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GUIA GEOLÓGICO
GEOLOGICAL GUIDE
NORONHA
Patrimônio Natural da Humanidade
pela UNESCO, Fernando de Noronha
é um arquipélago riquíssimo em
monumentos geológicos, apesar de
ser muito jovem na história da Terra.
Esse guia de bolso organizado por
Jasmine Cardozo Moreira, doutora
em Geografia que desenvolve
trabalhos sobre Geoturismo, nos
possibilita usufruir de toda essa
riqueza.
Para cientistas e estudantes, é um
instrumento que aprofunda a
compreensão geológica. Para os
principiantes, abre-se uma nova
dimensão. Viajar por Noronha
observando as rochas é fazer uma
viagem pela história do planeta.
Este Guia foi elaborado para facilitar a
compreensão do ambiente no que diz respeito à
geologia e geomorfologia de Fernando de Noronha,
que é completamente diferente de todo o território
continental brasileiro.
A autora nos explica a história geológica e destaca
25 pontos de especial interesse ao redor do
arquipélago
Um guia de bolso, tamanho ideal para ser levado
nas visitas aos atrativos, com o conhecimento
sempre à mão.
Segure-o aberto com uma das mãos e a explicação
estará sempre acima da foto.
Vários locais retratados neste guia devem ser
apenas admirados - têm acesso proibido para que
continuem exercendo sua beleza e função
ecológica. Respeite as regras e faça parte deste
equilíbrio.
Bom proveito!
Foto: Morro do Pico, Ilhas Dois Irmãos e Pedra do
Pião no horizonte
ÍNDICE
- Origem
- Formação Remédios
- Formação Quixaba
- Formação Caracas
- Sedimentos Modernos
- As Ilhas
LOCAIS: 1- Baía de Santo Antonio
2- Urro do Leão
3- Praia do Cachorro
4- Pedra do Pião
5- Morro do Pico
6- Praia da Conceição
7- Praia do Boldró
8- Praia do Bode
9- Ilhas Dois Irmãos
10- Baía dos Porcos
11- Baía do Sancho
12- Baía dos Golfinhos
13- Portal da Sapata
14- Ponta do Capim-Açu
15- Praia do Leão
16- Ponta das Caracas
17- Baía do Sueste
18- Praia do Atalaia
19- Gruta do Capitão Kid
20- Enseada da Caieira
21- Buraco da Raquel
22- Ponta da Air France
23- Pedra da Bigorna
24- Ilhas Secundárias
25- Ilha Rata
O Arquipélago Fernando de Noronha mede 26 km2,
sendo 9 de plataforma marinha e 17 de superfície
emersa - a maior parte na ilha principal, que é
cercada de 18 pequenas ilhas e dezenas de
rochedos isolados.
Integra duas Unidades de Conservação Federais
geridas pelo ICMBio: o PARNAMAR (Parque
Nacional Marinho de Fernando de Noronha) e a APA
(Área de Proteção Ambiental Fernando de
Noronha–Rocas–São Pedro e São Paulo) que
corresponde à área urbanizada.
O litoral noroeste é chamado de “Mar de Dentro” por
ser protegido das correntes e ventos oceânicos pelo
próprio relevo da ilha. Aqui estão onze praias de
areia, com mar verde-esmeralda, que recebem
grandes ondas durante o verão.
“Mar de Fora” é o litoral sudeste, que recebe ventos
e ondas o ano inteiro. Aqui a água é sempre de um
azul profundo e há somente três praias de areia,
protegidas por ilhas.
ORIGEM
O Arquipélago é a parte emersa de um grande
edifício vulcânico, com base a quatro mil metros de
profundidade e cerca de setenta quilômetros de
diâmetro.
Faz parte de uma estrutura alinhada de diversos
montes vulcânicos submarinos que se estendem da
Dorsal Atlântica até a plataforma continental
brasileira, próximo ao litoral do Ceará.
Após milhões de anos de atividades vulcânicas
intensas, alternadas com épocas calmas, alguns
desses montes começaram a aparecer acima da
superfície do mar, como é o caso de Fernando de
Noronha e do Atol das Rocas, situados ao longo de
linhas de fraqueza associadas à Zona de Fratura de
Fernando de Noronha.
(continua)
As erupções iniciavam-se com violentas explosões
que desobstruíram o conduto vulcânico, lançando
no espaço grande quantia de rochas piroclásticas
(criadas no interior do manto e ejetadas para longe),
para depois de aliviada a tensão dos gases,
começarem os derrames de lava (magma que
chega à superfície, em estado de fusão).
