Neuroplasticidade, sua compreensão para uma ação terapêutica Resumo A plasticidade nervosa não ocorre apenas em processos patológicos, mas assume funções no desenvolvimento normal do organismo. Podemos citar as importantes organizações das conexões nervosas que têm lugar durante o período embriológico e ontogenético do indivíduo, onde muitas dessas conexões não podem ser determinadas apenas por um programa genético e, mais tarde, no adulto, suas funções neuronais de adaptação dependerão de condições do ambiente. Assim, uma das primeiras formas de plasticidade nervosa é denominada de amadurecimento estímulodependente (fatores epigenéticos) do SNC. Uma segunda forma de plasticidade em um organismo normal é o processo de aprendizagem, no qual são considerados: o aprendizado motor inconsciente (automatismo) e o consciente (memória). Os dois processos baseiam-se em mecanismos fisiológicos semelhantes e constituem a base para uma organização normal do sistema nervoso, e para a reorganização após processos lesionais, que são direcionados por atividade neural e, por conseguinte, são influenciados através de estimulação periférica, uma vez que todas as percepções do nosso corpo e do meio que nos rodeia são captadas e conduzidas ao neuro-eixo através dos sistemas dos sentidos. Neste contexto ressaltamos o histórico, científico, do termo plasticidade como seu processo funcional, concluindo, portanto, que pensar em se treinar apenas e unicamente a região comprometida, estaria longe da verdade do desenvolvimento sensitivo-motor amplo e normal, e se o SN é um todo, devemos atentar para o paciente como tal, fornecendo dentro da cronologia e do grau de complexidade da organização neurológica as informações e estímulos adequados. Introdução O conceito de plasticidade não é único, embora seja antigo na literatura científica (Rosner, 1974), não existe teoria unificadora dos fenômenos neuroplásticos, as abordagens experimentais são múltiplas e os resultados muitas vezes conflitantes. Podemos considerá-la como a tendência do sistema nervoso a ajustar-se perante influências ambientais durante o desenvolvimento, e estabelecer ou restaurar funções desorganizadas por condições patológicas ou experimentais (Vital Durand, 1975). Dessa definição percebe-se o vínculo dos fenômenos plásticos com o desenvolvimento ontogenético do sistema nervoso, assim como com a capacidade de resposta compensatória frente a lesões e outras influências externas, daí a neuroplasticidade poder ser encarada sob vários ângulos, dependendo tanto da abordagem experimental que se fizer (morfológica, fisiológica, psicofísica, etc.), como de cada modo concreto de existência e expressão funcional do sistema nervoso (motricidade, percepção, linguagem, etc.). A partir do trabalho de Kennard (1942) consideram-se dotados de maior plasticidade os cérebros embrionários ou neonatos, em comparação com os cérebros de indivíduos maduros. A constatação da relativa perda de plasticidade do sistema nervoso de mamíferos adultos levou a um grande interesse pela relação entre os fenômenos plásticos e aqueles que determinam o desenvolvimento ontogenético normal do SN. Outro aspecto da neuroplasticidade provém dos trabalhos de alteração de propriedades fisiológicas d neurônios dos sistemas sensoriais, mediante a manipulação de condições ambientais (Blakemore & Cooper, 1970). No plano morfológico, inúmeros trabalhos de alterações celulares (Wiesel & Hubel, 1963; Guillery, 1974), dendríticas e principalmente axônicas (Schneider, 1977), têm sido descritos. Em tais estudos, várias teorias foram desenvolvidas para explicar como o SN submetido a lesões destrutivas, é capaz, em determinadas condições, de recuperar as funções anteriormente perdidas. Temos: · Teoria da Re-representação Hierárquica: criada por J. Hughlings Jackson, diz que cada grupo funcional do SN (a motricidade, por exemplo), estaria organizado verticalmente em níveis ascendentes de complexidade crescente. Assim, os níveis imediatamente inferiores a um sítio de lesão assumiriam, embora imperfeitamente. Esta teoria aplica-se bem aos sistemas motores, mas é relativamente fraca para explicar fenômenos plásticos nos sistemas sensoriais e funcionais superiores. · Teoria da Diásquise (Von Monakow, 1914): diz que uma lesão focal destrutiva do SN provocaria, além da perda funcional devida à região definitivamente destruída, teríamos uma espécie de choque ou depressão funcional (diásquise) em regiões relacionadas à zona de lesão. O déficit observado logo após a lesão dever-se-ia