A QUEM SE DESTINA ESTE LIVRO E COMO USÁ-LO A Igreja em Outubro celebrou o Sínodo sobre a importância da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, quarenta e três anos, após a promulgação da Constituição Dogmática Dei Verbum, no Concílio Vaticano II. Várias dioceses de Portugal estão a dar continuidade ao Sínodo com programas de formação bíblica, com particular destaque para S. Paulo, de quem estamos a celebrar os dois mil anos do seu nascimento. Os Missionários do Verbo Divino sentem-se chamados de modo especial a colaborar nesta tarefa e, por isso, apresentamos este itinerário de reflexão para ajudar a todos a orientar a sua vida pela Palavra de Deus neste tempo de Quaresma. Pode ser usado individualmente, mas foi sobretudo pensado para pequenos grupos de leitura orante da Bíblia. Propõe-se no início, um dos muitos métodos de leitura orante da Bíblia, usado na África do Sul e que tem sido adoptado em muitos outros países. Preze a Deus que este livro ajude os leitores a fazerem uma boa caminhada de fé para que, renovados pelo Espírito Santo, e seguindo o Crucificado-Ressuscitado, ressuscitem para a luz da vida. 1 Leitura orante da Bíblia: Este método simples de leitura orante da Bíblia nasceu em Lumko, Áfric a do Sul, e está especialmente indicado para pessoas que querem partilhar a sua fé em grupo. O que mais se valoriza nele é deixar-se “tocar” pela Palavra e partilhá-la. O mesmo texto é lido três vezes. Eis os passos a seguir: 1 - Acolher-se, tomar consciência da realidade actual, abrir o texto, dar alguma informação sobre o contexto do texto, invocar o Espírito Santo (oração, cântico). 2 - Escuta-se o texto pela primeira vez. Silêncio de alguns minutos. - Partilhar a palavra do texto, o versículo em que “tropeço”, que mais me toca, ou simplesmente recontar o texto de modo pessoal. Não fazer comentários, dizer simplesmente a palavra ou versículo. Depois de todos terem participado, pode-se cantar um refrão. 3 - Escuta-se o texto pela segunda vez, durante a qual tentamos lembrar os participantes que repararam nesses versículos. Silêncio de alguns minutos. 2 Partilhar a palavra da vida pessoal, ou seja: porque reparei nesta palavra ou frase, o que é que isto quer dizer hoje para mim? Que experiência de fé tenho neste assunto? Cada um fala no singular, dizendo “eu, na minha vida...”, e procura ser breve, para que todos tenham ocasião de partilhar. Não julgar ou moralizar, não discutir. 4 - Escuta-se o texto pela terceira vez, ligando ao texto as experiências de vida que foram partilhadas pelos membros do grupo. Silêncio de alguns minutos. Resposta concreta ao texto e à vida, qual a luz que em oração cada um recebeu para agir. 5 - O caminho da Comunidade indicado pelo Espírito Santo: depois de todos terem partilhado pessoalmente a resposta, em oração, a comunidade pergunta: qual é o caminho que o Espírito Santo nos está a indicar como comunidade de fé? Que palavra nos poderia resumir a resposta? O caminho da comunidade poderá encontrar-se: estando atento ao que cada membro falou e rezando para que o Espírito Santo nos mostre a perspectiva comum. 6 - Oração final, por exemplo um cântico e um Pai-nosso de mãos dadas, simbolizando a comunhão que realizamos, partilhando as nossas vidas e experiências de Deus. Pessoalmente, e juntos como comunidade, discernir por onde o Espírito Santo nos orienta. Resumindo: Palavra na boca, lê (leitura), Palavra no coração, guarda e tenta compreender (meditação), Palavra no pé, pratica, faz o que Deus te diz (acção). Por outras palavras: o que diz o texto? O que o texto me diz? O que é que o texto me faz fazer em resposta a Deus? Haverá outra forma de transmitir o Evangelho que não seja a de contar à outra pessoa a experiência pessoal de fé? (Paulo VI, EN 46) 3 Quarta-feira de Cinzas Ambientação A bênção e a imposição das cinzas são uma prática penitencial muito antiga. Nos primeiros séculos da Igreja os cristãos que haviam prejudicado a comunidade cristã com escândalos públicos, expiavam-nos durante a Quaresma. No começo deste tempo litúrgico recebiam as cinzas sobre as suas cabeças em sinal de humildade, e, a seguir, eram acompanhados à porta da Igreja. Até 5ª Feira-Santa não participavam nas assembleias da comunidade, mas permaneciam no átrio em sinal de penitência. Hoje, em que tudo se permite e tudo se procura contestar, não só se está a perder a consciência do pecado como também a própria realidade dramática do pecado. Ao ouvirmos a palavra de Deus “lembra-te que és pó” (terra) é hora de defendermos a Terra que está a ser destruída pela ganância do lucro. Na Quaresma orientemo-nos pela conversão – escutar Deus, e pela solidariedade – ajudar os necessitados. Jejum, hoje, é renunciar, para mais partilhar. A PALAVRA DE HOJE: Joel 2, 12-18 2 Coríntios 5,20 - 6, 2 Mateus 6, 1-6. 16-18 ■ Comentário às leituras A mensagem do profeta Joel foi pronunciada provavelmente depois do desterro, no templo de Jerusalém. Uma praga de gafanhotos devastou os campos, provocando carestia de bens e fome (1, 2 – 2, 10). Como consequência, cessou o culto dos sacrifícios no templo (1, 13-16). O profeta lê os sinais dos tempos e por isso anuncia a proximidade do dia do Senhor, convidando todo o povo ao jejum, à oração, à penitência (2, 12.15.-17a). 4 A palavra-chave deste texto, repetida três vezes nos primeiros versículos é voltar (shûb em Hebraico) verbo clássico da conversão. O v. 12 apresenta ao povo o convite à conversão. Sem a renovação interior e a mudança do coração os ritos litúrgicos não agradam a Deus. No v. 13, o convite à conversão aparece de novo e a motivação é porque o Senhor é sempre misericordioso. No v. 14 o mesmo verbo se refere a Deus abrindo uma porta à esperança: “perdoará uma vez mais”. A conversão expressa-se num amor sincero a Deus, numa fé mais sólida e numa esperança que se faz oração comunitária e penitente. Tendo estas disposições, o profeta e os sacerdotes poderão pedir ao Senhor que se mostre zeloso com a sua terra, compassivo com a sua herança (vv.17s). Para Paulo, se alguém está em Cristo é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova (v.17). Deus reconciliou-nos consigo por Cristo e confiou-nos o ministério da reconciliação. Em Cristo, Deus reconciliava o mundo consigo, não imputando aos homens as suas faltas e colocando em nós a palavra da reconciliação. Paulo em nome de Cristo exorta os Coríntios a que se reconciliem com Deus. E acrescenta que agora é o tempo favorável, o dia da salvação. No seu entender, entre a primeira vinda de Cristo e o seu retorno, decorre um tempo intermédio, que é o dia da salvação. Tempo concedido em vista da conversão, da salvação do “Resto” e dos gentios. Embora tenha duração incerta, esse tempo de peregrinação deve ser considerado como breve, cheio de provações e de sofrimentos que preparam a glória futura. O fim aproxima-se, assim como o dia da plena luz. Importa vigiar e fazer sábio uso do tempo que resta para que nos salvemos e salvemos os outros, deixando a Deus a tarefa de fazer a retribuição final. 