furor no meio científico. Após retratações pelo jornalista e freelancer da Revista Rolling stone e multa de 1 milhão de dólares exigidas por Koprowski, outro jornalista chamado Eward Hooper, também freelancer, resolveu investigar o caso em detalhes. Hooper coletou o conjunto de suas investigações em um livro chamado O Rio, que foi publicado em 1999. Neste livro Hooper relata que a vacina experimental contra Poliomielite foi produzida utilizando-se como meio propagador células de rim de chimpanzé sendo este o caminho da infecção e adaptação do vírus da imunodeficiência símia (SIV) em humanos, tornando-o capaz de infectar humanos e tornar-se o HIV. Ficando então incriminados os estudos de vacinação de Pólio experimental de terem originado a epidemia do HIV/AIDS(35). Esta teoria foi contradita pelos estudos acima citados baseados em análise de seqüências virais. O estudo do acúmulo de mutações ao longo do tempo no genoma viral estabelece 1930 como a data de origem para o HIV em humanos, com um intervalo de confiança de 95% se considerarmos um intervalo entre 1910 e 1950(27). Embora aceito na comunidade científica, alguns pesquisadores questionaram a validade de mensurações como esta, alegando que o método de análise não era adequado e que o relógio molecular, ferramenta utilizada na comparação entre passagem do tempo e acúmulo de mutações, possui validade questionável quando não suportada por dados reais (seqüências de HIV em intervalos regulares de tempo cobrindo boa porção do século XX), que não são disponíveis no caso. Hooper criticou o método de análise pelo uso de uma taxa de mutação fixa para o HIV para todos os períodos de tempo; o que é bastante razoável e pelo fato de que os eventos de recombinação não foram levados em consideração, o que poderia ter de fato encurtado do tempo necessário para se atingir diversificação analisada, em um vírus que possui alto potencial para recombinação(36). Um argumento a favor da análise do tempo de diversificação é que quando projetada no gráfico, a amostra de 1959, coletada em Kinshasa posiciona-se muito próxima da década de 1960(28). Em Fevereiro de 2000, um dos Institutos envolvidos originariamente na produção da vacina anti Pólio, o Instituto Wistar na Filadélfia encontrou uma amostra original da vacina produzida em 1950 que a ser analisada demonstrou não conter o HIV e nem o SIV. Uma análise subsequente demonstrou que apenas células de rim de macaque as quais não podem ser infectadas por HIV ou SIV podem ser usadas para produzirem a vacina anti Pólio. Finalmente esta hipótese foi refutada pela comunidade científica por um extenso conjunto de evidências(37). CONSIDERAÇÕES FINAIS A definição de um reservatório animal para o HIV não exclui a possibilidade de existirem outros reservatórios virais em outros paises da África, embora a localização geográfica da República dos Camarões sugira ter sido ali o início da epidemia humana do HIV. O HIV e o SIV são lentivírus de primatas que tem sido isolados de mais do que 20 espécies de macacos Africanos. Estes vírus naturalmente não causam doença em seus hospedeiros sugerindo que há um convívio possível entre parasita hospedeiro. Portanto, embora uma pequena fração das populações selvagens de macacos Africanos tenha sido estudada, é possível pensar que lentivirus primatas sejam bastante prevalentes na população símia Africana. Fica então 25 19/3/2008 15:36:14 caracterizada a presença de um extenso reservatório animal para a introdução de novos retrovírus em humanos. Não se pode deixar de lado a possibilidade da ocorrência de recombinação entre os diversos lentivirus primatas e que contribui para a evolução viral e que pode ter tido envolvimento na geração dos SIVs que atingiram a espécie humana. A história evolutiva dos lentivirus primatas tem sido reconstruída em detalhes permitindo avaliarmos que o HIV-1 é estreitamente correlacionado ao SIVcpz encontrado em sub-espécies de chimpanzés como Pan troglodytes troglodytes e Pan troglodytes schweinfurthii que habitam áreas da África Equatorial Central e Ocidental. O SIV de