Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ORGÂNICA Florence Moellmann Cordeiro de Farias “ESTUDOS SOBRE A REAÇÃO DE MANNICH EM BASE DE SCHIFF DERIVADA DE PINENO VISANDO A SÍNTESE DE α,βDIAMINOÁCIDOS.” Niterói 10/2006. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento FICHA CATALOGRÁFICA CORDEIRO DE FARIAS, Florence Moellmann Estudos sobre a reação de Mannich em base de Schiff derivada de pineno visando a síntese de alfa,beta-diaminoácidos. Niterói, UFF, GPQ,2006. Tese: Doutorado em Química Orgânica 1. Alfa,beta-diaminoácidos; 2. Reação de Mannich; 3. Hidroxi-Pinanona; 4. Auxiliar de quiralidade; 5. Teses 1. Universidade Federal Fluminense 2. Título. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Florence Moellmann Cordeiro de Farias “ESTUDOS SOBRE A REAÇÃO DE MANNICH EM BASE DE SCHIFF DERIVADA DE PINENO VISANDO A SÍNTESE DE α,βDIAMINOÁCIDOS.” Tese de Doutorado apresentada ao Programa de PósGraduação em Química Orgânica da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Química Orgânica. Orientador : Prof. Dr. Sergio Pinheiro Niterói 10/2006. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Este trabalho foi realizado no Laboratório de Síntese Assimétrica (LASA) no Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química da Universidade Federal Fluminense, sob a orientação do Prof. Dr. Sergio Pinheiro. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento “As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender”. Paulinho da Viola Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento A João Augusto, por tudo. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento AGRADECIMENTOS Ao meu orientador e amigo Sergio Pinheiro. A interseção amigo e orientador é, às vezes, muito difícil. Sergio soube conduzi-la magistralmente. A todos os meus colegas do Departamento de Química Orgânica da UFF pelo apoio incondicional. Um agradecimento especial aos amigos Maria Fernanda, Maria Cecília, Marcos Costa e Carlos Magno, presença constante nos momentos, tanto de alegrias, quanto de tristezas, vividos no decorrer deste processo. Não tenho palavras para agradecer ao Rodrigo Bagueira Vasconcellos de Azeredo. Foram muitas “fids” desastradamente não gravadas e recuperadas, com muito bom humor, pelo Rodrigo. Aos funcionários do Departamento de Química Orgânica da UFF, pelo apoio e carinho. Os queridíssimos Ana Cristina e Seu Geremias merecem uma citação especial, pelos milhões de “galhos quebrados”. A Liliane Cunha de Mello, secretaria do Programa de Pós-Graduação em Química Orgânica, pela paciência em fornecer as mil e uma cartas e declarações exigidas pela universidade para um docente em capacitação. Aos funcionários da Central Analítica da UFF, especialmente a Lívia Gonelli e Rosana Strolla Valetutto . Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Aos colegas dos laboratórios dos professores Vitor Francisco Ferreira e Maria Cecília Bastos Vieira de Souza , pelos “quinhentos mil empréstimos” de reagentes . Sem eles esta tese não teria saído. O retorno, depois de velha, a um laboratório de pesquisa na condição de aluna de pós-graduação foi um grande aprendizado. Aos meus “mestres” Luana Marins, Neide Epifanio, Sandro Greco e Sandro Guimarães, muito obrigada. O “pequeno” grande amigo Ronaldinho merece mais que um agradecimento. Muito obrigada pelas horas de conversas químicas, filosóficas, fofocas e, principalmente, pela força dada em todos os momentos complicados em que você esteve junto. A galera PIBIC também foi fundamental para a realização deste trabalho. Um abraço apertado para a Tati e para o Dedé. Aos amigos “uffinianos” extra Instituto de Químico, Renata, Regininha, Theo e Luiz Carlos. Valeu o ombro amigo e a presença constante nos momentos difíceis vividos neste percurso. Muitas pessoas foram importantíssimas em minha formação profissional. Um brinde especial aos Drs. Paulo Roberto Ribeiro Costa e Eliezer Jesus de Lacerda Barreiro. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ao Dedero e papai, minha torcida organizada do céu.Tenho certeza que o dia de hoje está sendo comemorado por essas bandas. A minha mãe, que além do carinho e presença constante, mostra-nos diariamente que a vida, mesmo doída, é para ser vivida e desejada. A João Augusto, por tudo. Na etapa de escrita desta tese, extremamente corrida, obrigada pelas feiras e supermercados realizados sozinho, e, principalmente, pela compreensão da ausência. Ao Nando, Ricardo, Juliana, Vímia, Juju, Carolina e Gabriel. Família querida. Obrigada pelo carinho. A Maria, Thiago , Pedro e Mário , filhos queridos. A chegada até aqui tem muito a ver com vocês. A Mel, que chegou para mostrar que a vida é linda! A todos que eu não citei, por uma falha de memória, aquele abraço. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ι. Introdução 1.α,β− Diaminoácidos : Importância e Métodos Sintéticos 1.1.Importância Os α,β-diaminoácidos representam uma classe de moléculas de grande importância em química orgânica, pois constituem fragmentos estruturais de compostos biologicamente ativos, além de serem bastante utilizados como blocos de construção em síntese orgânica.1 São encontradas na natureza em sua forma livre, como pode-se destacar o ácido L-α,β-diaminopropiônico (L-Dap), isolado de extratos proteicos do bicho da seda (Bombyx sp) e de sementes de várias espécies de Mimosa e Acácia, e os dois diastereoisômeros do ácido α,β-diaminobutanóico (α,β-Dab), identificados em nódulos da raiz de Lotus tenuis contaminadas por fungos (Quadro 1).2 NH2 H2 N COOH NH2 L- Dap COOH NH 2 (2S,3S) - Dab Quadro 1: Exemplos de α,β-diaminoácidos encontrados na natureza. Dentre o grande número de aminoácidos não proteinogênicos isolados como metabólitos secundários de plantas deve-se destacar os α,β-diaminoácidos heterociclos derivados de alaninas β-substituídas (Quadro 2). Assim, o ácido L-quisquálico, obtido da semente e dos frutos de Quisqualis chinensis L., possui ação agonista em dois subgrupos de receptores de aminoácidos excitatórios do sistema nervoso central, possuindo afinidade especial por receptores de cainato, AMPA e metabotrópicos.3 Por sua vez, a mimosina , Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento obtida de sementes de Leucaena leuciphela ou Mimosa pudica,possui ação bloqueadora da proliferação celular (atividade anti-neoplásica), e alguns de seus derivados agem como quelantes de Fe(III) com potencial aplicação em clínica médica no tratamento de talassemias.4 Outro exemplo que pode-se citar é o 1-pirazolilalanina, isolado de Citrullus vulgaris, e com ação hipoglicemiante.5 O HN O N O COOH NH 2 Ácido L-quisquálico HO N COOH N N NH 2 O L-mimosina COOH NH 2 L-1-pirazoil-alanina .Quadro 2 : Alaninas β-substituídas. Dois α,β-diaminoácidos simples isolados de plantas apresentam ação neurotóxica (Quadro 3) : a L-β-metil-amino-alanina ( L-BMAA) é um agonista dos receptores ionotrópicos de glutamato. É isolado das palmeira do gênero Cycas (Cycas micronésia), abundante no ecossistema da ilha de Guam, e encontrada também em várias espécies de cianobactérias que vivem em simbiose com estas palmeiras. Os morcegos desta ilha (chamados de “raposas voadoras”) alimentam-se dos frutos da palmeira e podem acumular até 3.556µg de L-BMAA por grama de peso seco. O uso destes morcegos como alimento dos povos indígenas da ilha de Guam (chamorros), mostra claramente uma correlação entre a concentração deste aminoácido no córtex cerebral frontal e a alta incidência de doenças degenerativas cerebrais 2,6 (esclerose lateral amiotrófica ,7 Mal de Parkinson e Doença de Alzheimer) nesta população. O ácido 3(N-oxalil)-L-2,3-diamino propiônico (β-ODap) , isolado de Lathyrus sativus L, uma espécie de cereal muito utilizado como alimento na Índia e na Etiópia , é um agonista do receptor de glutamato e responsável pelo desenvolvimento de uma doença neurodegenerativa que causa paralisia de partes do sistema límbico.2 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O COOH N H HOOC NH2 L-BMAA N H COOH NH 2 β-Odap Quadro 3: α,β-diaminoácidos que atuam como neurotoxinas. Os α,β-diaminoácidos também são muito encontrados como parte do esqueleto de moléculas mais complexas. Neste aspecto, pode-se destacar os antibióticos peptídicos (Quadro 4) Bleomicina A2 (Blenoxane® ) e Peplomicina , antitumorais utilizados em Linfomas de Hodghin’s, tumores de testículos e carcinomas de pele e Capreomicina (Capastat® ), com aplicação como tuberculostático.2 O O NH2 H N N N H2 N HO OH O HO N H O N N H N HO O HN OH O N CONH2 O S RHN NH 2 O S N H OH O H 2N N H NH NH O H N O H HN N O N H O H N O OH OH O H 2 NOC NH 2 CONH 2 NH O OH O NH 2 N H O Capreomicina A R= S+ R= N H X- Bleomicina A 2 Peplomicina Quadro 4 : Antibióticos peptídicos contendo unidades de α,β-diaminoácidos. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Nas últimas décadas tem-se assistido ao desenvolvimento da química de produtos marinhos e o oceano tem representado uma fonte importante de produtos com atividade biológica. Neste aspecto, também aí são encontrados tanto α,β-diaminoácidos livres, quanto peptídeos que apresentam estas unidades em seu esqueleto . Como exemplos (Quadro 5) pode-se citar a disibetaína e os peptídeos diclocinamida A, agente antitumoral com ação específica em tumores sólidos e cicloteonamida B, inibidor da trombina.2 Cabe destacar que em 2004 o grupo de Kashman relatou o isolamento e identificação da calinormina A, onde observa-se pela primeira vez a unidade α-amino-β-amida-insaturada em um peptídeo marinho.9 Br O (H 3C)3 +N O 2C HN O N H O HO Disibetaina O H N OH N NH H H HN N N H O O NCH3 Cl O CONH 2 Ciclocinamida A NH 2 HN N H O H N NH O O N O H N NH H N O NH HN O N O N O OH Cicloteonamida B HN O O O O O N HN O HO 2C OH O NH N HN HN O O Calinormina A Quadro 5 : Produtos naturais marinhos contendo unidades α,β-diaminoácidos. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento α,β-diaminoácidos também tem apresentado papel relevante na obtenção de peptidomiméticos. O grande avanço no estudo desta classe de compostos se explica à medida que estas substâncias mimetizam os peptídeos originais sob determinados aspectos, como, por exemplo, estrutura tridimensional, ao mesmo tempo em que conferem propriedades únicas tais como estabilidade frente a proteases e maior especificidade em relação à atividade biológica,10 o que torna-os excelentes candidatos a fármacos. Várias abordagens11 são descritas para a obtenção de peptidomiméticos, dentre as quais podemos destacar: a) união de dois aminoácidos vizinhos em uma cadeia peptídica através da formação de lactamas, o que implica em maior rigidez conformacional; b) modificações do esqueleto peptídico por substituição das ligações amidicas por grupos isostéricos ; c) formação de isômeros retro-inversos ( substituição por D- aminoácidos , o que implica na reversão da topologia do peptídeo); d) formação de macrociclos, acarretando uma restrição da conformação global do peptídeo e e) substituição de um ou mais aminoácidos da cadeia peptídica por aminoácidos não proteogênicos como α,βdiaminoácidos. Dentre os vários métodos possíveis utilizados para induzir rigidez conformacional em uma cadeia peptídica, a incorporação das denominadas “Lactamas de Freidinger” 12 tem-se mostrado bastante eficiente, principalmente para a obtenção de inibidores de peptidases.13 O dipeptídeo I (Quadro 6) que possui a “dobra em β" amarrada em uma β-lactama apresenta atividade inibidora da α-quimotripsina.14 A obtenção de peptidomiméticos em que α,β-diaminoácidos, especialmente L-Dap (ver Quadro 1), são incorporados à cadeia peptídica em substituição aos aminoácidos proteogênicos tem levado a resultados promissores.2 Assim, a substituição de dois resíduos de Lis por L-Dap de um dímero da alameticina (II), (Quadro 6), resulta em uma reversão da seletividade iônica, indicando que L-Dap pode desempenhar papel relevante no transporte iônico das membranas celulares.15 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Dentro deste mesmo contexto, a introdução de um resíduo L-Dap no aminoácido N-terminal da Bombesina (peptídeo ligante dos receptores de gastrina - GRPR - e presente em altas concentrações em várias neoplasias humanas) gera um sítio quelante no peptídeo (III) (Quadro 6) capaz de retirar a gastrina excessiva de células tumorais.2 O Gln Phe Ph N HN t BuO O O O N O Gln HO2 C Phe II I NH-Ac HN H 2C CH O NH CH2 O NH HN H 2C CH O NH 2 NH 2 (Ser)3 Gln Trp Ala Val Gly His Leu Met NH 2 H 2N III O Quadro 6 : Peptidomiméticos contendo α,β−diaminoácidos. Em função da presença de um segundo grupo amina, o que acarreta em uma maior capacidade de quelação, α,β-diaminoácidos tem sido bastante utilizados como ligantes em sínteses em fase sólida, permitindo grande diversidade na utilização em bibliotecas de química combinatorial.2 Assim, livrarias de dicetopiperazinas biciclicas foram sintetizadas utilizando α,β-diaminoácidos como ligantes de resinas de a-hidroxi-metil poliestireno, 12 bem como derivados do Dap (ver Quadro 1) foram ligados a p-metil-benzidril-aminas com aplicação na síntese de hidantoínas em fase sólida (Esquema 1).16 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2 R4 O O FmocN O N NBoc O R NH N R1 N R3 O Dicetopiperazinas Biciclicas O H2 N R 1 2 NHBoc H n N N H O HN O R 1 N O NHCOR n NH2 O Hidantoínas Esquema 1: Aplicação de α,β-diaminoácidos em química combinatorial. Outra área em que os α,β-diaminoácidos são importantíssimos é a de moléculas com potencial aplicação terapêutica ou já em uso clínico. Neste sentido, pode-se citar: UBP 304, um antagonista seletivo e potente do receptor cainato GLUk5 ;17 alanosina, que possui atividade antitumoral em leucemias linfoblásticas agudas da célula-T;18 Roxifibam , pró-fármaco que atua como antagonista da glicoproteína plaquetária do receptor IIb/IIIa com conseqüente utilização em tromboses intravasculares e angina pectoris2 e o Imidapril com utilização clínica como hipotensor, em infartos agudos do miocárdio e deficiências cardíacas crônicas, à medida em que exerce ação inibitória da enzima conversora de angiotensina (ACE), inibindo angiotensina II (Quadro 7) .2 a biossíntese da Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O CO2H N N (H3 C)3 COOC S O CO 2H NH 2 UBP 304 N O H N HN COOH N OH NH 2 N O H 2N NH COOCH 3 O Roxifibam Alanosina H N O O N N EtOOC HOOC Imidapril Quadro 7 : Exemplos de fármacos que contém α,β-diaminoácidos em sua estrutura. Os análogos de 2-carboxi-piperazinas constituem um grupo especial de moléculas com atrativos farmacológicos, onde a unidade α,β-diaminoácido encontra-se rigidamente amarrada em um ciclo alifático de seis membros. Neste enfoque, podemos citar o ácido (R) 4-(3-fosfopropil)-2-piperazina ((R)-CPP), antagonista seletivo de receptores NMDA (glutamato) com aplicação terapêutica potencial em epilepsia.19 Entretanto, o análogo carboxi-piperazinico que causou maior impacto terapêutico é ,indubitavelmente, o Indinavir, um inibidor de protease do HIV, de uso corriqueiro no tratamento (“coquetel”) da SIDA (Quadro 8). Vale ressaltar, por outro lado, que a rápida resistência adquirida por usuários deste fármaco, além de efeitos colaterais sérios, tem levado a procura cada vez mais intensa de inibidores mais potentes de proteases virais, o que tem resultado em inúmeros estudos envolvendo análogos do Indinavir. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento H N N N HO2 C (R)-CP P PO 3H 2 O OH OH N N t BuHN O N Indinavir Quadro 8 : Fármacos contendo a unidade 2-carboxi-piperazina. Considerando-se a importância que α,β-diaminoácidos apresentam, associado à complexidade sintética da construção de dois centros nitrogenados vizinhos, abordagens visando a construção estereosseletiva desta classe de substâncias representam o estado da arte em química orgânica sintética. A seguir apresentaremos uma revisão das principais abordagens sintéticas descritas com esta finalidade. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 1.2.Métodos Sintéticos Para facilitar a discussão das metodologias existentes para a obtenção de α,β-diaminoácidos as várias abordagens sintéticas serão descritas em dois itens : 1. Métodos que partem do esqueleto carbônico básico e atingem as moléculas alvo por reações de transformações de grupos funcionais e 2. Métodos que envolvem a formação de ligações carbono-carbono. 1.2.1.Métodos que envolvem a transformação de grupos funcionais: Introdução dos átomos de nitrogênio na cadeia carbônica. Estes métodos serão discutidos conforme três abordagens, como mostrado no esquema retroanalítico (Esquema 2) : Rota a : Partindo de aminoácidos, contendo um grupo funcional na posição β que permita a obtenção do produto desejado por interconversão deste grupo funcional ; Rota b: Partindo de compostos alílicos por reações na ligação insaturada e Rota c: Por formação da ligação C-N utilizando um sistema nitrogenado eletrofílico. X b NH 2 X CO 2H a NH 2 H 2N CO2 H R X = OH, NH 2 c X CO2 R "N " Esquema 2 : Abordagens retroanalíticas utilizadas para a introdução de grupamentos nitrogenados no esqueleto carbônico. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 1.2.1.1.Obtenção de α,β-diaminoácidos a partir de aminoácidos contendo uma função hidroxila na posição β. Estes métodos envolvem a interconversão da função hidroxila da serina, treonina e alotreonina em amina. Para esta transformação o método mais utilizado é, sem dúvida, a reação de Mitsunobu.21 Este protocolo, entretanto requer grupos protetores nas funções ácido carboxílico e α-amino, além de exigir cuidados para evitar produtos de eliminação e formação de aziridinas.22 Por outro lado, Vederas e cols. 23 observaram que a aplicação das condições de Mitsunobu em substituição intramolecular na N-Boc-Ser (1) gerava a lactona 2 sem epimerização. Esta lactona passou a ser um intermedário importante para a síntese de vários compostos contendo a unidade α,β-diaminoácido,24 como exemplificado na obtenção do análogo da L-encefalina 3 (Esquema 3). 25 OH PPh3 , DMAD Boc N H COOH THF o - 78 C t.a. 2 t BuO O CO2Me + BocHN 2 NH t BuO NHBoc O H N N H O Ph o NHS,DMF,23 C, 55% t BuO CO2Me N o i. CH3CN, 65 C ii. H-Phe-Leu-OtBu,EDC, NHBoc BocHN O NHBoc 72% 1 O O CO2 H O BocHN NH H N N O 3 Esquema 3: Síntese da lactona 2 e do derivado 4. O N H Ph CO 2H Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Além das condições de Mitsunobu, são poucos os trabalhos que envolvem uma substituição nucleofílica direta em derivados β-tosilados dos β-hidroxiaminoácidos26ou na β-cloro–alanina27, devido a formação, principalmente, de produtos de eliminação. Uma estratégia muito utilizada para sobrepor estas reações colaterais adveio com a síntese da N-hidroxi-β-lactama 4 28a partir da L-serina. Um exemplo da aplicação desta metodologia é mostrado no Esquema 4 na síntese do ácido Lquisquálico 5.29 N Boc-L-Ser-NH2 OH THF t.a. BocHN O 4 O H N LiSEt O BocHN HN O O O NH3 + N - 5 CO 2 Esquema 4: Síntese do ácido L-quisquálico 5 a partir da lactama 4. Uma alternativa ao uso da lactama 4 consiste na formação de aziridinas com subseqüente abertura do anel por um nitrogênio nucleofílico.30 O Esquema 5 exemplifica a obtenção do ácido L-quisquálico (5) por este método. 30 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O HN HO Boc N CO 2tBu PPh 3, DEAD THF NHBoc 6 O CO 2tBu O N H DMF 58% O O NHBoc N HN CO 2tBu O CF3CO2H anisol > 99% O O HN NH3 + N CO2- O 5 Esquema 5: Síntese do ácido L-quisquálico 5 a partir da aziridina 6. Outra abordagem consiste na interconversão da função hidroxi-metila da L-serina via formação do “ aldeído de Garner” (7) .26a,31 Um exemplo é mostrado no Esquema 6, na síntese do derivado de 4-aza-lisina 8, utilizado em sínteses em fase sólida.32 OHC Boc-L-Ser Cbz O N 7 BocNH(CH 2 )2NH2 NaBH 3CN, MeOH-AcOH 35% BocHN O N H Cbz Boc HN N N COOH NHCbz O 8 Esquema 6 : Síntese do derivado 8 a partir do “aldeído de Garner” 7. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Falorni e colaboradores aplicaram esta mesma estratégia (substituição da função hidroxi-metila da serina) para o desenvolvimento de um método sintético genérico para a obtenção de carboxi-piperazinas.33 O Esquema 7 mostra sua utilização na síntese do (R)-CPP (9).34 CO2 H H N NHCBz + H 2N EtOCOCl, EtOAc O N 66% BzCHN O CO2 Me OH OH HCl. CO H 2 H N CO 2H N H ee > 95% 9 Esquema 7: Síntese do (R)-CPP (9). 1.2.1.2.Obtenção de α,β-diaminoácidos a partir do ácido aspártico e asparagina. Outras abordagens bastante utilizadas na síntese de α,β-diaminoácidos envolvem o uso dos rearranjos de Hofmann ou Curtius.35 O Esquema 8 mostra a obtenção do α,β-diaminoácido 10, intermediário da síntese da (+)-biotina (11), por rearranjo de Hofmann.36 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento HO2C HO2 C NHCbz MOMO CO2H NHCbz CONH 2 H 2 O, 70% CO2 H S CO2 H MOMO NaOCl, NaOH HN NCbz O 10 NCbz HN O 11 Esquema 8: Obtenção da (+)-biotina 11. 1.2.1.3.Obtenção de α,β-diaminoácidos a partir substratos alílicos A partir de aminas e álcoois alílicos: Aminas e álcoois alílicos opticamente ativos são excelentes precursores para a obtenção de α,β-diaminoácidos.37 Um exemplo pode ser visto na síntese de um análogo da cadeia lateral do taxol (12) a partir do álcool cinâmico (13) (Esquema 9). A etapa chave desta metodologia reside na abertura do epóxido pelo ataque intramolecular do nitrogênio da função carbamato. Este epóxido, por sua vez, é formado por epoxidação assimétrica de Sharpless no álcool alílico 13. 38 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O O OH O OH NHBz i. NaH, THF ii. LiOH, H2 O 70% 13 NaN3 , TMSCl 89% DMF, 64% O NHBz CO 2H N3 MsCl, NEt3 O HN O HN O NHBoc 12 Esquema 9 : Obtenção do análogo da cadeia do taxol 12 a partir de 1. A partir de ácidos e ésteres α,β-insaturados. α,β-Dibromopropionatos e succinatos, obtidos por adição a ligação insaturada de ésteres α,β-insaturados, também são excelentes substratos para a geração de α,β -diaminoácidos.39 Recentemente, Nadir e colaboradores relatam a síntese de L e D-Dap (13), tendo como etapa-chave a abertura da aziridina 14 por ataque do isocianato quiral 15.40 A substância 14 foi facilmente obtida a partir do éster correspondente (Esquema 10). α,β-insaturado Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Br CO 2Me CO 2Me Br O C MeO2C NTs + 14 Ph N Ts N NaI O MeO 2C 15 N CO 2H H 2N Ph NH 2 13 ed: 30% Esquema 10: Obtenção de L-Dap 13 a partir da aziridina 14. Uma metodologia bastante convincente para a obtenção de α,βdiaminoácidos é a diaminação enantiosseletiva de ésteres α,β-insaturados.41 Neste sentido, a diaminação mediada pelo complexo bis- (terc-butil-imido)-ósmio 16 do cinamato de 8-fenil-mentoxi (17) leva ao intermediário 18 (88% e.d.) , facilmente convertido a α,β-diamino-amida 19 (Esquema 11).42 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O N tBu Os t O N Bu 16 O Ph O Ph THF, -15o C 17 Bu t O * Os N CO 2 R ON t Bu Ph ed = 88% 18 1.tBuNH 2 , ZnCl2 2. NaBH 4 , EtOH, t.a., 95% t Ph NH B u t CONH Bu NHtBu 19 Esquema 11: Diaminação estereosseletiva do cinamato 17. A amino-hidroxilação de ésteres α,β-insaturados, seguida de manipulação adequada do amino-álcool resultante, é outra abordagem muito utilizada para a formação de α,β-diaminoácidos.43 Neste contexto, Sharpless e colaboradores desenvolveram uma rota curta e eficiente para a obtenção de α,β-diamino ésteres 20 a partir de misturas regioisoméricas dos amino-hidroxi-propanoatos 21 e 22, advindo do éster glicidico trans 23 (Esquema 12).44 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento CO2 Et Ph CF3 CO 3H O CO2 Et Ph OH NR 2 R 2 NH, EtOH refluxo, 94-99% CO2 Et Ph (+) + NR 2 OH 22 21 23 CO2 Et Ph MsCl, Et3 N , CH 2Cl2 0 oC, 94-99% R 2NH = O NH , HN NPh , Bn 2NH Cl NH NR 2 CO2 Et Ph 2 (+) 1 2 Ph NR R CO2 Et ( +) NR 2 R1 R 2NH K 2CO3 , MeCN 72-99% Cl CO2 Et Ph NR2 ( +) r.d. : 92:8 - 100:0 20 R 1R 2NH = NH3 , n BuNH 2, tBuNH 2 NH2 , HN NPh , HN , N H N Esquema 12 : Metodologia de Sharpless para a obtenção dos α,β-diaminoésteres 20. Derivados de ácidos α,β-insaturados também são utilizados como aceptores de Michael frente a nucleófilos nitrogenados para gerar α,β-diaminoácidos. 2,45 O Esquema 13 mostra exemplos de sínteses dos diastereoisômeros (2S,3S) (24) e Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento (2R,3S)-Dab (25), obtidos opticamente puros, a partir do amino-éster 26 que, por sua vez, foi gerado por adição de Michael diastereosseletiva no éster 27 (Esquema 13).46 N H Ph i. nBuLi t ii. CO2 Bu Ph 27 o i. LDA, -78 C NBn CO2 tBu 26 ii. trisilazida, THF, -78 oC Ph NBn CO 2tBu iii. AcOH, THF, -78 oC 32% NH 2 ed > 95% o i. LDA, THF, -78 C ii. N , 62% NH2 S O O2 CO2H NH 2 ed > 95 Ph NBn t CO2 Bu OH NH2 CO 2H (2S,3S)-Dab 24 NH 2 (2R,3S)-Dab 25 Esquema 13: Obtenção de 24 e 25 por adição de Michael. 1.2.1.4.Obtenção de α,β-diaminoácidos a partir de aminação de enolatos. A aminação eletrofílica de enolatos representa uma rota importante para o acesso a α,β-diaminoácidos.47 Neste aspecto, merece destaque a metodologia desenvolvida pelo grupo de Miller baseada na introdução de um nitrogênio no C-3 de β-lactamas.48 O Esquema 14 mostra a síntese de um análogo da Rodopeptina B5 (28) a partir da βlactama 29. 