5 Jesus pede aos seus discípulos uma justiça superior à dos escribas e fariseus (cf. Mt 5, 20). Mesmo que as práticas exteriores sejam as mesmas, Jesus reclama a vigilância sobre as intenções que nos movem a actuar. O evangelho repete primeiro as três obras típicas da piedade judaica: a esmola (6, 2-4); a oração (6, 5-15) e o jejum (6, 16-18). A novidade de Jesus é esta: essas obras não valem de nada se forem feitas para vanglória e a própria recompensa. O valor delas consiste em fazê-las diante do Pai que vê no segredo. Jesus completa a tradição ensinando-nos o Pai-nosso e ressaltando como é indispensável o perdão …”mas se não perdoardes aos homens também o vosso Pai não perdoará os vossos delitos” (Mt 6, 15). Penitência e arrependimento não são sinónimos de abatimento, tristeza ou frustração; pelo contrário, constituem uma modalidade de abertura à luz que pode dissipar as obscuridades interiores, tornar-nos conscientes de nós mesmos na verdade e fazer-nos experimentar a misericórdia de Deus. Quem vive na presença de Deus, é livre. O Senhor tinha confiado ao profeta a missão de convocar o povo para suscitar uma nova esperança através de um caminho penitencial; aos apóstolos confia-lhes o ministério da reconciliação; à Igreja hoje, encarregaa de proclamar que agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação! Renovados pelo amor aprenderemos a viver sob o olhar do Pai, contentes de poder cumprir humildemente o que lhe agrada e ajudar os nossos irmãos. A sua presença no segredo do nosso coração será a verdadeira alegria, a única recompensa esperada e de que temos já um antegosto. ■ Perguntas para reflexão - Que significado tem para nós, hoje, o jejum, a oração, a esmola? - Com que atitudes devemos iniciar e viver o tempo da Quaresma? - Como entendo a expressão de Paulo que agora é o tempo favorável, é o dia da salvação? ■ A nossa resposta em oração Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Pai misericordioso e Deus de toda a consolação, Que nos consola em todas as nossas tribulações, para que também nós possamos consolar aqueles que estão em qualquer tribulação, mediante a consolação que nós mesmos recebemos de Deus. Como abundam em nós os sofrimentos de Cristo, por Ele também é abundante a nossa consolação. Quando somos atribulados É para consolação e salvação de todos. Quando somos consolados é para consolação de todos. A nossa esperança é firme: assim como participamos dos sofrimentos de Cristo, também havemos de participar na sua consolação. Amén. (cf. 2 Cor 1, 3-7) 7 Primeiro domingo da Quaresma Ambientação Neste primeiro domingo de quaresma lemos na liturgia o relato das tentações segundo o evangelho de Marcos. É um relato breve que nos convida a centrar-nos no que significaram as tentações na vida de Jesus e no que elas significam para nós, seus seguidores. A PALAVRA DE HOJE: Génesis 9, 8-15 1 Pedro 3, 18-22 Marcos 1, 12-15 ■ Comentário às leituras A história do dilúvio e de Noé são reflexões teológicas sobre a natureza humana e a sua relação com Deus e com a criação. Como acontecimento histórico por detrás destas narrativas estão as inundações desastrosas do vale do Tigre e do Eufrates, aumentadas pelos autores sagrados como um cataclismo universal. O autor dotou esta lembrança das inundações de um ensino eterno sobre a justiça e a misericórdia de Deus, sobre a malícia do ser humano e a salvação concedida ao justo. Perante o crescimento da perversão humana “ o Senhor viu que a maldade do homem era grande sobre a terra, e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração” (Gen 6, 5) a humanidade chegou a um colapso: é o dilúvio. No meio da multidão perversa há alguém que agrada a Deus: “Noé era um homem justo, íntegro entre seus contemporâneos, e andava com Deus” (Gen 6, 9). Deus dá-lhe ordem de construir uma arca e nela entrar: “entra na arca tu e toda a tua família, porque és o único justo que vejo diante de mim no meio desta geração.” (Gen 7, 1). Esse justo que agrada a Deus serve de barca para salvar; é um justo que segue Deus. 8 Apesar da maldade do ser humano, Deus não o abandona; depois do dilúvio sela uma aliança com Noé, com a humanidade e com toda a criação: “eis que estabeleço a minha aliança convosco e com os vossos descendentes depois de vós, e com todos os seres animados que estão convosco…estabeleço minha aliança convosco: tudo o que existe não será mais destruído pelas águas do dilúvio; não haverá mais dilúvio para devastar a terra. (Gen 9, 9.11). O ser humano é de novo abençoado e consagrado rei da criação, como nas origens, mas não é mais um reinado pacífico. A nova época conhecerá a luta dos animais com o homem e dos homens entre si. A paz do paraíso só reflorescerá nos últimos tempos (cf. Is 11, 6). É nossa responsabilidade hoje velar pela vida na terra. Se a perversão da humanidade se avoluma, a ponto de quase mais ninguém querer seguir a Palavra de Deus e armarem-se em donos da vida e do planeta, vão acontecer cataclismos como o dilúvio. É urgente salvar o planeta de todos os egoísmos que o destroem e põem em risco a sobrevivência de gerações futuras ou até o próprio planeta. As grandes questões ecológicas fazem parte do compromisso cristão: poluição, efeito de estufa, degelo polar, fontes de energia, questões demográficas e de justiça social. O planeta pode ser destruído pelo próprio ser humano: bombas atómicas e consequências de alterações climáticas – subida dos oceanos, crescimento de zonas desérticas, falta de água, desflorestação, etc… Tudo isto é o pecado humano na sua expressão planetária. Para os cristãos a salvação da vida está garantida em Jesus Cristo. A ressurreição de Jesus é como uma nova criação. Entramos nela pela graça de Jesus, convertendo-nos, renunciando ao mal e participando da morte e ressurreição pelo baptismo (cf. Act 2, 38), o que leva a uma vida nova (cf. Act 2, 42-47). É o que a 2ª leitura nos diz com as seguintes palavras: ser baptizado é alcançar de Deus uma boa consciência pela ressurreição de Jesus Cristo. Na linguagem de Paulo ser baptizado é ser sepultado e ressuscitado com Cristo (cf. Col 2, 12). Não é possível pretender participar na ressurreição se não participamos na morte de Cristo. O Crucificado é o Ressuscitado e o Ressuscitado é o Crucificado. Evangelho O Filho de Deus, no baptismo no Jordão, é mesmo Deus no meio de nós, pecadores, mas sem pecado, e por isso nosso Salvador. Jesus foi ungido pelo Espírito e assume a sua missão: ser Filho (cf. Mc 1, 1. 