XVI DOMINGO COMUM (Mt 13, 24-43)

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XVI DOMINGO COMUM (Mt 13, 24-43)
PARÁBOLAS DO REINO
(padre Ignácio dos padres escolápios)
INTRODUÇÃO: São três as parábolas narradas no evangelho de hoje: o joio, a semente
de mostarda e o fermento. Todas elas oferecem um aspecto particular ou qualidade do Reino.
Finalmente temos a explicação da parábola do joio como uma demonstração da política de Deus
no mundo e da existência do mal como uma tolerância para não ter que castigar os bons ao
mesmo tempo que impõe sua justiça sobre os iníquos.
PARÁBOLA: A palavra parábola vem do grego paraballo um de cujos significados é por
juntas duas coisas, comparar. A definição popular é que é uma história terrena que demonstra
uma verdade celestial. Difere do conto ou da fábula em que a história da parábola pode ter
sucedido ou pode ser real em qualquer momento futuro; e o conto ou a fábula, não. Nesta
parábola do joio [lolium tremulans] encontramos uma analogia constante que a transforma em
alegoria porque não é unicamente a moral da mesma que interessa do ponto de vista teológico
mas também certos detalhes como o juízo final e os anjos.
JOIO: O joio é uma planta muito parecida com o trigo antes de se formar a espiga. O
gênero Lolium divide-se em 10 espécies das quais a mais conhecida é o Lolium tremulentum,
que em inglês recebe o nome de darnel, cizaña em espanhol [do grego zizanion], também joyo,
e joio em português [do latim lolium]. A espiga do joio é muito mais fina do que a do trigo e
frequentemente está infectada com fungos que a tornam negra e venenosa. Também a própria
gramínea tem, como o esporão do centeio, um componente venenoso. O joio só se distingue do
trigo quando a espiga amadurece, sendo que a espiga do joio é formada por grãos pretos como
de carvão.
O REINO: O termo de comparação das três parábolas é o Reino [reinado] dos céus.
Apesar do título dos céus, ele tem como assento a terra, não no sentido geográfico, mas
humano, por isso é mais exato traduzi-lo por Reinado. O povo que o forma não é o conjunto dos
bem-aventurados do céu, mas refere-se à Igreja da terra, formação visível da comunidade dos
fiéis que escolheram Jesus como seu Senhor e que estão misturados no campo do mundo(38)
com pessoas que não são crentes ou têm outras ideologias, sem descartar que dentro da Igreja
podem existir também os escandalosos e os que praticam a iniquidade (41). Pois na explicação
dada por Jesus aos discípulos ele transforma a parábola em alegoria.
O FILHO DO HOMEM: Jesus se identifica com esta figura que pode substituir a palavra
eu assim como a expressão a gente é usada em português. Os judeus usavam pois, a frase
filho do homem para se referir a si mesmos. Porém existe um significado que caracteriza a
expressão através do uso de Jesus em conformidade com Daniel 7, 13. Filho do homem era a
figura de Israel como reino a ser instaurado definitivamente com a vinda do Messias que era o
representante máximo do mesmo. Podemos afirmar que o filho do homem é o Verbo enquanto
homem, ou seja Jesus tal e como era visto e contemplado por seus conterrâneos.