Durante um grande período erosivo, os edifícios
vulcânicos originais foram destruídos. Seguiu-se
então o último período vulcânico (Formação
Quixaba), com lavas extremamente fluidas, a ponto
de formar derrames com menos de três centímetros
de espessura. Por muito tempo as lavas foram
cobrindo grande parte do arquipélago. Desde que o
vulcanismo cessou, processos erosivos e a
variação do nível do mar atuaram sobre a ilha,
esculpindo-a até os dias de hoje (incluindo aí a
Formação Caracas e os sedimentos modernos).
FORMAÇÃO REMÉDIOS
Esta Formação é a mais antiga e corresponde à
atividade vulcânica ocorrida entre 12 e 8 milhões de
anos atrás.
São rochas eruptivas alcalinas e material
piroclástico lançado na atmosfera pelas erupções,
formado por grande quantia de bombas vulcânicas
(rochas com um grande volume), lápilis (menor
volume) e cinzas, aglomerados, brechas e tufos –
que misturam um pouco de lava, cinzas e poeira.
Muitas rochas piroclásticas atualmente estão
alteradas ou cobertas por solo e vegetação. Na
maioria das vezes possui cor cinza e leve tom
esverdeado, além de estrutura granular grosseira.
Desta Formação são também rochas intrusivas
alcalinas (formadas pela intrusão de magma), como
o Morro do Pico e os diques.
Foto: Ilha do Frade, fonolítica, em Atalaia
DIQUES - FORMAÇÃO REMÉDIOS
Os diques observados em Noronha são as ultimas
injeções de magma desta fase, que se infiltraram
em rupturas de rochas já consolidadas.
Posteriormente estas rochas foram erodidas e os
diques restaram com sua forma tabular vertical, que
lembram paredes. Estão visíveis:
* Diques simples: em vários locais da ilha.
* Diques múltiplos: injeções sucessivas do mesmo
tipo de rocha numa única fratura (Há um na Praia da
Biboca).
* Diques compostos: associação de dois ou mais
tipos de rocha no mesmo dique. (Enseada da
Caieira).
* Diques em anéis: Enseada da Caieira.
Com base na observação desses diques foi definida
a ordem cronológica das intrusões, ou seja, os
fonólitos e traquitos são os mais antigos, pois neles
foram vistos diques de outras rochas. Fernando de
Noronha possui mais de 100 diques com um
predomínio na direção Nordeste.
Foto: Dique simples na Enseada da Caieira.
FORMAÇÃO QUIXABA
Após a Formação Remédios, houve um longo
período erosivo. Só entre 3,3 e 1,7 milhões de anos
atrás é que ocorreu uma nova atividade magmática:
grandes derrames de lavas ankaratríticas.
Como houve esse grande período erosivo, as lavas
encontraram superfícies irregulares onde se
assentaram, preenchendo as depressões em
espessuras variadas - de poucos centímetros a
mais de quarenta metros.
Esta é a Formação mais abundante no Arquipélago,
é observada em grande parte das praias e circunda
a Formação Remédios.
Possui o nome Quixaba por estar bem exposta e
facilmente acessível nas bordas do planalto da
Quixaba, principalmente nas falésias próximas ao
mar.
Essas rochas efusivas (que vieram em estado de
fusão até a superfície) são rochas negras, com
grande uniformidade textural e mineralógica, e
granulação muito fina.
(continua)
Foto: Rochas arredondadas na Baía dos Porcos
Em vários lugares encontramos os empilhamentos
de derrames de lava ankaratrítica, alternados com
piroclastos (material lançado durante as erupções).
As rochas possuem estruturas vesiculares e
amigdaloidais, que permitem determinar a direção
do escoamento de lava - os derrames, quando não
são horizontais, apresentam inclinações de até 30º
para sul.
Desta Formação são as grandes colunas comuns
em rochas ígneas, formadas devido ao
diaclasamento - planos de fraqueza que surgem nas
rochas durante o resfriamento e solidificação do
magma ao diminuir de volume. Tais colunas como
vemos atualmente são resultado da disjunção
colunar (estrutura de disjunção em prismas).
A decomposição dessas rochas pode ser esferoidal
(inicia-se um arredondamento da rocha, que vai
alterando-a cada vez mais) ou partindo-se em
blocos. Após longos períodos de erosão, este tipo
de rocha origina um solo castanho.
Foto: Colunas em uma das ilhas Dois Irmãos
FORMAÇÃO CARACAS
As rochas da Formação Caracas são depósitos
sedimentares, resultantes de processos que
ocorreram entre 1,8 milhão e 10 mil anos atrás,
envolvendo o Arenito das Caracas.
