Economia Brasileira – 2ª edição Editora Saraiva RESPOSTAS DAS QUESTÕES DE REVISÃO Capítulo 9 1. A economia mundial vivenciou, entre o pós-guerra e meados dos anos 1970, um período de robusto crescimento, no qual foram observados os chamados “milagres econômicos” em países como Japão, Alemanha, Espanha e Formosa. As elevadas taxas de crescimento econômico estimularam uma intensificação dos fluxos comerciais e de capitais financeiros, tornando possível o surgimento de ondas de industrialização mesmo em países subdesenvolvidos, como o Brasil. 2. Para Delfim Netto, o processo inflacionário brasileiro, após o ajuste efetuado pelo PAEG, era decorrente dos altos custos existentes na economia (notadamente o custo do crédito); esses altos custos, por sua vez, seriam provocados pela elevada capacidade ociosa existente no setor produtivo e pela reduzida eficiência do setor financeiro. Nesse contexto, a solução para o problema residiria na retomada do crescimento econômico, por meio de uma política monetária expansionista e do aumento do crédito ao setor privado, estimulando a produção para o mercado interno e externo. 3. No ciclo expansivo representado pelo “milagre”, houve o predomínio do setor produtor de bens duráveis (departamento II), embora tenha-se registrado um notável crescimento do setor produtor de bens de capital (departamento I). O aumento anual na produção de bens duráveis alcançou, em média, 23,6% entre 1967-1973, enquanto que a de bens de capital cresceu 18,1% no mesmo período, para um incremento anual médio do PIB de 11,2%. 4. Caso o financiamento externo do “milagre” fosse realmente necessário, as contas externas do Brasil deveriam mostrar a existência de grandes déficits em transações correntes não financiados pelo ingresso de capitais de risco, de forma que os recursos tomados em empréstimo do exterior servissem para saldar esses déficits e não para o aumento das reservas internacionais do País. No entanto, a situação verificada no período é distinta: o balanço de pagamentos apresentava-se praticamente equilibrado; adicionalmente, o sistema financeiro nacional, especialmente o privado, não se caracterizava por oferecer grande parte de seus financiamentos para o setor produtivo. Assim, a explicação mais plausível para o intenso ritmo de crescimento da dívida externa brasileira parece estar na substancial diminuição das taxas de juros reais relativas aos recursos externos, o que fez desse tipo de empréstimo uma opção extremamente atrativa para os agentes brasileiros. Economia Brasileira – 2ª edição Editora Saraiva 5. O enorme crescimento econômico observado durante o “milagre” não se refletiu na melhora das condições de bem-estar da população brasileira. Os indicadores sociais deterioraram-se nitidamente, e verificou-se um brutal aumento na concentração da renda entre o início e o fim desse período. A exclusão social decorrente de fatores como a diminuição do salário mínimo real e a maior intensidade de trabalho pode ser ilustrada pelo agravamento das condições de saúde da maior parte da população, evidenciada em acontecimentos como o crescimento da taxa de mortalidade infantil no período. 6. Ao longo do “milagre” observou-se uma significativa queda – generalizada – no poder aquisitivo do salário mínimo (15,1% entre 1967 e 1973, para São Paulo). Uma diminuição menos intensa verificou-se no salário real médio do setor produtivo (perda de 10% entre 1964 e 1973), enquanto que o salário real total registrou crescimento no período (devido à grande escalada dos salários dos trabalhadores mais qualificados). 7. Uma limitação básica do modelo de crescimento adotado no Brasil entre 1968 e 1973 consistia no notável aumento das importações de bens de capital, refletindo o subdesenvolvimento do departamento I da economia nacional e as desproporcionalidades setoriais geradas pelo “milagre”. Essas desproporcionalidades – caracterizadas essencialmente pela fragilidade dos setores produtores de bens de capital e de bens intermediários – ocasionaram o ressurgimento dos déficits comerciais e de pressões inflacionárias. Os demais focos de tensões inflacionárias advinham da retomada dos aumentos salariais (em virtude da maior demanda por mão-de-obra) e da redução da disponibilidade de alimentos e matérias-primas no mercado interno (devido ao impulso oferecido à agricultura de exportação). Outro problema do modelo adotado residia no crescente endividamento externo utilizado para financiar os mencionados déficits em transações correntes, mesmo após a ocorrência do primeiro choque do petróleo – cujos efeitos foram percebidos como temporários pelas autoridades governamentais da época.