49 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento (CH2 )10CH 3 (CH2)10 CH 3 N O 29 OBn H2, Pd/C MeOH O N 2. TMSN 3 , iPr2NEt, CH 3CN 72% OH O N3 O H2 N (CH 2) 10CH 3 H 3C(H2 C)10 NH 1. TsCl, iPr 2NEt, quant. H N N H O O H N N H (CH 2) 4 NH 2 O 28 Esquema 14 : Obtenção do análogo da Rodopeptina B5 (28) a partir da βlactama 29. O desenvolvimento recente de rotas sintéticas para a obtenção de α,β-diaminoésteres α,β- insaturados 50 permite prever a aplicação da hidrogenação enantiosseletiva para a geração de α,β-diaminoácidos. Esta abordagem já é utilizada 51 e pode ser exemplificada na síntese do derivado pirazinico 30, intermediário sintético importante para a obtenção do Indinavir (Esquema 15). 52 Boc N N N CONH tBu N Cbz O NHtBu i. H2 , [(R)-BINAP-(COD)Rh]TfO MeOH, 70 bar 96% ii. Pd/C, H2 , MeOH Boc N N H NHtBu 30 O Esquema 15: Hidrogenação enantiosseletiva para a obtenção do intermediário 30. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 1.2.2.Métodos que envolvem a formação de ligação C-C: Para facilitar a apresentação desta discussão, as diversas abordagens para a construção da ligação C-C serão abordadas conforme a ligação formada, como mostrado na análise retrossintética abaixo (Esquema 16): NH 2 O c' c b a R OH H 2N R b' NR1 R2 c 3 NZR b CO2 R NH2 H2 N CO2 H R2HN X R NHR 1 b Y " CO2 H" a Esquema 16: Abordagens que serão utilizadas na discussão de formação da ligação C-C. 1.2.2.1. Métodos de formação da ligação b-c: A partir de iminas: Nesta abordagem, a adição nucleofílica de glicinatos a iminas representa, sem dúvida, um dos métodos mais importantes. Este tópico será discutido separadamente na segunda parte da introdução deste trabalho (Reações de Mannich Estereosseletivas). A adição de nitro-alcanos a iminas também é utilizada para a formação de α,β-diaminoácidos. Jørgensen e colaboradores desenvolveram uma metodologia utilizando catálise assimétrica que consiste na reação de aza-Henry entre o iminoéster 31 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento e compostos nitro 32. A reação ocorre com alta diastereosseletividade e excessos enantiméricos acima de 95% para o isômeros anti-β-nitro-α-aminoésteres (33) (Esquema 17).53 Estes ésteres, por sua vez, são facilmente convertidos, por hidrogenação com Ra/Ni, em anti -α,β-diaminoésteres.54 O O 2N 32 + R OEt NPMP 31 NO2 Et3 N, cat. (20% mol) R CO2Et NHPMP anti:syn = 77:23-95:5 ee (anti) = 95-99% 33 R = alquil, benzil O cat : Ph O N N Cu (OTf) 2 Ph Esquema 17 : Reação de aza-Henry para a formação de 33. Outros eletrófilos diferentes de iminas também foram utilizados para a obtenção de α,β-diaminoácidos. Assim, são descritas a utilização de derivados halogenados ,55 N-bromo-metil-ftalimida 56 e aldeídos. 57 Robinson e colaboradores desenvolveram um método de obtenção de α,β-diaminoéster 34 cuja etapa-chave consistiu na hidrogenação enantiosseletiva do α,β-diidro-α,β-diaminoéster 35 obtido por condensação do ácido hipúrico (36) com a dimetil-formamida-dimetil-acetal (Esquema 18). 51a Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O O i. Me 2NCH(OMe)2 , tolueno Ph N H 36 COOMe ii. NH OAc, MeOH 4 iii. MeCOCl, Py, CH2Cl2 68% NH O H2 Ph CO 2M e NHCOPh AcHN (R,R)-EtDuPhos-Rh 60-90 psi N CO 2Me H 90% 35 ee = 99% 34 Esquema 18: Síntese do α,β-diaminoéster 34 a partir do ácido hipúrico 36. Dimerizações oxidativas de iminas constituem outro método para a síntese de α,β-diaminoácidos. 59 Assim, por exemplo, o acoplamento do tio-glicinato 37 com o acil-imino-glicinato 38 gera o succinato Z, 39. Isomerização de 39 fornece o isômero E (40). Hidrogenações de 39 e 40 levam a obtenção dos succinatos 41 e 42, respectivamente (Esquema 19). 60 SEt COOtBu BocHN 37 + BzH 2CN COOMe i. SO 2Cl2 , CH 2Cl2 BocHN t CO2 Bu ii. PPh 3 BzCHN CO2Me Z iii.Et 3N, THF, 61% 39 Et2NH MeOH 52% t BocHN CO 2 Bu MeO2C NHCBz E 40 38 [Rh(COD)Cl]2dppf 90 bar, H 2, tolueno [Rh(COD)Cl]2 dppf 90 bar, H2, tolueno MeO 2C NHCBz t CO 2 Bu NHBoc 41 MeO2C NHCBz t CO2 Bu NHBoc 42 Esquema 19: Obtenção dos succinatos 41 e 42 por dimerização de glicinatos. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Iminas e análogos contendo ligação C=N também são usadas como substratos para reações de ciclo-adição estereocontroladas, fornecendo precursores cíclicos para α,β-diaminoácidos.61 O Esquema 20 mostra um exemplo de obtenção da aziridina 43 através da formação in situ de um ímíno que sofre reação de ciclo-adição com o diazoacetato 44 . A aziridina 43 , por sua vez, é convertida no (2R, 3S)- Dab (25) em três etapas. 62 N2 CN N H Ph SnCl4 , CH 2 Cl2 t.a. H CO2Et Ph 44 N CO2H N Ph 43 NH 2 CO 2Et NH2 (2R,3S)-Dab 25 Esquema 20: Obtenção do (2R,3S)-Dab (25) por reação de ciclo-adição com diazoacetato. A reação de Staudinger entre iminas e cetenos, ou equivalentes de, gera 3-amino-β-lactamas, intermediários importantes para a síntese de α,β-diaminoácidos. 63 Neste sentido, a síntese do antibiótico 593-A (45) é descrita através da formação da 3azido-β-lactama 46 , obtida por reação de ciclo-adição do derivado de azido-ceteno 47 com a imina 48 (Esquema 21).64 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento MOMO O O Cl N + N3 i. Et 3 N OEt ii. HCl, CH(OMe) 3 , MeOH iii. (NH 4) 2Ce(NO3 )6 OEt THF, H2 O 48 47 Cl N3 NH OMe 46 OMe NH O HN O HN Cl ( + ) - 593A 45 Esquema 21 : Síntese do antibiótico 45 por reação de ciclo-adição. As 2-carboxi-imidazolinas e imidazolidinas são também substratos muito utilizados para conversões a α,β-diaminoácidos e facilmente obtidos por reações de ciclo-adições [3+2] de iminas com ilídeos azometinicos. 65 Neste contexto, o grupo de Harwood descreve a obtenção de syn-α,β-diaminoácidos opticamente puros, utilizando como etapa-chave a ciclo-adição do ilídio quiral 49, obtido in situ a partir da 5-(S)-fenilmorfolina-2-ona (50) , com as aldiminas 51, utilizadas em excesso no meio reacional (Esquema 22).66 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ph Ar H N N + O 50 PPTS, tolueno Ar O Ar = Ph Ph O N OMe Ph N Ar H O O ed = 100% , , NO 2 Ar N O 49 51 , Ph TFA, MeOH-H2 O Pd(OH)2, H 2 F NH 2 Ar CO2 H NH2 Esquema 22 : Obtenção de α,β-diaminoácidos por reação de ciclo-adição de iminas com ilídios azometinicos. 1.2.2.2.Métodos de formação da ligação a-b: A unidade ácido carboxílico pode ser incorporada ao esqueleto carbônico pela utilização tanto de equivalentes sintéticos de carboxila nucleofílica, quanto de eletrofílica. Neste sentido, são utilizados como nucleófilos compostos nitro,67 alcinos terminais 68 e nitrilas.69 A utilização do grupo nitro pode ser exemplificada na síntese do α,β-aminoéster cíclico 52 . A diaminosulfona 53 atua como um equivalente sintético de N-acil-imínio em uma adição ao ânion do nitrometano, gerando a nitrodiamina 54, que é convertida em 52 via reação de Nef (Esquema 23).67a Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento NHBoc L-Pro N Cbz 53 SO 2Ph NHBoc MeNO2 , NaH THF, 78% NO 2 N Cbz r.d. = 90:10 54 i. KMnO4 , KOH-K2HPO4 t BuOH ii. K2 CO 3, MeI, DMF 72% NHBoc N Cbz CO2 Me 52 Esquema 23: Obtenção de 52 por adição de nitrometano a diaminosulfona. O Esquema 24 exemplifica a utilização de alcino terminal como equivalente sintético para a obtenção da função ácido carboxílico. A adição de trimetilsilil-acetileto de lítio à nitrona 55 fornece, com alta diastereosseletividade, a (3S,4R) hidroxiamina propargílica 56, transformada subseqüentemente no α,βdiaminoéster syn, 57. Vale destacar que a substituição do grupo de proteção da nitrona 58 gera o diastereoisômero (3R,4R) (59) levando a obtenção do α,β−diaminoéster anti, 60.68 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Boc N L-Ser H O O t BuPh2 SiO Li N Boc N SiMe3 TMS Bn 55 HO N SiMe 3 t THF, -80oC CO 2M e 56 AcO Bn NHBoc Li+ NHBoc AcO O THF, -80o C N NHBoc H O + 57 TMS BuPh2 SiO HO Bn N Bn NHBoc AcO Bn CO2 Me N AcO 59 58 N 60 Bn Esquema 24 : Utilização de acetiletos como equivalentes sintéticos da função ácido carboxílico. Nitrilas representam o equivalente sintético de ácido carboxílico mais utilizado na síntese de α,β-diaminoácidos. O Esquema 25 mostra um exemplo desta abordagem. Assim, reação de Strecker diastereosseletiva entre a δ-lactama 61 e cianeto de trimetilsilano gera 62. Hidroxilação de 62 fornece 63, convertido facilmente a (S,S)-disilbetaína (64). 69a HO OH O N Ph O CN CN TMSCN, SnCl4 O KHMDS, MoOPH, tolueno N 65% O Ph 62 61 THF, 81% O N O Ph ed= 80:1 63 HO - O CO2 NMe 3 N + H 64 Esquema 25 : Utilização de nitrila como equivalente sintético da função ácido carboxílico. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Inversamente ao discutido até o momento, a introdução de uma função ácido carboxílico como eletrófilo é bem mais rara na literatura.2,70 Como exemplo podemos citar o trabalho de Palomo e colaboradores, baseado no uso de um grupo fenila como uma carboxila latente. Assim, a β-lactama 65, obtida por ciclo-adição [2+2] ceteno-imina, foi convertida (quatro etapas) ao derivado biciclo 66. A transformação do grupo fenila de 66 em carboxila (67) foi realizada pelo protocolo de Sharpless (Esquema 26).70a NHBoc N t Me2 BuSiO Ph i. MeOCH 2COCl Et3N , CH2Cl2 ii. TBAF, THF 59% MeO H NHBoc MeO N OH O O NBoc N 66 Ph 65 Ph H5IO6 , Cl3Ru.nH2O CH3CN, CCl4, H2 O MeO O NBoc N 67 CO2H Esquema 26: Uso do grupo fenila como uma carboxila latente. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 1.2.2.3.Métodos de formação da ligação b-b’ ou c-c’: Introdução de substituintes no esqueleto diaminoácido. Abordagens sintéticas envolvendo a introdução de substituintes carbônicos no esqueleto de diaminoácidos são mais raras se comparadas às discutidas até aqui e normalmente envolvem reações de alquilação .2,71 Neste contexto, podemos destacar a primeira síntese da (R, R)-disibetaína (68) , bem como dos seus estereoisômeros (S,S) (64), (R,S) e (S,R) (69). N-Acilação do ciano-acetato 70 com o ácido (R)-glicidico 71 gera a glicinamida 72 que, por alquilação intramolecular, fornece as pirrolidinonas diastereoisoméricas 73 e 74. Estas são facilmente convertidas a 68 e 69, respectivamente (Esquema 27). A mesma metodologia sintética partindo do ácido (S)- glicidico fornece os enantiômeros correspondentes. 71a O EtO2 C CN NH 2 70 O 71 CO2H NC DCC, AcOEt 85% EtO2 C O N H 72 OTBS OTBS i.NaOEt NC NC THF, 58% EtO2 C ii. TBSOTf 2,6 lutidina CH2 Cl2, 95% N H O + EtO 2C O N H 43 : 52 73 74 OH Me3 N - O2 C OH Me3 N N H O - O2 C 69 N H O 68 Esquema 27 : Síntese da (R,R) (68) e (S,R) (69) –disibetaína. Uma metodologia diferente da alquilação foi realizada por Merino e colaboradores, onde a etapa-chave consiste em uma reação de Grignard com α-aminonitronas derivadas da L-serina. Assim, adição nucleofílica de reagentes de Grignard às nitronas 75 e 76, ocorrem com diastereosseletividades opostas pelo ataque na face si (obtenção de 77) ou re (formação de 78). A diastereosseleção inversa é explicada pela Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento influência que os grupos de proteção exercem na conformação do estado de transição. Por sua vez, as hidroxilaminas 77 e 78 são facilmente convertidas nos α,βdiaminoésteres syn (79) e anti (80), respectivamente (Esquema 28). 72 Bn ON+ H B ocN NBnOH O 75 RM gX, THF BocN R = Me, Ph, Bn Bn O+ N H R O R NHBoc 79 r.d. = 95:5 77 NBnOH RMgX, THF OTBDPS NHBoc 76 R OTBDPS NHBoc r.d. = 89:11 - 92:8 78 NHCbz CO2Me R NHCbz CO 2 Me NHBoc 80 Esquema 28: Síntese dos α,β-diaminoésteres 79 e 80 por reação de Grignard. Nesta primeira parte da introdução desta tese procurou-se mostrar a importância dos α,β-diaminoácidos, bem como diversas abordagens sintéticas para sua obtenção. Entretanto, dentre as metodologias sintéticas há de se destacar a Reação de Mannich, assunto a ser discutido a seguir. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2. Reações de Mannich Estereosseletivas A reação de Mannich é um dos métodos clássicos para a formação de ligação C-C. No procedimento clássico, intermolecular, três componentes, um aldeído, uma amina e um composto carbonilado contendo metileno ativo, reagem diretamente formando um composto β-amino-carbonilado (base de Mannich). O mecanismo simplificado desta reação é mostrado no Esquema 29. O O HNR 2.HCl 1 R CH 2O R2 HNR 2.HCl - HCl HNR2 R1 +CH 2 O HO 2 R Bases de Mannich + H 2C NR 2 Cl - HCl,+H 2 O O OH R1 H 2C NR 2+ Cl- + HCl, -H2 O NR 2 - CH 2O + HCl NR 2 R1 R 2 O R 2 R1 2 NR 2 . HCl R Esquema 29: Mecanismo simplificado proposto para a reação de Mannich. Apesar da grande aplicabilidade desta reação, protocolos tradicionais requerem, na maioria das vezes, altas temperaturas e longo tempo reacional, o que implica em competição com reações colaterais. Além disto, estes três componentes apresentam uma série de limitações: Somente o formaldeído pode ser utilizado como o aldeído não enolizável para gerar o íon imínio e, adicionalmente, apenas aldeídos e cetonas podem ser empregados como precursores de enolatos, pois outros compostos carbonilados, como ésteres, são inertes nestas condições clássicas. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Nos últimos anos vários grupos de pesquisa desenvolveram novas metodologias para sobrepor os problemas da reação clássica e estenderam-nas para versões assimétricas. A maioria destas abordagens assimétricas está focada no uso de iminas ou sais de imínio pré-formados com, na maioria das vezes, equivalentes de enolatos, como silil-enol-éteres ou silil-ceteno-acetais. Este protocolo é conhecido como reação de Mannich indireta. 73 Um avanço desenvolvimento dos maior nestas abordagens assimétricas adveio com o sistemas catalíticos metálicos e organo-catalisadores, que promovem a denominada reação de Mannich direta catalítica, pois faz uso de aldeídos e cetonas não modificados como nucleófilos, embora ainda se utilize, na maioria das vezes, de iminas ativadas ou derivadas da anilina. 73 Versões assimétricas catalíticas diretas que usem os três componentes onde as espécies reativas sejam geradas in situ são mais raras. Para facilitar a discussão sobre estes métodos, dividiremos nosso texto conforme as abordagens supracitadas. 2.1. Reações de Mannich Indiretas. As limitações da reação de Mannich clássica, associadas a versatilidade que os adutos β-amino-carbonilados representam em síntese orgânica, levaram ao desenvolvimento de metodologias sintéticas mais adequadas. Neste sentido, o uso de reagentes pré-formados, principalmente iminas e sais de imínio, garantem altas concentrações do eletrófilo no meio reacional, o que permite o uso de temperaturas mais baixas e tempos de reação bem menores. Além disso, pode-se evitar o uso de solventes próticos, o que permite a utilização de equivalentes sintéticos do composto carbonilado bem mais reativos, como enolatos e conseqüentemente, ampliação do espectro de utilização desta reação.73 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Com este protocolo reacional passou a ser possível o uso de reagentes impraticáveis no método clássico, como, por exemplo, compostos estericamente impedidos e derivados de ácidos carboxílicos. Adicionalmente, a reação deixa de ser restrita a aminometilação, possibilitando a aminoalquilação.73 2.1.1. Silil-enol-éteres como nucleófilos Silil-enol-éteres são melhor nucleófilos que os carbonilados equivalentes, o que permite seu uso em reações de Mannich sob condições experimentais brandas.74 Além disso, a possibilidade de regiosseleção na conversão das cetonas a esses silil-enol-éters permite a extensão desta regiosseletividade na formação dos adutos de Mannich. Uma das primeiras versões da reação de Mannich indireta estereosseletiva foi descrita por Mosher e colaboradores 75 , onde relatam a diastereosseletividade preferencial exo da reação do silil-enol-éter derivado da d-cânfora 81 com o sal de Eschenmoser 82 (Esquema 30). Cabe ressaltar que a mesma reação, mas agora utilizando-se o enolato de potássio (83), leva a formação preferencial do isômero endo (4:1) (84b), mais estável termodinamicamente (Esquema 30).75 Por outro lado, a utilização de enolatos de lítio76 e de boro 77 levam a formação de misturas em uma proporção não relatada. Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento N CH2=NMe2+I82 OSiMe3 H CH 3CN , 86% exo 81 ed > 94% 84a H CH 2=NMe2 +I- KH, THF 0 oC O O OK 60% O endo 84b 83 N N + H exo 4:1 O 84a Esquema 30: Reação de Mannich no silil-enol-éter da d-cânfora (81). Mais recentemente, nosso grupo de pesquisas relatou a obtenção preferencial do isômero exo através do uso de enolatos de titânio com sais de imínio, aminas e N,Oacetais (Tabela 1).78 H NR i. TiCl4, iPrNEt H o - 10 C , 1h. ii. eletrófilo O exo NR + O endo O 85 a: R= (CH3)2 ; b: R= (CH2)4 Tabela 1: Reação de Mannich na d-cânfora usando enolatos de titânio. Eletrófilo CH2=NMe2+ N N N Aduto de Mannich 85 a 85b Rendimento (%) 52 41 exo: endo 95:5 91:9 85b 33 89:11 85b 50 92 - Cl N OMe Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento β-Amino-cetonas podem ser obtidas por reação de iminas pré-formadas, ou formadas “in situ”, com silil-enol-éteres na presença de ácidos de Lewis.73,79 O grande potencial deste método foi demonstrado por Kunz e Pfrengle na aminoalquilação do dieno de Danishefsky 86 com iminas opticamente puras derivadas da L-galactose (87) e dois equivalentes de cloreto de zinco. Merece destaque o fato de que o método de isolamento leva a produtos diferentes : Tratamento com cloreto de amônia aquoso gera a β-amino-cetona 88, enquanto a adição de ácido clorídrico gera deidropiperidonas (89) (reação de Michael intramolecular e saída de metanol), 79c intermediários importantes na síntese de alcalóides piperidinicos (Esquema 31). 80 O curso estereoquímico desta reação pode ser explicado considerando-se o estado de transição ET1 (Figura 1): Um equivalente do cloreto de zinco coordena-se com o nitrogênio do anel piridinico, enquanto o segundo ativa a ligação C=N por quelação com o nitrogênio da imina e com o oxigênio do grupo pivaloíla. Este grupo bloqueia a face re, obrigando que o ataque do silil-enol-éter ocorra pela face si da imina. Piv O OPiv O PivO N OPiv 87 N Me3 SiO + OMe 86 i. ZnCl2, THF-Et2O i. ZnCl2 , THF-Et 2O o - 20 C ii. NH 4 Cl, H2 O Piv O OPiv O PivO N OPiv N OMe 88 O o - 20 C ii. HCl/H 2O N Piv O OPiv O N PivO OPiv O 89 Esquema 31 : Obtenção de β-amino-cetonas a partir do dieno de Danishefsky (86). 46 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento OMe OSiMe 3 86 ZnCl2 ZnCl2 Piv O OPiv O PivO O N N O 87 ET1 Figura 1: Origem da estereosseletividade na formação das β-amino-dicetonas 88 e 89. Esta abordagem foi aplicada posteriormente na obtenção de bases indólicas tetracíclicas (90), intermediários importantes para a síntese de alcalóides da classe das reserpinas e ioimbinas. Neste caso, foi utilizado um ácido de Lewis quiral (91), tendo em vista que o uso de cloreto de zinco não causou boa diastereosseleção (Esquema 32).81 H N R N R1 + CO2CH 3 2 OMe H N 91 CH2Cl2 OSi(CH3) 3 CO 2CH 3 R1 N 53% 1 R = Ph, heptil, H O 2 R ed : 92% 2 R = etil, H H N O O H N B OPh CO2CH 3 + H CO2CH 3 H N N R1 91 R2 Cl R1 90 R2 Cl Esquema 32: Obtenção das bases tetracíclicas 90 por reação de Mannich com o dieno de Danishefsky. 47 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Utilizando N,O-acetais como equivalentes sintéticos de iminas, Enders e colaboradores descrevem a obtenção de β-dibenzil-amino-cetonas (92) a partir da reação de Mannich de Z-silil-enol-éteres quirais (93) e dibenzil-metoxi-metil-amina (94) com excelentes diastereosseletividades (Esquema 33). Estes intermediários são utilizados na síntese de β-aminoácidos. 82 OSiMe2 Bn2NCH 2 OCH3 R 94 Si BF3 .Et 2O, CH 2Cl2 0 oC, 94-95% (S)- 93 O R NBn 2 Si ed : 92-96% (S,R) - 92 R= Me, Et, ιPr,ι Bu, Bn,p-BrBn Esquema 33: Reação de Mannich entre silil-enol-éteres e N,O-acetal. A diastereosseletividade do processo pode ser explicada através de dois modelos de estado de transição: cíclico (ET1) e aberto (ET2). Em ambos, a estereosseleção é devida ao Z-sili-enol-éter e ao bloqueio da face si pelo grupamento dimetil-t-hexil-silil (Figura 2). 82 48 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento H BF3 Bn 2N O H 3C O R H O (H 3C)3Si H R R NBn 2 H H (H3C) 3 SiO Si Si Si N Bn H CH 3 92 ET1 Bn ET2 Figura 2: Estados de transição propostos para a diastereosseleção na formação de 92. Objetivando a síntese de α-aminoácidos não proteogênicos, Puchot-Kadouri e colaboradores descrevem a reação do N,S-acetal 95 com o silil-enol-éter 96, levando a 97 (Esquema 34). 83 A diastereosseletividade do processo é explicada pelo ataque do nucleófilo em posição anti ao grupo fenila do intermediário imínio formado “in situ” (Figura 3).84 O OSiMe3 + Ph N 95 OSiMe3 THF, t.a. 75% SPh 96 O ZnBr 2 Ph OSiMe 3 O O NHMe CO 2 H N 97 NHMe CO 2H Esquema 34 : Síntese de α-aminoácidos não proteinogênicos a partir do N,S-acetal 95. 49 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ph O OSiMe 3 O Ph Me 3SiO N OSiMe 3 O N 97 Figura 3 : Diasterosseleção proposta para a formação de 97. 2.1.2.Silil-ceteno-acetais como nucleófilos. Silil-ceteno-acetais também são muito utilizados em reações de Mannich indiretas.85 Yamamoto e colaboradores descreveram a síntese estereosseletiva da Nbenzoil-3-fenil-isoserina (98) através da reação da imina quiral 99 e do E-silil-cetenoacetal 100 na presença do catalisador de boro (R)- 91 (Esquema 35).86 Ph N Ph + ButMe 2SiO 100 99 OMe OSiMe 3 i. 91 CH2 Cl2 , -78 oC ii. TBAF, 96% Ph NH + (S) CO Me 2 Ph (S) OH Ph NH CO2 Me Ph OH 98 (anti: syn : 99:1) O O r.d. = 96:4 B OPh 91 Esquema 35: Obtenção de 98 com silil-ceteno-acetal e catálise quiral. 50 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento A estereosseletividade do processo é explicada por uma interação “matched” entre o complexo da imina 99 com o catalisador (R)-91, obrigando a aproximação do nucleófilo pela face re deste complexo (Figura 4). A utilização do catalisador (S) e do Zceteno-silil-acetal leva a obtenção do produto syn em uma relação 1:99 (anti:syn) e excesso enantiomérico de 98% para o enantiômero (1R,2S).86 Nu O O B O N Ph CH 3 H 99 91 Figura 4 : Ataque do nucleófilo no complexo imina-catalisador de boro (91). Em uma extensão deste trabalho, os mesmos autores relatam o uso do catalisador 101 frente a iminas pró-quirais. Assim, reação das N-benzidril-iminas 102 com o silil-ceteno-acetal 103 gera os adutos correspondentes com ótimas enantiosseletividades (Tabela 2). 87 51 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O O NCHPh2 + R H 102 OSiMe3 O tBu B O O H (R)-101 o CH2 Cl2, tolueno, -78 C NCHPh2 t CO 2 Bu R (R) 103 R Ph p-MePh Rendimento 58 35 ee 96 97 p-ClPh p-OAc 45 52 98 98 o,p-Cl2Ph 2-naftil 49 43 95 96 Tabela 2: Reação de Mannich frente ao catalisador quiral 101. Em uma abordagem utilizando auxiliar de quiralidade, Fujisawa e colaboradores publicam a síntese das β-lactamas (S)-104 e (R)-104 por uma reação de Mannich na imina 105, derivada da D-(-)-fenil-glicina. A reação foi avaliada frente a diversos ácidos de Lewis e o melhor resultado foi alcançado com um mistura de tetracloreto de titânio/ tetraisopropóxido de titânio (9/1). Deve-se ressaltar que o uso de tetrafluoreto de titânio leva a uma reversão da diastereosseletividade, mostrando que o ânion exerce influência no processo (Esquema 36).88 52 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O Ph Ph OTBDMS N N H + O OEt Ph i TiCl4 /Ti( PrO)4 EtOOC N H o CH 2 Cl2, -78 C 60% O Ph N O ed : 90% 105 i.TiF4 CH 2Cl2, -78o C 95% Ph EtOOC O Ph N H O ed: 64% Ph N NH O (R)-104 Ph O NH (S)-104 Esquema 36: Síntese das β-lactamas 104. Levando-se em conta o fato de iminas, principalmente alifáticas, serem muito instáveis, o que dificulta seu armazenamento e purificações por cromatografia e/ou destilação, o grupo de Skrydstrup utilizou N-acil-hidrazonas quirais como equivalentes sintéticos de iminas. Assim, reação da N-acil-hidrazona 106 com o sililceteno-acetal 107, forneceu o aduto 108 em rendimento moderado e boa diastereosseletividade. Remoção do auxiliar de quiralidade forneceu o diéster 109 em bom rendimento (Esquema 37).89 53 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O N O N OTMS + Bn OEt EtO2C 106 O ZnI2 Bn CH3 CN, t.a. 60% N O EtO2 C 107 EtO 2 C NH NHBz CO2 Et CO2Et 109 ed : 96% 108 Esquema 37: Utilização de N-acil-hidrazona em reação de Mannich. A estereosseletividade do processo foi explicada pelo ataque preferencial na face si do intermediário quelado mostrado na Figura 5. Nu EtO2 C H I Zn N N I O O Figura 5: Intermediário quelado. Sulfiniminas também são utilizadas como equivalentes sintéticos de iminas. Kawecki relatou a reação de sulfiniminas quirais derivadas da cânfora com silil-cetenos acetais na presença de ácidos de Lewis. Neste sentido, a alquilação da sulfinimina 110 com o nucleófilo 111 seguida de hidrólise ácida forneceu o β-amino-éster 112 com a recuperação do auxiliar de quiralidade 113 (Esquema 38). 