REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2014 Volumen 15 Nº 03 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314.html REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504 Conservação de forrageiras xerophylious forages xerófilas - Conservation of Thiago Carvalho da Silva1, Edson Mauro Santos2, Ricardo Martins Araujo Pinho3, Fleming Sena Campos4, Juliana Silva de Oliveira2, Carlos Henrique Oliveira Macedo3, Alexandre Fernandes Perazzo4, Higor Fábio Carvalho Bezerra5 1 Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa. E-mail: 2 [email protected] Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba. E-mail: [email protected], [email protected] 3 Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba. E:mail: [email protected] 4Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da Bahia E-mail: [email protected], 5 [email protected]. Mestrando em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba. E-mail: [email protected] Resumo As práticas de conservação de forragens, na forma de silagem ou feno, amplamente difundido e pesquisado, têm sido aplicadas às plantas xerófilas, com o objetivo de atenuar o problema da escassez de forragens no período de estiagem. Existem basicamente três mecanismos de resistência à seca: fuga à seca, tolerância à seca em altos níveis de potencial hídrico e tolerância à seca em baixos níveis de potencial hídrico. Os princípios básicos da conservação de forragens são armazenar o excedente e conservar o seu valor nutritivo, minimizando as perdas de nutrientes, de modo que este permaneça estável até a necessidade de fornecimento. Objetiva-se com esta palestra descrever os principais mecanismos de xerofilismo, as características das plantas xerófilas que interferem no processo de conservação e a qualidade de silagens e fenos. Palavras-chave: déficit hídrico, ensilagem, fenação, perdas, valor nutritivo Abstract Practices of forages conservation, as silage or hay, widely spreaded and researched, have been applied to xerophytic plants, aiming to attenuate the shortage of forages during the drought period. There are basically three mechanisms of resistance to drought: drought escape, drought tolerance in high levels of water potential and drought tolerance in low water potential. Conservação de forrageiras xerófilas http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314/031405.pdf 1 REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2014 Volumen 15 Nº 03 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314.html Basic principles of conservation of fodder are storing the surplus to maintain its nutritional value, so that it remains stable until the need for supply. Objective with this lecture describe xerophylous plants characteristics that affect the process of conservation and quality of silage and hay. Key words: water deficit, ensilage, haymaking, losses, nutritive value Introdução O Semiárido Brasileiro (SAB) caracteriza-se pela heterogeneidade das condições naturais, como o clima, solo, topografia, vegetação e características socioeconômicas, com a existência de um regime pluviométrico que delimita duas estações bem distintas: uma curta estação chuvosa de 3 a 5 meses e uma longa estação seca, que tem duração de 7 a 9 meses. A precipitação anual varia de 150 mm a 1300 mm e média de 700 mm, com distribuição totalmente irregular. A temperatura do ar média está em torno de 280C, com mínima de 8ºC e máxima ao redor de 40ºC, e umidade relativa do ar em torno de 60 %. Como agravante, há uma evapotranspiração elevada, e com isso um decréscimo da produção e qualidade da massa verde durante o período de estiagem, pois há uma estreita relação entre precipitações pluviais e produção de plantas forrageiras (Silva et al., 2004). Estas características do SAB influenciam diretamente a fisiologia e o metabolismo das plantas, principalmente no que diz respeito ao crescimento celular, ocasionando uma redução na disponibilidade produção de forragens durante o período de estiagens, ponto crítico nos sistemas de produção de ruminantes nesta região, influenciando diretamente o desempenho animal. Entretanto, existem espécies vegetais, denominadas xerófilas (do grego transliterado xe rós, á, ón, + phyto- phytón vegetal, planta), que apresentam características que permitem o seu desenvolvimento em regiões semiáridas. Segundo Duque (2004), o xerofilismo é inerente àquelas plantas que toleram a escassez de água, que