11; 15,39). A tentação é por causa da missão que Jesus tem que assumir; não pelo 9 caminho do poder, da vanglória e da riqueza, mas pelo caminho da cruz. Jesus vence a tentação decidindo seguir o caminho da cruz. (cf. Mc 10, 32). As suas primeiras palavras são estas: “o Reino de Deus está próximo, convertei-vos e crede no evangelho” (Mc 1, 15). A salvação é-nos oferecida mas sem conversão não estamos em condições de a receber. Conversão é morrer para o pecado, ser baptizado e passar a uma vida nova: assiduidade à escuta da Palavra, à comunhão fraterna, à fracção do pão (eucaristia) e às orações: (cf. Act 2, 42-47; 4, 32-35). ■ Perguntas para reflexão Jesus, após o baptismo, assumiu a missão, vencendo as tentações. – Quais são as dificuldades (“tentações”) que tornam difícil ser coerente no teu compromisso de baptizado? – Seguindo o exemplo de Jesus, como vencê-las? ■ A nossa resposta em oração Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade; pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado. Lava-me de toda a iniquidade; purifica-me dos meus delitos. Reconheço as minhas culpas e tenho sempre diante de mim os meus pecados. Contra ti pequei, fiz o mal diante dos teus olhos; por isso é justa a tua sentença e recto o teu julgamento. Cria em mim, ó Deus, um coração puro; renova e dá firmeza ao meu espírito. Não me afastes da tua presença, nem me prives do teu santo espírito! (Cf Sl 51, 3-6b.12-13) 10 Segundo domingo da Quaresma Ambientação No domingo passado dialogámos sobre as dificuldades ou tentações no seguimento pessoal de Jesus. Também não foi fác il para os primeiros discípulos entender que o seu Mestre ia a caminho de Jerusalém e que morreria na cruz: “Jesus ia à frente deles, eles seguiamno espantados e cheios de medo.” (cf. Mc 10, 32). Jesus já não tem dúvida de que o seu caminho é ser morto na cruz. Ele já venceu a tentação de fugir, mas os próprios discípulos ainda estão em crise de fé e para os ajudar, nesta passagem à fé, Jesus dá-lhes a luz da transfiguração. A PALAVRA DE HOJE: Génesis 22, 1-2.9 a.10-13.15-18 Romanos 8, 31 b-34 Marcos 9, 2-10 ■ Comentário às leituras A situação terrível que existia no tempo de Abraão era o sacrifício das crianças e até de outros seres humanos para atrair os favores dos deuses. A narrativa implica, pois, a condenação, tantas vezes pronunciada pelos profetas, dos sacrifícios de crianças (cf. Lv 18, 21; 20, 2-3; 2 Rs 3, 27; 2 Rs 23, 10; Jr 32, 35; 2 Reis 17, 31; Jz 11, 29-40). A palavra-chave do texto é “não estendas a mão contra o menino, não lhe faças nenhum mal” (22, 12). O nosso Deus revela-se diferente das crenças de então e louva a fé de Abraão que até não hesitaria em oferecer o filho. 11 A tradição cristã lança mão deste episódio para nos expressar o quanto Deus nos ama: “Deus amou tanto o mundo que nos entregou o seu Filho Único para que todo o que nele crer não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Na carta aos Romanos, Paulo ajuda-nos a compreender que a entrega do Filho à humanidade é a suprema revelação do amor de Deus. Não há dúvida que Deus assume por completo a humanidade e nada nos pode separar do seu amor (v.39). Jesus para ajudar os discípulos a assumir que o Filho de Deus, o Messias é um Crucificado, dá-lhes uma visão de luz agradável e bela para assim haver coragem de continuar o caminho da cruz. O candor e a luz resplandecente da sua pessoa recordam o Filho do homem da visão de Daniel (7 e 10). A aparição de Elias e Moisés, esperados como precursores do Messias, apresenta Jesus como o cumprimento da Lei e dos profetas. Eles tiveram o privilégio de contemplar no alto de um monte a glória de Deus com vistas a cumprir uma missão importante para todo o povo: agora a antiga aliança cede o testemunho à nova e os três discípulos (Pedro, Tiago e João) convertem-se em testemunhas oculares da glória de Cristo em favor de todos os crentes (cf. 1 Jo 1, 1-3; 2 Pe 1, 17 s). Um temor sacro os invade. Pedro trata de reagir e propõe erigir três tendas para os distintos personagens. Jesus revela-se como o verdadeiro templo, a verdadeira tenda da Presença que dá felicidade à vida humana: “é bom estarmos aqui” (Mc 9, 5). Outro símbolo muito impor tante é a nuvem, que acompanhou continuamente o povo eleito no seu caminho do êxodo e agora envolve os presentes. Da nuvem sai a voz divina que proclama Jesus como Filho predilecto. No momento do baptismo, a voz dirigiu-se a Jesus para confirmálo e investi-lo na sua missão (cf. 1, 11). Agora dirige-se aos discípulos: “este é o meu Filho amado: escutai-o” (v. 7). Jesus é o Filho que o Pai entregou por nós; o companheiro que nos abre o caminho, nos ensina a escutar e a dar passos para uma entrega sem reservas. ■ Perguntas para reflexão – Que relação vês entre a transfiguração e a ressurreição? 12 – Por que é que Jesus dá ordem aos discípulos para não contarem nada do que tinham visto? Que mal entendido estava na cabeça de Pedro e dos discípulos? (Mc 8, 33) – Toda a vida tem necessidade de momentos de luz. Na tua vida e na v i d a d a q u e l e s c o m quem vives, que momentos de luz ou de transfiguração conheces? ■ A nossa resposta em oração Senhor, Jesus Cristo, Envia sobre nós o dom do Espírito Santo A fim de vivermos não já para nós próprios Mas para Ti que por nós morrestes e ressuscitastes E oferecermos toda a nossa vida, Para testemunhar o teu amor por nós. Ámen 13 Terceiro domingo da Quaresma Ambientação A PALAVRA DE HOJE: Exodo 20, 1-17 1 Coríntios 1, 22-25 João 2, 13-25 Nas comunidades cristãs que têm c atecúmenos eleitos para os sacramentos de iniciação cristã nos III, IV e V Domingo da Quaresma lêem-se os evangelhos do Ano A e celebram-se os escrutínios sobre os eleitos, ou seja, a oração da Igreja sobre os catecúmenos eleitos em ordem a uma purificação do pecado e a uma iluminação da vida com a Palavra de Deus, concretizada nos encontros de Jesus com a Samarit ana, com o cego de nascença, e com Marta, Maria e Lázaro. Esses encontros são referência para o próprio catecúmeno eleito rever o seu encontro com Cristo e como é que chegou a dizer a Jesus: “eu creio”. Os escrutínios são acompanhados pela entrega das “tradições” ou símbolos da fé. ■ Comentário às leituras Um dos textos mais antigos da Bíblia é o código da aliança. O código da aliança abre com uma palavra-chave que é “escuta Israel” Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. (Dt 6, 4). Se lermos todo o decálogo, logo se nota que reconhecer a Deus como único Senhor tem como consequência reconhecer as outras pessoas como nosso próximo. Todos os mandamentos referentes ao próximo foram mais 14 tarde resumidos deste modo: “…amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lev 19, 18). Não foi de uma vez que se compreenderam os mandamentos de Deus. Foi no decorrer de um processo histórico muito prolongado até chegar à plenitude da revelação em Jesus Cristo ( cf. Heb 1, 1) que vai resumir tudo a um único mandamento: “…amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13, 34; 15, 17). Neste terceiro domingo de quaresma, vamos ler um acontecimento da vida de Jesus segundo João, e que se encontra também nos outros evangelistas (cf. Mt 21, 12-16; Mc 11, 15-19; Lc 19, 45-46), o que mostra a sua importância. A narrativa situa-se no Templo de Jerusalém e o gesto de Jesus e as suas palavras podem ajudar-nos a rever a nossa forma de prestar culto a Deus. Jesus, na linha da tradição profética, (cf. Is 1, 11-15; Am 5, 21-13) vai desmascarar o culto no templo de Jerusalém e afirmar que o templo é Ele mesmo e toda a pessoa tornada morada de Deus (Jo 14, 23; 1 Cor 3, 16). Com a expulsão dos