O INIMIGO:O DIABO: O grego Diábolos significa caluniador. É um adjetivo que se
transforma em nome próprio com o artigo. Como adjetivo é usado unicamente por João quando
diz que um de vós é diabo, ou seja falso acusador que se serve mal do messiado de Jesus, e o
tal era Judas. Com artigo o encontramos 15 vezes. Uma vez não tem artigo e não é adjetivo,
mas nome em caso vocativo. É o caso de Elimas, o mago, que ficou cego por ordem de Paulo e a
quem o apóstolo repreende como de filho de diabo (At 13,10). João o chama de Príncipe deste
mundo(12, 31).Paulo fala do deus deste eon [ciclo, época ou era] {mal traduzido por deus deste
mundo}, que cegou o entendimento dos incrédulos para que não brilhe para eles o resplendor
do evangelho (2 Cor 4, 4). E em Ef 2, 2 afirma que outrora viviam [os efésios] mortos em
vossos delitos e pecados, conforme a índole [aion= época ou ambiente] deste mundo, segundo
o príncipe do poder do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência. O ar era para
os antigos a moradia dos demônios como é agora o habitat das bactérias e fungos (ver Lc 10,
18). Segundo o quarto evangelho o diabo era o pai dos inimigos de Cristo e pai da mentira (8,
44), que entre os filhos conta com um dos apóstolos (6, 70). “Diabo” é o equivalente grego do
hebraico "satanás" ("adversário", "inimigo"), que na Bíblia hebraica é indiferentemente usado
para indicar tanto a ação do "Anjo do Senhor" (expressão que indica o próprio Deus, Ex l6,7)
como a de pessoas como Davi, inimigo dos filisteus (lSm 29,4) ou Amã, adversário do povo
judeu (Est 7,4). Recebe o nome de Satanás de origem aramaica correspondendo a Satã. Assim
como o Parakletó é o advogado defensor, Satanás é o acusador. Aparece 4 vezes em Mateus e
Marcos, 5 em Lucas e uma só em João. No Apocalipse é identificado com o dragão, a antiga
serpente, cujo nome próprio é Diabo e Satanás (Ap 20, 2). Ele tem um papel importante como
tentador (Mt 4,1 comparado com 4, 10). E é quem arrebata a palavra na parábola do semeador.
Agora ele tem também sua semente, o joio, que astutamente mistura com a boa semente de
modo a confundir os trabalhadores do campo. Da dezena de vezes que aparece no Antigo
Testamento, a única vez em que "satanás" é empregado como nome próprio é no livro das
Crônicas (lCr 21,1), no qual o autor, numa teologia mais evoluída, imputa a "Satanás" a
intenção de recensear Israel, ação em princípio atribuída ao Senhor: "A ira de Yahweh se
inflamou ainda contra os israelitas, e ele instigou Davi contra eles dizendo: 'Vai, faze o
recenseamento de Israel e de Judá'" (1Sm 24,1). Com o termo "satanás" também são
representadas figuras genéricas como o "acusador" (Sl 109,6), título de um funcionário de Deus
e membro da corte celeste: "Chegou o dia de os filhos de Deus se apresentarem em audiência
diante do Senhor. Satanás veio também com eles" (Jó l,6). Apenas em um apócrifo tardio
"satanás" torna-se o nome do anjo que se recusa a adorar Adão, o primeiro homem criado, e
por isso é expulso para a terra com seus anjos (Vida latina de Adão e Eva 12-l6).
Contrariamente àquilo em que muitos acreditam, na Bíblia não existe a fábula do belíssimo e
ambiciosíssimo anjo de nome Lúcifer, expulso para sempre por Deus do paraíso e transformado
em horrível diabo. Recebe também o nome de Maligno, nome com que o encontramos pela
primeira vez em Mt 5, 37. O ponërós grego [mau, indigno] que é adjetivo se transforma em
substantivo com o artigo, e é traduzido por mal ou o maligno. Mateus o usa várias vezes neste
último sentido e unicamente João em 17, 15 tem um significado semelhante. O caso mais
comentado é no final do Pai nosso: mas livra-nos do mal que muitos dos modernos transladam
por maligno (6, 13). Lúcifer [dador da luz] antes de cair do céu seu nome era Luzbel [senhor da
luz?].No cristianismo se confunde com Satanás, devido à identificação feita por S. Jerônimo.
Isaías menciona Lúcifer como um anjo caído(Is 14, 12);ao que parece, se refere ao rei de
Babilônia. Porém, como Jesus disse que viu cair satanás como um raio do alto dos céus(Lc 10,
18) daí que foi o nome alternativo do chefe dos anjos caídos ou demônios e sua identificação
com Satanás. Mas a Bíblia não o identifica; só a patrística. Na realidade, os latinos chamavam de
Lúcifer a estrela Vênus [fösforos para os gregos] quando aparece antes do sol e Hesperos no
momento da posta solar. DEMÔNIOS: Na língua hebraica não existe o termo "demônio" [pelo
grego, "devorador de cadáveres"]. O Diabo distingue-se do demônio [daimön e daimonion
gregos] pois estes últimos eram deuses menores ou secundários. Como malignos eram
chamados de espíritos impuros ou malignos [akathartoi ou poneroi](Mt 10, 1 e Lc 7, 21).