à associação dos sintomas devidos à destruição tissular com aqueles devidos à diásquise. Entretanto, esta desapareceria, voltando ao normal o funcionamento das regiões deprimidas. É interessante para explicar a evolução temporal do quadro clínico que sucede as transecções medulares (choque espinhal). Sharpless (1964) e Goldberger (1974) partindo de estudos descritos por Cannon (1939) explicaram tratar-se do fenômeno conhecido como hipersensibilidade de denervação; órgãos efetuadores ligados ao sistema nervoso autônomo quando denervados tornam-se menos específicos e mais sensíveis aos neurotransmissores e outros agentes químicos, após uma fase inicial de depressão funcional. · Doutrina de Substitucionismo: segundo Rosner (1974) essa teoria originou-se de Munk (1881) e Lashley (1938) – propõe que após a lesão outras regiões do SN assumem a função atingida, "substituindo" a região destruída, onde o fator mais importante que determinaria a evolução temporal dos déficits resultantes de lesões seria "a quantidade" de tecido atingido, logo, quanto menor a lesão, mais facilmente as regiões remanescentes poderiam assumir a função atingida ("mass action"), esta teoria também é conhecida como equipotencialidade. Hecaen (1975) defende a equipotencialidade hemisférica para a aquisição da linguagem, e Luria (1969) admite a possibilidade de "retreinamento" de outras regiões do SN após lesões destrutivas. · Reorganização Hodológica: defendida por Cajal (1928), com novos estudos de Lin e Chambers (1958), diz haver uma reorganização estrutural após lesões destrutivas devido à identificação de potenciais pré-sinápticos de maior amplitude, a ocorrência de brotamento colateral das fibras do SCN, onde não são os axônios lesados que "regeneram" e sim os poupados pela lesão, aumentando ou reorientando o telodentro de modo a ocupar o espaço terminal vago da lesão. Em alguns casos demonstrou-se que os axônios lesados são capazes de restabelecer a inervação de uma estrutura denervada, desde que esta se localize nas proximidades da lesão (Bernstein & Bernstein, 1971). No entanto, em nenhuma dessas ocasiões, pode-se demonstrar a funcionabilidade das novas conexões formadas, só em 1978 (Schneider) ocorreu a evidência que a reorganização hodológica de um cérebro lesado tinha conseqüências funcionais, ainda que mal adaptativas. Neste período surgiu uma visão geral acerca de quais mecanismos e fatores influiriam sobre a população de axônios em crescimento (ontogenético ou plástico), possibilitando o estabelecimento de uma via neural. Várias sugestões foram propostas, incluindo a orientação das fibras em crescimento segundo as linhas de força de campos elétricos, ou segundo as linhas de tensão mecânica provenientes do crescimento e dobraduras do tecido nervoso, ou ainda segundo gradientes químicos de substâncias capazes de "atrair" os cones de crescimento dos axônios. O mais provável é que todas as desempenham uma parte da função de orientar os axônios em crescimento em direção a seus alvos (Jacobson, 1970). Em segundo lugar, surge a pergunta de como se estabelecem as precisas relações topográficas entre a população pré-sináptica e os respectivos alvos pós-sinápticos. Neste caso, a postulação de alguns fatores que operam nesta construção do acoplamento deve-se a evidências obtidas de sistemas plásticos, como a competição pelos sítios pós-sinápticos, onde as duas populações de axônios em crescimento estabelecem interações competitivas pela "conquista" do espaço terminal disponível; "brotamento compensador", neste caso cada axônio possui um volume de arborização pré-terminal, quando uma parte dessa arborização é destruída, a perda é compensada por brotamentos que ocorrem em outros pontos do axônio; fatores mecânicos, pelos quais a disposição terminal dos axônios em crescimento pode ser desorganizada por distúrbios mecânicos do tecido-alvo (Schneider, 1973). Fica claro, o pressuposto de que os fenômenos plásticos decorrentes da lesão podem ser utilizados para explicar aqueles que ocorrem durante o desenvolvimento ontogenético normal. Estudos recentes dos mecanismos básicos da reorganização Sabemos que com a plasticidade neural podemos restabelecer a função da parte perdida e/ou injuriada, sendo os processos microscópicos que tomam parte da plasticidade neural: a) inibição prioritária das conexões imediatamente após a lesão; b) sprouting local tanto de axônios comprometidos quanto de axônios vizinhos, o que leva à formação de novas sinapses corretas e incorretas, este "mecanismo de reparação" ou