Tipos de nuvens Há muitos tipos diferentes de nuvens e cada tipo está associado a um determinado tipo de tempo atmosférico. Os tipos básicos de nuvens são os estratos, os cúmulos e os cirros. Os estratos são nuvens de aspecto estratificado que cobrem largas faixas horizontais do céu, como um tapete com uma cor cinzenta mais ou menos uniforme. «Stratu» em latim significa «camada» ou «estrato». Formam-se sobretudo na baixa troposfera, em ar estável, e estão associadas a precipitação fraca ou moderada. Desde que a temperatura ambiente não seja demasiado baixa, são compostos por gotículas de água. Os cúmulos são nuvens densas que se formam em ar instável e sobretudo na baixa troposfera e que surgem em blocos ou glóbulos isolados ou agrupados. Quando crescem verticalmente em pilha («cumulus», em latim) até grandes altitudes assinalam trovoadas e tempestades. Os cirros são nuvens que se formam na alta troposfera, compostas por cristais de gelo, que devido à acção dos ventos de grande altitude têm a aparência de novelos muito finos de cabelo branco («cirrus» em latim significa exactamente «cachos de cabelo»). Os cirros estão associadas a tempo agradável. Nuvens a diferentes altitudes (baixas, médias, altas) Nuvens com desenvolvimento vertical Nuvens Baixas Nuvens Médias Nimbostratos Altocúmulos (Ns) (Ac) Estratocúmulos Altostratos (Sc) (As) Estratos (St) Outros tipos de nuvens Nuvens Altas Nuvens com desenvolvimento vertical Cirros (Ci) Cirrocúmulos Cúmulos (Cu) (Cc) Cumulonimbos Cirrostratos (Cb) (Cs) Os rastos de vapor de água condensado são produzidos pela injecção de vapor de água na atmosfera pelos fumos de escape dos motores a jacto. A alta altitude, as temperaturas são suficientemente baixas para fazerem com que as gotículas de água gelem em poucos segundos em vez de se evaporarem. O estado de saturação é atingido e formam-se os cristais de gelo que produzem o rasto. As nuvens onduladas estão associadas a instabilidades causadas por fluxos de ar. Os mammatus são nuvens em forma de sacos, associadas a movimentos descendentes de ar, que se vêm por vezes depois do pior de uma trovoada ter passado. As nuvens orográficas desenvolvem-se pelo elevamento de ar forçado pela topografia da superfície (nas montanhas, por exemplo). Os ventos que fluem contra as encostas das montanhas dão origem a nuvens, em forma de lentilha, conhecidas por nuvens lenticulares (nas pequenas elevações, formam-se estratocúmulos; nas elevações médias - até cerca de 2000m formam-se altocúmulos; e nas altas elevações, altocúmulos). Os pileus são nuvens de contorno suave que cobrem o topo de uma montanha ou uma alta formação de cumulonimbos. Resumo de características massa de ar estável humidade baixa cirros (chuviscos e virgas), cirrostratos, estratos e nevoeiro humidade média altostratos (associados quentes; chuva) a frentes massa com alguma instabilidade pouca humidade cúmulos e cirrocúmulos humidade moderada altocúmulos, estratocúmulos humidade de moderada a alta nimbostratos (associados a frentes quentes ou oclusas; muita chuva) massa de ar com instabilidade, convecção e humidade crescentes cúmulos congestus (associados a frentes frias ou elevação orográfica; cargas de água) cumulonimbos (associados a frentes frias ou elevação orográfica; muitas e grandes cargas de água As nuvens associadas a temperaturas baixas estão a azul e as associadas a temperaturas altas a vermelho. Os cumulonimbos podem estar associados a ambas. As nuvens associadas a frentes As massas de ar são grandes volumes de ar que apresentam horizontalmente características físicas mais ou menos uniformes (uma temperatura e humidade uniformes). Quando uma massa de ar se desloca sobre uma superfície mais fria do que ela, é chamada uma massa de ar quente. Se a superfície está mais quente do que ela, é chamada uma massa de ar frio. Quando uma massa de ar se desloca, a sua parte dianteira passa a ser conhecida por frente. As massas de ar acabam por chocar umas com as outras, normalmente nas latitudes médias, produzindo a maioria dos fenómenos meteorológicos mais interessantes. As frentes são, portanto, zonas de transição entre duas massas de ar com temperaturas e densidades diferentes. frentes frias Uma frente fria é uma zona de transição onde uma massa de ar frio polar, deslocando-se em direcção ao equador, está a substituir uma massa de ar tropical, mais quente e húmido. O ar frio eleva o ar quente à sua frente e este vai arrefecendo à medida que é obrigado a subir. Desde que seja suficientemente húmido, o ar quente condensa formando cúmulos e depois cumulonimbos, que produzem uma frente de trovoadas e cargas de água fortes com rajadas. Os ventos altos soprando nos cristais de gelo no topo dos cumulonimbus geram cirros e cirrostratos que anunciam a frente que se aproxima. Depois de a frente passar, o céu acaba por clarear aparecendo alguns cúmulos de bom tempo (cumulus humilis). Se o ar que se eleva é quente e estável, as nuvens predominantes são estratos e nimbostratos, podendo-se formar nevoeiro na área de chuva. Se o ar for seco e estável, a humidade subirá e aparecerão somente nuvens esparsas, sem precipitação. frentes quentes Uma frente quente é uma zona de transição onde uma massa de ar quente e húmido está a substituir uma massa de ar fria. As frentes quentes deslocam-se do equador para os pólos. Como o ar quente é menos denso que o ar frio, a massa de ar quente sobe por cima da massa de ar mais frio apoiando-se na frente quente, que as separa. Muitas vezes, uma camada de nuvens finas (cirros) é observada a mais de 1000 km à frente da superfície da frente quente (umas 48 horas antes dela chegar a esse local). Depois surgem cirrostratos e altostratos. A uns 300 km antes da frente surgem então estratos e nimbostratos e eventualmente começará a cair uma chuva leve. Depois da frente passar, observam-se cúmulos de bom tempo. A precipitação associada com uma frente quente antecede-a e alguma da água da chuva que cai no ar mais frio pode evaporar-se e saturar o ar, originando o aparecimento de estratos. Por vezes, essas nuvens crescem rapidamente para baixo e podem originar falta de visibilidade. Se a temperatura está mais fria, também podem ocorrer nevoeiros antecedendo a chegada da frente quente As nuvens mais pesadas (cúmulos e cumulonimbos), embora sejam mais comuns nas frentes frias, podem também ocorrer com frentes quentes. Ocasionalmente, quando o ar quente que se eleva é instável e as temperaturas nos dois lados da frente são contrastantes, os cirros podem ser seguidos de cirrocúmulos e depois de cumulonimbos e trovoadas. Os mapas meteorológicos de superfície e os ventos A pressão atmosférica é «o peso da atmosfera» - é a força (o peso) que o ar exerce (por unidade de área) sobre uma superfície. Quando o número de moléculas de ar sobre uma superfície aumenta, aumenta a pressão sobre ela. Nos mapas meteorológicos de superfície estão desenhadas as linhas que unem áreas com igual pressão à superfície - as linhas isobáricas - a partir das quais se podem localizar as áreas de baixas e altas pressões que correspondem a ciclones e anticiclones, respectivamente. São as diferenças de pressão à superfície (o gradiente de pressão devido a diferenças de massa nas camadas de ar por cima dela) que causam o movimento do ar (vento) das altas para as baixas pressões, num esforço para conseguir um equilíbrio. Depois, para um observador na Terra, no Hemisfério Norte, o vento parece desviar-se para a direita do seu caminho (e, no Hemisfério Sul, para a esquerda). Este efeito aumenta com a velocidade do vento e com a latitude, sendo nulo no equador, e deve-se à rotação da Terra. Para um observador na Terra, o vento parece ser desviado por uma força - a «força de Coriolis». A altitudes baixas (até uns 100 metros de altitude), os ventos locais são extremamente influenciados pela superfície, sendo deflectidos por obstáculos e zonas mais rugosas, e a sua direcção resulta da soma dos efeitos globais e locais. Os mapas meteorológicos de superfície e os ventos A pressão atmosférica é «o peso da atmosfera» - é a força (o peso) que o ar exerce (por unidade de área) sobre uma superfície. Quando o número de moléculas de ar sobre uma superfície aumenta, aumenta a pressão sobre ela. Por isso, a pressão diminui geralmente com a altitude porque há menos moléculas de ar em cima. Nos mapas meteorológicos de superfície, os valores da pressão à superfície são corrigidos para valores equivalentes de pressão ao nível das águas do mar (para corrigir os efeitos de variação de pressão com a elevação do terreno). Com base no desenho num mapa das linhas que unem áreas com igual pressão à superfície: as linhas isobáricas, podem-se localizar áreas de baixas e altas pressões que correspondem a ciclones e anticiclones. Uma região de baixas pressões é um local onde a pressão atmosférica é a mais baixa da sua vizinhança. Uma região de altas pressões é um local onde a pressão atmosférica é a mais alta da sua vizinhança. As linhas isóbaras fechadas e circulares mostram os centros de alta pressão (anticiclones), indicados num mapa por «A», em que as isóbaras de valores maiores se situam no centro, e de baixa pressão (depressões ou ciclones), indicados num mapa por «B», em que as isóbaras de valores menores se situam no centro.A distribuição dos sistemas de altas e baixas pressões influencia os padrões de ventos e precipitação. Uma grande diferença de pressão faz com que o ar se mova mais rapidamente, resultando em ventos fortes. Uma diferença menor causa