XVI DOMINGO COMUM (Mt 13, 24-43) PARÁBOLAS DO REINO (padre Ignácio dos padres escolápios) INTRODUÇÃO: São três as parábolas narradas no evangelho de hoje: o joio, a semente de mostarda e o fermento. Todas elas oferecem um aspecto particular ou qualidade do Reino. Finalmente temos a explicação da parábola do joio como uma demonstração da política de Deus no mundo e da existência do mal como uma tolerância para não ter que castigar os bons ao mesmo tempo que impõe sua justiça sobre os iníquos. PARÁBOLA: A palavra parábola vem do grego paraballo um de cujos significados é por juntas duas coisas, comparar. A definição popular é que é uma história terrena que demonstra uma verdade celestial. Difere do conto ou da fábula em que a história da parábola pode ter sucedido ou pode ser real em qualquer momento futuro; e o conto ou a fábula, não. Nesta parábola do joio [lolium tremulans] encontramos uma analogia constante que a transforma em alegoria porque não é unicamente a moral da mesma que interessa do ponto de vista teológico mas também certos detalhes como o juízo final e os anjos. JOIO: O joio é uma planta muito parecida com o trigo antes de se formar a espiga. O gênero Lolium divide-se em 10 espécies das quais a mais conhecida é o Lolium tremulentum, que em inglês recebe o nome de darnel, cizaña em espanhol [do grego zizanion], também joyo, e joio em português [do latim lolium]. A espiga do joio é muito mais fina do que a do trigo e frequentemente está infectada com fungos que a tornam negra e venenosa. Também a própria gramínea tem, como o esporão do centeio, um componente venenoso. O joio só se distingue do trigo quando a espiga amadurece, sendo que a espiga do joio é formada por grãos pretos como de carvão. O REINO: O termo de comparação das três parábolas é o Reino [reinado] dos céus. Apesar do título dos céus, ele tem como assento a terra, não no sentido geográfico, mas humano, por isso é mais exato traduzi-lo por Reinado. O povo que o forma não é o conjunto dos bem-aventurados do céu, mas refere-se à Igreja da terra, formação visível da comunidade dos fiéis que escolheram Jesus como seu Senhor e que estão misturados no campo do mundo(38) com pessoas que não são crentes ou têm outras ideologias, sem descartar que dentro da Igreja podem existir também os escandalosos e os que praticam a iniquidade (41). Pois na explicação dada por Jesus aos discípulos ele transforma a parábola em alegoria. O FILHO DO HOMEM: Jesus se identifica com esta figura que pode substituir a palavra eu assim como a expressão a gente é usada em português. Os judeus usavam pois, a frase filho do homem para se referir a si mesmos. Porém existe um significado que caracteriza a expressão através do uso de Jesus em conformidade com Daniel 7, 13. Filho do homem era a figura de Israel como reino a ser instaurado definitivamente com a vinda do Messias que era o representante máximo do mesmo. Podemos afirmar que o filho do homem é o Verbo enquanto homem, ou seja Jesus tal e como era visto e contemplado por seus conterrâneos. O INIMIGO:O DIABO: O grego Diábolos significa caluniador. É um adjetivo que se transforma em nome próprio com o artigo. Como adjetivo é usado unicamente por João quando diz que um de vós é diabo, ou seja falso acusador que se serve mal do messiado de Jesus, e o tal era Judas. Com artigo o encontramos 15 vezes. Uma vez não tem artigo e não é adjetivo, mas nome em caso vocativo. É o caso de Elimas, o mago, que ficou cego por ordem de Paulo e a quem o apóstolo repreende como de filho de diabo (At 13,10). João o chama de Príncipe deste mundo(12, 31).Paulo fala do deus deste eon [ciclo, época ou era] {mal traduzido por deus deste mundo}, que cegou o entendimento dos incrédulos para que não brilhe para eles o resplendor do evangelho (2 Cor 4, 4). E em Ef 2, 2 afirma que outrora viviam [os efésios] mortos em vossos delitos e pecados, conforme a índole [aion= época ou ambiente] deste mundo, segundo o príncipe