P. t. troglodytes possui para nós muito interesse porque guarda relação evolutiva íntima com os vírus responsáveis pela propagação da epidemia do HIV-1 e que estão classificados no grupo M. O habitat natural do P. t. troglodytes também corresponde à região Africana onde há maior heterogeneida- de do HIV-1 com a presença de vírus dos grupos M, N, O e que poderia facilmente representar o ponto geográfico da origem do HVI-1 em humanos. É importante ressaltar que fora o HIV-2 houve em HIV-1 pelo menos 3 cruzamentos virais independentes entre a espécie humana e chimpanzés, os cruzamentos que originaram os HIV-1 classificados nos grupos M, N, e O. O risco do surgimento de novas variantes de lentivírus símios capazes de infectar humanos não pode ser descartada já que a cada vez mais o homem interfere no meio ambiente e desfaz habitats naturais. A partir da obtenção de mais dados de sequenciamento de diferentes SIVcpzs de sub-espécies de chimpanzés distintas, os caminhos evolutivos que touxeram a adaptação humana a estes vírus símios poderá ser melhor entendida. Assim poderemos determinar quais mutações foram decisivas neste processo e tornaram a epidemia do HIV-1 em humanos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. Gottlieb MS, Schroff R, Schanker HM, Weisman JD, Fan PT, Wolf RA, Saxon A. Pneumocystis carinii pneumonia and mucosal candidiasis in previously healthy homosexual men: evidence of a new acquired cellular immunodeficiency. N Engl J Med. 305: 1425-31, 1981. Pinto M. E., Struchiner C. J. HIV-1 diversity: a tool for studying the pandemic. Cad Saude Publica. 22(3): 473-84, 2006. Barre-Sinoussi F, Chermann JC, Rey F, Nugeyre MT, Chamaret S, Gruest J, Dauguet C, Axler-Blin C, Vezinet-Brun F, Rouzioux C, Rozenbaum W, Montagnier L. Isolation of a T-lymphotropic retrovirus from a patient at risk for acquired immune deficiency syndrome (AIDS). Science. 220(4599): 86871, 1983. Ratner L, Gallo RC, Wong-Staal F. HTLV-III, LAV, ARV are variants of same AIDS virus. Nature. 313 (6004): 636-7, 1985. Levy JA, Hoffman AD, Kramer SM, Landis JA, Shimabukuro JM, Oshiro LS. Isolation of lymphocytopathic retroviruses from San Francisco patients with AIDS. Science.225 (4664): 840-2, 1984. Gallo RC, Salahuddin SZ, Popovic M, Shearer GM, Kaplan M, Haynes BF, PALKER TJ, Redfield R, Oleske J, Safai B, ET AL. Frequent detection and isolation of cytopathic retroviruses (HTLV-III) from patients with AIDS and at risk for AIDS. Science. 224 (4648): 500-3, 1984. Gallo RC and Montagnier L. The Discovery of HIV as the Cause of AIDS.N Engl J Med. 349 (24): 2283-5, 2003. Coffin J, Haase A, Levy JA, Montagnier L, Oroszlan S, Teich N, Temin H, Toyoshima K, Varmus H, VOGT P, ET AL. Human immunodeficiency viruses. Science. 232 (4751): 697, 1986. Holmes, E. C. et al. Convergent and divergent sequence evolution in the surface envelope glycoprotein of human immunodeficiency virus type 1 within a single infected patient. Proc Natl Acad Sci USA, v. 89, p. 48354839, 1992. Leigh Brown, A. J. et al. Analysis of HIV-1 env gene sequences reveals evidence for a low effective number in the viral population. Proc Natl Acad Sci USA, v. 94, p. 1862-1865, 1997. Lemey P, Rambaut A, Pybus OG. HIV evolutionary dynamics within and among hosts. AIDS Rev. 8 (3): 125-40, 2006. Mullins JI, Jensen MA. Evolutionary dynamics of HIV-1 and the control of AIDS. Curr Top Microbiol Immunol. 299: 171-92, 2006. Fares MA, Travers SA. A novel method for detecting intramolecular coevolution: adding a further dimension to selective constraints analyses. Genetics. 173 (1): 9-23, 2006. Frost SD, Dumaurier MJ, Wain-Hobson S, Brown AJ. Genetic drift and withinhost metapopulation dynamics of HIV-1 infection. Proc Natl Acad Sci U S A. 98 (12): 6975-80, 2001. Willianson, S. Adaptation in the env gene of HIV-1 and evolutionary theories of disease progression. Mol Biol Evol, v. 20, p. 1318-1325, 2003. Gaschen, B. et al. Diversity considerations in HIV-1 vaccine selection. Science, v. 296, p. 2354-2360, 2002. Rambaut, A. et al. The causes and consequences of HIV evolution. Nat Genet, v. 5, p. 52-61, 2004. Ribeiro, R. M.; Mohri, H.; HO, D. D.; Perelson, A.L. S. 2002.In vivo dynamics of T cell activation, proliferation, and death in HIV-1 infection: why are CD4+ but not CD8+ T cells depleted? Proc Natl Acad Sci USA, v. 97, p. 76817686, 2000. Charpentier C, Nora T, Tenaillon O, Clavel F, Hance AJ. Extensive recombination among human immunodeficiency virus type 1 quasispecies makes an important contribution to viral diversity in individual patients. J Virol. 