vendilhões do templo, Jesus vai desmascarar o culto falsificado, chamando-o de covil de ladrões e responde à pergunta do chefe da religião, dizendo: destruí este templo e eu o reconstruirei em três dias. O verdadeitro templo do culto a Deus é Jesus Cristo, Deus encarnado, é o corpo de Cristo presente nas pessoas especialmente nos mais necessitados (cf. Mt 25, 31-46; Act 9, 4). Ao derrubar uma religião degenerada em negócio e discriminação de pessoas, (lei do puro e do impuro) Jesus foi condenado à morte, pelos próprios representantes da religião do templo e da lei. Por isso é que S.Paulo nos dá a síntese da nossa fé em Cristo crucificado que é escandalo para os judeus, loucura para os gentios mas para nós cristãos é sabedoria de Deus. Cristo crucificado é a surpreendente resposta de Deus às expectativas da humanidade: o verdadeiro sinal é a sua cruz, que liberta a humanidade da escravidão do mal; a maior sabedoria é a sua morte, que assume o absurdo do nosso pecado para abrir a todos um destino glorioso. ■ Perguntas para reflexão – O que é que estava a acontecer de falsificação naquele culto, naquela religião que Jesus não aguentou e explodiu com um chicote e derrube de 15 de mesas? Na tua opinião, por que é que Jesus não derrubou as pombas? – Se Jesus entrasse hoje no nosso culto, na nossa eucaristia dominical, o que é que Ele teria que derrubar e expulsar? – Compara a narrativa de João com a de Mateus 21, 12-16: quem fica dentro do templo e quem pode agora entrar? ■ A nossa resposta em oração Ajuda-nos Senhor, a praticar uma verdadeira justiça e excedermo-nos em bondade e compaixão, cada um para com o seu irmão; a não oprimir a viúva e o órfão, o estrangeiro e o pobre, e a não formar nos nossos corações maus desígnios uns para com os outros. (cf. Zc 7, 9-10) 16 Quarto domingo da Quaresma Ambientação Na Eucaristia do quarto domingo de Quaresma lemos o texto do encontro de Jesus com Nicodemos. O Evangelista João, depois de apresentar qual há-de ser o autêntico culto, convida-nos a nascer do Espírito e a acolher Jesus como salvação e Vida. A PALAVRA DE HOJE: 2 Crónicas 36, 14-16.19-23 Efésios 2, 4-10 João 3, 14-21 ■ Comentário às leituras Seguindo a reflexão do domingo passado, o Jesus crucificado é a sabedoria de Deus. É olhando o Cristo na cruz que podemos ver como Deus ama o mundo: “tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. (Jo 3, 16-17). O trágico é que a humanidade ama mais as trevas do que a luz porque as suas obras eram más (cf, Jo 3, 19). Mas o amor de Deus não é vencido, porque ao ser levantado, ou seja, crucificado, Ele é a vida eterna (ressurreição) para todo aquele que nele crê (cf. Jo 3, 15).Para o povo judeu a figura da serpente de bronze no deserto levantada por Moisés fazia entender estas palavras de Jesus. A primeira leitura ao relatar o regresso do exílio na Babilónia quer mostrar como o amor de Deus desde sempre acompanhou o povo no exílio e trouxeo de volta. Para esse regresso, Deus faz até colaborar o imperador Ciro, que era o dominador do povo nessa altura. 17 O amor de Deus não é para confundir com a ambivalência que existiu na construção do templo por ordem do imperador da Babilónia (cf. 2 Cr 36, 23), nem com a discriminação praticada pelos judeus, vindos do exílio em relação aos que já estavam na terra. (cf. Esd 4, 3; 10, 3.19). Lembrando o conflito de Jesus com o templo (Jo 2,13-25) e a discriminação que o Judaísmo praticava desde a construção do templo (foramse fazendo 613 leis), S. Paulo, como no domingo passado também hoje nos dá a síntese cristã: pela graça fostes salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. (Ef 2, 8-9). Sabemos como Paulo para anunciar Jesus Cristo aos não judeus teve que enfrentar as leis do judaísmo, sem negar que Jesus é um judeu da nascimento. Tanto judeus como gentios são salvos pela graça e não pelos méritos de cumprir a lei. É esta a grande visão de Paulo, que Pedro no concílio de Jersualém confirma: “Além disso, é pela graça do Senhor Jesus que acreditamos que seremos salvos, exactamente como eles.” (Act 15, 11). ■ Perguntas para reflexão – Olhando o evangelho, experimentas Jesus na tua vida como o que dá a vida, o que salva? Como expressas isso na tua vida? – Deus amou tanto o mundo que lhe enviou o seu Filho: eu, cristão, tenho consciência que em nome de Jesus sou enviado para testemunhar o mesmo amor (cf. Jo 20, 21)? 18 ■ A nossa resposta em oração Recebe a cruz na tua fronte; Cristo te fortalece com o sinal da sua caridade. Aprende agora a conhecê-lo e a segui-lo Recebe o sinal da cruz nos ouvidos, Para ouvires a voz do Senhor Recebe o sinal da cruz nos olhos, Para Jesus ser a tua luz Recebe o sinal da cruz na boca Para responderes à Palavra de Deus Recebe o sinal da cruz no peito, Para que Cristo, habite, pela fé no teu coração Recebei o sinal da cruz nos ombros Para levares o jugo de Cristo, que é suave. (Da liturgia com os catecúmenos) 19 Quinto domingo da Quaresma Ambientação Os relatos dos evangelhos que estamos a ler vão-nos assinalando um caminho para viver a Quaresma. Além disso, em cada um deles, se adverte o destino de Jesus. É um destino que também tem que ver com o nosso compromisso cristão. A PALAVRA DE HOJE: Jeremias 31, 31-34 Hebreus 5, 7-9 João 12, 20-33 ■ Comentário às leituras O 5º Domingo da Quaresma apresenta Jesus na angústia diante da hora da morte na cruz que se aproxima. Há um diálogo doloroso de discernimento com o Pai para a aceitação do despojamento total da cruz e há um reconforto vindo do céu, uma voz que se escuta: “A minha alma está agora conturbada. Que direi: Pai salva-me desta hora! Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai glorifica o teu nome. Veio então uma voz do céu: Eu o glorifiquei e glorificarei novamente” (Jo 12, 2728). A carta aos Hebreus confirma a mesma situação dolorosa: “nos dias da sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas àquele que o podia salvar da morte…” (Heb 5, 7). Jesus oferece-se à morte para realizar a obra que glorificará o Pai, manifestando o seu amor ao mundo (Jo 12, 28; cf. Jo 17, 6). O que é próprio do Pai é amar. Ele prova o seu amor, entregando o seu Filho único por nós. Por conseguinte, quem não reconhece o Filho, não reconhece o amor do Pai (cf. Lc 10, 22). 20 A vinda dos gentios (gregos) à procura de querer ver Jesus (cf. Jo 12, 21) é interpretada como a exaltação de Jesus. Jesus entende a sua morte como o grão que morre para dar fruto, como quem perde a vida por amor aos outros: “se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto. Quem se ama a si mesmo, perde-se; quem se despreza a si mesmo, neste mundo, assegura para si a vida eterna “ (Jo 12, 24-25; cf. Mt 16, 25; Mc 8, 35; Lc 9, 24). A vinda dos não-judeus que querem ver Jesus (cf. Jo 12, 21) e a nova aliança escrita no coração de cada um (cf. Jr 31,31. 