brotamento de axônios ocorre principalmente nos nervos sensitivos-motores. Estudos recentes (Silva e colaboradores, 1985) mostram uma rápida regeneração da parte periférica do SN. Existe, após uma lesão, uma degeneração momentânea do coto distal do nervo, cujo contato com o corpo celular foi interrompido, enquanto a bainha de mielina nas redondezas e o envoltório do nervo permanecem conservados. Do coto proximal, que ainda está ligado ao corpo celular, vários prolongamentos delgados brotam e crescem para dentro da bainha de mielina, ocupando-a como um canal guia, para que possam encontrar novamente seu local final no músculo ou em órgão dos sentidos. No caso do nervo não ter sido totalmente comprimido ou distendido, o crescimento dos axônios ocorre ao longo das bainhas corretas de mielina. No caso de secção total do nervo, pode ocorrer um crescimento de axônios através de bainhas incorretas de mielina e, dessa forma, esses axônios podem encontrar alguns órgãos-alvo indesejados. O processo acima descrito é observado na periferia, já a nível central, em diferentes estruturas corticais e subcorticais, observa-se que o crescimento de células lesadas bem como a sua regeneração não ocorre tão facilmente quando se trata de longas distâncias. Na parte central do SN, estruturas de direcionamento (bainha de mielina) são organizadas de maneira complexa e heterogênea, o que poderia levar, em distâncias muito grandes, a um erro de contato. Aqui, também se observa tanto sprouting das células lesadas quanto das não-lesadas, mormente nas vizinhanças da lesão, o que significa que tanto os neurônios intactos do sistema funcional afetado quanto neurônios de outros sistemas estão envolvidos nesse processo. No núcleo rubro, fibras oriundas do córtex cerebral e do cerebelo fazem conexões. Caso as fibras do cerebelo sofram algum dano, as fibras provenientes do córtex sensitivo-motor crescerão e ocuparão os sítios sinápticos outrora ocupados pelas conexões cerebelo-rúbricas (Lund, 1978). Além das modificações observadas nas vizinhanças do local e novos contatos sinápticos, no que se refere ao número e tamanho de dendritos, observam-se também modificações da mesma ordem até na medula espinhal (Brown e colaboradores, 1979). A forma de plasticidade neural acima descrita ocorre nas áreas predominantemente sensitivas, mas também nas áreas predominantemente motoras. Como o córtex sensitivo, o córtex motor possui também uma organização correspondente às regiões do corpo e controlam a musculatura voluntária. Assim, como são observadas modificações das organizações topográficas da área sensitiva, observam-se também, analogamente, modificações nas representações motoras centrais (córtex motor). Após uma lesão periférica, constata-se que a estimulação da região cortical vinculada a essa periferia não consegue mais desencadear reações musculares. Decorridas, entretanto, algumas horas após a lesão, observam-se novamente reações motoras pós-estimulação da referida área cortical. Conclui-se que o córtex, que ficara sem função após a lesão, tenta, horas depois, ocupar-se do controle da musculatura vizinha. Não há estudos de como se altera a topografia do córtex motor após uma lesão central, levantam-se hipóteses de que essas alterações sejam análogas àquelas que ocorrem no córtex sensitivo. Fatores neurotróficos Os contatos entre axônios e seus órgãos-alvo são de crucial importância para a proliferação, migração, diferenciação, formação, estabelecimento e manutenção das conexões neurais (Hamburger & Levi-Montalcini, 1949). Ainda que se saiba que os programas genéticos possam direcionar os processos de desenvolvimento do SN, deve ser lembrado que as interações com o meio, mesmo no período embrionário, resultam em mudanças nas estruturas nervosas centrais e que a falta de certas interações podem alterar padrões normais de desenvolvimento. Sabemos que determinadas substâncias químicas produzidas pelos tecidos têm a capacidade d promover a divisão celular durante o desenvolvimento (fatores de crescimento), enquanto outras são essenciais para a sobrevivência de células nervosas (fatores neurotróficos = alimento), participando das interações entre os neurônios e seus alvos (outra célula nervosa, músculo estriado esquelético, cardíaco, músculo liso, tecido glandular e tecidos de revestimento). Detwiler (1936) observou que o implante em embriões de anfíbios, de um membro extra levava a um aumento do número de células nervosas nos gânglios espinhais, relacionadas com o novo território, e retirado