80 (5): 2472-82, 2006. Hahn BH, Shaw GM, DE Cock KM, Sharp PM. AIDS as a zoonosis: scientific and public health implications. Science.287 (5453): 607-14, 2000. Srinivasan A, Anand R, York D, Ranganathan P, Feorino P, Schochetman 26 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 26 26 22. 23. 24. 25. 26. 27 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. G, Curran J, Kalyanaraman VS, Luciw PA, Sanchez-Pescador R. Molecular characterization of human immunodeficiency virus from Zaire: nucleotide sequence analysis identifies conserved and variable domains in the envelope gene. Gene.52 (1): 71-82, 1987. Myers G. AIDS origin. Science. 256 (5063): 1502, 1992. Myers HF, Satz P, Miller BE, Bing EG, Evans G, Richardson MA, Forney D, Morgenstern H, Saxton E, D’Elia L, Longshore D, Mena I. The AfricanAmerican Health Project (AAHP): study overview and select findings on high risk behaviors and psychiatric disorders in African American men. Ethn Health. 2 (3): 183-96, 1997. Novitsky, V. A. et al. Molecular cloning and phylogenetic analysis of human immunodeficiency virus type 1 subtype C: a set of 23 full-length clones from Botswana. J Virol, v. 73, p. 4427-4432, 1999. Shankarappa R, Chatterjee R, Learn GH, Neogi D, Ding M, Roy P, Ghosh A, Kingsley L, Harrison L, Mullins JI, Gupta P. Human immunodeficiency virus type 1 env sequences from Calcutta in eastern India: identification of features that distinguish subtype C sequences in India from other subtype C sequences. J Virol. 75 (21): 10479-87, 2001. Rambaut A, Robertson DL, Pybus OG, Peeters M, Holmes EC. Human immunodeficiency virus. Phylogeny and the origin of HIV-1. Nature. 410 (6832): 1047-8, 2001. Korber B, Muldoon M, Theiler J, Gaof, Gupta R, Lapedes A, Hanh BH, Wolinsky S, Bhattacharya T. Timing the ancestor of the HIV-1 pandemic strains. Science, 2000 Jun 9;288(5472):1789-96 Zhu T, Korber BT, Nahmias AJ, Hooper E, Sharp PM, Ho DD. An African HIV-1 sequence from 1959 and implications for the origin of the epidemic. Nature. 1998 Feb 5;391(6667):594-7. Velayati AA, Bakayaev V, Bahadori M, Tabatabaei SJ, Alaei A, Farahbood A, Masjedi MR. Religious and cultural traits in HIV/AIDS epidemics in subSaharan Africa. Arch Iran Med. 2007 Oct;10(4):486-97 Peeters M, Gueye A, Mboup S, Bibollet-Ruche F, Ekaza E, Mulanga C, OUEDRAGO R, Gandjir, Mpele P, Dibanga G, Koumare B, Saidou M, Esu-Williams E, Lombart JP, Badombena W, Luo, Vanden Haesevelde M, Delaporte E. Geographical distribution of HIV-1 group O viruses in Africa. AIDS 1997 Mar 15;11(4):493-8 Marx PA, Apetrei C, Drucker E. AIDS as a zoonosis? Confusion over the origin of the virus and the origin of the epidemics. J. Med Primatol 2004 Oct;33(5-6):220-6. Kanabus A & Allen S. The Origins of HIV & the First Cases of AIDS. AVERT (an international HIV and AIDS charity based in the UK) 2007. Gao F, Bailes E, Robertson DL, Chen Y, Rodenburg CM, Michael SF, Cummings LB, Arthur LO, Peeters M, Shaw GM, Sharp PM, Hahn BH. Origin of HIV-1 in the chimpanzee Pan troglodytes troglodytes. Nature 1999 Feb 4;397(6718):436-41. Keele BF, Van Heuverswyn F, LI Y, Bailes E, Takehisa J, Santiago ML, Bibollet-Ruche F, Chen Y, Wain LV, Liegeois F, Loul S, Ngole EM, Bienvenue Y, Delaporte E, Brookfield JF, Sharp PM, Shaw GM, Peeters M, Hahn BH. Chimpanzee reservoirs of pandemic and nonpandemic HIV-1. Science 2006 Jul 28;313(5786):523-6. Hooper, E. The River : A Journey to the Source of HIV and AIDS 1999, 1st edition, Boston, MA: Little Brown & Co, 1-1070. Robinson R. Relaxing the Clock Brings Time Back to Phylogenetics PLOS Biology 2006 4:(5) E106 Levy DN, Aldrovandi