ventos mais fracos. Nos locais onde houver linhas isobáricas mais apertadas entre si os gradientes de pressão serão mais elevados e existirão ventos fortes. São diferenças no aquecimento e movimento da atmosfera que criam diferenças na pressão atmosférica. Onde há massas de ar frio descendente, geram-se regiões de altas pressões. Onde massas de ar quente ascendem, há regiões de baixas pressões. A água dos oceanos mantém uma temperatura mais consistente; arrefece e aquece mais lentamente que a terra. No inverno, os continentes arrefecem mais do que os oceanos e isso cria regiões de altas pressões sobre eles. No verão, acontece o oposto; os continentes aquecem mais e o ar quente ascendente sobre eles gera regiões de baixas pressões sobre eles. Ciclones e Anticiclones Um ciclone (ou depressão ou centro de baixas pressões) é uma região em que ar relativamente quente se eleva e favorece a formação de nuvens e precipitação. Por isso tempo nublado, chuva e vento forte estão normalmente associados a centros de baixas pressões. A instabilidade do ar produz um grande desenvolvimento vertical de nuvens cumuliformes associadas a cargas de água. São indicados num mapa por «B» e são um locais onde a pressão atmosférica é a mais baixa na sua vizinhança e em volta do qual existe um padrão organizado de circulação de ar. À medida que o ar flui dos centros de altas pressões para um centro de baixas pressões, pela acção do diferencial de pressões, é deflectido pela força de Corilolis de tal modo que os ventos circulam em espiral ao longo das isóbaras, com um desvio no sentido da depressão, e na direcção ciclónica, isto é, na direcção oposta ao dos ponteiros de um relógio no Hemisfério Norte e no sentido inverso no Hemisfério Sul. Os ciclones são fáceis de reconhecer num mapa de observações à superfície pelos ventos que tendem a fluir com uma rotação anti-horária (e - «em espiral» - na direcção dele) e nas imagens de satélite pela configuração em forma de vírgula de bandas de nuvens. Um ciclone em desenvolvimento é tipicamente acompanhado (a leste do centro de baixas pressões) por uma frente quente atrás da qual ventos de sul transportam para norte o ar quente e húmido de uma massa de ar quente, contribuindo para a desenvolvimento de precipitação. Atrás do centro de baixas pressões (a Oeste dele), ventos de norte transportam ar mais frio e seco para o sul, com uma frente fria marcando o bordo da frente dessa massa de ar mais fria e seca. Um anticiclone (ou centro de altas pressões) é uma região em que o ar se afunda vindo de cima (e aquece e fica muito estável) e suprime os movimentos ascendentes necessários à formação de nuvens e precipitação. Por isso bom tempo (seco e sem nuvens) está normalmente associados aos anticiclones. São indicados num mapa por «A» e são um locais onde a pressão atmosférica é a mais alta na sua vizinhança. À medida que o ar flui a partir dos centros de altas pressões é deflectido pela força de Corilolis de tal modo que os ventos circulam em volta dele na direcção dos ponteiros de um relógio no Hemisfério Norte (e no sentido inverso no Hemisfério Sul) - a chamada direcção anticiclónica. Num anticiclone o movimento do ar é descendente, em espiral, expandindo-se à superfície, enquanto numa depressão o movimento é ascendente, em espiral, concentrando-se à superfície. O efeito da rotação da Terra nos ventos (Força de Coriolis) São as diferenças de pressão à superfície (o gradiente de pressão devido a diferenças de massa nas camadas de ar por cima dela) que causam o movimento do ar (vento) das altas para as baixas pressões, num esforço para conseguir um equilíbrio. Depois, para um observador na Terra, no Hemisfério Norte, o vento parece desviar-se para a direita do seu caminho (e, no Hemisfério Sul, para a esquerda). Este efeito aumenta com a velocidade do vento e com a latitude, sendo nulo no equador, e deve-se à rotação da Terra. Para um observador na Terra, o vento parece ser desviado por uma força - a força de Coriolis. A força de Coriolis tem uma influência importante no sistema global de circulação atmosférica. O vento geostrófico O fluxo de ar inicialmente move-se perpendicularmente às linhas isóbaras, impulsionado pela força de gradiente de pressão (diferença de pressão / distância). A força de Coriolis só começa a agir uma vez que é iniciado o movimento, desviando o fluxo para a direita (no Hemisfério Norte). Na ausência de outras forças (como o atrito na superfície), à medida que o tempo passa e o vento ganha mais velocidade, a inflexão vai aumentando até que cerca de um dia depois de se ter iniciado o fluxo de ar, o fluxo já terá acelerado o suficiente para que a força de Coriolis fique dirigida exactamente no sentido oposto ao da força de gradiente de pressão, sendo de um valor igual a ela. O fluxo de ar resultante é o chamado vento geostrófico, que é paralelo às linhas isóbaras e tem sempre as baixas pressões à sua esquerda (no Hemisfério Norte). No Hemisfério Norte (Sul), quando um avião voa com vento de cauda, as pressões mais baixas estarão sempre à sua esquerda (direita); Se voa na direção das pressões mais baixas, o vento estará sempre incidindo da esquerda (direita). Na atmosfera real, esse equilíbrio geostrófico (entre a força de gradiente de pressão e a força de Coriolis -no plano horizontal!) só se dá quando o gradiente de pressão é uniforme (linhas isóbaras rectas e paralelas). Quando as isóbaras são curvas ou convergem/divergem, o vento real será mais rápido ou mais lento do que o que corresponderia ao equilíbrio geostrófico. O vento gradiente Na vizinhança de um centro de pressões, as linhas isóbaras são curvas e o gradiente de pressão não é uniforme. O fluxo de ar que roda em torno do centro de pressões é designado por vento gradiente. Há um movimento acelerado, mesmo se a velocidade for constante, e existe uma força centrípeta dirigida para o centro de rotação que representa a diferença entre a força de gradiente de pressão e a força de Coriolis. Numa depressão ciclónica (no Hemisfério Norte), a força de gradiente de pressão está dirigida para o centro e a força de Coriolis para o exterior. A velocidade do vento é menor do que a do vento geostrópico e a força de Coriolis, que depende dela, será mais fraca do que a da força de gradiente de pressão. Como resultado disso, há uma força resultante que assegura a aceleração centrípeta que mantém o ar numa trajectória circular (ou, dito de outro modo, a força resultante da diferença entre a força de gradiente de pressão e a força de Coriolis é exactamente igual e oposta à força centrífuga a que o fluxo fica sujeito, por ser curvo). Num anticiclone, a força de gradiente de pressão está dirigida para fora e a força de Coriolis para o centro. A velocidade do vento é maior do que a do vento geostrópico e a força de Coriolis será mais forte do que a da força de gradiente de pressão. O vento à superfície a convergência e divergência de ar à superfície que origina movimentos ascendentes e descendentes de ar. A efeito da fricção na superfície faz-se sentir apenas na camada mais baixa da atmosfera, até cerca de 1 km de altitude - a chamada camada de fricção. A fricção diminui a velocidade do vento e, consequentemente, a força de Coriolis diminui também. ( Os ventos geostróficos têm uma velocidade cerca de 50% maior que os ventos de superfície, por estarem livres dos efeitos de fricção).O equilíbrio geostrófico é substituído pelo equilíbrio de 3 forças vectoriais:a força de Coriolis, a força de gradiente de pressão e a força de fricção na superfície, que age no sentido directamente oposto ao do vento (a fricão entre o ar e a superfície tendem a atrasar o fluxo e a desviá-lo no sentido das baixas pressões). Devido ao efeito de fricção, os ventos (chamados barostróficos) não soprarão por isso paralelos às isóbaras mas sim ligeiramente inclinados, na direcção das baixas pressões. A inclinação média devida ao efeito da fricção é de cerca de 10º sobre o mar, 45º sobre a terra e 70º em montanhas. Numa depressão ciclónica (no Hemisfério Norte), os ventos convergirão para o centro originando a ascensão de ar, a formação de nuvens, precipitação, etc. Num anticiclone, os ventos divergirão do centro. Para substituir esse ar, formar-se-á uma corrente descendente de ar no centro anticiclónico, originando céu claro e temperaturas mais quentes, à medida que o ar é adiabaticamente comprimido. Note que, embora a força de Coriolis faça com que um objecto em movimento fique sujeito a uma força para a direita (esquerda) da sua trajectória no hemisfério Norte (Sul), isso não quer dizer que dela resulte necessariamente um movimento para a direita (esquerda). Ambas as direcções de rotação estão presentes no Hemisfério Norte, dependendo do fluxo se dar em torno de uma zona de altas pressões (em que a força de gradiente de pressão aponta radialmente para fora) ou em torno de uma zona de baixas pressões (em que a força de gradiente de pressão aponta radialmente para dentro). A rotação, se ocorrer, será o resultado da soma das forças actuantes. E, num fluxo geofísico, como o movimento na atmosfera e nos oceanos, há sempre outra força presente que é a geradora do movimento em si (no caso da atmosfera, nomeadamente, há por isso que considerar também a força do gradiente de pressão). Em torno de uma zona de baixas pressões, embora a força de Coriolis aponte para a direita, a força de gradiente de pressão é ligeiramente superior e é isso que cria a trajectória curva do fluido para a esquerda. ventos locais