SERVIÇO SAÚDE tem outras prioridades em relação ao calendário de vacinação. “Se tiverem recursos e julgarem necessário para determinada região, os governos estaduais ou municipais têm autonomia para disponibilizar a vacina contra varicela em seus postos, como fez Florianópolis”, comenta. Atualmente, a vacina contra catapora está disponível nas clínicas particulares para crianças a partir de um ano de idade e para adolescentes e adultos que não tiveram a doença. Segundo estudos da Sociedade Brasileira de Pediatria, a aplicação apresenta uma eficácia de 97%. “Quem é vacinado ainda tem uma pequena possibilidade de desenvolver a varicela, mas Sandra de Oliveira Campos, da vai ter um quadro bem mais Sociedade Brasileira de Pediatria fraco da doença”, afirma Sandra. Para o infectologista Paulo Olzon Monteiro da Silva, também da Unifesp, a vacina deveria ser obrigatória, por exemplo, para pessoas que migram de pequenas cidades para grandes centros urbanos como São Paulo. “Por não terem tanto contato com o vírus, indivíduos que não vivem em grandes O ciclo da catapora Incubação Nesse período, a pessoa já está com o vírus, mas ainda não apresenta sintomas. Duração: de uma a três semanas (na maioria dos casos esse período é de 10 a 14 dias). Prodrômico O paciente começa a ter sintomas como febre, indisposição, falta de apetite, mas ainda não apresenta as lesões na pele características da catapora. Ainda sem saber que está com a doença, nesse período a pessoa já pode transmitir o vírus. Duração: de dois a três dias. Estado Começam a surgir as pequenas bolhas na pele e nas mucosas. Durante esse período o paciente também pode contagiar outras pessoas. Duração: cerca de uma semana. Convalescença Nessa fase as feridas começam a secar e não há mais risco de contágio. Duração: cerca de três semanas. 30 Revista do Idec | Outubro 2007 cidades têm uma resistência menor à varicela”, avalia. “Soma-se a isso o fato de a doença se manifestar de uma forma muito mais intensa em adultos, e o resultado são óbitos causados por complicações da catapora”, complementa. De acordo com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), em 2005 foram registradas 32 mortes por varicela no Estado de São Paulo. Nem todos os médicos defendem a aplicação da vacina em toda a população. “Ela tem de estar disponível para a população de risco, como as que têm imunodeficiência, mas não precisa ser levada a toda a população saudável, já que a varicela é uma doença benigna, normal da infância”, diz Eliseu Alves Waldman, do departamento de epidemiologia da Universidade de São Paulo. “Quando você faz uma vacinação maciça, altera todo o comportamento da doença na comunidade e não sabe os resultados disso. Pode haver, por exemplo, um aumento do número de casos de varicela em adultos, que são os que desenvolvem a doença de uma forma muito mais intensa”, avalia. Segundo informações do Ministério da Saúde, a vacina contra a varicela é disponibilizada para os Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs) das secretarias de saúde dos estados, para uso em indivíduos de qualquer idade que apresentem maior risco de desenvolver as formas graves da doença. O Ministério inclui nesse grupo pacientes com leucemia e tumores malignos; profissionais da saúde e familiares que estejam em convívio com pacientes imunocomprometidos; pessoas suscetíveis à doença que serão submetidas a transplantes de órgãos; e HIV positivos, entre outros. REATIVAÇÃO Quem já teve varicela uma vez na vida não corre mais o risco de desenvolvê-la. No entanto, o vírus fica para sempre hospedado em alguma terminação nervosa do organismo e o indivíduo pode desenvolver, geralmente na velhice ou quando tem uma queda grande da imunidade, o chamado herpes-zóster. A doença é caracterizada pelo aparecimento de manchas vermelhas semelhantes às da varicela e muita dor em uma área específica do corpo, onde o vírus se alojou. Mas o herpes-zóster é tratável e não deixa seqüelas. Informações desfocadas Os preços de lentes para óculos variam em até 264% em São Paulo. Faltam informações sobre marca e qualidade, e atendentes estão despreparados para ir além da escolha da armação O mercado de óticas movimenta cerca de R$ 8 bilhões por ano, nas mais de 23 mil lojas espalhadas pelo país. Do total, quase R$ 3 bilhões vêm da venda de lentes simples e multifocais, ficando o restante para o comércio de armações, óculos de sol e acessórios. Mas se a representatividade no faturamento é grande, a importância dada ao produto por lojistas e consumidores é bem menor do que deveria ser. Além das questões estéticas, os