Pensando no futuro da educação: uma nova escola para o século XXII

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Pensando no futuro da educação: uma nova
escola para o século XXII
Wellington Aires da Cruz Pereira1
Resumo
“Pensando no Futuro da Educação: uma nova escola para o século XXI” é uma
obra organizada por Beatriz Jarauta e Francisco Imbernón, que trata de traçar
várias projeções para o futuro da educação, fundadas sobre conquistas, desafios, inquietações e perspectivas deste começo do século XXI. Nos nove capítulos da obra levantam-se reflexões quanto a uma escola multicultural, menos
hierarquizada e integrada fortemente à comunidade, contando com professores
altamente especializados e valorizados.
Palavras-chave: Educação século XXII. Multiculturalidade. E-escolas.
Abstract
Thinking about the Future of Education: a new school for the XXI century
is a work organized by Beatriz Jarauta and Francisco Imbernon, which comes
to trace multiple projections for the future of education, founded on achievements, challenges, concerns and perspectives of this beginning of the XXI
century. In the nine chapters of the work arising reflections as a multicultural
school, less hierarchical and strongly integrated community, with highly specialized and valued teachers.
Keywords: Education XXII century. Multiculturalism. E-schools.
Resumen
Pensando en el futuro de la educación: una nueva escuela para el siglo XXI es
un trabajo organizado por Beatriz Jarauta y Francisco Imbernon, que trata de
rastrear múltiples proyecciones para el futuro de la educación, basadas en los
logros, retos, preocupaciones y perspectivas de este comienzo del siglo XXI.
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PEREIRA, W.A.C.
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En los nueve capítulos de la obra derivada reflexiones como una escuela multicultural, menos jerárquica y comunitaria fuertemente integrado, con profesores
altamente especializados y valorados.
Palabras clave: Educación del siglo XXII. El multiculturalismo. E-escuelas.
“Pensando no futuro da educação: uma nova escola para o século
XXI” é uma obra organizada por Beatriz Jarauta e Francisco Imbernón,
ambos professores do Departamento de Didática e Organização Educativa da Universidade de Barcelona, Espanha. O livro aborda diversos temas
sobre a educação atual com base em projeções para o futuro, ou seja, a
partir das conquistas, inquietações e desafios educacionais que se apresentam no início do século XXI, faz-se um exercício intelectual para se pensar
a educação no século XXII. Para tal empreitada, foram reunidos textos de
professores universitários e de pesquisadores, em sua maioria, atuantes no
cenário acadêmico espanhol.
A apresentação é escrita por José Gimeno Sacristán, que sensibiliza
o leitor para a importância de pensar o futuro da educação. Segundo o
autor, a educação escolarizada, bem delimitada no espaço e no tempo,
nos moldes em que a conhecemos, já não se apresenta útil no presente e,
consequentemente, não terá lugar no próximo século. Sacristán critica a
educação pautada pelo mercado e suas necessidades, levantando elementos importantes para quem pretende refletir sobre a educação, tais como o
estabelecimento de sua oferta como direito efetivo, a concepção da educação como processo e produto cultural, o uso de tecnologias no processo
de aprendizagem e o direito à informação.
No primeiro capítulo, escrito por Juan Carlos Tedesco, “Escola e
sociedade no século XXII”, o autor tece considerações sobre o futuro,
primeiramente, colocando em xeque a sustentabilidade da sociedade baseada nos parâmetros atuais de produção, consumo e distribuição de riquezas. Ao mesmo tempo, ele distancia a ideia de futuro de uma visão
determinista, seja ela tecnológica, biológica ou cultural. Nessa perspectiva, assumindo sua reflexão com base nos pressupostos da filosofia social,
mostra a importância de se indagar a que sociedade gostaríamos de nos
dirigir. Segundo Tedesco, é preciso caminhar para uma sociedade mais justa, com padrões de consumo mais austeros e com formas de participação
democrática que assegurem o engajamento dos cidadãos nos processos
de decisão. Aponta ainda a importância de uma adesão consciente, ética e
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emocional ao desafio de transformação da sociedade. Transformação essa
que não poderia ser vista como uma mudança apenas setorial, mas como
uma revolução civilizatória com impacto em aspectos políticos, culturais e
de construção pessoal. Sustenta, em sua argumentação, que o a educação
é elemento central na construção de uma sociedade justa, promovendo o
aprender a viver junto e o aprender a aprender.