do poder do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência. O ar era para os antigos a moradia dos demônios como é agora o habitat das bactérias e fungos (ver Lc 10, 18). Segundo o quarto evangelho o diabo era o pai dos inimigos de Cristo e pai da mentira (8, 44), que entre os filhos conta com um dos apóstolos (6, 70). “Diabo” é o equivalente grego do hebraico "satanás" ("adversário", "inimigo"), que na Bíblia hebraica é indiferentemente usado para indicar tanto a ação do "Anjo do Senhor" (expressão que indica o próprio Deus, Ex l6,7) como a de pessoas como Davi, inimigo dos filisteus (lSm 29,4) ou Amã, adversário do povo judeu (Est 7,4). Recebe o nome de Satanás de origem aramaica correspondendo a Satã. Assim como o Parakletó é o advogado defensor, Satanás é o acusador. Aparece 4 vezes em Mateus e Marcos, 5 em Lucas e uma só em João. No Apocalipse é identificado com o dragão, a antiga serpente, cujo nome próprio é Diabo e Satanás (Ap 20, 2). Ele tem um papel importante como tentador (Mt 4,1 comparado com 4, 10). E é quem arrebata a palavra na parábola do semeador. Agora ele tem também sua semente, o joio, que astutamente mistura com a boa semente de modo a confundir os trabalhadores do campo. Da dezena de vezes que aparece no Antigo Testamento, a única vez em que "satanás" é empregado como nome próprio é no livro das Crônicas (lCr 21,1), no qual o autor, numa teologia mais evoluída, imputa a "Satanás" a intenção de recensear Israel, ação em princípio atribuída ao Senhor: "A ira de Yahweh se inflamou ainda contra os israelitas, e ele instigou Davi contra eles dizendo: 'Vai, faze o recenseamento de Israel e de Judá'" (1Sm 24,1). Com o termo "satanás" também são representadas figuras genéricas como o "acusador" (Sl 109,6), título de um funcionário de Deus e membro da corte celeste: "Chegou o dia de os filhos de Deus se apresentarem em audiência diante do Senhor. Satanás veio também com eles" (Jó l,6). Apenas em um apócrifo tardio "satanás" torna-se o nome do anjo que se recusa a adorar Adão, o primeiro homem criado, e por isso é expulso para a terra com seus anjos (Vida latina de Adão e Eva 12-l6). Contrariamente àquilo em que muitos acreditam, na Bíblia não existe a fábula do belíssimo e ambiciosíssimo anjo de nome Lúcifer, expulso para sempre por Deus do paraíso e transformado em horrível diabo. Recebe também o nome de Maligno, nome com que o encontramos pela primeira vez em Mt 5, 37. O ponërós grego [mau, indigno] que é adjetivo se transforma em substantivo com o artigo, e é traduzido por mal ou o maligno. Mateus o usa várias vezes neste último sentido e unicamente João em 17, 15 tem um significado semelhante. O caso mais comentado é no final do Pai nosso: mas livra-nos do mal que muitos dos modernos transladam por maligno (6, 13). Lúcifer [dador da luz] antes de cair do céu seu nome era Luzbel [senhor da luz?].No cristianismo se confunde com Satanás, devido à identificação feita por S. Jerônimo. Isaías menciona Lúcifer como um anjo caído(Is 14, 12);ao que parece, se refere ao rei de Babilônia. Porém, como Jesus disse que viu cair satanás como um raio do alto dos céus(Lc 10, 18) daí que foi o nome alternativo do chefe dos anjos caídos ou demônios e sua identificação com Satanás. Mas a Bíblia não o identifica; só a patrística. Na realidade, os latinos chamavam de Lúcifer a estrela Vênus [fösforos para os gregos] quando aparece antes do sol e Hesperos no momento da posta solar. DEMÔNIOS: Na língua hebraica não existe o termo "demônio" [pelo grego, "devorador de cadáveres"]. O Diabo distingue-se do demônio [daimön e daimonion gregos] pois estes últimos eram deuses menores ou secundários. Como malignos eram chamados de espíritos impuros ou malignos [akathartoi ou poneroi](Mt 10, 1 e Lc 7, 21). Quando a Bíblia, em uma sociedade culturalmente mais evoluída, foi traduzida para a língua grega, tomou-se distância daqueles seres intermediários entre a divindade e os homens e das