Aula Prática Profa. Dra. Fernanda Ayala O exame

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Aula Prática
Profa. Dra. Fernanda Ayala
O exame de urina é usado como método diagnóstico complementar desde o
século II. Trata-se de um exame indolor e de simples coleta, o que o torna muito
menos penoso para os pacientes do que as análises de sangue, que só podem
ser colhidas através de punção da veia com agulha. O exame sumário da urina
pode nos fornecer pistas importantes sobre doenças sistêmicas, principalmente
as doenças dos rins. As três análises de urina mais comuns são: - EAS
(elementos anormais do sedimento) ou urina tipo I. - Urina de 24 horas (leia:
URINA 24 HORAS | Como colher e para que serve). - Urinocultura (urocultura)
(leia: EXAME UROCULTURA | Indicações e como colher). Neste texto
falaremos apenas do exame simples de urina (EAS ou urina tipo I). As
informações contidas aqui têm como objetivo ajudar na compreensão dos
resultados das análises de urina. De modo algum o paciente deve usar este
texto para interpretar exames sem a orientação de um médico.
Após a leitura deste texto não deixe de ler também nossas outras postagens
sobre exames laboratoriais:
- EAS | urina tipo I
O EAS é o exame de urina mais simples, feito através da coleta de 40-50 ml de
urina em um pequeno pote de plástico. Normalmente solicitamos que se use a
primeira urina da manhã, desprezando o primeiro jato. Esta pequena quantidade
de urina desprezada serve para eliminar as impurezas que possam estar na
uretra (canal urinário que traz a urina da bexiga). Após a eliminação do primeiro
jato, enche-se o recipiente com o resto da urina.
A primeira urina da manhã é a mais usada, mas não é obrigatório. A urina pode
ser coletada em qualquer período do dia.
EAS - Urina I
A amostra de urina deve ser colhida idealmente no próprio laboratório, pois
quanto mais fresca estiver, mais confiáveis são os seus resultados. Um intervalo
de mais de duas horas entre a coleta e a avaliação pode invalidar o resultado,
principalmente se a urina não tiver sido mantida sob refrigeração.
O EAS é divido em duas partes. A primeira é feita através de reações químicas e
a segunda por visualização de gotas da urina pelo microscópio.
Na primeira parte mergulha-se uma fita na urina, chamada de dipstick, como as
que estão nas fotos ao lado. Cada fita possuiu vários quadradinhos coloridos
compostos por substâncias químicas que reagem com determinados elementos
da urina. Esta parte é tão simples que pode ser feita no próprio consultório
médico. Após 1 minuto, compara-se a cores dos quadradinhos com uma tabela
de referência que costuma vir na embalagem das próprias fitas do EAS.
EAS - Urina I
Através destas reações e com o complemento do exame microscópico,
podemos detectar a presença e a quantidade dos seguintes dados da urina:
- Densidade
- pH
- Glicose
- Proteínas
- Hemácias (sangue)
- Leucócitos
- Cetonas
- Urobilinogênio e bilirrubina
- Nitrito
- Cristais
- Células epiteliais e cilindros
Os resultados do dipstick são qualitativos e não quantitativos, isto é, a fita
identifica a presença dessas substâncias citadas acima, mas a quantificação é
apenas aproximada. O resultado é normalmente fornecido em uma graduação
de cruzes de 1 a 4. Por exemplo: uma urina com "proteínas 4+" apresenta
grande quantidade de proteínas; uma urina com "proteínas 1+" apresenta
pequena quantidade de proteínas. Quando a concentração é muito pequena,
alguns laboratórios fornecem o resultado como "traços de proteínas".
Vamos, então, aos valores de referência:
a) Densidade:
A densidade da água pura é igual a 1000. Quanto mais próximo deste valor,
mais diluída está a urina. Os valores normais variam de 1005 a 1035. Urinas
com densidade próximas de 1005 estão bem diluídas; próximas de 1035 estão
muito concentradas, indicando desidratação. Urinas com densidade próxima de
1035 costumam ser muito amareladas e normalmente possuem odor forte (leia:
URINA COM CHEIRO FORTE E MAL CHEIROSA).
A densidade indica a concentração das substâncias sólidas diluídas na urina,
sais minerais na sua maioria. Quanto menos água houver na urina, maior será
sua densidade.
b) pH:
A urina é naturalmente ácida, já que o rim é o principal meio de eliminação dos
ácidos do organismo. Enquanto o pH do sangue costuma estar em torno de 7,4,
o pH da urina varia entre 5,5 e 7,0, ou seja, bem mais ácida.
Valores de pH maiores ou igual 7 podem indicar a presença de bactérias que
alcalinizam a urina. Valores menores que 5,5 podem indicar acidose no sangue
ou doença nos túbulos renais.
O valor mais comum é um pH por volta de 5,5-6, porém, mesmo valores acima
ou abaixo dos descritos podem não necessariamente indicar alguma doença.