A altitudes baixas (até uns 100 metros de altitude) os ventos são extremamente influenciados pela superfície, sendo deflectidos por obstáculos e zonas mais rugosas, e a sua direcção resulta da soma dos efeitos globais e locais. No começo do dia, o aquecimento do sol faz com que o ar estagnado no fundo, mais denso e pesado, começe a fluir ao longo das encostas sob a forma de ventos de vales. Quando os ventos globais são fracos, os ventos locais podem dominar. É o caso das brisas marítimas. brisas marítimas Como as massas de terra são aquecidas pelo sol mais rapidamente do que o oceano, o ar em cima delas ascende e cria uma baixa de pressão no solo que atrai o ar mais fresco do mar: o que se chama uma brisa marítima. Ao cair da noite, há muitas vezes um período de calmia durante o qual a temperatura em terra e no mar são iguais. De noite, como o oceano arrefece mais lentamente, a brisa sopra de terra, na direcção oposta, mas é geralmente mais fraca porque a diferença de temperaturas é menor. As monções no sudeste asiático são brisas marítimas de grande escala. Variam a sua direcção entre as estações porque as massas de terra são aquecidas ou arrefecidas mais rapidamente que o mar. (Monções de Verão - do mar para a terra aquecida; Monções de Inverno - da terra mais fria para o mar.) Os ventos Os ventos fluem na atmosfera tendendo a manter um certo equilíbrio de pressões. Os ventos são causados pela diferença de densidade e de pressão, na horizontal, que fazem com que o excesso de moléculas do volume mais denso ou de maior pressão flua na direcção do volume menos denso ou de menor pressão, tentando manter o equilíbrio entre as massas (Note que a densidade do ar varia na razão inversa da temperatura.) A velocidade dos ventos é medida em nós. Um nó = 1,852 km/h = 1 milha náutica (Nm) / h. Quando há variações de velocidade de pelo menos 10 nós/20 segundos, consideram-se «ventos de rajada» (que, à superfície, podem ocorrer à tarde, em dias muito quentes, mas estão geralmente associados a trovoadas próximas). Quando os ventos variam em direcção são ditos «variáveis». As gotas de chuva As gotas de chuva não se parecem nada com lágrimas. As mais pequenas, com menos de 1mm de raio, são esféricas. As que crescem mais, começam-se a deformar na parte de baixo, porque a pressão do ar puxando para cima na queda começa a conseguir contrariar a tensão superficial que a tenta manter esférica. Quando o raio excede cerca de 4 mm, o buraco interior cresce tanto que a gota, antes de se partir em gotas mais pequenas, fica com uma forma que quase parece um pára-quedas: a forma de um saco de paredes finas voltado para baixo, com um anel mais grosso de água em roda da abertura inferior. As gotas de chuva são muito maiores do que as gotículas das nuvens que são geralmente menores que 15 mícron de tamanho e podem ficar suspensas no ar por muito tempo. Como são muito maiores e mais pesadas, as gotas de chuva não ficam suspensas no ar e dão origem à precipitação. Precipitação As gotículas de água das nuvens são suficientemente pequenas (com diâmetros que podem ir de 1 a 30 mícron) para se manterem suspensas na atmosfera. As partículas de maior peso e dimensão (com diâmetros entre 0,2 a 5 mm) que dão origem à precipitação são geradas pelo efeito combinado do processo de crescimento dos cristais de gelo e da colisão e fusão de gotículas. Embora em menor número, os cristais de gelo crescem muito rapidamente à custa das gotículas presentes. É um processo muito eficiente porque há muitas gotículas para «alimentar» cada cristal. À medida que crescem, os cristais vão ficando mais pesados e caiem em direcção ao solo, sob a acção da gravidade, quando o seu peso já não pode ser suportado pelos movimentos de ar ascendente. O tipo de precipitação que chega ao solo (chuva, granizo, chuva gelada, neve, etc.) depende do tipo de processos dentro da nuvem mas também da temperatura do ar entre a base da nuvem e o solo. Pequenas variações de temperatura (décimos de grau) podem implicar a diferença entre chuva, chuva gelada, saraiva ou neve. A maior parte da precipitação que chega ao solo começa como neve alta na atmosfera. Os flocos de neve são compostos por cristais de gelo parcialmente derretidos, por entrarem em contacto com ar mais quente, e colados uns aos outros. Se a temperatura no solo for mais baixa do que 0ºC, cairá neve no solo. Se a temperatura no solo for superior a 0ºC, a neve derreterá na atmosfera, à altitude a que ocorrer a temperatura de degelo, e transformar-se-á em gotas de chuva que irão crescendo, por colisão e fusão, até se precipitarem no solo. Se, numa camada de ar perto da superfície, a temperatura estiver abaixo de 0ºC, a gota congelará outra vez, formando chuva gelada, na qual, desde que a camada de ar frio não seja demasiado fina, estarão misturados alguns flocos de neve ou gotas de chuva parcialmente congeladas que saltam ao baterem no solo ou noutros objectos - a chamada saraiva. No entanto, nem sempre a chuva tem origem em cristais de gelo; a chuva pode desenvolver-se a partir de gotículas de nuvem que crescem e se tornam demasiado pesadas para permanecerem na nuvem e caiem. PRECIPITAÇÃO As gotículas de água que se formam por condensação crescem porque há núcleos de condensação que são higroscópicos (atraem água). (A simples saturação do ar não garantiria o seu crescimento. Só se o ambiente estiver supersaturado (humidade relativa maior do que 100%) - o que é raro acontecer - as gotículas crescem. Mas, mesmo assim, só ao fim de 20 a 120 minutos os processos de condensação e deposição podem gerar uma gotícula de nuvem (de 1 a 30 mícron de diâmetro). E ter-se-ia de esperar quase eternamente para que estes processos gerassem uma partícula de precipitação suficientemente pesada para cair (de 0,2 a 5 mm de diâmetro). São o efeito combinado da colisão e fusão de gotículas e do processo de crescimento de cristais de gelo que asseguram o crescimento das partículas de precipitação a partir das gotículas. processo de crescimento de cristais de gelo A maioria da precipitação tem origem em nuvens cumuliformes onde a temperatura está abaixo de 0ºC. Mesmo a essas temperaturas, existem pequenas gotículas de água (dita superarrefecida). Isto deve-se ao facto de as moléculas de vapor de água precisarem de superfícies sobre as quais condensar (ou gelar) e haver poucos núcleos de congelação numa nuvem típica. As gotículas de água superarrefecida andam «à procura» de algo sobre que gelar. (Só se a temperatura descer até pelo menos uns 40º C se poderá dar a chamada nucleação expontânea e elas gelarão sem a presença de núcleos de congelação.) Os cristais de gelo numa nuvem fria vão crescendo muito rapidamente à custa das gotículas superarrefecidas. É um processo muito eficiente porque há muitas mais gotículas superarrefecidas do que cristais numa nuvem típica e, por isso, há muitas gotículas para «alimentar» cada cristal. À medida que crescem, os cristais vão ficando mais pesados e, quando o seu peso já não pode ser suportado pelo movimento da coluna ascendente de ar, caiem em direcção ao solo. Se ao caírem atravessarem zonas em que a temperatura do ar esteja acima de 0ºC, transformar-se-ão em gotas de chuva que irão crescendo, por colisão e a fusão. tipos de precipitação O tipo de precipitação que chega ao solo (chuva, granizo, chuva gelada, neve, etc.) depende do tipo de processos dentro da nuvem mas também da temperatura do ar entre a base da nuvem e o solo. Pequenas variações de temperatura (décimos de grau) podem implicar a diferença entre chuva, chuva gelada, saraiva ou neve. Se, no seu caminho para o solo, os cristais de gelo encontrarem sempre temperaturas negativas até à superfície, a precipitação no solo será geralmente sob a forma de neve. Os flocos de neve são compostos por cristais de gelo parcialmente derretidos (ao entrarem em contacto com ar mais quente) e colados uns aos outros Se, no seu caminho para o solo, as temperaturas ficarem positivas, os flocos de neve derretem e transformam-se em gotas de chuva. Se as temperaturas continuarem positivas até à superfície e o ar estiver suficientemente húmido, a precipitação no solo será chuva. Se entre a base da nuvem e a superfície o ar estiver pouco húmido, as gotas de chuva podem-se evaporar antes de chegar ao solo, formando aquilo a que se chama uma virga, que é um véu de chuva por baixo de uma nuvem que não chega ao solo. No entanto, nem sempre a chuva tem origem em cristais de gelo; a chuva pode desenvolver-se a partir de gotículas de nuvem que crescem e se tornam demasiado pesadas para permanecerem na nuvem e caiem. Se, numa camada de ar perto da superfície, a temperatura estiver abaixo de 0ºC, a gota congelará outra vez, formando chuva gelada, na qual, desde que a camada de ar frio não seja demasiado fina, estarão misturados alguns flocos de neve ou gotas de chuva parcialmente congeladas que saltam ao baterem no solo ou noutros objectos - a chamada saraiva. À medida que os cristais de gelo caiem através de uma nuvem contendo gotículas de água superarrefecida, estas podem congelar em cima deles por um processo de acumulação (acreção). As partículas que resultam desse processo podem eventualmente chegar ao solo se as temperaturas forem muito baixas (graupel) mas, nas trovoadas mais intensas, acabam por ser transportadas para o topo dos cumulonimbos pelas fortes correntes ascendentes, caindo depois de novo, em direcção ao solo. Ao caírem, crescem de novo por acumulação até chegarem à base da nuvem e algumas voltam