ÁFRICA Visão panorâmica de um continente CONSIDERAÇÕES INICIAIS Se uma pessoa tivesse entrado em coma em 1945 e se recuperasse nos dias atuais, ficaria surpresa com as modificações políticas que o mundo sofreu nessas últimas décadas. A região do mundo que sofreu as maiores modificações foi, sem dúvida, o continente africano. Antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), todo o continente estava sob o domínio das metrópoles européias. Só havia na África dois países independentes: a Libéria (costa ocidental) e a Etiópia (costa oriental). Nas décadas que se seguiram ao fim do grande conflito, por conta do processo de descolonização, 53 novos países se tornaram independentes. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de pouco mais de 500 bilhões de dólares em 2000 – inferior ao PIB brasileiro ou mexicano, a África produz uma parte ínfima das riquezas mundiais (pouco mais de 1%), e tem, ainda, uma participação marginal no comércio global, respondendo por menos de 2% dos produtos exportados no planeta. Para completar, as instabilidades política e econômica afastam investimentos, já que o capital externo, bastante seletivo, prefere se instalar em regiões mais seguras. Trata-se de economias pouco industrializadas e essencialmente agrárias. Suas exportações se limitam a bens primários (alimentos) que possuem baixo valor no mercado externo. A exceção fica para alguns poucos países que se destacam na exploração de minérios em geral, e de petróleo em particular. Mas a exceção maior fica por conta da República SulAfricana, o único país do continente a ter uma economia industrial de expressão. O país é isoladamente o responsável por cerca de 25% de todas as riquezas geradas na África. Quase metade da população vive na extrema pobreza, ou seja, com até um dólar por dia, de acordo, com os parâmetros do Banco Mundial. Enquanto a maioria das regiões do globo conseguiu enriquecer nas últimas décadas, a África foi ficando para trás. Assim, por exemplo, o PIB per capita africano, que era de US$ 525, no início do século XXI, passou a US$ 300! A história recente do continente tem sido marcada pela existência de ditaduras cruéis, constantes golpes de Estado, eleições fraudulentas e guerras, sempre lembradas pelas imagens veiculadas pelos órgãos de imprensa. Nos últimos quarenta anos eclodiram dezenas de conflitos armados, com milhões de mortos e movimentos maciços de refugiados. Qualquer análise mais detalhada dos conflitos africanos levará em conta a influência decisiva e quase sempre nociva do passado colonial, que deixou graves sequelas. Uma delas é, sem dúvida, a artificialidade do desenho das fronteiras entre os países. Definidas de maneira arbitrária pelas potências coloniais, segundo seus interesses econômicos e políticos, elas se mostraram completamente estranhas à realidade africana preexistente. Da forma como foram traçadas, acabaram separando povos de mesma origem por diversos espaços coloniais e reunindo etnias rivais dentro de uma mesma administração colonial. Após a Segunda Guerra Mundial, quando se iniciou o processo de descolonização que atingiu o continente, uma regra de ouro foi mantida pelos novos países que surgiram: a intangibilidade* das fronteiras herdadas do período colonial. (*) condição de não poder ser tocado, mexido. Como resultado, vários dos conflitos étnicos que assolaram e ainda assolam o continente têm em suas raízes a partilha colonial idealizada pelas metrópoles européias na segunda metade do século XIX. Em suma: as fronteiras africanas não são realmente africanas. A caótica situação social na maioria dos países africanos pode ser comprovada por altíssimas taxas de mortalidade infantil e o grande índice de analfabetismo. Atualmente, problemas crônicos como a desnutrição e a Aids fazem mais vítimas do que os vários conflitos que ocorrem no continente. Exemplificando: um em cada três habitantes ao sul do Saara está desnutrido; um índice altíssimo, existente apenas em um punhado de nações asiáticas, além da África. E, acredite, 70% dos adultos e 80% das crianças infectadas com o vírus da Aids em todo o mundo em 2002 eram