Fazer canção com a turma A canção, ou seja, a música com letra, é uma das maiores riquezas culturais do Brasil. A intimidade do brasileiro com este tipo de música é tanta, que muitas vezes utilizamos a palavra música para designar canção, como se ambas fossem sinônimos. Mas o conceito de música é muito mais amplo que o de canção. Pode parecer óbvio, mas é preciso lembrar que podemos fazer música prescindindo das palavras, fato que ocorre tanto na música popular (no chorinho, no frevo, no jazz, na música eletrônica das baladas) como na música erudita (em sinfonias, concertos, tocatas), e ainda em trilhas sonoras de filmes e novelas, música ambiente e tantos outros exemplos. Portanto, para início de conversa, sugiro usarmos aqui a terminologia correta para o tipo de música que será trabalhado neste Experimente. Trabalharemos com a canção, ou seja, com esse tipo específico de música tão familiar para nós, no qual texto, melodia e harmonia estão imbricados de tal forma, que muitas vezes não conseguimos distinguir um do outro. Utilizaremos esse suporte como detonador do processo de construção de rimas e de brincadeiras com as palavras. A canção, de modo geral, une um texto poético, com rimas, métrica e ritmo (das palavras), a uma melodia. Ou seja, o texto poético passa a ser cantado. Essa melodia será acompanhada por acordes, que formam a harmonia, e normalmente é construída sobre um estilo. Este já traz elementos de linguagem, ritmos e batidas próprias, por exemplo o samba. Muitas vezes, o compositor popular mistura essas linguagens de maneira intuitiva, baseado em um repertório adquirido ao longo de sua experiência pessoal em um ou mais estilos, e cria os versos junto com a melodia. Em outros casos, o texto surge antes da melodia, ou vice-versa. O processo de criação de uma canção é bastante pessoal. Neste Experimente, propomos criar novos versos para uma canção já existente: “Fofoca de Maria” (Paulo Padilha), um samba de roda estilizado, que brinca com nomes compostos com "Maria". Público-alvo: alunos de Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Objetivos: • Apresentar o conceito de canção e as características desse gênero. • Trabalhar a construção da letra de uma canção − texto poético com métrica e rimas − com base em um modelo. • Estimular a criatividade, propiciar e abrir canais de comunicação artística e expressiva com os alunos. Materiais: • Ficha com texto (baixe aqui). • Aparelho de som. • Áudio da canção, ou link da canção no YouTube. Sugestões de encaminhamento: 1º momento − Sensibilização e conceituação Inicie uma conversa com os alunos, perguntando se eles sabem a diferença entre música e canção. Dê um tempo para que as opiniões aflorem. Baseando-se na conversa inicial da página anterior, cite exemplos de músicas que não são canções e conclua conceituando canção como música com letra. Peça que eles citem canções de sua preferência, estimule-os a cantar pequenos trechos. Pergunte por qual motivo eles gostam de determinada canção. Questione se alguém toca algum instrumento e, por fim, pergunte: • Como será que se faz uma canção? • Devemos começar pela letra, pela melodia, ou com tudo ao mesmo tempo? Explique que o processo de composição é bastante pessoal. Alguns compositores fazem tudo junto, outros fazem só a música e pedem ao parceiro que coloque a letra, outros fazem a letra e pedem ao parceiro que faça a música. Por fim, proponha: “Vamos fazer um exercício de composição de canção?”. 2º momento − Proposição Distribua as fichas e apresente a canção “Fofoca de Maria”, até o fim da primeira parte. Você pode usar apenas o áudio ou apresentar a versão do Cifraclub, que já tem um link do YouTube apresentando uma animação com a letra da música. Para completar, leia com a turma o depoimento de Paulo Padilha, compositor e autor deste Experimente, explicando como compôs a canção e propondo um desafio aos estudantes: O depoimento acima chama a atenção para a estrutura poética. Reforce isso com os alunos, certificando-se de que eles se apropriaram da ideia. Escreva um exemplo na lousa. 