90 54 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 4 S N OR 2 R OTMS + O 4 R OR 3 111 CH 2 Cl2 , -70 oC ii. H 3O + 63-79% R1 O S O COOR 1 + R 4 R R i R : Ph, p-OMePh, Pr 3 4 ee : 40-81% 113 110 1 NH 2 i.TMSOTf 112 R2 : TMS, TBDMS R3 : Me, Et, Ph R4 :H, Me Esquema 38: Sulfiniminas quirais em reação de Mannich. Skrydstrup e Jacobsen usaram uma abordagem semelhante para a síntese de derivados do ácido aspártico. Os resultados alcançados mostraram que tanto o rendimento, quanto a diastereosseletividade são dependentes do ácido de Lewis utilizado (Tabela 3). 91 O ataque do nucleófilo pela face re da ligação C=N pode ser explicada pela dupla coordenação do ácido de Lewis (Figura 6, ET2): Um equivalente quela com o oxigênio sulfinilico bloqueando a face si, enquanto o segundo coordena com o nitrogênio imínico ativando-o para o ataque do nucleófilo, gerando o produto de seletividade Cram. 55 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O S N + R 1 OTMS R1 OR 2 R O S ácido de Lewis CH 2Cl2 ou tolueno o R - 78 C O S + NH COOR NH COOR2 2 1 R1 R 114 R 1 R1 R 115 Ácido de Lewis R R1,R2 % 114:115 (equivalentes) BF3.OEt2 (2.0) TMSOTf (1.4) AlMe3 (2.0) AlMe3 (1.4) Yb(OTf)3 (0.6) BF3.OEt2 (2.0) AlMe3 (2.0) AlMe3 (2.0)a AlMe3 (1,4) TMSOTf (1.4) BF3.OEt2 (3.0)a BF3.OEt2 (3.0)b AlMe3 (2.0)b EtO2C EtO2C EtO2C EtO2C EtO2C EtO2C EtO2C EtO2C EtO2C Ph Ph Ph Ph H, Et H, Et H, Et H, Et H, Et H,tBu H,tBu H,tBu H,tBu H, Et H, Et H, Et H, Et 67 65 92 78 62 17 28 86 72 89 92 0 0 90:10 92:8 93:7 93:7 77:23 96:4 97:3 97:3 90:10 72:28 50:50 - a: 8 equivalentes do nucleófilo. b: uso do auxiliar quiral racêmico. Tabela 3: Reação de Mannich entre silil-enol-éteres e sulfiminas quirais. H ácido de Lewis CO 2Et Nu O N ácido de Lewis ET2 Figura 6 : Modelo proposto na diastereosseletividade da reação de Mannich em sulfiminas quirais. 56 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Dentre as funções orgânicas que possuem ligação C=N passíveis de serem utilizadas em reações de Mannich, as nitronas têm a vantagem de permitir um maior controle da estereosseletividade, à medida em que o oxigênio atua como um novo sítio de coordenação . Baseado nisto, Merino e colaboradores descreveram a síntese de isoxazolidin-5-onas quirais com estereosseletividades anti, e, daí, o acesso a nucleosídeos isoxazolidinicos da série L.92 Assim, tratamento das nitronas quirais derivadas do D- 2,3-di-O-isopropilidenogliceraldeído (116) com o silil-ceteno-acetal 117 na presença de BF3.OEt2 levou a obtenção diastereosseletiva das isoxazolidin-5-onas 118. Estas, por sua vez, foram convertidas nos nucleosídeos 119 e 120. (Esquema 39).92 Deve-se destacar que nucleosídeos isoxazolidinicos da série L já foram descritos por esse mesmo grupo de pesquisas através da reação de Manich desta mesma nitrona com enolatos de sódio e de lítio.93 Assim, tanto os nucleosídeos da série L, quanto os da série D são accessíveis a partir da nitrona 116. 57 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O O O H CH 2Cl2, -80oC N O R 116 R = Bn, Me i. BF3.OEt2 ii. O OTBDMS OMe 117 O R ,90% R' HN N O O O e.d. > 90% 118 N OH O N R 119 OH O N O N R HN R' O 120 Esquema 39: Síntese dos nucleosídeos 119 e 120. Em uma extensão desse trabalho, porém agora utilizando o E-2-sililoxi-sililceteno-acetal 121, o que permite a formação de dois centros quirais adjacentes, Merino e colaboradores descreveram a síntese enantiodivergente de D e L-eritro-esfingosinas (122 e 123, respectivamente). A diastereosseleção da reação é função dos ácido de Lewis utilizado. (Esquema 40).85b 58 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O O H i. Zn(OTf) 2 CH2 Cl2, -78oC N Bn ii. O 116 i. SnCl4 OTBDMS O OH O OTBDMS (S) (S) (S) CO2 Me N HO Bn HO C 13H 27 NH 2 ,89% OMe (anti:syn = 97:3) OTMS (3(S),4(S) :3(R),4(S) = 100:0 121 iii. ácido cítrico, MeOH 122 CH 2 Cl2 , -78 oC ii. OTBDMS OMe OTMS 121 OH ,84% iii. ácido cítrico, MeOH HO C 13 H27 NH 2 123 O O OTBDMS (R) (S) (R) CO 2Me N HO Bn (anti:syn = 92:8) (3(S),4(S) : 3(R),4(S) = 90:10 Esquema 40: Síntese de D e L-eritro-esfingosinas. 2.1.3.Enolatos Uma das primeiras abordagens genéricas para a reação de Mannich estereosseletiva deve-se a Seebach e colaboradores, que descreveram a adição de enolatos de cetonas (acetona, acetofenona, ciclo-hexanona e derivados) à N,O-acetais gerados in situ94. O Esquema 41 exemplifica com o enolato da ciclo-hexanona (124) e o N,O-acetal 125 59 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Li N O H - 70o C TiCl4 22oC N Ph OLi N Ph OTiCl3 125 OLi 124 O O N N + syn anti 48% (anti:syn = 78:22) Esquema 41: N-alquilação da ciclo-hexanona. A diastereosseletividade anti do processo foi explicada pela formação de um imínio intermediário 126 que reage com o enolato de titânio 127 gerado in situ via um estado de transição estabilizado eletrostaticamente (ET3) (Esquema 42).95 OTiCl3 N + N OTiCl 3 H 126 N Ph Ph Ph O H 127 ET3 Esquema 42: Modelo de estado de transição na diastereosseletividade anti. 60 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento A partir daí, várias versões diastereosseletivas da reação de Mannich utilizando enolatos foram descritas. 96 Abordagens enantiosseletivas em reações de Mannich indiretas não catalíticas são descritas com o uso de auxiliares de quiralidade.Palomo e colaboradores relatam a síntese dos adutos 128 utilizando um enolato quiral derivado da (R)- cânfora (129) com os N-(1-aril)-carbamatos 130 (Tabela 4).97 OSiMe 3 o i. LDA, THF, -78 C ii. NHR O p-TolSO2 129 R OSiMe3 1 O R R 1HN 128 130 R R1 ed Rendimento (%) Et Cbz 96 94 Pr Boc Cbz > 96 96 71 66 Bu Boc Cbz >99 >96 60 80 Pr Cbz 96 82 PhCH2CH2 Boc Cbz >99 96 60 90 But Cbz 92 65 BnOCH2CH2 Cbz 94 55 Ciclo-hexil Cbz 96 81 Ciclo-hexil-CH2 Boc 92 54 Ph p-ClPh Boc Cbz >99 >96 72 60 i s Tabela 4: Reação de Mannich com o enolato quiral 129. 61 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Um exemplo mais recente do uso de enolatos de cetonas é o da obtenção enantiosseletiva da piperidina trissubstituída 131, importante intermediário para a síntese de alcalóides do gênero Nuphar. Neste sentido, a reação entre a sulfinimina 132 com o enolato de potássio da etil-metil-cetona forneceu 133, que foi convertido na imina 134. A reação de Mannich clássica intramolecular de 134 gerou 131.(Esquema 43). 98 O O i. KHDMS, Et 2O p-Toli S NH O H N O o -78 C O ii. S p-Tolil N O 84% 132 O O ed > 98% 134 133 TsOH.H2O benzeno, 67% O N H O 131 Esquema 43: Obtenção da piperidona trissubstituída 131 por duas reações de Mannich. Enolatos de ésteres são também muito utilizados em reação de Mannich. Fujisawa e colaboradores avaliaram vários ésteres derivados da (R)-cânfora em sínteses estereodivergentes de β-lactamas. Neste estudo, além da variação do auxiliar de quiralidade, analisaram a influência do solvente e do ácido de Lewis. As melhores condições encontradas estão mostradas no Esquema 44. Assim, tratamento da imina 135 com o enolato de lítio derivado do éster 136 gerou a β-lactama (S)- 137, enquanto o uso do éster 138 forneceu a lactama (R)- 139.99 62 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento NMe2 O OMe o + N O 136 (S) i. LDA, Et2 O N -78 C O ii. NaCl 91% ee > 99% OMe 137 135 NMe2 O 138 O i. LDA/BEt 3, Et2 O o -78 C ii. NaCl 59% O (R) N OMe ee > 99% 139 Esquema 44: Obtenção das β-lactamas 137 e 139 usando auxiliares quirais derivados da cânfora. Apesar de menos reativos, principalmente frente a iminas,100 enolatos de acetatos também são descritos em reações de Mannich. A primeira versão enantiosseletiva com esta abordagem deve-se ao grupo de Yamamoto, onde estudaram a reação entra iminas aromáticas ativadas por ácidos de Lewis e o acetato quiral 140. Neste trabalho os autores relataram que a presença da função metoxila, ou do flúor, é fundamental para o sucesso da reação. Assim, tratamento das iminas 141 com o acetato 140 forneceu os β-aminoésteres 142 com ótimas diastereosseletividades (Tabela 5).100 63 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento OMe O NH i. BuLi, THF, - 78oC O ii. ácido de Lewis iii. OMe N 140 R (S) O O R 142 141 R Ph Ácido de Lewis (eq) Et2Zn (0,5) Et2Zn (1,0) Me2Zn (1.0) Et2Zn (0,5) α-Naftil Et2Zn (1,0) 2-furfuril Me2Zn (1.0) Et2Zn (1.0 ) (E)-CH=CH-Pr Et2Zn (1.0) (E)-CH=CH-Ph Me2Zn (1.0) Et2Zn (1.0) P h tBu2Zn (1.0) Et2Zn (1.0) % 69 82 70 73 50 62 75 29 70 72 55 63 Razão S:R 95,5:4,5 95,5:4,5 96:4 95,5:4,5 92:8 92:8 92:8 > 99 96,5:3,5 95,5:4,5 95,5:4,5 92,5:7,5 Tabela 5: Reação de Mannich com o acetato quiral 140. Em uma extensão do trabalho de Yamamoto, Tomioka e colaboradores utilizaram o acetato de mentila 143 como auxiliar de quiralidade obtendo, após hidrólise do auxiliar e remoção do grupo de proteção do nitrogênio, o β-amino-éster 144 opticamente puro.(Esquema 44).101 A diastereosseletividade do processo foi explicada pelo uso de excesso de LDA (2,25 equivalentes), o que levou à formação de um complexo intermediário ternário, com o LDA quelando com os dois sítios ligantes do auxiliar de quiralidade.102 64 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O PMP NH O i. LDA (2,25 eq.), THF - 78 oC O Ph NH 2 O O OMe Ph OMe ii. 143 ed = 92% Ph N 144 76% Esquema 45: Obtenção do β-amino-éster 144 a partir do acetato de mentila 143. Enolatos de titânio são conhecidos em reações aldólicas entre O-ariltioglicolatos e aldeídos por gerarem produtos anti.103 Nicklow e colaboradores estenderam esta metodologia para a adição do enolato de cloro-titânio derivado do metoxi-acetato de metila (145) a iminas, obtendo, em alta diastereosseletividades, os adutos anti (Tabela 6).104 A diastereosseletividade do processo foi explicada pela formação do enolato Z, que gera o complexo bidentado 146 através de coordenação com os dois átomos de oxigênio do éster. Ocorre, então, um equilíbrio entre esse complexo e o monodentado, 147. O primeiro complexo gera um estado de transição com conformação “ bote” (ET4), enquanto o segundo forma um estado de transição tipo Zimmermann-Traxler (cadeira) (ET5). Este último estado de transição deve ser o favorecido no equilíbrio a medida em que o grupo R2 da imina está muito impedido na posição endo do estado de transição tipo “bote” (ET4) (Esquema 46). Esta observação é corroborada pelo fato de que substituintes volumosos na posição orto do anel aromático da imina levam a processos com maiores diastereosseletividades.104 Vale ressaltar que esta proposta está de acordo com trabalho de Ellman e Tang, onde o enolato E gera produtos syn .105 65 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O H 3 CO i. TiCl4 , DIPEA OCH 3 145 o CH 2 Cl2 , - 80 C 2 R ii. N (E) 1 R H R2 H N R1 2 O OCH3 OCH3 R HN + 1 R anti O OCH 3 OCH 3 syn iii. HCl 1 M R1 R2 (%) anti:syn Ph o-ClPh 83 93:7 Ph o-EtPh 73 92:8 Ph PMP 77 79:21 Ph p-NO2Ph 52 77:23 Ph Ph 70 78:22 Ph OMP 95 94:6 p-ClPh OMP 95 95:5 PMP OMP 84 94:6 p-CH3Ph OMP 95 92:8 β-Naftil OMP 87 92:8 Furanil OMP 95 95:5 OMP Não reage t Bu Tabela 6: Reação de enolatos de titânio com iminas. 66 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Me HR 1O MeO TiCln N O R2 ET4 Produto syn Me O H H OMe MeO O 146 MeO O TiCln R2 H OMe TiCln MeO R 1 147 O N TiCln ET5 Produto anti Esquema 46: Proposta de estados de transição para explicar a diastereosseletividade da formação dos ésteres anti com enolato de titânio. Outra abordagem muito utilizada envolve o uso de iminas quirais ao invés de enolatos quirais. 106 Em uma ampliação do trabalho de Nicklow e colaboradores, e já tendo discordado destes quanto a necessidade do uso de iminas aromáticas com substituintes na posição orto do anel,107 o grupo de Periasamy utilizou enolatos de titânio em uma reação com iminas quirais derivadas da α-metil-benzil-amina (148) . Os β-aminoésteres (149) foram obtidos em bons rendimentos e estereosseletividades (Tabela 7).108 67 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento o i.TiCl4 -45 C, CH2 Cl2 MeOOC + Ph N R o ii. Et3N -45 C Ar 148 R (éster) C2H5 C2H5 C2H5 C2H5 PhCH2 PhCH2 PhCH2 PhCH2 (CH3)2CH (CH3)2CH (CH3)2CH (CH3)2CH HN MeOOC S R R Ph S Ar + R HN Ph R MeOOC Ar R R majoritário (2S,3S,αR) 149 Ar (Imina) Ph p-MePh p-MeOPh p-ClPh Ph p-MePh p-MeOPh p-ClPh Ph p-MePh p-MeOPh p-ClPh % 82 79 81 76 79 84 81 80 93 90 85 73 % e.d. 84 86 92 78 72 82 90 88 86 76 80 72 Tabela 7: Reação de Mannich entre enolatos de titânio e iminas quirais. O curso estereoquímico da reação pode ser explicado pelas interações do confôrmero mais estável termodinamicamente (150) com o enolato de titânio. O ataque pela face si no ET6 é mais favorável pois o grupo volumoso ( fenila) está posicionado o mais afastado possível da ligação C-C que está se formando (Esquema 47).108 68 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Me H N H Ph 150 Ln Ti O N Me Ph H H H Ar Ph R Me Ph H CO 2Me H R NH Ar OCH 3 Ar S H R NH Ph H S CO 2Me Me 149 R ET 6 (favorecido) Me Ph H H N Me H Ln Ti R NH H O H OCH 3 H Ph Ar R Ar CO2 Me Me Ph HN R H MeO 2C R R Ar R ET 7(desfavorecido) Esquema 47: Proposta para a enantiosseleção na formação dos β-amino-ésteres 149. Sulfiniminas quirais são também muito utilizadas como equivalentes sintéticos das iminas.109 Ellmann e Tang descreveram a síntese do dipeptídeo 151, onde a quiralidade do carbono assimétrico foi definida em uma reação de Mannich entre a sulfonamida 152 e o éster 153 (Esquema 48) . 105 69 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento N O OMe 153 O S S H N H2N CO2 Me N 152 ed = 98% N N NH O i. LDA, THF O O N H N H N H CO2H 151 i ii. TiCl(O- Pr)3 85% Esquema 48: Síntese do dipeptídeo 151 Um estado de transição tipo Zimmerman-Traxler (ET8) onde o ataque do enolato ocorre pela face si da imina explica a enantiosseletividade do processo (Figura 7).105 O O S Ti N H MeO N ET8 Figura 7: Estado de transição que explica a diastereosseletividade na formação de 151. Zanda e colaboradores descreveram a síntese do ácido (R)-α-trifluoro-aspártico (154) através da adição de um enolato de titânio à sulfinimina derivada do ácido trifluoropirúvico (155). Neste sentido, reação da (S)-sulfinimina 155 com o éster 156 gerou o aduto (S,S)- (157) com ótima enantiosseletividade. Hidrólise de 157 forneceu 154 (Esquema 49). A utilização da sulfinimina enantiomérica levou à obtenção do ácido (S)-α-trifluoro-aspártico. 110 70 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O i i.LDA, TiCl(O- Pr)3 t O Bu 156 ii. THF O CO2Et S Tol (S) N CF3 CO 2 tBu CF 3 O S N CO2Et (S) Tol H ed = 92% 157 CO2H CF3 1. TFA, MeOH - Cl . +H 3N 83% CO2H (S) 2. KOH, MeOH H 2O, IRA 154 72% 78% 155 Esquema 49: Síntese do ácido (R)-α-trifluoro-aspártico. Considerando a grande aplicação da efedrina e derivados como auxiliares de quiralidade em reações aldólicas e alquilação, Badía e colaboradores utilizaram enolatos de lítio de amidas derivadas da (S,S)-pseudo-efedrina como nucleófilos em reação de Mannich com iminas. Assim, o tratamento da propionamida 158 com LDA/LiCl seguido de adição de várias iminas derivadas da p-anesidina (159) forneceu as β-aminoamidas anti 160 em bons rendimentos e excelentes diastereosseletividades simples e π-facial (Tabela 8).111 71 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento OH N Ph R i. LDA, LiCl, THF o - 78 C O PMP ii. RCH=NPMP 159 158 OH OH R Ph 3,4(MeO)2C6H3 2-furil 2-tienil (CH3)3C N NH O % 86 77 80 83 69 R Ph PMP 160a N Ph NH O 160b 160a:160b >99:1 >99:1 >99:1 >99:1 >99:1 anti:syn >99:1 >99:1 >99:1 >99:1 >99:1 Tabela 8 : Reação de Mannich entre enolatos de amidas derivadas da (S,S)-pseudo-efedrina e iminas. Cabe ressaltar que é fundamental a presença do sal de lítio no meio reacional. Na ausência do mesmo os autores invariavelmente recuperaram os produtos de partida, provavelmente devido ao baixo caráter eletrofílico das iminas, o que obrigou a uma ativação do eletrófilo .112 Esta mesma propriedade explica o fato da reação só ocorrer com o uso de excesso de iminas (4 equivalentes). O controle facial diastereosseletivo pode ser explicado pelo ataque ao enolato Z pela face si, menos impedida. A diastereosseleção simples é devida a conformação do estado de transição (ET9), onde o substituinte PMP se posiciona em axial, para permitir a coordenação do par de elétrons do nitrogênio da imina com o lítio (Esquema 50). Esta proposta considera apenas a imina de configuração E, o que foi corroborado por RMN 13C. 72 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento H Ln Li O H Me (X)n N Me R LnLi O OH R PMP N PMP N NH Ph O anti Me 160a X : THF ou iPr 2NH ET9 Esquema 50: Proposta de ET para a formação de 160a. 2.1.4.Iminas e Enaminas Um método clássico para a obtenção enantiosseletiva de β-amino-cetonas consiste na reação de sais de imínio metilênicos (sais de Eschenmoscher) a enaminas.73 Como exemplo, a enamina (S) derivada da 2-metoxi-metil-pirrolidina (161), quando tratada com o sal de imínio 162 forneceu a β-amino-cetona 163, mas com enantiosseletividade apenas moderada (Esquema 51).73 OMe N (S) NMe2 [AlCl4 ] CH2 i. 162 O NMe2 o 161 THF, -70 C ii. HCl/H 2O iii. NH3 /H2O 79% ee = 65% 163 Esquema 51: Obtenção da β-amino-cetona 163. 73 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Posteriormente, Sunjié e Vinkovié aplicaram esse mesmo protocolo sintético para a obtenção do fungicida Fenpropimorfe ® (164), onde a etapa-chave consistiu na reação entre a enamina 165 e o sal de imínio 166 (Esquema 52). Deve-se destacar que observaram que a baixa enantiosseletividade relatada anteriormente é devido ao isolamento e purificação do aduto de Mannich, pois a utilização do produto bruto levou à formação do produto final com 91% e.e. 113 O O NH + N Cl- N OCH 3 O N O - AlCl4 THF, -78 oC N 166 O 165 N O O 164 Esquema 52: Síntese do fungicida 164. A diastereosseletividade do processo foi explicada pelo modelo de estado de transição mostrado na Figura 8 (ET10). Forças de atrações eletrostáticas entre o nitrogênio positivo do sal de imínio e os heteroátomos eletronegativos da enamina estabilizam o arranjo synclinal das duas ligações duplas e levam ao ataque desta pela face mais impedida do eletrófilo.113 74 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento H3 C H H H N N H O CH 3 O CH 3 CH 3 ET10 Figura 8 : Modelo de ataque que explica a diastereosseletividade na formação de 164. Sais de imínio terciários são bons eletrófilos em reações de aminoalquilaçao de enaminas. Por exemplo, β-amino-cetonas e aldeídos anti (167a-d) foram obtidos com bons rendimentos e ótimas diastereosseletividades (ed > 96%). Análise do Esquema 53 leva às observações: a) O tipo de sal de imínio utilizado não exerce efeito na estereosseletividade do processo. O uso de um sal aromático (168a) ou alifático (168b) não influencia o excesso diastereoisomérico; b) A configuração do sal também não exerce efeito no processo. A utilização de uma mistura diastereoisomérica (168c) leva ao produto anti preferencialmente; c) O uso de enaminas derivadas de cetonas acíclicas, cíclicas ou de aldeídos (169a, b e c, respectivamente) não muda o curso reacional; d) A configuração da enamina não influencia no caminho estereoquímico da reação. O uso da mistura diastereoisomérica 169a leva aos mesmos adutos anti.73,114 75 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento NEt 2 NMe 2 + Ph [AlCl4 ] Ph 169a + Cl Ph ed > 99% 167a " 76% N NMe2 Ph ii. HCl/H2 O iii. NH 3/H 2 O 89% 168a N O o i. CH2 Cl2 , -80 C N O ed > 99% 169b 168b 167b Ph Ph N Me + N Ph " 96% Br 168c 169b N O Me ed = 97% 167c Ph nC 5H11 N NMe2 + Ph [AlCl4 ] 169c " 91% NMe 2 H nC 5H 11 167d O ed > 99% Esquema 53 : Reação de enaminas com sais de imínio ternários. O estado de transição tipo Zimermann-Traxler postulado para a reação de enaminas com sais de Eschenmoscher não explica a diastereosseletividade anti da reação com sais de imínio, principalmente pelo fato de que o uso de enaminas E ou Z não exercer influência no curso estereoquímico. Visch e Arend propôem um mecanismo do tipo ciclo-adição [2+2]. Neste sentido, a diastereosseleção é controlada pela interação estérica dos grupos R2 e R3. Adutos cíclicos (170 a-d) são formados apenas a partir de estados de transições (ET11ad) que não possuam impedimentos estéricos importantes (Esquema 54). Esses adutos são, então, hidrolisados in situ às β-aminocetonas. Esta proposta mecanistica é 76 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento corroborada pelos fatos de que : a) enaminas não reagem com sais de imínio derivados de cetonas (levariam a interações eclipsadas) e b) as reações destes sais com inaminas são extremamente lentas, pois um estado de transição cíclico é muito tenso devido a estrutura linear das inaminas. 114 Neste mesmo trabalho Visch e Arend estudaram a reação de sais de imínio com iminas. Exemplificando, o tratamento da imina 171 com o sal de imínio 168a forneceu diastereosseletivamente a β-amino-cetona 172 (Esquema 55).114 O mesmo mecanismo de ciclo-adição [2+2] explica o curso estereoquímico da reação. 77 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento R R2N 3 R 2N R 2'N R R 1 R 3 R2 'N 2 R 1 R 2 O 170a ET11a NR 2 R1 R 3 2 R R3 R2N R2N R1 R2'N 1 R R 2 'N R2 ET11b ' R2N R2 170b R3 R2 N R1 anti R3 X R2 ' R2N R3 R2 N R1 R2 170c ET11c O R NR 2 1 3 R 2 R R2N X R3 1 R R 2'N R 2 ET11d R2 N syn R3 R1 ' R2 N R 2 170d Esquema 54 : Mecanismo tipo ciclo-adição [2+2]. NMe2 n N Pr 171 i. Ph - 168a [AlCl4 ] CH 2Cl2 , - 80 oC ii. AcOH/H 2O O NMe2 Ph 172 ed > 99% 82% Esquema 55: Obtenção da β-amino-cetona 172. 78 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Versões enantiosseletivas são descritas utilizando-se iminas quirais como nucleófilo. Soloshonok e colaboradores relataram a síntese enantiosseletiva do perfluoro-α,β−diaminoácido syn (173) através de reação de Mannich entre o complexo de níquel de base de Schiff quiral derivada da glicina (174) e N-(p-metoxifenil)-imina derivada do trifluoroacetaldeído (175) (Esquema 56).115 O Ph N H O H O Ph N Ni N O F3 C + H N DMF, 32 dias PMP 70% 175 174 NEt3/LiCl N O Ni H CF3 NHPMP N H N O CF3 i. HCl, MeOH ii. Dowex-H NH4OH +, PM PHN COOH NH 2 173 ed = 98% Esquema 56 : Utilização do complexo de níquel 173 para a obtenção de 3-perfluoroα,β-diaminoácidos. Sulfiniminas também são bastante utilizadas em reações com iminas. Viso e colaboradores relataram a obtenção de α,β-diaminoésteres syn opticamente puros 176 a partir de N-sulfinilimidazolidinas 177 que, por sua vez, foram geradas a partir de uma reação de Mannich entre as sulfiniminas quirais 178 e os imino-ésteres 179 (Esquema 57). 116 Este protocolo sintético foi aplicado para a síntese de vários α,β-diaminoácidos não proteinogênicos117 e na síntese de alcalóides marinhos. 118 79 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ph i. LDA, BF3 .OEt2 N O R1 ii. OMe 179 1 R = Me, H O N R S o p-Tol O S , -78 C p-Tol Ph N NH CO2 Me 1 R R ed > 99% 178 177 R = alquil, aril iii. H 3PO 4, THF-H 2 O 68-84% O p-Tol S NH CO2 Me R H 2N R 1 176 Esquema 57: Obtenção de α,β-diaminoésteres syn por reação com sulfiniminas quirais. Davis e Deng ampliaram esta abordagem mostrando que a utilização de enolatos de ésteres da glicina levaram ao α,β-diaminoéster syn, enquanto a utilização das iminas de glicinatos forneceram os aminoácido anti. Neste sentido, reação da sulfinimina (S)-178 com o acetato 180 gerou o aduto syn 181, enquanto o uso da imina 182 forneceu o produto anti 183 (Esquema 58).119 80 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O p-Tol O (PhCH 2 )2 N OEt 180 i. LDA, -78o C, THF S NH NH2 O O Ph (PhCH 2) 2N OEt Ph OEt NH 2 181 p-Tol N H N 178 O Ph O S OEt Ph p-Tol O S NH Ph OEt Ph Ph Ph OEt NH 2 N 182 NH2 O O Ph 183 Esquema 58: Obtenção dos α,β-diaminoésteres syn e anti a partir da sulfimina quiral 178. Os cursos estereoquímicos destes processos foram explicados pelos ataques nas faces re dos enolatos nos modelos de estado de transição tipo cadeira (ET12 e ET13). A diastereosseletividade syn/anti ao nível do C-2, que é função do grupo de proteção do átomo de nitrogênio, é devida a geometria E do enolato (184) no ET12 e Z (185) em ET13. Esta geometria preferencial Z é explicada por quelação interna (Esquema 59). 119 81 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento PhH 2C PhH 2 C OEt N (E) OLi Ph CH 2Ph N H N CH Ph O 2 S p-Tol H Li O OEt 184 ET12 Li Ph Li O O OEt Ph (Z) 185 syn OEt O N Ph H H anti S p-Tol N Ph ET13 Ph Esquema 59: Modelos de estados de transições para explicar a diastereosseletividade na formação de 181 e 183. Ellman e Schenkel descreveram a síntese do ácido trans-2-amino-ciclopentano carboxílico (186) e do SC-53116 (187), um agonista do receptor 5-HT4 da serotonina, utilizando como etapas-chaves reações de autocondensação de sulfiminas. Tratamento de 188 com base leva a formação preferencial da dissulfinimina trans 189, que foi facilmente convertida a 186 opticamente puro. Versão intermolecular desta autocondensação é executada em 190, gerando o aduto 191. Este aduto foi transformado, após várias etapas, em 187 na forma de um único enantiômero (Esquema 60).120 82 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento S O O S N NaHMDS (1 eq.), DMPU ( 1 eq.) N THF, -78o C 81% 188 S O H N N O S H 2N COOH 186 trans : cis = 81:19 189 O O S N O O 190 O O S LiHMDS (0,5 eq.), DMPU ( 1 eq.) N H O o THF, -78 C 55% N O S O anti: syn = 96: 4 191 MeO O H N NH 2 NH Cl 187 Esquema 60: Auto-condensações de sulfiminas. Lanter e colaboradores relataram, pela primeira vez, uma metodologia de Mannich utilizando ânions de sulfiniminas quirais como nucleófilos e N-sulfonil-iminas como o componente eletrofílico. Após estudos com vários destes substratos, estes autores descreveram uma aplicação através da síntese da Manzacidina C (192), um alcalóide marinho. Assim, a reação da enolato de lítio da sulfinamina 193 com a E-Nsulfonil-imina 194 gerou o aduto 195 opticamente puro, que foi, então, convertido a 192 (Esquema 61). 