33), é fruto da morte e ressurreição de Jesus.O dom do Cristo ressuscitado é o Espírito Santo (cf. Jo 20, 22), que une todos os povos (cf.Act 2,5.9). ■ Perguntas para reflexão – Vimos no evangelho e no comentário que não foi fácil para Jesus aceitar a morte na cruz. Qual é a “tua cruz”, aquela que te mete medo e que te custa lágrimas e suores… e donde te vem a coragem para enfrentar essa cruz? (cf. Jo 12, 28.30) – Há algum aspecto da passagem que queiras recolher e aplicar a partir de hoje à tua vida? Qual? Porquê? ■ A nossa resposta em oração Meu Pai, a vós me abandono: fazei de mim o que quiserdes! O que de mim fizerdes, eu vos agradeço. Estou pronto para tudo, aceito tudo, contanto que a vossa vontade se faça em mim e em todas as vossas criaturas. Não quero outra coisa, meu Deus. Entrego a minha vida em vossas mãos, eu vo-la dou, meu Deus, com todo o amor do meu coração, porque eu vos amo. É para mim uma necessidade de amor dar-me, entregar-me em vossas mãos sem medida, com infinita confiança, porque sois meu Pai. (Carlos de Foucauld) 21 Domingo de Ramos DIA MUNDIAL DA JUVENTUDE Ambientação Com o Domingo de Ramos os cristãos começam a Semana Santa. A entrada de Jesus em Jerusalém e as atitudes das diversas pessoas que o rodeiam fazem-nos pensar em como vamos hoje celebrar estes dias a sua paixão, morte e ressurreição. A PALAVRA DE HOJE: Isaías 50, 4-7 Filipenses 2, 6-11 Marcos 14, 1 – 15, 47 ■ Comentário às leituras Discípulo de Pedro e seu companheiro em Roma, Marcos escreve o seu evangelho para não-judeus. O seu relato da Paixão é breve, mas denso e rico em pormenores concretos. É bom reparar nalguns detalhes na narrativa da Paixão segundo Marcos: – São os representantes da religião (escribas e sacerdotes) que tramam a morte de Jesus (14, 1) – Há uma mulher que unge Jesus com perfume de alto preço; é tratada com aspereza, Jesus defende-a (14, 3) – Seguir o homem da bilha de água para saber onde é o lugar da celebração da Última Ceia (14, 13) – Instituição da eucaristia: (14,22) – Os discípulos todos se mostram muito valentes, dispostos a morrer por Jesus e logo a seguir dormem e depois fogem. (14, 29.37.40.68) 22 – O traidor é um discípulo: Judas (14, 11) – Um jovem que o seguia enrolado num lençol, quando agarrado, foge nu (14, 51); Jesus morto é enrolado num lençol (15, 46). – Jesus é declarado réu de morte por dizer: sou Filho de Deus (14, 61-63) – Os nomes dos filhos de Simão de Cirene: Alexandre e Rufo (15, 22) – Soltam um assassíno e condenam um inocente (15, 11) – Os ultrajes a Jesus na cruz: “desce agora da cruz, para que vejamos e creiamos!” (15,29-32) – O centurião (um estrangeiro) vê no crucificado o Filho de Deus (15, 39; ver 1, 1) – A presença das mulheres no começo (o derrame do perfume) e no fim: as que acompanham Jesus até à cruz. (15, 46) – O véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo (15, 38). O Evangelho de Marcos abre com a afirmação Jesus Cristo é o Filho de Deus (cf. Mc 1, 1). O surpreendente é que, depois de ter contado a vida de Jesus, Ele é reconhecido como Filho de Deus por um não judeu, um militar romano, que olha para a cruz e diz: “verdadeiramente este homem era Filho de Deus!” (Mc 15, 39). Por outras palavras é na cruz que Jesus dá a conhecer o verdadeiro Deus. Se queremos encontrar o Deus verdadeiro não é a olhar para o céu, mas para o crucificado na terra. Esse crucificado na história já tinha aparecido na figura do Servo Sofredor principalmente nos quatro cânticos do Servo dos quais faz parte a leitura de hoje. (cf. Is 42, 1-4; 49,1-6; 50,4-11; 52,13 – 53,12). Já lá, esse sofrimento inocente era anunciado como possibilidade de salvação para todos (cf. Is 53, 5.12b). Esta dimensão do Deus crucificado, servo que salva a todos, é-nos mostrada na segunda leitura: sendo de condição divina, assumiu a condição de servo, descendo até à morte na cruz. Mas Ele é o Senhor (cf. Flp 2, 6-11). O Domingo de Ramos põe diante de nós uma questão muito real: os criminosos andam soltos; os inocentes são mortos (as guerras, os pobres que são vítimas da crise económica, o aborto, o tráfico de armas, de drogas e de pessoas); a multidão tanto aclama o bem: hossana, hossana, ó Filho de David, como o condena: crucifica-o, crucifica-o! Como é possível, numa sociedade que aclama tanto a defesa dos direitos humanos, crescer cada vez mais o negócio da escravatura humana, escondida no tráfico de pessoas e órgãos?! Como não lembrar as multidões de imigrantes africanos que morrem a caminho da Europa?! 23 É também uma contradição todos necessitarmos da Terra e estarmos a destruí-la pelo comportamento humano. A Terra inteira está a sofrer as culpas dos humanos. O pecado tem as suas consequências pessoais, sociais e planetárias. ■ Perguntas para reflexão – A celebração da paixão, morte e ressurreição de Jesus, a que compromissos te leva? – Como reages quando vês alguém a sofrer injusta ou inocentemente? ■ A nossa resposta em oração Rezemos juntos este hino que revela a nossa fé em Cristo: Cristo Jesus que é de condição divina, não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente mas esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso é que Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome, para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra; e toda a língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor!”, para glória de Deus Pai. (cf. Flp 2, 6-11) 24 Quinta-Feira Santa Ambientação A PALAVRA DE HOJE: Êxodo 12, 1-8.11-14 1 Coríntios 11, 23-26 João 13, 1-15 Com a Quinta-Feira Santa começa o Tríduo Pascal que é o auge de toda a liturgia cristã. Este dia começa com a Missa Crismal da parte da manhã, presidida pelo Bispo e concelebrada pelos sacerdotes, onde os sacerdotes renovam as suas promessas de serviço e obediência. O Bispo benze os santos óleos: dos enfermos, dos catecúmenos e do crisma. À noite celebra-se a Ceia do Senhor, que é instituição da Eucaristia – nova e eterna aliança - e consequentemente o sacerdócio, com a entrega do mandamento novo: Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros (Jo 13, 34). A missão pública de Jesus começa com o Baptismo e termina com a Eucaristia, (sabendo que a seguir vai ser preso e morto). A Eucaristia é a última acção de Jesus com os seus discípulos. Nela, Jesus retoma toda a sua vida e faz dela o sacramento da presença, entrega total de amor. ■ Comentário às leituras A festa da Páscoa e a dos ázimos eram duas festas muito antigas que existiam antes do Êxodo. A festa anual dos pastores nómadas tornou-se o memorial de um acontecimento histórico onde Israel reconheceu um acto salvífico de Deus, fazendo-o passar da escravidão à liberdade, da morte à vida. O sangue do 25 cordeiro aspergido nas portas dos judeus era o sinal para a morte não entrar nas suas casas quando passou matando todos os primogénitos no Egipto. A festa anual dos pães ázimos pode ter tido como origem uma festa rural que se celebrava no início da colheita dos cereais. Era um ritual de renovação, de recomeço. Ao adoptar esta festa, depois da sua entrada em Canaã, Israel deu-lhe um novo significado, relacionando-a com a saída do Egipto. Paulo dá-nos o primeiro testemunho escrito de como a tradição cristã chegou até nós. A escrita da Carta aos Coríntios é