Genor Menegotto - Melhoramento genético do pêssego - IFRS

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
CAMPUS BENTO GONÇALVES
GENOR MENEGOTTO
MELHORAMENTO GENÉTICO DO PÊSSEGO
Bento Gonçalves, RS
2011
GENOR MENEGOTTO
TRABALHO DE CONCLUSÀO DO CURSO
MELHORAMENTO GENÉTICO DO PÊSSEGO
Trabalho de conclusão do Curso Superior de
Tecnologia em Horticultura, pelo Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia do
Rio Grande do Sul Campus Bento Gonçalves.
Realizado no CRA-FRF Consiglio per la
Ricerca e la Esperementazione in Agricoltura
(Conselho da Pesquisa e Melhoramento da
Agricultura) unidade da fruticultura de FORLÌ
na Itália.
Prof. Orientador: Dr. Marco Fogaça
Prof. Supervisor: Dr. Gianluca Baruzzi
Bento Gonçalves, RS
2011
“O amor e a paixão não anseiam pela
aposentadoria, porque são eternamente
jovens.” – Ivete Todeschini Menegotto.
AGRADECIMENTOS
Tenho de agradecer a muitas pessoas pela ajuda.
Primeiro a minha filha Emanuela que me incentivou voltar aos bancos escolares.
A minha doce esposa por me amar sempre.
Ao Antoniel pela vigília.
Ao meu filho Emanuel e Juçara pelo incentivo silencioso.
Aos doutores do “Consiglio per la Ricerca della Agricoltura” CRA, na Itália.
Aos meus colegas.
Aos meus Mestres.
Ao Deus que sempre acreditei!
RESUMO
O pêssego é uma fruta milenar. O estudo científico ao longo do tempo foi se
desenvolvendo e expandindo. Novas técnicas de produção sempre foram estudadas.
No estágio de três meses, em Forlì, na região da Emília Romagna, Itália, no Instituto
de Pesquisa, CRA, desenvolveu-se um trabalho de pesquisa e melhoramento genético do
pêssego, junto com doutores, relatados no presente trabalho. Nesta pesquisa foi desenvolvido
um trabalho de mutação ordenada de pessegueiros. Foram observadas diferentes fases no
processo de melhoramento. Desde a coleta do pólen, amadurecimento e preparação para a
polinização em plantas selecionadas, obtendo cruzamentos planejados. Desses cruzamentos
buscamos alterações dos frutos e das plantas para obter melhor adequação na produção, na
qualidade e exigência do mercado consumidor.
O pêssego é um fruto de clima temperado e muito sensível as variações climáticas, por
isso, só é produzido em pequenas faixas do Hemisfério Norte e Hemisfério Sul. Neste sentido
os estudos também são voltados à adaptação do clima e suas exigências, na alteração do seu
desenvolvimento mais precoce ou tardio. Neste contexto, fruto e planta, foram estudados nas
diversas variáveis oportunizando a melhor condição para a produção, favorecendo ao produtor
e consumidor.
Palavra chave: Prumus pérsica; sistema de condução; cruzamento; pólen.
ABSTRACT
The peach is a fruit of centuries. The scientific study over time was evolving and expanding.
New
production
techniques
have
always
been
studied.
In the three-month internship in Forlì, in Emilia Romagna region of Italy, Research Institute,
CRA has developed into a research and genetic improvement of peach, along with doctors,
reported in this paper. In this research work has ordered mutation of peach trees. We observed
different stages in the process of improvement. From the collection of pollen maturation and
preparation for pollination in selected plants, obtaining crossings planned. These crossings
seek changes in fruits and plants better suited for the production, quality and demand of the
consumer market.
The peach is a fruit of temperate and very sensitive to climatic variations, so it is only
produced in small bands in the Northern Hemisphere and Southern Hemisphere this sense the
research is also focused on climate adaptation and its requirements, the change in their
developing early or late. In this context, the fruit and plant, were studied in several variables
opportunity to the best condition for the production, favoring the producer and consumer.