Este resultado deve ser interpretado pelo seu médico.
c) Glicose:
Toda a glicose que é filtrada nos rins é reabsorvida de volta para o sangue pelo
túbulos renais. Deste modo, o normal é não apresentar evidências de glicose na
urina.
A presença de glicose na urina é um forte indício de que os níveis sanguíneos
estão altos. É muito comum pessoas com diabetes mellitus apresentarem perda
de glicose pela urina. Isto ocorre porque a quantidade de açúcar no sangue está
tão alta, que parte deste acaba saindo pela urina. Quando os níveis de glicose
no sangue estão acima de 200 mg/dl, geralmente há perda na urina (leia:
DIAGNÓSTICO E SINTOMAS DO DIABETES MELLITUS ).
A presença de glicose na urina sem que o indivíduo tenha diabetes costuma ser
um sinal de doença nos túbulos renais. Isso significa que apesar de não haver
excesso de glicose na urina, os rins não conseguem impedir sua perda.
Basicamente, a presença de glicose na urina indica excesso de glicose no
sangue ou doença dos rins.
d) Proteínas:
A maioria das proteínas não são filtradas pelo rim, por isso, em situações
normais, não devem estar presentes na urina. Na verdade, existe apenas uma
pequena quantidade de proteínas na urina, mas são tão poucas que não
costumam ser detectadas pelo teste da fita. Portanto, uma urina normal não
possui proteínas.
Existem 2 maneiras de se apresentar o resultado das proteínas na urina: em
cruzes ou uma estimativa em mg/dL:
Ausência = menos que 10 mg/dL (valor normal)
Traços = entre 10 e 30 mg/dL
1+ = 30 mg/dl
2+ = 40 a 100 mg/dL
3+ = 150 a 350 mg/dL
4+ = Maior que 500 mg/dL
A presença de proteínas na urina se chama proteinúria, pode indicar doença
renal e deve ser sempre investigada (leia: PROTEINÚRIA, URINA ESPUMOSA
E SÍNDROME NEFRÓTICA). O exame da urina de 24h é normalmente feito para
se quantificar com exatidão a quantidade de proteínas que se está perdendo na
urina (leia: URINA 24 HORAS | Como colher e para que serve).
e) Hemácias na urina / hemoglobina na urina / sangue na urina:
Assim como nas proteínas, a quantidade de hemácias (glóbulos vermelhos) na
urina é desprezível e não consegue ser detectada pelo exame da fita. Mais uma
vez, os resultados costumam ser fornecidos em cruzes. O normal é haver
ausência de hemácias (hemoglobina).
Como as hemácias são células, elas podem ser vistas com um microscópio.
Deste modo, além do teste da fita, também podemos procurar por hemácias
diretamente pelo exame microscópico, uma técnica chamada de
sedimentoscopia. Através do microscópio consegue-se detectar qualquer
presença de sangue, mesmo quantidades mínimas não detectadas pela fita.
Neste caso, os valores normais são descritos de duas maneiras:
- Menos que 3 a 5 hemácias por campo ou menos que 10.000 células por mL
A presença de sangue na urina chama-se hematúria e pode ocorrer por diversas
doenças, como infecções, pedras nos rins e doenças renais graves (para saber
mais detalhes sobre a hematúria, leia: HEMATÚRIA (URINA COM SANGUE)).
Um resultado falso positivo pode acontecer nas mulheres que colhem urina
enquanto estão na período menstrual.
Uma vez detectada a hematúria, o próximo passo é avaliar a forma das
hemácias em um exame chamado "pesquisa de dismorfismo eritrocitário". As
hemácias dismórficas são hemácias com morfologia alterada, comum em
algumas doenças como a glomerulonefrite (leia: O QUE É UMA
GLOMERULONEFRITE?). É possível haver pequenas quantidades de hemácias
dismórficas na urina sem que isso tenha relevância clínica. Apenas valores
acima de 40 a 50% costumam ser considerados relevantes.
Não é todo laboratório que possui gente capacitada para executar esse exame.
Por isso, muitas vezes ele não é feito automaticamente. É preciso o médico
solicitar especificamente essa avaliação.
f) Leucócitos ou piócitos
Os leucócitos, também chamados de piócitos, são os glóbulos brancos, nossas
células de defesa. A presença de leucócitos na urina costuma indicar que há
alguma inflamação nas vias urinárias. Em geral, sugere infecção urinária, mas
pode estar presente em várias outras situações, como traumas, uso de
substâncias irritantes ou qualquer outra inflamação não causada por um agente
infeccioso. Podemos simplificar e dizer que leucócitos na urina significa pus na
urina.