então a ser transportadas para o topo pelas correntes ascendentes de ar. Este ciclo pode-se repetir várias vezes e os grânulos resultantes vão crescendo camada a camada. Quanto mais fortes forem as correntes ascendentes, mais vezes este ciclo se repetirá para cada grânulo e mais ele crescerá. Quando um grânulo se torna demasiado pesado, cai da nuvem e acelera sob a acção da gravidade em direcção à superfície. Mesmo que a temperatura do ar esteja relativamente elevada, os grânulos não se chegam a derreter porque o tempo curto em que atravessam o ar quente debaixo da trovoada não é suficiente para poderem derreter antes de cair no solo. Por isso, o que acaba por cair na superfície são grânulos de gelo, no estado amorfo, que se precipitam com violência no solo - o chamado granizo. Se as temperaturas de uma nuvem até ao solo forem todas negativas (abaixo de 0ºC), cairá geralmente neve. No entanto, se as temperaturas no interior das nuvens estiverem a cima de -10ºC (o que se pode dever eventualmente ao crescimento da temperatura por cima da nuvem por chegada de uma massa de ar quente), a nuvem geralmente não terá cristais de gelo e cairá chuva gelada resultante do processo de crescimento de gotas superarrefecidas por colisão e fusão (coalescência) - o chamado processo de superarrefecimento de chuva quente. (Quando existem cristais de gelo, as partículas de precipitação crescem pelo processo de crescimento de cristais de gelo, produzindo neve e não chuva gelada). Geada A Geada é uma camada, fina e opaca, composta por cristais de gelo formados por sublimação, quando o vapor d'água entra em contacto com uma superfície muito fria. NOTA: Por vezes, ouve-se dizer que chove porque o ar arrefece e o ar frio «não consegue carregar» tanto vapor de água como o ar quente. O que é verdade é que "o ar quente contem mais vapor de água na saturação do que o ar frio". Se ar húmido (ou seja, ar que contem muito vapor de água) arrefecer e a sua temperatura descer abaixo do chamado «ponto de orvalho» (que corresponde à situação em que o vapor que já contém corresponde ao máximo que pode existir a essa temperatura e pressão), a humidade (o vapor) tem que ser removida por condensação ou sublimação e podem começar a formar-se nuvens. Chove quando o peso das moléculas agregadas por ligações químicas (na fase líquida ou sólida) é suficiente para vencer a sua energia cinética e as faz precipitarem-se para o solo. TROVOADAS Para uma trovoada se formar é necessário que exista elevação de ar húmido numa atmosfera instável. A atmosfera fica instável quando as condições são tais que uma bolha de ar quente em ascensão pode continuar a subir porque continua mais quente do que o ar ambiente. (A elevação do ar quente é um mecanismo que tenta restabelecer a estabilidade. Do mesmo modo, o ar mais frio tende a descer e a afundar-se enquanto se mantiver mais frio do que o ar na sua vizinhança.) Se elevação de ar é suficientemente forte, o ar arrefece (adiabaticamente) até temperaturas abaixo do ponto de orvalho e condensa, libertando calor latente que promove a elevação do ar e «alimenta» a trovoada. Formam-se cumulonimbos isolados com grande desenvolvimento vertical (podendo ir até 10 ou 18 mil metros de altitude) alimentado pelas correntes ascendentes de ar. É geralmente associados a esses cumulonimbos que se dão os intensos fenómenos em que consiste uma trovoada: relâmpagos, trovões, rajadas de vento, inundações, granizo e, possivelmente, tornados. As trovoadas podem-se formar no interior das massas de ar (a partir da elevação do ar por convecção - comum em terra nas tarde de Verão - quando o aquecimento da superfície atinge o seu pico - e sobre o mar nas madrugadas de inverno, quando as águas estão relativamente quentes); por efeito orográfico - (a barlavento das grandes montanhas) ou estar associadas a frentes - sendo mais intensas no caso das frentes frias. Na vida de uma trovoada ordinária (formada por convecção a partir de uma massa de ar) estão usualmente presentes 3 fases (cada uma durante tipicamente de 15 a 30 minutos): 1. Nascimento: as correntes ascendentes de ar levam à formação de cumulonimbos. Surgem as primeiras cargas de água mas ainda não ocorrem relâmpagos. No topo da nuvem o processo de crescimento de cristais de gelo começa a produzir grandes partículas de precipitação. Maturidade: o crescimento vertical atinge o seu máximo e os topos das nuvens ficam achatados com a forma característica de uma bigorna. Usualmente isto dá-se quando o ar ascendente encontra uma inversão 2. de temperatura estável (por exemplo, o ar mais quente da tropopausa). Os ventos predominantes em altitude começam a espalhar cirros a partir do topo das nuvens. As bases dianteiras ficam mais baixas e os relâmpagos começam a ocorrer em toda a extensão das nuvens. No interior das nuvens a turbulência é intensa e irregular, com equilíbrio entre correntes ascendentes e descendentes. O peso das partículas de precipitação já é suficiente para contrariar as correntes ascendentes e começam a cair, arrastando o ar em volta consigo. À medida que as partículas de precipitação caiem nas regiões mais quentes da nuvem, há ar seco do ambiente que entra na nuvem e pode originar a evaporação dessas partículas. A evaporação esfria o ar, tornando-o mais denso e «pesado». É todo este ar frio que cai através da nuvem com a precipitação que forma a corrente descendente de ar que, quando bate na superfície se pode espalhar, formando uma frente de rajada que vai deslocando e substituindo o ar mais quente da superfície. Nesta fase a trovoada produz ventos fortes, relâmpagos e precipitação forte. 3. Dissipação: as nuvens começam-se a espalhar para os lados, em camadas. E as correntes frias descendentes tornam-se predominantes. O ar frio substitui o ar mais quente da superfície, «desligando» os movimentos ascendentes dentro da trovoada. Nesta fase já só há correntes descendentes fracas e fraca precipitação. Sobram apenas muitos altostratos e cirrostratos que podem até contribuir, com a sua sombra, para diminuir o aquecimento da superfície. As trovoadas mais fortes são geradas quando ar quente e húmido sobe rapidamente, com velocidades que podem chegar aos 160 km por hora, até altitudes mais elevadas e mais frias. Em cada momento há na ordem de 2000 trovoadas em progresso sobre a superfície da Terra. Os relâmpagos surgem quando as partículas de gelo ou neve de uma nuvem começam a cair de grande altitude em direcção à superfície e correspondem à libertação de energia devida à diferença de carga entre as partículas. Os trovões são o ruído que os relâmpagos fazem quando viajam pelo ar. o granizo das trovoadas À medida que os cristais de gelo caiem através de uma nuvem contendo gotículas de água superarrefecida, estas podem congelar em cima deles por um processo de acumulação (acreção). As partículas que resultam desse processo podem eventualmente chegar ao solo se as temperaturas forem muito baixas mas, nas trovoadas mais intensas, acabam por ser transportadas para o topo dos cumulonimbos pelas fortes correntes de ar ascendente, caindo depois de novo, em direcção ao solo. Ao caírem, crescem de novo por acumulação até chegarem à base da nuvem e algumas voltam então a ser transportadas para o topo pelas correntes ascendentes de ar. Este ciclo pode-se repetir várias vezes e os grânulos resultantes vão crescendo camada a camada. Quanto mais fortes forem as correntes ascendentes, mais vezes este ciclo se repetirá para cada grânulo e mais ele crescerá. Quando um grânulo se torna demasiado pesado, cai da nuvem e acelera sob a acção da gravidade em direcção à superfície. Mesmo que a temperatura do ar esteja relativamente elevada, os grânulos não se chegam a derreter porque o tempo curto em que atravessam o ar quente debaixo da trovoada não é suficiente para poderem derreter antes de cair no solo. Por isso, o que acaba por cair na superfície são grânulos de gelo, no estado amorfo, que se precipitam com violência no solo - o chamado granizo. Raios e Relâmpagos Os relâmpagos são descargas eléctricas que ocorrem dentro de uma nuvem, entre duas nuvens, entre uma nuvem e a atmosfera, ou entre uma nuvem e o solo (os chamados «raios», que representam tipicamente 20% das descargas). Os relâmpagos verticais normalmente predominam na parte da frente de uma trovoada e os horizontais na parte de trás. Os relâmpagos, que estão sempre presentes em qualquer trovoada, aquecem localmente o ar até temperaturas muito elevadas (podem chegar aos 30000°C). Esse aquecimento causa a expansão explosiva do ar ao longo da descarga eléctrica, resultando numa violenta onda de pressão, composta de compressão e rarefacção, que os nossos ouvidos ouvem como um trovão. Uma trovoada típica produz três ou quatro descargas por minuto. Quando a atmosfera está estável, o seu campo eléctrico é caracterizado por uma carga negativa na superfície e uma carga positiva na alta atmosfera. Os raios ocorrem quando dentro de um cumulonimbo surgem regiões separadas com cargas eléctricas opostas. As partículas de carga positiva mais leves são elevadas para o topo pelas correntes de ar ascendentes e as de carga negativa, que são maiores, caiem para a base da nuvem. As regiões com cargas eléctricas opostas aparecem, por exemplo, quando partículas de gelo (como granizos) caiem sobre uma região em que há gotas liquidas superarrefecidas e cristais de gelo. As gotas congelam quando colidem com cristais de gelo e libertam calor latente que faz com que a superfície das partículas de gelo