GM, Kutsch O, Shaw GM. Dynamics of HIV-1 recombination in its natural target cells. Proc Natl Acad Sci U S A. 2004 Mar 23;101(12):4204-9. Blancou, P, Vartanian J, Christopherson C, Chenciner N, Basilico C, Kwok S, Wain-hobsonn S. Polio vaccine samples not linked to AIDS Nature 2001, 410, p. 1045-1046 Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 23-26) 19/3/2008 15:36:14 DESTAQUES Ricardo Sobhie Diaz Professor livre docente da disciplina de infectologia da UNIFESP, chefe do laboratório de retrovirologia da UNIFESP Lopinavir/Ritonavir comprimidos uma vez ao dia Estudo demonstrou que Lopinavir/Ritonavir comprimidos usados em dose única diária foi tão eficaz do que com o uso convencional de duas vezes ao dia. Um total de 664 indivíduos foram alocados neste estudo que utilizou truvada (dose fixa de tenofovir e FTC) sendo que o Lopinavir/Ritonavir foi na dosagem única de 800/200 mg comparado com 400/100 duas vezes ao dia. A prevalência de carga viral indetectável foi de 78% versos 77% e o aumento no número de CD4 foi de 186 e 197 respectivamente nos braços usando uma e duas vezes ao dia. A incidência de efeitos colaterais também foi semelhante, sendo que o efeito mais comum foi diarréia, sendo de 17 e 15% respectivamente para uma e duas vezes ao dia. Gathe J et al. Study M05-730 primary efficacy results at week 48: phase 3, randomized, openlabel study of lopinavir/ritonavir tablets once daily versus twice daily, co-administered with tenofovir DF and emtricitabine in antiretroviralnaïve HIV-1 infected subjects. Fifteenth Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections, Boston. Poster 775, 2008 Herpes e HIV. Um estudo piloto no Peru demonstrou que o uso de valaciclovir em mulheres co-infectadas com HIV e herpes simplex genital (HSV2) reduziu de forma significativa a carga viral plasmática e nas secreções genitais do HIV. Da mesma forma, a freqüência dos recrudescimentos da infecção herpética e a carga viral do HSV2 também diminuíram. O estudo recrutou 20 mulheres co-infectadas e tratou a metade destas com doses de 500 mg de valaciclovir duas vezes ao dia comparado com placebo no grupo controle. As mulheres recrutadas neste estudo prospectivo randomizado controlado tinham mais de 18 anos, eram virgens de tratamento anti-retroviral (algumas tomaram AZT no passado por curto período para prevenção de transmissão vertical do HIV) com CD4 superior a 200 cels mm3 (mediana de 372). A queda média de carga viral plasmática no grupo de estudo foi de 4,6 log10 para 4,37 log10 e a queda da carga viral em secreção genital Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 27-28) Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 27 27 foi de 3,31 para 2,93 log10. Da mesma forma, o HSV2 foi detectado em 22.1% das vezes nas mulheres do grupo placebo comparado com 3,7% no grupo do valaciclovir. Baeten J et al. Herpes simplex virus suppressive treatment decreases plasma and genital HIV-1 viral loads in HSV-2/HIV-1 co-infected women: a randomized, placebo-controlled, cross-over trial. Fifteenth Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections, Boston. Abstract 676. 2008 Outro estudo conduzido entre homens que fazem sexo com homens nos EUA definiu que homens com replicação do HSV2 têm 16 vezes mais chances de transmitir o HIV do que os homens que não são portadores do HSV2. Desta forma, o estudo conclui que o tratamento do HSV2 deve diminuir a transmissão do HIV. Butler D et al. Correlates of HIV transmission among MSM. Fifteenth Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections, Boston. Abstract 701. 