Keyword: Prumus Persian; conduction system; crossing; pollen.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura
1: Frutos de pêssego (Prumus pérsivo) em uma brindila na fase final de
maturação. ...........................................................................................................11
Figura
2: Produção mundial de pêssego e sua distribuição. ...........................................13
Figura
3: Principais países produtores de pêssego a nível mundial................................14
Figura
4: Planta mãe selecionada para o cruzamento(A), após o processo de
castração(B).........................................................................................................18
Figura
5: Pinça para castrar (A) com detalhe do corte (B) efetuado nas flores..............18
Figura
6: Detalhes das gemas cortadas com pólen. (observa-se polpa amarela)............19
Figura
7: Placas de Petri de pólen colhido à luz em fase de amadurecimento. ..............20
Figura
8: Placas de Petri de pólen, maturações diferentes, amarelo está amadurecido..20
Figura
9:
Proveta
de
acondicionamento
do
pólen
após
ter
passado
pelo
amadurecimento. .................................................................................................21
Figura
10: Processo de polinização manual das plantas castrada...................................21
Figura
11: Planta com produção de pêssego tipo prato aspectos da produção. ..............22
Figura
12: Detalhe da ponta achatada que originou o tipo prato e facilita o
acondicionamento sem machucar........................................................................22
Figura
13: Caroço/Semente do pêssego Cultivar Vila-Nova..........................................23
Figura
14: Canteiro de um (semensal), plantas novas de pêssego para retirada de ramos
das novas varietais...............................................................................................24
Figura
15: Varietal Crizia-2............................................................................................25
Figura
16: Varietal Bea – 2.............................................................................................25
Figura
17: Forma de condução em vasetto (vaso) baixo. ...............................................26
Figura
18: Sistema de condução de plantas de pêssego em vaso utilizado na região
norte da Itália......................................................................................................27
Figura
19: Sistema de condução fuzeto mais utilizada na Itália com telas anti-granizo.27
Figura
20: Sistema de condução de plantas de pêssego em palma, utilizado na Itália..28
Figura
21: Sistema de condução de plantas de pêssego em candelabro, utilizado na
Itália.....................................................................................................................28
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................9
2. ORIGEM DO PÊSSEGO................................................................................................10
2.1 História ..................................................................................................................10
2.2 Características e Composição Nutricional.............................................................11
2.3 Cultivo do Pessegueiro ..........................................................................................12
2.4 Impacto Econômico e Social da Produção de Pêssego no Rio Grande do Sul......14
3. MELHORAMENTO GENÉTICO DO PÊSSEGO.........................................................17
3.1 Porta Enxerto .........................................................................................................25
3.2 Sistema de Condução.............................................................................................26
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................30
9
1.
INTRODUÇÃO
Este relatório objetiva a conclusão do estágio de 450 horas realizado no período de 28
de fevereiro de 2011 a 01 de junho de 2011 no CRA-FRF Consiglio per la Ricerca e La
Esperimentazione in Agricoltura unidade da fruticultura, localizada em Forlì na região da
Emilia Romagna Itália.
O estágio foi supervisionado pelo Dr. Gianluca Baruzzi, e os Drs. Daniela
Giovannini, Marco Bergamasqui, Marco Castagniolli, tendo como orientador o professor
Marco Fogaça, do Curso Superior de Tecnologia em Horticultura do IFRS – campus Bento
Gonçalves.
Durante o período de estágio, foi realizado trabalhos na área da fruticultura nos
laboratórios de pesquisa e pomares de pêssego, ameixa, damasco, maçã e morangos.
Em busca das realidades globalizadas, das técnicas de produção e melhoramento das
varietais frutícolas numa integração entre Brasil e Itália, com o objetivo de obter maiores
conhecimentos e ganhos para nossa horticultura.
Neste estágio foi visto um panorama de produção dos frutos, da região de maior
importância na produção de frutas da Itália principalmente pêssego e morango.
Como se pode observar o consumo de frutas no mercado europeu é muito mais
elevado que no mercado brasileiro, pois existe um estimulo do próprio governo através de
publicidade com o intuito de promover a saúde populacional.