São sedimentos antigos, de origem predominantemente eólica (eoalianitos), com colora-ção
bege clara ou cinzenta, textura arenosa granular
fina e estratificação cruzada. Forma-vam antigas
dunas móveis, agora petrificadas por processos
físico-químicos.
Os grãos de areia são constituídos principal-mente
por restos de organismos marinhos - algas
calcárias, moluscos, corais - e minerais essenciais
das rochas vulcânicas. Entre esses grãos encontrase a calcita microcristalina, que serve como um
cimento, dando consistência aos arenitos. Tal
característica indica que o mar estava abaixo do
nível atual quando essas rochas se formaram.
A Formação ocupa apenas 7,5% do Arquipélago,
mas chama a atenção por suas formas muito
esculpidas.
Foto:Detalhe da Ilha do Meio
SEDIMENTOS MODERNOS: RECIFES
No Arquipélago há a presença de recifes integrados
por colônias de moluscos vermetídeos, anelídeos e
algas calcárias.
Há recifes soerguidos (recifes “fósseis” originados
quando o nível do mar era mais alto que o atual) e
recifes de Lithothamnion (recifes de algas calcárias
atuais, submersas na maré alta.
Os seres vivos que vão se sobrepondo formam
colônias extensas, cobrindo estruturas que já não
estão vivas e sim petrificadas, em um processo de
milhares de anos.
Entre uma estrutura e outra restam vãos irregulares.
As ondas penetram nestes espaços e a água é
aprisionada e pressionada, até que jorra lembrando
gêiseres.
É proibido caminhar sobre os recifes porque uma
simples pisada pode destruir o trabalho de muitos
anos.
Foto: Recife no canto direito da Praia do Leão
PRAIAS E DUNAS
Praias são formações recentes, posteriores às
últimas glaciações. Há onze praias de areia no Mar
de Dentro e três no Mar de Fora. Durante o ano há
um grande vai e vem de areias. No Mar de Dentro
algumas praias perdem quase toda a areia no final
do ano; na praia do Leão a perda de areia é
observada no meio do ano.
A composição da areia das praias é especial, pois
não há quartzo, somente fragmentos de rochas
vulcânicas e grãos calcários, originários de
conchas, tubos de vermes, algas calcárias,
crustáceos, moluscos.
Na ilha Principal há dunas ativas constituídas de
grãos procedentes das praias do Leão, Sueste e
Atalaia. O sentido de orientação predominante é o
dos ventos alísios que sopram constantemente na
região.
Dunas podem ser vistas na Praia do Sueste,
Praia do Leão e no alto da Enseada da Caieira.
Foto: Dunas na Praia do Leão
AS ILHAS
Além da Principal, 18 ilhas compõem o Arquipélago.
No extremo nordeste, as Ilhas Secundárias:
Viuvinha, Cuscuz, São José, Rasa, Sela Gineta, do
Meio, Rata e Lucena.
No Mar de Dentro, a ilha Morro de Fora e as ilhas
Dois Irmãos.
No Mar de Fora, Ilhas Morro do Leão, Morro da
Viuvinha, do Chapéu, Cabeluda, dos Ovos, Trinta
Réis e do Frade.
As ilhas possuem aspectos diferentes conforme a
sua constituição geológica e observando-as
podemos entender os contrastes entre as várias
formações. Não é permitido ir a nenhuma delas,
apenas visitá-las no passeio de barco ou nos
mergulhos autônomos.
Ilhas fonolíticas: Ilha do Frade, Sela Gineta,
Cabeluda, Morro de Fora, Trinta réis, dos Ovos,
Morro do Leão, Morro da Viuvinha.
Ilhas de derrames de lava: São José, Cuscuz,
Viuvinha e Dois Irmãos.
Ilhas sedimentares: ilhas do Meio, Rasa e do
Chapéu.
Foto: Ilha Sela Gineta vista da Ilha Rasa
1-BAÍA DE SANTO ANTÔNIO
Formação: Quixaba
Esta é a praia que abriga o porto, onde foi construído
um grande píer com rochas extraídas da pedreira
próxima à Baía do Sueste.
À esquerda da baía existem paredões de lava
ankaratrítica onde calcários marinhos afloram sob a
forma de pequena mancha. São camadas delgadas
assentadas sobre uma base irregular de derrames
de lavas e rochas piroclásticas, acumulando no
máximo seis metros de espessura. Sua
estratificação é horizontal e está bem consolidada
por forte cimento calcário.