personagens mitológicas cada vez mais encontradas no texto, como sereias, harpias, centauros, sátiros, faunos, duendes, gnomos e espectros, termos que passaram a ser traduzidos com o genérico "demônio" (Lv 17,7). Com a mesma palavra foram classificadas também as divindades estrangeiras, polemicamente rebaixadas a espíritos malignos, como Gad, o deus arameu da fortuna, e o "gênio protetor" da casa (Is 65,11; Dt 32,17). Talvez os tradutores tenham exagerado um pouco classificando como demônios inc1usive os gatos selvagens (Is 34,14) e os bodes (Is 13,21). Deles era chefe Beelzebul (Mc 3, 22) que significa Baal, o príncipe [baal=senhor, e Zebul=príncipe]. Daí a tradução evangélica príncipe dos demônios. Outros derivam seu nome de Senhor da alta morada, que era o deus Baal da Síria (ver Mt 10, 25, em que Beelzebu é chamado chefe da casa). É o primeiro depois de Satã. No evangelho de Nicodemus, Satã e Beelzebul urgiram um plano para, na morte de Jesus, atrair sua alma ao inferno, sendo Beelzebul o primeiro em enfrentar a alma de Jesus. Com sua voz Jesus derrotou Beelzebul e este então se voltou contra Satã até que Jesus ordenou que Satã seria o rei do inferno até o fim dos tempos. E Beelzebu (ou Beelzebul) é o diretor das nove hierarquias infernais que estão embaixo da primeira, esta última regida por Samael ou Satanás. Outros demônios conhecidos são Leviatan [ferida em espiral] que também era o nome do crocodilo (Sl 104, 26). É o senhor dos oceanos e era associado com o Tiamat de babilônia e a Hidra grega. O demônio mais popular do Antigo Testamento é Asmodeu ["Aquele que faz morrer", exterminador], inimigo jurado das uniões conjugais que deu morte a sete pretendentes de Sara, até que Tobias se livrou do malefício com oração e jejum, pois ele matou sete maridos da pobre Sara, "mortos antes que se tivessem unido a ela, conforme a obrigação que se tem para com uma esposa" (Tb 3,8). Tobias, seu aspirante a marido, temeroso de ir juntar-se aos sete cadáveres precedentes, salvou a própria vida com um remédio estranho. Como soubera que Asmodeu, demônio particularmente fraco de estômago, não suporta "cheiro de fígado e coração de peixe", lançou esses ingredientes sobre a brasa do defumador, e "o cheiro do peixe manteve à distância o demônio, que fugiu pelos ares até as regiões do Egito" (Tb 8,3). A sobriedade das Bíblias hebraica e grega no que concerne a diabos e demônios (não se registra nenhum caso de possessão diabólica, e desconhece-se o termo "endemoninhado") contrasta com sua proliferação no judaísmo da época precedente à ação de Jesus, quando o número e a variedade dos demônios cresce desmesuradamente, deixando espaço à fantasia mais desenfreada: "Cada um de nós tem mil [demônios] à esquerda e dez mil à direita" (Ber. 6a). Cada demônio tinha uma especialização: a embriaguez era provocada pelo demônio Shimadon (Ber. R. 36,3); a cegueira, por Shabrirri (Ab. Z. 3a bar); e a peste por Qeteb (Dt 32,24). No Talmud, as hipóteses sobre a origem dos demônios são mais variadas. Acredita-se que sejam herdeiros dos "Nephilîm" titãs orientais nascidos da união entre seres celestes e as primeiras mulheres: "Naqueles dias, os titãs [Nephilîm] estavam na terra; e ainda estavam nela quando os filhos de Deus vieram ao encontro das filhas de homem e tiveram filhos dela" (Gn 6,4). Ou há quem sustente a teoria da evolução: "A hiena depois de sete anos transforma-se em um morcego, o morcego transformase em um vampiro, o vampiro em uma urtiga, a urtiga em uma sarça e, finalmente, depois de outros sete anos a sarça transforma-se em um demônio" (B. Q. 16,1). Outros pensam, ao contrário, que haja criaturas incompletas: Deus já criara suas almas, mas quando estava para modelar os corpos sobreveio o sábado e ele o observou, cessando todo trabalho, e essas almas que permaneceram sem corpo foram os demônios (Ber. R. 7,5). A noite é seu reino incontestável ("À noite é proibido saudar quem quer que seja, por temor