A premissa de todo o desenvolvimento da horticultura, está no início da sua produção,
ou seja, na sanidade desde o seu berçário, por este motivo a atividade de produção mudas na
comunidade européia é muito sério, e regido por rigoroso controle com duras leis a serem
compridas para o exercício da atividade.
A legislação que regulamenta a produção e a comercialização dos materiais de
propagação vegetal foi enriquecido nos últimos anos, com novos instrumentos que regem os
diferentes aspectos, com o objetivo de colocar a disposição um processo produtivo, para o
usuário final, com condições específicas de saúde e de variedades. O cumprimento destes
requisitos exige uma "aplicação rigorosa das normas em todos os níveis da atividade
viveiristica (pelos organismos de supervisão da agricultura). A evolução das leis que regem o
setor tem visto um desenvolvimento simultâneo de técnicas disponíveis para o uso de
matérias primas e controles em diferentes níveis da produção e propagação vegetal.
10
2.
ORIGEM DO PÊSSEGO
2.1
História
Embora o nome botânico Prunus persica sugere que o pêssego é nativo da Pérsia,
(Figura 1), na verdade se originou na China, onde foram cultivadas desde os primórdios da
cultura chinesa. As frutas foram mencionadas nos escritos chineses (Sachs & Campos 1998).
Recentemente, a história da cultura do pêssego na China tem sido extensivamente
revisto citando numerosos manuscritos originais que datam de 1100 ac (Wikipedia, 2011).
O pêssego foi trazido para a Índia e da Ásia Ocidental, nos tempos antigos.
Alexandre, o Grande introduziu a fruta para a Europa depois de ter vencido os persas. Em
seguida, ele foi trazido para a América por exploradores espanhóis.
No Brasil, segundo relatos históricos, o pessegueiro foi introduzido em 1532 por
Martim Afonso de Souza, por meio de mudas trazidas da Ilha da Madeira e plantadas em São
Vicente no atual estado de São Paulo (Embrapa, 2011).
O horticultor George Minifie supostamente levou o primeiro pêssegos da Inglaterra
para a América do Norte colônias no século 17, plantá-las em sua propriedade de Buckland
em Virginia.
Vários tribos indígenas americanas são creditados como propagadores do pessegueiro
através dos Estados Unidos, levando as sementes junto com eles e como eles vagueavam
plantio do país. Embora Thomas Jefferson tinha pessegueiros em Monticello , Estados Unidos
os agricultores não iniciaram produção comercial até o século 19, em Maryland, Delaware,
Geórgia e, finalmente, na Virgínia. Califórnia hoje cresce 65% dos pêssegos cultivados para
produção comercial nos Estados Unidos, mas os estados de Carolina do Sul, Geórgia e
Washington também crescer um montante significativo. Itália, China, Índia e Grécia são os
maiores produtores de pêssegos fora dos Estados Unidos (Wikipedia, 2011).
Em 2010, uma equipe de pesquisadores da Clemson University, nos EUA, anunciou
que havia seqüenciado o genoma do pessegueiro (duplicou Lovell haplóide).
11
Figura 1: Frutos de pêssego (Prumus pérsivo) em uma brindila na fase final de maturação.
Fonte: CRA-FRF, 2011.
Classificação científica (Sachs & Campos, 1998):
2.2
•
Reino: Plantae;
•
Divisão: Magnoliophyta;
•
Classe: Magnoliopsida;
•
Ordem: Rosales;
•
Família: Rosaceae;
•
Gênero: Prumus;
•
Subgênero: Amygdalus.
Características e Composição Nutricional
O pêssego é o fruto carnoso originário do pessegueiro. Quando está fresco é a fruta
que menos possui caloria (35 cal) sendo muito recomendada em dietas ou para quem deseja
manter o peso (Embrapa, 2011).
Além de beneficiar o organismo em relação a pouca caloria, o pêssego possui vitamina
A, C, D, sais minerais, ferro, fósforo, iodo, cobre, manganês, carboidratos, fibras e cálcio.