Ali se encontra a caverna da Aruanã, forrada de
seixos, que ganhou este nome porque era
procurada por tartarugas aruanãs (tartarugasverde) como local para desova até algumas
décadas atrás.
Foto: Baía de Santo Antônio
2- URRO DO LEÃO
Formação Remédios
O Morro do Forte, que abriga o forte Nossa Senhora
dos Remédios é muito antigo, da Formação
Remédios. Na encosta deste morro, já erodido
pelas águas, existem fendas e reentrâncias que
formam pequenas cavernas em seu interior, com
piscinas forradas de esponjas e habitadas por
enormes peixes coloridos.
O acúmulo de ar causado pelo arremesso das
ondas contra as fendas na falésia produz um som
muito forte, que soa como um urro de leão. É parada
obrigatória do Passeio de Barco clássico. O som,
produzido fora do alcance dos olhares, não coincide
com o ritmo das ondas do lado de fora, causando
encantamento.
Diz a lenda que esta fenda se comunica com o Forte
e na época do presídio nela eram atirados os
prisioneiros mais rebeldes – o som seria o eco
perene de seu sofrimento.
Foto: As pessoas se aproximam para escutar o urro
do leão
3-PRAIA DO CACHORRO
Formação: Remédios e Quixaba
Pequena enseada com vista para a ilha Morro de
Fora, que lembra um cachorro deitado. Durante o
verão toda a areia da praia é removida pela força
das ondas, deixando expostos cascalhos e rochas.
Nas rochas ao lado direito encontra-se uma piscina
natural acessível durante a maré baixa – o Buraco
do Galego. Escavada na rocha naturalmente pela
ação das águas, possui 3 metros de profundidade
por 2,5 metros de diâmetro. Suas paredes são
coloridas por esponjas e os banhos são permitidos.
Também na maré baixa, é possível caminhar para a
esquerda até a praia do Meio, sobre seixos,
matacões e conglomerados de rochas negras.
Foto: O Buraco do Galego e a Ilha do Morro de Fora
da Conceição
4- PEDRA DO PIÃO
Formação: Remédios
Localizada entre a Praia do Meio e a Praia da
Conceição, é um grande monólito (forma constituída
por uma única rocha), cuja base foi solapada pela
ação abrasiva das ondas, comprometendo seu
equilíbrio natural. Demonstra que nos últimos
milhares de anos o arquipélago apresenta
estabilidade sísmica.
Lembra a forma de um pião, quando visto a partir da
praia do Cachorro, e de uma cabeça com turbante
ou chapéu de soldado quando visto a partir de um
barco no mar da Conceição – para alguns a
semelhança é grande com um “Moai”, como os
encontrados na Ilha de Páscoa.
Foto: Pedra do Pião vista do mar da praia da
Conceição
5- MORRO DO PICO
Formação: Remédios
Ponto mais alto da Ilha, com 321 metros de altura. A
rocha que vemos é também o maior fonólito da Ilha,
sendo formado por rochas alcalinas, formadas pela
intrusão de magma, produto de atividades
magmáticas de aproximadamente nove milhões de
anos atrás.
Possui esta forma (plug) decorrente de processos
erosivos e intempéricos que vêm agindo há muitos
milhares de anos e que atuaram em superfícies de
fraqueza da rocha, influenciando a queda de
grandes blocos.
São muitas as interpretações visuais para o Morro
do Pico. Conforme o ângulo em que é observado,
para alguns se assemelha a uma grande sereia,
para outros um macaco, um chefe indígena, entre
outras.
Foto: Morro do Pico na Praia da Conceição
6- PRAIA DA CONCEIÇÃO
Formação: Remédios e Quixaba
A praia da Conceição é a praia que se estende aos
pés do Morro do Pico. Em seu lado direito há uma
sequência de rochas piroclásticas até a Ilha do
Morro de Fora, uma ilha fonolítica.
No lado esquerdo, próximo ao Morro do Pico, há
blocos de rocha de coloração rosada, contendo
inclusões de cor preta-esverdeada. É uma brecha
vulcânica do plug do Morro do Pico e as inclusões
são restos de material previamente solidificado. O
bloco mais notável é visível apenas nos meses em
que o mar retira boa parte da areia da praia. No
mesmo local há grandes blocos de rochas negras
da Formação Quixaba.
Fotos: Rocha rosada e Morro do Pico com
sequência de rochas piroclásticas
7- PRAIA DO BOLDRÓ
Formação: Remédios e Quixaba.