de que seja um demônio", Sanh. 44a), e é perigosíssimo sair durante o sábado e na quarta-feira à noite por causa dos milhões de demônios que saem livremente (Pes. 112b). O mais célebre demônio feminino é Lilith (Is 34,14), solteirona insaciável e luxuriosa que se insinua lépida no leito dos homens para fazer amor com eles. Demônio súcubo [feminino] da noite. O Talmud adverte: "aquele que dorme sozinho será pego por Liliih" (Shab. 151b). Lilit era um demônio feminino que segundo lendas [um midrash] tinha sido a primeira mulher de Adão. Segundo a interpretação moderna Adão foi POSSUIDO por suas próprias inclinações sexuais, acerbadas até grados enfermiços e não contra entidades espirituais externas [isto é um demônio chamado Lilit]. Entre os numerosos deuses e demônios da mitologia babilônica encontramos Lilu e Lilitu [varão e fêmea respectivamente], entes malignos que prejudicavam os seres humanos em especial incitando sexualmente aos varões e danificando as mulheres grávidas tanto a elas como a seus filhos neonatos. Estas superstições não tem fundamento algum com a Torá, mas quando deportados para Babilônia (586 aC), algumas das crenças desta última impregnaram a cultura judaica.De fato a palavra Lilit é mencionada pelo profeta Isaías: As feras do deserto encontrarse-ão com as hienas. O bode selvagem [onocentaurus, ou monstro metade homem, metade asno]gritará a seu companheiro; fantasmas [night creatures em inglês; lamiai, mulheres velhas, feiticeiras ou bruxas latinas] pousarão e acharão um lugar de descanso(34, 14). O hebraico, no lugar de fantasmas ou criaturas da noite tem coruja[lilith], habitante da noite que passou a ser uma figura de mulher uma deusa feminina de longa cabeleira e provida de asas como demônio, que à noite percorria os lugares desolados de Edom [sudoeste do mar Morto]. Mas também pode ser tomada como uma realidade figurada, não externa e demoníaca, mas interna e humana, já que na midrashei agadá [narrações lendárias] nos oferece a relação de Lilith com o primeiro varão da estirpe humana, Adão. Pois ele esteve separado de sua esposa Eva ou Java durante 130 anos, durante os quais copulou com espíritos femininos e gerou uma espécie mista de homens/demônios. Numa outra midrash as relações Adão–Lilith se complicam ainda mais porque ela não quis receber o homem e rejeitou até os enviados divinos que queriam a reconciliação, decidindo que o objetivo de sua vida seria causar mal aos descendentes de Adão. Com esta narração os rabis explicavam que a masturbação era uma espécie de oferenda a Lilith que usava o semem para procriar os homens/demônios. Mas vejamos a explicação atual da Torá e dos hahamim [sábios]. Segundo estes últimos, Adão no início não era o nome de um homem, mas o genérico da espécie humana; e o relato da costela era o de uma operação para separar o ser duplo que ele era, separando as duas pessoas nele contidas: Adão e Java, o homem e a mulher. Assim não houve um homem primeiro e uma mulher, mas ambos estavam juntos e foram separados ao mesmo tempo. Ormas, o demônio que se disfarça de mulher na tentativa de enganar e seduzir os homens, faz a Lilith uma impiedosa concorrência (nos leitos). A quem deseja saber se foi visitado à noite por um demônio, basta agir da seguinte maneira: "Pega cinzas em pó, espalha-as ao redor do leito e pela manhã verás pegadas de patas de galo" (Ber 6a), e "quem o quiser ver, pegue uma placenta de uma gata negra nascida de uma gata negra primogênita, queime-a no fogo, triture-a e coloque uma parte dela sobre os olhos, então o verá" (Ber. 6a). Belial [indigno ou malvado] que alguns dizem Beliar . No AT fala-se dos filhos de Belial como sendo os que não admitem a lei. Azazel de etimologia incerta que segundo os antigos judeus era um anjo caído que habitava no deserto e para o qual era destinado o bode que recebia os pecados do povo. INTERPRETAÇÃO: Jesus mesmo como resposta à pergunta dos apóstolos interpreta a parábola: identificando