se mantenha mais quente do que os cristais de gelo à sua volta. Isso faz com que se dê uma transferência de iões positivos das partículas de gelo «quentes» para os cristais de gelo. As partículas de gelo ficam com carga negativa e os cristais de gelo com carga positiva. Os cristais de gelo, mais leves e com carga positiva, são elevadas para o topo pelas correntes de ar ascendentes e as partículas de gelo (como granizos), mais pesados e com carga negativa, caiem para a base da nuvem. Como cargas opostas se atraem, uma carga positiva é induzida no solo (no cimo dos objectos altos observa-se, por vezes, o Fogo de St. Elmo: um brilho devido à concentração de carga positiva). O campo eléctrico resultante vai crescendo até que atinge um valor crítico a partir do qual cai um raio (um relâmpago nuvem-solo). Uma primeira vaga de electrões é lançada para a base da nuvem e depois em direcção ao solo colidindo com moléculas de ar que ionizam, formando um canal condutor que facilita o trajecto de outros electrões. A vaga de electrões percorre 50 a 100 metros, pára uns 50 microsegundos, voltando depois a percorrer novamente uns outros 50 metros. A forma bifurcada do caminho da corrente de electrões resulta do facto de haver pequenas variações na resistência do ar. A vaga de electrões, no seu caminho para o solo, vai escolhendo os caminhos de menor resistência do ar. O canal condutor vai assim crescendo até que se aproxima do solo e se começa a levantar deste uma corrente de carga positiva que vem ao seu encontro. Quando se dá o encontro, um grande número de electrões fluem para o solo e uma maior e já perfeitamente visível descarga de retorno, brilhante e intensa, com muitos centímetros de diâmetro, ascende para a nuvem (em cerca de 10 milisegundos) seguindo o mesmo trajecto ionizado. Frequentemente as descargas repetem-se no mesmo canal ionizado em intervalos de mais ou menos 1 milisegundo. Tipicamente, o flash de um raio dura cerca de um segundo mas contem pelo menos três ou quatro descargas descendentes seguidas de descargas de retorno de que os nossos olhos só se podem vagamente aperceber. É isso que o faz parece tremer. PS: Não se conhece a causa de um outro tipo de relâmpagos - As Bolas de Fogo - que são esferas luminosas (vermelhas, amarelas, azuis, laranjas ou brancas) de 1 cm a 2 m de diâmetro que normalmente ocorrem perto das trovoadas. Podem cair do céu e entrar em casas pelas janelas ou tomadas eléctricas. trovoadas severas Consideram-se trovoadas severas as que produzem ventos de rajada com mais de 50 nós (92 km/h) e (ou) granizo com mais de 2 cm de diâmetro (a velocidade do vento é medida em nós (=milhas náuticas/ hora) e um nó são 1,852 km/h.) As correntes de ar ascendentes, com mais de 65 km/h, são suficientemente fortes para manter granizos suspenso na nuvem o tempo suficiente para os mesmos crescerem e caírem depois na base da nuvem ou serem lançados para o lado pela corrente de ar ascendente (durante o dia, pode notar-se na nuvem uma coloração verde na área do granizo). São trovoadas em que a fase de maturidade dura mais tempo do que o habitual. Quanto tempo dura, depende da força das correntes de ar ascendentes e descendentes, que dependem, por sua vez, da humidade do ar à superfície, da instabilidade do ar e de como os ventos de altitude interferem com a trovoada. A evaporação da água das fortes chuvadas esfria o ar, tornando-o mais denso e «pesado», o que resulta num aumento da pressão atmosférica. O ar frio que cai forma a corrente descendente de ar que se espalha lateralmente depois de atingir o solo. O ar frio age como uma cunha e força o ar húmido e quente a subir, de um modo semelhante a uma frente fria, realimentando a corrente de ar ascendente e contribuindo assim para ir mantendo a trovoada activa, por vezes, por muitas horas. A linha demarcadora que é formada entre a corrente fria de ar descendente e o ar quente da superfície, adiante das trovoadas, chama-se frente de rajada e caracteriza-se por ventos fortes e tempestuosos com velocidades que chegam a atingir mais de 100km/h (tornando perigosas as operações de aterragem e descolagem de aviões). O abaixamento de temperatura do ar à superfície pode perdurar por várias horas, mesmo depois do final da trovoada. A formação de trovoadas (sobretudo as severas) é favorecida pelo encontro de uma massa de ar húmido e quente com uma massa de ar mais fria e seca. As trovoadas severas são mais comuns na Primavera e no Verão quando o aquecimento da superfície durante o dia é mais forte. São pouco prováveis nos locais próximos de oceanos mais frios porque o ar é menos húmido e há, por isso, menos «combustível» para alimentar trovoadas. Nas latitudes médias, a maioria das trovoadas severas ocorrem ao longo ou antes de frentes frias, onde o ar quente se eleva e condensa, libertando calor latente e tornando o ar instável. Isso origina o crescimento vertical das nuvens (que pode alcançar mais de 18 quilómetros acima da superfície) que leva ao desenvolvimento de trovoadas severas, sobretudo quando há um grande contraste de temperatura entre as duas massas de ar e quando na alta troposfera o gradiente de pressão origina uma forte corrente de jacto paralela à frente, cuja divergência favorece a ascensão do ar. As trovoadas mais severas ocorrem quando há um aumento da velocidade dos ventos horizontais com a altitude («vertical shear»). Nessas condições, as trovoadas têm tendência para ficar inclinadas na direcção do ventos. A inclinação da corrente ascendente faz com que a precipitação não caia na região de ar ascendente em que se formou, deslocando para a frente da trovoada a corrente de ar descendente e a frente de rajadas à superfície. Deste modo, a corrente de ar frio descendente não «corta» a massa de ar quente que alimenta a trovoada e a frente de rajadas pode gerar novas células de trovada; é o que acontece nas trovoadas multicelulares. As trovoadas que ocorrem com fracas mudanças de ventos na vertical não duram tanto tempo porque a corrente de ar descendente corta a corrente de ar ascendente pela parte de baixo - são as chamadas trovoadas de impulso ou de pancada. trovoadas multicelulares Chama-se «célula» ao conjunto de duas correntes de ar - uma ascendente e outra descendente - presentes dentro de uma trovoada em maturação. Uma trovoada com uma única célula geralmente não dura mais que uma meia hora e não produz tempo muito severo. As trovoadas severas mais comuns são as trovoadas multicelulares em que há várias células que se movem como uma única, estando cada célula numa fase diferente de desenvolvimento. Novas células nascem do lado da corrente de ar ascendente enquanto as do lado da corrente de ar descendente se vão dissipando. Cada uma das célula vai, por sua vez, sendo a célula dominante. As trovoadas multicelulares formam-se quando a corrente de ar frio descendente de uma célula, ao atingir a superfície, força o ar húmido e quente a elevar-se e a ir gradualmente formando uma nova célula. As novas células tendem a formar-se à frente das células maduras, ao mesmo tempo que há células que se vão dissipando atrás delas. Podem produzir rajadas de ar muito fortes perto do solo e são mais severas quando estão bem organizadas do que quando são um simples conglomerado de células individuais. Por vezes, como se vê nas fotografias seguintes, uma trovoada multicelular evolui de tal modo que a corrente inclinada de ar ascendente se torna mais forte e consegue assumir um caracter mais vertical, podendo começar a cair algum granizo e acabar por surgir uma única supercélula. Depressões tropicais, tempestades tropicais e furacões Em certas circunstâncias, um grupo de trovoadas organiza-se como uma depressão tropical, ou seja, aparece uma circulação organizada em sentido ciclónico (na direcção oposta aos ponteiros de um relógio no Hemisfério Norte e no sentido inverso no Hemisfério Sul) com ventos que vão de 36 a 62 km/h, em torno de um centro de baixas pressões. Se os ventos se intensificam (de 63 a118 km/h), numa questão de um ou dois dias a circulação torna-se mais nítida e circular e surge uma tempestade tropical que origina chuvas fortes e à qual é dada o nome seguinte de uma lista preestabelecida de nomes (nomes de homem e mulher alternadamente, em ordem alfabética. Como exemplo, segue-se a lista de nomes para as tempestades no Atlântico em 2001: Allison, Barry, Chantal, Dean, Erin, Felix, Gabrielle, Humberto, Iris, Jerry, Karen, Lorenzo, Michelle, Noel, Olga, Pablo, Rebekah, Sebastian, Tanya, Van, Wendy.) Se a pressão continua a baixar (podendo descer até 870 mb) e os ventos excedem 118 km/h, desenvolve-se um olho no centro e uma rotação cada vez mais nítida em torno dele e a tempestade torna-se num furacão. Os furacões Os furacões são ciclones tropicais intensos com ventos máximos constantes de 118 km/h ou mais (e velocidades máximas de rajadas de ventos que raramente excedem 370 km/h) e com um diâmetro que é em média de 600 km mas pode ir até aos 1500 km. Surgem sobre as águas quentes dos trópicos (entre 5º e 15º de latitude) e cobrem áreas muito vastas. São colunas de ar em rotação que podem durar algumas semanas e cuja potência provém das águas quentes dos oceanos. Libertam grandes quantidades de energia e transportam grandes quantidades de ar húmido e quente (até 3500 milhões de toneladas por hora) das latitudes baixas para as latitudes médias. Perdem rapidamente a sua força e intensidade ao entrarem em terra ou em águas frias. Para um furacão se formar e subsistir, a água dos