121 83 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O S O S i. LHMDS, THF N N HN o - 78 C OBn BnO O ii. 193 N R S OtBu , 85% (E) SO2 tBu e.d.> 99% Br N HN Ph 195 O O N CO2H 192 R = Ph-CH=CH 194 Esquema 61: Síntese do alcalóide 192. 2.2. Reações de Mannich Indiretas Catalíticas A primeira reação de Mannich enantiosseletiva realmente catalítica (uso de pequenas quantidades da fonte de quiralidade) foi descrita por Kobayashi e colaboradores, baseados na abordagem do uso de ácidos de Lewis quirais. Assim, várias iminas 196 foram avaliadas na reação com o silil-ceteno-acetal 197 na presença do catalisador de zircônio derivado do (R)-6,6’-Bromo-BINOL 198 (Tabela 9).122 84 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento HO Br OH 198 (5-10 mol%) N R NMI (5-30mol%) CH 2 Cl2, -45 oC 1 OSiMe3 196 Br O NH 1 R O O Zr O O OMe Br Br 198 OMe 197 R1 % % e.e. Ph 70 87 p-ClPh 86 83 1-Naftil 100 92 Ph a 78 88 a 88 86 a 100 >98 Furila 89 89 Cicloexila 45 60 p-ClPh 1-Naftil OSiMe 3 SEt a: Uso de Tabela 9: Uso do catalisador 198 em reação de Mannich. A Figura 9 mostra o ciclo catalítico proposto para esta reação. O catalisador 198 coordena-se com a imina gerando o complexo 199, onde a face re da imina encontra-se bloqueada pelo grupamento naftil. O silil-ceteno-acetal ataca a imina por sua face si formando 200, onde o oxigênio ligado ao silício ataca o zircônio, levando à geração do produto (201) e regenerando o catalisador. O papel da NMI não é claro, mas parece que a mesma evita a oligomerização do catalisador.123 85 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento HO N R1 Br Br Br Br O Br O Zr O O NMI NMI Br O Br O Zr O Br 198 O R1 OH N H 199 OSiMe3 Br OMe (SEt) OH Br R NS iMe 3 COOMe 1 201 OH 1 R1 Br 200 COOMe NH R Br TMSO O Zr O O OH N COOMe Figura 9: Ciclo catalítico proposto para a reação de Mannich com o catalisador de zircônio. Este protocolo sintético foi aplicado na síntese tanto de syn, quanto de anti βamino-álcoois. A utilização de α-alcoxi-silil-ceteno acetais como nucleófilos permite o controle da estereoquímica do produto em função do substituinte alcoxi. Assim, a reação da imina 196 com o silil-ceteno acetal 202 gerou o produto syn, enquanto o uso do sililceteno-acetal 203 forneceu o produto anti (Esquema 62).123 86 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento OH OH + 198 (10 mol%) o tolueno, -78 C DMI OTMS OH i CO2 Pr Ph Ph syn: anti = 96:4 ee = 95% Ph OH OH 198 (10 mol%) + CH 2Cl2, -78o C DMI OiPr NH NH i OTMS BnO CO2iPr OTBS OTBS O iPr 202 OTBS quantitativo N NH NH CO2 Pr Ph 203 Ph CO2 iPr OBn OBn syn: anti =4:96 91% ee = 80% Esquema 62: Obtenção de β-amino-álcoois syn e anti usando o catalisador 198. Posteriormente os mesmos autores desenvolveramm o catalisador 204 (Figura 10), que se mostrou mais eficaz que 198 à medida que promoveu as mesmas enantiosseletividades, porém podem ser usados em menores quantidades (0,5 mol%).124 F3 C CF3 O O Zr O O F3 C CF3 204 Figura 10: Catalisador de zircônio derivado do (R)-6,6’-trifluorometil-BINOL . 87 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Outros catalisadores derivados do BINOL foram descritos para essa mesma reação.125 Yamamoto e colaboradores relataramm o uso do catalisador 205 que contém os grupos triflato e que atua por ativação da imina através de ligação hidrogênio (Figura 12). Assim, desenvolveramm o conceito de “ácido de Bronsted assistido” (BBA), onde a ligação hidrogênio R*OH ..... N deve estar com liberdade conformacional restrita em relação à rotação em torno do eixo do catalisador (R*___O), ao mesmo tempo em que tem seu próton ativado devido à ligação hidrogênio intramolecular (Figura 11). 126 Tf Tf Tf O CF3 H S O O H H Tf H O O H 205 forma BBA Tf H forma BBA Figura 11 : Possíveis ligações hidrogênio intramoleculares no catalisador 205. Este catalisador foi avaliado em reações de silil-ceteno-acetais com iminas e forneceu os adutos com boas enantiosseletividades. Uma fonte volumosa doadora de prótons (206) é fundamental para o sucesso do processo. Exemplificando, a reação da imina 207 com o silil-ceteno-acetal 208 forneceu o aduto 209 com excesso enantiomérico de 77% (Esquema 63). Segundo os autores, apesar das enantiosseletividades serem menores que as alcançadas com outros catalisadores derivados do BINOL, este protocolo abriu a possibilidade de uso em meio aquoso. 126 88 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ph HN OSiEt 3 N Ph + F3 C 207 OMe COOMe 205 (10 mol%) OH 208 F3 C (100 mol%) ee = 77% 209 206 o PrCl, -78 C 100% Esquema 63: Reação de Mannich usando o catalisador 205. O ciclo catalítico proposto é mostrado na Figura 12. A ligação hidrogênio entre a imina e o catalisador, que pode ser feita tanto pelo hidrogênio do cabono que contém os dois grupos triflato (ET14), quanto pelo hidrogênio fenólico (ET15), forma os intermediários 210. Estes, por sua vez, sofrem ataque por sua face re gerando, em ambos os casos, 211. A protonação de 211 por uma fonte de próton aquiral (206) regenera o catalisador e produz o β-amino-éster 209. A ausência desta fonte de prótons leva a menores enantiosseletividades.126 89 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento OSiR 3 Ph + OH N H O OMe R 209 206 R* H 205 + Ph H δ SiEt3 N O R OMe Ph N R* R* 211 H R OSiEt3 Ph N R H 207 H 210 OMe 208 OSiEt3 OSiEt3 OMe OMe N N H H Tf Tf H Tf O O Tf H ET15 ET14 Figura 12: Ciclo catalítico e conformações para os estados de transições propostos para o catalisador 205. O grupo de Collin aplicou, pela primeira vez, um catalisador de samário derivado do BINOL em reações utilizando iminas glioxílicas. De acordo com o exemplificado no Esquema 64, a reação da imina 212 com o silil-ceteno-acetal 208, na presença do catalisador 213 e usando anilina como aditivo, forneceu o aduto 214 com boa enantiosseletividade.127 90 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento H 3CO OCH 3 213 (15 mol%) + N NH OTMS NH 2 (30 mol%) OMe EtOOC 212 208 CH2Cl2 , peneira molecular 4 A 100% O O Sm EtOOC * COOMe ee = 90% 214 I (THF)2 213 Esquema 64: Reação de Mannich com a imina glioxílica 212 usando o catalisador 213. Sodeoka e colaboradores relataram o uso do complexo binuclear [{Pd ((R)-tolBINAP) µ-OH}2]2+ (BF4-) (215) como catalisador na reação de iminas glioxilicas 216 com sili-enol-éteres 217 (Tabela 10). A justificativa para a escolha de um catalisador de paládio reside no fato de que um enolato formado por um metal de transição ser menos nucleofílico e, conseqüentemente, evita reações colaterais comuns em reações de cetonas, muito reativas, com iminas.128 91 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Tol Tol Tol H Tol P P O Pd Pd O H P P Tol Tol Tol Tol 2BF4 - 215 PMPN OTMS N + i R 215 (5 mol%) R - 28o C COO Pr 216 O NHPMP COO iPr 217 R Solvente % % ee Ph DMF 95 90 Ph DMF 83 81 Ph DMF 87 83 Ph NMP 79 83 Ph DMI 75 81 Ph TMU 59 82 Ph CH2Cl2 45 53 Ph THF 60 67 2-Naftil DMF 82 83 3,4-Cl2-Ph DMF 80 84 2-MeO-Ph DMF 87 71 3-NO2-Ph DMF 62 60 CH3 DMF 79 53 Tabela 10 : Reação de Mannich com o catalisador de paládio 215. O ciclo catalítico proposto para este processo é mostrado a seguir (Figura 13). Vale ressaltar que, para o sucesso da reação, é necessária a presença de água, isto é, os solventes utilizados não podem ser anidros. Ocorre formação do enolato de paládio 218 que complexa-se com a imina, gerando o intermediário 219 onde ocorre a reação. Em 92 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento seguida, uma molécula de água regenera o catalisador e leva à formação do produto 220.128 H 2O O NHPMP i R COO Pr 220 * P L Pd OH BF4 P 215 * PMP N P Pd O P COOi Pr BF 4R 219 PMPN OTMS * R 217 TMSOH P L Pd O P BF4 218 R N 216 COO iPr Figura 13: Ciclo catalítico proposto para o catalisador de paládio 215. Lectka e colaboradores estudaram diversos complexos de fósforo-metal de transição como catalisadores para a alquilação de α-imino-ésteres e N,O-acetais com silil-enoléteres e silil-ceteno-acetais.129 Melhores resultados foram obtidos com complexos de Cu (I) 221, conforme exemplificado na síntese da α-amino-γ-lactona 222 a partir da reação do imino-éster 223 com o silil-enol-éter 224 (Esquema 65).129 93 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento OTMS Tos N EtOOC 223 NH 221 (5 mol%) + CH2Cl2, -78 o C 224 O Tos EtOOC 86% O NHBoc O Ph Ph 222 (anti:syn = 25 :1) Tol P ee = 98% Tol CuClO 4 P Tol Tol 221 Esquema 65: Síntese de lactona 222 utilizando-se o catalisador 221. Jacobsen e Wenzel relataram a utilização do catalisador 225, derivado da tio-uréia, na adição assimétrica de silil-ceteno-acetais a iminas, com excelentes resultados, conforme mostrado na Tabela 11. A grande vantagem do método, segundo os autores, é a não exigência de um substituinte aromático ligado ao nitrogênio da imina, o que é fundamental para os catalisadores organometálicos.130 94 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Boc N R OTBS H + i O Pr i. 225 (5 mol%) tolueno, 48 hs R NHBoc COO iPr Ph S N O N H ii. TFA, 2 min N H N HO 225 t Bu R Ph T (oC) -40 % 95 e.e. % 97 o-Me-Ph -30 88 91 m-Me-Ph p-Me-Ph -30 -30 98 87 94 96 p-OMe-Ph p-F-Ph 4 -30 91 88 86 93 m-Br-Ph p-Br-Ph -30 -30 96 93 92 94 1-naftil -30 93 87 2-naftil 2-furil -30 -40 88 84 96 91 2-tienil 2-quinolinil -30 -30 95 99 92 96 3-piridil -30 99 98 t Bu Tabela 11 : Reação de Mannich com o catalisador 225. 95 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Kobayashi e colaboradores relataram a obtenção de derivados de N-acilaminoácidos através de uma reação de Mannich enantiosseletiva utilizando um complexo da diamina 226 com Cu(OTf)2.Este catalisador mostrou-se bastante efetivo na reação (rendimentos e excessos enantioméricos superiores a 90%) de N-acil-iminoésteres com silil-enol-éteres mono e dissubstituídos e alquil-vinil-éteres. Como exemplo, é mostrado no Esquema 65 a síntese do HPA-12 (227), um inibidor da captação de ceramida ao nível do retículo endoplasmático, a partir do N-acil-iminoéster 228 com o alquil-viniléter 229.131 O N C 11H 23 + OMe Ph EtOOC 228 229 O Cu(OTf)2 , 226 (10 mol%) CH 2 Cl2 , 0 oC C 11 H 23 NH O EtOOC 92% O C 11 H 23 Ph ee = 94% NH OH HO Ph 227 NH H N 226 Esquema 65: Obtenção do HPA-12 (227) utilizando o complexo cobre (II)-catalisador 226. O mecanismo proposto para esta reação consiste em uma ciclo-adição [4+2], conforme mostrado no Esquema 66. O ciclo-aduto 230 é transformado no éter vinílico 231, através de uma transferência de hidrogênio, e a mistura 230 + 231 é convertida no produto 232 no isolamento da reação (meio ácido).131 96 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O EtOOC N processo concertado OMe + C 11H 23 Ph processo passo a passo [4+2] OMe MeO Ph Ph O O EtO N O Cu HN EtO C11 H23 N C 11 H 23 O Cu NH HN * NH * MeO Ph O EtOOC N C11 H 23 230 O C11 H23 transferência de hidrogênio NH OMe HCl EtOOC Ph H2 O O C11 H23 NH O EtOOC 231 Ph 232 Esquema 66: Mecanismo proposto para a formação de 232. A reação com silil-enol-éteres monossubstituídos levou a formação diastereosseletiva dos adutos syn em ótimas enantiosseletividades, de acordo com o exemplificado no Esquema 67, na reação da imina 228 com o silil-enol-éter 233. A diastereosseletividade é explicada por um mecanismo passo a passo, via formação do confôrmero ET16, que gera um estado de transição com menores interações estéricas.131 97 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O N EtOOC C11H23 228 + O Cu(OTf) 2, 226 OTMS (10 mol%) Ph C11 H23 NH O o CH 2 Cl2, 0 C 79% 233 H O C 11 H23 Me N H Ph Ph Ph Cu N H R O H TMSO R N EtOOC OEt Ph ET16 Esquema 67 : Formação do aduto syn na reação com o catalisador 226 e conformação que explica esta diastereosseletividade. O grupo de Carretero relatou o uso de 2-tienil-sulfonil-iminas em uma adição à sililenol-éteres e silil-enol-tio-éteres na presença do complexo catalítico de ferro-cobre 234 ativado por perclorato de prata. O Esquema 68 mostra um exemplo através da formação do β-amino-tio-éster 235 a partir da reação da imina 236 com silil-enol-tio-éter.132 98 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O S N O PMP 236 S OTBDMS + StBu [ 234.CuBr]2 (5,1 mol%) AgClO 4 (10 mol%) CH 2Cl2, t.a. 91% O O S NH O S t S Bu ee = 94% 235 t S Bu Fe P 234 Esquema 68 : Reação de Mannich frente ao catalisador 234. 2.3. Reações de Mannich Diretas Catalíticas As reações de Mannich diretas catalíticas têm como vantagem, frente às indiretas, o fato de não haver necessidade do uso de enolatos pré-formados, substratos de preparação mais difíceis e normalmente instáveis. Estas reações, em sua grande maioria, utilizam compostos organometálicos e orgânicos como catalisadores. 2.3.1.Catalisadores Organometálicos O primeiro relato de reação de Mannich direta catalítica deve-se ao grupo de Shibasaki, que descreveram o uso do complexo heterobimetálico binaftóxido-tri-litiolantânio (LLB) 237 em uma reação clássica tipo “um pote, três componentes” entre a propiofenona, paraformaldeído e pirrolidina (Esquema 69). 133 99 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O O + (CH2 O) n + N H 237 (10 mol%) peneira molecular 3A tolueno, t.a. 16% Li N ee = 64% O O Li O La O O O Li 237 Esquema 69 : Reação de Mannich direta usando o catalisador 237. O baixo rendimento encontrado foi explicado pela reação competitiva do sal de imínio formado “in situ” com a própria pirrolidina. A quimiosseletividade foi aumentada com o uso do éter aminometílico 238 e catálise pelo complexo cooperativo 239 entre binaftóxido-bis-litio-aluminio (ALB) e triflato de lantânio . As β-amino-aril-cetonas 240 foram obtidas em bons rendimentos e enantiosseletividades moderadas (Esquema 70).133 100 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O R Ar + MeO O N 238 Ar : Ph, PMP,2-Naftil, 6-OMe-2-Naftil R : M e, Et 239 (30 mol%) peneira molecular 3A tolueno, t.a. N Ar R 65-76% ee = 31-44% 240 O O Al O O Li . La (OTf)3.nH 2O 239 Esquema 70: Uso do catalisador 239 em reação de Mannich. Em uma otimização desse trabalho, Shibasaki e colaboradores descreveram o uso do complexo Et2Zn com o derivado 241 do (S,S) BINOL na obtenção de adutos de Mannich a partir de N-difenil-fosfinol-iminas (N-dpp-iminas). Este grupo de proteção foi escolhido porque mostrou levar a melhores estereosseletividades. O Esquema 71 apresenta a síntese de α-hidroxi-β-aminoácidos protegidos 242 obtidos a partir da reação entre as N-dpp-iminas 243 e 2-hidroxi-o-metoxi-acetofenona (244).134 N R O PPh2 O + OMe 241 (1 mol%) HO Et2Zn (4 mol%) o THF, -20 C H 243 244 O Ph 2P O NH O OMe R O 96-98% OMe O R OH anti:syn = >49:1 R = 4-MePh, 2-MePh, Ph, 4-NO 2Ph, 4-MeOPh, 4-ClPh, 1-Naftil, 2-furil, E-cinamil, ciclo-propil HN O 242 ee = 98->99,5% O OH HO OH HO 241 Esquema 71 : Obtenção de α-hidroxi-β-aminoácidos com o uso do catalisador 241. 101 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento A estereosseletividade do processo foi explicada pela aproximação do eletrófilo pela face re do enolato de zinco no estado de transição ET17, onde as repulsões estéricas com o grupo dpp, volumoso, estão minimizadas (Figura 14).134 O Ph2 O Zn O Zn OMe N H R H ET17 Figura 14: Estado de Transição na estereosseletividade com o catalisador 241. Como uma opção complementar ao trabalho de Shibasaki, Trost e Terrell relataram o uso do complexo catalítico dinuclear 245 na obtenção de derivados 1,2amino-álcoois syn.135 Este catalisador é muito eficaz com iminas aromáticas orto-metoxi substituídas, provavelmente devido a uma quelação adicional da imina com o catalisador, que dificulta a isomerização E/Z da ligação C=N.136 O Esquema 72 mostra a aplicação deste protocolo sintético na obtenção das αhidroxi-β-amino cetonas syn 246 a partir da reação das hidroxi-cetonas 247 com as iminas 248.135 102 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento MeO O + HO OMe 245 (5 mol%) Ar THF, -5 oC NH 247 R O R H 248 Ar OH 246 R = Ph, p-ClPh Ar = Ph, 4-MeOPh, 3-MeOPh, 2-MeOPh, 2-furil Ar Ar Et O Ar Ar O Zn Zn N O N Ar = β-naftil 245 Esquema 72 : Obtenção de α-hidroxi-β-amino-cetonas syn com o uso do catalisador 245. Um complexo catalítico muito semelhante (249) foi aplicado na síntese do αhidroxi-β-aminoácido 250 a partir do tratamento da imina glioxílica 251 com a 2hidroxi-o-metoxi-acetofenona (244) (Esquema 73).135 103 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento MeO MeO O N EtOOC 249 (5 mol%) + HO 97% H 244 251 Ar Ar O NH THF, -5 oC Et O Ar EtO2 C OH (syn:anti = >20:1) ee > 99% Ar Zn Zn N O O N HN Ar = 4−bifenila 249 O O O EtO 2C O 250 Esquema 73 : Obtenção do α-hidroxi-β-aminoácido 250. Terada e Uraguchi descreveram uma metodologia para a obtenção de β-aminocetonas via reação de Mannich entre as iminas 252 e acetil-acetona (253) frente ao catalisador 254 derivado do BINOL com o ácido fosfórico (Tabela 12) . A escolha do derivado fosfórico é justificada porque: a) A estrutura tetradentada do fósforo (V) previne rotações livres na ligação com o catalisador devido à formação do anel; b) Acidez alta, o que permite ligação hidrogênio com a imina além de formação de um pariônico e c) O oxigênio ligado ao fósforo pode atuar como uma base de Lewis.137 104 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento N R1 Boc 254 (2 mol%) O H 252 O NHBoc COCH3 R 1 (R) COCH 3 253 CH 2Cl2 , t.a. O P O O OH 1h. 254 R1 % ee % 4-MeO-Ph 93 90 4-Me-Ph 98 94 4-Br-Ph 96 98 4-F-Ph 94 96 2-Me-Ph 94 93 1-Naftil 99 92 Tabela 12: Reação de Mannich com o catalisador 254. O grupo de Jørgensen relatou uma abordagem para reações de Mannich assimétricas utilizando como catalisadores complexos de cobre (II) com bis-oxazolinas. Diversos ésteres carbonilados podem ser usados como nucleófilos, o que torna este método uma excelente opção para a obtenção enantio- e diastereosseletiva de derivados de α-aminoácidos funcionalizados.138 Como exemplo, a α-amino-γ-lactona 255 foi obtida por reação do éster αcarbonilado 256 com a imina glioxílica 223 na presença do catalisador 257 (Esquema 74).138 105 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento N EtO 2C 223 Tos + Tos O O NH O BocHN 257 ( 5 mol%) CO2Et o CH2 Cl2 , 40 C 70% 256 O CO 2Et (syn: anti = >10 :1) ee > 98% CO2 Et 255 O O N Ph EtO2C N Ph Cu (OTf)2 257 Esquema 74: Síntese da γ-lactona 255 com o uso do catalisador 257. O ciclo catalítico proposto pelos autores é visto no Esquema 75. O catalisador 257 complexa-se com a imina gerando o intermediário 258, que, ao coordenar-se com o nucleófilo, estabelece o equilíbrio 258 259. Isto, por sua vez, leva ao estado de transição ET18, onde o substituinte do enol coloca-se em equatorial, posição menos impedida estericamente, o que determina a diastereosseletividade do processo.139 O íon Cu (II) é fundamental para o sucesso destas reações na medida em que, além de gerar a espécie enólica in situ, forma o complexo bidentálico 259.140 106 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O O N N Ph Cu Ph (OTf) 2 257 Tos NH O EtO 2C O O N O Cu O N CO2 Et Ph N Ph ET18 N Cu 223 O OEt N Ph Tos 258 O CO2 Et 256 OEt OEt N O Tos H Tos EtO 2C Ph O 260 O N Ph O CH 3 H O N N OEt O OEt Cu O N O Tos Ph H 259 Esquema 75 : Ciclo catalítico proposto para o complexo 257. Os mesmo autores estudaram a reação de Mannich entre imino-ésteres derivados da glicina e várias tosil-iminas, frente a diversos complexos de ácidos de Lewis quirais.141 Assim, reação de 260 com 261, utilizando o complexo catalítico de cobre (I) com o ligante 262, forneceu os adutos de Mannich 263 em boas diastereo- e excelentes enantiosseletividades, conforme mostrado na Tabela 13.141 107 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ph Ph N CO2 Me Ph NTos + R 260 N Et 3N (10 mol%) 261 O 262-CuClO4 (10 mol%) N R o -20 C, THF Ph N CO2 Me NHTos 263 R Ph % 94 syn : anti 79:21 ee % 97 p-OMePh 90 82:18 97 o-BrPh 99 61:39 96 m-ClPh 93 84:16 95 2-naftil 90 86:14 97 Pr 73 >95:<5 96 cicloexil 85 >95:<5 92 nBu 61 >95:<5 88 2-furil 88 54:46 90 CO2Et 84 60:40 60 i PAr 2 Ar = 2,4,6-Me-C 6H 2 262 Tabela 13: Reação de Mannich entre imino-ésteres derivados da glicina frente ao catalisador 262. Considerando a estrutura assimétrica do ligante 262, a coordenação do iminoéster 260 poderia ocorrer conforme os dois modelos 264a e b apresentados na Figura 15. A otimização destas estruturas (método semi-empírico PM3) mostra que, em ambas, o cobre(I) ocupa o centro de um tetraedro. Entretanto, 264a é 12,4 kcal/mol mais estável que 264b. Assim, a reação deve ocorrer via formação de 264a, com a aproximação da tosil-imina pela face si, pois a face re encontra-se bloqueada pelos grupos tetra-hidronaftalenos do ligante.141 108 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O O PAr 2 N N PAr 2 Cu Ph N O Ph Cu N O OMe 264a MeO 264b Figura 15: Intermediários propostos para a enantiosseleção com o catalisador 262. 2.3.2.Catalisadores Orgânicos A primeira reação organocatalítica de Mannich direta deve-se ao trabalho de List. Baseado no fato de que tratamento da L-Prolina com cetonas gera enaminas quirais, o autor supôs que estas enaminas deveriam reagir com iminas mais rapidamente do que com aldeídos e, conseqüentemente, seria viável a aplicação deste protocolo para a obtenção de adutos de Mannich. Realmente, o tratamento da acetona com p-anisidina (265) e diversos aldeídos 266 na presença de L-prolina (267) em quantidades catalíticas forneceu β-amino-cetonas 268 com bons excessos enantioméricos . Os rendimentos são ruins devido a reações aldólicas colaterais (Tabela 14). 142 109 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento COOH N H 267 (35 mol%) O O + H R O HN R NH2 266 PMP 268 265 MeO R p-NO2Ph 2-Naftil s-Butil n-Butil Solvente DMSO/acetona (4:1) DMSO/acetona (4:1) acetona acetona acetona % 50 35 90 74 82 e.e. % 94 96 93 73 75 acetona 56 70 O i-Propil Tabela 14 : Reação de Mannich com acetona usando L-prolina como catalisador. Otimização das condições experimentais permitiu a utilização de diversas cetonas 269, com a obtenção enantio e regiosseletiva dos adutos syn em excelentes rendimentos, conforme apresentado na Tabela 15. 143 O R 269 COOH N H 267 (35 mol%) O + H NH2 NO 2 MeO O HN PMP R NO2 265 R % ed % e.e. % CH3 96a) > 95 99 OMe OH 93 92 > 95 > 95 94 > 99 a) Obtenção na proporção 2,5:1 do outro regioisômero. Tabela 15: Reação de Mannich com cetonas usando L-prolina como catalisador. 110 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento A distereosseletividade foi explicada por uma topicidade “like”, onde ocorre o ataque pelas faces si/si da imina e da enamina (ET19). A enantiosseletividade é devido à ligação hidrogênio que ocorre entre o nitrogênio da imina e a carboxila da enamina (Figura 16). Um ataque “unlike” (enamina si, imina re) levaria a uma repulsão estérica entre o ciclo pirrolodinico e o anel aromático. 143 MeO H N N H O O H R NO2 ET19 Figura 16: Estado de transição proposto para a catálise com L-prolina. Em uma extensão ao trabalho de grupo de List, Barbas III e colaboradores avaliaram outras aminas (Quadro 9) para serem utilizadas no lugar da L-Prolina, alcançando excessos enantioméricos na faixa de 50-86% e rendimentos na ordem de 50%, ou seja, não apresentaram resultados superiores a L-prolina .144a Por outro lado, a catálise pelo derivado sulfonamida (Quadro 9) leva a ótimos rendimentos e enantio e diastereosseletividades syn.144b 111 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento H SO3 O N H S N CO2 H N H N H CO 2H N H NHSO 2CF3 Quadro 9 : Aminas avaliadas como catalisadores em reação de Mannich. O mesmo grupo de pesquisa relatou, pela primeira vez, o uso de reação de Mannich catalítica usando aldeídos como nucleófilos. Assim, o tratamento dos aldeídos 270 com a imina glioxílica 212 na presença de l-Prolina (267) gerou enantiosseletivamente os αaminoácidos funcionalizados syn 271 (Tabela 16).145 O + H R 270 R Pr Me Et nBu nPentil i PMP CO 2H N ( 5 mol%) H 267 N CO2 Et Dioxana, t.a. 212 O HN H PMP CO2 Et R 271 % 81 72 57 81 81 89 syn:anti 19:1 3:1 7:1 > 19:1 > 19:1 > 19:1 e.e. % 93 99 99 99 > 99 99 71 > 19:1 > 99 Tabela 16: Reação de Mannich com aldeídos usando L-Prolina como catalisador. 