UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE BIBLIOTECONOMIA DIRETÓRIO ACADÊMICO DE BIBLIOTECONOMIA XIV Encontro Regional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência da Informação e Gestão da informação Os novos campos da profissão da informação na contemporaneidade 16 a 22 de janeiro de 2011 LITERACIA UM DESAFIO PARA O BIBLIOTECÁRIO .1 Evandro Duarte dos Santos* Mary Caroline Santos Ribeiro** RESUMO O presente trabalho visa demonstrar que a literacia ainda se configura como um novo campo de trabalho para o bibliotecário, que por falta de estudos mais profundos ainda é “terreno gelatinoso” em que as suposições sobre sua definição e a própria metodologia adequada para transformar em dados os aspectos relevantes são escassos e por vezes confusos, entre tantas terminologias. A busca do material já existente sobre o tema, e a correlação com outras áreas de estudo como a Pedagogia e Letras, trás elementos novos para o bibliotecário. Tenta detectar em um primeiro momento a definição mais utilizada e posteriormente tentar encontrar os aspectos de avaliação como o uso da linguagem oral e escrita, os meios sociais para os quais o individuo precisa fazer uso dessas habilidades englobadas de certo modo na literacia. Por fim tenta localizar o bibliotecário nessa vertente educacional; apontando como nós inserir apartir da realidade objetiva do nosso cotidiano profissional levando em consideração as pessoas que trabalham diretamente com áreas da educação desde escolas de nível fundamental até a universidade. O trabalho tenta enriquecer a discussão sobre literacia e dar os primeiros passos rumo a esclarecer os métodos utilizados para fazer a medição dessa habilidade informacional. Palavras-chave: Literacia; Educação- Níveis; Competência informacional. 1 INTRODUÇÃO Os novos tempos vividos pela sociedade contemporânea no tocante ao processo do “boom” informacional das últimas décadas, nós leva a valorização extrema de termos como sociedade da informação, como máximas verdadeiras, esquecendo-se dos processos alheios a esse fenômeno bem como terminologias que vão à contramão desse processo. 1 Trabalho científico de comunicação em pôster, apresentado ao GT 7 – Livre. *Graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Pará, [email protected] **Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Pará, [email protected] Assim abordar o termo literacia dentro desse universo se faz necessário, visto que um novo tipo de “analfabetismo” se recria ante o crescimento exponencial da produção de informação bem como o predomínio crescente no uso dos formatos em meio digital. Sendo assim então qual seria a importância de conhecer a definição, a aplicabilidade social, e meios de fazer a verificação e metrificação desse “distúrbio do conhecimento”, chamando literacia. Então quais seriam os passos para criar um perfil de literacia de uma determinada população, será que eles seriam subordinados aos graus formais de instrução de seu povo, como lidar com parâmetros que sofrem constantes oscilações e ainda determinar segundo o espaço/tempo o nível de exigência da sociedade avaliando a capacidade de uso para desempenho de diversas funções sociais. Em todo esse contexto a maior dificuldade encontrada seria de medir os níveis informacionais de determinado grupo e ver como algumas competências informacionais vão se aperfeiçoando através do processo de experiência adquirida em pesquisa, seleção e avaliação da informação. A literacia ainda se configura como um novo termo que por falta de estudos mais profundos ainda é “terreno gelatinoso” em que as suposições sobre sua definição e a própria metodologia adequada para transformar em dados os aspectos que são relevantes na obtenção de resultados para um panorama final. Tentar detectar em um primeiro momento a definição mais utilizada e posteriormente tentar encontrar os aspectos de avaliação como o uso da linguagem oral e escrita, os meios sociais dos quais o individuo precisa fazer uso dessas habilidades englobadas de certo modo na literacia é um desafio. Fazer um trabalho que enriqueça a discussão sobre literacia é dar os primeiros passos rumo a esclarecer os métodos utilizados para fazer a medição dessas habilidades informacionais. Observando as literaturas existentes em específico o que diz o artigo de (Pinto, 2002) fazendo as análises dos meios sociais em que a literacia pode ser desenvolvida e observada e também toma o termo como que pertencente ao que a autora chama de “narrativa imperfeita de identidade pessoal”. Observa-se ainda a falta de subsídios quem embase metodologicamente como se constroem tais conclusões. Tanto é a escassez de material que fale de literacia que a