2008. Menor mortalidade quando o tratamento antiretroviral é instituído prontamente na presença de infecção oportunista. Uma grande dúvida entre os clínicos sempre foi a escolha do momento ideal para inicio da terapia anti-retroviral entre pacientes que abrem o quadro com infecção oportunista. Seria melhor aguardar a resolução da infecção oportunista e postergar o tratamento anti-retroviral a um segundo momento, priorizando o que realmente coloca o doente em risco de morte em curto prazo e minimizando os efeitos colaterais ou seria melhor diminuir a replicação do HIV o mais rapidamente possível propiciando assim a recuperação imune de forma mais acelerada? O estudo ACTG 5164 demonstrou que postergar a terapia anti-retroviral na vigência de infecção oportunista ou bacteriana aguda está associada à maior mortalidade. Este estudo incluiu 282 indivíduos com infecções oportunistas que excluí27 19/3/2008 15:36:14 am tuberculose e os mesmos eram randomizados para iniciar o tratamento imediatamente ou após 14 dias de completarem o tratamento para a infecção oportunista. A maioria (85%) dos candidatos eram homens, mediana de idade de 38 anos e com media de CD4 de 29 cels/mm3 e média de carga viral de 500.000 copias/ml, todos sem uso de ARV sendo 90% nunca havia usado ARV na vida. A infecção por Pneumoscystis foi a mais comum, 63%, seguido por criptococose em 16% e pneumonia bacteriana em 12%. O tratamento recomendado foi com Lopinavir/Ritonavir, d4T e truvada (tenofovir e FTC), mas os médicos assistentes tinham liberdade para mudar o tratamento de acordo com sua experiência. Entre os pacientes que iniciaram o tratamento precocemente a mortalidade foi de 14% comparado com 24% entre os pacientes que postergaram o tratamento (OR=0,5). Não houve diferenças nos efeitos adversos das medicações entre os grupos como também foi semelhante a incidência de síndrome da reconstituição imune nos dois grupos. Entretanto, os níveis de CD4 aumentaram mais rapidamente no grupo com tratamento imediato, reduzindo o que foi chamado pelos pesquisadores de “janela de vulnerabilidade para aids e para progressão para morte”. Zolopa A et al. Immediate vs. deferred ART in a setting of acute AIDS-related opportunistic infections: final results of a randomised strategy trial, ACTG A5164. Fifteenth Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections, Boston. Abstract 142, 2008. Darunavir eficaz e segura em crianças e adolescentes. Resultados de 24 semanas de um estudo utilizando darunavir para crianças com mais de 6 anos e adolescente até 17 anos, todos altamente experimentados, demonstrou que a droga é eficaz e segura nesta população. Todas as 80 crianças/ adolescentes receberam um esquema de base otimizado juntamente com darunavir/ritonavir. As doses de darunavir-r foram de acordo com o peso, sendo que entre 20 a <30 kg recebiam 375/50mg (darunavir/ritonavir) duas vezes ao dia, entre 30 to <40 kg recebiam 450/60mg duas vezes ao dia e com peso ≥40 kg recebiam 600/100mg duas vezes ao dia. A Carga viral foi inferior a 50 cópias em 50% dos pacientes e inferior a 400 cópias em 64%, sendo que houve a redução superior a 1 log10 em 74% dos pacientes. O incremento de CD4 foi de 28 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 28 28 117 cels/mm3. Este desempenho é de certa forma semelhante aos anteriormente entre a dultos e nenhuma morte ocorreu durante o período. Bologna R et al. Safety and efficacy of darunavir co-administered with low-dose ritonavir in treatment-experienced children and adolescents at Week 24. Fifteenth Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections, Boston. Abstract 78LB, 2008. Datando a introdução do HIV na América do Sul. Dois métodos de análise filogenética Bayesianos foram utilizados em uma quantidade grande de seqüência de HIV-1 isolados na América do Sul. Sabe-se que na America do Sul temos uma prevalência elevada de variantes do subtipo B em todos os países, sendo que também encontramos vírus do subtipo F no Brasil, vírus do subtipo C no Sul do Brasil, recombinantes entre os vírus dos subtipos B e F na Argentina e no Brasil e recombinantes entre os vírus dos subtipos B e C também no Sul do Brasil. Os vírus recombinantes que se estabelecem de forma sólida são chamados de formas recombinante circulantes (CRF), sendo que na America do Sul existem os CRF12 (B/F da Argentina) e CRF28 e CRF29 (B/F do Brasil). A metodologia filogenética acima permite que se estime a entrada dos vírus no continente a partir das seqüência de nucleotídeos do genoma dos vírus. Assim sendo, estimou-se que a