EFICIÊNCIA DA TRANSMISSÃO DO VÍRUS DO MOSAICO DAS NERVURAS PELO PULGÃO Aphis gossypii GLOVER EM DIFERENTES IDADES DAS PLANTAS DE ALGODOEIRO Marcos Doniseti Michelotto (Unesp - Jaboticabal / [email protected]), Antônio Carlos Busoli (Unesp - Jaboticabal) RESUMO - O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência da transmissão do Vírus do Mosaico das Nervuras (VMN) pelo pulgão em diferentes idades das plantas de algodoeiro. O ensaio foi conduzido em casa-de-vegetação da FCAV/UNESP, em Jaboticabal, SP, Brasil. Plantas de algodoeiro da cultivar CNPA ITA 90 com 20, 27, 34, 41, 48 e 55 dias após a emergência (DAE) receberam um adulto áptero virulífero de A. gossypii, que permaneceu confinado nas plantas por um Período de Acesso à Inoculação (PAI) de 48 horas. Avaliou-se a percentagem de plantas com os sintomas da doença e a altura das mesmas. A idade das plantas não influenciou na eficiência de transmissão do VMN, com percentagens de plantas com sintomas da doença variando de 40% a 65% (20 e 48 DAE, respectivamente). A altura das plantas sofreu reduções de 54,5% (20 DAE) a 1,3% (55 DAE) em relação à altura das plantas sadias. A idade das plantas da cultivar CNPA ITA 90 não influenciaram a eficiência de transmissão do VMN pelo pulgão, porém plantas com menores idades apresentaram maiores reduções na altura. Palavras-chave: Gossypium hirsutum, doença virótica, vetor. EFFICIENCY OF TRANSMISSION OF THE VEIN MOSAIC VIRUS BY APHID APHIS GOSSYPII GLOVER (HEMIPTERA: APHIDIDAE) IN DIFFERENT AGES OF COTTON PLANTS ABSTRACT - This work was carried out in the FCAV/UNESP, in Jaboticabal, São Paulo State, Brazil, and its objective was to evaluate the efficiency of transmission of the VMN by aphid in different ages of cotton plants. Cotton plants of CNPA ITA 90 cultivar with 20, 27, 34, 41, 48 and 55 days after the emergency (DAE) received one A. gossypii wingless adult, which remained confined in the plants for a 48 hours Period of Access to Inoculation (PAI). The percentage of plants with the symptoms of the disease and its height were evaluated. The age of the plants was not influenced in the efficiency of the VMV transmission, with percentages of the plants showing disease symptoms from 40% to 65% (20 and 48 DAE, respectively). The height of the plants suffered reductions from 54.5% (20 DAE) to 1.3% (55 DAE) in relation to control plants. The age of the plants was not influenced the efficiency of transmission of VMN by aphid, however plants with lesser ages had presented greater reductions in the height. Key words: Gossypium hirsutum, viral disease, vector. INTRODUÇÃO A introdução de genótipos de algodoeiro de outros países como, Estados Unidos e Austrália, que apresentavam diversas vantagens em relação às cultivares nacionais, trouxe também problemas devido à alta suscetibilidade ao Vírus do Mosaico das Nervuras (VMN), também chamado de doença azul, que não ocorria no Brasil desde a década de 60, em vista da utilização de genótipos nacionais resistentes (FREIRE, 1999). A doença azul é atualmente uma das principais doenças do algodoeiro do cerrado brasileiro, devido à grande utilização de cultivares suscetíveis (CIA e FUZATTO, 1999). Com a utilização dessas cultivares, as perdas de produtividade com essa doença chegaram a 1.500 kg/ha de algodão em caroço (FREIRE, 1999). O planejamento de controle do pulgão Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) passou então a depender do nível de suscetibilidade de cada cultivar, em relação ao VMN. Em cultivares suscetíveis (CNPA ITA 90, Deltapine Acala 90 e IAC 22) tem se adotado como nível de controle 5 a 10% de plantas com presença de pulgões, enquanto que em cultivares resistentes (Deltaopal, CNPA ITA 96, Coodetec 401) o nível de controle é de 50% de plantas com pulgões (SANTOS, 1999). Por tratar-se da mesma espécie vetora (A. gossypii) e da semelhança entre os sintomas do VMN, “maladie bleue” e “enfermidad azul” que ocorrem no Brasil, África e Argentina, respectivamente, supõe-se que seja a mesma doença. No entanto, o vírus causador dessa doença não foi ainda isolado em sua forma pura e identificado, sabendo-se apenas, que sua transmissão é realizada pelo pulgão A. gossypii (CAUQUIL e FOLLIN, 1983, COSTA et al., 1997). Apesar de possuir algumas características da família Luteoviridae, provável família do VMN, testes