O QUE É A DOENÇA DE ALZHEIMER? A doença de Alzheimer é uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecido, que atinge preferencialmente as pessoas idosas. Acomete o cérebro causando fundamentalmente perda de memória, séria deterioração intelectual e distúrbios de comportamento. Estima-se que nos EUA existam cerca de quatro milhões de pacientes; no Brasil pelo menos um milhão. Foi descrita pela primeira vez pelo médico Alois Alzheimer em 1907. Essa doença é erroneamente conhecida pela população como “esclerose” ou caduquice. É uma forma de demência cuja causa não se relaciona com a circulação ou com a arteriosclerose. É divida à morte das células cerebrais levando a atrofia do cérebro. As demências por arteriosclerose se representam apenas um quinto de todas as demências. QUAIS OS SINTOMAS? No começo são ao pequenos esquecimentos, normalmente aceitos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que vão agravando-se gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passam a apresentar alteração da personalidade, com distúrbio de conduta e terminam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmo quando colocados frente a um espelho. À medida que a doença evolui, tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, tornam-se mudos à comunicação e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até menos para as atividades elementares do cotidiano como alimentação, higiene, vestir, etc. QUAL A CAUSA? A causa da doença de Alzheimer ainda não é conhecida. Existem várias teorias, porém, de concreto aceita-se que seja uma doença geneticamente determinada, não necessariamente hereditária ( transmissão entre familiares). COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO? Não há um teste específico que estabeleça de modo inquestionável a doença. O diagnóstico é eito a partir da exclusão de uma série de outras doenças que apresentam os mesmos sintomas. Essa investigação é extremamente importante, uma vez que algumas dessas doenças são curáveis, como depressão hipotireoidismo, etc. Alguns exames como a tomografias de crânio e testes de laboratórios são solicitados para estabelecer essa diferenciação. O médico também realiza testes de memória e outras avaliações para medir o grau de comprometimento intelectual. O diagnóstico definitivo só é possível a partir do exame do tecido cerebral, por biópsia, procedimento raramente realizado. Perda de memória não é anormal; à medida que vamos envelhecendo, é comum! Ao primeiro sinal de que a memória Está comprometida é imperativo que o médico examine o paciente, pois muitas doenças que prejudicam a memória são tratáveis e até curáveis. COMO É FEITO O TRATAMENTO? Só existe um medicamento aprovado especificamente para esse fim: o Tacrine. Esse medicamento, entretanto, não representa a cura da doença e não beneficia a todo o pacientes. Apenas cerca de um terço dos pacientes apresentam alguma resposta é só 80% respondem bem ao tratamento que deve ser iniciado o mais cedo possível. O tratamento e gerenciamento dos distúrbios de comportamento (agitação, insônia, agressividade, etc.) é eficaz na maior dos casos. COMO A DOENÇA AFETA OS FAMILIARES? Afeta de modo devastador. As dúvidas e incertezas com o futuro, a grande responsabilidade, a inversão de papéis em que os filhos passam a se encarregar dos cuidados de seus pais, além da enorme carga de trabalho e sobrecarga emocional, acabam por gerar no meio familiar intenso conflito e angústia. A sensação de estar só, isolado, desamparado e a inevitável pergunta “por que isso está acontecendo comigo?”, submete os cuidados a uma enorme pressão psicológica, acompanhada por depressão, estresse, queda da resistência física, problema de ordem conjugal, etc. O QUE PODE AJUDAR? A grande arma no enfrentamento dessa doença é a informação associada à solidariedade. À medida que os familiares conhecem melhor a doença e sua provável evolução, vários recursos e estratégias podem ser utilizados com sucesso. É fundamental que os familiares saibam que sempre há lago a fazer, sempre é possível melhorar a qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares. Existem doenças incuráveis, porém não existem pacientes “intratáveis”. O QUE É A ABRAZ? A ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer) é uma entidade sem fins lucrativos, que objetiva a melhoria da condições de vida do paciente e de seus familiares. Fundada em agosto de 1991, reúne em sua diretoria familiares e profissionais para, em conjunto, unidos por suas vivências e conhecimentos, desenvolverem ações concretas em favor dos vitimados. Os familiares recebem informações atualizadas sobre os avanços em pesquisas, freqüentam grupos de suporte familiar, assistem palestras e cursos, e aprendem sobre a doença e suas características no sentido de aliviar parte da carga a que estão sendo submetidos. A ABRAz está organizada em praticamente todo o território nacional. A HOMEOPATIA NO BRASIL Entrevista a ANA LÚCIA PROA dada por DRA. MARIANI, Publicada na REVISTA SAÚDE PARA TODOS, Abril 1996. Ano 1, N.