Situada do outro lado do Morro do Pico, é uma praia
onde se encontram falésias de rochas piroclásticas,
rochas tufáceas e derrames ankaratríticos.
Próximo ao Morro do Pico as rochas são da
Formação Remédios. Há grandes blocos de rocha
negra da Formação Quixaba espalhados pela praia
e, mais à esquerda, recifes de Lithothamniun (algas
calcárias).
Os surfistas da ilha dizem que nesta praia as ondas
são perfeitas graças ao fundo rochoso.
Alguns guias gostam de dizer que o nome da praia
se relaciona com os soldados americanos outrora
aqui baseados se referindo às rochas (boulders),
mas o nome aparece nos documentos da
construção do forte São Pedro do Boldró, no século
XVIII.
Foto: Rochas próximas ao Morro do Pico
8- PRAIA DO BODE
Formação: Quixaba
Separada da praia do Americano por um grande
derrame de lavas que forma a “Pedra do Bode”,
aqui podem ser observados um “mar de blocos”
resultantes da alteração das rochas magmáticas.
As duas praias são bons locais para a observação
dos derrames de lavas vesiculares e depósitos de
aglomerados e lava.
Muitos blocos apresentam manchas arredondadas:
são liquens que estão colonizando sua superfície,
transformando lentamente as rochas em solo.
Durante a maré baixa, une-se à praia da Cacimba
do Padre, formando uma praia só. Quando a maré
sobe, os derrames de lava isolam entre elas mais
uma praia, a Quixabinha.
Nas rochas próximas à Pedra do Bode formam-se
piscinas boas para o banho, mas deve-se estar
atento com as ondas e a corrente marítima, quando
a maré cresce.
Foto: A Pedra do Bode
9- ILHAS DOIS IRMÃOS
Formação: Quixaba.
No final da praia da Cacimba do Padre chegamos
muito próximos à ilha “de dentro” dos Dois Irmãos.
Nestas ilhas podem ser observadas rochas
vulcânicas ankaratríticas, de cor escura, com
grandes colunas formadas pelo diaclasamento das
rochas, que demonstram o resfriamento das lavas.
Importante observar também a disjunção colunar estrutura de disjunção em prismas desenvolvida
por processos atectônicos,
comum em rochas
ígneas).
No passeio de barco, temos a oportunidade de ver
muito de perto essas colunas.
Fotos: Ilhas Dois Irmãos na Cacimba do Padre
Foto da capa deste guia: Ilhas Dois Irmãos e Baía
dos Porcos vistos do último mirante da Trilha do
Mirante dos Golfinhos
10-BAÍA DOS PORCOS
Formação: Quixaba
É uma baía bem fechada, com águas tranquilas e
grande visibilidade para o mergulho livre. A
transparência da água mistura o reflexo do azul do
céu ao tom amarelado da areia do fundo, dando ao
mar uma coloração verde esmeralda.
No canto esquerdo há uma piscina escavada na
rocha, onde o mergulho é proibido.
Nesta baía são observadas lavas de ankaratrito da
Formação Quixaba, com rochas piroclásticas
intercaladas.
Próximo à falésia podem ser observados os
depósitos de talude, originados pela queda de
material rochoso e rochas intemperizadas . É o
material que vemos depositado na sua base.
Em 2009, a queda de um grande bloco mudou a
feição do canto esquerdo da praia.
Foto: Vista da Baía na chegada pela trilha a partir da
praia Cacimba do Padre
11- BAÍA DO SANCHO
Formação: Quixaba
É uma baía bem arredondada, que possui em toda a
sua extensão uma falésia que em alguns locais
ultrapassa 40 metros de altura. Aqui se pode
observar o registro de várias camadas de derrame
de lava.
O acesso à praia é feito por mar ou por uma fenda na
rocha, por onde se desce com o auxílio de escadas
de ferro.
O fundo do mar é de areia, com dois grandes
aglomerados rochosos submersos. O mais próximo
à praia, com profundidade de até cinco metros, é o
mais indicado para o mergulho livre. O segundo,
localizado na boca da baía, é conhecido como Laje
do Sancho e chega a atingir vinte metros de
profundidade.
Foto: A baía vista da Trilha dos Mirantes
12- BAÍA DOS GOLFINHOS
Formação: Quixaba
Antigamente chamada Enseada do Carreiro de
Pedras, é uma baía de águas calmas, transparentes
e profundas, com encostas íngremes e pedregosas
e orlas de seixos rolados intercaladas por trechos do
penhasco. A profundidade é em média 15 metros no
meio, alcançando 25 metros em alguns pontos.