anterior ao Evangelho de Marcos. Para melhor compreender a leitura de hoje deve ler-se no seu contexto: (cf.1 Cor 11, 17-31). Paulo não está satisfeito com o modo como os cristãos de Corinto estão a celebrar a Eucaristia “desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm” (v.22), remete-os à origem da ceia do Senhor: recebi do Senhor o que vos transmiti (v.23) e dá séria orientação para se poder comungar: cada um examine-se a si mesmo antes de comer deste pão (v.28). Seguindo a orientação de S. Paulo aprofundemos as palavras do evangelho que nos relatam o acontecimento inicial da eucaristia. Jesus faz os mesmos rituais da Páscoa judaica, mas dá-lhes outro sentido. Jesus não faz alusão ao cordeiro que era o centro da refeição pascal. O acento recai agora nos gestos e palavras de Jesus. João, como os Sinópticos, quer evidenciar na narrativa da última ceia, a total entrega de amor por parte de Jesus. Na entrega do pão e do vinho, vê toda a sua vida para trás e para a frente e faz dela o sacramento da sua presença real e de toda a vida cristã. Nas palavras da instituição da Eucaristia fica claro que, quem acredita e segue Jesus, ao celebrar a Eucaristia, é desafiado a fazer o mesmo que Jesus: entregar a própria vida por amor aos outros. Sem essa entrega de Jesus e a nossa própria entrega no seu seguimento, não há eucaristia. Por isso atenção às palavras: “fazei isto em minha memória”. O “fazei isto em minha memória” dos Sinópticos significa em João “amaivos como Eu vos amei”, “lavai os pés uns aos outros”; não é questão de um ritual, é entrega da própria vida como Jesus: “… entregue por vós, … 26 derramado por vós”. Na palavra “entregue por vós”, os quatro evangelistas juntam-se no mesmo sentido que tem a Eucaristia. A tarefa de lavar os pés era trabalho de escravos e inclusive um rabi não podia exigi-lo a um escravo hebreu. Jesus pede-nos a nós esta mesma humildade, este espírito de serviço recíproco que só se pode inspirar no amor (vv.12-15). Acolher o escândalo da humilhação do Filho de Deus, que lava os pés aos discípulos e é crucificado; deixar-nos purificar pela sua caridade (v.8) levanos ao mesmo dinamismo da oblação divina, seguindo o exemplo de Cristo (v.13-15). Esta é a condição indispensável para participar no seu memorial, para celebrar a Páscoa com Ele. ■ Perguntas para reflexão – Como vês o lava-pés relacionado com a Eucaristia? – Que serviços realiza a nossa comunidade cristã na sociedade onde está inserida? – Comparando a nossa comunidade paroquial com a comunidade de Corinto, o que é que S. Paulo reprovaria na nossa comunidade? – Lendo Jo 13, 34-35 qual é o distintivo do cristão? ■ A nossa resposta em oração Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, Se não tiver amor, nada sou. Ainda que eu tenha o dom da profecia E conheça todos os mistérios e toda a ciência, Que tenha uma fé capaz de transformar montanhas, Se não tiver amor, nada sou. Ainda que eu distribua todos os meus bens E entregue o meu corpo às chamas, Se não tiver amor, de nada me aproveita. O amor é paciente e prestável, Não é invejoso, arrogante ou orgulhoso, 27 Nada faz de inconveniente Nem busca o seu próprio interesse, Não se irrita nem guarda ressentimento. O amor não se alegra com a injustiça, Mas rejubila com a verdade. O amor tudo desculpa, Tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. Há três coisas que recebemos: A fé, a esperança e o amor, A maior de todas é o amor. Ámen. (cf. 1 Cor 13, 1-7.13) 28 Sexta-Feira Santa Celebração da Paixão do Senhor Neste dia não há Eucaristia. Celebra-se a Paixão do Senhor, que não pode ser entendida isoladamente, mas no conjunto do tríduo pascal: paixão, morte e ressurreição. A figura do Servo Sofredor ajuda-nos a compreender este mistério do Crucificado. Esta celebração consta de quatro partes: a liturgia da Palavra; a oração Universal; a adoração da cruz e a Comunhão. A PALAVRA DE HOJE: Isaías 52, 13 – 53, 12 Hebreus 4, 14-16; 5, 7-9 João 18, 1 – 19, 42 ■ Comentário às leituras O texto da primeira leitura é o quarto cântico do Servo. Isaías apresentanos quatro cânticos: (Is 42, 1-4; 49,1-6; 50,4-11; 52,13 – 53,12). A figura do servo que aparece no tempo do Exílio pode fazer pensar num profeta, no povo de Israel sofredor no exílio mas o Novo Testamento identifica essa figura com o Cristo da Paixão. Servo, Justo, Cordeiro, Filho, são termos afins. Vejamos o processo do Servo. 1 – Desanimado no Exílio, pensando que Deus o abandonou, descobre que, mesmo aí, Deus o ama: “Eis o meu Servo, meu eleito em quem tenho prazer” (1º cântico do Servo). 2 – Amado por Deus, recebe uma missão: a prática da justiça, aliança do povo e luz das nações (2º cântico). 29 3 – No cumprimento da missão, o servo parece que passa por uma tentação: como quem está em situação superior e muito protegido porque Deus vai punir os adversários (3º cântico e versículos seguintes). 4 – No exercício da missão, o servo dá um passo decisivo: aceitar sofrer inocente e injustamente, indo a caminho como um cordeiro conduzido ao matadouro (53,7). O Servo sofredor inocente mostra que acontece uma injustiça, um absurdo. O Servo salva, porque não responde pelo mesmo caminho do opressor. Pode salvar mesmo o opressor que, ao ver o mal causado ao inocente, pode-se arrepender e encontrar a salvação. O sofrimento inocente e por amor salva: (Is 53, 5: esmagado pelas nossas iniquidades…por suas feridas fomos curados). Hoje é o pobre, o pequeno que carrega com os males da sociedade. A grande notícia é que esse sofrimento não é inútil; tem missão salvadora. A Igreja celebra a paixão do Senhor com a segurança de que a cruz de Cristo não é a vitória das trevas, mas a morte da morte. Esta visão de fé aparece de modo particular em João. Jesus é apresentado como rei que conhece a situação, domina-a e apropria-se dela. A Hora de Jesus – que chegou – descreve-se através dos acontecimentos como hora de sofrimento e de glória: o ódio do mundo condena Jesus à morte de cruz, mas do alto da cruz, Deus manifesta o seu amor infinito. Nesta esplêndida revelação, nesta total entrega divina, consiste a glória. A cruz é glória porque é vitória do amor levado ao extremo. É prova máxima do amor de Deus. A vida de Jesus não foi só ensinar o bem, não foi só fazer o bem; foi entregar a vida e sofrer como aqueles que Ele quer salvar. Não basta ensinar o bem, não basta fazer o bem de vez em quando; é indispensável entregar a vida, sofrer com quem sofre. A narração da paixão começa e termina num horto – lembrança do Éden – querendo indicar que Cristo assumiu e redimiu o pecado do primeiro Adão e o homem recobra agora a sua beleza original. A narração ao mostrar o sofrimento de Jesus ressalta que Jesus é o Senhor, que Ele é Deus: “SOU EU” (cf. 18, 5-7) e que a história não lhe foge da mão. O termo rei aparece doze vezes no relato da paixão (dezasseis em todo o quarto evangelho). No momento em que Jesus é julgado, cumpre-se antes de mais, o juízo sobre o mundo (cf. Jo 18, 19). 30 Quando é elevado na cruz, cumpre-se a Escritura (19, 28. 