7 LUTAS E CONTRADIÇÕES ENFRENTADAS PELOS ÍNDIOS XAVANTE EM BUSCA DA EDUCAÇÃO NA CIDADE DE BARRA DO GARÇAS MT. Cristiani Aparecida Brito Silva Irineu Galego Dias Júnior2 Lígia Martins Barbosa Galego Dias3 Marta Regina Gonçalves4 RESUMO Refere-se a um estudo sobre as dificuldades e contradições enfrentadas pelo índio Xavante na busca do ensino superior. As políticas públicas de educação direcionam uma educação diferenciada e intercultural, porém, o que encontramos é uma realidade contraditória onde enfrenta problemas na inserção social, luta pela subsistência e subsídios para a conclusão dos estudos. Faltam políticas públicas e sociais que venham de encontro com as reais necessidades do povo Xavante. O Serviço Social juntamente com gestores devem apresentar propostas diferenciadas para que ocorram mudanças nos meios e condições para o desenvolvimento intelectual. Palavras-chave: Educação, Políticas Públicas, Índios Xavante. ABSTRACT Refers to a study on the difficulties and contraictions faced by the Xavante Indian in pursuit of higher education. Public policies of education directs a differentiated and interculturaleducation, but what we find is a contradictory realitywhich faces problems in social integration, the struggle for subsistence allowances for completion of studies. Insifficiente public and social policies that come from meeting the real needs of the Xavante people. Socil work with differente managers must submit proposals for changes to occur in the means and conditions for intellectual developmente. Keywords: Education, Public Policy, Xavante Indians Bacharel em Serviço Social pelo UNILINS - Centro Universitário de Lins, Especialista em Saúde Pública pela Faculdade Montes Belos. Docente no Curso de Serviço Social na UNIVAR - Faculdades Unidas do Vale do Araguaia E-mail: [email protected]. 2 Acadêmico do Curso de Serviço Social/2011 da UNIVAR – Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. Trabalho. E-mail: [email protected]. 3 Acadêmica do Curso de Serviço Social/2011 da UNIVAR – Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. Trabalho. E-mail: [email protected]. 4 Acadêmica do Curso de Serviço Social/2011 da UNIVAR – Faculdades Unidas do Vale do Araguaia.. E-mail: [email protected]. 1. INTRODUÇÃO A história da educação escolar indígena no Brasil tem seu início nos primeiros tempos da colonização. Desde 1500 foi tirado dos índios o direito de viver em liberdade como viviam seus ancestrais, sendo obrigados a viver de forma diferente aos seus costumes, a partir do contato das sociedades indígenas com os colonizadores que introduziram a educação. Segundo Meliá, “pressupõe-se que os índios não têm educação, porque não tem a nossa cultura’’(MELIÁ, 1979, p. 9). Esta afirmação direciona algo totalmente discriminatório que vem se arrastando ao longo da história, pois eles possuem uma cultura, uma língua que constroem sua identidade. O Estado deve adequar suas políticas públicas ao contexto da cultura diferenciada existente nas comunidades indígenas, tendo o índio como sujeito de direitos, e deve ser encarado pelo Estado com plena afirmação de sua identidade intelectual e cultural. On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X Nenhuma etnia é superior à outra, e por isso todo cidadão deve ser respeitado na sua totalidade, atendendo suas particularidades, especificidades, credos e costumes. O homem branco busca, desde o processo de colonização, formas de “civilizar” o índio inserindo em seus projetos escolares a educação que pensam ser necessária e verdadeira. Historicamente, algumas conquistas já foram alcançadas no âmbito legal. A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, assegura as comunidades indígenas o respeito à diferença étnica, a sua proteção e valorização, significando que o órgão indigenista federal deve assumir uma nova feição. Sendo implantadas diretrizes e bases para uma Política Nacional de Educação Indígena (PNEI), elaborado pelo Ministério da Educação (MEC). Esse modelo tem por finalidade implantar o ensino de acordo com cada grupo étnico. É um documento dirigido aos professores indígenas, técnicos dos sistemas de ensino, pesquisadores e assessores que desenvolvem atividades com as escolas indígenas em Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) n.