própria bibliografia é pouca, e os textos encontrados tratam de aspectos variados, ou seja, nem um aspecto da literacia foi até agora estudado por completo ou pelo menos ainda não foi estudado a exaustão. Identificar os meios utilizados até então para a construção desse conceito se faz necessário, pois facilita detectar a literacia e posteriormente agi sobre a clara falta de habilidade dos indivíduos de população X, identificando o porquê da falha e como melhorar os níveis de literacia. Definir o conceito mais usual de literacia, bem como analisar os métodos quantitativos empregados na busca de qualificar a literacia na população em estudo e fazer os recortes dos meios e grupos sociais em que a literacia e empregada como: escola, grupos religiosos e até mesmo os grupos familiares e tarefa que cabe a múltiplos olhares, de variados profissionais. 2 UM POUCO DA HISTÓRIA DA LITERACIA Hoje a bibliografia existente sobre o assunto tem se expandido na Europa, Estados Unidos e mesmo no Brasil, fala-se de literacia familiar, da informação, matemática, financeira, cientifica, enfim o termo apesar de um tanto quanto recente, tem ganhado espaço muito por conta de sua ligação direta com a educação e a vida em sociedade no geral. Assim como os próprios eventos de interessados e pesquisadores do assunto. Um pouco da história da literacia aponta o precursor do termo o americano Paul Zurkowski, em seu relatório de 1974, intitulado “The information service environment relationships and priorities”, usando o termo competência informacional (Information literacy).Em 1976 encontramos menção a Burchinal em artigo apresentado ao Simpósio de Bibliotecas Universitárias da Texas A & M University.Talvez o conceito mais interessante venha do mesmo ano em dois outros autores (Hamelink e Owens) anteviram a information literacy como instrumento de emancipação política, saindo do patamar técnico incluía-se agora a noção dos valores para a cidadania. Os anos 80 são marcados pelos exploradores e a influencia das novas tecnologias da informação A concepção da information literacy com o sentido de capacitação em tecnologia da informação se popularizou, principalmente no ambiente profissional, e começava a ser implementada nas escolas secundárias. Admitia-se a necessidade dessa capacitação, porém não havia ainda programas educacionais estruturados. Esta ênfase na tecnologia da informação restringia a noção do que seria information literacy, dando-lhe uma ênfase instrumental. Todavia, a tecnologia da informação era o foco naquele momento. Várias organizações se estabeleceram nos anos 90, e a information literacy ganhou dimensões universais, disseminando-se nos vários continentes, havendo uma busca constante pela elucidação do conceito, procurando torná-la acessível a um número cada vez maior de pessoas. Os países que mais publicam sobre o tema são Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Canadá e África do Sul.Como demonstrado, influências conceituais que agem sobre a information literacy acabam por determinar diferentes concepções. Examinando a literatura, constata-se a convivência simultânea dessas várias concepções, dependendo da ênfase dada pelos autores, seu contexto e experiência, o que determina diferentes objetivos e atividades. Tais concepções também podem ser definidas como níveis de complexidade, e o começo de uma inclinação de estudar o termo a luz de concepções que envolvem educação e cidadania. 3 A CORRELAÇÃO COM OUTRAS ÁREA DE ESTUDO TRAZENDO NOVOS ELEMENTOS PARA O FAZER DO BIBLIOTECÁRIO O olhar multidisciplinar que algumas temáticas possuem também está presente na discussão sobre literacia, tendo em vista que os próprios sinônimos dados tem forte relação com outras áreas do conhecimento. Um exemplo disso e que o próprio termo competência informacional, tem um peso muito forte para nós bibliotecários assim como letramento, alfabetização, entre outros termos tem forte relação com áreas como pedagogia e letras. Na verdade fazendo um pequeno parêntese para dar um passeio pelo campo semântico da palavra que ainda não caiu no uso comum, palavra ainda pouco conhecida e talvez ainda mal entendida ou ainda não plenamente conhecida pela maioria das pessoas, porque é palavra que entrou na nossa língua a pouco tempo.Hoje as definições ainda se confundem a exemplo o uso do termo letramento para identificar esse fenômeno, na verdade a palavra letramento e uma tradução para o português da palavra inglesa literacy. Os dicionários traduzem assim: literacy: the condition of being literate. littera+cy littera: palavra latina igual a letra -cy:sufixo, indica qualidade,condição,estado. Traduzindo a definição acima, literacy é a “condição de ser