entrada dos vírus do subtipo B foi em 1971, a dos vírus do subtipo F em 1981, os recombinantes B/F da Argentina emergiram em 1984 e os do Brasil em 1989. Os vírus do subtipo C entraram mais recentemente, em 1987 e os recombinantes B/C em 1992. Além disto, foi estimada a taxa de crescimento (expansão) da epidemia através dos cálculos do R0. Quanto maior o R0, mais explosiva é a epidemia, e os resultados demonstram que os valores para um intervalo de 10 anos foram 3,81 para o vírus B, 3,59 para os vírus F, 4,57 para os B/ F da Argentina, 7,7 para os B/F do Brasil, 8,2 para os vírus C e 16,6 para os B/C. Desta forma confirma-se a tendência de desaparecimento dos virus F puros e a expansão acelerada dos recombinantes e dos virus do subtipo C. Leal E et al. Evolutionary Dynamics of HIV-1 BF and CB Recombinants in South America. Fifteenth Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections, Boston. Abstract 507, 2008. Tendências em HIV • AIDS (Volume 3 - Número 1 - 27-28) 19/3/2008 15:36:14 Resumo de Teses Aluna: Erika Maria do Nascimento Kalmar Orientadora: Ester Cerdeira Sabino Instituição: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Título: Avaliação da resistência do HIV-1 às drogas antiretrovirais em 150 pacientes em interrupção terapêutica por mais de seis meses Resumo: INTRODUÇÃO: A mudança nos critérios de introdução das drogas anti- retrovirais, assim como a dificuldade na manutenção da terapia anti-retroviral de alta eficácia, tem levado à descontinuação da terapêutica por longo período de tempo em alguns pacientes infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana Adquirida-Tipo 1 (HIV-1). O objetivo deste estudo foi a caracterização dos fatores que levam à interrupção terapêutica e a avaliação da persistência da resistência aos anti-retrovirais após a interrupção da terapia anti-retroviral. MÉTODOS: Foram incluídos na pesquisa 150 pacientes de dois serviços de atendimento ambulatorial de atenção a pacientes infectados pelo HIV-1 da cidade de São Paulo, os quais se achavam em interrupção terapêutica havia pelo menos 6 meses. Os pacientes foram submetidos a um questionário e houve consulta aos prontuários. Foi realizada coleta de amostra de sangue para teste de genotipagem. O DNA pró-viral foi amplificado e seqüenciado para a região da protease e transcriptase reversa do vírus. As seqüências foram analisadas por meio do algoritmo de Stanford, sendo consideradas resistentes as amostras com resultado parcial ou completo de resistência a pelo menos uma droga. RESULTADOS: Dos 150 pacientes, 137 tiveram DNA do HIV-1 amplificado e seqüenciado, sendo que 38 (27,7%) apresentaram cepas resistentes. Entre os 38 pacientes com resistência, 29 (76,3%) apresentavam mutações para os análogos nucleosídeos inibidores da transcriptase reversa, 15 (39,4%) para os não análogos nucleosídeos inibidores da transcriptase reversa, e 5 (13,1%) para os inibidores da protease. A detectabilidade da carga viral antes da interrupção terapêutica foi o único fator associado com a resistência do vírus. Cento e dez (73,3%) pacientes suspenderam a medicação por orientação médica. A principal causa das interrupções terapêuticas foram os efeitos adversos para 58 (38,7%), seguida de 45 (30,0%) pacientes fora dos critérios atuais de início da terapia e/ou boas condições clínico/laboratoriais, e baixa adesão em 30 (20%). No ano anterior à pesquisa, 56 (37,3%) pacientes relataram relação sexual desprotegida e 130 (86,7%) mais que 2 parceiros. CONCLUSÕES: A freqüência de mutações de resistência revelou-se alta nesse grupo de pacientes. Tais mutações parecem ter um fitness semelhante ao das cepas selvagens, pois mesmo sem a pressão seletiva do medicamento por mais de 6 meses, mantiveram-se como cepas majoritárias. O aumento da carga viral, associado a comportamentos de risco, torna esses indivíduos uma fonte de cepas resistentes para a população, reforçando a necessidade de atenção especial para a prevenção da transmissão do HIV-1 nesse segmento de pacientes. Aluna: Mariana Melillo Sauer Orientadora: Esper Georges Kallas