º12. Saúde Para Todos – Hoje a homeopatia não é mais considerada uma medicina alternativa, paralela. Como se deu esse processo para que ela se tornasse oficial? Dra. Mariani - A homeopatia desde 1980 sofreu mudanças, graças aos esforços do Prof. Alberto Soares de Meirelles, que foi um dos seus propugnadores mais importantes no século XX no Brasil: ele foi médico, general, gozou de muita influência entre os Presidentes, e por 25 anos, oi presidente do Instituto Hahnemanniano. No governo Costa e Silva transformou o Instituto Hahnemanniano em Faculdade Federal e, em 1980, conseguiu que o Conselho Federal de Medicina reconhecesse a homeopatia. A homeopatia, portanto, é uma especialidade médica reconhecida há 16 anos. Mas ainda não é matéria obrigatória nas Escolas de Medicina. Ela é disciplina optativa em algumas Faculdades, entre as quais a UNI-Rio (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Se ela ainda não é uma matéria obrigatória, como está a situação do ensino da homeopatia no Brasil? Quem quer ser médico homeopata deve cursar uma faculdade como qualquer outro médico. Depois é que vai procurar um curso de especialização. Nós temos vários em todos o Brasil: em São Paulo, na Bahia, em Santa Catarina, no Ceará... E aqui no Rio de Janeiro quem oferece esse curso de especialização é o Instituto Hahnemanniano do Brasil. É o centro mais antigo de homeopatia na América do Sul, tendo sido fundado em 1859, pelo belga Benoir Mure, criador de uma Faculdade e de um hospital-escola. Em 1921, o Conselho Superior de Ensino equiparou a faculdade criada por Mure às suas congêneres federais, o que atribuía validade aos títulos de seus diplomados em Medicina. Mas foi apenas em 1954 que o governo federal determinou que a então Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro deveria manter o ensino da homeopatia, com três cadeiras. Com isso, a homeopatia, que era a medicina obrigatória e principal da escola, passou a ser uma cadeira optativa. Assim, no quinto período (que corresponde ao terceiro ano de medicina), quem quiser pode começar a estudar homeopatia. Quais os avanços que a homeopatia sofreu ao longo desses 200 na anos? A homeopatia é uma ciência maravilhosa, porquê suas bases são eternas, não mudam. Os princípios da homeopatia não evoluíram, eles são verdades imutáveis. Por exemplo, o princípio básico de que o semelhante cura o semelhante não mudará nunca, é uma lei. E o fato de se fazer em as experiências dos remédios no homem saudável também não mudos. É a chamada patogenesia. Você toma uma droga e vai observando os sintomas que aparecem, e depois cura o indivíduo que apresente aqueles sintomas. O outro princípio de um remédio único para cada pessoa, independente do diagnóstico, também permanece o mesmo. A maneira como a pessoa reage à doença é que vai determinar qual é esse remédio. Se tratasse a doença diretamente, seria alopatia. Os alopatas dão antiinflamatório para trata um sem número de doenças. Já os homeopatas consideram que para cada tipo de inflamação você tem um sintoma diferente. Portanto, prescrevem um remédio único para cada um, com dose mínima. Essa é uma dose energizada, que vai fazer o corpo reagir; e não uma dose de massa como faz a alopatia. A alopatia quer apagar o incêndio, já homeopatia atua na causa, e vai fazendo com o que seu corpo reaja àquilo. Então, existe uma verdadeira cura, de dentro para fora. Mas não houve qualquer mudança em todos esses anos para cá? Novas drogas oram experimentadas, novas patogenesias (estudos da atuação dos remédios no organismo humano). Nós temos patogenesias que estão sendo criadas pela própria evolução da medicina, como é o caso do uso de cortisona, que cria uma doença artificial na pessoa, provocando hipertensão arterial, deficiência