É o ambiente ideal para os golfinhos rotadores que
diariamente vêm à baía para descansar e acasalar.
O acesso à baía é proibido. Ela pode ser observada
a partir do Mirante dos Golfinhos, de onde se avista
a extremidade oeste do Mar de Dentro, a Ponta da
Sapata, que vista daqui assemelha-se a uma
pessoa deitada.
Fotos: Um golfinho salta na frente da Ponta da
Sapata e Pesquisadores do Projeto Golfinho
Rotador monitoram a Baía dos Golfinhos
13- PORTAL DA SAPATA
Formação: Quixaba
Esta área possui relevo acidentado, desen-volvido
principalmente sobre derrames de ankaratritos e
material piroclástico, como as cinzas vulcânicas,
tufos e brechas. As escarpas chegam a atingir
oitenta metros de altura.
A alternância de lavas e os depósitos piroclásticos
da Formação Quixaba favo-receram a abertura do
“Portal”, resultado de erosão diferencial marinha.
O Portal é na verdade uma janela entre o Mar de
Dentro e o Mar de Fora e conforme o barco se
posiciona, podemos vê-lo quadrado, com a forma
do mapa do Brasil ou de um golfinho.
Foto: Mar de Fora espirrando do outro lado da
Sapata
14- PONTA DO CAPIM-AÇU
Formação: Quixaba
A Ponta do Capim-Açu está no sudoeste da ilha,
voltada para o Mar de Fora, no meio de uma
encosta rochosa castigada por ondas violentas e
ventos cortantes.
Para chegar até ela é preciso percorrer uma trilha
aberta somente no tempo de estiagem, com um
guia credenciado - são 1800m de percurso pela
parte da ilha onde a floresta foi preservada,
seguidos de uma descida de 700m de grandes
declives até chegar ao nível do mar.
Segundo alguns autores, é o local mais
característico da Formação Quixaba, pois nele
estão visíveis diversos derrames de lava,
intercalados por tufos já decompostos que podem
apresentar uma cor de café com leite, vermelha ou
amarela.
Dentro de uma gruta há um afloramento parecido,
como se vê na foto.
Para voltar, são 2800 m de caminhada sobre seixos
até a Praia do Leão.
15-PRAIA DO LEÃO
Formação: Remédios e Quixaba
Seu nome vem de uma de suas ilhas, a Ilha do
Morro do Leão, que assemelha-se a um leão
marinho deitado. Ao lado, encontra-se a Ilha do
Morro da Viuvinha. As duas são fonólitos da
Formação Remédios e são locais onde muitas aves
fazem ninhos e muitos peixes se alimentam.
Também da Formação Remédios, próximo às
dunas, destaca-se o Morro Branco, uma pequena
elevação isolada que é um interessante domo
intrusivo de traquito.
Nos dois lados da praia há formações de recifes de
algas calcárias. Quando a maré está subindo,
observam-se grandes jatos, formados pela água
que é comprimida contra espaços reduzidos.
É a praia mais procurada da ilha pelas tartarugasverdes, para a sua desova.
Fotos: Ilha do Morro do Leão vista da praia e Praia
vista do alto com ilha Morro da Viuvinha e Morro
Branco
16- PONTA DAS CARACAS
Formação: Caracas e Quixaba
A Ponta das Caracas é um promontório formado por
antigas dunas petrificadas, sobre uma plataforma
vulcânica no nível do mar já muito erodida, cheia de
piscinas forradas de corais e um constante
borbulhar de espumas.
É a parte alta que dá nome à Formação Caracas e o
seu perfil mostra as estratificações típicas.
Costeando em direção à Baía do Sueste podem ser
vistas as ilhas do Chapéu, Cabeluda, dos Ovos,
Trinta Réis e Frade. Nesta área teria havido,
durante a última glaciação, um imenso campo de
dunas que depois se tornaram calcarenitos
(eolianitos). Essas dunas petrificadas vêm sendo
erodidas, e a Ponta das Caracas é uma das maiores
porções remanescentes desta Formação.
Olhando em direção à Praia do Leão, podem ser
observados paredões abruptos da Formação
Quixaba.
Foto: Vista aérea: A Ponta das Caracas, a Baía do
Sueste e no outro lado da ilha o Morro do Pico
17- BAÍA DO SUESTE
Formação: Remédios, Quixaba, Caracas.
Nesta Baía estão reunidas todas as formações do
arquipélago.
À esquerda prevalece a Formação Remédios,
evidenciada pelos morros de fonólitos e traquitos,
circundada por rochas piroclásticas intemperizadas
já erodidas e alguns diques.