º 6 p. 263 - 268 8 todo país, abordando a história da educação escolar indígena no Brasil. Neste trabalho pretende-se compreender e analisar o contexto da educação de ensino do povo Xavante no município de Barra do Garças, estado de Mato Grosso, a partir da compreensão da totalidade, atendendo as particularidades e especificidades, e sua história, obtendo insumos para elaborar políticas públicas na área de educação visando a capacitação e qualificação intelectual do índio Xavante. 2. POLÍTICAS DE DIREITO A lei 6.001 de 19 de dezembro de 1973, que dispõe sobre o Estatuto do Índio, esclarece os direitos pertinentes aos povos indígenas. Em seu artigo 1º determina a regulação de sua situação jurídica, de suas comunidades tendo a finalidade de preservar sua cultura e integrá-los a comunidade nacional (BRASIL, 1973). No artigo 2º estabelece a responsabilidade à União, aos Estados e aos Municípios, e também aos órgãos defensores dos indígenas a preservação dos seus direitos, e no parágrafo VIII a cooperação da sociedade tendo em vista a dar condições de integração social para que o indígena possa se desenvolver em todos os aspectos e ter os seus direitos garantidos de fato (BRASIL, 1973). De acordo com o artigo 205 da Constituição Federal de 1988 a educação é direito de todos e dever do Estado. Será promovida e incentivada visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, devendo-se exigir à prática educativa e igualitária, para que todos tenham condições necessárias para buscarem sua formação, desenvolvendo assim a liberdade de apreender, ensinar, pesquisar e divulgar os pensamentos a arte e o saber (BRASIL, 1988). Biasi (2002) destaca as conquistas sociais garantidas na Constituição Federal de 1988, que, porém, aponta para a ausência de políticas públicas na área de educação que de fato direcionam, e garantam o direito à educação que atendam as particularidades da população indígena. É preciso esforço para compreender as contradições que aborda entre os direitos constitucionais garantidos aos povos indígenas, e os problemas decorrentes de condicionamentos históricos e culturais, presentes na sociedade não-indígena, que dificultam à implantação e implementação de políticas públicas que estejam de acordo com as exigências legais e que sejam adequadas as comunidades indígenas (BIASI, 2002). Não encontramos um maior número de ações afirmativas nas regiões em que a indígena é numericamente superior. Isto parece seguir a realidade do que poderíamos chamar um tanto livremente de lógica da “distribuição regional do preconceito”, pela qual quanto maior a população indígena, On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X maior a quantidade de terras e que têm direito, mais intensos são os preconceitos e mais lhe são vedados os acessos a outros direitos (CAJUEIRO, 2008, p.06). Todos os direitos que são garantidos por lei aos indígenas se não forem colocados em prática de nada adianta, pois vão continuar sofrendo com o descaso. [...] A diferença étnica deve ser respeitada, protegida e valorizada, mas nunca tutelada. Significa que o órgão indigenista federal deve assumir uma nova feição a partir do texto constitucional de 1988, significa que o Estado deve adequar suas políticas públicas ao contexto da cultura diferenciada existente nas comunidades indígenas. Significa que o índio, sujeito de direitos, deve ser encarado de outro modo pelo Estado, com afirmação plena de sua identidade e capacidade, (BIASI, 2002, p. 08). É preciso ser priorizado a cultura local, seus saberes, sua organização social e sua visão de mundo, conhecer a realidade, pois cada etnia tem sua própria identidade e com isso, antes de qualquer influência da cultura dominante, é preciso respeitar a diversidade linguística e cultural de cada povo, propiciando meios de troca de saberes entre índios e não-índios (JUNIOR, 2006). Uma compreensão da realidade social inclui a identificação das necessidades e a detecção dos problemas prioritários e respectivas causalidades, bem