3º momento − Ensaio Feita a proposição, é importante que os alunos assimilem bem a canção, para que possam criar novos versos que se encaixem na melodia. Cante-a diversas vezes com a ficha, sempre parando no fim da primeira parte, pois a segunda parte será feita por eles e comparada com a segunda parte original. 4º momento − Composição Uma vez assimilada a canção, chegou a hora de criar novos versos. Nesta hora, você pode escolher vários caminhos, de acordo com a maturidade da turma, o envolvimento e o tempo que achar conveniente para a atividade: • A turma pode fazer a segunda parte coletivamente, utilizando-se da ficha como modelo, na lousa, com auxílio do professor. • Podem ser feitas várias segundas partes, com a turma dividida em grupos de quatro ou cinco alunos. • O exercício pode ser individual, então cada aluno terá sua própria composição. • O trabalho pode ser feito em casa, em grupos, duplas ou individualmente, e apresentado em outra aula. Nessa ocasião, eles podem trazer instrumentos musicais e organizar um sarau informal. 5º momento − Apresentação Ao final das composições, crie uma situação em roda, com uma atmosfera bem informal, para os alunos apresentarem suas composições para a classe. Eles ficarão mais à vontade se o trabalho for em grupo. Estimule-os a cantar. Se houver timidez, não insista. Respeite. Se for um trabalho de casa, peça que eles tragam algum instrumento. Após a avaliação, que será sugerida a seguir, aproveite para terminar a atividade com um pequeno sarau em que eles possam cantar juntos canções de sua preferência. 6º momento − Avaliação Terminada a apresentação, um bom jeito de avaliá-la coletivamente é voltar à canção original e mostrar a segunda e a terceira partes feitas pelo compositor, comparando-as com os versos criados pelos alunos. Avalie junto com a turma se os versos são criativos, se há boas rimas, se eles se encaixam na melodia. Peça que eles digam quais foram melhores e, se achar conveniente, finalize criando uma versão coletiva da turma. Expectativas de aprendizagens • Apropriação do conceito de canção e de seus elementos. • Ampliação das habilidades com a língua escrita no que diz respeito a: rima, métrica, ritmo e versificação. • Desenvolvimento das habilidades criativas com composição de versos. Para ampliar a discussão: Paulo Padilha, autor deste Experimente, é cantor, compositor e também professor de música do Ensino Médio na Escola Vera Cruz, em São Paulo (SP). Tem quatro álbuns solo lançados e canções gravadas por Simone, Daúde, Palavra Cantada, Suzana Salles, Marcos Sacramento, Juçara Marçal, Nenê Cintra, entre outros. Lançou os seguintes CDs: • Cara legal (Velas, 1997) • Certeza (Dabliú, 2001) • Samba deslocado descolado samba (Dabliú, 2006) • Na lojinha de um real eu me sinto milionário (Borandá, 2013) Para conhecer e apresentar melhor o trabalho do compositor aos alunos, assista aos videoclipes das canções: • “Áio no ôio” (segundo lugar no Festival de Marchinhas do Fantástico em 2013) •“Si mi ré lá” (em parceria com a Associação da Aldeia de Carapicuíba, SP – Oca) Visite o canal do compositor Paulo Padilha no YouTube. Se você tem interesse especial por samba, dê uma olhada nos Samba Drops, miniaulas de samba de um minuto. Para quem gosta de pensar a canção como linguagem: • DVD e palestra O fim da canção, com Arthur Nestrovski, José Miguel Wisnik e Luiz Tatit (Selo Sesc SP, 2012). • Livro O século da canção, de Luiz Tatit (São Paulo, Ateliê Editorial, 2004). • Filme Palavra encantada, de Helena Solberg e Marcio Debellian (Brasil, 2009). Autor da oficina: Paulo Padilha, cantor, compositor e professor X