No capítulo que se segue, “A escola contínua e o trabalho no espaço-tempo eletrônico”, de Javier Echeverría, o autor inicia sua reflexão
ao afirmar que é certa a existência de escolas no século XXII e, de forma
taxativa, estabelece que as instituições de ensino passarão por profundas
transformações, embora as necessidades de seu público continuem as
mesmas: educar-se e socializar-se. Essas transformações dar-se-ão, segundo Echeverría, até mesmo na estrutura organizativa da educação, com a
nova realidade de espaço e de tempo que já se nos apresenta na aprendizagem promovida em ambientes eletrônicos. O autor traz à baila o conceito
de tecnoescolas, ou e-escolas, que têm sua atuação baseada no uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs). As e-escolas são apresentadas como uma necessidade da sociedade pós-industrial e seriam a nova
forma de oferecer e organizar a educação no século XXII. No “terceiro
entorno”, ou espaço digital, não haverá amarras espaço-temporais, mas
sim objetivos de aprendizagem preestabelecidos. As escolas trabalhariam
em rede e ofereceriam formação contínua, sem idades preestabelecidas
para acesso, rompendo a lógica industrial. Qualquer um poderia aprender
onde e quando quisesse ao longo de toda a vida. Echeverría considera ainda a possibilidade de inclusão do lúdico na aprendizagem, o que, segundo
ele, é um caminho ainda não muito explorado nos processos de e-learning.
No capítulo 3, “Os professores daqui a cem anos – brincando com
o tempo”, de Atuara Zirtae e Ocsicna Nonreb, cria-se um documento
ficcional que descreve, no ano de 2111, a educação do século XXII. Os
autores, a partir de problemas educacionais dos nossos tempos, projetam um mundo em que, depois de uma crise de violência, disciplina,
autoridade, ordem e egoísmo enfrentada em meados do século XXI, a
educação precisou se reinventar e retomar a humanidade dos processos
educacionais que havia se perdido. A docência passa a se dividir entre o
professor track (dispositivo eletrônico que funciona como uma biblioteca megadigital portátil) e professor guia humano, dedicado a humanizar
a infância e a adolescência. O artigo futurista funciona como artifício
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para criticar a inflexibilidade e a fragmentação dos currículos, a má formação inicial docente e a formação continuada sem significado e não
emancipatória, os conteúdos dissociados da realidade e a precarização
das carreiras no magistério. Nesse mundo projetado, o professor, depois
de uma formação profunda e ética, torna-se o responsável pela sua formação recorrente (não mais continuada) e as universidades se tornam
redes globais de produção científica e formação superior, com currículos
integrados em todo o mundo.
O capitulo 4, de Francesco Tonucci, “Os alunos na escola do amanhã”, reflete sobre o fracasso da escola do passado e da escola atual. A
primeira por ser, de maneira óbvia, elitista e infértil, destinada aos filhos
das famílias privilegiadas, que já dispunham de grande repertório cultural
antes de se sentarem nos bancos escolares; já a segunda por ser apenas
pretensamente democrática, pois, apesar de o acesso ter sido praticamente
universalizado nos países desenvolvidos, ainda não se garante a aprendizagem a todos e se mostra, a despeito das legislações em vigor, discriminatória e excludente.
Para o sucesso da educação, o autor propõe uma escola bela, rica de
estímulos e de fascinação pelo saber; uma escola para escutar, uma escola
aberta, uma escola de muitas linguagens, uma escola da diversidade, das
excelências, uma escola científica e do pensamento crítico, da criatividade.
Essa escola deverá, segundo Tonucci, ter bons professores, que seriam o
fator preponderante no sucesso dos alunos; deverá, aos poucos, deixar
as salas de aula e usar as oficinas. Uma escola que se proponha a “perder
o tempo dos alunos”, quebrando a ideia de horários fragmentados, com
sinais industriais. Em uma perspectiva inovadora, o autor define a escola
ideal como uma escola sem cargas horárias massacrantes e que, como espaço alternativo, a cidade seria um lugar de diversão, descoberta e aprendizagem, sem supervisão ou medo. A contribuição da sociedade, de forma
solidária, garantiria a segurança e a gestão dos espaços públicos.