como dos recursos e potencialidades locais, que constituem reais oportunidades de desenvolvimento, não sendo diferente à população indígena. Nesse processo, é necessário que o “Direito das Minorias” seja compreendido pela sociedade não índia, de forma a proporcionar uma convivência em torno de uma aliança democrática em defesa desses direitos. O índio Xavante é taxado como “preguiçoso”, pela maior parte da sociedade barragarsense, porém não lhes são relatados a historicidade de todas as lutas e confrontos, a forma como foram expulsos do seu habitat por não se sujeitarem a escravidão colonial imposta pelos nossos colonizadores (SIQUEIRA, 2005). O mundo pós-moderno apresenta um ideal de pureza onde tudo aquilo que esteja fora da “ordem” deve ser banido do convívio, sendo algo “sujo” e “impuro”. Onde “ordem”, significa um meio regular e estável para os nossos atos; um mundo em que as probabilidades dos acontecimentos não estejam distribuídas ao acaso, mas arrumadas numa hierarquia estrita, na visão do autor a sujeira deve ser mantida longe. (BAUMAN, 1998). O processo de ensinar e aprender indígena corresponde à experiência histórica que da a vida um sentido dialético transformador da experiência comunitária, fazendo, por exemplo, da resistência, da sabedoria e da paciência uma maneira de interpretar e responder ante a injustiça e a exploração sofrida ao longo dos tempos. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) n.º 6 p. 263 - 268 9 3. AVANÇOS E RETROCESSOS NA EDUCAÇÃO XAVANTE Segundo a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) de Barra do Garças/MT, no último levantamento em 2010 na reserva indígena São Marcos, direcionou que a população é de 545 indígenas na aldeia São Marcos, 131 indígenas na aldeia Nossa Senhora das Graças e 128 indígenas na aldeia Nazaré, faltando à contagem das aldeias de Namunkúrá e Guadalupe. O número da população Xavante tem aumentado, em relação à contagem realizada pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) em 2006. A população é de aproximadamente três mil indígenas. Essas aldeias possuem atualmente seis escolas de ensino fundamental e ensino médio, onde quem assume a direção e o planejamento é a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SEDUC). A pesquisa mostra que para concluírem seus estudos eles não têm outra forma a não ser recorrerem à cidade em busca de uma formação de nível superior. O ensino na aldeia Xavante direciona um certo desrespeito com educação. Inúmeros são os professores com apenas o ensino fundamental ou médio e assumem as salas de aulas nas escolas municipais existentes nestas aldeias, não contemplando o direito igualitário à educação de qualidade, enfatizada na legislação brasileira. Segundo Kelly Russo é “preciso acrescentar que ninguém desta comunidade escolar participou de cursos de formação docente ou de administração escolar, constando apenas sua integração em pequenos cursos de capacitação docente, oferecidos de modo irregular”. (RUSSO, 2005). Essa realidade apresentada pela autora, não é diferente da realidade vivenciada pela escola indígena municipal situada na reserva indígena de São Marcos do município de Barra do Garças/MT. Na aldeia Nossa Senhora das Graças apresenta os mesmos problemas em relação à formação e qualificação de seus professores, pois muitos dos que lecionam nas aldeias, não possuem o ensino fundamental concluído, e outros que iniciaram o ensino superior acabaram sem a conclusão do mesmo. A realidade em Barra do Garças/MT não atende o que preconiza o MEC na sua totalidade. Houve a construção da Escola Municipal na reserva indígena São Marcos, aldeia Nossa Senhora das Graças, priorizando a cultura indígena atendendo as crenças e valores do Xavante, pois seu formato de tatu mostra a garra e a força do povo Xavante. Apontada para o leste, ilumina a mente, local que concentra toda sabedoria humana. Sobretudo as condições da biblioteca, hoje são precárias, sem mobília adequada para organizar os poucos livros existentes, contradizendo o MEC, que em seu compromisso com a educação, deve incentivar e financiar, por meio do Fundo Nacional de Educação (FNDE) o