africanas. Notícias como essas, abordadas diariamente pela mídia, reforçam em nosso imaginário a descrença absoluta em relação a essa parte do mundo. Ao mesmo tempo, os problemas ali existentes são de tal complexidade que preferimos o distanciamento ou nos acomodar em noções do tipo “a África é mesmo um caso perdido”. Este talvez seja o maior equívoco. Isso porque, quando tentamos compreender os variados dramas do continente, descobrimos também o fascínio da África. Por trás das rivalidades étnicas, existe uma multiplicidade impressionante de povos com tradições muito antigas e que tiveram significativa importância do passado. Na Idade Média havia reinos africanos com nível superior aos que existiam na Europa. O continente ainda abrange uma infinidade de etnias e uma centena de idiomas. Não se pode esquecer de que a cultura africana tem presença significativa, especialmente nas Américas. Vários dos conflitos que ocorreram e ainda ocorrem no continente estão ligados ao controle de um subsolo que apresenta expressiva riqueza em minerais. Nunca é demais ressaltar que a África detém grande parcela das reservas de antimônio, bauxita, cromo, cobalto, diamante, ouro, manganês, platina, titânio, vanádio e... petróleo. Apesar de todas as adversidades, deve-se reconhecer que no continente existe um enorme potencial natural, mineral, humano e cultural para promover mudanças. UMA NATUREZA MARCADAMENTE TROPICAL A África possui variadas paisagens, onde se destacam os desertos (como o Saara que ocupa 1/3 do continente, na porção sudoeste aparecem Kalahari e da Namíbia), as savanas (hábitats dos grandes mamíferos como leões, girafas, zebras, elefantes, etc) e florestas densas (como a do Congo). Entre as mais graves questões ambientais que afetam o continente estão o desmatamento, a crescente desertificação e a escassez de água. 1- Desmatamento: motivado pelo crescimento populacional, pelas atividades econômicas e extração de madeira por grandes empresas. Pastagens extensivas e monoculturas ocupam as áreas desmatadas com rápido esgotamento dos solos e práticas inadequadas para o ambiente tropical. 2- Desertificação: Ao sul do Saara, da Mauritânia até a Etiópia aparece um corredor de terras semi-áridas conhecida por Sahel que em árabe significa “margem” ou “orla” do deserto, que assinala a transição para os climas tropicais e as savanas. Essa região é marcada pela desertificação que reduz a produtividade da terra e compromete a agricultura, conhecida como “Cinturão da Fome”, nos anos 80. Pelo menos 1,2 bilhão de pessoas sofrem os efeitos da desertificação e boa parte delas está na África. Além problemas de ordem climática (alternância entre anos de secas catastróficas e outros mais úmidos), se associam formas predatórias de utilização do solo decorrentes do uso de técnicas inadequadas e da pressão demográfica, em função das elevadas taxas de crescimento vegetativo no continente. Também vale ressaltar que populações islamizadas no Sahel praticam o pastoreiro nômade e seminômade na região. Nos períodos de secas prolongadas são constantes os choques pela disputa de terra e de água. Assim as tensões étnicas mesclam-se com as disputas por recursos naturais. 3- “Estresse hídrico” ou a grave penúria de água: fenômeno que gera sérios problemas de abastecimento nas áreas áridas e semiáridas da porção centro-norte do continente, do Marrocos até a Somália. Como contraponto no continente, na porção centroocidental (região da República Democrática do Congo), temos uma grande oferta de recursos hídricos. África – Aspectos físicos mais tropical dos continentes; cortada ao meio pela linha do Equador (75% de seu território localiza-se entre os trópicos de Câncer (ao norte) e Capricórnio (ao sul); apenas os extremos setentrional e meridional estão fora da chamada Zona Intertropical; três grandes estruturas morfológicas: dobramentos modernos, bacias sedimentares e escudos cristalinos (com predomínio para as paisagens planálticas); vale lembrar que as jazidas minerais que fazem a riqueza do continente derivam dos escudos cristalinos que no passado foram alvo da cobiça e de disputa entre