Miguel Ángel Santos Guerra, autor do capítulo 5, “Adiantar-se ao
futuro: agrupamentos de alunos”, discorre sobre os agrupamentos promovidos nas escolas. Advoga que, por meio do agrupamento por idades,
critério praticamente exclusivo para formar grupos na maioria das escolas,
pretende-se uma homogeneização que não se realiza, uma vez que, mesmo tendo a mesma idade, alunos apresentam diferentes experiências e
histórias de vida. Essa forma de agrupar acaba, segundo Santos Guerra,
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perpetuando-se porque os sistemas não ousam pensar o novo, o diferente.
Nas palavras do autor, profissionais da educação apegam-se à tradição
por medo de experimentar, de mudar. Para o futuro, propõe diferentes
agrupamentos com tempos determinados e que levem em consideração
as necessidades de autonomia, o diagnóstico da realidade, a participação
da comunidade e a investigação sobre a prática. Santos Guerra discute que
a realidade é um obstáculo para a imaginação e, por conseguinte, fator
limitador de novas propostas. Para imaginar uma nova escola seria preciso
fugir das amarras de tradições da velha.
O capítulo 6, “Na escola, o futuro já não é o passado, ou é. Novos
currículos, novos materiais”, de Jaume Martínez Bonafé, indica, em relação ao futuro da escola, duas possibilidades: a escola pode continuar sendo
o que é, ou seja, manter sua postura de isolamento em relação ao mundo
que a cerca, apenas incorporando a tecnologia aos seus fazeres de sempre,
situação que Bonafé classifica como “imobilidade institucional nas formas
de reprodução cultural”; ou, a despeito do que a história tem nos mostrado até aqui, pode-se revolucionar a prática educativa, transformando
a relação entre o sujeito e o conhecimento. Qualquer que seja a realidade
por vir, ela revelaria, segundo o autor, uma perspectiva de currículo e seus
respectivos materiais e recursos que sustentaram seu desenvolvimento. A
real mudança implicaria o abandono dos livros-textos e do seu discurso
único, tido como verdadeiro, e abarcaria a adoção da cidade como espaço
de aprendizagem, com seus discursos e conflitos, sua realidade, suas relações de poder, seus valores e suas práticas culturais. O material-base do
currículo seria o espaço, o lugar, o deslocamento urbano.
Pere Pusol Paulí, que escreve o Capítulo 7, “A construção escolar no
século XXII”, pensa o espaço escolar do futuro a partir dos prognósticos
que realiza para a função social e para a construção pedagógica dos estabelecimentos de ensino. De acordo com o autor, os prédios escolares do
futuro estarão organicamente ligados aos bairros onde serão edificados,
recuperando a ideia de cidade educadora. Paulí concebe o espaço escolar
como aberto e integrado à sociedade. As áreas esportivas e o pátio, as
salas de reunião e as bibliotecas, enfim, os espaços abertos e fechados da
escola estariam abertos para uso da comunidade, assim como o espaço
público seria uma extensão da escola. No que diz respeito à arquitetura
propriamente dita, propõe uma escola energicamente autossuficiente, com
espaços que permitam a mobilidade e a adaptação a diferentes fins. Antevê
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ainda uma escola simples e bela, iluminada e ventilada de forma natural,
acolhedora, de fácil manutenção e sustentável financeiramente, concebida
não só pelo poder público e por técnicos em construção, mas por uma
equipe pedagógica estabelecida antes do início do projeto, para que se
possa, a partir de sua visão a respeito dos grupos e métodos pedagógicos,
planejar um espaço integrado às necessidades do público e às características do bairro. Concebendo a escola para além de sua constituição física, o
autor inclui, em sua visão de construção escolar, uma instituição pública,
interclassista, multiétnica, mista, laica, gratuita e obrigatória.
No capítulo 8, “Aprender línguas estrangeiras nas aulas do século
XXI e XXII. O caminho para uma escola conectada, global e plurilíngue”,
Pilar Pérez Esteve e Vicent Roig Estruch apresentam perspectivas para o
ensino de línguas estrangeiras. Para tanto, levam em conta o desenvolvimento das tecnologias e o contexto global aos quais as escolas deverão estar conectadas. Para os autores, a escola deve incorporar em suas práticas
as ferramentas contemporâneas de informação e de comunicação. Destacam ainda que o uso da tecnologia não pode ser apenas uma apropriação
sem significado de recursos, em que aulas tradicionais usam a internet e
os laboratórios de informática apenas como roupagem de transformação,
não como essência.