Como também são células, os leucócitos podem ser contados na
sedimentoscopia. Valores normais estão abaixo dos 10.000 células por mL ou
5 células por campo
Alguns dipsticks apresentam um quadradinho para detecção de leucócitos,
normalmente o resultado vem descrito como "esterase leucocitária". O normal é
estar negativo.
g) Cetonas ou corpos cetônicos:
Os corpos cetônicos são produtos da metabolização das gorduras. Normalmente
não estão presentes na urina. A sua detecção pelo dipstik pode indicar diabetes
mellitus mal controlado ou jejum prolongado.
h) Urobilinogênio e bilirrubina
Também normalmente ausentes na urina, podem indicar doença hepática
(fígado) ou hemólise (destruição anormal das hemácias). A bilirrubina só
costuma aparecer na urina quando os seus níveis sanguíneos ultrapassam 1,5
mg/dL. O urobilinogênio pode estar presente em pequenas quantidades sem que
isso tenha relevância clínica.
i) Nitritos
A urina é rica em nitratos. A presença de bactérias na urina transforma esses
nitratos em nitritos. Portanto, fita com nitrito positivos é um sinal indireto da
presença de bactérias. Nem todas as bactérias tem a capacidade de metabolizar
o nitrato, por isso, exame de urina com nitrito negativo de forma alguma descarta
infecção urinária.
Na verdade, o EAS apenas sugere infecção. A presença de hemácias,
associado a leucócitos e nitritos positivos, fala muito a favor de infecção urinária,
porém, o exame de certeza é a urocultura (leia: EXAME UROCULTURA |
Indicações e como colher).
A pesquisa do nitrito é feita através da reação de Griess, que é o nome dado a
reação do nitrito com um meio ácido. Por isso, alguns laboratórios fornecem o
resultado como Griess positivo ou Griess negativo, que é igual a nitrito positivo e
nitrito negativo, respectivamente.
j) Cristais
Esse é talvez o resultado mais mal interpretado, tanto por pacientes como por
alguns médicos. A presença de cristais na urina, principalmente de oxalato de
cálcio, não tem nenhuma importância clínica. Ao contrário do que se possa
imaginar, a presença de cristais não indica uma maior propensão à formação de
cálculos renais.
Os únicos cristais com relevância clínica são:
- Cristais de cistina
- Cristais de magnésio-amônio-fosfato (estruvita)
- Cristais de tirosina
- Cristais de bilirrubina
- Cristais de colesterol
A presença de cristais de ácido úrico, se em grande quantidade, também deve
ser valorizada.
k) Células epiteliais e cilindros
A presença de células epiteliais é normal. São as próprias células do trato
urinário que descamam. Elas só têm valor quando se agrupam em forma de
cilindro, recebendo o nome de cilindros epiteliais.
Como os túbulos renais são cilíndricos, toda vez que temos alguma substância
(proteínas, células, sangue...) em grande quantidade na urina, elas se agrupam
em forma de um cilindro. A presença de cilindros indica que esta substância veio
dos túbulos renais e não de outros pontos do trato urinário como a bexiga,
ureter, próstata, etc. Isto é muito relevante, por exemplo, nos casos de
sangramento, onde um cilindro hemático indica o glomérulo como origem, e não
a bexiga, por exemplo.
Os cilindros que podem indicar algum problema são:
- Cilindros hemáticos (sangue) = Indica glomerulonefrite
- Cilindros leucocitários = Indicam inflamação dos rins
- Cilindros epiteliais = indicam lesão dos túbulos
- Cilindros gordurosos = indicam proteinúria
Cilindros hialinos não indicam doença, mas pode ser um sinal de desidratação.
A presença de muco na urina é inespecífica e normalmente ocorre pelo acúmulo
de células epiteliais com cristais e leucócitos. Tem pouquíssima utilidade clínica.
É mais uma obervação.
Em relação ao EAS (urina tipo I) é importante salientar que esta é uma análise
que deve ser sempre interpretada. Os falsos positivos e negativos são muito
comuns e não dá para se fechar qualquer diagnóstico apenas comparando os
resultados com os valores de referência.
EAS (urina tipo I) normal
Apenas como exemplo, o que segue abaixo é um modelo de como os
laboratórios apresentam os resultados do exame sumário de urina. Este exame
está normal.
COR ---- amarelo citrino
ASPECTO ---- limpido
DENSIDADE ---- 1.015 (normal varia entre 1005 e 1030)
PH ---- 5,0 (normal varia entre 5,5 a 7.5)
EXAME QUÍMICO
Glicose ---- ausente
Proteínas ---- ausente
Cetona ---- ausente
Bilirrubina ---- ausente
Urobilinogênio ---- ausente
Leucócitos ---- ausente
Hemoglobina ---- ausente
Nitrito ---- negativo
MICROSCOPIA DO SEDIMENTO (sedimentoscopia)
Células epiteliais ---- algumas
Leucócitos ---- 5 por campo
Hemácias ---- 3 por campo
Muco ---- ausente
Bactérias ---- ausentes
Cristais ---- ausentes
Cilindros ---- ausentes
Leia o texto original no site MD.Saúde: EXAME DE URINA | Leucócitos, nitritos,
hemoglobina... http://www.mdsaude.com/2009/08/exame-deurina.html#ixzz1qjJwYbyh 
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