as potências coloniais europeias. Mais tarde, sua exploração por empresas transnacionais, associadas ou não a grupos africanos locais, provocou inúmeras situações de conflitos e tensões; relevo pouco acidentado, exceto na Cadeia do Atlas (noroeste) e nos altos planaltos da África oriental e meridional. As planícies aparecem no litoral; Na costa leste movimentos tectônicos recentes, falhamentos, originaram vários lagos nessa região, a qual é conhecida por Planalto dos Grandes Lagos, onde se localiza o ponto mais alto do continente – o Monte Kilimanjaro com aproximadamente 6.000 metros de altitude; Em termos de hidrografia os principais destaques são os rios Nilo (costa oriental), Congo (região central) e Níger* (costa ocidental); O rio Nilo é o mais extenso do continente, atravessa vários países, tem sua nascente próximo ao Lago Vitória, em Uganda e desemboca no Mar mediterrâneo. Percorre ecossistemas secos, atravessa o Saara. Os uédis – “oásis” enchem os rios temporários (aguaceiros), porém desaparecem pela infiltração da água no solo e por evaporação. * Sobre o Rio Níger, analise o artigo do Jornal MUNDO nº 5, Setembro/2009, p. 10 – Escassez hídrica e tensões étnicas agitam o Vale do Níger. Os climas, no geral, apresentam altas temperaturas, contudo, nos extremos norte e sul, as temperaturas são mais baixas, notadamente no inverno. O clima típico é o tropical com duas estações bem definidas: verão úmido e inverno seco; As paisagens botânicas dependem da intensidade das chuvas: florestas equatoriais densas como a Floresta do Congo, as savanas (ao norte e sul das florestas) e as estepes (áreas menos úmidas), além da vegetação desértica. REGIONALIZAÇÃO DA ÁFRICA Considerações iniciais Por causa da grande extensão e da diversidade de paisagens naturais e humanas, pode-se dividir o continente africano de várias maneiras. Uma delas usa como critério as zonas térmicas do mundo. Assim, teríamos uma África tropical, que corresponde à enorme extensão do continente (70%) contida entre os dois trópicos e a África “temperada”, situada ao norte do Trópico de Câncer e ao sul do Trópico de Capricórnio. Um outro critério de divisão é o climático, mais precisamente a distribuição das chuvas. Teríamos então uma África seca, abrangendo o Saara e os desertos do sudoeste do continente (Kalahari e da Namíbia), e uma África úmida ou mais ou menos úmida, no restante do território. Como a anterior, essa regionalização pouco contribui para o entendimento da evolução humana e econômica do continente. Por outro lado, se usarmos como critério as características étnicas da população, teremos outras duas “Áfricas”: uma branca, situada na porção setentrional e povoada por populações de origem camita, semita e berbere; e uma negra, do Deserto do Saara para o sul, habitada por grupos negro-africanos como os sudaneses, os bantos, os pigmeus e os bosquímanos. Ainda que se levem em conta os aspectos históricos da ocupação do espaço geográfico, essa regionalização, além de conservar a lembrança de episódios da época da captura de africanos para servirem como escravos, não permite a compreensão das recentes transformações socioeconômicas que vêm ocorrendo no continente. Embora guardando similaridade com a divisão anterior, na atualidade é cada vez mais aceita a divisão do continente numa África do Norte, que abrange a costa mediterrânea e expressivas extensões do Deserto do Saara, e uma África Subsaariana, isto é, toda porção do continente situada, de forma genérica, ao sul do grande deserto. Essa regionalização tem como mérito reconhecer a importância cultural da expansão da civilização árabe-islâmica na África do Norte, e permite também melhor caracterização das condições sociais, econômicas e geopolíticas do continente na atualidade. Confira no mapa abaixo a regionalização em África do Norte (países em cinza) e África Subsaariana (demais países). África do Norte A África do Norte abrange dez países: Marrocos, Tunísia, Argélia, Egito e Líbia. Já Sudão, Mautitânia, Máli, Níger e Chade têm parte de seus territórios na África do Norte. Os países situados na porção mais setentrional, espacialmente