EXPOSIÇÃO AO TOLUENO ALTERA DESENVOLVIMENTO, COMPORTAMENTO E INDUZ AUMENTO DE EVENTOS APOPTÓTICOS EM Caenorhabditis elegans (1) Marcell Valandro Soares (2), Daiana Silva de Ávila (3) (1) Trabalho executado com recursos do edital Universal/CNPq e Edital Pesquisa/PROPESQ/UNIPAMPA. (2) Estudante; Universidade Federal do Pampa; Uruguaiana, RS; [email protected]. (3) Orientador; Universidade Federal do Pampa. Grupos de Palavras-Chave: tolueno, toxicidade, apoptose, neurotoxicidade. INTRODUÇÃO Solvente orgânico é uma denominação para um grupo de substâncias químicas orgânicas, que se apresentam liquidas a temperatura ambiente e se distinguem de acordo com seus graus de volatilidade e lipossolubilidade. São muito utilizados em processos industriais podendo ser empregados na sua forma pura ou em misturas (BATISTUZZO, CAMARGO e OGA, 2008). A característica de maior importância dos solventes orgânicos voláteis é a pressão de vapor, que esta relacionada à sua volatilidade, o quão rápido este solvente irá se dispersar no ambiente, outra importante propriedade é sua lipossolubilidade. A principal via de absorção é a pulmonar, mas o solvente também pode ser absorvido pela via cutânea (KANG et al., 2005). A gasolina apresenta composição variável de compostos e solventes, mas consiste basicamente de hidrocarbonetos aromáticos. Dentre estes hidrocarbonetos aromáticos, um exemplo é o tolueno, um solvente orgânico muito volátil nas CNTP. Sabe-se que 40% do tolueno é absorvido por via pulmonar rapidamente, logo se distribui pela circulação e atinge o sistema nervoso central onde possui ação tóxica e em altas concentrações e após exposição crônica pode levar a desorientação, tremores, alucinações e também problemas motores (EISENBERG, 2003). A exposição a este solvente orgânico tóxico acontece principalmente em trabalhadores de postos de gasolina e pode levar a muitos problemas de saúde, com isso se faz necessário ter um grande conhecimento de suas ações no organismo e assim avaliar a extensão dos prejuízos desta exposição (ANTUNES, PATUZZI e LINDEN, 2008). Dentro deste contexto o presente trabalho busca avaliar o efeito da exposição volátil ao tolueno sobre o desenvolvimento, comportamento, mortalidade e indução de morte celular no modelo experimental Caenorhabditis elegans. O C. elegans tem sido utilizado como organismo modelo devido à grande semelhança genética que existe entre estes nematoides e os mamíferos (KALETTA; HENGARTER, 2006). METODOLOGIA As cepas utilizadas neste projeto foram a tipo selvagem N2 Bristol e MD701 bcIs39 [lim7p::ced-1::GFP + lin-15(+)] obtidas através do Caenorhabditis Genetics Center (CGC). O tolueno (99% de pureza) foi obtido na Sigma-Aldrich. Para realização dos ensaios de exposição volátil foi desenvolvida uma câmara de vidro com sistema de circulação de ar e uma tampa que possibilita seu fechamento, cujas dimensões são 9 cm de altura X 15 cm de comprimento X 7 cm de largura. Para os experimentos, os animais tiveram seu estágio sincronizado através do tratamento de hermafroditas adultos grávidos com solução de lise para obtenção de embriões que ficam em meio liquido de um dia para o outro para que eclodam no primeiro estágio larval (L1). Os vermes em L1 foram transferidos para placas NGM com Escherichia coli OP50. Após as placas com vermes foram colocadas dentro da câmara, o tolueno foi pipetado em um papel filtro presente na câmara, e então colocada à tampa, para certificar-se de total vedação do sistema a região da tampa foi lacrada com papel filme. Foram pipetadas quantidades suficientes de tolueno levando em consideração sua característica de volatilidade em determinada temperatura, pressão e área da câmara a fim de obter as seguintes concentrações 8.700, 14.500, 21.750 e 29.000 ppm de tolueno. Após 48 horas de exposição os vermes foram analisados. RESULTADOS E DISCUSSÃO O gráfico (a) mostra a porcentagem de sobreviventes após 48 horas de tratamento. Foi observado que a sobrevivência diminuiu significativamente, sendo de forma dose dependente. O gráfico (b) representa os resultados obtidos da analise do desenvolvimento, onde observamos atraso no desenvolvimento significativo, o gráfico (c) representa um teste de comportamento de natação, no qual evidencia uma diminuição significativa nos movimentos à medida que há aumento na concentração de tolueno. O gráfico (d) demonstra a análise do número de células em apoptose, onde a concentração utilizada mostrou estimular a via de apoptose promovendo morte celular. Os resultados alcançados comprovam os efeitos tóxicos do tolueno quando há exposição volátil de forma crônica, onde à medida que aumentávamos a concentração de exposição observamos um aumento significativo na mortalidade. Analisando os resultados do ensaio de desenvolvimento dos vermes observamos um atraso significativo dependente da concentração, o que corrobora com estudos realizados com ratos por Roberts, Bevans e Schreiner (2003) no qual houve alteração no desenvolvimento quando ratos eram expostos ao tolueno por via inalatória. O ensaio comportamental de natação serve como um parâmetro para avaliação da atividade neuronal conforme propõem Ghosh e Emmons (2008) que caracterizaram esse fenômeno comportamental em C.elegans, onde colocam que o estimulo de natação é controlado por neurônios, nossos resultados demonstram uma diminuição significativa nos movimentos de natação, logo podemos atribuir a um possível efeito neurotóxico. A exposição ao tolueno também demonstrou um aumento no numero de células em apoptose de forma significativa no mutante MD701 que possui marcação com GFP para ced-1 presente na via das caspases e responsável por ativar o processo de morte celular. CONCLUSÕES Conforme os resultados obtidos, o tolueno apresentou uma significativa toxicidade onde podemos comprovar que age promovendo morte celular através da via das caspases, também demonstrou significativo efeito tóxico sobre o desenvolvimento e sobre comportamento de natação que é controlado por estímulos neuronais logo efeito neurotóxico. REFERÊNCIAS ANTUNES, M.V.; PATUZZI, A.L.M.; LINDEN, R. Determinação simultânea de creatinina e indicadores biológicos de exposição ao tolueno, estireno e xilenos em urina por cromatografia líquida de alta eficiência. Quím. Nova, vol.31, n.7, 2008. BATISTUZZO, J.A.O.; CAMARGO, M.M.A.; OGA, S. Fundamentos de Toxicologia, 3ª Ed., Atheneu, São Paulo, 2008. EISENBERG, D.P. Neurotoxicity and mechanism of toluene abuse. Einstein Quar J Biol Med, 2003. GHOSH, R., EMMONS, S.W. Episodic swimming behavior in the nematode C. elegans, The Journal of Experimental Biology, 2008. KALETTA, T.; HENGARTNER, M. O. Finding function in novel targets: C. elegans as a model organism. Nature Reviews Drug Discovery, v.5, n.5, p. 387-399, 2006. KANG S.K., ROHLMAN D.S., LEE M.Y., LEE H.S., CHUNG S.Y., ANGER W.K. Neurobehavioral performance in workers exposed to toluene. Environ Toxicol Pharmacol, 2005. ROBERTS, L.G., BEVANS, A.C., SCHREINER, C.A. Developmental and reproductive toxicity evaluation of toluene vapor in the rat, Reproductive toxicity. Reprod Toxicol, 2003.