FISIOTERAPIA EM DOIS CÃES COM RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL SUBMETIDOS À ESTABILIZAÇÃO CIRÚRGICA EXTRACAPSULAR – RELATO DE CASO PHYSIOTHERAPY IN TWO DOGS WITH CRANIAL CRUCIATE LIGAMENT RUPTURE AFTER SURGICAL STABILIZATION EXTRACAPSULAR – CASE REPORT Larissa Berté1*, Alexandre Mazzanti2, Maria Amélia Weiller3, Tamine Krebs3, Amanda Bragato3, Marieli Brixner3, Rafaela Caprioli3, Maicon Pinheiro4, Fabiano Zanini Salbego5 Resumo Frequentemente é diagnosticado na rotina de pequenos animais ruptura do ligamento cruzado cranial (LCC), estando presente a claudicação no membro pélvico. Após confirmação do diagnóstico deve ser realizado o tratamento cirúrgico, para restaurar a estabilidade da articulação. A reconstituição cirúrgica extracapsular reforça os sistemas periféricos. Após a estabilização cirúrgica pode ser encontrado complicações pelo desuso como atrofia muscular e bloqueio articular. Nesses casos a utilização de modalidades fisioterápicas tornam-se úteis, pois a fisioterapia restaura e restabelece a função, melhorando o bem-estar. O objetivo deste relato é descrever um protocolo fisioterápico empregado no pós-operatório de cães submetido à estabilização cirúrgica extracapsular para ruptura de LCC. Foram encaminhados dois cães com bloqueio articular, atrofia muscular e claudicação, submetidos à reconstituição cirúrgica extracapsular para ruptura de LCC. O protocolo fisioterápico empregou as modalidades de massagem, movimentação passiva da articulação, alongamento, movimentos de bicicleta, caminhadas na esteira aquática e em piso, estimulação elétrica neuromuscular, exercícios terapêuticos com bola e cones. Após quatro semanas, foi observado melhora no bloqueio articular e atrofia muscular. Conclui-se com este relato que o emprego da fisioterapia no pós-operatório de cães submetidos à estabilização extracapsular permite melhora no bloqueio articular e atrofia muscular, e apesar do uso claudicante do membro operado a deambulação melhorou quando comparado ao inicio do protocolo. Palavras-chave: joelho, cirurgia e reabilitação. Summary It is often diagnosed in routine small animal rupture of cranial cruciate ligament (CCL), is present in the pelvic limb lameness. After confirmation of the diagnosis should be performed surgery to restore joint stability. Reconstitution extracapsular surgery reinforces the peripheral systems. After surgical stabilization can be found as complications from disuse muscle atrophy and joint blockage. In such cases the use of physiotherapy modalities becomes useful as physical therapy restores and restores function, improving well-being. The purpose of this report is to describe a physical therapy protocol used in postoperative dogs underwent surgical stabilization for extracapsular rupture of LCC. They were taken two dogs with locking joints, lameness and muscle atrophy, underwent surgical reconstruction for extracapsular rupture of LCC. The protocol used physical therapy modalities of massage, passive joint movement, stretching, movements, cycling, walking on the treadmill and ground water, electrical neuromuscular stimulation, therapeutic exercises with ball and cone. After four weeks, showed increase in muscle atrophy and joint locking. It concludes with this report that the use of physiotherapy in the postoperative dogs undergoing extracapsular stabilization enables improved locking joint and muscle atrophy, and despite the use of the operated limb lame walking improved when compared to the beginning of the protocol. Key words: knee, surgery and rehabilitation and surgery. _______________________ 1 MV, mestranda do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (PPGMV/UFSM). Av. Roraima, 1000. CEP: 97105-900. Santa Maria, RS. *[email protected] 2 MV, Dr., UFSM. 3 Acadêmico do curso de Medicina Veterinária, UFSM. 4 MV, Msc, UFSM. 5 MV, Dr., UDESC. Frequentemente é diagnosticado na rotina de pequenos animais ruptura do ligamento cruzado cranial (LCC), estando presente a claudicação no membro pélvico (MP) (Brinker et al., 1990). A ruptura do LCC pode ser de origem traumática (Vasseur, 1993), decorrente de alterações degenerativas (Brinker et al., 1990) e por mudanças ocasionadas com a idade e o desuso, artrite imuno-mediada, sinovite imune e sepse da articulação (Johnson e Johnson, 1993). Após confirmação do diagnóstico deve ser realizado o tratamento cirúrgico, o mais rápido possível, para restaurar a estabilidade da articulação e prevenir o desenvolvimento de lesão articular (Boschin et al., 2002). Existem dois métodos cirúrgicos para correção de ruptura do LCC, a técnica intra e a extracapsular. As técnicas extracapsulares funcionam melhor em cães de pequeno porte, exigem menor tempo e trauma para a articulação. Essas técnicas reforçam os sistemas periféricos de estabilização do joelho, exercendo as funções de um ligamento (Brinker et al., 1990). Após a estabilização cirúrgica pode ser encontrado sequelas pelo desuso como atrofia muscular e bloqueio articular. Nesses casos o emprego da fisioterapia pode ser benéfico, pois a fisioterapia restaura e restabelece a função, melhorando o bem-estar. Desse modo, o presente relato tem como o objetivo descrever um protocolo fisioterápico empregado no pós-operatório de cães submetido à reconstituição cirúrgica extracapsular para ruptura de LCC. Dois cães, macho, um Poodle e outro sem raça definida, foram encaminhados ao Laboratório de Reabilitação Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (LAREV/UFSM) com histórico de ruptura de