Quando a Bíblia, em uma sociedade culturalmente mais evoluída, foi traduzida para a língua
grega, tomou-se distância daqueles seres intermediários entre a divindade e os homens e das
personagens mitológicas cada vez mais encontradas no texto, como sereias, harpias, centauros,
sátiros, faunos, duendes, gnomos e espectros, termos que passaram a ser traduzidos com o
genérico "demônio" (Lv 17,7). Com a mesma palavra foram classificadas também as divindades
estrangeiras, polemicamente rebaixadas a espíritos malignos, como Gad, o deus arameu da
fortuna, e o "gênio protetor" da casa (Is 65,11; Dt 32,17). Talvez os tradutores tenham
exagerado um pouco classificando como demônios inc1usive os gatos selvagens (Is 34,14) e os
bodes (Is 13,21). Deles era chefe Beelzebul (Mc 3, 22) que significa Baal, o príncipe
[baal=senhor, e Zebul=príncipe]. Daí a tradução evangélica príncipe dos demônios. Outros
derivam seu nome de Senhor da alta morada, que era o deus Baal da Síria (ver Mt 10, 25, em
que Beelzebu é chamado chefe da casa). É o primeiro depois de Satã. No evangelho de
Nicodemus, Satã e Beelzebul urgiram um plano para, na morte de Jesus, atrair sua alma ao
inferno, sendo Beelzebul o primeiro em enfrentar a alma de Jesus. Com sua voz Jesus derrotou
Beelzebul e este então se voltou contra Satã até que Jesus ordenou que Satã seria o rei do
inferno até o fim dos tempos. E Beelzebu (ou Beelzebul) é o diretor das nove hierarquias
infernais que estão embaixo da primeira, esta última regida por Samael ou Satanás. Outros
demônios conhecidos são Leviatan [ferida em espiral] que também era o nome do crocodilo (Sl
104, 26). É o senhor dos oceanos e era associado com o Tiamat de babilônia e a Hidra grega. O
demônio mais popular do Antigo Testamento é Asmodeu ["Aquele que faz morrer",
exterminador], inimigo jurado das uniões conjugais que deu morte a sete pretendentes de Sara,
até que Tobias se livrou do malefício com oração e jejum, pois ele matou sete maridos da pobre
Sara, "mortos antes que se tivessem unido a ela, conforme a obrigação que se tem para com
uma esposa" (Tb 3,8). Tobias, seu aspirante a marido, temeroso de ir juntar-se aos sete
cadáveres precedentes, salvou a própria vida com um remédio estranho. Como soubera que
Asmodeu, demônio particularmente fraco de estômago, não suporta "cheiro de fígado e coração
de peixe", lançou esses ingredientes sobre a brasa do defumador, e "o cheiro do peixe manteve
à distância o demônio, que fugiu pelos ares até as regiões do Egito" (Tb 8,3). A sobriedade das
Bíblias hebraica e grega no que concerne a diabos e demônios (não se registra nenhum caso de
possessão diabólica, e desconhece-se o termo "endemoninhado") contrasta com sua proliferação
no judaísmo da época precedente à ação de Jesus, quando o número e a variedade dos
demônios cresce desmesuradamente, deixando espaço à fantasia mais desenfreada: "Cada um
de nós tem mil [demônios] à esquerda e dez mil à direita" (Ber. 6a). Cada demônio tinha uma
especialização: a embriaguez era provocada pelo demônio Shimadon (Ber. R. 36,3); a cegueira,
por Shabrirri (Ab. Z. 3a bar); e a peste por Qeteb (Dt 32,24). No Talmud, as hipóteses sobre a
origem dos demônios são mais variadas. Acredita-se que sejam herdeiros dos "Nephilîm" titãs
orientais nascidos da união entre seres celestes e as primeiras mulheres: "Naqueles dias, os
titãs [Nephilîm] estavam na terra; e ainda estavam nela quando os filhos de Deus vieram ao
encontro das filhas de homem e tiveram filhos dela" (Gn 6,4). Ou há quem sustente a teoria da
evolução: "A hiena depois de sete anos transforma-se em um morcego, o morcego transformase em um vampiro, o vampiro em uma urtiga, a urtiga em uma sarça e, finalmente, depois de
outros sete anos a sarça transforma-se em um demônio" (B. Q. 16,1). Outros pensam, ao
contrário, que haja criaturas incompletas: Deus já criara suas almas, mas quando estava para
modelar os corpos sobreveio o sábado e ele o observou, cessando todo trabalho, e essas almas