fogem aos efeitos da deficiência hídrica ou que resistem à seca. O estudo das forrageiras xerófilas se reveste de crucial importância, quando se considera que estas formam um grande grupo de espécies, com plantas de interesse ecológico e econômico (Araújo, 2007). As práticas de conservação de forragens, na forma de silagem ou feno, bastante difundido e pesquisado, têm sido aplicadas às plantas xerófilas, com o objetivo de atenuar o problema da escassez de forragens no período de estiagem. Mesmo com a realização de muitas pesquisas relacionadas a este tema, Leite et al. (2008) constataram no Agreste paraibano que a quase totalidade das propriedades (92%) não utiliza práticas de conservação de forragens, tendo a silagem (6%) uma pequena predominância em relação à fenação (2%). Mesmo assim, resultados relevantes têm sido obtidos com a conservação das espécies xerófilas (Matos et al., 2005; Macedo et al., 2012; Medina et al., Conservação de forrageiras xerófilas http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314/031405.pdf 2 REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2014 Volumen 15 Nº 03 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314.html 2009; Silva et al., 2012), principalmente no que diz respeito à composição bromatológica de silagens e fenos. Estas pesquisas ressaltam que a conservação das forrageiras xerófilas é uma prática essencial nos sistemas de produção animal no SAB e não pode ser negligenciada. Os princípios básicos da conservação de forragens são armazenar o excedente e conservar o seu valor nutritivo, de modo que este permaneça estável até a necessidade de fornecimento. Nesse contexto, as características agronômicas e o valor nutritivo das espécies que se pretende conservar são de fundamental importância. Ao longo deste trabalho serão discutidos os principais mecanismos de xerofilismo, as características das plantas xerófilas que interferem no processo de conservação e a qualidade de silagens e fenos de plantas xerófilas. Plantas xerófilas e tipos de xerofilismo A produção vegetal depende da disponibilidade de água do solo, em virtude da água, além de ser necessária ao crescimento das células, é essencial para manutenção da turgescência. Nas plantas, a água é continuamente perdida para a atmosfera e absorvida do solo. Absorção e perda da água pelos vegetais são processos cruciais, pois a água retida nos tecidos da planta é dependente do balanço entre a absorção de água pelas raízes e a água perdida por transpiração. Devido ao fato do transporte de água ser um processo passivo, as plantas absorvem água somente quando o potencial hídrico (Ψw) da planta é menor que o Ψw do solo. À medida que o solo torna-se mais seco a planta torna-se menos hidratada, atingindo um menor Ψw (Marrenco & Lopes, 2005). O déficit hídrico na planta decorre de uma taxa de transpiração excessiva, de uma taxa de absorção insuficiente ou pela combinação de ambos os processos. Pode-se dizer que a “resistência à seca” é o termo que caracteriza os diferentes meios e mecanismos encontrados nas plantas superiores para escapar ou tolerar um déficit hídrico severo. Esses mecanismos podem ser entendidos no sentido de prevenir a redução no potencial hídrico nos tecidos vegetais (prevenção à seca) ou tolerar a queda no potencial água dos tecidos provocada pela desidratação celular sem ocorrer danos fatais nos processos metabólicos (tolerância à seca). Em uma primeira classe, é pertinente considerar as plantas que adotam a “estratégia” de escape por meio da aceleração de seu ciclo ou adotando mecanismos de dormência que impedem a germinação das sementes, antes que esteja assegurado um nível adequado de conteúdo de água no solo (Peixoto, 2010). Nas comunidades vegetais encontradas nos desertos e em algumas regiões semiáridas, existem várias espécies de plantas efêmeras, que com o advento das chuvas, conseguem completar o ciclo fenológico rapidamente, antes que o teor de umidade caia a níveis que possam causar-lhe dano. Plantas como o sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench), milheto (Pennisetum americanum (L.) Leeke), capim-mimoso (Anthephora hermaphrodita, Kuntze, Conservação de forrageiras xerófilas http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314/031405.pdf 3 REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2014 Volumen 15 Nº 03 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314.html Trinuacum