36-37). Precisamente no momento da morte nasce a Igreja onde Maria é Mãe (19, 26-27: Eis o teu filho, eis a tua mãe. O novo povo regenerado no Baptismo, pela participação na morte e ressurreição de Jesus, e alimentado com a Eucaristia, celebrará ao longo dos séculos a Páscoa do verdadeiro Cordeiro (19, 33; cf. Ex 12, 16), até que se cumpra no reino de Deus (cf. Lc 22, 16). ■ Perguntas para reflexão – Olha para a cruz e fica a pensar como se revela o Deus verdadeiro em Cristo crucificado. – Pensa em pessoas concretas que estão a sofrer no mundo. – Quem carrega hoje os pecados do mundo? (Crise económica, vítimas das guerras, os indefesos). – O próprio sofrimento inocente de Deus a sofrer na cruz, traz alguma luz ao problema de todo o sofrimento inocente? ■ A nossa resposta em oração Se Deus está por nós, Quem pode estar contar nós? Ele que nem sequer poupou o seu próprio Filho, Mas o entregou por todos nós, Como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele? Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, A fome, a nudez, o perigo, a espada? Mas em tudo isso saímos vencedores Graças àquele que nos amou. Sabemos que nem a morte nem a vida, Nem os anjos nem os principados, Nem o presente nem o futuro, Nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, Nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor De Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso. Ámen. 31 Vigília Pascal Ambientação A Vigília Pascal é o coração da liturgia cristã, centro do ano litúrgico, a mais antiga, a mais sagrada, a mais rica de todas as celebrações; no dizer de S. Agostinho a “mãe de todas as vigílias”. É na noite de Páscoa que a celebração da morte e ressurreição do Senhor tem o seu ponto culminante. O mistério pascal não é estático, mas dinâmico. Não é um estado de Cristo, mas uma “passagem”, um movimento, em que é envolvido todo o povo de Deus. A espera dos cristãos nesta noite santa não se reduz à comemoração de um facto objectivo e real. É a espera de Alguém. É a espera do Senhor que volta ressuscitado para nos levar a fazermos com Ele a mesma passagem da morte à vida, seguindo-o no diaa-dia, carregando a nossa cruz. Ao celebrarem a primeira manhã de Páscoa, os cristãos esperam com alegria a sua própria manhã de Páscoa. Ser baptizado é, na verdade, morrer com Cristo para ressuscitar com Ele. Por isso, a Igreja, desde os tempos mais antigos, pensou que o melhor meio de celebrar o mistério pascal era baptizar nesta noite os seus catecúmenos e levar os baptizados a fazer memória viva dos compromissos do seu dia de Baptismo. A Liturgia da Vigília Pascal tem as seguintes partes: Liturgia da Luz: Cristo ressuscitado, luz do mundo que não se apaga mais. Liturgia da Palavra: História da salvação – da criação à ressurreição “nova criação”. Liturgia Baptismal: nossa entrada na ressurreição com Jesus. Liturgia Eucarística: Vivência e celebração permanente da morte e ressurreição de Cristo e da nossa vida cristã. 32 (O Missal Romano tem nove leituras para a Vigília Pascal: sete do Antigo Testamento e duas do Novo Testamento. Mantendo a visão da história da salvação, como a Liturgia o exige, apresentamos aqui três leituras do Antigo Testamento e duas do Novo Testamento). A PALAVRA DE HOJE: 1 - Génesis 1, 1 – 2,2 2 - Êxodo 14, 15 – 15, 1 3 - Ezequiel 36, 16-17 a.18-28 4 - Romanos 6, 3-11 5 - Marcos 16, 1-8 ■ Comentário às leituras Depois da celebração da Luz, simbolizando a Ressurreição, a Liturgia volta atrás apagando as luzes para ver o caminho da História que conduziu até à Ressurreição. No entanto, o Círio pascal, que simboliza Cristo ressuscitado, permanece aceso. É nele que se acende a vela durante o Baptismo. Cristo é a luz do mundo e o cristão, no Baptismo, recebe a missão de ser testemunha da luz. A primeira leitura relata-nos a Criação. Assim começa a Sagrada Escritura: “No princípio Deus criou…”. É a Palavra de Deus que cria e ordena o Universo. A coroa da criação é o homem e a mulher, criados “à sua imagem e semelhança ” (v.26). Com o ser humano, a criação fica completa e a partir daí, em vez de bom o texto diz: Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom (v.31). A nossa primeira vocação é à vida em comunhão com Deus, com os nossos semelhantes, e a harmonia com a natureza. Os males que vemos no mundo (fratricídio, desordem moral, idolatria, injustiça, tráfico humano e toda a 33 opressão e escravatura) não vêm de Deus; vêm da desobediência do ser humano à sua Palavra e da influência externa negativa. Na segunda leitura, Deus escuta o grito do povo oprimido e liberta-o da escravidão. É o Êxodo. As águas do Mar Vermelho, uma ameaça de morte, convertem-se em fonte de salvação; (por isso o Cristianismo viu nessa passagem do Mar, um símbolo das águas baptismais; cf. Oração da Bênção da água na Vigília Pascal). A passagem do mar aparece aos olhos do povo liberto, como uma impressionante revelação de Deus, que actua na história. Este texto termina com três verbos fundamentais: o povo viu, temeu e acreditou. Estes verbos aparecem nas narrações evangélicas da ressurreição de Cristo. As maravilhas realizadas pelo Senhor reforçam a fé dos libertos do Egipto que podem retomar o caminho e exaltar solenemente a experiência vivida, como aparece no cântico da vitória (Ex 15, 1-21). Sabemos como o povo, pouco depois, começou a murmurar contra Deus e contra Moisés e caiu na idolatria e na prática das injustiças, negando a aliança com Deus e uns com os outros. Mas Deus não abandona o seu povo. Repetidas vezes contrai aliança com os homens, e pelos Profetas os forma na esperança da salvação (cf. IV Oração Eucarística). Vai nascendo no coração do povo pobre e humilde, a esperança do Messias, e paralelamente se anuncia que Deus vai dar um coração novo, um espírito novo, como lemos na leitura de Ezequiel. “Derramarei sobre vós uma água pura e sereis purificados; …Dentro de vós porei o meu espírito, fazendo com que sigais as minhas leis e obedeçais e pratiqueis os meus preceitos (cf. Ez 36, 25-27). Ao longo da história da salvação foram aparecendo luzes de esperança, resistências ao mal, e desejos de vida. A Ressurreição de Cristo surge como a grande Luz, que ilumina toda a história para trás e para a frente. Nela, ganham sentido, todas as resistências ao mal e desejos de vida da humanidade. A pedra da morte que pesava sobre a humanidade foi removida! (Marcos 16,3) A morte e a ressurreição de Cristo são a resposta de Deus ao grito de todos os oprimidos da humanidade, também ao de Cristo na cruz. É a nova criação; é vida eterna. 34 O verdadeiro e definitivo Êxodo é a passagem da morte à vida. Todo o ser deseja viver para sempre; o maior obstáculo na frente é a morte. A criação existe, ninguém a pode negar, ninguém assistiu ao começo, mas está aí, como uma evidência. A ressurreição é uma nova criação, que já começou; também já está aí. Os primeiros cristãos, quando fizeram a experiência que Jesus está vivo exclamam: é o Senhor: (Vi o Senhor! - Jo 20,18; Vimos o Senhor - Jo 20, 25; É o Senhor - Jo 21,7; é verdade, o Senhor ressuscitou - Lc 24, 34); o Crucificado ressuscitou (cf. Mc 16, 6). O povo de Deus, quando se viu libertado da escravidão no Egipto, tendo passado a pé enxuto, o Mar vermelho: exclamou: foi o Senhor que nos libertou. É conveniente reparar na relação e semelhança da experiência de fé dos dois Êxodos: saída da escravidão no Egipto e saída da morte.”