os personagens e as circunstâncias. O semeador é o Filho do Homem na sua pregação da Boa Nova. Já temos explicado o significado das palavras Filho do homem. O campo é o mundo no sentido de humanidade. A boa semente é os filhos do Reino, ou seja aqueles para os quais a semente tem produzido os frutos necessários. O joio são os filhos do Maligno. O inimigo é o Maligno, nome este que temos explicado profusamente e que Jesus identifica com o diabo. Somente existe uma dúvida: a que tempo de ceifa se refere Jesus? Geralmente se entende ao fim dos tempos ou seja um tempo escatológico final, mas é muito provável que synteleia tou aiönos [conclusão da época] é uma frase em que a época que acaba poderia ser a do Antigo Testamento. Neste caso, os anjos e o fogo podem ter um significado mais simbólico do que real. Isto é possível do ponto de vista de um estilo apocalíptico. A base desta interpretação é precisamente que até a vinda de Jesus os filhos do reino eram os judeus que seriam lançados fora nas trevas onde haverá choro e ranger de dentes.A interpretação tradicional fala do fim do mundo no sentido total dos anjos como agentes da separação entre os justos [dikaioi], que praticam os mandatos da lei [filhos do Reino] e os que no escândalo, e na conduta sem lei [anomia] resultaram filhos do diabo. A MOSTARDA: segundo os evangelhos é a menor das sementes (Mt 17, 32) por isso é comparada ao reino no início e à fé mínima, necessária para operar milagres (Mt 17, 20). Como planta, [sinapi em grego e sinapi ou sinapis latina], pertence à família das crucíferas e divide-se em duas espécies: sinapis alba [mustarda branca], própria do mediterrâneo e do ocidente; e brassica nigra [crucífera negra] própria do oriente e originária do Himalaia. A família das brassiaceae inclui as couves, os brócolis e as couves-flores. A semente em ambas espécies tem um comprimento de 2,5 mm, de cor amarelada branca para alba, e amarelada escura para a negra. Quando adulta, a planta pode ter 2m de altura. No outono, quando as folhas caem, grande quantidade de vagens de sementes com 8 ou 20, dependendo de ser alba ou nigra, aparecem nos galhos da mesma. A mostarda é citada nos textos sumérios desde os anos 3 mil aC. e usada por Hipócrates como remédio que ainda aparece nos tempos modernos para catarros, como emplasto, e especialmente como especiaria para condimento na Idade Média e conservante de alimentos por suas qualidades como incitante e ardente. Mais da metade do comércio das especiarias tinha como fundamento a mostarda. As sementes de ambas espécies têm até 40% de óleo vegetal, um pouco menos de proteína e uma parte de uma enzima poderosa chamada myrosin, que ao contato com água transforma os amidos ou féculas em glicose ou açúcar. Na branca se produz óleo com pouco olor mas com um gosto picante próprio. Evidentemente o termo de comparação é o crescimento de uma semente tão pequena numa hortaliça de grande altura e frondosa ramagem. O FERMENTO: Foi em 1876 que Luis Pasteur descobriu que a coisa que fazia o pão crescer era na verdade um ser vivo, uma levedura, um fungo microscópico, que se alimenta de açúcar e produz álcool e gás carbônico. Ao assarmos o pão o álcool é destruído, assim como o fermento, mas as bolhas permanecem e tornam o pão macio. De fato, ele faz a massa crescer. O fermento usado antigamente era o levedo que atua após um tempo e não imediatamente como o fermento em pó moderno e industrializado. Jesus sabia muito bem qual era proporção fermento/massa para que toda a massa fosse atingida pelo levedo. A massa logicamente são todos os homens e sua maneira de pensar em busca da verdade final. O fermento são os discípulos de Jesus que entenderam e querem propagar a verdade entre os homens do mundo. Como o levedo, se precisa de tempo e de contato com a massa para que isso aconteça. Somos massa do mesmo pão que é Cristo, ou como diz S. Ignácio de Antioquia, trigo a ser moído pelos dentes das feras a