hermaphrodita, Linn., Anthephora elegans, Schreb.) e o capimpanasco (Aristida setifolia, H.B.K., / arenaria, Trin.) apresentam o mecanismo de escape, além de outros. Outro mecanismo é a capacidade de manter o potencial de água elevado nos tecidos, o qual é conseguido pela a absorção de água ou diminuindo a perda de água por transpiração. Para a manutenção da absorção de água, a planta pode apresentar um aprofundamento ou abrangência do sistema radicular, aumento da condutividade hidráulica e osmorregulação nas raízes. E para a redução das perdas de água (menor transpiração), redução da condutância da epiderme (espessamento de cutícula), redução da quantidade de radiação absorvida (pelos e cera), e redução da área foliar e estômatos (Peixoto, 2010). As cactáceas, como a palma forrageira (Opunfia fícus indica Mill. e Nopalea cochenilifera Salm Dyck), o mandacaru (Cereus jamacaru e o xiquexique (Pilocereus gounellei (A. Weberex K. Schum.) Bly. ex Rowl) apresentam o mecanismo de potencial de água elevado nos tecidos, pela abertura noturna dos estômatos (MAC). A menor freqüência dos estômatos nas folhas, as paredes grossas das células, a lignificação no esclerênquima derivado dos ácidos gordurosos para formar uma espessa cutícula epidérmica são casos de xeromorfismo. As espécies típicas de árvores xerófilas são: a maniçoba (Manihot Glaziovii, Muell, Manihot piauhyensis, Ule), a oiticica (Licania rigida, Benth, Pleuragina umbrosissima, A. Cam), e de arbustos: o mofumbo (Combretum Leprosum, Mart.), e o marmeleiro (Croton hemiargyreus, Muell (Duque, 2004). Outro aspecto muito importante, que diversos vegetais apresentam quando submetidos ao estresse hídrico progressivo, é o ajuste osmótico, ou seja, acumulação ativa de produtos fotossintetizados no interior da célula, devido ao déficit hídrico (Hsiao et al., 1976). Ajuste osmótico em conseqüência do déficit hídrico foi observado em gramíneas tropicais (Wilson & Ludlow, 1983), assim como para sorgo e girassol (Turner et al., 1978). O sorgo apresenta outras características xerófilas descritas por Saucedo, (2008), que são: sistema radicular bastante ramificado; camada de cera que reveste as folhas e caules; células motoras ou higroscópicas dispostas ao longo da nervura central das folhas, maior número de estômatos do que o observado na cultura do milho, mas seu tamanho é muito menor para responder rapidamente a mudanças na umidade. O sorgo geralmente entra em períodos de dormência ou repouso vegetativo durante veranicos, e volta a crescer quando há disponibilidade de água. Dentre outras forrageiras xerófilas, o capim-buffel (Cenchrus ciliaris) é uma gramínea promissora para o SAB, devido as suas características de adaptação a essa região. Neste contexto, segundo Medeiros et al. (2007), o capim-buffel é a gramínea forrageira que se apresenta com maior resistência ao déficit hídrico entre as cultivadas nas regiões secas devido à sua eficiência no uso da água. Além disso, possui raízes profundas e bem desenvolvidas, Conservação de forrageiras xerófilas http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314/031405.pdf 4 REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2014 Volumen 15 Nº 03 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314.html aliadas à presença de rizomas que permitem o adiamento da desidratação e a manutenção do turgor devido a sua capacidade em explorar a água do solo (Ayersa, 1981; Rodrigues et al., 1993). Características das plantas xerófilas que interferem no processo de ensilagem e fenação Para obter eficiência nos processos de conservação de forragens algumas características das plantas devem ser levadas em consideração, pois influenciam diretamente sobre a quantidade e qualidade do material conservado. Por isso, algumas espécies são mais indicadas para a produção de feno e outras para produção de silagem. A ensilagem é o método de conservação da forragem sob condição de anaerobiose, onde ocorre uma metabiose, ou seja, uma sucessão de grupos de microrganismos até atingir um nível de acidez, através da produção de ácido lático pelas bactérias produtoras de ácido lático (BAL), no qual o desenvolvimento de microrganismos deterioradores, que são menos tolerantes às condições ácidas é inibido. Dentre os grupos de microrganismos deterioradores destacam-se as enterobactérias e os clostrídios (Woolford 1984; PEREIRA e SANTOS, 2006). Segundo Mc Donald et al., (1991) o pH ideal para silagens de boa