112 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Estudos visando a obtenção de adutos anti levaram ao desenvolvimento do catalisador (S)-2-metil-metoxi-pirrolidina (SMP), porém os resultados alcançados foram apenas moderados.146 A otimização desta abordagem, levando-se em consideração que para alcançar os produtos desejados havia a necessidade de inversão da seletividade facial da imina ou da enamina, Barbas III e colaboradores sintetizaram o ácido (3R,5R)5-metil-3-pirrolidinico (272) para aplicação como catalisador. Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 17.146 COOH O PMP + H R 266 R Me Me i Pr n-Bu n-Bu n-Bu n-Pent CH2=CHCH2 i Pr n-Pent N H 272 N 1 CO2R O HN ( 1-5 mol%) DMSO, t.a. 212 R1 Me Et Et Et Et Et Et Et i Pr i Pr tempo (h) 1 1 3 0,5 1 2 3 3 1 1 % 75 70 85 54 71 57 80 72 92 85 PMP CO2 R1 H R 273 anti:syn 95:5 94:6 98:2 97:3 97:3 97:3 97:3 96:4 97:3 96:4 e.e. % 98 >99 99 99 99 > 99 > 99 > 97 98 > 99 Tabela 17: Reação de Mannich com o catalisador 268. Recentemente, Bolm e Rodriguez relataram a otimização da reação de Mannich clássica com o uso de micro-ondas. Assim, o tratamento da cicloexanona com formaldeído e anilina na presença de L-prolina levou a ótimas enantiosseletividades e redução considerável do tempo reacional.147 113 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Schaus e colaboradores descreveram a utilização de cinchonina (274) na reação de Mannich entre β-ceto-ésteres e acil-aril-iminas com excelentes resultados. O Esquema 76 exemplifica esta abordagem na síntese do β-amino-álcool 275, a partir da reação entre aceto-acetato de metila e a acil-imina 276.148 O O O OCH 3 N + COOCH3 274(10mol%) O o CH 2 Cl2 , -35 C 16 hs H OH OCH 3 NH2 COOCH 3 COOCH 3 99% 276 HN 275 (anti:syn = 20:1) ee = 94% H OH N N H 274 Esquema 76: Obtenção do β-amino-álcool 275 na presença do catalisador 274. Em uma continuação destes estudos, o grupo relatou a utilização de substratos 1,3-dicarbonilados cíclicos, o que levou a obtenção enantiosseletiva de adutos portando carbonos quaternários quirais . A obtenção do β-aminoéster 277 por reação do carbamato 278 com a α-metoxi-ciclo-pentanona exemplifica este protocolo sintético (Esquema 77).149 O O COOCH 3 + O OCH3 N H 278 274 (5 mol%) o CH2 Cl2 , -35 C 16 hs 96% NHCOOCH3 PH COOCH 3 93% e.d.; 90% e.e. 277 Esquema 77 : Obtenção do β-amino-éster 277. 114 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Recentemente Deng e colaboradores relataram, pela primeira vez, uma reação de Mannich direta entre malonatos e N-Boc aril e alquil iminas, pouco reativas, utilizando catalisadores 279 derivados da cinchona portando uma função tiouréia com o propósito de ativação do malonato via ligação hidrogênio. Esta metodologia foi aplicada na síntese de vários N-Boc-β-aminoácidos (Esquema 78).150 NBoc R H 279 (20 mol%) + CH 2(COOMe)2 acetona, -60 o C , 36h. R = 2-Me-Ph, 3-Me-Ph, 4-Me-Ph, 4-F-Ph 4-Cl-Ph, 4-CF3 -Ph, 2-furil, Ph, ciclo-hexil, Et ... N H N H MeO H N S N NHBoc COOMe R * COOMe 81-99% ;88-99% e.e. CF3 F3 C 279 Esquema 78: Utilização do catalisador 279 em reação de Mannich. 2.3.3.Catálise por ácido de Lewis. As reações de Mannich diretas com catálise por ácido de Lewis geralmente envolvem o protocolo experimental “três componentes, um pote” e são bem mais raras. C-glicosil-β-aminoácidos são muito utilizados em química combinatorial para a síntese de glicopeptídeos. Levando-se em consideração a importância destes substratos, Dondoni e colaboradores relataram a síntese do β-glicosil-β-aminoéster 280 através de uma reação de Mannich assimétrica entre C- β-galactosil-formaldeído (281), p-metoxi- 115 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento benzil-amina (282) e o silil-ceteno-acetal 208, em MeOH e usando InCl3 como catalisador (Esquema 79).151 OBn OBn O BnO OBn 281 OTMS NH2 OMe CHO + OMe 208 InCl3, MeOH t.a., 12 hs 282 60% OBn OBn NHPMP O CO 2Me BnO OBn ed > 99% 280 Esquema 79 : Obtenção do β-glicosil-β-aminoéster 280 . Em virtude do sucesso da metodologia, esta abordagem foi estendida para a síntese de outros derivados glico e ribo-peptídicos mostrados no Quadro 10. 151 BnO OBn OBn O BnO OBn NHBoc CO 2Et O NHBoc BnO CO 2 Me OBn OBn NHBoc O CO 2Me OBn OBn Quadro 10: Derivados peptídicos obtidos por reação de Mannich direta. 116 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Kobayashi e colaboradores descreveram a primeira reação diastereosseletiva de Mannich direta entre enaminas e a imina derivada do glicinato de etila 260. Vários ácidos de Lewis foram avaliados, sendo que o Zn(OTf)2 na presença de peneira molecular 4A foi o que apresentou melhores rendimentos. O Esquema 80 mostra um exemplo com a reação da enamina 283.152 Os autores não relataram a estereosseletividade do processo. Ph Ph N + Ph N 283 260 COOMe Zn (OTf)2 Pen. Mol. 4A o tolueno, 0 C 18 hs 88% N Ph * * N CO 2Me Ph Ph Esquema 80: Reação de Mannich com a imina derivada da glicina 260. A otimização deste trabalho levou ao desenvolvimento de uma reação de Mannich direta catalítica entre a imina 284 derivada da glicina com vários aldeídos (285) e aminas secundárias (286). puxador de elétrons na posição processos Deve-se destacar que a incorporação de um grupo para do anel benzofenônico na imina 284 levou a altamente diastereosseletivos. O Zn(OTf)2 continuou a ser o ácido de Lewis que levou a melhores rendimentos. Os resultados alcançados pelos autores estão mostrados na Tabela 18.153 117 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O R 1 2 R1 H 285 F 3C + HN R 286 + 2 Zn (OTf) 2 NaBH3 CN Pen. Mol. 4A tolueno, 0 oC AcOH, MeOH 0 oC, 3 hs R NR R COOMe NHCHAr 2 24 hs N COOMe 284 F3C R Ph Ph Ph Ph Ph 4-Me-Ph 3-Me-Ph 2-Me-Ph 4-MeO-Ph 4-Cl-Ph 3,5-(MeO)2-Ph 2-naftil1-naftil 3-tienil HNR1R2 HNAlil2 HNBn2 HNBnMe HNPr2 piperidina HNAlil2 HNAlil2 HNAlil2 HNAlil2 HNAlil2 HNAlil2 HNAlil2 HNAlil2 HNAlil2 % 97 31 74 80 73 92 95 98 99 77 95 99 97 72 anti:syn 93:7 88:12 91:9 91:9 90:10 97:3 92:8 96:4 95:5 95:5 >99:1 98:2 91:9 61:39 Tabela 18 : Reação de Mannich direta entre aldeídos, aminas e a imina 284. Tentativas de conduzir uma versão enantiosseletiva deste procedimento usando (R,R)-Me-DUPHOS em combinação com CuOTf. . 1/2PhMe (10 mol%) gerou, em rendimento moderado, uma mistura equimolecular dos diastereoisômeros syn e anti com excessos enantioméricos de 75% e77%, respectivamente.153 2.4. Reações de Mannich em meio aquoso Considerando-se as grandes vantagens em relação ao meio-ambiente e o envolvimento de técnicas experimentais mais simples, sem a necessidade do uso de solventes anidros e baixas temperaturas, as reações em meio aquoso têm representado o estado da arte em química orgânica sintética. 118 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento A primeira descrição da reação de Mannich assimétrica em meio aquoso (H2O/THF = 1/9) deve-se ao grupo de Kobayashi, onde utilizaram um complexo de ZnF2 com uma diamina quiral (287) como catalisador e a acil-hidrazona 288 como eletrófilo. Os adutos foram obtidos com excessos enantioméricos da ordem de 90%. O Esquema 81 exemplifica este protocolo sintético na síntese do HPA-12 (227). 154 N BzHN NHBz EtOOC OTMS H 288 + Ph NH ZnF2 (50 mol%) O EtOOC 287 (10 mol%) TfOH (1 mol%) Ph 90% e.e. H2O-THF (1:9) 95% Ph Ph O C 11 H 23 Ph NHHN NH HO Ph OH Ph 227 287 . Esquema 81: Obtenção do HPA-12 (227) em meio aquoso. Este mesmo grupo de pesquisadores estendeu esta abordagem para uma reação enantio- e diastereosseletiva com o uso de silil-enol-éteres substituídos (289) e do catalisador 290. Os resultados apresentados na Tabela 19 mostram que: a) O catalisador 290 acelera a reação em água, dispensando o uso de co-solventes orgânicos; b) Um surfactante catiônico (brometo de cetil-trimetil-amônio – CTAB) foi mais efetivo que o TfOH para incrementar a enantiosseletividade do processo; c) Ao contrário do que normalmente se observa em reações de Mannich, adutos syn (291) são obtidos estereoespecificamente a partir de enolatos de silício E, enquanto os adutos anti advêm dos enolatos Z.155 119 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ph MeO Ph NHHN OMe 290 N BzHN NHBz EtOOC OTMS H + 288 R 2 R R 3 1 289 NH ZnF2 (100 mol%) 290 (10 mol%) CTAB (2 mol%) H2 O, 0o C EtOOC 1 R O R3 R 291 2 20 hs R1 Me Et Me H R2 H H H Me R3 Ph Ph Et Et % 93 76 57 94 syn:anti 94:6 96:4 86:14 12:88 ee % 96 96 97 94 Tabela 19: Reação de hidrazonas com silil-enol-éteres em meio aquoso. Ishimaru e Kojima descreveram uma reação estereosseletiva entre aldiminas quirais derivadas da L-alanina (292) e 2-siloxi-butadienos (293) ou o silil-ceteno-acetal 202 em meio aquoso e na presença de Zn(OTf)2 (Esquema 82).156 120 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento R Zn(OTf) 2 ( 4 equivalentes) MeOOC H2O-Et2O ( 1:2) OTMS R1 H R O 3 2 R * ed = 74-90% R2 N N H 1 R3 COOMe 293 57-82% R 2 = Ph, Me 3 R = H, Ph 292 R 1= Ph, o-tolil, m-tolil, R Zn(OTf) 2 ( 4 equivalentes) oMeO-Ph, p-Cl-Ph H2 O-Et 2O ( 1:2) MeOOC OTMS N H 1 COOMe * ed = 75-94% OMe 202 80-88% Esquema 82: Reação de Mannich em meio aquoso na presença de Zn(OTf)2. Córdova e Barbas III relataram a primeira reação de Mannich organocatalítica direta em meio aquoso (THF-H2O) usando a L-prolina (267) como catalisador. Assim, o tratamento da imina 212 com vários aldeídos forneceu os derivados de aminoácidos βformilados 294 em excelentes diastereo- e enantiosseletividades. O mecanismo proposto é idêntico ao da reação em meio anidro (Tabela 20).157 N O PMP PMP 267 (10 mol%) + H EtOOC R H 2O-THF (1:9) t.a. 4-24 hs. 212 R CH3(CH2)4CH=CHCH2 n-Pentil CH2=CHCH2 PhCH2 Me % 88 82 64 78 67 syn:anti > 19:1 >19:1 >19:1 >19:1 2:1 NH O (S) EtOOC (S) H R 294 e.e. % > 99 95 89 91 99 Tabela 20: Obtenção dos derivados de amino-ésteres 294 com L-prolina em meio aquoso. 121 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O grupo de Ranu utilizou Zn(BF4)2 como catalisador de reações de Mannich entre os silil-enol-éteres 295, derivados de cetonas cíclicas, e iminas aromaticas 296 alcançando rendimentos bons e diastereosseletividades moderadas na obtenção das bases de Mannich 297. Vale destacar que enquanto os silil-enol-éteres com ciclos de cinco e sete membros levaram a formação preferencial dos adutos syn, os derivados ciclo-hexil e ciclo-octil geraram principalmente os adutos anti. Os resultados obtidos estão arrolados na Tabela 21.158 N Ph O OTMS Zn(BF4 )2 + Ar (CH2 )n 296 THF-H 2 O t.a. NHPh R (CH2 )n 297 295 Ar n Tempo (min.) % syn:anti Ph 1 8 87 70:30 Ph 2 10 88 20:80 p-Cl-Ph 2 12 86 30:70 Ph 3 5 93 85:15 p-Cl-Ph 3 5 94 80:20 Ph 4 10 98 30:70 p-Cl-Ph 4 8 97 15:85 p-MeO-Ph 4 15 87 10:90 Tabela 21 : Reação de Mannich com silil-enol-éteres cíclicos em meio aquoso. Said e colaboradores relataram uma reação de Mannich direta do tipo “um pote, três componentes” usando um ácido heteropólico (HPA) como catalisador. O uso deste tipo de catalisador tem as vantagens de trazer benefícios ao meio-ambiente à medida que normalmente é utilizado em meio aquoso e, por tratar-se de um catalisador sólido, ser retirado do meio reacional por filtração. Assim, a reação da ciclo-hexanona com anilina 122 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento e os aldeídos aromáticos 298 na presença de H3PMo12O40 ou H3PW12O40 (299) forneceu os adutos 300, de acordo com o mostrado na Tabela 22.159 NH2 RCHO + (3 mmol) O HN O 299 (10 mg) + R H2 O, t.a. 3-18 hs. 298 O HN R + anti syn 300 299 a : H3 PMo12 O40 299b: H3 PW12 O40 R Ph 4-Cl-Ph 3-NO2-Ph 3-NO2-Ph 2,4-Cl2-Ph 2-MeO-Ph 4-MeO2C-Ph i Pr 299 a b b a b b b b % 84 80 90 94 83 60 88 25 anti:syn 63:37 65:35 58:42 55:45 68:32 65:33 72:28 - Tabela 22 : Reação de Mannich em meio aquoso usando HPA´s como catalisador. Paralelamente a estudos em meio aquoso, Ji e colaboradores relataram a primeira versão de reação de Mannich assimétrica em líquido iônico. As vantagens do uso dessa classe de solventes residem nos fatos de que os mesmos não são inflamáveis, possuem pressão de vapor alta, baixa toxicidade, baixo custo, são estáveis termicamente e são reutilizáveis. Além disso, ao se pensar em estereosseletividade, estes solventes são polares, mas não têm capacidade de coordenação, o que garante a sua não participação nos estados de transições.160 123 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Assim, de acordo com o mostrado no Esquema 83 e usando o éster metílico da Lvalina (301) como auxiliar de quiralidade, vários aldeídos reagiram com o silil-cetenoacetal 208 em tetra-flúor-borato de hexametil-imidazolinio ({hmim}[BF4-] (302) na presença de In(OTf)3 gerando os β-aminoácidos 303 em rendimentos moderados e boas diastereosseletividades.160 O + NH2 R CO2 Me + H OTMS OMe 208 301 R = Ph, p-Cl-Ph, β-naftil, PhCH2 CH 2, n-octil N N ( )5 302 BF4 - MeO2 C In(OTf)3 50-65% NH CO2 Me R ed : 60-90% 303 Esquema 83: Reação de Mannich em líquido iônico. 2.5. Reações de Mannich em condições de transferência de fases. Reações sob condições de catálise de transferência de fase (CTF) têm grandes vantagens tanto em relação ao meio-ambiente, quanto às condições experimentais brandas, pois não envolvem o uso de solventes anidros, atmosfera inerte, e utiliza-se bases como hidróxidos e carbonatos alcalinos no lugar de hidretos, amidetos e alcóxidos .161 Entretanto, apesar de muito utilizadas em reações de alquilações, versões de reações de Mannich sob condições de CTF são pouco comuns na literatura de química orgânica sintética. 124 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ao nosso conhecimento, o primeiro relato de uso de CTF em reações de Mannich deve-se ao trabalho de Maruoka e colaboradores. Neste trabalho, os autores relatam a obtenção do aduto 304 via reação do derivado de glicina 305 com o α-imino-éster 212,utilizando o brometo de amônio 306 como catalisador. A aplicabilidade do método foi mostrada na síntese da lactama 307 (Esquema 84), 162 um precursor da estreptolidina, estrutura básica de uma classe de antibióticos obtidos de fontes microbianas. Ph Ph PMP N t COO Bu + H 305 NHPMP N i.306 (2 mol%) CO2 Et 212 t BuOOC tolueno COOEt NH2 NaOH 17% o -20 C , 6hs 88% 304 e.d.:64%; e.e.:91% ii. HCl 1N, THF Ar Br O N HN H O Ar F (R,R)-306 F Ar= N PMB NPMP H OH 307 F Esquema 84: Reação de Mannich em condições de CTF usando o catalisador 306. Shibasaki e colaboradores sintetizaram o catalisador (S,S)-TaDIAS 308 e aplicaram-no em uma reação de Mannich sob condições de CTF entre o derivado de glicina 305 e as N-Boc e N-Tos iminas aromáticas 309, obtendo os adutos syn (310) em excelentes diastereosseletividades (Tabela 23).163 125 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento F BF4 N O O N BF4 - F Ph Ph R1 N t COO Bu + 305 C 6H 4-4-Me C 6H 4-4-Me C 6H 4-4-Me (S,S)-308 NHBoc N H C6 H 4 -4-Me R i.308 (10 mol%) Cs2 CO 3 ( 2 eq.) 309 PhF t BuOOC R N Ph Ph 310 R Ph 4-MeO-Ph 4-Me-Ph 3-Me-Ph 2-Me-Ph 4-F-Ph 4-Cl-Ph 2-naftil 2-tio-fenil (E)-PhCH=CH2 Ph R1 Boc Boc Boc Boc Boc Boc Boc Boc Boc Boc Tos T(oC) -30 -45 -40 -45 -20 -40 -20 -20 -40 -30 t.a. t (hs.) 19 48 48 72 66 48 20 72 48 48 2,5 % 98 95 98 96 99 99 87 87 98 86 97 syn:anti 99:1 95:5 98:2 95:5 97:3 98:2 98:2 >95:5 98:2 98:2 70:30 e.e.% 70 99 80 70 68 72 58 60 80 66 0 Tabela 23: Reação de Mannich em condições de CTF usando o catalisador 308. O ciclo catalítico proposto é mostrado no Esquema 85. Desprotonação de 305 por Cs2CO3, na interface entre as fases sólida e líquida, seguida de troca do cátion com o catalisador, gera o complexo 311. Reação deste complexo com a imina 309 fornece o aduto de Mannich 312. Troca do ânion entre 312 e CsBF4 forma 313 e regenera o catalisador. A necessidade do uso de excesso do Cs2CO3 é devido ao fato da desprotonação representar a etapa lenta da reação. 163 126 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ph t N Ph COO Bu Cs * t +N N+ 2 BF4 305 Cs 2CO3 NBoc BuOOC R N 308 Ph CsHCO 3 Ph Ph Ph 313 - O Cs N + CsBF4 t O Bu - BF4 + N t - BF4 + N Ph Ph * N + NBoc BuOOC R N * N N + O- 312 Ph Ph O tBu 311 Boc H N R 309 Esquema 85: Ciclo catalítico que explica a estereosseletividade do processo com o uso do catalisador 308. 127 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento II. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 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H.-Y.; Houk, K. N.; Tanaka, F.; Barbas III, C. F. J. Am. Chem. Soc. 2006, 128, 1040. 147.Rodríguez, B.; Bolm,M C. J. Org. Chem. 2006, 71, 2888. 148.Lou S.; Taoka, B. M.; Ting, A; Schaus, S. E. J. Am. Chem. Soc. 2005, 127, 11256. 149.Ting, A.; Lou, S.; Schaus, S. E. Org. Lett. 2006, 8, 2003. 150.Song, J.; Wang, Y.; Deng, L. J. Am. Chem. Soc. 2006, 128, 6048.2381. 151.Dondoni, A.; Massi, A.; Sabbatini, S.; Bertolasi, V. Tetrahedron Lett. 2004, 45, 2381. 152.Kobayashi, S.; Yamashita, Y,; Kobayashi, S. Chem. Lett. 2005, 34, 268. 153.Salter, M. M.; Kobayashi, J.; Shimizu, Y.; Kobayashi, S. Org. Lett. 2006, 8, 3353. 154.Kobayashi, S; Hamada, T.; Manabe, K. J. Am. Chem. Soc. 2002, 124, 5640. 155.Hamada, T.; Manabe, K.; Kobayashi, S. J. Am. Chem. Soc. 2004, 126, 7768. 156.Ishimaru, K.; Kojima, T. J. Org. Chem. 2003, 68, 4959. 157.Córdova, A.; Barbas III, C. F. Tetrahedron Lett. 2003, 44, 1923. 158.Ranu, B. C.; Samanta, S.; Guchhait, S. K. Tetrahedron 2002,58, 983. 159.Azizi, N.; Torkiyan, L.; Saidi, R.; Org. Lett. 2006, 8, 2079. 160.Chen, S.-L.; Ji, S.-J.; Loh, T.-P Tetrahedron Lett. 2004, 45, 2405. 161.Lucchese, A. M.; Marzoratti, L. Química Nova 2000, 23,641. 162.Ooi, T.; Kameda, M.; Fujii, J.-i; Maruoka, K. . Org. Lett. 2004, 6, 2397. 163.Okada, A.; Shibuguchi, T.; Ohshima, T.; Masu, H.; Yamaguchi, K.; Shibasaki, M. Angew. Chem. Int. Ed. Eng. 2005, 44, 4564. 138 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento III. OBJETIVO E JUSTIFICATIVA Nos últimos anos nosso grupo de pesquisa tem desenvolvido, a partir de monoterpenos, uma série de novos auxiliares e ligantes quirais contendo funcionalidades variadas para aplicação em síntese assimétrica.1 Com este enfoque, descrevemos anteriormente uma metodologia para a reação de Mannich assimétrica em enolatos de titânio da d-cânfora levando à obtenção dos adutos endo. 1b Em continuação a linha de pesquisa supracitada, este projeto teve como objetivo o estudo da reação de Mannich assimétrica utilizando a 2-hidroxi-pinanona (309) (Quadro 11) como auxiliar de quiralidade. A escolha deste auxiliar justifica-se pelo fato do mesmo ser facilmente obtido a partir do α-pineno (310) em que ambos os enantiômeros são de fácil acesso. Para tal, foi sintetizado o alquil-imino-éster 311 (Quadro 11), derivado da glicina. Este alquil-imino-éster já foi muito utilizado em reações de alquilação, aldólicas e de Michael (vide seção III.1, pág 132) . Entretanto, ao nosso conhecimento, nunca foi avaliado como nucleófilo em reações de Mannich. N OH O OH 309 310 COOEt 311 Quadro 11: (1S,2S,5S)-(-)-2-Hidroxi-3-pinanona 309, (R)-(+)-α-pineno 310 e imino-éster 311. 139 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Este estudo se justifica a medida em que, além do desenvolvimento do método com uma avaliação dos enolatos de lítio, potássio e titânio na estereosseletividade do processo, a obtenção dos adutos de Mannich daria acesso à obtenção de α,βdiaminoácidos opticamente ativos, moléculas-alvo de grande importância tanto ao nível de atividade biológica, quanto como intermediários em síntese orgânica (vide seção I.1, pág. 1) 140 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 1. A UTILIZAÇÃO DA 2-HIDROXI-3-PINANONA AUXILIAR DE QUIRALIDADE. COMO A utilização da (+) e da (-) 2-hidroxi-3-pinanona (309) como auxiliar de quiralidade foi descrita pela primeira vez por Yamada e colaboradores. Neste trabalho, os autores relataram a obtenção , com rendimentos e estereosseletividades moderados, dos α−D-aminoácidos 312 através da alquilação assimétrica da base de Schiff 313, obtida pelo tratamento do glicinato de t-butila 314 com a (-)-(1S, 2S, 5S)-2-hidroxi-3pinanona (309) (Esquema 86).2 H 2 NCH2 CO2 tBu O OH 1. 309 benzeno, BF3 .OEt2 Deam-Stark, 4hs CO2 tBu OH 1. LDA, THF, -78o C CO2 tBu H2N 2. RX 313 t CO 2 Bu 313 83% N 2. N OH 314 3. Ácido cítrico 50-79% R e.e. = 66-83% O OH + 309 312 R = CH 3 , (CH3 ) 2CHCH 2, PhCH2 a,3,4-(MeO)-PhCH2 a a: Uso de HMPA como co-solvente. Esquema 86: Obtenção dos α-D-aminoácidos 312 por alquilação da base de Schiff 313. 141 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Estes resultados preliminares mostraram–se promissores para a síntese assimétrica de aminoácidos na forma de ambos os enantiômeros, à medida que tanto o (+)-α-pineno, como seu antípoda ótico são produtos naturais abundantes. A partir daí vários trabalhos foram descritos na literatura utilizando esta metodologia de alquilação, bem como reações de Michael e aldol usando o mesmo auxiliar de quiralidade 309, como será visto adiante. 1.1. Reações de Alquilação. Buscando uma ampliação da metodologia de alquilação descrita por Yamada,2 o grupo de Viallefont relatou a obtenção enantiosseletiva de D e L α-aminoácidos dissubstituídos. Assim, o tratamento do enolato de lítio do imino-éster derivado da glicina 315 com os haletos 316 forneceram, após hidrólise do aduto 317, os αaminoácidos 318 (Tabela 24): 3 142 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento OH OH CO2 Me i. LDA, THF, -80 oC N R ii. R1 X 315 316 315 1 R N CO 2Me R R ácido cítrico 3 dias 1 OH O CO2 Me H 2N + 1 R R 309 318 317 R R1X % (317) e.e.% (318) CH3 n-C3H7I 85 80 (R) n-C3H7 CH3I 82 82 (R) CH3 n-C3H7I 81 83 (S) n-C3H7 HC≡CCH2Br CH3I H2C=CHCH2Br 78 87 70 52 90 (S) 15 N (R) CO 2Me OH 2 3 R N (S) CO2 Me OH 4 5 6 Tabela 24: Resultados obtidos na síntese de α-aminoácidos dissubstituidos. A análise da tabela evidencia que: a) a diastereosseletividade do processo sofre influência do eletrófilo: a presença de ligações insaturadas leva a uma queda da estereosseletividade do processo (ver entradas 4 e 6); b) o substituinte presente no substrato exerce grande influência na estereosseletividade do processo: Comparando-se as entradas 1 x 2 e 3 x 5 nota-se que a inversão da ordem de alquilação leva ao mesmo produto. Provavelmente o grupo n-propil, mais volumoso, bloqueia a face do enolato contrária àquela que é bloqueada quando da presença do grupo metila. 3 143 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Em uma continuidade deste trabalho, o grupo de Viallefont mostrou que as reações de alquilação também sofrem grande influência da quiralidade inicial dos imino-ésteres. 4 Inicialmente foi investigada a alquilação dos dois diastereoisômeros 319a e 319b das bases de Schiff (1S,2S,5S) do éster metílico da valina (Esquema 87) e, surpreendentemente, observaram que, enquanto o produto de alquilação 320 foi obtido em 60% de rendimento e ed > 95%, 319b não reagiu, sendo totalmente recuperado .4 (R) N CO 2Me OH 1. LDA, THF, -80o C N CO2 Me OH 2. CH 3I 60% 319a S N CO 2Me OH 1. LDA, THF, -80 o C 2. CH 3I ed > 95% 320 X 319b Esquema 87: Alquilação dos imino-ésteres 319 a e b. Outros experimentos mostraram que a deuteração do enolato de lítio derivado de 319a gerou o produto deuterado em 40% de rendimento, enquanto que a mesma experiência com 319b não levou à incorporação de deutério.4 Buscando avaliar a influência do volume do substituinte, três outras bases de Schiff com substituintes menos volumosos (321, 322 e 323) foram examinadas na reação de alquilação com iodeto de metila. Os resultados obtidos estão mostrados no Esquema 88.4 144 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento R (R) N CO2Me OH H 1. LDA, THF, -80 oC R (R) N CO2 Me OH + 321a, 322a,323a [A] R CH 3I N CO2Me OH 321a R = iC 4H 9 324a,325a,326a 322a R= CH 2Ph 323a R= n-C 3H 7 R (S) N CO 2Me OH i 321b R = C 4H 9 322b R= CH2 Ph 323bR= n-C 3 H7 R H 1. LDA, THF, -80oC N CO2Me OH 321a, 100% 322a + 322b (1:1) 323a + 323 b (4:6) + [B] CH3I 321b 322b R nC H 3 7 N CO 2Me OH 326b Esquema 88: Estudo de alquilações nos imino-ésteres substituídos 321-323. Os diastereoisômeros com substituintes de quiralidade (R) (321a, 322a e 323a) na presença de LDA geraram um intermediário A que, após reprotonação, levaram ao produto de partida. Tratamento de A com CH3I geraram as bases de Schiff di-alquiladas 324a, 325a e 326a, onde as alquilações ocorreram com retenção de configuração .4 Os diastereoisômeros 321b, 322b e 323b, frente ao LDA produziram o intermediário litiado B que, por tratamento com ácido aquoso, levou à epimerização de 321b e racemização de 322b e 323b. Adição de CH3I em B causou recuperação dos produtos de partida 321b e 322b. Entretanto, ocorreu alquilação de 323b, mas com inversão de configuração (326b). 