oceanos tem que estar a mais de 26,5ºC até uma profundidade de cerca de 50 metros (para fornecer a humidade necessária) e tem que existir uma humidade relativa elevada na baixa e média troposfera (para reduzir a evaporação nas nuvens e maximizar a quantidade de precipitação e assim promover a concentração do calor latente, que é crítica para alimentar o sistema) Para além da águas quentes, tem que existir uma área de baixas pressões na zona. Na animação que se segue vê-se um cavado de pressão (a vermelho) gerado pelo encontro de dois sistemas de ventos, no hemisfério sul. Em cima chegam os ventos da monção de noroeste e em baixo chegam os ventos alísios vindos de sudeste. Desde que a velocidade ou direcção dos ventos não varie demasiado com a altitude, a aceleração de Coriolis faz com que o cavado de pressão se torne uma zona favorável para o aparecimento de uma rotação ciclónica de grande escala que pode levar ao nascimento de furacões. Quando o vapor de água condensa, liberta calor latente para a atmosfera e aquece-a na sua vizinhança. O ar quente é menos denso que o ar frio e por isso ocupa mais espaço e expande-se. É esta expansão, que força o afastamento do ar do centro da trovoada, que provoca a diminuição da pressão atmosférica à superfície (diminuição do peso do ar sobre a superfície). A diminuição da pressão atmosférica faz com que mais ar convirja no centro e mais ar húmido se eleve e condense formando nuvens, libertando ainda mais calor latente. Desde que a velocidade ou direcção dos ventos não varie demasiado com a altitude, este ciclo que se repete vai intensificando cada vez mais a trovoada. Uma rotação pronunciada desenvolve-se ao redor do centro (o olho) do furacão, com zonas de nuvens convectivas em que caiem cargas de água separadas por áreas de ar descendente (onde por vezes não cai precipitação). Normalmente chove mais tempo e mais intensamente à medida que se caminha da periferia do furacão em direcção ao olho. Na parede do olho, o ar ascendente que condensa forma um círculo de trovoadas intensas (que se pode estender até perto de 15 km de altitude) que giram em torno do centro do furacão e onde ocorrem os ventos e as chuvas mais intensas (até 25 centímetros por hora). Dentro das trovoadas da parede do olho, o ar aquece por causa da grande quantidade de calor latente libertado e expande-se, criando, por cima dele, uma zona local de mais alta pressão que faz com que o ar se mova para as regiões com mais baixa pressão à sua volta. Esta divergência de ar (que na alta atmosfera é também em espiral mas no sentido anticiclónico) faz com que o ar por baixo seja sugado para cima, fazendo descer a pressão à superfície, e desça depois na zona do olho e nas áreas de ar descendente que separam as nuvens. No olho, não há trovoadas por causa do efeito de compressão do ar descendente. As temperaturas no olho podem ser 8° a 10° C mais elevadas do que nas áreas em redor. A pressão, que pode ser de uns 1010 mb na periferia, desce até uns 950 mb no olho. Os ventos crescem até à parede do olho e depois desaparecem «de repente» dentro dele. Enquanto a divergência do ar no topo é maior do que a convergência na superfície, o furacão intensifica-se e a pressão na superfície continua a cair. Quando os furacões entram em terra, a fricção na superfície faz com que os ventos diminuam a sua força e se comecem a dirigir directamente para o centro, causando a elevação da pressão no centro. Quando a convergência na superfície excede a divergência no alto, a pressão na superfície começa a aumentar e a trovoada cessa. O nome furacão é usado para os ciclones que se formam no nordeste do Atlântico e no leste do Pacífico Norte. O nome tufão é usado no Pacífico Norte e o de ciclone na Índia e Austrália. Numa região estreita perto do equador (5ºN - 5ºS), embora a temperatura dos oceanos seja suficientemente elevada e existam trovoadas, não se formam ciclones tropicais porque a força de Coriolis não é suficientemente grande. As nuvens, o aquecimento global e o efeito de estufa O efeito de estufa O efeito de estufa é um processo que faz com que a temperatura da Terra seja maior do que a que seria na ausência de atmosfera. O efeito de estufa é uma coisa boa. Sem ele a vida, como a conhecemos, não poderia existir. O que se pode tornar catastrófico é um aumento do efeito de estufa que desestabilize o equilíbrio energético no planeta e origine o aquecimento global do planeta. Os gases «de estufa» (vapor de água, dióxido de carbono- CO2, ozono, CFC´s) absorvem alguma da radiação infravermelha emitida pela superfície da Terra e radiam por sua vez alguma da energia absorvida de volta para a superfície. Como resultado, a superfície recebe quase o dobro de energia da atmosfera do que a que recebe do Sol e a superfície fica cerca de 30ºC mais quente do que estaria sem a presença dos gases «de estufa». O nome «efeito de estufa» é um nome infeliz porque a atmosfera não se comporta como uma estufa (ou como um cobertor). Numa estufa, o aquecimento dá-se essencialmente porque a convecção é suprimida. Não há troca de ar entre o interior e o exterior. (Ouve-se dizer que um carro ao sol com as janelas fechadas ou uma estufa aquecem porque a radiação visível (a luz) consegue passar pelas janelas e a radiação infravermelha não. De facto, esse facto tem uma influência mínima no fenómeno.) Ora acontece que a atmosfera facilita a convecção e não armazena calor: em média, a temperatura da atmosfera é constante e a energia absorvida transforma-se imediatamente na energia cinética e potencial das moléculas que existem na atmosfera. A atmosfera não reflecte a energia radiada pela Terra. Os seus gases, principalmente o dióxido de carbono (CO2), absorvem-na. E se radia, é apenas porque tem uma temperatura finita e não por ter recebido radiação. A radiação que emite nada tem que ver com a que foi absorvida. Tem um espectro completamente diferente. O aquecimento global Aquecimento global é o nome que se dá ao aumento da magnitude do efeito de estufa que pode resultar num sobreaquecimento da Terra. O aquecimento global que foi detectado traduz-se sobretudo numa diminuição do arrefecimento nocturno. De 1950 a 1993, a temperatura mínima nocturna aqueceu de 0,17 graus centígrados por década, enquanto a temperatura máxima diurna aumentou apenas 0,07 graus por década. Sabe-se que, desde 1700, as actividades humanas aumentaram a quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e conjecturase que esse aumento poderá estar na origem deste aquecimento recente. Mas ainda se sabe muito pouco sobre os processos naturais de alteração climática, que só se são estudados à cerca de 150 anos. Pode ser que este aquecimento se insira nos ciclos naturais e não seja de facto devido às actividades humanas. O aquecimento global levará a uma subida da temperatura das camadas superiores dos oceanos. A simples expansão térmica da água fará com que o nível das águas nos oceanos suba (poderá subir só por esse efeito até uns 30 cm). O gelo nos continentes (presente sobretudo nos glaciares) derreterá mais rapidamente e ajudará à subida do nível das águas (um efeito que terá causado, nos últimos 100 anos, uma subida de 5 cm). (O gelo flutuante não altera o nível das águas quando derrete). Por outro lado, um aumento de precipitação na Antártida e na Gronelândia pode levar a um aumento da quantidade de água armazenada nas suas camadas de gelo e contribuir para diminuir a subida do nível das águas nos oceanos. Tudo indica que, durante o século XX, o nível das águas nos oceanos subiu entre 10 e 20 cm. E pensa-se que continuará a subir durante o século XXI. Mas o actual conhecimento só nos permite estimar que essa subida poderá ir de apenas 9 cm até uns 88 cm entre 1990 e 2100. Pensa-se que nas últimas décadas tem havido uma subida de 2 milímetros por ano. Mas o cálculo não foi simples de fazer. Na Escandinávia, por exemplo, as medidas realizadas parecem indicar que o nível das águas do mar está a descer cerca de 4 milímetros por ano! Mas pensa-se que isso se deve ao facto da Escandinávia estar ainda a subir, depois de ter sido presionada por glaciares de grande massa durante a última era glaciar. Em Bangkok, por causa do grande incremento na extracção de água para uso doméstico, o solo está a afundar-se e os dados parecem indicar que o nível das águas do mar subiu cerca de 1 metro nos últimos 30 anos! Foi preciso ter em conta muitos factos para se chegar ao resultado de 2 milímetros por ano. Mas diferentes investigadores, usando métodos diferentes, acabaram por confirmar todos esse número. O aquecimento da superfície favorecerá um aumento da evaporação nos oceanos o que fará com que haja na atmosfera mais vapor de água (o gás de estufa mais importante, sobretudo porque existe em grande quantidade na nossa atmosfera). Isso poderá fazer com que aumente cada vez mais o efeito de estufa e com que o aquecimento da superfície seja reforçado. Podemos, nesse caso, esperar um aquecimento médio de 4 a 6ºC na superfície. Mas mais humidade (vapor de água) no ar pode também significar uma presença de mais nuvens na atmosfera o que se pensa que, em média, poderá causar um efeito de arrefecimento. O equilíbrio energético no planeta Em média, da radiação solar incidente (sobre o sistema terra/atmosfera): 19 % é perdida por absorção da radiação ultravioleta (de alta energia) pelas moléculas de oxigénio e ozono na estratosfera (onde a temperatura cresce com a altitude); 6% é perdida por difusão da luz solar de menor comprimento de onda - azuis e violetas - (o que faz com que o céu seja azul); 24% é perdida por reflexão - 20% nas nuvens e 4% na superfície. (O albedo do planeta é de 30% (6% difusão+24% reflexão). 