qualidade varia entre 3,8 e 4,2. Assim, quanto mais rápida for a queda do pH, menores serão as perdas na ensilagem devido à maior conversão dos carboidratos solúveis da planta (principal substrato para as BAL) em ácido lático, com uma recuperação de 96,9 % da energia (Mc Donald et al., 1991). Características como elevado teor de carboidratos solúveis, de MS e baixo poder tampão são recomendadas para a espécie forrageira que se pretende conservar. A capacidade tampão reflete a capacidade de resistir a alterações no pH, determinada por substâncias tamponantes, como bases inorgânicas de K e Ca, proteína, nitrogênio amoniacal (N-NH3), sais orgânicos (malato, citrato, entre outros). Por isso, as perdas na ensilagem são variáveis importantes que devem ser avaliadas em plantas xerófilas, pois algumas podem apresentar características peculiares, como elevado teor de proteína bruta (PB), que pode favorecer o desenvolvimento de microrganismos proteolíticos, com consequente aumento nas perdas. O princípio básico da fenação resume-se na conservação do valor nutritivo da forragem pela rápida desidratação, uma vez que a atividade respiratória das plantas, bem como a dos microrganismos é paralisada. Assim, a qualidade do feno está associada a fatores relacionados com as plantas que serão fenadas, às condições climáticas ocorrentes durante a secagem e ao sistema de armazenamento empregado (Reis et al., 2001). Para a fenação as espécies devem apresentar elevada relação folha/caule, caules finos e curtos e cutícula estreita. Algumas dessas características contrastam com aquelas citadas como adaptação das plantas ao déficit hídrico, no entanto, trabalhos têm revelado que algumas espécies xerófilas, como a maniçoba, flor de seda (Calotropis procera), buffel e Conservação de forrageiras xerófilas http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314/031405.pdf 5 REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2014 Volumen 15 Nº 03 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314.html andropogon (Andropogon gayanus) têm potencial para a alimentação de ruminantes (Rosa, 1993; Silva et al., 2007; Araújo et al., 2009; Silva et al 2010), desde que alguns cuidados no processo de fenação sejam tomados. No caso de plantas lenhosas, como a maniçoba e flor de seda, deve-se triturar o material em máquina forrageira, para uniformizar as partículas, pois a taxa de secagem das folhas é diferente da taxa dos caules. Com isso, o tempo de fenação influenciará diretamente sobre as perdas, principalmente de folhas, durante o processo. Quanto mais rápida a secagem das plantas no momento da fenação, menor será o desenvolvimento de microrganismos que alteram a composição química de fenos, e menores serão as perdas pelos processos enzimáticos das plantas. Desta forma, características do ambiente, como temperatura, umidade do ar, ocorrência de chuvas, características relacionadas ás plantas, como teor de umidade, folhosidade, porcentagem de colmos, influenciam a velocidade de secagem e as perdas de nutrientes. Qualidade de silagens e fenos de plantas xerófilas A terminologia qualidade de silagens e fenos envolve todas as etapas do processo de confecção e utilização, desde o cultivo da forragem até a resposta pelo animal. No entanto, às vezes algumas etapas na avaliação de plantas forrageiras, como práticas de manejo e cultivo, bem como padronização das técnicas de conservação, têm sido deixadas de lado avaliando somente a resposta animal, o que tem gerado resultados divergentes. Nesse contexto, poucos trabalhos têm sido realizados para avaliar as perdas nos processos de fenação e ensilagem de plantas xerófilas. Pinho et al. (2010) avaliaram as perdas em silagem de maniçoba cortada a diferentes alturas e verificaram que a silagem do terço superior apresentou menores perdas, resultando em maior recuperação de MS. A maniçoba apresenta teor de carboidratos solúveis elevado e baixo poder tampão, apresentando adequado perfil de fermentação de acordo com trabalhos realizados por Matos et al. (2005) e Souza et al. (2006). Estes autores observaram valores de MS e PB nas silagens de 20-25% e 14-16% da MS respectivamente. Os coeficientes de digestibilidade (CD) dos nutrientes da silagem de maniçoba observados por Matos et al. (2005) foram todos superiores a 60% e comprovaram que a silagem de maniçoba tem um bom valor nutritivo. As mesmas características favoráveis à ensilagem também são observadas