óculos respondem pela preservação da saúde ocular e, por isso, precisam ter lentes adequadas à prescrição médica. De acordo com a Associação Brasileira de Produtos e Equipamentos Óticos (Abiótica), a quase totalidade dos lojistas afirma que a qualidade do produto e o bom atendimento são prioritários para garantir as vendas. No entanto, a prioridade das lojas é informar sobre armações, sobre o último lançamento, sobre a tendência da estação. Quando a questão é a qualidade das lentes ou o porquê do preço – muito maior ou menor do que em outros estabelecimentos –, não há informação suficiente. A maioria dos atendentes não sabe – ou parece não saber – com que produto trabalha e chega a confundir a marca do laboratório que faz a montagem das lentes com a marca do fabricante. Nesse ponto, as óticas desrespeitam o artigo 6o do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que estabelece como direito básico “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta (...) de características, composição, qualidade e preço”. Essas são as constatações do Idec, que percorreu vinte óticas paulistanas entre 12 e 17 de PHOTOS.COM ARQUIVO PESSOAL DICAS setembro. Um técnico do Instituto, com uma receita verdadeira e uma armação própria, visitou lojas em todas as regiões da capital, identificando-se apenas como consumidor. Como a variedade de lentes no mercado é imensa, buscamos o preço das mais tradicionais: as acrílicas simples e as de policarbonato simples. Nas acrílicas, a variação encontrada entre a mais barata e a mais cara foi de 233%. As mais em conta foram encontradas em loja da zona leste, por R$ 24, da marca Essilor (grupo francês, dono também das marcas Varilux, Crizal e Airwear). As mais caras, por R$ 80, encontramos Principais problemas de visão ● Astigmatismo: falta de nitidez para longe e para perto. Pode provocar dores de cabeça, sensação de ardor nos olhos e lacrimejamento. ● Hipermetropia: dificuldade para ver objetos próximos. Pode causar dor de cabeça, sensação de peso ao redor dos olhos, vermelhidão e lacrimejamento. ● Miopia: dificuldade para ver objetos distantes. Pode ser transmitida geneticamente, mas também é influenciada por fatores ambientais. ● Presbiopia: também conhecida como vista cansada, é o enfraquecimento do poder de acomodação para a visão de perto. O problema é evidente, em geral, após os 40 anos. Revista do Idec | Outubro 2007 31 DICAS DICAS na zona sul da cidade, da marca Sola (Carl Zeiss) – lentes de fabricação alemã. A princípio, o consumidor pode pensar que a diferença se dá pela qualidade das marcas (durante a pesquisa, foram citadas onze marcas pelos comerciantes). Mas a variação se deve muito mais à concorrência – ou falta dela – e à política de cada loja do que ao produto em si. A Abiótica confirma que uma das principais dificuldades, atualmente, é a concorrência. Para evitar a disputa de preços, as óticas acabam escondendo informações do consumidor (que poderia repassá-las aos concorrentes) e só disponibilizam preços gerais de “ar- mação” e “lentes”, sem especificar modelo, marca e qualidade. A prova de que os preços não se devem apenas às marcas está na variação encontrada intramarcas. As lentes acrílicas da Essilor, por exemplo, variaram de R$ 24 a R$ 70. Já as da marca Sola foram de R$ 40 a R$ 80. Confira nas tabelas os valores encontrados. A diferença chega a 264% quando as lentes são de policarbonato. As mais baratas, da marca Poliplus, encontradas na zona norte, saem por R$ 55. As mais caras, no centro da capital, custam R$ 200, da marca Sola. Novamente, a variação intramarcas surpreende: as da Poliplus vão de R$ 55 a R$ 150, e as da Sola, de R$ 120 a R$ 200. As lentes da Essilor, com preços intermediários, vão de R$ 68 a R$ 124. A cadeia dos óculos Q uando você pega seus óculos na ótica e os coloca no rosto, eles já passaram por uma cadeia grande de produção. São pelo menos quatro fornecedores: o fabricante de blocos de lentes, o distribuidor ou importador desses blocos, o laboratório de surfaçagem (fabricação das lentes oftálmicas a partir de um bloco) e montagem, e a ótica. Por trás de todo o processo, essa cadeia é determinante para a qualidade do produto final. Um par de lentes não se constitui apenas de material (acrílico ou policarbonato, por exemplo) e grau de correção. Existem também os desvios de eixo, os índices de descentralização e diver- sos outros fatores que influenciam no resultado que os óculos vão oferecer. Dessa forma, a escolha da ótica e a busca por preço são importantes, mas é preciso ficar atento também aos passos que o produto percorreu. Na