51% é absorvida pela superfície. Nota: Os valores apresentados são valores médios. Por exemplo, nos pólos a reflexão da radiação solar incidente é geralmente maior do que 24% e nos oceanos menor do que 24%. A energia radiada pela superfície da Terra, na gama dos infravermelhos, corresponde a cerca de 117% do total de radiação solar incidente (sobre o sistema terra/atmosfera). Dessa energia, apenas 6% é emitida directamente para o espaço (emissão terrestre) e 111% é absorvida pelos gases de estufa da atmosfera, que reemite depois, de volta para a superfície, uma energia correspondendo a 96% da radiação solar incidente. Finalmente, uma energia correspondendo a 64% da radiação solar incidente é emitida pela atmosfera para o espaço (emissão atmosférica). Note que estes números traduzem um equilíbrio no sistema terra/atmosfera: a radiação emitida para o espaço é igual à radiação solar incidente [24% (reflexão) + 6% (difusão) + 64% (emissão atmosférica) + 6% (emissão terrestre) = 100%]. No entanto, em média, a superfície absorve mais radiação da que emite e a atmosfera radia mais energia do que a que absorve. Em ambos os casos, o excedente de energia é de cerca de 30% da energia da radiação solar incidente no sistema terra/atmosfera: superfície - energia absorvida: 147% (51% do Sol + 96% da atmosfera); energia emitida: 117% atmosfera - energia absorvida: 130% (19% ultravioletas. + 111% emissão terrestre); emitida: 160% (64% para o espaço + 96% para a superfície) A partir desta constatação pareceria que a superfície deveria ir aquecendo e a atmosfera arrefecendo. Isso não acontece porque existem outros meios de transferência de energia da superfície para a atmosfera que representam, no seu conjunto, uma transferência líquida de 30% do total de radiação solar incidente que equilibra o orçamento de energia no planeta. O ar quente que se eleva na atmosfera a partir da superfície transfere calor para a atmosfera. Essa transferência de calor (o fluxo de calor sensível) corresponde a um valor de energia que é 7% do total de radiação solar incidente. A evaporação da água na superfície do planeta corresponde a uma extracção de calor que acaba por ser libertado durante o processo de condensação na atmosfera (que dá origem à formação das nuvens). Essa transferência de calor (o fluxo de calor latente) corresponde a um valor de energia que é 23% do total de radiação solar incidente. As nuvens As nuvens têm de facto um papel importante no equilíbrio energético porque controlam a energia que entra e que sai do sistema. Podem arrefecer a Terra, ao reflectirem a luz solar para o espaço, e podem aquecê-la por absorção da radiação infravermelha radiada pela superfície, de um modo análogo ao dos gases associados ao «efeito de estufa». O efeito dominante depende de muitos factores, nomeadamente da altitude e do tamanho das nuvens e das suas gotículas. Como vimos, existe um equilíbrio no orçamento de energia no planeta. O sistema terra/atmosfera reage às instabilidades que ocorrem no sentido voltar sempre a um estado de equilíbrio. Se um aumento do número de nuvens existentes faz com que a reflexão da energia solar aumente e o sistema receba menos energia, o sistema tenderá a arrefecer até que a energia radiada seja igual à absorvida. Se um aumento do número de nuvens existentes faz com que se perca menos energia radiada pelo solo, o sistema global começa a absorver mais energia do que a que radia e dar-seá um aquecimento até que a energia radiada seja igual à absorvida. Mas não é claro o que é que aquece ou arrefece em cada caso: a superfície, a baixa atmosfera, a alta atmosfera ou uma combinação delas. As nuvens provocam um aquecimento ou um arrefecimento? As noites claras são normalmente mais frias que as nubladas porque as nuvens absorvem parte da radiação infravermelha que o solo emite para o espaço. O efeito é mais pronunciado se as nuvens estiverem a uma altitude razoável. Nesse caso, estarão a uma temperatura inferior à do solo e radiarão, por isso, menos energia do que este. E parte dessa radiação será emitida para o próprio solo. Se as nuvens forem baixas e estiverem, por isso, a uma temperatura parecida com a do solo, emitirão elas próprias uma radiação parecida com a do solo e o arrefecimento global será maior. Durante o dia, se o céu está bastante nublado, a temperatura no solo é menor do que se o céu estivesse limpo porque as nuvens reflectem melhor a luz solar do que a superfície. Absorvem a radiação da superfície mas, como estão aproximadamente à mesma temperatura do que ela, radiam depois a mesma energia. O sistema começa a absorver menos energia e a arrefecer até se atingir um estado de equilíbrio em que nuvem receba tanta energia quanto a que perde. Mas a presença de nuvens também pode contribuir para um aquecimento se elas forem finas e estiverem a grande altitude. Nesse caso, elas deixam passar a luz e a superfície fica tão quente como se não existissem nuvens. E, como estão a grande altitude, estão mais frias e radiam pouca energia. O sistema começará então nesse caso a aquecer até que a radiação adicional da superfície e atmosfera combinadas contrabalance a que a nuvem absorve, para que haja tanta energia a sair como a que está a entrar e se atingir o equilíbrio. A formação das nuvens As nuvens formam-se a partir da condensação do vapor de água existente em ar húmido na atmosfera. A condensação inicia-se quando mais moléculas de vapor de água são adicionadas a ar já saturado ou quando a sua temperatura diminui. É o arrefecimento de ar húmido que se eleva na atmosfera que dá origem à formação de nuvens. A elevação do ar é um processo chave na produção de nuvens que pode ser produzido por convecção, por convergência de ar, por elevação topográfica ou por levantamento frontal. Quando uma porção de ar se eleva, expande-se. E essa expansão é adiabática e resulta numa perda de energia que faz com que a sua temperatura baixe de cerca de 9,8º C por cada quilómetro de elevação. O arrefecimento do ar traduz o facto de que a velocidade média das suas moléculas diminui, aumentando a probabilidade de que as moléculas livres de vapor se liguem a moléculas vizinhas, passando ao estado líquido por condensação. Isso leva à diminuição do valor máximo de vapor que pode estar presente no ar, ou seja, provoca um aumento da sua humidade relativa. Se a temperatura desce até ao chamado «ponto de orvalho», a densidade de vapor é a máxima, igual à de saturação. A partir desse momento qualquer arrefecimento resultará em que o vapor em excesso tenha que ser removido por condensação, formando-se gotículas de água que podem formar nuvens. A condensação do vapor começa a ocorrer na base da nuvem, a que, por isso, se chama «o nível de condensação». Se a temperatura de ponto de orvalho é negativa (nesse caso, chama-selhe também «o ponto de geada»), o vapor pode passar directamente ao estado sólido sob a forma de cristais de gelo, por sublimação. Quando uma molécula livre se liga às vizinhas, perde energia cinética que é libertada para o ambiente sob a forma de calor latente (cerca de 600 calorias por cada grama de vapor de água condensada). A água na atmosfera A água é única na nossa atmosfera porque, para as pressões e temperaturas normais, pode existir em todas a três fases - sólida, líquida e gasosa. É a temperatura, correspondendo à velocidade molecular, que determina a fase em que a água se encontra. As moléculas de água no ar estão constantemente a mudar de fase (as 3 fases correspondem ao gelo, à água líquida e ao vapor de água). Na fase sólida, a água é um mineral cristalino e as moléculas estão fortemente unidas por ligações químicas; na fase líquida é um fluido ainda com um volume definido mas que se pode expandir e contrair porque as moléculas estão já ligadas de um modo mais fraco e escorregam facilmente umas nas outras, numa espécie de dança contínua; na fase gasosa (vapor de água) não há um volume definido e as moléculas estão ainda mais fracamente interligadas. Quando o ar tem um alto conteúdo de vapor de água diz-se que é ar húmido. A fonte mais importante de vapor de água na atmosfera é a evaporação nos oceanos - a origem de cerca de 85% do vapor de água na atmosfera. A evaporação e a transpiração nos continentes são a origem dos restantes 15%. Enquanto os oceanos contêm 97,5% da água existente no nosso planeta, a quantidade total de água na atmosfera, sob a forma de vapor, representa menos de 0,001% - o que corresponde apenas a cerca de uma semana de precipitação em todo o globo. O que quer dizer que a água é circulada de um modo muito eficiente através da atmosfera. A contínua reciclagem da água pela formação de nuvens seguida de precipitação movimenta um volume de água 32 vezes superior à capacidade total da atmosfera! É sobretudo no estado de vapor que a água é transportada através da atmosfera terrestre dos oceanos para os continentes onde é condensada e precipitada como chuva. As moléculas de água escapam-se dos oceanos (a água evapora-se) e entram na atmosfera sob a forma de vapor. Mas, mesmo num bocado de céu sem nuvens, existem sempre também gotículas submicroscópicas de água. Só que não sobrevivem muito tempo porque normalmente a evaporação excede a condensação. as gotículas de água das nuvens A quantidade de vapor de água (ou seja, a humidade) que pode existir no ar é