para a flor-de-seda. Alguns estudos avaliando a inclusão do feno de maniçoba em dietas para ruminantes mostram que existe um limite para o nível de inclusão deste ingrediente na dieta, a partir do qual ocorre diminuição significativa na digestibilidade de alguns nutrientes e diminuição no ganho de peso diário de ovinos (Castro, 2004; Silva et al., 2007; Araújo et al., 2009). O sorgo apresenta características favoráveis à ensilagem e isto tem sido bastante documentado. Avaliando 25 híbridos de sorgo no semiárido paraibano, Silva (2010) observou que o perfil fermentativo das silagens dos Conservação de forrageiras xerófilas http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314/031405.pdf 6 REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2014 Volumen 15 Nº 03 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314.html híbridos foi adequado, com valores médios de 3,66; 4,09 %NT e 4,65%MS, para o pH, N-NH3 e ácido lático, respectivamente. Além disso, o uso de sorgo ou milheto, em substituição ao milho, na alimentação de ruminantes não altera o consumo de MS, o ganho de peso e a conversão alimentar, além de proporcionar rentabilidade ao produtor rural (Neumann et al., 2002; Neumann et al., 2004). A palma forrageira (Opuntia ficus-indica (L.) Mill. e Nopalea cochenillifera (L.) Salm Dyck.), enquanto lavoura xerófila é uma importante estratégia para alimentação dos ruminantes, devido seu elevado valor nutricional e alta eficiência de uso da água, nestas condições ambientais. Santos et al. (1996) e Barbera (2001) afirmam que o fato da palma forrageira possuir alto conteúdo de água representa uma valiosa contribuição no suprimento desse líquido para os animais no SAB. Entretanto, a palma pode ser conservada através da desidratação, produzindo o farelo que pode ser usado como concentrado energético em substituição ao milho, sem alterar o consumo e a digestibilidade dos nutrientes até certo ponto (Veras et al., 2002; Veras et al., 2005). Com relação às leguminosas xerófilas, a baixa concentração de carboidratos solúveis, a presença de substâncias tamponantes e o elevado teor protéico representam empecilhos para o processo de ensilagem, salvo quando são utilizados aditivos, principalmente os que fornecem carboidratos solúveis. Com relação à fenação, os cuidados devem estar concentrados no controle de perdas físicas de folhas durante a operação de secagem dessas plantas. Considerações finais A conservação de forragens, na forma de silagem ou feno, é uma técnica indispensável aos sistemas de produção animal, sobretudo, no semiárido. O uso da conservação de xerófilas para a composição da dieta deve fazer parte de um sistema integrado de alimentação. A utilização de xerófilas que passaram pelo processo de domesticação, e são apropriadas para fenação ou ensilagem, possibilita a obtenção de uma quantidade de fitomassa elevada por unidade de área, aumentando a oferta durante o período de escassez. Estudos avaliando o perfil fermentativo e as perdas nos processos de ensilagem e fenação para plantas xerófilas são escassos na literatura. A avaliação das perdas de nutrientes é de fundamental importância no processo de conservação e deve ser fazer parte das avaliações que antecedem o fornecimento aos animais, com o objetivo de verificar algum fator limitante e tentar manipulá-lo. Conservação de forrageiras xerófilas http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314/031405.pdf 7 REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2014 Volumen 15 Nº 03 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n030314.html O xerofilismo, através da conservação de espécies forrageiras, nativas ou exóticas, permite o uso sustentável da caatinga e de seus ecossistemas associados. Referências bibliográficas ARAÚJO, L.V.C. Composição florística, fitossociologia e influência dos solos na estrutura da vegetação em uma área de caatinga no semi-árido paraibano. 2007. 121f. Tese (Doutorado em Agronomia). Universidade Federal da Paraíba – Centro de Ciências Agrárias, Areia – PB, 2007. ARAÚJO, M.J; [et al.] Consumo e digestibilidade dos nutrientes em cabras Moxotó recebendo dietas com diferentes níveis de feno de maniçoba. Revista Brasileira de Zootecnia, 2009, vol. 38, p. 1088-1095. AYERSA, R. El buffelgrass: utilidad y manejo de una promisoria graminea. Buenos Aires (ARG): Hemisferio Sur, 1981. 139p. CASTRO, J.M.C. 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