4 145 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Resultados similares foram obtidos com as bases de Schiff derivadas da (1R,2R,5R) 2-hidroxi-3-pinanona: Os diastereoisômeros com substituinte de quiralidade (S) reagem com eletrófilos, enquanto a reatividade dos diastereoisômeros com substituinte de quiralidade (R) é função da natureza deste substituinte.4 Os autores não conseguiram propor uma explicação para estes resultados, mas sugeriram a intermediação de um ânion quiral, com o lítio fortemente ligado ao carbono. Em uma extensão de seus trabalhos da utilização de 309 como auxiliar de quiralidade e buscando avaliar o papel do hidrogênio ácido (OH) nas reações das bases de Schiff litiadas, Viallefont e colaboradores sintetizaram a lactona 327 ( Esquema 89) para avaliá-la como auxiliar de quiralidade. A utilização de 327 teria como vantagens a) tratar-se de um sistema rígido com uma das faces diastereofaciais bloqueada por três grupamentos metila, o que deveria acarretar em uma indução assimétrica alta e b) após a hidrólise ácida obter-se-ia imediatamente o aminoácido correspondente.5 Assim, o tratamento da lactona 327 com tBuOK gerou 328 (¨60%, ed > 95%) acompanhado com um pouco do produto de dialquilação (329) (14%) (Esquema 89). O uso de LDA sempre acarretou em recuperação do produto de partida. A utilização de brometo de benzila como eletrófilo levou invariavelmente à obtenção do produto de dialquilação ou não ocorrência de reação. 5 N O N t O i. BuOK ii. CH3I 327 O O CH3 H 60%, ed > 95% 328 N + O O CH 3 CH 3 14% 329 Esquema 89 : Reação de alquilação da lactona 327. 146 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Considerando os resultados alcançados com esta metodologia de alquilação, Solladié-Cavallo e Simon tentaram utiliza-la para a síntese do (S)-DABA (330), mas ao contrário do descrito na literatura, alcançaram baixa indução assimétrica (e.d. = 20%) nas condições usuais. Excelente diastereosseletividade foi alcançada através da adição de MgBr2 ao diânion derivado do imino-éster 311 (Esquema 90) . Tentativas de adição ao meio reacional de captadores de próton gerando o enolato dissociado levaram a baixos rendimentos e estereosseletividades.6 CN N COOEt i. LDA,THF, -80o C N COOEt ii. MgBr 2 (0,5 eq.) OH 311 OH ii. BrCH 2CN 85% i. H 2, PtO 2 ii. HCl, 1 N NH3+Cl(S) H2N COOH 330 Esquema 90 : Síntese do (S)-DABA (330). Considerando estes resultados, Solladié-Cavallo e colaboradores propõem que o curso estereoquímico da reação pode ser explicado através da intermediação de um dímero dobrado 331( Figura 17). Esta proposta baseou-se na análise de que a formação dos complexos monoméricos 332a ou b, proposta por Roumenstant e colaboradores,7 não explicariam a diastereosseletividade do processo, considerando-se a distância maior que três ligações entre o carbono pró-quiral (C-1) e o primeiro centro quiral do iminoéster . Além disto, este primeiro centro quiral é um carbono quaternário e os autores não acreditam em uma diastereosseleção facial entre os grupos metila e hidroxila. Um terceiro complexo monomérico (332 c), via quelação com o eletrófilo, 147 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento seria plausível, mas levaria ao outro diastereoisômero, contrário ao observado experimentalmente. 8 A adição de MgBr2, devido a grande habilidade de coordenação do magnésio, reforçaria a dobra do dímero e assim aumentaria a diastereosseletividade do processo. A baixa diastereosseleção observada na alquilação com α-bromo-acetonitrila, na ausência do sal de magnésio, foi explicada por quebra do dímero 331 devido à quelação entre os átomos Li1 e Li2 com o par de elétrons do nitrogênio da nitrila. H 1 N O S = THF OEt S H1 N S S O-Li S S Li OEt O Li O S Li S S S 332a S 332b S H 1 S OEt O N Li S H O H R Li X S leva ao (R)-aminoácido 332c leva ao (S)-aminoácido Et O 1 H 2 2' Li O1 O 3' N Li1 O3 Li 2 O 2' Et 331 H 1' N Li1' O 1' leva ao (S)-aminoácido Figura 17: Propostas para explicar a estereosseletividade das reações de alquilações. 148 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Tendo em vista a grande aplicabilidade deste método sintético, e considerando a dificuldade de racionalização de um mecanismo para o mesmo, Matsumoto e colaboradores publicaram uma investigação teórica/computacional buscando esclarecer os fatores que respondem pela diastereosseletividade do processo.9 Em uma primeira etapa analisaram (método semi-empírico PM3 ou MOPAC 93) se a conformação proposta para as bases de Schiff realmente representava um mínimo de energia. Como a base de Schiff é obtida sob condições de refluxo, entenderam que a estereoestrutura é governada por controle termodinâmico. A base de Schiff tiazólica 333 foi otimizada com PM3 e foram geradas 5184 conformações diferentes por rotação de 5o das ligações N12-C13 e C13-C14 (Figura 18). O calor de formação (∆Hf) foi calculado para todas esta conformações.9a 15 N S 14 j q 6 N 13 12 1 OH q13 j 15 12 N 6 N 1 OH S 14 E q: 6-12-13-14 Z j : 12-13-14-15 333 Figura 18 : Conformações otimizadas de 333. A análise das superfícies de energia das configurações E e Z de 333 mostraram que existem, para E, grandes domínios que podem ser termodinamicamente estáveis. Entretanto, para a forma Z foram encontradas algumas áreas mais estáveis que a forma E. Com isto, não identificaram um estereoisômero mais estável para a base de Schiff. Em uma segunda etapa foram considerados para a otimização o número de coordenação do lítio usando THF como ligante. Para este estudo o anel tiazólico foi substituído por fenila devido ao tamanho e complexidade daquele. Assim, foram otimizadas as estruturas 334-337 (Figura 19).9a 149 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento THF i L THF O N THF Li THF O N H Li THF THF THF H Li THF THF THF E -α 335 E-β 334 THF Li THF THF O H N THF THF THF Li Z-β 336 THF THF THF THF Li Li O N H Z-α 337 Figura 19: Modelos utilizados para a otimização do intermediário litiado. Os cálculos teóricos mostraram que em 334 ( configuração E) a face β possui os dois átomos de litio coordenados, quando do ataque do agente alquilante. No caso de 335, não existe sítio reacional passível de sofrer efeitos diferenciados dos ligantes litioTHF. O ∆Hf da conformação 336 é muito grande em comparação com os das outras estruturas, e, assim, os autores consideraram que 336 não existe no meio reacional. No caso de 337, da mesma forma que em 335, não existem sítios reacionais diferenciados para sofrerem ataque do agente alquilante.9a Assim, a reação deve ocorrer via a conformação 334 e os seguintes aspectos devem ser considerados na reação de alquilação: 150 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento OH B N R A A base de Schiff encontra-se na forma E ( estabilidade termodinâmica) A ponte garante a rigidez do sistema. C THF THF O Li N* R H Li THF THF THF D O anel de cinco membros formado pela coordenação do N-Li é o responsável pela seletividade do sistema. Este sítio responde, junto com C, pela estereosseletividade do processo. Extensão destes cálculos teóricos para o imino-éster 311 mostraram que a reação ocorre preferencialmente no intermediário E 338 . Otimização do modelo dimérico 339, semelhante ao proposto pelo grupo de Solladié-Cavallo (331),8 indicou que não existe estereosseletividade facial diferencial , pois esta seria alcançada através da formação de um ciclo de quatro membros, o que mostrou ser muito desfavorecido energeticamente, pois as ligações Li-O são muito fracas para se manterem no meio. Neste sentido, a reação deve ocorrer através do monômero 340 e a diastereosseletividade do processo é devida indiretamente ao auxiliar de quiralidade. Na realidade, a discriminação facial seria decorrente da quelação interna do enolato, favorecida pela rigidez do auxiliar de quiralidade (Figura 20).9b 151 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Et O H N Li O Li O Li H O O Et O N Li 331 THF O Me O O THF H Li O N t N Bu O H THF Li THF Li THF 338 O Li H RX Li O O O Li H O Me O 339 OR N N Li O O Li 340 Figura 20: Intermediários estudados na estereosseleção das reações de alquilações. Esta metodologia de alquilação utilizando imino-ésteres derivados da glicina foi bastante aplicada na obtenção aminoácidos não-proteinogênicos, conforme alguns exemplos mostrado no Quadro 12.10 152 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Cl Cl H 2N O O ácido-(S)- 2 -amino-8-oxo-(R)-9 ,10-epoxi-decanóico Cl.H3 N CO2 H HO cloridrato da 3,4-cloro-fenil-alanina H2 N NH2 N H CO 2H HO2 C CO 2 Et OH N H γ-hidroxi-norvalina ácido (2R,5S)-pipecólico CO 2H (R)-2-metil-triptofano PO2 H 2 F2 C CO2 H H2 N BocHN CO 2H H N HO2 C N CO 2Et derivado da β,β-difluoro-glutamina derivado 4-metil-fosfinico do ácido glutâmico NH2 CONHPMP H N N NH 2 CO 2H X Pentosidina Quadro 12: Exemplos de aminoácidos obtidos por alquilação de imino-ésteres derivados da glicina. Além de reações de alquilação, Roumestant e colaboradores utilizaram estas bases de Schiff derivadas da glicina na protonação diastereosseletiva de racematos de aminoácidos naturais obtendo-os oticamente puros com excessos enantioméricos maiores que 98%. Várias bases foram avaliadas e os melhores rendimentos e estereosseletividades foram alcançados com o uso de t-BuOK e NH4Cl como fonte de prótons.11 153 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 1.2. Reações de Michael O primeiro relato do uso das bases de Schiff derivadas da glicina em reações de Michael foi descrito por Minowa e colaboradores na síntese de derivados fosfonados do ácido glutâmico.12 Assim, o tratamento do imino-éster (S,S,S)-311 com vários aceptores de Michael (341) levaram aos adutos 342. Hidrólise de 342 seguido de tratamento com óxido de propileno forneceu os aminoácidos (S)-343 com rendimentos e estereosseletividades moderados (Tabela 25).13 O uso do antípoda óptico de 311 levou aos mesmos resultados. N OH COOEt N OH i. tBuOK, -78oC THF 311 ii. R 1 2 R O P CH=CH 2 1 342 H2N i. HCl 6N ii. EtOH-H2 O, O 1 2 P(O)R R 1 1 1 2 3 4 5 a a HMPA (5 eq.) a 18-crown-6 (5 eq.) b CH2=CHCO2Me 2 2 343b: R =R = OH 2 Aditivo 1 2 P(O)R R 343a :R Me, R = OH 341a :R Me, R = OMe 341b: R 1 =R2 = OEt 341 COOEt COOEt % e.e. % 66 42 31 68 57 85 48 43 54 61 (R) Tabela 25 : Reação de Michael na Base de Schiff 311. A análise da Tabela 25 mostra-nos que a adição de captadores de cátions (entradas 2 e 3) levou a uma queda de rendimento e da estereosseletividade, o que pressupõe a existência do intermediário quelado 344 (Figura 21). 154 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Por outro lado, o uso do acrilato de metila como aceptor de Michael forneceu um produto advindo de um curso estereoquímico oposto ao que ocorre com os aceptores fosforilados (entradas 1 e 5), o que permite concluir que a coordenação dos pares de elétrons não compartilhados do oxigênio ligado ao fósforo e do nitrogênio com o potássio em 344 desempenha papel fundamental na orientação da adição. Os aceptores fosforilados geraram adutos com estereoquímica inversa às observadas nas reações de alquilação.13 N O K O 344 OK OEt P 2 R1 R Figura 21: Intermediário proposto para explicar a estereosseletividade da reação de Michael. Em um aprofundamento deste trabalho, e usando além de fosfonatos e acrilato, sulfonas como aceptores de Michael, os mesmos autores estudam a influência da base e da temperatura na estereosseletividade da adição de Michael .14 Vários alcóxidos e bases litiadas foram avaliados, sendo que tBuOK foi a que apresentou melhores resultados. Deve-se destacar que LDA e LHMDS não levaram à formação de produto. Os autores observaram, também, que a temperatura exerce grande influência na diastereosseletividade da reação, conforme mostrado na Tabela 26.14 155 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento N OH COOEt N * COOEt OH i. tBuOK, THF THF 311 ii. X-CH=CH 2 346 X O Me 341a : X= P MeO 345 a :X=SO2 Ph 345b : X= COOMe Aceptor 341a 341a 341a 341a 341a 341 345a 345a 345b T(oC) % -78 66 -35 66 -20 43 0 24 10 21 0 57 -78 -78 45 -20 22 -20 39 e.d. (%) 79 (S) 47 (R) 68 (R) 69 (R) 69 (R) 43 (R) 36 [α] (6M HCl)= + 7,23 [α]36 (6M HCl)= - 25,1 69 (R) Tabela 26: Influência da temperatura na reação de Michael. Provavelmente, em temperaturas mais baixas a reação ocorre via o intermediário duplamente quelado 347 e a adição se faz pela face α, gerando o produto de configuração (S) no novo centro quiral. Com a elevação da temperatura, o enolato de potássio adquire uma conformação cisóide (348), tendo em vista que a maior mobilidade molecular leva à quebra da ligação K-O, e o ataque se faz pela face β, fornecendo o produto de configuração (R) no novo centro quiral (Esquema 91).14 156 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O O K N 347 R R OK O 348 O K N N OEt P O (S) OEt O P R R K KO O P R OEt R R O P R O K N (R) O OEt Esquema 91: Intermediários propostos para explicar a influência da temperatura na estereosseletividade da reação de Michael. Ao contrário do observado pelo grupo de Minowa em relação à não reatividade da base de Schiff 311 com LDA frente a aceptores de Michael fosforilados, Viallefont e colaboradores descrevem, nesta condição, a adição de Michael nos imino-ésteres 315a e 315b frente ao acrilato de metila (Esquema 92).5 R N OH R COOMe i. LDA,THF, -80o C ii. CO 2CH3 N COOMe COOMe OH 315 a: R = H, 50%, e.d. = 48% b: R= CH3 , 52%, e.d. = 71% Esquema 92: Reação de Michael entre as bases de Schiff 315 e acrilato de metila. 157 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento A utilização do crotonato de metila (349) como aceptor de Michael levou a excelentes diastereosseletividades nas bases de Schiff monossubstituídas, conforme visto na Tabela 27: 5 R1 R N OH 315 R o COOMe i. LDA,THF, -80 C H 3C 349 CO2 CH3 N COOMe COOMe OH R % Isômero principal (%) Mistura (%) H 74 32 42 CH3 90 90 n-C3H7 80 80 Tabela 27: Utilização do crotonato de metila como aceptor de Michael na reação com a base de Schiff 315. Esta metodologia foi estendida a propiolatos e compostos alênicos levando aos adutos em rendimentos moderados (faixa de 50%), mas com diastereosseletividades superiores a 95%.5 Solladié-Cavallo e colaboradores mostraram que a queda de concentração do enolato no meio reacional leva a uma inversão da diastereosseletividade do processo. Assim, adição de Michael da base de Schiff 311 ao acrilato de etila ou acrilonitrila usando 0,1 equivalentes da base conduziu à obtenção rápida e em excelentes rendimentos dos imino-ésteres 350 (Tabela 28). 15 158 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento COOEt N OH 311 COOEt Base (0,1 eq.) N COOEt CH2Cl2 X X= CN X = CO2 Et OH 350a CN ou N 350b Base X T (oC) t (hs) % e.d. (%) NaH CO2Et -20 2 95 82 KH CO2Et -20 2 80 80 t Oct-P2 CO2Et 0 0,5 100 22 t Oct-P2 CO2Et -78 1 100 80 NaH CN -20 2 95 90 KH CN -20 2 90 80 Tabela 28: Adição de Michael com baixas concentrações de enolato. A diastereosseletividade ser uma função da concentração do enolato foi explicada pelo intermediário envolvido no processo. Assim, o aduto de Michael 351, formado inicialmente no meio, atuaria como uma base gerando mais o enolato 352, aumentando, desta forma, a eficácia da reação. Esta condição reacional evita a obtenção de produtos de policondensação e favorece a formação de espécies de enolato monoméricas (353) (Esquema 93). Realmente, o uso de DBU/LiBr ou DBU/MgBr2 , uma base conhecida por favorecer a formação de agregados, levou a obtenção dos adutos de configuração (S). Neste caso, provavelmente, ocorre intervenção do dímero dobrado postulado como intermediário nas reações de alquilação (ver Figura 17, pág. 152).15 159 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Et O 1 N O X O H O X X= CN X = CO2 Et 353 OEt EtO ou OEt N NX C OX N OX COOEt OH OH N 351 i 352 X = Na, K ou Oct-P2H Z N N COOEt COOEt OH 311 350 OH Z = CO2 Et ou CN Esquema 93: Proposta para explicar a diastereosseletividade reacional em baixas concentrações de enolato. Reações de Michael em bases de Schiff derivadas da glicina foram utilizadas para as sínteses dos ácidos (2S,3S) e (2S,3R)-metil-glutâmicos (Quadro 13).16 H H 2N CO 2H H CO2 H (2S, 3S) H H2 N CO2 H H CO 2H (2S, 3R) ácidos metil-glutâmicos Quadro 13: Ácidos metil-glutâmicos. 160 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 1.3. Reações Aldólicas O primeiro estudo da reatividade das bases de Schiff derivadas da glicina com compostos carbonílicos saturados são devidos a Viallefont e colaboradores.5 Reação com cetonas não levou a formação de produtos, mas ocorreu reação com aldeídos. Entretanto, os resultados não se mostraram promissores. Os autores não conseguiram separar os produtos e, assim, não relataram suas configurações relativas e absolutas. Vários protocolos experimentais foram testados, com variação de temperatura, solventes, bases, adição de captadores de cátions (HMPA ou TMEDA), mas ou era recuperado o produto de partida, ou os rendimentos e/ou estereosseletividades eram baixos.5 Os melhores resultados foram alcançados pela troca do lítio por titânio, conforme mostrado no Esquema 94.5 N OH 315 COOMe i. LDA, THF, -78o C ii. Ti (OiPr)3 Cl iii. O 65% COOMe OH N * * OH proporção diastereoisomérica: 70 : 30 Esquema 94: Reação de aldol na base de Schiff 315. Solladié-Cavallo e Koessler conseguem resultados melhores através da formação direta do enolato de titânio ao invés da troca de metal (Li-Ti) como realizado por Viallefont e colaboradores.5 Assim, tratamento da (R,R,R)-311 com trietil-amina e o sal de titânio Ti(OEt)3Cl seguido de adição do 2-(E)-hexadecenal (354) gerou o éster 355, que foi convertido na eritro esfingosina (356) (Esquema 95).17 Deve-se citar que a estereosseletividade da adição de aldol é inversa ao da reação de alquilação, isto é, enquanto nestas o auxiliar de quiralidade (R,R,R) gera um novo centro quiral de 161 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento configuração absoluta (S), o produto aldólico gera o centro quiral correspondente com configuração (R). CO2 Et N OH 311 COOEt i. Ti (OiPr)3 Cl (1 eq.) ii. C 13 H 27 iii. Et3 N N CHO H H OH 354 e.d. = 97% 355 75% OH C 13H 27 OH HO C 13 H 27 NH2 356 Esquema 95: Obtenção da eritro esfingosina 356 por adição aldólica na base de Schiff 311. Em uma extensão deste trabalho, Solladié-Cavallo e Crescenzi descreveram a obtenção do estreoisômero treo utilizando enolatos dissociados e quantidades catalíticas de uma base fosfazênica.18 Os autores postularam que traços do aduto de aldol 357 são formados pela adição de pequena quantidade do enolato 358, gerado por tratamento em quantidade catalítica da base, e do aldeído. Uma vez formado, este alcóxido (357) é capaz de desempenhar o papel da base, enquanto o imino-éster 311, ou o ácido conjugado da base, atua como doador de prótons. Desta forma, o enolato 358 e/ou a base são regenerados no meio reacional (Esquema 96).18 162 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento N OEt COOEt EtP2 (0,2 mol/L) CH2 Cl2, -78o C N O- CO2Et CH 3 CHO N - HEtP2+ OH OH 311 358 357 H H EtP2 + O OH HEtP2+ N H CO2 Et OH OH (2R,3S) N + H Me CO 2Et Me OH OH (2R,3R) 359a 359b Esquema 96: Reação aldólica usando enolato dissociado. Os resultados alcançados com este protocolo sintético em várias condições experimentais estão mostrados na Tabela 29.18 H N COOEt N Base H CH 3CHO OH H CO 2 Et OH OH (2R,3S) 311 N H + Me OH solvente [c] mol/L T (oC) BuLi EtP2 EtP2 EtP2 EtP2 t BuP4 CH2Cl2 CH2Cl2 CH2Cl2 THF Pentano CH2Cl2 0,2 0,2 0,6 0,2 0,2 0,2 -78 -78 -78 -78 -78 -78 OH (2R,3R) 359b 359a Base CO2 Et Me t (hs) % 2 2,5 2,5 2,5 2 2 100 100 98 100 100 80 treo:eritro e.e. % (359a) 55:45 86:14 85:15 85:15 74:26 80:20 91 97 89 97 78 86 Tabela 29: Adição aldólica na base de Schiff 311 com enolato dissociado. 163 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Reações de adição aldólica foram utilizadas na síntese do éster etílico da eritro m-cloro-3-hidroxi-tirosina, 19 e das sulfobacinas A, B e flavocristamida A (Quadro 14).20 OH EtO 2C Cl NH 2 OH eritro m-cloro-3-hidroxi-Tirosina OH O (CH 2 )11 n N H SO3 H (CH2 )11 OH Sulfobacina A (n=1) Sulfobacina B (n=0) SO3H OH O (CH 2)11 N H (CH 2) 9 OH Flavocristamida A Quadro 14: Moléculas obtidas por condensação aldólica em bases de Schiff derivadas da glicina. 164 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento IV. ESTRATÉGIA Considerando a importância de α,β-diaminoácidos ( ver seção 1, pág. 1) a reação de Mannich na base de Schiff 311 foi escolhida como substrato para o desenvolvimento de uma metodologia sintética para a obtenção destes tipos de moléculas. Esta base de Schiff pode ser obtida por iminação da (1S,2S,5S)-(-)-2-Hidroxi-3-pinanona (309), gerada por oxidação anti à ponte metilênica do (R)-(+)-α-pineno (310) (Esquema 97). O uso deste auxiliar de quiralidade tem como grande vantagem o fato de ambos os enantiômeros do α-pineno serem disponíveis. Assim, o sucesso do desenvolvimento deste protocolo sintético poderá dar acesso a D e L-aminoácidos. NR2 NR 2 H 2N * COOEt N N * COOEt OH COOEt OH 311 α,β-diaminoácidos O OH 310 309 Esquema 97: Metodologia sintética proposta para a obtenção de α,β-diaminoácidos. 165 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Para estas reações de N-alquilação, enolatos de lítio, potássio e titânio serão avaliados frente aos eletrófilos N,O-acetal 363, o brometo 365 e as iminas 366 e 370 (Quadro 15). O S N O N N O 363 Br O O N O O 365 366 370 Quadro 15: Aceptores de Mannich a serem avaliados na reação com a base de Schiff 311. Além desta metodologia de reação de Mannich indireta, serão realizados estudos em condições de catálise por transferência de fase e com o uso de ácidos de Lewis. 166 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento V. Resultados e Discussão Para a obtenção do imino-éster (1S,2S,5S) 311, substrato eleito para o estudo da reação de Mannich, a (1S,2S,5S)-(-)-2-Hidroxi-3-pinanona (309) foi preparada por oxidação do (R)-(+)-α-pineno (310). Assim, oxidação anti a ponte de 310 com KMnO4 em meio neutro e a frio, gerou, em 47% de rendimento, após destilação, o auxiliar de quiralidade 309 (Equação 1). O baixo rendimento alcançado está de acordo com o descrito na literatura e se explica pelo fato do produto consistir em uma mistura de 309 com 1,2-pineno-diol. 21 7 1. KMnO 4, acetona/H 2O 34 hs., 0 - 5 oC 47% 310 4 5 9 6 8 1 O OH 10 Equação 1 309 O espectro de I.V. apresenta uma banda forte em 3427 cm-1 atribuída a vibração de deformação axial da hidroxila e outra a 1162 cm-1 correspondente à deformação axial da ligação C-O de álcoois terciários cíclicos. A banda forte em 1721 cm-1 é devida à deformação axial da carbonila. O espectro de 1H-RMN apresenta características típicas do anel pinânico. Os hidrogênios diastereotópicos H-7α (anti à ponte gem-dimetílica) e H-7β (syn à ponte gem-dimetílica) apresentam multiplicidades e deslocamentos químicos diferentes. Neste sentido, H-7α só acopla com H-7β, devido aos ângulos diedro de aproximadamente 90o com H-1 e H-5, gerando um dubleto com J=11 Hz (acoplamento geminal) em 1,69 ppm, enquanto 7-β aparece em 2,45 ppm como um duplo-triplo-tripleto devido aos acoplamentos com H-1, H-5, H-4 e H-7α. O sinal de H-1 aparece como um tripleto em 2,12 ppm devido aos acoplamentos com H-5 e H-7β. Já H-5 gera um multipleto em 2,01,16 ppm em função dos acoplamentos com H-1, H-7β e H-4. Os hidrogênios em C-4, 167 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento embora diastereotópicos, são indistinguíveis e não acoplam entre si A desblindagem de H-9 em comparação a H-8 é característico do anel pinano.22 O espectro de 13C-RMN usando a técnica APT, mostra o sinal da carbonila em 214,2 ppm. O sinal a 77,1 ppm foi atribuído a C-2, sendo o desblindamento devido à presença da função hidroxila. Tendo em mãos o auxiliar de quiralidade 309, nossa próxima etapa consistiu na obtenção do imino-éster 311, através da reação de 309 com glicinato de etila (360). O método mais comum, relatado na literatura, para a síntese da base de Schiff 311 envolve o uso dos cloridratos dos respectivos ésteres do aminoácido, com a geração dos glicinatos in situ com trietilamina (Esquema 98).14 Entretanto, alcançamos melhores rendimentos com a formação a priori do glicinato de etila (360) através da passagem de NH3 (g) no cloridrato correspondente (Equação 2). 8 O OH 309 Cl H3 N N COOEt, NEt 3 benzeno, BF 3.OEt 2 4 hs COOEt OH 311 63% Esquema 98: Formação da base de Schiff 311 com geração do glicinato de etila in situ. Assim, reação de glicina (361) com etanol absoluto, na presença de cloreto de tionila, gerou o cloridrato 362. Borbulhamento de NH3(g) em 362 forneceu o glicinato 360 (Equação 2). Este glicinato não é isolado, mas utilizado na própria solução em que foi obtido. 