que permaneceram sem corpo foram os demônios (Ber. R. 7,5). A noite é seu reino
incontestável ("À noite é proibido saudar quem quer que seja, por temor de que seja um
demônio", Sanh. 44a), e é perigosíssimo sair durante o sábado e na quarta-feira à noite por
causa dos milhões de demônios que saem livremente (Pes. 112b). O mais célebre demônio
feminino é Lilith (Is 34,14), solteirona insaciável e luxuriosa que se insinua lépida no leito dos
homens para fazer amor com eles. Demônio súcubo [feminino] da noite. O Talmud adverte:
"aquele que dorme sozinho será pego por Liliih" (Shab. 151b). Lilit era um demônio feminino
que segundo lendas [um midrash] tinha sido a primeira mulher de Adão. Segundo a
interpretação moderna Adão foi POSSUIDO por suas próprias inclinações sexuais, acerbadas até
grados enfermiços e não contra entidades espirituais externas [isto é um demônio chamado
Lilit]. Entre os numerosos deuses e demônios da mitologia babilônica encontramos Lilu e Lilitu
[varão e fêmea respectivamente], entes malignos que prejudicavam os seres humanos em
especial incitando sexualmente aos varões e danificando as mulheres grávidas tanto a elas como
a seus filhos neonatos. Estas superstições não tem fundamento algum com a Torá, mas quando
deportados para Babilônia (586 aC), algumas das crenças desta última impregnaram a cultura
judaica.De fato a palavra Lilit é mencionada pelo profeta Isaías: As feras do deserto encontrarse-ão com as hienas. O bode selvagem [onocentaurus, ou monstro metade homem, metade
asno]gritará a seu companheiro; fantasmas [night creatures em inglês; lamiai, mulheres
velhas, feiticeiras ou bruxas latinas] pousarão e acharão um lugar de descanso(34, 14). O
hebraico, no lugar de fantasmas ou criaturas da noite tem coruja[lilith], habitante da noite que
passou a ser uma figura de mulher uma deusa feminina de longa cabeleira e provida de asas
como demônio, que à noite percorria os lugares desolados de Edom [sudoeste do mar Morto].
Mas também pode ser tomada como uma realidade figurada, não externa e demoníaca, mas
interna e humana, já que na midrashei agadá [narrações lendárias] nos oferece a relação de
Lilith com o primeiro varão da estirpe humana, Adão. Pois ele esteve separado de sua esposa
Eva ou Java durante 130 anos, durante os quais copulou com espíritos femininos e gerou uma
espécie mista de homens/demônios. Numa outra midrash as relações Adão–Lilith se complicam
ainda mais porque ela não quis receber o homem e rejeitou até os enviados divinos que queriam
a reconciliação, decidindo que o objetivo de sua vida seria causar mal aos descendentes de
Adão. Com esta narração os rabis explicavam que a masturbação era uma espécie de oferenda a
Lilith que usava o semem para procriar os homens/demônios. Mas vejamos a explicação atual da
Torá e dos hahamim [sábios]. Segundo estes últimos, Adão no início não era o nome de um
homem, mas o genérico da espécie humana; e o relato da costela era o de uma operação para
separar o ser duplo que ele era, separando as duas pessoas nele contidas: Adão e Java, o
homem e a mulher. Assim não houve um homem primeiro e uma mulher, mas ambos estavam
juntos e foram separados ao mesmo tempo. Ormas, o demônio que se disfarça de mulher na
tentativa de enganar e seduzir os homens, faz a Lilith uma impiedosa concorrência (nos leitos).
A quem deseja saber se foi visitado à noite por um demônio, basta agir da seguinte maneira:
"Pega cinzas em pó, espalha-as ao redor do leito e pela manhã verás pegadas de patas de galo"
(Ber 6a), e "quem o quiser ver, pegue uma placenta de uma gata negra nascida de uma gata
negra primogênita, queime-a no fogo, triture-a e coloque uma parte dela sobre os olhos, então o
verá" (Ber. 6a). Belial [indigno ou malvado] que alguns dizem Beliar . No AT fala-se dos filhos
de Belial como sendo os que não admitem a lei. Azazel de etimologia incerta que segundo os
antigos judeus era um anjo caído que habitava no deserto e para o qual era destinado o bode
que recebia os pecados do povo.