Marrocos, Argélia e Tunísia, possuem áreas um pouco úmidas junto à costa do Mar Mediterrâneo,onde o verão contrasta com as chuvas regulares de inverno. Por outro lado, os países da região localizados mais ao sul apresentam grandes extensões desérticas. As diversidades regionais não se relacionam somente com o quadro natural: países como Mauritânia, Máli, Níger, Chade e Sudão, em função de estarem localizados na faixa de transição do Sahel, exibem nítido contraste entre as porções norte e sul: 1- na porção norte – domínio de populações sudanesas islamizadas que quase sempre praticam o pastoreiro nômade e seminômade; 2- na porção meridional – populações animistas e cristianizadas que se dedicam à prática da agricultura. Esses contrastes têm sido fonte de conflitos internos em todos os Estados da região e foco de tensão entre países vizinhos. O poder político é objeto de disputas entre clãs islâmicos do norte e clãs animistas ou cristãos do sul. Pode-se também associar a esses conflitos a dinâmica ecológica da desertificação (Sahel), pois o crescimento populacional das últimas décadas e o aumento dos rebanhos e o pisoteio constante das frágeis pastagens do semi-árido determinam o avanço do deserto rumo ao sul, gerando fronteiras de atrito cultural com os agricultores devido a migração dos pastoreiros em busca de novas pastagens. Em foco: EGITO e LÍBIA 1- banhados pelo Mar Mediterrâneo; 2- O Egito é bem conhecido por suas monumentais pirâmides, pela localização estratégica, tem um pé na África e outro no Oriente Médio e pela presença do Rio Nilo – controle sobre o Canal de Suez, uma das rotas mais movimentadas do planeta. Além disso, a península do Sinai interliga o país ao Oriente Médio envolvimento nos conflitos árabeisraelenses que aconteceram com a criação do Estado de Israel, em 1948. Para muitos egípcios o país deve exercer um papel de liderança em relação ao mundo árabe Gamal Abdel Nasser (décadas de 1950/1960) com o pan-arabismo, ou seja, o projeto de uma nação árabe unificada. Esse projeto combinava ideologias modernizantes e socializantes, enfatizando a meta da superação do subdesenvolvimento. Os ideais de Nasser baseavam-se de que o Terceiro Mundo deveria se libertar da dominação ocidental para alcançar o desenvolvimento econômico e social. Como isso foi viabilizado? Nasser construiu a imensa usina de Assuã, no Rio Nilo e enfrentou as potências europeias quando nacionalizou o Canal de Suez, em 1956. Mas, no plano político sua liderança foi abalada quando da derrota na Guerra dos Deis Dias, em 1967. Com sua morte (1970), os ideais do pan-arabismo perderam força, porém não foram totalmente esquecidos. Vale ressaltar que entre o final dos anos 1940 e a década de 1970, o Egito se envolveu em vários conflitos armados com Israel, todavia, com o Acordo de Camp David, em 1979, entre os dois países, o Egito tornou-se o primeiro Estado árabe a reconhecer a existência de Israel. E o EGITO hoje? Internamente, o Egito sofreu as conseqüências das gritantes disparidades sociais entre a rica e diminuta elite e o imenso contingente de miseráveis que formam o grosso da população. Para piorar, índices altos de crescimento vegetativo exercem pressões quase insuportáveis sobre as poucas terras férteis e agravam a concentração demográfica na cidade do Cairo, a caótica capital do país com qualidade de vida bastante comprometida para seus habitantes, por causa dos problemas como a poluição, o trânsito, a favelização e a falta de saneamento. A economia se baseia na cultura do algodão e na indústria têxtil, depende cada vez mais das geradas pelo setor do turismo. Recentemente, a maior fonte de preocupação dos egípcios tem sido a ação de grupos fundamentalistas islâmicos. Esses grupos, cuja existência é bem antiga, ganharam destaque internacional nas últimas décadas e têm como principal objetivo transformar o Egito em um Estado islâmico. Para seus integrantes, o governo egípcio tem sido subserviente aos interesses do Ocidente, em particular dos Estados Unidos. Já a Líbia foi contemplada com enormes reservas de petróleo, cuja exploração tem propiciado a seus habitantes