renal, aparecimento de manchas escuras, rosto inchado... de estreptomicina que pode causar surdez, e de vários outros remédios e drogas que oram surgindo. O médico homeopata, então, receitaria essas mesmas substâncias, só que dinamizadas, numa dose mínima que conseguiria reverter esses problema. Outro dado novo é a poluição. Hoje, temos muito elementos tóxicos que estão envenenando os seres humanos. Hahnemann experimentou aproximadamente 60 substâncias, que eram usadas na época como medicamentos (o enxofre, o mercúrio, a beladona, o aconitum, o enxofre, o arsênico...). Mas ele sabia que eram substância muito venenosas, então passou a usá-las em dose mínimas. Para tratar a toxidade da poluição, a homeopatia hoje está sendo usada em conjunto com a medicina ortomolecular? Claro! A homeopatia já lida com selênio, cobre, zinco, níquel etc. há 200 anos. E a medicina ortomolecular está apenas começando... Muitas pessoas hoje estão sofrendo intoxicação. Por exemplo: pelo chumbo (é a mais comum atualmente), alumínio ( não dá uma intoxicação aguda, mas a longo prazo já está praticamente provado que altera as funções cerebrais, gerando síndromes como a de Alzheimer)... Então, devem fazer um mineralograma para detectar, pelo fio de cabelo, a presença desses metais em quantidades altamente acima do tolerável. Tenho tido muitos pacientes intoxicados com chumbo que apresentam dores de cabeça horríveis, cólicas, prisão de ventre, irritabilidade, insônia... Então o tratamento com oplubo metalicum , mas com a dinamização a 30 CH, ou seja, só existe energia (o medicamento é 30 vezes diluído de 1 para 99). Com isso, o chumbo começa a ser eliminado do organismo. E além das pessoas melhorarem de seus sintomas, o exame de fio de cabelo comprova a desintoxicação. Os ortomoleculares também fazem isso, mas não com remédio homeopáticos, e sim com os queladores. E qual a vantagem da homeopatia sobre os agente quelantes? Você compra um vidrinho que custa R$4,00 e dura dois meses, coloca o remédio debaixo da língua e não tem qualquer efeito colateral. Já a medicina ortomolecular muitas vezes faz isso através de injeções intravenosas. Tudo bem que também não há qualquer efeito colateral, mas o tratamento é caro, eito no consultório médico e muitas pessoas não gostam de tomar injeção. Além disso, muitas vezes essa quelação tira do organismo não apenas o chumbo. Aí é preciso repor os minerais de interesse da saúde. Já na homeopatia você tira só o que interessar: se quiser diminuir o chumbo, ataca diretamente o chumbo; se quer aumentar a quantidade de selênio, trabalha só com selênio. É uma coisa mais simples, barata, e que você dá até para crianças. Quer dizer, eles agora realizam o mesmo trabalho que a homeopatia vem fazendo há 200 anos, de maneira mais simplificada. É claro que não tínhamos os meios de diagnóstico atuais para provar a eficácia da homeopatia nesses tratamentos. Mas o mineralograma, que é uma coisa nova, está conseguindo demonstrar que a lei das semelhanças realmente existe. E quanto à medicina tradicional, está havendo um bom entendimento com a homeopatia? O entrosamento está cada vez melhor. Porquê os alopatas estão vendo que a terapeuta funciona. E outra prova disso é que a procura por nosso curso de formação de especialistas é cada vez maior. Estamos recebendo não só médicos, mas também veterinários, odontólogos e farmacêuticos. A homeopatia realmente passou por um boom nos últimos dez anos. Hoje nós chegamos a ter 120 alunos em uma única turma o que é muita coisa. A que atribui o boom? A sociedade estaria em busca de terapias mais naturais? Há vários fatores. A homeopatia era estimadíssima no final do século passado e no começo desse século. Na Segunda Guerra Mundial, felizmente descobriram o antibiótico, senão muito mais gente teria morrido. Naquela época, em dois dias de tratamento as pessoas ficavam boas. Só que agora você tem uma espinha, um furúnculo, e é preciso prescrever 15 dias de antibiótico, porque os micróbios estão ficando mais resistentes, ao passo que pessoas estão ficando mais fracos. Mas essa terapêutica gera muitos efeitos colaterais, porque o nosso fígado, por exemplo, não foi feito para suportar 15 dias de tratamento com antibióticos. Resultado: as pessoas começaram a se voltar novamente para a homeopatia. E atrás delas, os médicos, porquê estavam perdendo a clientela. Então, é o público que está