Valoriza-se a ideia de aumentar a exposição dos alunos ao idioma
que se deseja aprender, oferecendo, até mesmo, parte do currículo em
língua estrangeira, ou seja, os conhecimentos de geografia, física ou matemática poderiam ser trabalhados, no todo ou parcialmente, na língua que
se deseja aprender.
Ressaltam também a necessidade de se preservar a língua e a cultura
locais, como condição para a formação de uma comunidade plurilíngue, e
definem que a escola do futuro terá a necessidade de desenvolver, nos estudantes, a capacidade de aprender novas línguas, aprender diferentes conteúdos da atualidade e empregar meios de comunicação e informação da
época para esse fim. É imperativo, ainda, na concepção dos autores, que
o aluno passe a usar a língua com frequência e de forma permanente em
contextos significativos, a partir de materiais menos rasos e artificiais que
os atuais livros didáticos. Esteve e Estruch argumentam que o currículo
não tem significado sem as iniciativas de formação docente, de inovação,
de pesquisa e de autonomia das instituições.
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“Pensar na avaliação como recurso de aprendizagem”, último capítulo da obra, foi escrito por Juan Manuel Álvarez Méndez, que apresenta a
avaliação como um processo que sofreu várias modificações terminológicas ao longo dos tempos, mas que, em essência, permanece burocratizado
e funcionando como instrumento de controle, não de formação. O autor
preconiza a avaliação como a forma mais rápida e efetiva de transformar o
currículo escolar, pois, se fossem alteradas as formas de avaliação, transformar-se-iam também os hábitos e as práticas docentes, os conteúdos, a organização dos métodos e dos programas escolares. Apresenta ainda, de forma
incisiva, a diferença entre instrumento de avaliação e avaliação, sendo o primeiro uma fonte de informação para o desenvolvimento da avaliação, que
deve ir além da prestação de contas a respeito de um conhecimento, muitas
vezes, decorado e superficial. Para o autor, a avaliação formativa é aquela
que se coloca a serviço de quem aprende. Assim, se o aluno não consegue
progredir em sua aprendizagem, a avaliação não é formativa. Portanto o
grande desafio para a educação do futuro seria, na visão de Álvarez Méndez, estimular o aluno a saber mais e, por conseguinte, formar-se melhor.
A obra em tela contribui para a reflexão sobre uma educação que
se volta para o futuro com base no presente, não como um exercício premonitório, mas como uma busca do significado do educar, que tem em
sua essência a ideia do devir. Os textos que compõem o livro apontam
para uma escola do século XXII menos hierarquizada, integrada à sua
comunidade, flexível no que diz respeito ao tempo e ao espaço das formações oferecidas, socialmente responsável e com professores altamente
especializados e valorizados; uma escola multicultural, plural em todas as
acepções da palavra, que, por meio da tecnologia, usada de forma significativa e pensada, integre-se a uma rede de aprendizagem e de produção
do conhecimento, sem fronteiras, sem limites geográficos; uma escola que
incorpore em suas práticas a ideia de cidade educadora e o conceito de
aprendizagem por toda a vida, promovendo uma aprendizagem significativa e transformadora. Recomenda-se a leitura para estudantes e profissionais de educação, especialmente aqueles preocupados com o processo de
construção de uma escola para o futuro que, de fato, esteja a serviço de
uma visão emancipadora e inclusiva.
Recebido em: 15/12/2014
Aprovado em: 2/05/2015
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Notas
1. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação Sociocomunitária do Centro
Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL). Docente da Escola Técnica Estadual
(ETEC) Polivalente de Americana/SP. Professor do curso de Pedagogia da Faculdade
Anhanguera de Santa Bárbara D’Oeste/SP. E-mail: [email protected]
Referências
JARAUTA, Beatriz; IMBERNÓN, Francisco (Orgs.). Pensando no futuro da educação: uma nova escola para o século XXII. Tradução de
Juliana dos Santos Padilha. Porto Alegre: Penso, 2015. 160p.
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