causava diminuição no número desses neurônios, visto a influência periférica sobre territórios nervosos centrais, houve após alguns dias, uma hipertrofia na população neuronal final de motoneurônios. Hamburger e Rita Levi-Montalcini (1949) demonstraram que a morte de células nervosas é um fenômeno natural durante o desenvolvimento do SN, pois durante a formação deste, há inicialmente, uma produção excessiva de células nervosas que, gradativamente, começam a morrer; onde esta fase de morte neuronal coincide com a época em que os axônios começam a estabelecer contato com seus próprios órgãos-alvo. Sabe-se hoje que este processo de "superprodução" neuronal, seguido de morte celular, ocorre em todas as regiões do SNC e periférico (SNP), tendo sido denominada de morte neuronal natural (Oppenheim, 1981). Em colaboração com o bioquímico Seymor, Levi-Montalcini iniciou a purificação da substância química responsável pelo crescimento axonal, que passou a ser denominada fator de crescimento nervoso (NGF – "Nerve Grouth Factor"). Por volta dos anos 60, caracterizaram-se os alvos neuronais (neurônios responsivos) a esse fator, sendo: · neurônios simpáticos pós-ganglionares e neurônios sensitivos derivados da crista neural (estrutura embrionária que origina parte do SNP) · neurônios colinérgicos localizados no prosencéfalo basal (núcleos basal, septal e da estria terminal), que se projetam para o córtex cerebral. No final dos anos 80 conseguiu-se a clonagem do gene para o NGF, onde este pode ser obtido através de técnicas de DNA recombinante. Outra função do NGF é o processo de diferenciação de tecidos em desenvolvimento. Portanto, três papéis importantes são considerados em relação ao NGF: 1º) sobrevivência neuronal 2º) extensão de prolongamentos 3º) diferenciação de neurônios. O mecanismo básico de ação do NGF é ser produzido por células-alvo, ligando-se a receptores dos terminais axonais sendo internalizado e transportado até o corpo celular, onde participa da ativação metabólica neuronal. Essa ação é importante tanto na renovação das estruturas celulares como na sobrevivência celular, e em fenômenos plásticos. Evidentemente, a interrupção do transporte retrógrado desse fator bloqueia seu efeito, resultando na morte de neurônios dele dependentes. Em 1989, Leibrock e colaboradores descobriu um novo fator neurotrófico a partir de extratos cerebrais, denominado fator neurotrófico derivado de cérebro (BDNF – "Brain-derived Neurotrophic Factor"). Sendo que os neurônios responsivos a este, estão: · no núcleo do trato mesencefálico do trigêmeo, contendo neurônios que recebem informação de propriocepção de toda região orofacial e grande parte cranial; · no gânglio nodoso do nervo vago; · na retina (células ganglionares); · no mesencéfalo (neurônios dopaminérgicos); · no prosencéfalo basal (neurônios colinérgicos). Nota-se que BDNF tem seus neurônios responsivos projetando-se para o SNC, enquanto aqueles responsivos ao NGF se projetam para a periferia. O BDNF é produzido, no SNC, por células da glia e por neurônios, contrastando com o NGF que, na periferia, é produzido, em condições fisiológicas, somente por células-alvo, e por células de Schwann, após trauma de nervos. No início dos anos 90, um terceiro fator denominado de "Neurotrofina 3" (NT-3 – Neurotrophin3") foi estabelecido. No SNC, o NT-3 é produzido no hipocampo e cerebelo. Na periferia é encontrado em músculos estriados esqueléticos, paredes do tubo digestivo e no fígado. Outro fator neurotrófico é o ciliar (CNTF – "Ciliary Neurotrophic Factor"), onde sua fonte inicial é o tecido alvo sendo respectivamente sua produção pelas células de Schwann, quando há lesão de nervo periférico e seu alvo neurônios parassimpáticos do gânglio ciliar e neurônios motores somáticos da medula espinhal. Senrenbrenner (1993) classificou o "Fator de Crescimento de Fibroblastos" (FGF – Fibroblast Growht Factor), onde experimentos de FGF injetado no interior do globo ocular, imediatamente após a secção do nervo óptico de um animal. Após estes estudos sempre surge a pergunta: Por que esses fenômenos regenerativos do SNC, ocorridos em experimentos com animais, não são observados na prática clínica, no tratamento de doenças degenerativas ou traumáticas, tanto do SNP como do SNC? Quando ocorre lesão no tecido nervoso, quer seja traumática ou vascular, há morte imediata dos neurônios ali localizados. Aproximadamente quatro dias após o trauma, ocorre extensão da área primária de lesão, e neurônios localizados perifericamente relacionados com esta