pedindo, e é a classe médica que está se rendendo às evidências. Mas nade impede que você tenha o seu médico alopata, até porquê, na hora de uma emergência, de uma cirurgia, de uma hemorragia, você tem que procurar mesmo é o alopata. Agora, a homeopatia está sendo muito procurada por pediatras, porque as criança reagem de uma maneira espetacular. E os geriatras também estão encontrando fortes aliados homeopatas, porque os idosos são muito sensíveis aos efeitos colaterais dos remédios alopáticos. Eu tenho uma paciente de 91 anos, por exemplo, que se trata comigo desde os 78 anos. Ela tinha muito mais queixas em sua primeira consulta, 13 anos atrás, do que agora. Então a homeopatia não seria só para fortalecer o sistema imunológico? Sem dúvida. O corpo vai ficando um instrumento muito afinado. As pessoas que estão acostumadas a se tratar com homeopatia adoecem muito pouco. Se cada pessoa deve ser tratada com o mesmo remédio, não importa a doença, por que surgiu a homeopatia pluralista? Qual a diferença entre homeopatia unicista e pluralista? A homeopatia, por princípio, é unicista. O remédio único que cobrirá todos os sintomas da pessoa, nas doenças agudas e crônicas. Mas o unicismo nem sempre funciona tão maravilhosamente bem, quanto gostaríamos. Primeiro porque é muito difícil acertar “na mosca” na escolha do medicamento de fundo. Segundo, porquê o paciente, para se tratar com o unicismo, muitas vezes tem que ser uma pessoa que desde pequena já se trata com homeopatia. Ela já estaria acostumada, e seu organismo está muito limpo. Eu, por exemplo, me trato há 30 anos com homeopatia e tenho o meu remédio único, que me equilibra. Mas quando chega no consultório aquele adulto cheio de complicações, que de dia toma remédio para baixar a pressão, de tarde para controlar a úlcera, de noite um Lexotan para dormir... é muito mais difícil. Nesse caso, para que o remédio único funcione, é preciso inicialmente fazer uma drenagem, uma limpeza no organismo, melhorando a função hepática, renal etc. É preciso tirar os bloqueio que o uso regular de certos medicamentos pode trazer. Damos remédios em potência mais baixa, menos energéticas, para atuar como uma faxina. Depois disso é que entra o papel do unicista, com o remédio único, na dose energética, para dar aquele toque que vai equilibrar todo o corpo. Atualmente, os hospitais tanto da rede pública quanto da particular estão cheios de homeopatas. É a prova de que a homeopatia está sendo aceita pela mais diversas camadas? Quando Hahnemann iniciou o seu trabalho, a homeopatia tratava principalmente das elites. E quando esta especialidade chegou ao Brasil, foi a mesma coisa: o Presidente da República, os Ministros etc. É que a ela recorriam. Os hoemopatas tinham um grande poder nessa época. Depois, quando as vacinas, os antiinlamatórios e a anestesia foram desenvolvidos, a homeopatia foi deixada de lado. Ela se restringiu à população que não tinha acesso a essas terapias mais caras. Foi para o interior, para os centros espíritas, onde ficou latente. Caiu em descrédito. Mas, depois, começou a ser uma alternativa efetiva contra os efeitos colaterais das terapias agressivas. Resultado: agora as pessoa mais esclarecidas voltam novamente à homeopatia. Os consultórios dos homeopatas estão cheios! Até os planos de saúde já cobrem consultas de homeopatia. Quais são as perspectivas futuras no campo da homeopatia? A homeopatia é, sem dúvida, a medicina do século XXI, em virtude do fato do holismo, em franca ascensão, tratar o homem como um todo – corpo, mente, sentimento e espírito – dando importância, portanto, à personalidade e à individualidade. E é isso que a homeopatia faz: trata da personalidade, levando em conta a nossa individualidade. E a homeopatia engloba tudo. Você pode tratar desde uma simples torção (em vez de tomar um antiinflamatório, toma, por exemplo, a arnica, que terá um efeito melhor, mais rápido e sem nenhum efeito colateral) até um grande conflito emocional, e ainda permite a prevenção de doenças, equilibrando o organismo. PROCURA-SE UM AMIGO Não precisa se homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Precisa saber calar e falar, sobretudo saber ouvir. Tem que gosta de poesia, da madrugada, de pássaros, do sol, da luz, do canto dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor por alguém, ou então senti falta de ter esse amor. Deve amar o próximo e respeita a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é preciso que seja de primeira mão. Pode já ter sido enganado, pois, todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitário. Deve gostar de criança e lastimar os que não puderam nascer. Procurase um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância. Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, e de deitar no capim. Precisa-se de amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porquê se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se consciência de que ainda se vive. CARTA AO PACIENTE DO SUS Depois de tantas cartas inutilmente escritas para tantas cartas inutilmente escritas para tanta gente e sempre com o mesmo conteúdo, só nos sobrou uma última alternativa, a de escrever-lhe. Não sei se você tem esse hábito de escrever catas, aliás, diga-se de passagem, poucas pessoas ainda guardam o milenar hábito de envelopar sentimentos e notícias. Alías, você não deve ter esquecido que todas as vezes que se manda uma carta dica ima esperança e é de esperança em esperança que vamos conseguindo superar as frustrações e o desestímulo de continuar nessa lua inglória de defender o seu direito a uma saúde digna. Você deve ter observado que chegamos a insustentável condição onde médicos e pacientes coabitam uma atmosfera de desrespeito, não mais à cidadania, mas sobretudo à vida. Gemidos, dores, reclamos, vida que escorrem em nossas mãos sem te como estanca-las. Crianças, jovens e adultos amontoados nos corredores como objetos, num desafio de persistência à vida, compõem a rotina nefasta do nosso dia-a-dia. Não suportamos mais! Hoje, mais do que nunca, precisamos de você. A sua vida não é uma responsabilidade só nossa, é acima de tudo um direito seu, lute por ele. Você também tem obrigação de defender o direito de seu filho, afinal você o trouxe à vida. E aqueles velhinhos frágeis, cansados e doentes que nos passado oram o bálsamo da sua dor? Eles lhe chamam de filho e pedem a Deus por você. Não podem ser esquecido, não podem ser entregues à própria sorte. Outro dia vi na televisão que mais que quinhentas mil pessoas às ruas no rio de Janeiro na caminhada contra a violência e fiquei pensando. O que falta para que o caos da saúde seja considerado um atentado à vida e desta forma a população vai às ruas protestar e exigir uma saúde pública digna? Já vi, e várias ocasiões, o povo na rua. Vi multidões atrás do trio, vi multidões comemorando o tetra, vi multidões pedindo diretas já, vi multidões pedindo o impeachment, vi multidões movidas pela é em penitência rogar a Deus saúde. Mas, confesso em nenhum momento ter visto qualquer aglomerado protestando pelas condições desumanas da saúde pública, que não fosse de profissionais da área e mesmo assim de forma muito tímida e pouco representativa. Tudo isso demonstra uma passividade comprometedora, o que nos torna cúmplice e participe do caos instalado na saúde. Não faz muito tempo que a nação envergonhada ruborizou e escondeu o rosto ante a comunidade internacional, quando expôs seu lado grotesco e desumano nas chacinas da Candelária, Carandiru e Vigário Geral. Ainda ouço discursos inflamados levados pelo mormaço do massacre dos Sem Terra. Em todos estes tristes momentos levantaram-se do seio da sociedade vozes ferozes, inconformadas, implacáveis e sobretudo legítimas rogando e cobrando dos governamentais justiça. Era a pastoral da terra, pastoral carcerária, pastoral da criança. Movimento do direitos humanos, MST, entre outros. Mas você também não esqueceu as dezenas de vítimas da hemodiálise de Caruaru, dos velhinhos da Sta. Genoveva, nem dos quarenta bebês de Fortaleza, não é? E a legião de anônimos que morre desassistidos nas portas dos hospitais ou nas infindáveis filas à espera do remédio, da cirurgia ou do exame que nunca chega ou chega tarde demais? Eu me pergunto: para esse tipo de massacre que voes clamariam por jestiça? Só nos reta você e sua capacidade de se indignar, reivindicar e cobrar dos governante os direitos legítimos do cidadão. Uma grande nação só terá a dimensão de grandeza desejada se construída pelo seu povo, e isso não será tarefa difícil para nós que por mais de uma vez devolvemos as eições democráticas ao Estado. E a primeira ação neste sentido, logo que você sare ou melhore da doença que lhe atormenta, é participar e cobrar o carácter reinvindicatório e fiscalizador dos centros