desenvolvimento de cursos de formação e aperfeiçoamento de professores indígenas atuantes na Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio) nas terras indígenas. As escolas municipais que estão On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X inseridas dentro da reserva indígena São Marcos vivenciam certo descaso por parte da gestão pública. Os alunos improvisam as carteiras, não oferecerem condições dignas aos alunos da rede municipal na reserva indígena. A cada dia, a educação tem obedecido à lógica capitalista e preconceituosa. Nesse sentido, as políticas públicas na área de educação são voltadas para escolas existentes no perímetro urbano de Barra do Graças/MT, enfatizando que o poder público dos três entes federativos (Federal, Estadual e Municipal), não atende de forma ampla, eficaz e eficiente, as necessidades da população indígena, e em especial do povo Xavante, nos aspectos físicos, humanos e financeiros, pertinentes a uma sala de aula e de todos os espaços necessários para desenvolver o processo educacional. Em abril de 2011 ocorreu em Barra do Garças/MT, o Encontro de Gestores e Representantes das Escolas Estaduais no âmbito do Território etnoeducacional A’ uwê Uptabi (TEEAU), na língua Xavante “O povo verdadeiro”. Foram discutidos pelos líderes indígenas e a direção da SEDUC – Secretária de Educação e Cultura do Estado de Mato Grosso, os planos de aulas do povo Xavante a serem elencados no Plano Plurianual, de forma participativa da população usuária, profissionais da área e do poder público e privado, enfatizando as particularidades e especificidades dos alunos indígenas do município de Barra do Garças/MT. O encontro de gestores ocorrido em Barra do Garças/MT retrata o modelo sugerido pela Constituição Federal Brasileira em vigor, onde direciona em todos os segmentos, a participação popular e controle social de todos os serviços, juntamente com os elaboradores e executores das políticas sociais. Foram relatadas as dificuldades vivenciadas por professores e alunos em todos os aspectos: infraestrutura física, humana e financeira, não proporcionando uma educação de qualidade, e dos empecilhos encontrados pelos alunos indígenas que vão à busca de formação inexistente na aldeia, e se vêem sem condições biopsicossociais para enfrentar todos os aspectos existentes fora da aldeia: preconceito, choque cultural, desrespeito, sentimento de inferioridade do não índio, entre outros. Podemos observar a importância da participação dos indígenas, pelo fato de que são conhecedores da cultura e sabem o que é melhor para o seu povo. Um exemplo disso é o fato de que para o Xavante não há necessidade de terem férias nos períodos do não-índio, em julho e dezembro, por exemplo, para eles todos seus rituais e festividades é uma maneira de ensino e aprendizado, não se retendo apenas ao pouco tempo dentro de sala de aula. Segundo as diretrizes do Ministério da Educação (MEC), retrata que “a liberdade de decisão quanto ao calendário escolar, à pedagogia, aos objetivos, aos conteúdos, aos espaços e momentos utilizados para educação escolarizada”. (BRASIL, MEC 1998, p. 24). Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) n.º 6 p. 263 - 268 10 4. ACESSO DO ENSINO POPULAÇÃO XAVANTE SUPERIOR À Ao questionar os índios Xavante que estão cursando o ensino superior na cidade de Barra do Garças/MT, podemos verificar que suas dificuldades estão relacionadas à moradia, alimentação e inserção no mercado de trabalho, crendo eles que por serem indígenas acabam sofrendo preconceito e discriminação por parte dos não índios. As políticas públicas que são direcionadas à educação aos indígenas no município de Barra do Garças/MT têm altos índices que denotam as condições claramente discriminatórias em relação aos padrões e serviços da população em geral. As dificuldades apresentadas pelos índios Xavante de arcarem com as despesas de subsistência e mensalidades no ensino superior nas instituições de ensino superior privadas, já que em decorrência da qualidade do ensino fundamental e médio apresentam dificuldade de pleitearem vaga no ensino superior público, enfrenta as mesmas dificuldades dos que