INTERPRETAÇÃO: Jesus mesmo como resposta à pergunta dos apóstolos interpreta a
parábola: identificando os personagens e as circunstâncias. O semeador é o Filho do Homem na
sua pregação da Boa Nova. Já temos explicado o significado das palavras Filho do homem. O
campo é o mundo no sentido de humanidade. A boa semente é os filhos do Reino, ou seja
aqueles para os quais a semente tem produzido os frutos necessários. O joio são os filhos do
Maligno. O inimigo é o Maligno, nome este que temos explicado profusamente e que Jesus
identifica com o diabo. Somente existe uma dúvida: a que tempo de ceifa se refere Jesus?
Geralmente se entende ao fim dos tempos ou seja um tempo escatológico final, mas é muito
provável que synteleia tou aiönos [conclusão da época] é uma frase em que a época que acaba
poderia ser a do Antigo Testamento. Neste caso, os anjos e o fogo podem ter um significado
mais simbólico do que real. Isto é possível do ponto de vista de um estilo apocalíptico. A base
desta interpretação é precisamente que até a vinda de Jesus os filhos do reino eram os judeus
que seriam lançados fora nas trevas onde haverá choro e ranger de dentes.A interpretação
tradicional fala do fim do mundo no sentido total dos anjos como agentes da separação entre os
justos [dikaioi], que praticam os mandatos da lei [filhos do Reino] e os que no escândalo, e na
conduta sem lei [anomia] resultaram filhos do diabo.
A MOSTARDA: segundo os evangelhos é a menor das sementes (Mt 17, 32) por isso é
comparada ao reino no início e à fé mínima, necessária para operar milagres (Mt 17, 20). Como
planta, [sinapi em grego e sinapi ou sinapis latina], pertence à família das crucíferas e divide-se
em duas espécies: sinapis alba [mustarda branca], própria do mediterrâneo e do ocidente; e
brassica nigra [crucífera negra] própria do oriente e originária do Himalaia. A família das
brassiaceae inclui as couves, os brócolis e as couves-flores. A semente em ambas espécies tem
um comprimento de 2,5 mm, de cor amarelada branca para alba, e amarelada escura para a
negra. Quando adulta, a planta pode ter 2m de altura. No outono, quando as folhas caem,
grande quantidade de vagens de sementes com 8 ou 20, dependendo de ser alba ou nigra,
aparecem nos galhos da mesma. A mostarda é citada nos textos sumérios desde os anos 3 mil
aC. e usada por Hipócrates como remédio que ainda aparece nos tempos modernos para
catarros, como emplasto, e especialmente como especiaria para condimento na Idade Média e
conservante de alimentos por suas qualidades como incitante e ardente. Mais da metade do
comércio das especiarias tinha como fundamento a mostarda. As sementes de ambas espécies
têm até 40% de óleo vegetal, um pouco menos de proteína e uma parte de uma enzima
poderosa chamada myrosin, que ao contato com água transforma os amidos ou féculas em
glicose ou açúcar. Na branca se produz óleo com pouco olor mas com um gosto picante próprio.
Evidentemente o termo de comparação é o crescimento de uma semente tão pequena numa
hortaliça de grande altura e frondosa ramagem.
O FERMENTO: Foi em 1876 que Luis Pasteur descobriu que a coisa que fazia o pão
crescer era na verdade um ser vivo, uma levedura, um fungo microscópico, que se alimenta de
açúcar e produz álcool e gás carbônico. Ao assarmos o pão o álcool é destruído, assim como o
fermento, mas as bolhas permanecem e tornam o pão macio. De fato, ele faz a massa crescer.
O fermento usado antigamente era o levedo que atua após um tempo e não imediatamente
como o fermento em pó moderno e industrializado. Jesus sabia muito bem qual era proporção
fermento/massa para que toda a massa fosse atingida pelo levedo. A massa logicamente são
todos os homens e sua maneira de pensar em busca da verdade final. O fermento são os
discípulos de Jesus que entenderam e querem propagar a verdade entre os homens do mundo.