moleculares utilizando “primers” universais para o vírus do enrolamento da folha da batata (Potato leafroll virus - PLRV) e teste DAS-ELISA utilizando antissoros policlonais do vírus do nanismo amarelo da cevada (Barley yellow dwarf virus BYDV), PLRV e o vírus do amarelecimento foliar da cana-de-açucar (Sugarcane yellow leaf virus ScYLV) obtiveram resultados negativos (TAKIMOTO, 2003). Os sintomas do VMN nas plantas de algodoeiro consistem na rugosidade e curvatura dos bordos foliares para baixo, principalmente nas folhas mais novas, clareamento das nervuras, formando mosaico, seguido de escurecimento das folhas mais velhas, encurtamento dos internódios, reduzindo, assim, o porte da planta. A estirpe Ribeirão Bonito provoca sintomas mais acentuados, reduzindo drasticamente o desenvolvimento das plantas (COSTA e CARVALHO, 1962; COSTA et al., 1997). Costa e Forster (1938) observaram que o período de incubação da doença varia de de 29 a 69 dias, quando transmitido através de enxertia. Michelotto e Busoli (2003) visualizaram os sintomas da doença a partir dos 25 dias após o período de acesso à inoculação (PAI), e continuaram a aparecer por mais 15 dias. Os autores observaram ainda que, os adultos ápteros transmitiram o vírus a 86,7% e 95,6% das plantas das cultivares Coodetec 402 e CNPA ITA 90, respectivamente. Já as ninfas transmitiram a 77,8% das plantas de ambas as cultivares. Segundo Cauquil (1977), os alados são os responsáveis pela introdução do vírus na cultura e as demais fases do inseto pela disseminação da doença nas plantas adjacentes. O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência da transmissão do VMN pelo pulgão em diferentes idades das plantas de algodoeiro. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em casa de vegetação, no Departamento de Fitossanidade da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp (Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho), em Jaboticabal, estado de São Paulo, Brasil. Criação de manutenção dos pulgões virulíferos – O isolado do VMN empregado no estudo da interação vetor-vírus foi obtido de plantas da cultivar CNPA ITA 90, considerada altamente suscetível ao VMN por Freire (1999) e Cia & Fuzatto (1999), originárias de um plantio comercial do município de Chapadão do Sul, estado de Mato Grosso do Sul, apresentando os sintomas da doença. Os procedimentos utilizados foram semelhantes aos descritos por Michelotto e Busoli (2003) que consistem em transferir as plantas para vasos de polietileno de 5 Litros e isoladas por meio de gaiolas de estrutura metálica revestida por uma tela antiafídeo (60 cm de diâmetro x 120 cm de altura). Nessas plantas foram colocados exemplares de A. gossypii para que se alimentassem e se reproduzissem, oriundos de plantas de algodoeiro, cultivar DeltaOpal (resistente ao vírus) do Campus da Unesp, em Jaboticabal. Instalação e desenvolvimento do experimento – A semeadura da cultivar CNPA ITA 90 foi realizada em 20/01/2004 em recipientes de polietileno de 10 Litros contendo uma mistura de solo, vermiculita e esterco (2:2:1) e 100 g da fórmula NPK (04-14-08) e após a germinação das plantas foi realizado um desbaste, mantendo-se duas plantas por recipiente. As inoculações foram realizadas aos 20, 27, 34. 41, 48 e 55 DAE das plantas de algodoeiro, colocando-se na face abaxial da terceira folha a partir do ápice de cada planta, com o auxílio de um pincel, um adulto áptero de A. gossypii infectado com o VMN, oriundo da criação de manutenção. O pulgão permaneceu confinado na folha por um período de acesso à inoculação (PAI) de 48 horas, por meio de pequenas gaiolas descritas por Michelotto e Busoli (2003). Para cada idade das plantas (tratamentos) foram inoculadas 20 plantas (repetições). Na testemunha (controle) foram conduzidas 20 plantas de algodoeiro sem a inoculação do vírus, mantendo-as livres de pulgões, através de gaiolas e tela antiafídeo já descrita anteriormente. Aos 50 DAE das plantas, realizou-se uma aplicação na dose de 500 mL/ha de regulador de crescimento de plantas (cloreto de mepiquat), para evitar o crescimento excessivo das plantas de algodoeiro de todos os tratamentos, inclusive as testemunhas. Parâmetros avaliados – Avaliou-se o número de plantas que apresentavam os sintomas do VMN, aos 90 DAE, calculando-se as respectivas percentagens de