De como a política vêm usando a arte ! Normalmente vemos a

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De como a política vêm usando a arte ! Normalmente vemos a gênese da Arte Moderna dentro do período histórico que solidifica este movimento em Paris no final do séc. XIX, com Manet entre seus representantes máximos, mas para TJ Clark ele surgiu com um quadro específico, o Marat Assassinado de Jacques-­‐Louis David, datado em 16 de outubro de 1793. Este foi o momento em que o modernismo na pintura é contemporâneo de demandas politicas urgentes, entre elas, acalmar a turba revolucionária para a condução do governo dos Jacobinos. Entre os modelos oferecidos para esta ritualização artística dos novos tempos, tínhamos as procissões religiosas, e mesmo Marat foi para a Igreja nestes tempos revolucionários, substituindo Cristo no altar da adoração. O pintor deste momento necessitava de uma obra rápida, capaz de condensar estes acontecimentos, da morte de Marat, o mártir da Revolução, à substituição do ícone Cristão. Encontrara nesta iniciativa uma manufatura sem precedentes no mundo da arte, depois difundida pelo Impressionismo. O rosto do mártir e a marca do punhal no corpo foram os principais aspectos que preservaram o modelo anterior, com um detalhamento da maneira acadêmica, mas o quadro como um todo podia ser considerado como inacabado, como esboço se considerado dentro dos cânones clássicos. Todavia, a mensagem nunca fora tão forte, e tal quadro fizera mais sucesso que a guilhotina para Maria Antonietta (a representante da Monarquia agonizante), e ele fora para uma procissão que percorreu as ruas adjacentes ao museu do Louvre, difundindo-­‐o numa performance sem igual. No Brasil nunca sentimos o reflexo deste acontecimento na sua integralidade, e um dos discípulos menores do David, chamado Jean-­‐Baptiste Debret, veio ao país depois da queda de Napoleão em 1815 para trabalhar para a Monarquia portuguesa, pintando a coroação tropical com tudo que os cânones clássicos indicavam. Ele integrou a Missão Artística Francesa (1816), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou pintura. Nada mais contraditório do ponto de vista conceitual e ideológico, porém necessário do ponto de vista material quando as consequências revolucionárias cobravam seu preço, onde a ameaça da vida estava em voga. Muito tempo se passou, e os brasileiros foram para Paris na virada do século XX para absorver o que era considerado como vanguarda para o mundo, dentre eles Victor Brecheret, o qual assimilou parcialmente o que poderia conter uma escultura moderna. Dada sua inovação formal, ele ganhou em 1921 uma empreitada significativa, realizar o monumento das Bandeiras no Parque do Ibirapuera – um tributo do país àqueles que estenderam suas fronteiras. Mas na temática da obra, em muito ficou distante de David pintando Marat, aboliu qualquer teor dramático que a morte carrega, e os portugueses ficaram na condução do grupo, os índios figuram como escravos, aprisionados que eram para sua desgraça, o trabalho do escultor também não fizera a revolução formal, era para atender ao poder Legislativo instalado na frente da praça em que seria inaugurado no IV Centenário da cidade de São Paulo. Os portugueses colonizaram o país em um rastro de morte, nas Bandeiras, convencidos de que encontrariam o Eldorado, muitos encaravam o risco fatal com bravura. Todavia, hoje temos outra camada de adensamento sobre esta obra, uma assimilação realmente de vanguarda ocorreu quando coloriram de vermelho tal estátua, deram a ela o sangue que fora derramado na realidade dos bandeirantes. O momento também ajudou esta obra contemporaneamente, pois o Legislativo do Governo Federal desejava transferir para ele o direito de demarcação das terras indígenas, logo aqueles que são grandes proprietários de terras no país, e se sentem ameaçados quando os indígenas reivindicam seus direitos. Uma de suas representantes no Senado possui a alcunha de moto-­‐serra, ressaltando suas qualidades na devastações de florestas. A tinta vermelha também dizia algo sobre o momento político no país, onde as ruas começaram a ser tomadas para veicular as insatisfações de toda espécie na realidade política. A madame moto-­‐serra não mais sai impune, e as ambições inescrupulosas em jogo no Congresso e no Senado não ganham o embate quando a rua é ocupada. Vivemos numa democracia, e o meio de comunicação da pixação é o mais democrático, quando comparado com as mídias tradicionais. Basta ter apetite para se expressar, e topar a ilegalidade que ela abarca, e o risco da violência policial – aspecto corriqueiro para um jovem de periferia. No entanto, este Monumento teve que ser restaurado para voltar ao que foi realizado por Brecheret, e no que foi registrado pelo patrimônio histórico do Estado de São Paulo, enfim, sem pintura vermelha. Mas pelo fato de estarmos em regozijo democrático, até mesmo o IPHAN, o órgão nacional que confere o status de Patrimônio Histórico, fez parte do pagamento da viajem dos jovens que foram para 7ª Berlin Biennale como representantes da pixação, pois seu regulamento prevê como dignos de levantamento e registro o Patrimônio Imaterial de grupos culturais da metrópole. A pixação paulistana não foi beneficiada por algum deputado ou senador, mas porque existe um processo público e critérios universais que abrem edital regularmente, onde foi solicitada verba pelos representantes da pixação para difusão da cultura do país. O Monumento das Bandeiras não perdera seu vigor com a contribuição anônima do artista da tinta vermelha, antes disso já entrara para o Patrimônio Histórico brasileiro, e agora pode dar conta da integralidade do passado colonial. Forma e conteúdo se encontraram com a assimilação radical, colocando o legado do artista escultor em destaque. No monumento, o povo que fizera parte da colonização portuguesa passou de mero tema da obra para autor coletivo com a tinta vermelha, fazemos parte de novos tempos, onde fica insuportável qualquer ataque aos povos originais desta terra, e quando temos meio de expressar nossa revolta a pixação surge como principal meio de comunicação. O Joseph Beyus imaginou uma escultura social e fez parte dos movimentos ambientalistas de seu tempo, mas não imaginava este ataque ao Monumento das Bandeiras, fruto de uma escultura social instalada na metrópole, o que seria o mais industrial e mecanizado dos espaços torna-­‐se o principal lugar de outros tempos, nem sempre negativamente. No Renascimento a cidade de Roma possuía o tirano Bernabó como um defensor da Natureza, mas sua finalidade era diferente dos pixadores, ele gostava de caçar javalis e obrigava a plebe sustentar 5 mil cães para atender seu objetivo, tornado objetivo de Estado, e qualquer sujeito que interfere nesta prática é rigidamente torturado e executado. Hoje queremos preservar a Natureza para defender os primeiros povos a ocupar o Brasil, e os derradeiros a manter um modo de vida que não seja o capitalista. O Munumento foi potente neste objetivo de servir à arte da pixação neste momento. 
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