Instituição: Universidade Federal de São Paulo Título: Análise da contribuição dos sintomas clínicos de infecção aguda e parâmetros laboratoriais na progressão para imunodeficiência em infectados pelo HIV-1. Resumo: O estudo da infecção recente pelo HIV-1 tem papel fundamental para o entendimento da patogênese da imunodeficiência causada por este vírus. Para tanto, foi estabelecida em 2002 uma coorte na UNIFESP em colaboração com a Prefeitura de São Paulo, com pacientes com infecção recente pelo HIV-1, diagnosticados pelo método de dupla testagem sorológica, o STAHRS. Até o fechamento dos dados para este trabalho foram incluídos 207 voluntários com infecção recente pelo HIV-1, 191 homens (92,27%), 173 deles referem realizar sexo com homens (HSH, 83,98%). Entre todos os participantes, 123 são brancos (59,79%) com média de idade igual a 32,09 anos (extremos de 18,13 e 70,41 anos). Todos os voluntários referem ter contraído o vírus por via sexual. Dentre os parâmetros demográficos pudemos demonstrar a relação entre maior idade no momento da infecção e menor tempo para progressão para imunodeficiência (p=0,02). A mediana do resultado da contagem de linfócitos T CD4+ na primeira coleta de sangue do estudo foi de 529 células/ µL (interquartil 25-75% [IQ], 403–698), de linfócitos T CD8+ foi 907 células/µL (IQ 607–1.194) e a mediana da carga viral 21.100 cópias/mL (IQ 4.392-72.025), que em escala logarítmica na base 10 (log10) corresponde a 4,32/mL (IQ 3,64–4,86). Compareceram à consulta clínica inicial 196 pacientes, 66 (33,67%) referiram sintomas, com duração de 15 dias em média, sendo febre o mais freqüente (84,85%), seguido de intensa indisposição ou fraqueza (65,15%), aumento do volume de gânglios (45,45%), dores pelo corpo (36,36%) e dor de garganta (16,66%), além de emagrecimento, diarréia, cefaléia, dor abdominal, úlceras esofágicas e meningite viral. Não houve diferença no tempo de progressão entre os que descreveram sintomas ou não. Os dados sugerem, portanto, não existir relação entre a apresentação clínica inicial e o tempo para imunodeficiência. Observamos ainda que os pacientes que apresentaram sintomas sugestivos de infecção aguda apresentaram maior valor de linfócitos T CD8+ (p=0,003) e de carga viral (p=0,046). Este estudo fortemente sugere que a presença de sintomas na infecção aguda pelo HIV-1 não prediz menor ou maior tempo para imunodeficiência, mas pacientes sintomáticos mantiveram carga vira e contagem de linfócitos T CD8+ 29 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 29 29 19/3/2008 15:36:14 elevados durante todo o período de acompanhamento. Estes achados reforçam a importância de estudos de coorte com pacientes com infecção recente pelo HIV-1, para a busca de fatores imunológicos que expliquem estes achados. de co-infectados com HIV-1 atendidos no DF indica a importância da genotipagem nessa população uma vez que esses genótipos têm importância clínica na predição da resposta ao tratamento antiviral, sendo o HCV-1 o que responde mal ao tratamento ao tratamento. Aluna: Claudiner Pereira de Oliveira Orientadora: Marcelo de Macedo Brígido Instituição: Universidade de Brasília Título: Caracterização molecular do vírus da Hepatite C em indivíduos co-infectados com HIV-1. Aluna: Graziela Maria Schuh Orientadora: Sharbel Weidner Maluf Instituição: Centro Universitário Feevale Título: Estudo da instabilidade genômica causada por vírus, drogas anti-retrovirais e outros fatores ambientais em pacientes HIV positivo. Resumo: Resumo: As infecções pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV1) e pelo vírus da hepatite C (HCV) são consideradas problemas de saúde pública com cerca de 40 milhões de pessoas infectadas com o HIV-1 e cerca de 170 milhões com HCV no mundo. A co-infecção HIV-1/HCV é comum em indivíduos expostos a vias de transmissão percutânea e a hepatite C tem emergido como a principal causa de morte em pacientes HIV-1 soropositivos, devido à alta prevalência do HCV nessa população. O HCV pertence à família Flaviviridae, gênero Hepacivirus, e é classificado em 6 genótipos