Como o levedo, se precisa de tempo e de contato com a massa para que isso aconteça. Somos
massa do mesmo pão que é Cristo, ou como diz S. Ignácio de Antioquia, trigo a ser moído pelos
dentes das feras a fim de nos tornarmos pão limpo de Cristo. (Rm 4, 1). O fermento é a
doutrina, segundo vemos no dito por Jesus: guardai-vos do fermento dos fariseus e dos
saduceus (Mt 16, 6) que Marcos diz ser também o de Herodes(Mc 8, 15). Neste sentido,
devemos evitar o velho fermento de malícia e perversidade, e por isso Paulo exorta os de
Corinto a serem pães ázimos na pureza e na verdade (1Cor 5, 8).
PISTAS: São três as parábolas com as quais se compara o Reino: A do joio é própria de
Mateus sem que encontremos um paralelo nos outros evangelhos. Somente em 1 João 3, 10
encontramos a oposição entre filhos de Deus e filhos do Diabo. Estes são os que não praticam a
justiça [os mandatos que procedem de Deus] e não amam o seu irmão. A explicação da
parábola revela, em parte, o mistério da iniquidade de que fala Paulo em 2Ts 2, 7. Esta
iniqüidade [anomia] é o fruto de rejeitar a lei ou de ignorá-la e pode ser traduzida por maldade
ou perversidade. Quem é o promotor dessa iniquidade é o Maligno, o Diabo. Nele nasce a
maldade e oposição ao Reino.
2) Porém existe o mistério de por que Deus permite o mal e de como combater o
mesmo. Sendo Todo Poderoso e Bondade Infinita, como Ele permite que o mal triunfe de modo a
parecer que a parte maligna aparece ser tão forte como a parte que Jesus chama dos filhos do
Reino? Por isso existem ideologias em que ao Deus do bem se opõe o deus do mal. Ou será que
Satanás é tão forte como Javé? No livro de Jó ela dá uma resposta parcial quando da instigação
de satanás, Javé permite a experimentação do justo com a única exceção da vida.
3) Seria melhor chamar de mistério da Bondade ao que se acostuma expor como
mistério da iniquidade. Perguntar a Deus por que não destrói o mal é o mesmo que perguntar ao
Pai por que não mata o filho rebelde. Deus espera que se torne pródigo e volte um dia
arrependido para a casa que sempre será seu lar. Na realidade, aqueles que agem na anomalia
estão dissipando os seus bens. Não sabem o que fazem, dirá Jesus. O joio não se distingue do
trigo assim como uma árvore estéril não se distingue de uma boa a não ser na época dos frutos.
4) Deus é o pai que faz com que o Sol nasça também para os maus e a chuva fertilize os
campos dos incrédulos(Mt 5, 45). No fim e unicamente no fim a sua justiça acompanhará em
parte a sua misericórdia. Para os que receberão uma eternidade de dor, é justo que recebam
uma vida temporal cheia de triunfos e alegrias. Como Jesus disse na parábola do pobre Lázaro,
os papéis serão invertidos. Lembra-te que tu recebeste os bens e Lázaro pelo contrário só os
males (Lc 16, 25).
5) A influência do Diabo é a de semear o joio: propagar que a única maneira de alcançar
a felicidade é saber viver na abundância e no prazer, pois não existe o além a quem tenhamos
que dar contas de nossas condutas. É difícil diante desse programa de vida pregar uma
existência de sacrifício e renúncia, como Jesus pede a seus discípulos. Por isso o mal se converte
em bem aparente e o verdadeiro bem está oculto aos olhos da multidão.
EXEMPLO: Dizem de um sábio hindu que era muito respeitado por seus ensinamentos.
Porém um seu inimigo quis demonstrar a ignorância do sábio. Ele pegou um pequeno pássaro e
o ocultou na sua mão fechada entre os dedos. Aproximou-se do sábio e perguntou: Mestre, se
és tão sábio como a gente afirma, poderias dizer se o pássaro que meus dedos ocultam está
vivo ou está morto? O mestre hesitou um momento pensando: Se digo vivo ele apertará os
dedos e matará o pássaro e eu perderei a aposta. Se digo morto ele abrirá a mão e deixará voar
o pássaro livremente e eu também serei julgado como mentiroso. Então o mestre disse: A vida
desse pássaro está em tuas mãos. Do mesmo modo o bem e o mal, em termos gerais, não
dependem de nossa avaliação. Mas a escolha do meu bem e do meu mal está em minhas mãos
e eu devo escolher a coisa certa. Isto é o que a mim corresponde e interessa; e nisso está em
jogo a minha definitiva existência.
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