comunitários, fortalecer os conselhos gestores das unidades de saúde, conselhos municipais e estadual de saúde. E não esquecer que os governantes não estão dentro dos Hospitais e Universidades de Saúde, lá estão profissionais que também são povo e sofrem do mesmo descaso. Caro paciente, ninguém mais do que você pode demonstrar o amor pela sua própria vida e pela vida de quem você ama. É preciso resgata sua dignidade e só você pode fazer isso. A coragem tem um preço, por sinal, infinitamente menor que o preço da omissão. Paulo Davim Vice-presidente da AMB e ex-presidente da Associação Médica do RN. Publicado no JANB – Jornal da Associação Médica Brasileira. Ano 38. Janeiro/ Fevereiro de 1997. ÉTICA MÉDICA E AIDS A síndrome da imundefici6encia adquirida (AIDS) não trouxe nenhuma novidade aos conceitos éticos que presidem o exercício da medicina, mas tornou reais, deforma cruel, vários aspectos da aplicação de tais máximas. Outrossim, mostrou as dificuldades para aplicá-las no dia-a-dia, como ainda no uso da camisinha, da atuação dos médicos e serviços de saúde. Destacamos a seguir alguns tópicos, a propósito. - O médico não deve condescender com a ação dos charlatães. AIDS, da mesma maneira que tantas doenças crônicas e sem cura ainda possível pelo meios científicos até hoje documentados, presta-se demais a pseudo-solução ALTERNAIVAS. Nesse contexto, é triste ver que muitos colegas aceitam o uso de bruxarias ou de remédios de fundo de quintal, inclusive porque, teoricamente, “isso não deve fazer nada, ou seja, não faz mal”. Errado, porquanto muito chazinho de bruxa faz mal sim, senhor, e por outro lado, não é lícito compactuar com a maladragem. - O médico não é, no seu trabalho, ainda que em empresas, subserviente ao patrão no sentido de fazer o que ele quer, mais sim constitui profissional que deve exercer atuação com respeito às normas éticas, ainda que vinculado a salário. Assim, por exemplo, não é lícito providenciar, antes da contratação, teste para saber se o candidato está infectado pelo HIV. Igualmente, não é correto infringir o sigilo profissional quando sabe que um funcionário da firma é soropositivo ou doente e passa o informe à administração. -O médico, em qualquer situação, não tem o direito de discriminar quando vigente determinada moléstia. Empresas de seguro-saúde, teoricamente dirigidas por médicos, quase sempre contrapõem-se ao infectados pelo HIV, coibindo o pagamento esperado. Felizmente, a Justiça tem entendido como leonino e não justo tais contratos. Mais curioso ainda é que cooperativas médicas que funcionam como empresas de seguro-saúde também fazem a mesma gracinha. -O médico sistematicamente considerará que há norma ética que proíbe publicidade imoderada. A instrução é meio complicada porque entre divulgação comedida e “marketing” pessoal a fronteira é tênue. De qualquer maneira, é extremamente deselegante, para não falar em ética, que muitas pessoa vivam à custa da AIDS ao lado dos que por causa dela morrem, propondo condutas ou “remédios” sem respaldo científico e fazendo onda promocional. -O médico não pode negar-se a atender paciente com doença contagiosa, amenos que não haja segurança. Contudo, determinados facultativos, essencialmente por desinformação e também por preconceito, recusam-se a conceder assistência a soropositivo ou a enfermo com AIDS. -O médico jamais deve solicitar exame laboratorial sem motivo relevante e, idealmente, sem a permissão do consultante. Porém, a título de ilustração, citamos os que solicitam teste o para anti-HIV em rotina préoperatória, sem pedir autorização, valendo essencialmente a adoção das técnicas de precauções universais, independentemente o resultado do exame mencionado. Aonde chegamos? Na verificação de que a AIDS torna princípio abstratos de ética em eventos reais e cruciais. Talvez, em relação à ática, estejamos repetindo o que sucedeu com a transfusão de sangue: a existência da AIDS fez com que nos preocupássemos com a qualidade do sangue e, finalmente, agora a hemoterapia é muito mais cuidada e segura do que antes dos tempos prévios à nova enfermidade. Vicente Amato Neto, 67, infectologista, é professor titular e chefe do Departamento de Doença infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). Jacyr Pasternak, 53, infectologista, é médico assistente da Divisão de Clínica e Moléstias infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da USP.