um padrão de vida melhor em relação à média do continente africano. África Subsaariana Essa região é um espaço marcado pela desigualdade, pelas crises de fome, por conflitos étnicos e transferências forçadas de populações. Parte significativa desses problemas está associada à herança do colonialismo, que produziu fronteiras arbitrárias e aprofundou a violência étnica. O aspecto mais característico da África Subsaariana está associado às condições socioeconômicas vigentes nesse vasto espaço: a extrema pobreza da maioria da população é um traço marcante de todos os países da região. A causa histórica dessa situação está associada ao processo de colonização empreendido pelos europeus, especialmente a partir da segunda metade do século XIX. Dessa forma, a pobreza contemporânea é, em grande parte, resultado da herança colonial. A área foi inserida no contexto da economia mundial pelas potências europeias para servir como fonte fornecedora de matérias-primas agrícolas e minerais, tão necessárias para sustentar o progresso material da Europa industrial. Isso trouxe inúmeras consequências para os povos africanos, entre eles a desestruturação da tradicional agricultura de subsistência pelas plantations de café, cacau, amendoim e algodão. Ainda hoje, a maioria dos países dessa parte do mundo tem suas exportações baseadas em uma pauta reduzida de produtos agrícolas ou minerais, quase sem exceção, sofreram forte desvalorização nas últimas décadas. Por outro lado, não existem verdadeiros Estados nacionais na África Subsaariana. As fronteiras políticas foram herdadas dos limites coloniais, definidos pelas metrópoles europeias do Congresso de Berlim, em 1885. Esses limites artificiais colocaram, num mesmo território, etnias e grupos tribais com longa tradição de rivalidades. Depois da independência que, na maioria dos países, aconteceu após 1960, instalaram-se quase sempre governos autoritários, exercidos por elites de um ou de outro grupo étnico ou tribal, muitas vezes associados aos antigos colonizadores. O resultado foi a proliferação de tensões internas e, em muitos casos, o desencadeamento de sangrentas guerras civis. A combinação da depreciação dos principais produtos exportados com os conflitos internos e catástrofes naturais (enchentes, secas, pragas) resultou na multiplicação dos surtos epidêmicos e nas crises de fome. O crescimento vegetativo acelerado, com taxas persistentemente superiores a 3% ao ano, em grande parte dos países, funcionou como agravante dessa situação, ampliando a pobreza endêmica. Ainda assim, merece destaque com pólo de maior prosperidade no continente a região do extremo sul, graças à presença da República da África do Sul, único país cuja principal singularidade durante muitos anos foi o sistema político e jurídico de domínio de uma minoria branca sobre a imensa maioria da população não-branca. Esse sistema, cristalizado num conjunto de leis de segregação racial, recebeu o nome de Apartheid (que significa “desenvolvimento separado”) é o único verdadeiramente industrializado do continente que produz um quarto do PIB africano. O avanço econômico se apoiou na exploração de valiosos recursos minerais, em especial, o ouro, e em tecnologias avançadas de cultivo da terra. A vitalidade da economia sulafricana acabou se estendendo a países vizinhos por meio de acordos comerciais e projetos de infraestrutura. E depois do apartheid? Apesar da democratização e dos avanços na estrutura política, o país ainda enfrenta outros desafios. O principal deles é o “apartheid econômico-social”, identificado pelos seguintes números: cerca de três quartos da riqueza nacional continuam concentrados nas mãos de 20% da população, especialmente a branca. Além dos altos índices de desemprego (40% da PEA, mas apenas 4% entre os brancos) e do aumento assustador da violência urbana, o país vem assistindo ao avassalador crescimento da disseminação da Aids. Todavia, se a nova realidade política sul-africana ainda não conseguiu eliminar o abismo social e econômico entre a minoria branca e a majoritária população negra, pelo menos garantiu a igualdade perante a lei.