letrado” –dando a palavra “letrado” sentido diferente daquela que vem tendo em português . Em inglês o sentido de literate é: literate: educated; especially able to read and write (educado,que tem habilidade de ler e escrever). Nesse contexto, as práticas mais aplicadas ao social e a intervenção direta que propiciaria por assim dizer a modificação dos indivíduos em suas múltiplas vivencias em sociedade. São sempre enfatizadas em tais áreas anteriormente citadas, tendo tais informações em nosso poder poderíamos não só no ambiente escolar/universitário interagir com estes grupos em suas práticas fins, como também oferecer-lhes as nossas produções, afim de que cada um possa colaborar com o fazer do outro. Um exemplo dessa interação se daria no espaço escola principalmente com turmas de EJA (Educação de Jovens e Adultos) e alunos de escolas públicas de curso noturno, pois, esse público costuma ser de pessoas que estão retardatárias no processo padrão de aprendizagem escolar. Ao passo que alguns profissionais trabalhariam os aspectos de criação de condições para o desenvolvimento da fluência no uso de linguagens especializadas e gêneros específicos de determinados meios(comunidades), as nossas práticas de identificação do nível individual de competência informacional bem com a aplicação de atividades lúdicoescolares trariam resultados positivos vistos do prisma da educação. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo que identifica os padrões de reconhecimento da literacia e suas ramificações torna-o um campo em que se pode aventurar, trazendo novas perspectivas para a área biblioteconômica. Ainda assim, definir a terminologia e fazer sua ligação lógica com termos correlatos e tarefa primordial dos bibliotecários, sabendo que, a apropriação de campo que parece tão familiar as nossas práticas, pode ser feita por diversos profissionais, é será, o que é bom, no entanto não podemos perder o foco de nossa atuação. O bibliotecário precisa si ver como educador, criar práticas, ações, que aliadas as técnicas tradicionais de intervenção bibliotecário, possa nos elevar de meros técnicos a formadores, ou melhor, transformadores sociais.A literacia da informação deve ser tratada como nosso foco para tal a metodologia proposta em termo de medição dessa capacidade tem que se adaptada a realidade dos usuários/objeto de estudo por nos bibliotecários. As bibliotecas, sobretudo as escolares, trabalham no alicerce, no pilar educacional, o que dá ao bibliotecário fazendo uso do seu local de trabalho poder para fazer a inclusão social e a equidade na receptação de acesso a informação.O bibliotecário tem grande papel a desempenhar o combate aos baixos níveis de literacia,dependendo da realidade e sociedade com a qual interagi.Altos níveis de literacia informacional serão a contribuição dos bibliotecários para que seu usuários e a sociedade em geral receba sempre pessoas atendidas por nossas ações, que serão pessoas integradas efetivamente na sociedade da informação. LITERACY: a challenge to the librarian ABSTRACT This oral communication aims at showing that Literacy is still a new field of work for librarians. It remains an “unsteady ground” because of the lack of deep investigations on the establishment of its definition and the adequate methodologies to transform relevant aspects into data. The search of existing material on the subject and its correlation with other fields of study, such as Educational Sciences and Linguistics, provides the librarian with new elements. First, we try to present its most common definition; then we try to find the evaluation aspects, such as the use of oral and written language, social means through which the individual use these skills, that are somehow housed in the Literacy field. Finally, we try to place the librarians within this educational area, indicating how they can be inserted based on the objective reality of their daily work and taking into consideration the individuals who work directly in the educational field – from kindergarten to college. This work aims at enhancing the discussion on Literacy and at taking the first steps towards clarifying the methods applied in order to measure this informational skill Keywords: Literacy; Education-Levels; Informational competence REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14724: Informação e documentação. Trabalhos Acadêmicos - Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002. CALIXTO, José António. Literacia da informação: um desafio para as bibliotecas. In: HOMENAGEM ao Professor Doutor José Marques. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2003, p. 39-48. PINTO, Maria da Graça Castro. Da literacia ou de uma narrativa sempre imperfeita de outra identidade pessoal. Revista Portuguesa de Educação, Braga, v.15, n. 2, p. 95-123, jul. 2002. SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2002. TRINDADE, Maria de Nazaret. Literacia: teoria e prática: orientações metodológicas. São Paulo: Cortez, 2002. 167 p. ANEXO A – Caso Tiririca TRE aprova candidatura de reprovados em teste O plenário do Tribunal Regional Eleitoral aprovou ontem a candidatura de 30 políticos que foram reprovados em um teste de alfabetização aplicado pelo juiz eleitoral de Itapetininga, Jairo Sampaio Incane Filho, 38. O juiz havia impugnado as candidaturas de políticos das cidades de Itapetininga, Sarapuí e Alambari, todas na região de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo). Eles tiveram de ler o texto de um suplemento infantil de um jornal e escrever algo sobre o que leram. Incane Filho convocou para esse teste 80 candidatos que afirmaram não ter o primeiro grau completo. Os testes se basearam na lei complementar nº 64/90, de 1992, que proíbe analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos. O TRE reformou a sentença do juiz, considerando que os candidatos tinham "rudimentos" da alfabetização e que, portanto, não poderiam ser considerados analfabetos. para chegar a essa conclusão, os juízes utilizaram a definição do dicionário Aurélio para a palavra "analfabeto. O TRE deverá julgar hoje outros onze recursos apresentados pelos candidatos impugnados daquelas cidades. A plicação de testes de alfabetização é uma orientação do próprio TRE a todos os juízes eleitorais do Estado. Entre os candidatos impugnados pelo juiz Incane Fillho, havia um ex-prefito e seis vereadores. José Luiz Holtz (PSDB), ex-prefeito de Sarapuí, considerou a decisão do juiz de Itapetininga "um absurdo". Seu candidato a vice também foi impugnado. Segundo o juiz Incane Filho, o teste que aplicou não levou em consideração os erros gramaticais, mas apenas a capacidade dos candidatos de entender um texto. "Depois de eleitos, eles terão de trabalhar com leis e documentos", afirmou o juiz. O Tribunal Regional Eleitoral - TRE - foi contrário ao conceito de alfabetização do juiz, considerando que os candidatos reprovados não eram analfabetos porque tinham "rudimentos da alfabetização": Qual o critério do TRE para considerar que os candidatos não eram analfabetos? A definição do dicionário Aurélio para a palavra "analfabeto". Recorde a definição de analfabeto do dicionário Aurélio: analfabeto: que não conhece o alfabeto; que não sabe ler e escrever Portanto: o TRE considerou que os candidatos sabiam ler e escrever (já que tinham alguma ou algumas séries do 1° grau e, embora com dificuldades, enfrentaram os documentos de registro da candidatura), e assim, não eram analfabetos. O juiz eleitoral e o TRE mostraram ter conceitos diferentes de alfabetização: o juiz eleitoral avaliava antes o letramento que a alfabetização dos candidatos - embora desconhecesse o conceito de letramento, preocupava-se com as práticas sociais de leitura e escrita que eles deveriam ter; o TRE avaliou apenas a alfabetização dos candidatos, porque se satisfez com os "rudimentos" de leitura e escrita que tinham, desconhecendo seu nível de letramento, pois não considerou suas habilidades de usar a leitura e a escrita. Esse episódio evidencia: * a imprecisão do conceito de alfabetização - pessoas ou grupos têm conceitos diferentes, o conceito varia de acordo com a situação, com o contexto; * o fenômeno do letramento ainda é pouco percebido em nossa sociedade. ANEXO B - Letramento definido num poema Uma estudante norte-americana, de origem asiática, Kate M. Chong, ao escrever sua história pessoal de letramento, define-o em um poema: O QUE É LETRAMENTO? Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento é diversão é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. São notícias sobre o presidente O tempo, os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. É viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, é rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos. É um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios, para que você não fique perdido. Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser. O poema mostra que letramento é muito mais que alfabetização. Ele expressa muito bem como o letramento é um estado, uma condição: o estado ou condição de quem interage com diferentes portadores de leitura e de escrita, com diferentes gêneros e tipos de leitura e de escrita, com as diferentes funções que a leitura e a escrita desempenham na nossa vida. Enfim: letramento é o estado ou condição de quem se envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e de escrita.