Do lado direito (onde os mergulhos são per-mitidos)
está a Formação Quixaba, suas lavas
ankaratriticas, paredões negros e colunares.
À frente temos a Ilha Cabeluda, fonolítica, e a ilha do
Chapéu, sedimentar - composta por cal-carenitos
da Formação Caracas.
Nesta praia também encontramos dunas de
retenção e um manguezal, o único em ilhas
oceânicas.
Fotos: Ilha Cabeluda e Ilha do Chapéu e O lado
esquerdo da baía
18-PRAIA DO ATALAIA
Formação: Remédios, Quixaba, Caracas.
A praia tem esse nome por causa da ilha do Frade à
sua frente, um domo fonolítico da Formação
Remédios. Para os pioneiros, esta ilha era
semelhante a um monge de perfil fazendo sentinela
(atalaia).
Durante a maré baixa, os recifes propiciam a
aparição de uma piscina natural onde se pode
mergulhar tranquilamente. As visitas e a duração
são rigorosamente controladas.
No lado esquerdo desta praia vemos o contato entre
as Formações Remédios e Quixaba.
No canto direito predomina a Formação Remédios,
inclusive na forma de diques, mas há também
grandes blocos de calcarenitos da Formação
Caracas, onde pode ser observada a estratificação
cruzada. Estes blocos possuem idade entre 42.000
e 28.000 anos.
Fotos: Bloco de calcarenito já erodido repousa
sobre rocha vulcânica e Panorâmica da praia
19- GRUTA DO CAPITÃO KID
Formação: Quixaba
Este local é visto numa parada da Trilha CaieiraAtalaia, realizada com o acompanhamento de
condutores credenciados.
Possui uma lenda, segundo a qual piratas teriam
escondido um tesouro em seu interior.
Trata-se de uma gruta que surgiu devido à erosão
marinha e diferencial na falésia de ankaratrito da
Formação Quixaba chamada de Ponta da Pedra
Alta - onde possivelmente nunca ninguém entrou,
pois o local tem sempre forte correnteza e ondas
perigosas, típicas do Mar de Fora.
Entre este local e a Pontinha pode ser observado
um dique de granulação grosseira, composto por
nefelinito, uma rocha de composição não
ankaratrítica.
20- ENSEADA DA CAIEIRA
Formação: Remédios e Quixaba
Esta enseada possui especial valor educacional e
científico, pois em uma pequena área podem ser
encontrados mais de catorze tipos de rochas
eruptivas diferentes, sendo um dos melhores
exemplos mundiais do fenômeno de diferenciação
magmático.
Nesta área vemos aglomerados, bombas e cinzas,
diques da Formação Remédios com orientações
variadas cortando rochas piro-clásticas mais
antigas além de blocos e seixos rolados da
Formação Quixaba.
Há também recifes de algas calcárias e, subindo o
morro, um campo de dunas.
A enseada tem este nome porque na época em que
Noronha era um grande presídio, os militares
extraíam as rochas claras de seu morro e as
calcinavam em fornos verticais por mais de 20 horas
para transformá-las em cal.
Foto: Lado direito da Enseada da Caieira
21- BURACO DA RAQUEL
Formação: Quixaba.
Diz a lenda que Raquel era a filha de um militar e
utilizava o local como retiro.
O Buraco da Raquel é um monumento geológico no
qual se observa as formas visíveis de erosão por
ação marinha. Situa-se na borda sul dos
“Alagados”, conjunto de rochedos da Formação
Quixaba e recifes que proporcionam um rico
berçário para muitas espécies marinhas, protegido
da ação direta das ondas oceânicas.
Na borda norte dos Alagados está a Enseada dos
Tubarões, inundada apenas na maré alta, quando é
frequentada por jovens tubarões Limão.
Não é permitido descer até este monumento, que
pode ser observado de um mirante próximo ao
Museu dos Tubarões – onde se encontram muitas
informações sobre ondas, marés, correntes
marítimas e tubarões.
22- PONTA DA AIR FRANCE
Formação Quixaba
É a extremidade norte da ilha principal.
Seixos rolados formam um tômbolo em direção à
ilha São José no qual se poderia caminhar na maré
baixa, entretanto para visitar a ilha é preciso
autorização do PARNAMAR.
Aqui os seixos da Formação Quixaba são ótimos
exemplos do processo de decomposição esferoidal.