168 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento H 2N SOCl2 COOH EtOH absoluto refluxo, 3hs. t.a. , 24 hs 361 Cl NH3(g) H3N COOEt benzeno H2N COOEt 360 362 77% Equação 2 A próxima etapa consistiu na preparação do imino-éster 311. Neste sentido, reação de 309 com glicinato de etila (360) em benzeno, usando-se BF3.OEt2 como catalisador, e com remoção azeotrópica de água, gerou 311 como um óleo amarelo (Equação 3). Esta reação foi acompanhada por I.V., onde observamos a diminuição gradativa da banda a 1721 cm-1, correspondente a deformação axial da carbonila cetônica, com o aparecimento concomitante de bandas a 1740 cm-1 e 1650 cm-1, devidas às absorções atribuídas as deformações axiais da carbonila de éster e da ligação C=N (Figura 22). Em nosso caso, nunca conseguimos observar a conversão total ao produto: após determinado tempo reacional observa-se o aparecimento de sinais não correspondentes ao produto nem aos substratos. O´Donell relata que os glicinatos alifáticos, principalmente os de etila e metila, comumente sofrem auto-condensação formando as di-ceto-piperazinas correspondentes23 o que, talvez, explique estes subprodutos observados no decorrer do processo. O OH 309 N H2 N COOEt benzeno, BF 3.OEt2 4 hs 63% COOEt OH 311 Equação 3 169 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Figura 22: Acompanhamento da reação de formação de 311 por I.V. A base de Schiff 311 foi purificada por cromatografia “flash” em sílica neutralizada previamente com NEt3. Este procedimento é fundamental a medida em que o produto mostrou-se bastante instável, sendo facilmente hidrolisado em meio ácido. Esta instabilidade é relatada por O’Donnell, na comparação entre iminas alifáticas com iminas aromáticas derivadas da glicina.23 A caracterização completa de 311 foi realizada através dos espectros de 1H e 13 C RMN- técnica APT, COSY e HETCOR. O espectro de 1H-RMN mostra, além do padrão típico do anel pinânico, um tripleto em 1,3 ppm, correspondente a três hidrogênios e um quarteto em 4,23 ppm, correspondente a dois hidrogênios, atribuídos a função etoxila. Embora a literatura relate que os hidrogênios diastereotópicos do metileno ativo aparecem com o mesmo deslocamento químico,8 isto não foi observado no nosso caso, onde estes hidrogênios aparecem como dois sinais coalescentes em 4,16 e 4,17 ppm (Figura 23). 170 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 311 Figura 23 : Ligação hidrogênio intramolecular em 311 e deslocamento químico dos hidrogênios metilênicos. Pinheiro e colaboradores observaram fenômeno semelhante no γ-amino-álcool 364, obtido a partir da d-cânfora. Neste caso, o hidrogênio H-11a aparece como um duplo dubleto em 2,86 ppm (J=12,5 e 4,5 Hz), enquanto H-11b mostra-se como um duplo dubleto em 3,29 ppm (J= 13,1 e 11,9 ppm). Este fato foi explicado pela formação de um confôrmero rígido em torno da rotação das ligações C3-C11, possivelmente devido a uma ligação hidrogênio intramolecular O-H----N. A diferença de deslocamento químico foi explicada pelas interações diferentes de H-11a e H-11b com o par de elétrons não compartilhado do nitrogênio (Figura 24). Esta proposta de rigidez conformacional devido à ligação hidrogênio foi corroborada por modelagem molecular usando metodologia DFT e procedimentos COSMO, além de vários experimentos de 1HRMN- técnica NULL, variando-se solventes (CDCl3, acetona-d6, acetonitrila-d3, CH3OD e DMSO-d6) e temperaturas ( 25-40oC).24 171 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento H 11a H 11b 3 1 2 OH H N 364 Figura 24: Ligação hidrogênio no γ-amino-álcool 364. Com base no trabalho supracitado, a diferença de deslocamento químico no espectro de 1H-RMN observada no imino-álcool 311 pode ser devida à formação de uma ligação hidrogênio intramolecular entre a carbonila e a hidroxila (Figura 23), o que amarraria a conformação, permitindo a distinção entre os hidrogênios. O fato de não ocorrer acoplamento pode ser explicado na medida em que a rigidez conformacional causada pela ligação hidrogênio posiciona os dois hidrogênios com um ângulo diedro de cerca de 90o (visualização através de modelo molecular). O grupo de Viallefont, ao estudar as reações de alquilação na base de Schiff 311, propõe a existência de uma ligação hidrogênio intramolecular entre a hidroxila e o nitrogênio.5 Porém, ao nosso entendimento, haveria, neste caso, uma rotação livre da ligação H2C-CO2Et e não observaríamos dois sinais distintos para os hidrogênios metilênicos. O espectro de 13C-RMN –técnica APT- mostrou sinais em 107,3 e 179, 4 ppm atribuídos , respectivamente, aos carbonos de C=N e C=O, além dos sinais a 50,3 ppm, correspondente ao metileno da função etoxila e a 61.4 ppm, atribuído ao metileno ativo. Não observamos duplicidade dos sinais, o que indica que provavelmente, de acordo com os estudos de modelagem molecular realizado pelo grupo de Matsumoto,9 só temos a formação do isômero E. Tendo em mãos o imino-éster 311, iniciamos nosso estudo de reação de Mannich. Considerando os resultados satisfatórios anteriormente alcançados, com o uso do N,O-acetal 363 como aceptor de Mannich na reação com d-cânfora1b (Esquema 99), este foi o eletrófilo eleito para o início de nossas avaliações. 172 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento H N i. TiCl4 , iPrNEt H o - 10 C , 1h. O ii. exo N O 363 50% N + O endo O H 92:8 Esquema 99: Reação de Mannich na d-cânfora usando o N,O-acetal 363. Tratamento de 311 com LDA8 seguido de adição do N,O-acetal 363 levou, invariavelmente, após quatro horas de reação a –78oC, à recuperação do produto de partida (Equação 4). Extensão do tempo reacional para seis e oito horas levaram à reprodutibilidade destes resultados. N OH COOEt o 1. LDA, THF, -78 C, 30 min. 2. 311 X o , -78 C, 4hs N 363 O 3. NH 4Cl Equação 4 Especulando-se que o problema era devido à baixa reatividade do eletrófilo, a reação foi deixada alcançar a temperatura ambiente por cerca de dezesseis horas, e, neste caso, isolamos a (R,S)-2-hidroxi-pinanona (309) , provavelmente devido a hidrólise de 311 em função do longo tempo reacional. Para termos certeza de que o problema residia em nossos substratos, paralelamente executamos a reação com brometo de benzila (Equação 5). O aparecimento no espectro de 1H-RMN de dois duplos dubletos em 3,38 173 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento pm e 4,51 ppm (Figura 25), atribuídos aos hidrogênios benzílicos e ao hidrogênio α aos grupamentos imina e carbonila, respectivamente, além dos sinais do sistema pinânico e do anel aromático confirmaram a formação do produto benzilado.10h N OH 311 COOEt 1. LDA, THF, -78 oC, 30 min. 2. N * COOEt OH Br o , -78 C, 4hs t.a., 1 noite 3. NH 4Cl Equação 5 Figura 25: Sinais dos hidrogênios benzílicos e do hidrogênio α a C=O e C=N do produto de alquilação com brometo de benzila de 311. Assim, supondo-se tratar de baixa reatividade do eletrófilo, o aumento da temperatura reacional poderia favorecer o curso reacional. Entretanto, tentativas de obtenção de produto por reação a –30oC por quatro horas após a adição do eletrófilo, levou novamente a recuperação do produto de partida (Equação 6). Reação a –78oC por 174 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento quatro horas, seguida de agitação a 0oC por 24 horas, levou a obtenção do produto de hidrólise 309 (Equação 7). N COOEt OH 1. LDA, THF, -78 oC, 30 min. 2. 311 , -30 o C, 4hs N 363 X O 3. NH 4 Cl N OH COOEt Equação 6 1. LDA, THF, -78 oC, 30 min. 2. 311 X N O 363 o -78 C, 4hs o 0 C, 24 hs 3. NH4 Cl Equação 7 Solladié-Cavallo e Simon observaram que na tentativa de alquilação da base de Schiff 311 com α-bromo-acetonitrila houve necessidade de adição de 0,5 equivalentes de MgBr2 para aumentar a estereosseletividade e rendimento do processo (Esquema 100).6 175 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento CN N COOEt i. LDA,THF, -80o C N COOEt ii. MgBr 2 (0,5 eq.) OH OH ii. BrCH 2CN 311 85% i. H 2, PtO 2 ii. HCl, 1 N NH3+Cl(S) H2N COOH 330 Esquema 100: Alquilação da base de Schiff 311 com LDA e MgBr2. Segundo os autores, o par de elétrons não compartilhado do nitrogênio do eletrófilo competiria com o oxigênio do alcolato, gerado no auxiliar de quiralidade, pela complexação com o cátion Li+ , o que implicaria na clivagem do dímero proposto para o estado de transição (Esquema 101). A troca do lítio por um metal com maior capacidade de complexação (Mg+2) evitaria este problema.6 Et O H N Li O O Et Li H Li O O N Li 331 Et O H O N BrCH 2CN O Br C N Li Li H Li N C O O O Et O Br N Li Clivagem do dímero Esquema 101: Clivagem do dímero 331 176 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento No nosso caso, porém, o problema não foi a baixa diastereosseletividade, mas sim a não formação do produto. Podemos especular, entretanto, que um equilíbrio competitivo entre o átomo de oxigênio de 363 e os ligantes do cátion Li+, poderia acarretar em queda da reatividade do eletrófilo (Esquema 102). Et O H N L + O N 363 O Li Li Et O H O N O L O Li Li O + N O O O 363 O Esquema 102: Equilíbrio hipotético entre os ligantes do Li+ e o N,O-acetal 363. Levando-se em consideração esta hipótese, o uso de excesso do eletrófilo poderia resolver este problema. No entanto, reação do enolato de lítio de 311 com dois equivalentes de eletrófilo a –78oC por 6 horas levou, novamente, ao isolamento do produto de partida (Equação 8). O uso de cinco equivalentes em excesso não levou a modificação do resultado. N OH COOEt o 1. LDA, THF, -78 C, 30 min. 2. 311 N X ( 2 equivalentes) O 363 -78o C, 4hs 3. NH4 Cl Equação 8 177 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Outro protocolo experimental que poderia interferir na questão do equilíbrio proposto seria a adição, gota a gota, do enolato de lítio sobre o eletrófilo. Neste sentido, o enolato de lítio derivado de 311 foi adicionado sobre o eletrófilo 363 (Equação 9). Também não alcançamos resultados positivos com esta abordagem, tendo sido observado a geração do produto de hidrólise (309). OEt N OLi OLi 1. N X THF, -78o C, 4 hs O 363 2. -78 oC t.a. 3. NH 4Cl Equação 9 Buscando avaliar a importância da formação do diânion nas reações de alquilação de 311, Viallefont e colaboradores sintetizaram a lactona 327 e submeteram-na às condições de alquilação.Tentativas de alquilação da lactona 327 com LDA levaram invariavelmente à recuperação do produto de partida, tendo alcançado sucesso apenas com o uso de tBuOK (Esquema 103).5 N O a) O i. LDA, THF X ii. CH 3 I 327 b) N O O N i.tBuOK ii. CH3 I 327 O O CH 3 H N + 60%, ed > 95% 328 O O CH 3 CH 3 14% 329 Esquema 103: Alquilação da lactona 327. 178 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Corroborados pelo trabalho de Viallefont,5 e considerando os insucessos da reação de Mannich com os enolatos de lítio derivados de 311, pensamos na possibilidade do uso de enolatos de potássio, mais dissociados e, conseqüentemente, mais reativos. Entretanto, tratamento de 311 com tBuOK a –780C seguido da adição de 361 levou, invariavelmente, à obtenção do produto de hidrólise (309) (Equação 10). N COOEt OH 1. tBuOK, THF, -78 oC, 30 min. X 2. 311 o , -78 C, 4hs N 363 O 3. NH 4Cl Equação 10 Tendo em vista nossos resultados positivos na reação de Mannich com a dcânfora (ver Esquema 98, pág. 160) 1b, tentamos a reação de Mannich de 311 usando enolato de titânio. Assim, adição de TiCl4 a 311, objetivando a formação do complexo de titânio, seguido da adição da base e do eletrófilo 363 (Equação 11) gerou uma mistura complexa , onde o espectro de 1H-RMN mostrou claramente a clivagem do anel pinânico. N OH 311 COOEt o 1. TiCl4 , DIPEA, CH2 Cl2, -10 C 2. o , -10 C X t.a., 1 h. N O 363 Equação 11 179 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Resultados semelhantes foram observados em tentativas de reação de Mannich com enolatos de titânio na (+)-nopinona e foram explicados pela instabilidade do sistema biciclo [3.1.1] frente a estas condições reacionais.25 Deve-se ressaltar que as reações aldólicas descritas no imino-éster 311 são realizadas via enolatos de titânio, formados diretamente ou por troca do cátion no enolato de lítio, mas os mesmos são sempre gerados com Ti(OiPr)3Cl. 5,17,19 No procedimento experimental26 de formação do enolato de titânio com TiCl4 é fundamental a ordem de adição dos reagentes. Inicialmente deve ser adicionado o sal de titânio para garantir a formação do complexo com a base de Schiff para, só, então, adicionar a base. Isto se explica porque caso ocorra a formação de um complexo TiCl4DIPEA, este é irreversível e não haverá, conseqüentemente, a formação do enolato. Já com haletos de alcoxi-titânio o complexo Ti-DIPEA é reversível, tanto que a ordem de adição dos reagentes ao meio não exerce influência. 26 Baseado nisto, levantamos a hipótese de, em nosso caso, estar ocorrendo à formação competitiva entre os complexos C1 e C2 (Figura 26) onde C1 não levaria a formação de produto e facilitaria a clivagem do biciclo. 180 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Cl4 Ti N C1 O H COOEt N Ti Cl4 C2 Cl4 Ti O OEt O N DIPEA O H C2' OEt O TiCl3 Cl Cl Cl3 Ti N O OEt O TiCl3 C2' Figura 26: Complexos propostos com TiCl4. Tentativa de evitar a clivagem do anel pinânico foi realizada com reação a -78oC,26 mas o mesmo resultado foi observado . N OH COOEt 1. TiCl4 , DIPEA, CH2 Cl2, -78 oC, 1h X 2. o 311 -78 C, 1 h. N O 363 Equação 12 181 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Periasamy e colaboradores descreveram a conversão de N-aril-metil-cetiminas em 2,5-diaril-pirróis com o uso do reagente TiCl4/Et3N e propuseram, para esta transformação, um mecanismo radicalar (Esquema 104). Observaram, também, que tentativas desta reação com as iminas derivadas da ciclo-hexanona e ciclo-pentanona geraram, como produtos, misturas complexas não identificadas.27 Com este resultados, podemos levantar uma outra hipótese de que a formação de um radical na base de Schiff 311 seria o responsável pela clivagem do sistema biciclo. N R TiCl4 Ar NEt3 Ar Ar : Ph, p-Cl-Ph, Naftil R: Ph, CH3 N Cl3 Ti TiCl4 NEt3 Ar Ar 90-72% Cl R N R N Ar Et3NH+Cl- R Cl3 Ti Ar CH 2 H N R CH2 :NEt3 Ar N NH R R Et3 N: . H N Ar Ar N R Ar N R TiCl3 N R Ar R CH 2 Ar Esquema 104: Reação e mecanismo de formação de 2,5-diaril-pirróis com TiCl4/Et3N. 182 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Considerando as dificuldades encontradas nas tentativas de reação de Mannich, com o N,O-acetal 363, partimos para a avaliação de outros eletrófilos. Com este fim a Nbromo-metil-ftalimida (365) e a N-Tosil-imina (366) (Figura 27) foram vistas como equivalentes sintéticos para a incorporação da unidade “CH2N” no imino-éster 311. O S N O N Br O O 365 366 Figura 27: Eletrófilos vistos como equivalentes sintéticos da unidade “CH2N”. Tratamento da ftalimida com formol gerou a N-hidroxi-metil-ftalimida 367.28Substituição nucleofílica em 367 por reação com PBr3 gerou 365 (Equação 13)29. Este produto apresentou no I.V. as bandas típicas de deformação axial de carbonilas (1778 e 1730 cm-1) de imidas e uma banda forte em 1256 cm-1 atribuída a deformação angular simétrica fora do plano de CH2 ligado a halogênio. O espectro de 1H-RMN mostra o padrão AA’BB’ típicos de sistemas aromáticos orto-dissubstituídos simetricamente.30 O NH + HCOH O O O H 2O N refluxo, 15 m in o 0 C, 18 h. 65% O 367 OH 1. PBr 3 benzeno refluxo, 2 hs o 2. 0 C, 18 h 79% N Br O 365 Equação 13 183 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Formação do enolato de lítio (LDA) de 3118 seguido da adição de 365 (Equação 14) levou, em quatro horas de reação a –78oC a recuperação do produto de partida. Extensão do tempo reacional para 18 horas, tanto em temperatura ambiente quanto à 0oC, levou à obtenção do produto de hidrólise. Novamente, na medida em que 365 possui, em sua estrutura, heteroátomos capazes de coordenação com o cátion lítio podemos levantar a hipótese de um equilíbrio competitivo entre os oxigênios do auxiliar de quiralidade e do eletrófilo. N COOEt OH 1.LDA, THF, -78oC 2. X O 311 N Br 365 O Equação 14 A tosil-imina 366 foi obtida por reação da N-tosil-amida com benzaldeído na presença de anidrido trifluoro acético (Equação 15)31. O espectro de I.V. apresentou bandas fortes a 1598 cm-1, típicas da ligação C=N, 1319 cm-1 e 1158 cm-1, das deformações axiais assimétrica e simétrica da ligação S=O, além de várias bandas entre 1088 cm-1 e 783 cm-1 atribuídas as deformações axiais do sistema S-O-C. O espectro de 1 H-RMN apresenta um singleto correspondente a um hidrogênio em 9,03 ppm, devido ao CH=N além de dois multipletos em 7,94 ppm e 7,53 ppm, característicos dos sistemas aromáticos orto e para substituídos.32 O H + O H2 N S O TFAA N O S O CH2 Cl2 , refluxo 12 hs 72% 366 Equação 15 184 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Tentativas de reação de Mannich via enolato de lítio8 de 311 com a N-tosil-imina 366 (Equação 16) levaram à obtenção de uma mistura complexa de difícil identificação. N COOEt 1.LDA, THF, -78oC OH 2. 311 N X O S O 366 Equação 16 Recentemente, no desenvolvimento da tese de doutoramento de Silva Jr., em nosso grupo de pesquisa, tem sido alcançado sucesso na reação de Mannich entre a imina benzofenônica derivada da glicina (305) e a tosil-imina 366 em reações sob condições de transferência de fase (CTF) (Equação 17).33 N O S O S * N O H O 366 N CO 2tBu N * CO2 tBu Cs2 CO3, tolueno Catalisador 305 56-71% Catalisador : OH OH N N N Br Br N N HO + Br - 367 Equação 17 185 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Ao nosso conhecimento, dois trabalhos são mostrados na literatura com reação de Mannich em CTF. No primeiro, a reação foi feita entre uma fase orgânica e outra aquosa.34 Já no segundo exemplo, a reação foi realizada entre uma fase orgânica e outra sólida. 35 (Esquema 105) PMP Ph 1. N Ph t COO Bu + H 305 NHPMP N i.306 (2 mol%) CO 2Et t BuOOC tolueno 212 NaOH-H 2O 17% o Ar Br N 304 -20 C , 6hs 88% F F COOEt NH 2 e.d.:64%; e.e.:91% ii. HCl 1N, THF Ar= F Ar (R,R)-306 Reação em fases orgânica - aquosa 2. Ph Ph Boc N 305 t COO Bu + NHBoc N i.308 (10 mol%) Cs 2CO 3 ( 2 eq.) H 309 PhF 95% F BF4 N O O BF4 F - N t BuOOC Ph N Ph Ph 310 C 6H 4 -4-Me C6 H 4-4-Me C6 H 4-4-Me e.d. : 90% e.e. : 99% C6 H 4-4-Me (S,S)-308 Reação em fase orgânica - sólida Esquema 105 : Reações sob CTF em base de Schiff derivada da glicina. 186 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Considerando estes resultados nossos substratos foram avaliados em CTF, nas duas condições citadas. Tendo em vista a quiralidade do imino-éster 311, estas reações foram avaliadas usando o sal derivado do amino-álcool 368, aquiral, como catalisador. Para a reação em fase aquosa,34 foram avaliados como aceptores de Mannich a N-hidroximetil-ftalimida 365, a N-tosil-imina 366 e o brometo de benzila. Nestas condições experimentais obtivemos, após três horas de reação, uma mistura complexa onde foi detectada, também, a formação do produto de hidrólise 309 (Equação 18). N COOEt OH Agente alquilante NaOH-H2 O, tolueno 311 N HO + X Br - 368 O Br N Agente alquilante = Br , O 365 O S N O 366 Equação 18 A reação de 311, com os eletrófilos, 363, 365, 366 e brometo de benzila em condições de transferência de fase, com fase sólida,35 levou à recuperação dos produtos de partida após quarenta e oito horas de reação (Equação 19). 187 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento N COOEt Agente alquilante OH Cs 2CO3 , tolueno 311 N HO X Br - + 368 Agente alquilante : O S N O O Br N , 363 N , O Br , O 365 366 Equação 19 Jørgensen e colaboradores relataram a primeira reação de Mannich diastereo e enantiosseletiva entre o imino-éster 260, derivado da glicina, e N-tosil-iminas, na presença de complexos de cobre (I) quirais. Vários procedimentos experimentais ( variação de solventes, temperatura, tempo de reação) foram avaliados, e a condição apresentada no Esquema 106 foi a que causou melhores rendimentos e estereosseletividades. 36 Ph Ph N CO2 Me NTos + Ph Et 3N (10 mol%) R 261 260 262-CuClO4 (10 mol%) -20 oC, THF R : Ph, p-MeO-Ph,o-Br-Ph, m-Cl-Ph, 2-naftil, i n Pr, ciclo-hexil, Bu, 2-furan, CO2 Et O N Ph CO2 Me NHTos 263 N PAr 2 Ar = 2,4,6-Me-C6H 2 262 61-94% e.d.: 7 - >90% e.e. : 60 -97% Esquema 106 : Reação de Mannich com a base de Schiff 260 em catálise por ácido de Lewis. 188 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O uso do ácido de Lewis foi explicado para estabilizar o imino-éster 260, pois, ao se ligar covalentemente ao metal, adquire uma estrutura do tipo ilídeo azometinico Nmetalado (369), uma espécie neutra (Esquema 107) .36 Esta estabilização teve por objetivo forçar a sua atuação como nucleófilo ao invés de uma espécie 1,3-dipolar, utilizada classicamente como substrato para reações de ciclo-adições.37 O Ph MLn N MLn O N Ph OMe OMe Ph Ph R3N LnM Ph MLn O N O N Ph OMe Ph OMe Ph Esquema 107 : Formação do ilídeo azometinico N-metalado 369. Recentemente, Kobayashi e colaboradores relataram a adição diastereosseletiva do imino-éstere 260 a enaminas com catálise por ácido de Lewis. Foram avaliados vários ácidos de Lewis, sendo que o Zn(OTf)2 na presença de peneira molecular 4A foi o que apresentou melhores resultados (Esquema 108).38 189 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento R 1 Ph 2 R N R3 1 n + N Ph Zn (OTf)2 COOMe Pen. Mol. 4A o tolueno, 0 C 260 18 hs R2 R1 R3 N * * N i R : Bz, Bu, Pr, ciclo-hexil 2 i CO2Me Ph Ph i R : Alil, Bn, Me, Pr, Bu 26-98% 3 R : Alil, Bn, Me, morfolil Esquema 108: Reação de Mannich na base de Schiff 260 com catálise por Zn(OTf)2. O mecanismo proposto por Kobayashi não envolve um ilídeo, e sim ativação do nucleófilo por complexação com o ácido de Lewis (Esquema 109).38 LA LA Ph O N R R N Ph 1 R2 O Ph OMe 1 R N OMe H H R R2 O R OMe + Ph H H N N 1 R N R 2 Ph Ph Esquema 109 : Mecanismo proposto para a catálise com ácido de Lewis. Extensão destes resultados para uma versão enantiosseletiva de reação de Mannich direta foi utilizada com catálise por um complexo quiral de Cu(I) na síntese de α,β-diaminoácidos (Esquema 110).39 190 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O Ph + H Ph Ph N H N CuOTf.1/2PhMe (10 mol%) Ph (11 mol%) + N P COOMe COOMe Ph N Ph P 46%, syn:anti 1:1 syn : 75% e.e. anti : 77% e.e. 260 o tolueno, -10 C, 36 h. Esquema 110: Reação de Mannich enantiosseletiva com catálise por complexo quiral de Cu(I). Considerando estes trabalhos, resolvemos avaliar a reação de Mannich no iminoéster 311 utilizando CuOTf como catalisador. O aza-cetal 363 e a N-Boc-imina 370 foram eleitos como os eletrófilos a serem avaliados (Figura 28). O N 363 O N O 370 Figura 28: Aceptores de Mannich a serem avaliados na reação com CuOTf. 191 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento A N-Boc-imina 370 foi obtida por desidratação da sulfona 371. Esta sulfona, por sua vez, foi gerada por reação entre benzaldeído, p-tolueno-sulfinato de sódio e carbamato de t-butila (Equação 20).40 O H O O + SO2Na . 2 H 2O O NH HCOOH CH 3OH.H 2O t.a., 21h O S O K 2CO 3 N O THF, refluxo, 12 hs 90% 61% + O NH2 371 370 O Equação 20 O espectro de I.V. da N-Boc-imina 370 apresenta bandas a 1705 cm-1 e 1495 cm-1, atribuídas a deformação axiais das ligações C=O e C=N do carbamato . O espectro de 1H-RMN mostra um singleto em 10 ppm ,correspondente a um hidrogênio, atribuído ao hidrogênio iminico, um padrão típico de anel aromático monossubstituído em 7,4 ppm e um singleto correspondente a nove hidrogênios em 1,5 ppm.40 Tendo em mãos a N-Boc-imina 370, avaliamos a reação de Mannich. Adição, tanto de 363, quanto de 370, a uma suspensão da imina 311 com (CuOTf)2.C6H6 e peneira molecular 4A levaram, após 18 horas de reação a 0oC, a recuperação dos produtos de partida (Equação 21). 192 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento O N N OH 370 COOEt + ou O NEt3 (CuOTf) 2.C 6 H6 (10 mol%) Peneira molecular 4A tolueno, 0o C ,18 h. X N 363 O Equação 21. Analisando os trabalhos descritos com o uso de ácidos de Lewis em reações de Mannich com as bases de Schiff derivadas da glicina, podemos levantar a hipótese de que para o uso de sais de Cu(I) faz-se necessário a ativação do metal através do uso de ligantes. 193 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento VI. CONCLUSÃO e PERSPECTIVAS Após várias tentativas no estudo da reação de Mannich no imino-éster derivado da glicina 311, não alcançamos sucesso com os protocolos experimentais utilizados. Como perspectiva para a obtenção do aduto de Mannich resta-nos: • No caso de enolatos de lítio, a troca deste metal por um mais quelante, como, por exemplo, magnésio. Esta abordagem permitir-nos-ia avaliar se, realmente, está ocorrendo um equilíbrio competitivo entre os ligantes do lítio e os eletrófilos. • Formação de enolato de titânio utilizando-se sais de alcóxidos de titanio, conforme experimental utilizado nas reações aldólicas com o imino-éster 311, tentando evitar a clivagem do anel pinânico. • Enolatos de boro são muito utilizados em reações aldólicas na medida em que , normalmente, geram reações mais estereosseletivas. Esta maior estereosseletividade é explicada pela formação de um estado de transição mais compacto devido a ligação mais curta B-O.41 Assim, um estudo que merece ser realizado é o da reação de Mannich via eletrófilos de boro. • Estudo mais aprofundado com outros ácidos de Lewis, nas reações por catálise ácida, além de adição ao meio de ligantes, quando do uso de sais de Cu (I). • Uso de eletrófilos reconhecidamente mais reativos, como os sais de imínio. • Considerando a proposta de formação de uma ligação hidrogênio intramolecular, hipótese levantada pela observação do de dois sinais coalescentes no espectro de 1H-RMN do metileno ativo de 311, faz-se necessário um estudo de modelagem molecular onde se compare os mínimos de energia entre as conformações com e sem ligação hidrogênio. 194 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento VII. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS 1. MATERIAIS E MÉTODOS As matérias-primas (R)-(+)-α-pineno em 81% e.e., glicina, solução 1,6M de n- butil-litio em hexano,solução 1M de tetracloreto de titânio em diclorometano,complexo eterato : trifluoreto de boro e complexo triflato de cobre:benzeno são comerciais e foram utilizados sem qualquer tratamento prévio. A remoção de água do tetra-hidro-furano (THF) foi efetuada por refluxo deste solvente com sódio metálico na presença de benzofenona como indicador e em atmosfera de nitrogênio. A remoção de água da di-isopropil-amina (DIPA) e da di-isopropil-etil-amina (DIPEA) foi efetuada por tratamento destas substâncias com hidreto de cálcio, sob atmosfera de nitrogênio, por uma noite, seguido de destilação. Benzeno e tolueno foram secos por refluxo e destilação com sódio em atmosfera de nitrogênio. Todo o diclorometano utilizado nestes experimentais, inclusive para a aquisição de espectros na região do infravermelho, foi lavado com solução concentrada de bicarbonato de sódio (3 x 300 mL/L), água (3 x 300mL/L), seguido de duas destilações. Quando necessário, a remoção de água foi feita por tratamento com hidreto de cálcio, sob atmosfera de nitrogênio por uma noite, seguido de destilação. Todas as reações foram acompanhadas por cromatografia em camada fina utilizando-se solução a 3% de vanilina em etanol com 3mL (para cada 100 mL) de ácido sulfúrico concentrado como revelador. As misturas de eluentes foram preparadas volume/volume usando-se solventes previamente destilados. As análises foram realizadas utilizando cromatofolhas de alumínio recobertas com sílica gel 60F254 (Merck, Darmstadt) A remoção parcial dos solventes, durante o isolamento das reações ou nas colunas cromatográficas, foi efetuado em evaporador rotatório sob vácuo de aproximadamente 17 mm Hg. A eliminação de traços de solvente foi executada em bomba de alto-vácuo a 1 mm Hg. 195 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento As cromatografias de adsorção em coluna foram realizadas utilizando sílica gel de 70-230 mesh (60 A) (pré-colunas) e de 230-400 mesh (60 A) em coluna flash. Os pontos de fusão foram tirados em um aparelho Fisher-Johns e não foram corrigidos. As medidas de rotação ótica foram realizadas em um polarímetro Perkin-Elmer 24B. Os espectros de absorção na região do infravermelho foram registrados em epectrofotômetro Perkin Elmer modelo Spectrum One, utilizando filme de diclorometano ou pastilha de brometo de potássio. Os valores de absorção foram registrados em número de onda utilizando-se a unidade centímetro recíproco (cm-1). Os espectros de ressonância magnética nuclear de hidrogênio (1H-RMN) e de carbono-13 (13C-RMN) foram registrados em um espectrofotômetro Varian-Unityplus 300. Os deslocamentos químicos (δ) estão relatados em parte por milhão (ppm) em reação ao tetra-metil-silano (TMS) ,utilizado como padrão interno. As multiplicidades (ssingleto; d-dubleto; t-tripleto; q-quarteto; dd-duplo-dubleto; m-multipleto), as constantes de acoplamentos (J, medida em Hertz :Hz) e o número de hidrogênios (deduzido por integração relativa) estão apresentados entre parêntesis. 196 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2. EXPERIMENTAIS 3. Cloridrato do Glicinato de Etila (360) H 2N COOH C 2H 5 O2 N P.M. : 75.05 SOCl2 EtOH absoluto refluxo, 3hs. t.a. , 24 hs Cl 77% H 3N COOEt C4 H10 O2 NCl P.M. : 139,56 360 À uma solução de 10g (133,24 mmoles) de glicina em 500 mL de Etanol absoluto adicionou-se 13 mL de cloreto de tionila recém-destilado. A mistura foi levada à refluxo por 4 horas ,em atmosfera de nitrogênio, seguida de mais 24 horas sob agitação à temperatura ambiente. Concentração da solução em evaporador rotatório seguido de filtração à vácuo forneceu um sólido amarelado. Recristalização em etanol forneceu 360 como um sólido branco de P.F. = 141oC (P. F. lit42. = 142oC) em 77% de rendimento (14,30 g ;102,46 mmoles).43 I.V. (pastilha de KBr) (ν,cm-1): 2977, 2675, 2635, 1746, 1584, 1551, 1508, 1412,1388,1249, 1135, 1096, 1052, 1000, 907, 855, 810. ________________ Nota 1 : O produto é higroscópico e deve ser armazenado em dessecador sob vácuo. 197 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 4. (1S,2S,5S)-(-)-2-Hidroxi-5-Pinanona (309) O 1. KMnO 4 , acetona/H 2 O C 10H 16 P. M. : 136,23 OH 34 hs., 0 - 5 oC 47% C 10 H 16 O2 P.M. : 168,23 309 À uma solução de (R)-(+)-α-pineno (100g; 734 mmol) em 1 L de solução aquosa a 90% de acetona adicionou-se lentamente, durante um período de 10 horas , sob agitação vigorosa e não deixando a temperatura ultrapassar de 5oC, 200 g ( 1.270 mmol) de permanganato de potássio. A mistura permaneceu nesta temperatura e com agitação por mais 24 horas, findas as quais foi filtrada e concentrada a vácuo até um volume residual de 250 mL.Extração com éter etílico (3 x 100 mL) , lavagem da fase orgânica com água ( 3 x 100 mL), solução aquosa saturada de bicarbonato de sódio (3 x 100 mL), solução aquosa saturada de cloreto de sódio ( 3 x 100 mL) e secagem com sulfato de sódio anidro forneceu, após evaporação, um óleo amarelado. Destilação a vácuo (113115oC, 17 mm Hg) levou a obtenção de um óleo incolor em 47% de rendimento (58,55g; 348 mmoles) ( [α]D25 = - 36,2 (c. 2,1; CHCl3); [α]D25 lit21 = -40) I.V. (filme de CH2Cl2) (ν,cm-1) : 3427, 2977, 2921, 1721, 1473, 1371, 1162, 1078, 1051, 1H- RMN (300 MHz, CDCl3) (δ, ppm): 0,90 (s, 3H , H-8); 1,38 (s,3H, H-9); 1,39 (s, 3H, H-10); 1,69 (d, 1H, H-7a, J7a-7b= 11Hz); 2,12 (t, 1H, H-1,J1-7b=7 Hz); 2,00-2,16 (m,1H,H-5); 2,31 (sl,1H,OH); 2,45 (dtt, 1H,H-7b, J7a-7b= 11Hz, J5-7b=J1-7b 7 Hz, J4a-7b= J4b7b= 1,8Hz); 2,62 (t,2H,H-4a,H-4b,J=1,8Hz). 13-C-RMN (75MHz,CDCl3)(δ,ppm): 22,7(C-10),25,2(C-9),27,1(C-8),28,2(C-7),38,1(C5),39,1(C-6),42,8(C-4),49,7(C-1),69,3(C-2),214,2(C=O). 198 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.3. (1S,2S,5S)-α -(2-Hidroxi-pinan-3-ileno)amino) acetato de etila (311) Cl . H3 N 360 COOEt NH 3 (g) O OH C 10H 16 O 2 P.M. : 168,23 N H2 N COOEt benzeno, BF3 .OEt 2 4 hs 63% 309 COOEt OH C14 H23O 3 N P.M. : 252,13 311 Uma mistura de (1S,2S,5S)-(-)-2-Hidroxi-5-Pinanona (309) (3g; 17,8 mmol), glicinato de etila (3,7g; 35,6 mmol) recém-preparado, benzeno (50 mL) e BF3.OEt2 (0,1 g) foi refluxada por cerca de 6 horas (acompanhamento por I.V.), sob atmosfera de nitrogênio, usando-se um aparelho de Deam-Stark. Após rápida filtração em sílica pré-tratada com Et3N e evaporação do solvente obteve-se um óleo amareloalaranjado. Purificação deste óleo por cromatografia “flash” com sílica pré-tratada com Et3N, usando-se como eluente uma mistura de 15% de AcOEt em Hexano levou a obtenção de um óleo amarelo claro em 63% de rendimento (2,84g; 11,21 mmoles). ( [α]D25 = - 4,9 (c. 2,54; CHCl3); [α]D25 lit8 = -6) I.V.(filme de CH2Cl2) (ν,cm1): 3334, 2980, 2926,1742, 1655, 1547, 1444, 1371, 1194, 1087, 1064, 1026. 1H-RMN(300 MHz, CDCl3) (δ, ppm): 0,87 (s,3H,H-8); 1,30 (t,3H,H-14,J13-14=7 Hz); 1,33 (s,3H,H-9);1,52 (s,3H,H-10); 1,57 (d, 2H,H-7a, J7a-7b=11 Hz);1,62 (s,1H,OH) 2,042,18(m,1H,H-5); 2,08 (t,2H,H-1,J1-7b=6Hz); 2,36 (dtt,1H,H-7b,J7b-7a=11Hz; J5-7b=J1-7b 6 Hz, 199 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento J4a-7b= J4b-7b= 1,4Hz); 2,5 (dd, 2H, H-4a,H-4b, J= 1,5Hz, J= 1,1Hz); 4,16(s,2H,H-11); 4,23 (q, 2H, H-13,J13-14=7Hz). 13-C-RMN (75MHz,CDCl3)(δ,ppm): 14,0 (COCH2CH3), 22,7 (C-10), 27,7 (C-9), 28,0 (C-8), 30,0 (C-7), 34,6( C-6), 38,1 (C-5), 40,1 (C-4), 50,1 (C-1), 53,3 (COCH2CH3), 61,4 (N=CCH2CO), 72,4 (C-2), 170,3 (C=N), 179,4 (C=O). _______________________ NOTA 1 : O glicinato de etila foi preparado por borbulhamento de amônia (gás) em uma suspensão do cloridrato do glicinato de etila em benzeno, seguido de filtração do cloreto de amônio formado no meio. 200 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento NOTA 2: O produto 311 foi sempre armazenado em vidrarias rinsadas com solução aquosa saturada de KOH. 2.4. N-metoximetileno-pirrolidina 1. CH3 OH, K2CO3 , 10 min. 0o C N H 2. (HCOH), t.a., 1 noite 72% N O C 4 H9 N C 6 H13 NO P. M. : 71,12 P.M. ; 115,17 363 Uma suspensão de pirrolidina ( 42 mL; 0,5 mol), metanol (50 mL) e carbonato de potássio (82,9g; 0,6 mol) foi agitada durante 10 minutos a 0oC. A seguir adicionou-se paraformaldeído (12g; 0,4 mol) e a mistura foi agitada a temperatura ambiente por uma noite. Filtração a vácuo da mistura reacional seguida de remoção do excesso de metanol forneceu um óleo claro. Destilação fracionada sob pressão reduzida (115oC,17 mm Hg) gerou 363 como um líquido incolor em 72% de rendimento (41,4g; 0,36 mol).44 I.V.(filme de CH2Cl2) (ν,cm1): 2964, 2907,2784, 1401, 1344,1208, 1160,1042, 880. 1 H- RMN (300 MHz, CDCl3) (δ, ppm): 1,78-1,83 (m,4H), 2,76-2,81 (m,4H),3,35 (s,2H) 3,44 (s, 3H). 201 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.5. Solução aproximadamente 1M de Diisopropil-amideto de lítio (LDA). Li N H C 6H 13 N P.M.: 99,17 nBuLi, THF N o 0 C + [C 6 H12 N] - Li+ P.M.: 105,11 À uma solução de diiso-propil-amina (DIPA) (7,21 mmoles, 1.01 mL) em THF anidro 0,7 mL) resfriada a 0oC e em atmosfera de nitrogênio foi adicionada x mL de uma solução aproximadamente 1,6 M de n-BuLi em hexano (6,56 mmol) e a solução amarela clara resultante permaneceu em agitação, nesta temperatura, durante 15 minutos. Dosagem de n-BuLi : A quantidade de n-BuLi a ser utilizado nesta preparação foi calculada através da adição gota a gota, à temperatura ambiente e em atmosfera de nitrogênio, a uma solução de L-mentol (20 mg; 0,1282 mmol) em THF anidro (0,5mL) na presença de um cristal de 9,10-fenantrolina e em atmosfera de nitrogênio. O ponto estequiométrico da dosagem foi observado pelo aparecimento de uma coloração vermelho-tijolo. O cálculo do volume de n-BuLi a ser utilizado na preparação de LDA é feito pela regra de três : Volume gasto da solução de n-BuLi --------- 0,1282 mmol x mL ---------- 6,56 mmol. Dosagem de LDA : 202 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento A dosagem de LDA nesta solução foi efetuada da mesma forma que a dosagem de n-BuLi e aplicando-se a regra de três : Volume gasto da solução de LDA --------- 0,1282 mmol 1,0 mL da solução ---------- x mmol. 2.6. Experimental genérico utilizado na tentativa de obtenção do aduto de Mannich com LDA ou t-BuOK : N COOEt OH C14H 23O 3N P.M. : 252,13 311 o 1. Base, THF, -78 C 2. X N O 363 A uma solução da base (1,2 mmol) em 1,5 mL de THF anidro foi adicionado o imino-éster 311 (150 mg; 0,6 mmol) a –78oC e sob atmosfera de nitrogênio. A mistura permaneceu sob agitação e nesta temperatura por trinta minutos, findos os quais adicionou-se 69 mg (0,6 mmol) do N,O-acetal 363. A mistura permaneceu sob agitação a diversas temperaturas (ver seção Resultados e Discussão) . Ao término da reação adicionou-se 15 mL de solução aquosa saturada de NH4Cl . A extração foi realizada com AcOEt (3 x 15 mL) e a fase orgânica foi seca com Na2SO4. 203 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.1. Tentativa de obtenção do aduto de Mannich com TiCl4 N OH COOEt o 1. TiCl4 , DIPEA, CH2Cl2, -10 C 2. C14 H23O 3N P.M. : 252,13 o , -10 C X t.a. N O À uma solução do imino-éster 311 (200 mg; 0,8 mmol) em 0,5 mL de CH2Cl2 anidro resfriada a –10oC e sob atmosfera de nitrogênio foi adicionada, lentamente, uma solução 1M de TiCl4 em CH2Cl2 (1,2 mL; 0,88 mmol) . Após 15 minutos de agitação a –10oC adicionou-se DIPEA anidra (0,32 mL;1,76 mmol) e manteve-se em agitação, nesta mesma temperatura, por mais uma hora. Esta mistura foi adicionada, lentamente, sobre uma solução do N,O-acetal 363 (0,88 mmol; 102 mg) em 0,9 mL de CH2Cl2 mantida sob atmosfera de nitrogênio a temperaturas variadas (ver seção: Resultados e Discussão). Ao fim da adição a mistura foi deixada alcançar a temperatura ambiente sob agitação vigorosa. Ao término da reação (acompanhamento por C.C.F.) adicionou-se 5 mL de uma solução aquosa saturada de NH4Cl. A fase aquosa foi extraída com CH2Cl2 (3 x 5mL) e as fases orgânicas combinadas foram lavadas com solução saturada de NaCl (3 x 5mL) e secas com Na2SO4 anidro. 204 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.8 . N-Hidroxi-metil-ftalimida (367). O NH O + HCOH O C8 H 5O 2N P.M. 147,13 H2 O N refluxo, 15 min o 0 C, 18 h. 65% OH O C 9 H7 O3 N P.M. 177,15 367 Uma solução de ftalimida (40g; 0,27 mol), 20 mL de solução aquosa de formol a 40% e 135 mL de H2O foi refluxada até aparecimento de uma solução incolor ( aproximadamente 15 min.). A solução quente foi filtrada e colocada em geladeira por uma noite, formando um precipitado branco. Filtração à vácuo e recristalização em água forneceu um sólido branco de P.F. = 140oC (P. F. lit28. = 137- 141oC) em 65% de rendimento ( 29g; 0,18 mol). I.V.(filme de CH2Cl2) (ν,cm1): 3488, 2957, 1771, 1704, 1425, 1396, 1353, 1331, 1147,1060, 980, 731, 713, 625. 205 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento N-bromo-metil-ftalimida (365) O O N O C 9 H7 O3 N OH 1. PBr 3 benzeno refluxo, 2 hs 2. 0o C, 18 h 79% P.M. 177,15 367 N Br O C 9 H6 O2 NBr P.M. 240,04 365 A uma suspensão de N-hidroxi-ftalimida (367) (5g; 28,3 mmol) em 15 mL de benzeno seco adicionou-se, aos poucos, PBr3 (3,06g ; 11,34 mmol) e a mistura foi refluxada por duas horas. Ainda quente, a solução clara é decantada do ácido fosforoso formado no meio reacional e o resíduo é lavado com benzeno seco. Resfriamento da solução de benzeno, por permanência na geladeira por uma noite, levou a formação de um precipitado branco. Recristalização em pentano forneceu 5,4 g (79%) de um sólido branco com P.F. = 152oC (P. F. lit29. = 149- 150oC). I.V.(filme de CH2Cl2) (ν,cm1) : 3058, 1778, 1730, 1421, 1384, 1303, 1255, 1064, 915, 723. 1H-RMN(300 MHz, CDCl3) (δ, ppm): 5,50 (s, 2H); 7,93 (dq, 2H); 7,81 (dq, 2H). 206 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.10. p-Tosil-amida O Cl S O C 7H 5 O2 ClS NH4 OH o 100 C t.a. 86% P.M. : 188,64 O H 2N S O C 7H 9 O2NS P.M. : 171,22 A uma solução de NH4OH (45 mL) adicionou-se, lentamente, cloreto de tosila (100g; 0,53 mol) e aqueceu-se até 100oC. Imediatamente após atingir esta temperatura, a mistura reacional foi deixada resfriar até temperatura ambiente, obtendo-se, desta forma, cristais incolores. Filtração, gerou o produto desejado em 86% de rendimento (78,1g; 0,46mol) com P.F. = 139oC (P. F. lit45. = 138oC). 207 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.11. N-tosil-imina do benzaldeído O H C 7H 6O P.M. : 106,12 + O H 2N S O TFAA N O S O CH 2Cl2, refluxo C 7H9 O2 NS P.M. : 171,22 12 hs 72% C 14 H 12 O2 NS P.M. : 258,32 Uma solução de benzaldeído recém-destilado (0,5 mL, 5 mmol) , p-tosil-amida (942 mg, 5,5 mmol) , 25 mL de CH2Cl2 e anidrido trifluoroacético (1,16g; 5,5 mmol) foi levada a refluxo por uma noite.A seguir, adicionou-se 20 mL de água gelada e extraiu-se com CH2Cl2 (3 x 30 mL). Lavagem da fase orgânica com solução saturada de NaCl e secagem com Na2SO4 forneceu um sólido branco em 72% de rendimento (932 mg, 3,6mmol). (P. F.= 110oC; PF lit 31 = 112-113oC). I.V. (filmedeCH2Cl2) (ν,cm1): 1598, 1575, 1450, 1319,1306, 1157, 1088, 868, 818, 804, 783, 757, 690, 673, 618. 1H-RMN(300 MHz, CDCl3) (δ, ppm): 2,44 (s, 3H); 7,29-7,53 (m,6H); 7,62 (tt, 1H); 7,87-7,96 (m, 2H); 9,14 (s,1H) 208 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.12. Tentativa de obtenção dos adutos de Mannich com LDA e a N-tosil-imina : N COOEt OH 1.LDA, THF, -78 oC 2. Aceptor de Mannich X C14 H23 O3 N P.M. : 252,13 311 Aceptor de Mannich : O , N Br N O S O O C9 H 6O 2NBr P.M. 240,04 365 C 14H 12O 2NS P.M. : 258,32 366 A uma solução LDA (x mL,1,2 mmol) em 1,5 mL de THF anidro foi adicionado o imino-éster 311 (150 mg; 0,6 mmol) a –78oC e sob atmosfera de nitrogênio. A mistura permaneceu sob agitação e nesta temperatura por trinta minutos, findos os quais adicionou-se x mg (0,6 mmol) do aceptor de Manich. A mistura permaneceu sob agitação a –78oC por quatro horas. Ao fim deste tempo deixou-se atingir a t.a. mantendo-se a agitação por mais 24 horas . Ao término da reação adicionou-se 15 mL de solução aquosa saturada de NH4Cl, seguida de extração com AcOEt (3 x 15 mL) e secagem com Na2SO4 anidro. 209 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.13. Tentativa de obtenção do aduto de Mannich por catálise com transferência de fase (CTF) –CONDIÇÃO 1 N COOEt OH Agente alquilante NaOH-H2O, tolueno C14H 23O 3N P.M. : 252,13 N HO 311 + X Br - C 11 H 18 ONBr P.M.: 260,17 368 N Br O S O N , Agente alquilante = C7 H7 Br P.M. : 171,04 C 14H 12O 2NS P.M. : 258,32 366 O C 6 H13NO P.M. : 115,17 363 Uma mistura do imino-éster 311 (100 mg; 0,4 mmol), do agente alquilante ( 0,8 mmol) ,do catalisador 368 (10,5mg; 0,04mmol), de 1,2 mL de solução aquosa a 17% de NaOH e de 4 mL de tolueno foi deixada em agitação a t.a. por 72 horas. Findo este tempo adicionou-se 10 mL de água e procedeu-se a extração com AcOEt (3 x 10 mL) e secagem da fase orgânica com Na2SO4. 210 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.14. Tentativa de obtenção do aduto de Mannich por catálise com transferência de fase (CTF) –CONDIÇÃO 2. N COOEt A gente alquilante OH Cs 2CO3 , tolueno C14 H23O 3N P.M. : 252,13 311 N HO + X Br C11 H18 ONBr P.M.: 260,17 368 O Agente alquilante : O S N O , C14H 12 O2 NS P.M. : 258,32 366 N Br O C 9H 6 O2 NBr P.M. 240,04 363 Uma suspensão do imino-éster 311 (53 mg; 0,21 mmol), do agente alquilante ( 0,22 mmol) ,do catalisador XXX (5,4 mg; 0,021mmol), de Cs2CO3 ( 274 mg; 0,84 mmol) em 3 mL de tolueno foi deixada em agitação, à temperatura ambiente, por 48 horas. Findo este tempo adicionou-se 5 mL de água e procedeu-se a extração com AcOEt (3 x 10 mL) e secagem da fase orgânica com Na2SO4. 211 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.15. p-Tolueno-sulfinato de sódio SO2 Cl 2 Zn , H 2O C 7H 7SO2Cl P.M.: 190,65 [p-Me-C 6H 4 SO2 )2Zn] Na2CO3 SO2Na . 2 H 2O 2 C 7H 7 SO 2Na.2H2 O P.M.: 214,22 A 720 mL de água aquecida até 70oC adicionou-se 9g de Zn em pó seguida de adição lenta (aproximadamente quinze minutos), e não deixando a tempertura ultrapassar 80oC, de cloreto de p-tolueno-sulfonila (120g ; 314,4 mmol) . Manteve-se em agitação por mais dez minutos a 90oC, o aquecimento foi interrompido e adicionou-se 30 mL de solução 12 N de NaOH, seguida de cerca de 6g de Na2CO3 (até pH 10). A mistura foi filtrada a vácuo e o sólido escuro foi vertido em 90mL de água e aquecido sob agitação vigorosa até o início de ebulição forte. Interrompeu-se o aquecimento e deixou-se em agitação por mais dez minutos. Esta mistura foi filtrada e adicionada ao primeiro filtrado. Concentração do filtrado até o início do aparecimento de cristais levou, após resfriamento, a obtenção de 36 g (53%, 168,06 mmol) de ptoluenosulfinato de sódio.46 212 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 1. Carbamato de t-Butila O O O O O C 10H 18O 5 P.M.: 218,25 NH 3 (g) 0 oC, 1 h EtOH t.a., 1 noite 93% O NH 2 O C5 H 11 O2N P.M.: 117,15 Uma solução de (Boc)2O (20g ; 91,5 mmol) em 75 mL de etanol foi deixada, durante 1 hora, sob agitação a 0oC, em atmosfera de amônia(g). Findo este tempo, a temperatura foi deixada alcançar a t.a. e permaneceu, sob agitação e, nesta mesma atmosfera, por mais uma noite. Evaporação do solvente forneceu um sólido branco, sobre o qual adicionou-se 80 mL de n-hexano e aqueceu-se a 65oC por mais 30 minutos. Resfriamento a 0oC levou à formação de um precipitado que, após filtração e lavagem com n-hexano, gerou em 93% de rendimento (10g; 85,1 mmol) um sólido branco de P.F. = 106oC (P. F. lit46. = 107- 108oC). 213 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.17. N-(t-butoxi-carbonil)-α-tosil-sulfonil-benzilamina (371) O C7 H 6O P.M. : 106,12 H + SO2 Na . 2 H 2O + O NH2 O O O HCOOH C7H 7SO2 Na.2H 2O P.M.: 214,22 C5 H 11 O 2N P.M.: 117,15 CH 3OH.H 2 O t.a., 21h NH O S O 61% C 19H 23O 4NS P. M.: 361,45 371 Uma mistura de benzaldeído (10,2 mL; 100 mmol) recém-destilado ,carbamato de t-butila (5,86g; 50mmol), p-tolueno-sulfinato de sódio (26,5 g; 124 mmol) e ácido fórmico (4,6g;100 mmol) em 50 mL de metanol e 100 mL de água foi agitada a t.a. durante vinte e uma horas. Filtração do sólido formado, seguido de lavagem com água e éter etílico e secagem a vácuo forneceu a sulfona 370 em 61% de rendimento ( 11g, 30,43 mmol).47 214 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.18. N-Boc-Imina do benzaldeído (370): O O O NH O S O C 19 H23 O4 NS P. M.: 361,45 371 N O K2 CO 3 THF, refluxo, 12 hs 90% C12 H 15 O2 N P. M.: 205,25 370 Uma suspensão da sulfona 371 (2g; 5,53 mmol) e de carbonato de potássio (4,7g; 34 mmol) em 67 mL de THF seco e sob atmosfera de nitrogênio foi refluxada por 15 horas. Filtração sob celite seguida de evaporação do solvente forneceu a imina 370 em 90% de rendimento (1,02g; 4,98 mmol).47 I.V. (pastilha de KBr) (ν,cm1): 3430, 3399, 2983, 1705, 1493,1455, 1368, 1265,1169,1017,883,741,701. 1H-RMN(300 MHz, CDCl3) (δ, ppm): 1,46 (s, 9H); 7,52-7,68 (m,2H); 7,89 (m,2H), 10,03 (s,1H). 215 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 2.19. Tentativa de obtenção do aduto de Mannich com catálise por (CuOTf)2.C6H6. N OH C14 H23O 3N P.M. : 252,13 311 O COOEt + N O (CuOTf) 2 (10 mol%), NEt 3 Peneira m olecular 4A X o tolueno, 0 C ,18 h. C12 H15 O2 N 370 P. M.: 205,25 A uma suspensão de (CuOTf)2.C6H6 (19,89 mg;0,04 mmol), 80,8 mg (0,8 mmol) de NEt3 e 150 mg de peneira molecular 4 A em 0,4 mL de tolueno anidro, a 0oC e atmosfera de nitrogênio, adicionou-se, sucessivamente, o imino-éster 311 (100 mg; 0,4 mmol) dissolvido em 0,8 mL de tolueno anidro e a N-Boc-imina 370 (123mg; 0,6 mmol) dissolvida em 0,8 mL de tolueno anidro. A mistura reacional foi agitada, a 0oC, por 18 horas. Após este tempo, adicionou-se 5mL solução aquosa saturada de NaHCO3. O produto reacional foi obtido por filtração em celite , extração com CH2Cl2 ( 3 x 10mL), lavagem com solução aquosa saturada de NaCl e secagem com Na2SO4 anidro. 216 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. a) da Silva, R. C.; Ferreira, V. F.; Pinheiro, S. 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(filme de CH2Cl2) da hidroxi-pinanona 309. 223 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 3 : 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) da hidroxi-pinanona 309. . 224 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 225 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 4 : Expansão 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) da hidroxi-pinanona 309. 226 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 5 : Expansão 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) da hidroxi-pinanona 309. 227 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 6 : 1H-RMN - COSY (300 MHz, CDCl3) da hidroxi-pinanona 309. 228 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 7 : 13C-RMN - APT (75 MHz, CDCl3) da hidroxi-pinanona 309 229 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 230 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 8 : I.V. (filme de CH2Cl2) da base de Schiff 311. 231 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 9 : 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) da base de Schiff 311. 232 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 10 : Expansão 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) da base de Schiff 311. 233 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 234 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 11 : Expansão 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) da base de Schiff 311 235 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 236 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 12 : Expansão 1H-RMN- COSY (300 MHz, CDCl3) da base de Schiff 311. 237 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 238 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 13 : 13C-RMN - APT (75 MHz, CDCl3) da base de Schiff 311. 239 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 240 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 14 : I.V. (filme de CH2Cl2) do aza-cetal 363. 241 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 15 : 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) do aza-cetal 363 242 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 16 : Expansão 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) do aza-cetal 363 243 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 17 : I.V. (pastilha de KBr) da N-metil-hidroxi-ftalimida (367). 244 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento . Espectro 18 : I.V. (pastilha de KBr) da N-metil-bromo-ftalimida (365). 245 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 19 : 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) da N -metil-bromo-ftalimida (365). 246 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 20 : I.V. (pastilha de KBr) da N-tosil-imina 366. 247 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento 248 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 21 : 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) da N –Tosil-imina 366. 249 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 22 : I.V. (pastilha de KBr) da N-Boc-imina 370. 250 Florence Moellmann Cordeiro de Farias Tese de Doutoramento Espectro 23: 1H-RMN (300 MHz, CDCl3) da N –Boc-imina 370. 251