já desistiram no passado. O professor e docente na aldeia São Marcos, o Prof. Cristovão Tserero`odi Tsãrãpré, formado em filosofia na Universidade Católica Dom Bosco em Campo Grande/MS, relata ser três as principais dificuldades dos alunos indígenas que buscam uma formação de nível superior na cidade de Barra do Garças/MT, [...] primeiro a falta de habitação para os jovens; segundo falta de recursos para a alimentação; e em terceiro que os pais não conseguem pagar as mensalidades das faculdades particulares, e ainda manterem seus filhos na cidade, pois além da mensalidade e gasto com a alimentação dos jovens, esses pais tem que sustentarem suas famílias na aldeia e por os jovens, devido a sua cultura, constituem família precocemente, tendo que arcar com as despesas de sua família. Outro fator levantado é o convívio social para a conclusão de seus estudos, devido à discriminação e preconceitos. Os índios Xavante acusam a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, de não dar importância a essa causa e não terem políticas públicas que amparem esses jovens na cidade. Pois assim podemos ver que a garantia de direitos sociais básicos e originários, o respeito à diversidade cultural sua capacidade política plena e o direito a cidadania diferenciada são como requisitos básicos na construção de políticas públicas as comunidades indígenas tem ocorrido com os povos indígenas da etnia Xavante em Barra do Garças/MT (BIASE, 2002). Nessas circunstâncias é preciso ser modificada a forma de atuação no que tange a conscientização, tanto dos gestores quanto da população, de que índio possui direitos estabelecidos, devendo assim ser On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X garantidos, para que haja apreço a cultura indígena, favorecendo condições de aprendizado e de autoestima aos indígenas que buscam a cidade para concluírem seus estudos na busca de uma vida plena, digna e de igualdade. Em relação a todos os atos preconceituosos sofridos por eles, a pesquisa mostra que pela falta de políticas públicas, na área da educação, que dê condições de moradia e sobrevivência em nossa cidade, os indígenas acabam por retornarem para a aldeia sem dar continuidade a seus estudos. 5. SERVIÇO XAVANTE SOCIAL NA EDUCAÇÃO Por terem direitos garantidos constitucionalmente e de fato não serem cumpridos, pode-se avaliar que é necessária a inserção de profissionais do Serviço Social na garantia de direitos e a criação de políticas públicas diferenciadas que venha dar condições básicas aos indígenas que vem buscar na cidade uma formação, e aos que estão estudando nas escolas municipais inseridas nas aldeias. O trabalho do assistente social visa Dar conta das particularidades das múltiplas expressões da questão social na história da sociedade brasileira é explicar os processos sociais que as produzem e reproduzem e como são experimentadas pelos sujeitos sociais que as vivenciam em suas relações sociais quotidianas. É nesse campo que se dá o trabalho do Assistente Social, devendo apreender como a questão social em múltiplas expressões é experienciada pelos sujeitos em suas vidas quotidianas (IAMAMOTO, 2009, 62). Para que haja mudança na situação vivenciada pelos indígenas Xavante, que buscam transpor as barreiras impostas pela sociedade, é preciso que os profissionais do Serviço Social e gestores voltem-se para essa realidade e assim venham promover políticas públicas que de fato atendam a realidade, dando condições a esses jovens de concluírem seus estudos, pois só assim a educação indígena passará a se concretizar de fato. Compreender a posição que a dimensão instrumental da intervenção profissional ocupa na prática do assistente social exigiu a adoção de referências teóricometodológicas, procedimentos analíticos, categorias intelectuais que extrapolam o âmbito do Serviço Social, bem como das racionalidades subjacentes às formas de ser e pensar a profissão. (GUERRA, 2007:14). Não bastam debates e leis se não forem colocadas em prática. Os povos indígenas precisam falar e serem ouvidos. Somente a partir das exposições de suas ideias é que poderá esboçar uma política educacional que atendam suas particularidades e especificidades. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) n.º 6 p. 263 - 268 11 Nesse sentido, mudança por melhores condições de vida dos índios Xavante só irá acontecer com a consciência da população não índia deixando de lado o manto que cobre sua ideologia preconceituosa, e passar a ver as diversidades culturais como algo enriquecedor para a cultura dominante. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação tem ficado distante aos olhos de muitos indígenas que recorrem à cidade para concluírem seus estudos. Apesar da Constituição Federal brasileira e das legislações estaduais e municipais reconhecerem os direitos aos povos indígenas, ainda há muito que se fazer na prática em relação a todas as etnias de culturas diferentes. Não basta a lei prever ou garantir à posse dos territórios, de educação, de direitos a saúde, entre outros, mas é preciso ações que concretizem o que é dito e de direito. Nesse sentido, tanto a população quanto os gestores das políticas públicas e sociais na área de educação de todo o país, e em especial, do município de Barra do Garças/MT, devem ter o conhecimento da cultura, princípios, valores, crenças para não elaborarem estratégias de ações no plano de ensino, que não corresponda com o perfil do seu aluno, consequentemente não desenvolvendo as potencialidades de cada grupo, etnia, a partir da sua forma de se relacionar com o mundo. Diante deste cenário de luta, os indígenas buscam sua inclusão social para concluírem seus estudos na cidade de Barra do Garças/MT, onde se pode através de mudanças de consciência por parte dos Assistentes Sociais, gestores e administradores, construir políticas públicas que verdadeiramente venham atender as necessidades indígenas. No que tange a população Xavante, representada nesse estudo, constata-se que estão conscientes da necessidade de reconstrução de novas políticas que atendam suas reais necessidades. Afirmam estarem avançando nesse processo de forma gradual, percebe-se uma maior conscientização e mobilização dos professores e lideranças indígenas ao buscar junto às autoridades, profissionais e órgãos públicos, apoio para viabilizarem seus projetos. O Assistente Social desempenhariam um papel fundamental, através do planejamento e direcionamento de suas ações, precisam efetivar seu trabalho vinculado a esta perspectiva. Através de seu trabalho, poderão visar à elaboração de políticas diferenciadas, para que não mais permitam aos indígenas que buscam sua formação na cidade se traduza em desigualdades ou até mesmo em exclusão social e econômica. Por fim, é importante que os profissionais do Serviço Social tenham consciência da realidade indígena e busquem construir políticas sociais diferenciadas para atenderem a esses indígenas que buscam concluir seus estudos em nosso município, respeitando os direitos humanos fundamentais, garantidos aos indígenas para que possa se construir On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X uma sociedade mais justa e igualitária independente de qual for à etnia. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pósmodernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Com as alterações adotadas pelas emendas constitucionais nº. 1/92 a 56/2007 e pelas emendas constitucionais nº 1 a 6/94. ________. LEI Nº. 6.001 - DE 19 DE DEZEMBRO DE 1973. Dispõe sobre o Estatuto do Índio. ________. MEC. Referencial curricular nacional para as escolas indígenas. Brasília: MEC/SEF, 1998. BIASI. M. F. A Política Estadual de Assistência Social. Lúcio Roberto Schwingel (org) “POVOS INDÍGENAS E POLÍTICAS PÚBLICAS DA ASSISTENCIA SOCIAL NO RIO GRANDE DO SUL” Subsídios para a construção de políticas públicas diferenciadas às Comunidades Kaingang e Guarani. Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social – STCAS Estado do Rio Grande do Sul, ano 2002. Porto Alegre/RS: 2002, v., p. 37-40. BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. BRASIL/ FUNASA. Medidas Provisórias> Disponível em:<http:funasa.gov.br/internet/ medidas Prov.asp>. Acesso em: 06 nov. 2010. CAJUEIRO, Rodrigo. 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