pesquisa, descobrimos que onze das óticas visitadas montam os óculos em laboratórios terceirizados; seis realizam o processo na própria loja, e apenas três possuem laboratório próprio. Para se precaver contra problemas na cadeia, o consumidor pode questionar a ótica sobre o processo e pedir informações sobre a qualidade do laboratório. É importante que haja boa qualidade no Óticas e oftalmologistas É comum oftalmologistas, ao final da consulta, indicarem uma ótica onde se pode fazer os óculos. Essa prática, no entanto, é ilegal. Os decretos no 24.492/34 e no 20.931/32 regulamentam a atividade e definem que o médico não pode ter qualquer relação comercial com óticas nem indicar estabelecimentos a seus pacientes. As lojas também são proibidas de fazer publicidade de médicos ou de manter consultórios, mesmo fora de suas dependências. A legislação proíbe ainda ao proprietário ou a 32 Revista do Idec | Outubro 2007 qualquer atendente de óticas escolher, indicar ou aconselhar o uso de lentes de grau, sob pena de processo por exercício ilegal da medicina. Já ao médico que descumprir a lei pode ser imposta uma advertência ou censura confidencial, uma censura pública em publicação oficial, a suspensão do exercício profissional por 30 dias e até a cassação da carteira profissional. Para saber mais sobre o assunto, veja a reportagem “De olhos bem abertos”, na edição no 92 da REVISTA DO IDEC, de setembro de 2005. conjunto lente/armação, pois se houver defeitos na lente, na armação ou na montagem, os óculos podem não corrigir o problema existente e até produzir outros. Comprar óculos prontos em farmácias ou em camelôs, portanto, é absurdo, pois pode prejudicar a saúde do próprio consumidor. Apesar de já proibido, esse tipo de venda é comum nas grandes cidades e não é difícil encontrar bancas que vendem óculos no grau que o cliente escolher. O ideal é sempre buscar uma ótica de confiança. Mesmo nessas lojas, entretanto, devese ficar atento aos apelos do vendedor, que geralmente superestima o grau de leveza e a qualidade de "não riscar" de algumas lentes. O material usado na fabricação interfere no preço, mas também no resultado obtido. Lentes acrílicas são mais baratas do que as de cristal ou de policarbonato. Para quem tem graus altos, no entanto, as de policarbonato são as mais indicadas, pois têm a espessura reduzida e se tornam mais leves. Já em armações mais resistentes esse tipo de lente não é necessário, pois a própria armação disfarça a espessura. Tecnicamente, em relação à transparência, o policarbonato é inferior ao acrílico, mas é uma lente mais resistente. Para decidir, exija informações sobre as combinações possíveis e seus benefícios. Variação de preço entre tipos de lentes Lentes Mais baratas Mais caras Diferença Policarbonato R$ 55 (Poliplus) R$ 200 (Sola-Zeiss) 264% Acrílicas R$ 24 (Essilor) R$ 80 (Sola-Zeiss) 233% Variação de preço entre marcas de lentes Lentes de acrílico Marcas Lojas Faixa de preços Variação Essilor 10 R$ 24 R$ 70 192% Sola 3 R$ 40 R$ 80 100% Outras 7 R$ 30 R$ 70 133% Lentes de policarbonato Marcas Essilor Lojas 7 Faixa de preços R$ 68 Variação R$ 180 165% Poliplus 5 R$ 55 R$ 150 173% Sola 2 R$ 120 R$ 200 67% Outras 6 R$ 70 R$ 110 57% Dicas para a compra ● Faça uma pesquisa ampla, com o maior número de óticas possível, pois a diferença compensa. ● Exija o orçamento por escrito com discriminação do preço da armação, das lentes e do acabamento. ● Exija a discriminação da marca das lentes que serão usadas. ● A maioria das óticas trabalha com os mesmos prazos de entrega. Não ceda a pressões do tipo "entrego hoje mesmo seus óculos". ● Caso encontre preços muito diferentes para o mesmo produto, tente se informar sobre a qualidade das marcas usadas. ● Negocie os valores e informe os orçamentos diferentes que conseguiu, para tentar baixar o preço. ● Após escolher a ótica, exija por escrito o prazo e o tipo de cobertura de garantia do produto, tanto para a armação quanto para as lentes. Exija também comprovação da marca comprada, como um certificado de origem. ● Depois de tudo, com os óculos em mãos, retorne ao oftalmologista para verificar se a receita foi corretamente seguida pela ótica. Preserve as lentes: ● Já com os óculos em uso, evite esfregar as lentes a seco, pois resíduos e pó que estejam em sua superfície podem riscá-las. ● Nunca use álcool ou acetona para limpar as lentes, pois são produtos abrasivos. ● Lave as lentes com água e sabão neutro, esfregando suavemente a superfície. ● Seque com papel absorvente ou pano macio e limpo. 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