plantas infectadas. Aos 110 DAE foram avaliados a altura das plantas (cm) com o auxílio de uma trema. Os dados relacionados à percentagem de plantas com os sintomas do VMN, foram comparados pelo teste de Qui-quadrado (χ2) ao nível de 5% de probabilidade de erro. Os dados de altura (cm) foram submetidas à análise de variância (teste F) e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. RESULTADOS E DISCUSSÃO A percentagem de plantas que apresentaram os sintomas do VMN não foi influenciada pela idade das plantas no momento do Período de Acesso à Inoculação (PAI) do vírus, com percentagens variando de 40% (20 DAE) a 65% (48 DAE) (Tab. 1). Michelotto e Busoli (2003) observaram percentagens de 77,8% e 95,6% das plantas da cultivar CNPA ITA 90, com sintomas da doença, quando inoculadas por ninfas (3o/4o estádios) e adultos de A. gossypii, respectivamente. Em Londrina (PR), Santos et al. (2004) observaram em condições de campo, médias de 2,2% e 13,8% das plantas da mesma cultivar com os sintomas do VMN, com e sem controle do pulgão, respectivamente. Cauquil e Vaissayre (1971) observaram que os sintomas da “maladie bleue” começam a aparecer 18 dias após o PAI e que alados, ápteros e ninfas foram capazes de transmitir o vírus. A eficiência na transmissão pode ser influenciada por diversos fatores, tais como, a duração dos períodos de aquisição e inoculação do vírus pelos pulgões, temperatura, número de insetos por planta-teste e a idade e forma dos afídeos (SYLVESTER, 1980). A inoculação do VMN nas diferentes idades das plantas afetou a altura das plantas variando de 37,6 cm (20 DAE) a 78,1 cm (55 DAE), reduções de 54,5% e 1,3% em relação à altura das plantas sadias (sem inoculação do vírus). A altura das plantas aos 55 DAE não diferiu significativamente da altura das plantas sadias (82,5 cm) (Tab. 2). Tabela 1. Influência da idade das plantas de algodoeiro (cultivar CNPA ITA 90) na percentagem de transmissão do vírus do Mosaico das Nervuras pelo pulgão Aphis gossypii. Jaboticabal, SP. 2004. Inoculação do vírus (DAE) (Tratamentos) 20 27 34 41 48 55 Média χ2 Plantas inoculadas Plantas com vírus Percentagem 20 20 20 20 20 20 120 - 8 12 10 10 13 12 65 - 40,0 60,0 50,0 50,0 65,0 60,0 54,2 3,39 ns DAE = dias após a emergência das plantas; ns = não significativo ao nível de 5% de probabilidade. Tabela 2. Influência da transmissão do Vírus do Mosaico das Nervuras pelo pulgão Aphis gossypii sobre a altura das plantas de algodoeiro (cultivar CNPA ITA 90). Jaboticabal, SP. 2004. Inoculação do vírus (DAE) (Tratamentos) 201 Número de repetições 27 12 49,1 ± 1,12 d 34 10 67,7 ± 1,79 c 41 10 72,7 ± 3,12 bc 48 13 74,3 ± 1,76 bc 55 12 78,1 ± 1,32 ab Testemunha 20 82,6 ± 0,67 a F CV 95,61* 8,10 8 Altura (cm) das plantas aos 110 DAE 37,6 ± 1,93 e2 DAE= Dia após a emergência das plantas; n= número de repetições; 1 Idade das plantas no momento da inoculação do vírus; 2 Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro; * significativo ao nível de 5% de probabilidade de erro. CONCLUSÔES Pôde-se concluir que, nas condições de desenvolvimento deste estudo: 1. A idade das plantas não influencia na eficiência de transmissão do VMN; 2. A altura das plantas sofre reduções de 54,5% (20 DAE) a 1,3% (55 DAE) em relação à altura das plantas sadias; 3. A idade das plantas da cultivar CNPA ITA 90 não influencia a eficiência de transmissão do VMN pelo pulgão, porém plantas com menores idades apresentam maiores reduções na altura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAUQUIL, J. Estudes ser une maladie d’origine virale du cotonnier: la maladie bleue. Coton Fibres Trop., v. 32, p. 259-278. 1977. CAUQUIL, J.; VAISSAYRE, M. La “maladie bleue” du cotonier en Afrique: transmission de cotonnier a cotonnier par Aphis gossypii Glover. Coton Fibres Trop., v. 26, p. 463-466, 1971. CIA, E.; FUZATTO, M.G. Manejo das doenças na cultura do algodão. In: CIA, E; FREIRE, E.C.; SANTOS, W. J. (Eds.). Cultura do algodoeiro. Piracicaba, Potafós, 1999. p. 121-131. COSTA, A. S.; CARVALHO, A. M. B. Moléstias de vírus do algodoeiro. Bragantia, v. 21, p. 45-62. 1962. COSTA, A. S.; FORSTER, S. Nota preliminar sobre uma nova moléstia de vírus do algodoeiro: mosaico das nervuras. Rev. Agric., v. 13, p. 187-191. 1938. COSTA, A. S.; JULIATTI, F. C.; RUANO, O. 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