Pelos nutrientes que possui, beneficia o intestino, evita problemas na pele, no aparelho
digestivo, no sistema nervoso, reumatismos, reduz o colesterol do sangue e outros.
Pode ser consumido em forma de suco, geléia, doces, bolos, tortas e puro. Ao comprar
pêssego é necessário atentar para as suas características. A fruta deve estar com a casca firme
12
e sem marcas de insetos. Para melhor conservação guarde-a em geladeira. Tabela 1, apresenta
os valores nutricionais do um pêssego polpa.
Quadro 1: Valores nutricionais de um pêssego.
Pêssego (polpa)
Valor nutricional por 100 g (3,5 oz)
Energia
165 kJ (39 kcal)
Carboidratos
9,5 g
Açúcares
8,4 g
A fibra dietética
1,5 g
Gordura
0,3 g
Proteína
0,9 g
A vitamina A equiv.
16 mg (2%)
Folato (Vit. B 9 )
4 mg (1%)
Vitamina C
6,6 mg (11%)
Ferro
0,25 mg (2%)
Potássio
190 mg (4%)
As porcentagens são em relação ao EUA recomendações para adultos.
Fonte: USDA Nutrient Banco de Dados (Wikipedia, 2011).
2.3
Cultivo do Pessegueiro
Um fruto que é cultivado em todo o mundo e conforme Figura 2, a China destaca-se
como o maior produtora mundial (em verde), países como Itália, Espanha e EUA destacam-se
como médio produtores (em amarelo) e demais e menores produtores (em vermelho).
13
Figura 2: Produção mundial de pêssego e sua distribuição.
Aproximadamente 13 milhões de toneladas, sendo os principais produtores a China, a
Itália, os EUA e a Espanha. Embora sendo o maior produtor mundial, a China não se encontra
na relação dos países exportadores, o que provavelmente se deve ao grande consumo interno.
Na América do Sul, o Chile e a Argentina aparecem na 12ª e 14ª posição, respectivamente,
com produção de aproximadamente 260 mil toneladas/ano e o Brasil na 17a posição, com
uma produção anual de 184 mil toneladas, conforme figura 3 apresenta (Embrapa, 2011).
14
Figura 3: Principais países produtores de pêssego a nível mundial.
Fonte: Toda Fruta, 2011.
2.4
Impacto Econômico e Social da Produção de Pêssego no Rio Grande do Sul
Segundo dados da FAO (1998), a produção mundial de pêssegos é de
aproximadamente 11 milhões de toneladas, sendo os principais produtores a China, a Itália, os
EUA e a Espanha. Embora sendo o maior produtor mundial, a China não figura na relação dos
países exportadores, o que provavelmente se deve ao grande consumo interno. Ainda com
base nessas mesmas estatísticas, na América do Sul, o Chile e a Argentina aparecem na oitava
e nona posição, respectivamente, com produção de aproximadamente 280 mil toneladas/ano e
o Brasil na 13º, com uma produção anual de 146 mil toneladas.
15
Segundo o IBGE, no período entre 1970-1999, a produção brasileira de pêssego
passou de 111 para 159 mil toneladas/ano, assim distribuídas entre os estados produtores: Rio
Grande do Sul: 42%, São Paulo: 22%, Santa Catarina: 19%, Paraná: 11%, Minas Gerais: 5% e
os demais estados: 1%. A área de pomares de pessegueiros, segundo essa mesma estatística,
passou de 16,6 para 20,7 mil hectares, assim distribuídos: Rio Grande do Sul (51%), Santa
Catarina (20%), São Paulo (15%), Paraná (9%), Minas Gerais (4%) e os outros estados (1%)
(Embrapa, 2011).
Levantamentos mais recentes, efetuados pela Embrapa Clima Temperado, indicam
que, no Rio Grande do Sul, nesse mesmo período, foram agregados mais de 5 mil ha de
pomares, sendo que dois deles já se encontram em produção, embora ainda não incorporados
às estatísticas oficiais.