LCC e foram submetidos à técnica extracapsular para estabilização da articulação do joelho esquerdo. Ao exame clínico os pacientes apresentaram atrofia muscular mensurada com fita maleável graduada em centímetros, bloqueio articular observada com auxílio de um goniômetro de círculo completo e grau II de claudicação, segundo Tudury e Raiser (1985). O protocolo fisioterápico iniciou-se 30 dias após o procedimento cirúrgico e consistiu de três sessões por semana de fisioterapia durante quatro semanas. As modalidades empregadas durante as quatro semanas foram massagem por deslizamento, durante seis minutos; movimentação passiva das articulações do membro operado; alongamento do membro; movimentos de bicicleta; e caminhada piso gramado, sob guia. A estimulação elétrica neuromuscular (EENM) utilizou a corrente de média frequência, contração isotônica, intensidade sem causar desconforto, relação on:off de 1:3, modo recíproco por 15 minutos, empregada nas duas primeiras semanas. A partir da segunda semana acrescentou-se ao protocolo caminhadas em esteira aquática ao nível do trocânter maior e epicôndilo lateral, por cinco minutos em cada altura. Na terceira semana adicionaram-se ao protocolo exercícios proprioceptivos com bola terapêutica e cones. Na bola terapêutica os paciente foram colocados em posição bípede e com movimentos para frente e para trás encorajou-se o uso do membro. Enquanto que os cones foram posicionados em linha reta, distanciados entre si, e os cães contornaram este trajeto cinco vezes (Foto 1). Foto 1: Paciente executando o exercício proprioceptivo utilizando cones em linha reta distanciados entre si, a partir da terceira semana. Passada as quatro semanas de fisioterapia, foi observado que o apoio do membro pélvico esquerdo de grau II de claudicação passou para grau III. Ocorreu diminuição da atrofia muscular, ou seja, aumentou a massa muscular no membro e houve melhora na amplitude articular, isto significa que a angulação de flexão e extensão foram superiores as mesuradas no primeiro dia de fisioterapia. Apesar do cão ainda apresentar claudicação, a deambulação dos cães apresentaram-se satisfatória em comparação ao início do protocolo. 2 O fato dos cães permanecerem com claudicação pode ser explicada por Millis et al. (2004), os quais mencionam que o movimento de gaveta cranial (teste que avalia a estabilidade articular do joelho) pode permanecer por semanas após a reconstituição cirúrgica e que a reabilitação pode reduzir a amplitude do movimento de gaveta. Por outro lado, Smith (2000) mencionou que a instabilidade articular ocorrida no pós-operatório pode ser atribuída à utilização do fio mononáilon, o qual pode afrouxar pela sua elasticidade, deformação plástica, aperto e deformação dentro do nó. Não foi verificado nestes cães o afrouxamento dos fios utilizados na técnica. Acredita-se que houve a cicatrização e que a fibrose no local auxiliou na estabilidade articular, pois estes cães não retornaram ao LAREV. A melhora na atrofia muscular pode ser atribuída à utilização da EENM que auxiliou na prevenção da atrofia pelo desuso, conforme descreveram Millis et al. (2004). Johnson et al. (1997) observaram que cães tratados com EENM no pós-operatório de ruptura LCC melhoraram o apoio ao solo, aumentaram a circunferência da coxa e reduziram a presença de alterações radiográficas. Enquanto que o aumento do bloqueio articular, possivelmente deve-se a realização da MPA. Estudos observaram que a MPA e EENM empregada no pós-operatório imediato proporcionaram maior amplitude articular do membro operado quando comparado com o membro contralateral por reduzirem a formação de contratura e de aderências articulares. (Monk et al., 2006). O presente relato de caso demonstra que o emprego da fisioterapia em cães submetidos à reconstituição cirúrgica extracapsular permite melhora satisfatória na deambulação e atrofia muscular, e diminui o bloqueio articular devido ao desuso do membro nos 30 dias de pós-operatório. Referências BOSCHIN, L.C. et al. Artrotomia "versus" artroscopia: avaliação pós-operatória da reconstrução do ligamento cruzado anterior. Rev Bras Ortop, v.37, n.1/2, p.23-30, 2002. BRINKER, W.O. et al. Diagnóstico e tratamento ortopédicos do membro posterior. In: _____ Manual de ortopedia e tratamento de fraturas dos pequenos animais. São Paulo: Manole, 1990. cap.20, p.282-376. JOHNSON, J.M. et al. Rehabilitation of dogs with surgically treated cranial cruciate ligamentdeficient stifles by use of electrical stimulation of muscles. Am J Vet Res, v.58, n.12, p. 1473-1478, 1997. JOHNSON, J.M., JOHNSON, A.L. Cranial cruciate ligament rupture. pathogenesis, diagnosis and postoperative rehabilitation. Vet Clin North Amer: Small Anim Pract, v.23, n.4, p.717-733, 1993. MILLIS, D.L. et al. Canine rehabilitation physical therapy. Philadelphia: Saunders. 2004. 526p. MONK, M.L. et al. Effects of early intensive postoperative physiotherapy on limb function after tibial plateau leveling osteotomy in dogs with deficiency of the cranial cruciate ligament. Am J Vet Res, v.67, n.3, p.529-536, 2006. SMITH, B. Viewpoints in surgery cruciate ligament rupture extracapsular stabilisation. Australian Veterinary Journal, Brunswich, v.78, n.6, p.382-383, 2000. TUDURY, E.A.; RAISER, A.G. Redução de fraturas distais de fêmur de cães, empregando pinos de Steinmann em substituição aos de Rush. Rev CCR, v.15, n.2, p.141-155, 1985. VASSEUR, P.B. Stifle joint. In: SLATTER, D.H. Textbook of small animal surgery. Philadelphia: Saunders, 1993. cap.137. p.1817-1865. 3