fim de nos tornarmos pão limpo de Cristo. (Rm 4, 1). O fermento é a doutrina, segundo vemos no dito por Jesus: guardai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus (Mt 16, 6) que Marcos diz ser também o de Herodes(Mc 8, 15). Neste sentido, devemos evitar o velho fermento de malícia e perversidade, e por isso Paulo exorta os de Corinto a serem pães ázimos na pureza e na verdade (1Cor 5, 8). PISTAS: São três as parábolas com as quais se compara o Reino: A do joio é própria de Mateus sem que encontremos um paralelo nos outros evangelhos. Somente em 1 João 3, 10 encontramos a oposição entre filhos de Deus e filhos do Diabo. Estes são os que não praticam a justiça [os mandatos que procedem de Deus] e não amam o seu irmão. A explicação da parábola revela, em parte, o mistério da iniquidade de que fala Paulo em 2Ts 2, 7. Esta iniqüidade [anomia] é o fruto de rejeitar a lei ou de ignorá-la e pode ser traduzida por maldade ou perversidade. Quem é o promotor dessa iniquidade é o Maligno, o Diabo. Nele nasce a maldade e oposição ao Reino. 2) Porém existe o mistério de por que Deus permite o mal e de como combater o mesmo. Sendo Todo Poderoso e Bondade Infinita, como Ele permite que o mal triunfe de modo a parecer que a parte maligna aparece ser tão forte como a parte que Jesus chama dos filhos do Reino? Por isso existem ideologias em que ao Deus do bem se opõe o deus do mal. Ou será que Satanás é tão forte como Javé? No livro de Jó ela dá uma resposta parcial quando da instigação de satanás, Javé permite a experimentação do justo com a única exceção da vida. 3) Seria melhor chamar de mistério da Bondade ao que se acostuma expor como mistério da iniquidade. Perguntar a Deus por que não destrói o mal é o mesmo que perguntar ao Pai por que não mata o filho rebelde. Deus espera que se torne pródigo e volte um dia arrependido para a casa que sempre será seu lar. Na realidade, aqueles que agem na anomalia estão dissipando os seus bens. Não sabem o que fazem, dirá Jesus. O joio não se distingue do trigo assim como uma árvore estéril não se distingue de uma boa a não ser na época dos frutos. 4) Deus é o pai que faz com que o Sol nasça também para os maus e a chuva fertilize os campos dos incrédulos(Mt 5, 45). No fim e unicamente no fim a sua justiça acompanhará em parte a sua misericórdia. Para os que receberão uma eternidade de dor, é justo que recebam uma vida temporal cheia de triunfos e alegrias. Como Jesus disse na parábola do pobre Lázaro, os papéis serão invertidos. Lembra-te que tu recebeste os bens e Lázaro pelo contrário só os males (Lc 16, 25). 5) A influência do Diabo é a de semear o joio: propagar que a única maneira de alcançar a felicidade é saber viver na abundância e no prazer, pois não existe o além a quem tenhamos que dar contas de nossas condutas. É difícil diante desse programa de vida pregar uma existência de sacrifício e renúncia, como Jesus pede a seus discípulos. Por isso o mal se converte em bem aparente e o verdadeiro bem está oculto aos olhos da multidão. EXEMPLO: Dizem de um sábio hindu que era muito respeitado por seus ensinamentos. Porém um seu inimigo quis demonstrar a ignorância do sábio. Ele pegou um pequeno pássaro e o ocultou na sua mão fechada entre os dedos. Aproximou-se do sábio e perguntou: Mestre, se és tão sábio como a gente afirma, poderias dizer se o pássaro que meus dedos ocultam está vivo ou está morto? O mestre hesitou um momento pensando: Se digo vivo ele apertará os dedos e matará o pássaro e eu perderei a aposta. Se digo morto ele abrirá a mão e deixará voar o pássaro livremente e eu também serei julgado como mentiroso. Então o mestre disse: A vida desse pássaro está em tuas mãos. Do mesmo modo o bem e o mal, em termos gerais, não dependem de nossa avaliação. Mas a escolha do meu bem e do meu mal está em minhas mãos e eu devo escolher a coisa certa. Isto é o que a mim corresponde e interessa; e nisso está em jogo a minha definitiva existência.