Estimando-se, a partir dos dados acima, a produtividade média de cada estado
produtor, verifica-se uma disparidade significativa pois, enquanto o maior estado produtor, o
Rio Grande do Sul, apresenta uma produtividade de 6,4 ton./ha e Santa Catarina, também
tradicional produtor, 7,2 ton./ha, nos estados do Paraná, Minas Gerais e São Paulo a
produtividade é de 9,2; 10,6 e 10,7 ton./ha, respectivamente. Esse fato, provavelmente, está
relacionado ao nível tecnológico empregado e à idade média dos pomares nas regiões
tradicionais.
No Brasil, os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná têm as melhores
condições naturais para o produção comercial do pêssego. É possível, no entanto, produzi-lo
em outros estados com cultivares menos exigentes de frio ou em estações microclimáticas
adequadas
às
exigências
mínimas
viáveis,
técnica
e
economicamente.
No Rio Grande do Sul, maior produtor nacional, é possível se encontrar plantas de
pessegueiro em todas as regiões. Entretanto, a produção comercial está concentrada em três
pólos que, juntos, segundo a Embrapa Clima Temperado, somam cerca de 13 mil hectares de
pomares (Embrapa, 2011).
O primeiro dos três pólos mais importantes localiza-se na chamada "Metade Sul" do
estado, que compreende 29 municípios e concentra mais de 90% da produção destinada ao
processamento industrial de diversas formas, com destaque para a compota. Anualmente são
produzidas, em média, 40 milhões de latas de 1kg de compota destinadas ao mercado interno.
Mesmo com um consumo per capita de apenas 0,25 kg, o país tem importado anualmente
cerca de 20 milhões de latas da Grécia, Espanha, Argentina e Chile. Entretanto, como
resultado das taxações impostas pelo governo às importações, a partir de 1999 houve redução
de cerca de 50% dessas importações, beneficiando e protegendo a cadeia produtiva.
16
Essa atividade, em expansão em todo o estado do Rio Grande do Sul, em função do
apoio do Governo Federal com programas de financiamento a fundo perdido, tem-se
apresentado como uma ótima alternativa aos agricultores da região (Metade Sul). Segundo
Madail et al (2002), o sistema de produção atualmente adotado pelos agricultores de base
familiar apresenta uma Taxa Interna de Retorno - TIR de 43,9% e o sistema empresarial 38%.
Esses valores são superiores às taxas de juros no mercado financeiro ou qualquer outro
ativo especulativo.
O segundo pólo, localizado na Grande Porto Alegre, é composto por nove municípios
e produz, em média, 4.800 toneladas de pêssegos para o consumo in natura numa área de 312
ha, o que representa uma produtividade média de cerca de 15 toneladas/ha. Trata-se de uma
região que apresenta uma importante vantagem competitiva, já que está próxima do principal
mercado consumidor do estado, Grande Porto Alegre (Embrapa, 2011).
O terceiro pólo está localizado na Encosta Superior do Nordeste, na região também
conhecida como Serra Gaúcha, mais especificamente nos municípios de Caxias do Sul, Bento
Gonçalves, Veranópolis, Farroupilha, Flores da Cunha, Nova Pádua, Antônio Prado, Ipê,
Pinto Bandeira e Campestre da Serra. Na safra 2000/2001, a região produziu cerca de 46 mil
toneladas de pêssego que, na sua totalidade, são destinadas ao mercado de consumo in natura,
numa área de aproximadamente 3.200 ha, o que representa uma produtividade superior a 14
toneladas/há (Embrapa, 2011).
Por se tratar de uma região produtora de frutas tradicional, com ênfase especial na
viticultura, a ascensão do pêssego passa a ter, na seqüência, uma abordagem mais detalhada
nos seus aspectos técnicos e econômicos (Embrapa, 2011).
Esse pólo produtor de pêssego ocupa uma área de aproximadamente 3.200 hectares,
envolve cerca de 1.860 famílias que exploram a atividade em pequenas áreas, que atingem,
em média, 2 hectares (Embrapa, 2011).
17
3.