Nas diáclases (fendas que são pontos fracos de
ataque por parte da erosão) concentram-se mais
água com ácidos húmicos e gás carbônico,
atacando os minerais e provocando alteração
química. Essa alteração vai progressivamente
avançando e propor-cionando o arredondamento.
É o local onde mais venta na ilha. Do mirante é
possível admirar o encontro do Mar de Fora com o
Mar de Dentro, observar as chamadas Ilhas
Secundárias e entender a importância dos ventos
alísios na separação destas ilhas.
Foto: Rochas em processo de decomposição
esferoidal
23- PEDRA DA BIGORNA
Formação: Caracas
Considerada Monumento Geológico do
Arquipélago, é uma rocha sedimentar, formada por
calcarenitos da Formação Caracas.
Está situada no tômbolo entre a Ponta do Air France
e a ilha São José.
Demonstra feição eólica e também erosão marinha.
Seu perfil lembra o formato de uma bigorna, mas
aparece em mapas mais antigos com o nome de
Chapéu do Nordeste, já que tem muita semelhança
com a Ilha do Chapéu, na praia do Sueste.
No tômbolo há algumas rochas negras com
incrustações de um mineral verde chamado olivina,
que foram consolidados em grande profundidade e
subiram à superfície levados pela lava fluida.
24- ILHAS SECUNDÁRIAS
Formação: Remédios, Quixaba e Caracas
A nordeste da ilha principal há um conjunto de sete
ilhas, chamadas Ilhas Secundárias, com
representantes de todas as Formações.
À esquerda está a Ilha São José e suas vizinhas
Cuscuz e Viuvinha, formadas pelos estágios finais
do vulcanismo (Formação Quixaba). Já foram
citadas como sendo uma nova Formação, mas
estudos atuais consideraram a sua composição
petrograficamente semelhante à da ilha principal.
Á direita estão a Ilha Rasa (Formação Caracas),
seguida da ilha Sela Gineta (fonólito da Formação
Remédios), depois a ilha do Meio (semelhante à
Rasa) e finalmente a ilha Rata, que possui mais de
uma formação.
Estas ilhas estavam unidas por dunas calcárias
quando o nível do mar estava mais baixo (no início
do Holoceno). Sua separação foi favorecida pela
estrutura geológica e pela ação das ondas
decorrentes dos ventos alísios.
25- ILHA RATA
Formação: Quixaba e Caracas.
A Ilha Rata é formada por derrames de lava da
Formação Quixaba. É uma plataforma ankaratrítica
parcialmente coberta por sedimentos modernos calcarenitos e depósitos de fosfatos de cálcio
originados dos excrementos de aves.
A ação das águas na encosta cavou grutas
marinhas que são excelentes pontos de mergulho:
Pontal do Norte, Cordilheiras, Buraco do Inferno,
Cagarras, Ressurretas, Buraco das Cabras. A
visitação na parte emersa é proibida.
É a segunda maior ilha do arquipélago, mesmo
quando se considera que sua porção leste já é uma
nova ilha, chamada Lucena.
Foto: Local próximo às Cordilheiras
GEOTURISMO em NORONHA
O geoturismo é uma forma de turismo sustentável,
realizado por pessoas que se interessam em
conhecer melhor os aspectos geológicos e
compreender a paisagem de um local.
Em 2007, o professor João José Bigarella e a então
orientanda de Doutorado Jasmine, com o apoio do
Centro do Golfinho Rotador, criaram e realizaram o
Curso de Condutor de Geoturismo em Fernando de
Noronha, capacitando 40 condutores e estudantes
da comunidade.
Este Guia é fruto dessas pesquisas, pois interpretar
o ambiente em relação à geodiversidade
proporciona um melhor aproveitamento dos
recursos que a natureza oferece, amplia a
consciência ambiental, gera mais admiração e
respeito pelo nosso Patrimônio.
Fotos: O Professor Bigarella e Jasmine durante o
curso e no mirante dos Dois Irmãos
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Concepção, Pesquisa, Texto:
Jasmine Cardozo Moreira
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APOIO:
Orientação e supervisão científica:
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Edição de textos e Fotografias:
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(exceto foto “10-Baía dos Porcos”, de Jasmine Cardozo Moreira e
retratos dos autores)
(Fotografias na Ilha Rasa, Pedra da Bigorna e Buraco da Raquel
com licença do PARNAMAR)
Desenho “Edifício Vulcânico” e Mapa Geológico
baseados em Teixeira et al, 2003
Tradução:
Phil Turner
Produção Gráfica:
José Roberto de Luca Martins
Caio Pimenta Neri
Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade
Ministério do Meio Ambiente
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