É o Senhor!” A vigília pascal é o momento oportuno e próprio para o Baptismo; é por isso que os catecúmenos são baptizados nesta noite e os baptizados renovam o seu Baptismo. “Pelo Baptismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova” (Rom 6, 4). Ser cristão é ter esta alegria e certeza da vida eterna, mas também é uma missão: ser testemunha da ressurreição de Jesus (Act 1, 8). A semente de eternidade que o Baptismo lança em nós, deve guardar-se e crescer, para que a graça de uma vida nova se desenvolva em plenitude. Jesus não só ressuscitou, mas tornou-se visível (Act 10, 40; Apoc 1, 1). ■ Perguntas para reflexão – Sabes a data do teu Baptismo? – Saúdas e recebes com carinho os novos baptizados? – Se a Vigília Pascal é o máximo da nossa fé e de toda a Liturgia cristã, porquê a maioria das nossas paróquias não a celebra? – Ser cristão é ser testemunha da ressurreição de Cristo. Como é que tu O testemunhas e O tornas visível? – A ressurreição é uma nova criação. O que estamos a ver no mundo que é realidade desta nova criação? 35 ■ A Palavra converte-se em oração Bendito seja Deus, Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo, que na sua grande misericórdia nos gerou de novo para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, para um compromisso de uma boa consciência para com Deus pela ressurreição de Jesus Cristo. Ámen. (cf.1 Pe 1, 3-5; 3, 21) 36 Domingo de Páscoa Ambientação A Quaresma levou-nos à cruz onde Deus se revela de maneira totalmente extraordinária, ao revelar-se Deus crucificado, prova máxima do seu amor. A grande surpresa da Páscoa é a descoberta, a experiência dos (as) seus discípulos (as) que esse mesmo Crucificado está vivo, ressuscitado. A pedra da morte está removida (cf. Mc 16, 4) e os seus discípulos começam pouco a pouco a ter a certeza de que Ele está vivo. A PALAVRA DE HOJE: Actos 10, 34 a. 37-43 Colossenses 3, 1-4 Lucas 24, 13-35. ■ Comentário às leituras Quando nós, cristãos, nos reunimos ao Domingo, no Dia do Senhor para celebrar a Eucaristia, celebramos a presença do Senhor Crucificado e ressuscitado. “Celebramos Senhor a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição, vinde, Senhor Jesus! Todos os Domingos são Domingos de Páscoa. Assim rezamos cada Domingo: “Reunidos na vossa presença ao celebrarmos o primeiro dia da semana em que Nosso Senhor Jesus Cristo Ressuscitou dos mortos…” Nós cristãos nascemos da ressurreição do Senhor: fomos gerados e nascidos pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos (cf. 1 Pe 1, 3). 37 Lemos na primeira leitura que “Deus o ressuscitou ao terceiro dia e concedeulhe que se tornasse visível” (Act 10, 40). A nossa missão de cristãos é visibilizar, testemunhar a ressurreição de Cristo em toda a parte (cf. Act 1, 8). O Senhor ressuscitado não aparece com prepotência. Continua idêntico ao presépio e à cruz. Como Ressuscitado necessita da humildade e fragilidade das testemunhas, que por vezes também são crucificadas, para fazer chegar a luz libertadora da ressurreição, a nova criação. De notar que as primeiras testemunhas da ressurreição são as mulheres que nessa época não eram consideradas testemunhas válidas. O Domingo, o Dia do Senhor, tem origem na vida dos cristãos que se começaram a reunir e a celebrar a presença do Senhor. Daí a importância para não falharmos a este encontro dominical, mas não o façamos apenas por preceito; façamo-lo por identidade cristã. Os evangelhos do tempo pascal dizem respeito às aparições e ao discurso do pão da vida (Jo 6). As leituras são tiradas principalmente dos Actos dos Apóstolos e do Apocalipse. Olhando as leituras podemos dizer que é a vida dos cristãos que torna visível a ressurreição. As testemunhas iniciais daqueles que andaram e amaram Jesus são referência determinante. Esses discípulos e discípulas anunciaram com alegria e por toda a parte: “Ressuscitou”; “Ele é o Senhor”. (cf. Jo 20,18. 25; Jo 21,7; Lc 24, 34; Mc 16, 6; Act 2,24.36; 3,15;4,10-12). O caminho para nós hoje descobrirmos o Ressuscitado é o caminho da Eucaristia (Jo 6) ou seja o caminho de Emaús: Vida, Bíblia, Eucaristia (Comunidade) (cf. Lc 24, 13-35). O evangelho para a tarde deste domingo de Páscoa (Lc 24, 13-35) é uma catequese maravilhosa para mostrar como Jesus nos acompanha e nos ressuscita. Olhando o texto apresentamos um roteiro: 1 - Partir da VIDA levada a sério, “conversavam sobre todos estes acontecimentos (v.14); 2 - Deixar-se interpelar e esclarecer por um desconhecido… “o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles e perguntou-lhes: que palavras são essas que trocais de rosto tão sombrio enquanto ides caminhando? (vv-15-16) … Um deles pergunta-lhe: Tu és o único forasteiro que ignora os factos que aconteceram nestes dias…como os nossos chefes entregaram Jesus para ser condenado à morte e o crucificaram? 38 O desconhecido disse-lhes: insensatos e lentos de coração para crer… e explicou-lhes as Escrituras (BIBLIA) (cf. v.25-27). 3 – Acolher o desconhecido na casa e mesa: “Fica connosco, pois a tarde e o dia já declina” (COMUNIDADE) (v.29). E agora acontece a grande surpresa: na fracção do pão descobrem a luz da ressurreição: “então os seus olhos se abriram e o reconheceram; Ele porém ficou invisível diante deles.” (v. 31). 4 – Voltar ressuscitado à comunidade dos discípulos e discípulas que proclamam: “é verdade, o Senhor ressuscitou!” (v. 34) e eles por sua vez narraram os acontecimentos do caminho e como haviam reconhecido Jesus na fracção do pão (MISSÃO). O caminho de Emaús é o nosso caminho de Páscoa, onde, celebrando juntos a Eucaristia, nos ajudamos uns aos outros a descobrir a presença do Ressuscitado, contando a nossa vida na partilha de fé. A ressurreição não é comprovável como a crucifixão; está na esfera da fé, não é demonstrável empiricamente. ■ Perguntas para reflexão – A tua fé fundamenta-se num encontro pessoal com o Ressuscitado? – Se a ressurreição de Jesus é uma nova criação, um movimento de vida eterna (reino de Deus), que sinais estamos a ver que testemunham a ressurreição de Jesus e a nossa entrada nessa mesma ressurreição? – Como ser hoje missionário da Ressurreição? ■ A Palavra converte-se em oração Senhor Deus do Universo, que neste dia, pelo vosso Filho Unigénito, vencedor da morte, nos abristes as portas da eternidade, concedei-nos que, celebrando a solenidade da rRessurreição de Cristo, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos para a luz da vida. Ámen. 39 ANUNCIAMOS CRISTO CRUCIFICADO Subsídios para a Quaresma e Páscoa - Ano B Texto: Joaquim Domingos Luís e Manuel Abreu, svd Desenhos: Editorial Verbo Divino - Espanha Composição Gráfica: J. Leonel de Sousa, svd Impressão: Tadinense AG - Braga