MELHORAMENTO GENÉTICO DO PÊSSEGO
O pêssego é uma fruta muito saborosa de boa produtividade, mas de difícil
comercialização para o produtor, tendo em vista a sua rápida maturação tanto em campo como
no pós-colheita, de pouca durabilidade mesmo em câmara fria, por ser uma fruta de baixa
consistência, facilmente fica marcada com o manuseio a partir da colheita.
Em busca de uma resposta para todos esses problemas, de natureza fisiológica da
planta e dos frutos, somando-se as questões mercadológicas que a cada dia se tornam mais
decisivas para os ganhos dos produtores na necessidade de vender no dia certo. Os intervalos
da oferta e procura, às vezes são de apenas dois dias. A apresentação de frutos mais atrativos
aos olhos do consumidor, que cada dia compra mais a beleza do que o sabor e buscando
frutos de boa qualidade.
Neste sentido as pesquisas vem fazendo um trabalho que a natureza demoraria séculos
para fazer através da mutação natural.
Neste processo de melhoramento temos como principais fases:
•
1ª Fase - Objetivo da produção:
A busca de uma produção com maior ou menor precocidade para obter uma safra
diversificada, facilitando a comercialização para os produtores.
•
2ª Fase - Escolha da planta mãe:
Nesta fase, identificar com um nome ou código que vai manter os estigmas femininos,
uma parcela de no mínimo três plantas da mesma varietal numa mesma fila da mesma idade,
da mesma condição de solo, devem ser castradas ou seja retiradas todas as pétalas e as anteras
do pólen, antes das gemas abrirem as pétalas de forma que não haja a polinização pelas
abelhas ou outros insetos. Isto pode ficar em campo livre, pois sem pétalas as abelhas não se
interessam mais por aquela planta, conforme observa-se nas Figuras 4 e 5.
18
Figura 4: Planta mãe selecionada para o cruzamento(A), após o processo de castração(B).
Foto: Menegotto G., 2011.
Figura 5: Pinça para castrar (A) com detalhe do corte (B) efetuado nas flores.
Foto: Menegotto G., 2011.
•
3ª Fase - Escolher a planta pai:
Identificar dando um nome ou número de referência que deverá oferecer o pólen,
conforme figura 6.
19
Figura 6: Detalhes das gemas cortadas com pólen. (observa-se polpa amarela).
Foto: Menegotto G., 2011.
Alguns cuidados muito importantes neste processo:
•
Coleta das gemas na planta antes da abertura das pétalas de boas brindilas;
•
Manter em um lugar fresco, na sombra, de preferência em laboratório. Se as
gemas estiverem muito pequenas, manter num vaso com água, na luz ,com
temperatura de 20 a 25ºC, até o ponto de começar abrir.
•
Preparar material para coleta totalmente esterilizado com álcool, bandeja plástica,
forro para bandeja de papel, pinça de inox, petris forrados com papel.
•
Esterilizar as mãos e a mesa pois o álcool queima qualquer pólen presente, por
isso, deve-se aguardar estar seco. Não mais tocar em outra gema para manter a
garantia e a pureza da paternidade.
•
Retirar o pólen abrindo as pétalas, coletando nas bandejas guardando em petris na
luz até o amadurecimento como se vê nas Figuras 7 e 8.
20
Figura 7: Placas de Petri de pólen colhido à luz em fase de amadurecimento.
Foto: Menegotto G., 2011.
Figura 8: Placas de Petri
de pólen, maturações diferentes, amarelo está amadurecido.
Foto: Menegotto G. ,2011.
•
Recolher em uma proveta com tampa guardar em frízer a -20°C evitando seu
processo de crescimento, só será utilizado a campo para polinização por poucas
horas fora do ambiente refrigerado, de preferência em caixa térmica abrigado da
luz solar, conforme figura 9.
•
Análise do percentual de germinação, colocando em meio de cultura por quatro
horas exposto a luz a uma temperatura de 20 à 25°C, observar em microscópio a
germinação. Considerado de boa qualidade a partir de 80% do pólen ativo.
21
Figura 9: Proveta de acondicionamento do pólen após ter passado pelo amadurecimento.
Foto: Menegotto G. , 2011.