limitada. Existe um valor máximo de vapor que o ar pode conter a uma dada temperatura e pressão. Quando o conteúdo de vapor de água é o máximo, diz-se que o ar está saturado. A partir dessa situação, se a temperatura baixar, passará a haver mais condensação do que evaporação e formar-se-ão gotículas de água em maior número. É o que se passa quando a elevação de ar húmido na atmosfera o faz arrefecer e ficar saturado. Se existirem partículas higroscópicas (que atraem água) suspensas no ar - os chamados núcleos de condensação - as gotículas de água vão crescendo e transformam-se em gotículas de nuvem (com diâmetros que podem ir de 1 a 30 mícron). As nuvens são compostas por milhões de gotículas de água suficientemente pequenas para se manterem suspensas na atmosfera. Essas gotículas são a parte visível das nuvens, que são, no entanto, compostas sobretudo por ar em movimento (é usual que as gotículas representem pouco mais do que 1% da composição de uma nuvem) . Mesmo quando as temperaturas são negativas as nuvens são formadas essencialmente por gotículas de água (as chamadas gotículas de água superarrefecida). Isto deve-se ao facto de as moléculas de vapor de água precisarem de superfícies sobre as quais gelar e haver poucos núcleos de congelação numa nuvem típica. As gotículas de água superarrefecida andam «à procura» de algo sobre que gelar. (Só se a temperatura descer até pelo menos uns -40º C se poderá dar a chamada nucleação expontânea e elas gelarão sem a presença de núcleos de congelação.) Mas, desde que a temperatura seja suficientemente baixa, existirão também cristais de gelo numa nuvem. Mas, de um modo geral, haverá muitas mais gotículas de água superarrefecida do que cristais numa nuvem fria típica. O ar ascendente é um processo chave na produção de nuvens e precipitação O ar flui na atmosfera tendendo a manter um certo equilíbrio de pressões. Os ventos são causados pelas diferenças de pressão e densidade (que varia na razão inversa da temperatura do ar) que fazem com que o excesso de moléculas do volume mais denso ou de maior pressão flua na direcção do volume menos denso ou de menor pressão. Como a pressão atmosférica diminui com a altitude, existe uma força que tende a deslocar as moléculas de gás das altas pressões (no solo) para as baixas pressões (em altitude). Se o nosso planeta tem uma atmosfera é porque a força da gravidade contrabalança essa força e impede que as moléculas se escapem livremente para o espaço. Na ausência de outros processos que favoreçam a ascenção do ar, estas duas forças equilibram-se (é o chamado equilíbrio hidrostático) e não há uma força resultante que faça o ar subir ou descer. São os processos que rompem o equilíbrio hidrostático e levam à ascenção de ar húmido que dão origem à formação das núvens. O que dá origem à elevação do ar que leva à formação das núvens? A ascenção de ar pode ser produzida por convecção, por convergência de ar, por elevação topográfica ou por levantamento frontal. 1. Convecção - bolhas de ar que se elevam À medida que a Terra vai sendo aquecida pelo Sol, há bolhas de ar quente (e menos denso) que se elevam como se fossem balões de ar quente. Continuarão a subir enquanto existir uma instabilidade (enquanto a sua temperatura for mais elevada do que o ar por cima delas). À medida que vão arrefecendo e perdendo o seu poder de elevação, vão-se diluindo-se no ar circundante. Mas há outras bolhas que se formam a seguir e que seguem o mesmo caminho, subindo geralmente sempre um pouco mais do que as anteriores até que conseguem subir o suficiente para que o seu arrefecimento corresponda à chamada temperatura «de orvalho», a que se atinge a saturação do ar. A humidade dentro dela (o vapor de água) começa então a condensar em gotículas que se tornam visíveis sob a forma de uma nuvem convectiva (caracterizada pelo seu rápido desenvolvimento vertical). A convecção implica uma transferência de calor da superfície para a atmosfera - o chamado fluxo de calor latente (baseado na evaporação e condensação da água). Cada vez que a água muda de estado há uma troca de energia - o chamado calor latente. A evaporação ocorre quando uma molécula se liberta do conjunto das suas vizinhas, por aumento da sua energia cinética à custa de energia extraída ao ambiente (cerca de 600 calorias por cada grama de água líquida evaporada). A condensação ocorre quando uma molécula se torna suficientemente lenta para se poder ligar a um conjunto das moléculas (líquidas) vizinhas e resulta na libertação do calor latente para o ambiente. Se a camada superior da atmosfera for pouco instável, o crescimento vertical será restrito e formar-se-ão apenas cúmulos de bom tempo ou estratocúmulos. Se a camada é mais instável, o crescimento vertical poderá prosseguir, formando-se cúmulos congestus ou cumulonimbos, que já poderão dar origem a chuva. Quando a alimentação de novas bolhas cessar, a nuvem dissiparse-á. 2. Convergência - a elevação de camadas de ar Quando há uma convergência de ar chegando na horizontal a uma região, o ar é forçado a elevar-se porque não pode ir para baixo. É o que acontece nas regiões com baixas pressões, para cujo centro o ar converge a partir das regiões circundantes, com pressões atmosféricas mais elevadas. Podem elevar-se camadas de ar numa extensão de centenas de quilómetros. Este fenómeno tende a resultar na formação de nuvens - as chamadas «nuvens dinâmicas». O movimento ascendente de ar é mais fraco do que o associado à convecção e por isso as nuvens que se formam são geralmente menos desenvolvidas verticalmente que as que são geradas por convecção (formando-se, por exemplo, cirrostratos). Nota: Nos anticiclones (centros de altas pressões), o ar flui para o exterior, afastando-se em espiral do centro. Isso acaba por resultar num movimento descendente do ar que contraria qualquer elevação do ar que pudesse levar à formação de nuvens. É por isso que os anticiclones estão geralmente associados a céu limpo. 3. Topografia que produz nuvens orográficas Quando os ventos horizontais são confrontados com uma montanha, o ar é forçado a subir. Se o ar que se eleva arrefecer até à temperatura de orvalho, o vapor de água condensa e pode-se formar uma «nuvem orográfica». O tipo exacto de nuvem depende da altura do obstáculo topográfico e da humidade e estabilidade do ar. Nas pequenas elevações, podem formar-se estratocúmulos; nas elevações médias - até cerca de 2000m - podem formar-se altocúmulos; e nas altas elevações, altocúmulos. Nota: no outro lado do obstáculo, o ar desce, fica comprimido e aquece, o que não permite a formação de nuvens. 4. Levantamento Frontal Numa frente, o encontro entre massas de ar a diferentes temperaturas e humidades faz com que o ar mais quente ascenda por cima do ar frio que, como é mais denso, tende a ficar perto do solo. A ascensão do ar acaba por resultar na formação de núvens que surgem logo à frente da superfície frontal no solo, no caso de uma frente fria, e bastante à frente da superfície frontal no solo no caso de uma frente quente (ver frentes). Instabilidade na atmosfera Diz-se que a atmosfera está estável quando a ascenção de ar é improvável (uma bolha de ar em ascensão volta a descer porque está mais fria do que o ar ambiente). Diz-se que a atmosfera está instável quando a ascenção de ar é provável (uma bolha de ar em ascensão pode continuar a subir porque continua mais quente do que o ar ambiente). Quando uma bolha de ar sobe, passa de uma altitude em que a pressão atmosférica é maior para outra em que ela é menor. Como a pressão exterior diminui, a bolha de ar expande-se, aumentando o seu volume. Como o ar é um bom isolante térmico podemos considerar que toda a energia dispendida para a expansão («empurrando o ar ambiente à sua volta») vem das moléculas dentro da própria bolha de ar, ou seja, que a expansão é um processo adiabático. Podemos ignorar as fugas para o exterior e considerar que o ar se esfria apenas por descompressão: a temperatura diminui se se reduz a pressão e vice versa. As moléculas de ar perderão alguma energia cinética e o ar arrefecerá. A taxa de arrefecimento é aproximadamente constante: cerca de 9,8º C/km para ar seco (não saturado). Quando o ar desce, é comprimido e aquece também segundo a mesma taxa (9,8º C/km). Suponhamos que uma bolha de ar com uma temperatura média de a 9,8ºC está à superfície e a temperatura do ponto de orvalho é 0ºC. Se o ar ascende, ficará saturado à altitude de 1 km. Se continuar a ascender, continuará a expandir-se e a arrefecer mas agora agora o ar estará saturado. Haverá então condesação de vapor de água que libertará calor latente, contrariando ligeiramente o arrefecimento associado. Por isso, a taxa de arrefecimento adiabático para ar húmido (saturado) é ligeiramente menor: cerca de 6º C/km. A atmosfera é dita absolutamente instável (uma situação não muito comum) se a taxa de arrefecimento da temperatura do ambiente com a altitude for maior do que 9,8ºC. Nessa situação, uma bolha de ar em ascensão estará sempre mais quente que o ambiente. Se essa taxa for menor do que 6ºC, a atmosfera é dita absolutamente estável. Nessa situação, uma bolha de ar em ascensão estará sempre mais fria do que o ambiente. Se a taxa de arrefecimento da temperatura do ambiente com a altitude cair algures entre 9,8 e 6ºC (uma situação muito comum), a atmosfera é dita condicionalmente instável. Nessa situação, uma bolha de ar em ascensão continuará a subir ou não, dependendo do ar ficar ou não saturado algures no seu caminho ascendente.