área lesada também degeneram. No local da lesão há intensa proliferação de células da glia (reativa), que formam um bloqueio que dificulta o crescimento dos axônios em regeneração em direção aos seus alvos originais. As fibras que permanecem intactas apresentam um brotamento ("sprouting") compensatório e ocupam os territórios sinápticos vagos, onde as fibras que não atingem seus alvos antigos acabam degenerando ou formando conexões não vistas antes da lesão. Portanto, quando comparamos os dados do desenvolvimento do SNC com dados obtidos após trauma, observamos uma seqüência semelhante, cuja primeira prioridade é isolar a área lesada com a formação de uma membrana pio-glial, completando-se a invasão de vasos no tecido nervoso, ocorre a formação de uma barreira hemato-encefálica e hemato-liquória, para isolar o parênquima nervoso do resto do sistema vascular. Após a formação dessas duas barreiras, os neurônios migram para seus lugares definitivos, devido a fatores tróficos e, por último, há neoformação de sinapses (sinaptogênese). É evidente que vários pesquisadores e empresas de biotecnologia continuam suas pesquisas sobre fatores tróficos no sentido de ofertar ao SN condições para uma reorganização e retomada das funções perdidas ou prejudicadas, principalmente em doenças causadas pela degeneração de motoneurônios da medula espinhal e tronco encefálico como ocorre na esclerose lateral amiotrófica. Contudo, já podemos concluir que a mudança daquele conceito de "sistema nervoso estagnado e imutável" muda, para um neuro-universo cada vez mais responsivo, dinâmico e plástico. Conclusão Tendo-se consciência que o principal ponto para a reorganização do SN é restabelecer as funções celulares dentro dos próprios campos e, para tal, dever-se-ia ter em mente o modelo do desenvolvimento (Niccholls, 1982) e seguir ou recapitular os movimentos mais primitivos e básicos, pois estaríamos utilizando a mesma "linguagem" na qual o SN aprende a decodificar as informações oriundas da periferia, para que ele possa processá-las, armazená-las e, integrá-las com outras áreas nervosas. Posner e Sedlmaier (1990), reforçam o conceito de que devemos ter como ponto de partida, do ponto de vista terapêutico, o decurso deste mesmo desenvolvimento ontogenético, no qual os estímulos sensitivo-motores devem ser conduzidos dos mais básicos e simples até que chegue, através do aumento progressivo no grau de dificuldades, a uma complexidade funcional maior. O terapeuta deveria ter como meta as seqüências cronológicas e funcionais específicas, atentar para o grau de dificuldades do paciente e sempre reforçar o que antecede à dificuldade, haja que o desenvolvimento sensitivo-motor ocorre simultaneamente com três processos, uma capacidade já existente é exercitada; uma função que já é dominada diferenciar-se-á e aperfeiçoar-se-á e uma nova tarefa será empreendida (conexão com as experiências de tentativa/erro – Stemme & Laage, 1990). Ainda que um processo plástico pós-traumático possibilite uma reorganização funcional permanente, essa restituição "aprendida" pode novamente perder-se caso ela não seja utilizada a longo prazo (Pöppel, 1978). Como conseqüência disto, vemos que parte da reabilitação de uma função, a freqüência, a duração e a intensidade de exercícios (Madison, 1991), e, principalmente, começar precocemente no sentido de se tentar evitar falhas maiores do desenvolvimento; tais condutas terapêuticas devem ser tomadas não somente em relação a pacientes lesados, mas também em relação a pacientes que apresentem disfunções menores (como atraso do desenvolvimento), ou mesmo para pacientes que tenham certas inadequações neurológicas (como, por exemplo, dislexia), ou ainda, integrações neuromusculares inadequadas (como, por exemplo, pacientes em respiradores bucais retrognatas). Referências bibliográficas Annunciato, N. F. (1994). O processo plástico do sistema nervoso – publicação Temas sobre o desenvolvimento. V.3, n. 17, p. 4 – 12. Annunciato, N. F. (1995). Participação dos fatores neurotróficos na regeneração do sistema nervoso. V.4, n. 23, p. 30 – 38. Da Silva, C. F. (1993). Tubos sintéticos para a regeneração de nervos. Ciência Hoje. V.16, p. 85 – 6. Da Silva, C. F.; Lima, G. M. C. A. & Trezena, A. G. (1990). Local administration of interleukin-1 increases sensory neuron regeneration "in vivo". Braz. J. Méd. Biol. Res. V23, p. 981 – 4. Glece Ramos Rodrigues Graduada em Fisioterapia Pós Graduada em Docência Superior e Educação Psicomotora Professora do Curso de Fisioterapia do I.B.M.R.