e múltiplos subtipos. Diferenças na distribuição genotípica são observadas em diferentes áreas do mundo e em um mesmo país. Alguns genótipos do HCV parecem estar relacionados a uma melhor resposta virológica sustentada após o tratamento, como os genótipos 2 e 3, que apresentam melhor resposta do que indivíduos infectados com os genótipos 1 e 4. Existem poucos dados sobre populações de co-infectados com HIV-1/HCV, a prevalência dos genótipos é relatada para as infecções separadamente nas diferentes populações. Assim, esse trabalho teve como objetivo caracterizar a prevalência dos genótipos e subtipos do HCV na população de co-infectados com HIV-1/HCV no Distrito Federal e entorno. Para isso foram analisadas 45 amostras de indivíduos co-infectados com HIV-1 e antiHCV positivos por meio de amplificação por PCR das regiões genômicas 5’UTR e NS5B do HCV seguida de seqüenciamento e análise filogenética. O genótipo 1 foi o mais prevalente (81%), seguido dos genótipos 3 (10%), 2 (6%) e 4 (3%). Esse resultado está de acordo com relatos de outros estudos da região Centro-Oeste, onde existe maior prevalência do genótipo 1. Os genótipos 2 e 4, raros no Brasil, foram descritos pela primeira vez na população HCV positiva do Distrito Federal (DF). A concordância entre os resultados obtidos por meio da análise de homologia das seqüências pelo programa HCV-BLAST para as regiões 5’UTR e NS5B foi de 97% para os genótipos e 90% para os subtipos, corroborando o descrito na literatura sobre a necessidade da análise de mais de uma região para a correta determinação do subtipo. A análise filogenética das seqüências definiu os genótipos e subtipos divergentes. A presença de genótipos 1, 2, 3 e 4 do HCV na população O vírus HIV pode causar mutações nas células infectadas, proporcionando maior risco para o desenvolvimento de tumores. Este trabalho teve como objetivo geral avaliar a freqüência de instabilidade genômica causada por vírus, por drogas antiretrovirais e outros fatores ambientais através da técnica de micronúcleos com bloqueio da citocinese e ensaio cometa, em indivíduos HIV+ sem o com o uso de drogas ARVs e como objetivos específicos: avaliar o efeito genotóxico da contaminação viral através dos índices de dano de DNA medidos pelas técnicas de micronúcleo e cometa; avaliar o efeito das drogas através dos índices de dano de DNA medidos pelas técnicas de micronúcleo e cometa, avaliar o efeito genotóxico de outros fatores como idade, sexo e tabagismo em indivíduos HIV+ com e sem uso de ARVs e no grupo controle através dos índices de dano de DNA medidos pelas técnicas de micronúcleo e cometa. A amostra constou de um total de 135 indivíduos. Foram realizadas as técnicas do cometa e de micronúcleos com o bloqueio da citocienese. Os valores desta avaliação, assim como outros parâmetros, como a carga viral (CV) e a taxa de TCD4+ foram analisados e relacionados com o uso de drogas e outros fatores ambientais. Os dados demonstraram que os pacientes HIV+ sem ARVs apresentam os maiores níveis de dano de DNA pela técnica do cometa, quando comparados com os controles (p=0,007), demonstrando um efeito genotóxico da carga viral, que apresentou-se elevada em relação aos pacientes em tratamento (p<0,001). A taxa de TCD4+ não apresentou diferença estatisticamente significativa entre os grupos HIV+ sem e com medicação. As drogas, quando analisadas individualmente, não apresentaram um efeito genotóxico detectável pelas nossas avaliações. Entre os pacientes HIV+ com ARVs, os fumantes apresentaram uma freqüência de micronúcleos estatisticamente maior do que os não fumantes (p=0,020), indicando um possível efeito sinérgico entre as drogas ARVs e o tabagismo. Este achado é importante para o aconselhamento dos pacientes no sentido de melhorar sua qualidade de vida e evitar outros problemas secundários de saúde, como o desenvolvimento de neoplasias, que pode ser causado pelo acúmulo de mutações. Não ficou evidenciado, neste estudo, a influencia do sexo e da idade nos índices de dano de DNA. 30 Tendencias em HIV Vol 3 n1 2008 30 30 19/3/2008 15:36:15