•
4ª Fase – Polinização:
Polinização a campo em dias ensolarados nos horários mais quentes a partir das 10h
da manhã, para que haja ação da polinização mais eficiente em um ciclo de um dia. Isto deve
ser feito em todos os estigmas da planta mãe conforme Figuras 10.
Figura 10: Processo de polinização manual das plantas castrada.
Foto: Menegotto G., 2011.
•
5ª Fase - Acompanhamento e observação dos novos frutos do cruzamento:
Os frutos são avaliados nos aspectos: visuais, tamanho, formato, cor e
amadurecimento.
No aspecto gustativo são analisados: sabor, aroma, cor de polpa, acidez e açúcares.
22
Outro aspecto muito importante é a firmeza que da resistência pós colheita, isto é,
analisado com penetrômetro em várias fases da produção e diversas parcelas. Observandose a resistência dentro e fora da câmara fria, ao manuseio de colheita, transporte. São
evitando frutos ponte agudos que venham a se machucar durante a colheita e na seleção
conseqüentemente nas embalagens.
A Espanha neste sentido conseguiu com um cruzamento o pêssego (piatado) tipo
prato, de formato achatado conforme Figuras 10, 11 e 12.
Figura 11: Planta com produção de pêssego tipo prato aspectos da produção.
Fonte: CRA-FRF, 2011.
Figura 12: Detalhe da ponta achatada que originou o tipo prato e facilita o acondicionamento sem machucar.
Fonte: CRA-FRF, 2011.
23
•
6ª Fase - Coleta das sementes e semeadura:
Dos melhores frutos são separadas as sementes, e colocadas em câmara fria a uma
temperatura de 2 à 4˚ C, envolvidas em uma embalagem plástica para manter a umidade por
sessenta dias. Após são semeadas em substrato de arreia em ambiente quente e úmido de
25˚C.
Figura 13: Caroço/Semente do pêssego Cultivar Vila-Nova.
Fonte: CRA-FRF, 2011.
•
7ª Fase - As novas plantas:
As novas plantas serão levadas ao campo ainda no mesmo ano ciclo, em fileiras com
alta densidade, sessenta centímetros entre planta, como apresenta a figura 14. Estas plantas
serão observadas por três anos, os seus frutos, desenvolvimento vegetativo e receberão uma
nota de um a três. Um é uma nota baixa, tolerável só no primeiro ano, se a planta não
desenvolver será arrancada no segundo ano. Nota dois tolerável até o terceiro ano, e também
pode ser eliminada se os frutos não forem da busca desejada. Nota três plantas com bons
resultados, que serão selecionadas, para nova fase da pesquisa.
24
Figura 14: Canteiro de um (semensal), plantas novas de pêssego para retirada de ramos das novas varietais.
Foto: Menegotto G., 2011.
•
8ª Fase - Seleção de ramos para propagação:
Nesta fase o pesquisador passa a observar os ramos com melhores frutos, marcar com
uma fita, para coleta de gemas para enxertia na estação adequada.
•
9ª Fase - Confirmação dos novos frutos:
Buscamos a confirmação do novo fruto fazendo enxertia com os vários porta enxertos
para se testar a produção, resistências as doenças, e exigência horas frio.
Estes testes deverão ser feitos em várias parcelas em campos e regiões de micro
climas e solos diferenciados para se observar a produção comercial de que a variedade
precisa ter para ser viável aos produtores e agradar ao mercado consumidor.
•
10ª Fase - Registro da nova variedade:
Dada a aprovação registrar um nome da nova variedade, com cadastro de planta pai e
mãe, que deverão ser mantidos em um campo de reserva das espécies. Tratadas e preservadas
das pragas e doenças.
A partir deste momento é feito também o DNA da nova planta e passa a ter uma
propriedade de direitos reservados.
25
Vemos aqui algumas varietais de pêssegos do Instituto Italiano (CRA-FRF) conforme
Figuras 15 e 16.
Figura 15: Varietal Crizia-2.
Fonte: CRA-FRF, 2011.
Figura 16: Varietal Bea – 2
Fonte: CRA-FRF, 2011.
3.1
Porta Enxerto
Nos pomares italianos o melhor porta enxerto, aprovado em todas as regiões, que é
resistente as doenças de baixo vigor e bem adaptado ao tipo de solo é o GF 677.
Os produtores tem a sua disposição o mapa das águas subterrâneas, a profundidade do
lençol freático. Com isso escolhem o porta enxerto com sistema radicular adequado a
profundidade.
26
No Brasil o de melhor resultado até hoje é o capdeboscq, desenvolvido pela Embrapa.
3.2
Sistema de Condução
O sistema de condução dos pomares italianos seguem de acordo com os hábitos das
varietais, a região e o solo.
As formas mais utilizadas na Itália são vasetto, que é similar a taça usada no Brasil
mais baixa, mais utilizada na região norte aonde a incidência de luz solar é menor, por ser
mais aberto tem maior fotossíntese, conforme Figuras 17 e 18.
Figura 17: Forma de condução em vasetto (vaso) baixo.
Foto: Menegotto G. , 2011.
27
Figura 18: Sistema de condução de plantas de pêssego em vaso utilizado na região norte da Itália.
Foto: Menegotto G. , 2011.
Fuzeto é uma forma de líder central com sustentação por armação espaldeira, com
espaçamento de 4 entre fila por 2 entre planta, atingindo até 4,5 m de altura.
Por ser uma região de muita incidência de granizo, quase sempre protegidos com tela,
conforme Figura 19.
Figura 19: Sistema de condução fuzeto mais utilizada na Itália com telas anti-granizo.
Foto: Menegotto G., 2011.
28
Outras formas similares é a palmeta, com líder central com ramos secundários,
aumentando o espaçamento entre plantas, conforme Figura 20.
Figura 20: Sistema de condução de plantas de pêssego em palma, utilizado na Itália.
Foto: Menegotto G., 2011.
Candelabro também uma forma espaldeira com ramos secundários simétricos mais
alargados em forma de candelabro. Formando como 3 líderes, conforme Figura 21.
Figura 21: Sistema de condução de plantas de pêssego em candelabro, utilizado na Itália.
Foto: Menegotto G., 2011.
29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho de conclusão, realizado em um importante órgão de pesquisa da Itália,
procurou-se fazer um estudo através de melhoramento genético na mutação ordenada do
pêssego. Como por exemplo, obter novas variedades mais resistentes as doenças, com melhor
performance do fruto, melhor sabor e produtividade.
Este período de estágio contribuiu muito para conhecer as diferentes fases do
desenvolvimento genético, contribuindo com a mutação ordenada em busca do objetivo
proposto. Na condução favorável para a planta nos vários aspectos, em busca de uma melhor
produtividade, levando em conta a uma melhor facilidade de trabalho para o produtor,
contribuindo com
uma tecnologia menos agressiva ao meio ambiente, melhorando o
resultado do fruto final para o consumidor.
O Brasil necessita, com urgência, investir neste tipo de intercâmbio para avançar num
mundo globalizado, aproveitando estudos já realizados, trazendo para nossas regiões de
produção essas tecnologias que tem sido testada em países como Itália.
É necessário desenvolver pesquisas próprias, não somente públicas, mas integradas
com a iniciativa privada, como ocorrem em países desenvolvidos.
Este curso, com certeza, está abrindo um novo caminho para o futuro da horticultura,
principalmente para a região da serra gaúcha, com vocação para a produção frutícola.
Durante o período de estágio acompanhando por pesquisadores, observou-se a
importância do melhoramento das nossas culturas, especialmente para não ficarmos
dependentes da tecnologia científica estrangeira.
O melhoramento é uma ferramenta para a horticultura, acredita-se que este trabalho
tenha contribuído para sugerir outras pesquisas que venham colaborar para melhoria da
qualidade e produtividade dos produtos hortícolas.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Empresa
Brasileira
de
Pesquisa
Agropecuária.
Disponível
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produção de pêssego no sul do Rio Grande do Sul. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2002.
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WIKIMEDIA. Enciclopédia livre. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org>. Acessado
em: 12-06-2011.
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