CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ Avaliação- 1º SEMESTRE/2010 Disciplina Antropologia Urbana Curso Arquitetura e Urbanismo Professor(a) Maura Leal da Silva Turno/Horário Noturno Turma: 2- ARQN II AVALIAÇÃO PARCIAL – Estudo Dirigido em Grupo (Valor: 10 pontos) Texto de Apoio: VELHO, Gilberto. Antropologia Urbana: encontro de tradição e novas perspectivas. Revista Sociologia, problemas e práticas, n. 59, 2009, pp.11-18. Objectivo: -Introduzir o objeto de estudo da antropologia urbana visando pensar antropologicamente o urbano, através da observação das mudanças de uma antropologia tradicional para uma antropologia do urbanismo. Questões: 1- Discorra sobre os antecedentes (históricos e teóricos) da antropologia urbana: do estudo dos primitivos ao estudo das cidades, e ao estudo do urbanismo. 2- Comente sobre os modelos de crescimento urbano da Escola de Chicago. 3- Disserte sobre o campo de estudo da antropologia urbana na atualidade 15.1. INTRODUÇÃO: ANTECEDENTES DA ANTROPOLOGIA URBANA Entre outros temas os antropólogos urbanos dedicaram-se a investigar os seguintes: migrações, redes sociais, vizinhanças, processos políticos, comerciantes, ofícios, relações clientelares, associações voluntárias, congregações religiosas, cerimônias públicas, festivais urbanos, movimentos sociais, etc. Também atenderam a perspectivas mais holísticas, e estudaram as formas e qualidades do urbanismo, o continuum rural-urbano, os centros urbanos, as ordenações urbanas regionais e transnacionais, as redes comerciais, as dimensões da escala e da especialização, o simbolismo espacial e os domínios cross-culturais da vida urbana. Todos estes temas foram abordados pela antropologia na cidade e a antropologia da cidade. A antropologia na cidade (cenário da investigação) é a predominante pelos seus trabalhos (exemplos: pobreza urbana, processos de urbanização...), e a antropologia da cidade (objeto de investigação) têm o seu eixo central nos estudos sobre o urbanismo. O trabalho de campo antropológico em localidades urbanas começou nos anos 30 e 40 do século XX. Durante essas décadas, o método etnográfico da observação participante, foi utilizado por W. Lloyd Warner e os seus estudantes em "Yankee City" (Chicago) e Natchez (Missisippi); Robert Redfield e os seus associados no Yucatán (México) e por William F.Whyte em Boston (1943). Também é preciso ter em conta a: -Edward Spicer, sobre os "iaqui" em Tucson (Arizona). -Horace Miner, em Timbuctoo. -William Bascom, em Ife. -Godfrey Wilson, em Zâmbia. -Ellen Hellmann e Bengt Sundkler, na África do Sul. 1 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ Avaliação- 1º SEMESTRE/2010 Todos estes trabalhos seguiram a direção teórica da antropologia social de Malinowski e RadcliffeBrown, e no seu tempo não foram denominados nem pensados como uma "antropologia urbana" separada da antropologia social. Estas investigações tiveram também raízes não antropológicas. A mais importante foi a da tradição sociológica da Universidade de Chicago, iniciada por Robert Park logo da 1ª guerra mundial, quem estudou com método etnográfico comunidades de imigrantes, vizinhanças e o tempo de lazer. Park e os seus colegas elaboraram uma teoria da organização industrial da cidade e o seu crescimento concentrado. Mas antes que Park, é preciso salientar o trabalho de Frederick Engels (1892) sobre o impacto que o capitalismo produz na cidade de Manchester nos anos 40 do s. XIX. Outro precedente importante foi o trabalho de W.E.B. Du Bois intitulado "The Philadelphia Negro" (1899). Du Bois foi um historiador, o primeiro doutor afro-americano na Universidade de Harvard. Além da sua contextualização histórica e documental e a sua análise estatística das entrevistas extensivas, Du Bois viveu na vizinhança estudada, estudando as classes sociais e os prejuízos raciais. No ano 1963 aparece por primeira vez a denominação "antropologia urbana", e no 1972 nasce a revista “Urban Anthropology”. Desde mediados dos anos 50 do século XX foram aparecendo numerosas monografias de antropologia urbana, entre estas têm uma especial relevância as do Rhodes-Livingston Institute, um grupo de antropólogos de Manchester com um interesse central en África (sobre todo as cidades de Zâmbia e a destribalização). Mas também foram aparecendo outras etnografias urbanas (vizinhanças, grupos sociais e processos culturais) em EUA, Reino Unido, América Latina e Ásia. Todos estes trabalhos são reunidos e discutidos por Richard Fox no ano 1977. Nas décadas de 1980 e 1990, a antropologia urbana cobra novos impulsos (Sanjek, 1990). Um ponto central deste impulso está no seguinte dato: a finais dos anos 1990 mais da metade da população mundial vive em cidades, e a proporção parece ser que tenderá a aumentar no século XXI. Perto do ano 2000 seis cidades terão mais de 15 milhões de pessoas. Os problemas que todo isto traz consigo é de grande interesse para a antropologia urbana, por isso cada vez mais os antropólogos centram o seu trabalho nas cidades e nos processos de urbanização. Na atualidade, na antropologia urbana predominam as análises desde unha perspectiva relacional (Hannerz, 1986), isto é, estudando as conexões entre os fenômenos urbanos e o sistema mais amplo, a nível regional, nacional e internacional. A antropologia urbana permanece também aberta às análises históricas e à introdução de novos temas e enfoques: os estudos das classes medias, a classe operária, a burguesia, as elites e os conflitos de classe, a etnicidade, o gênero, a natureza das relações humanas e a identidade, a informação e os meios de comunicação, etc. Hoje também há um acordo entre os especialistas em antropologia urbana em relação ao conceito de complexidade, que englobaria à realidade urbana, mas também à atitude com a que os científicos sociais tem de se enfrentar com ela. Assim, qualquer tema ou objeto de estudo urbano pode ser aceite como representação da complexidade urbana, a condição de que o antropólogo não retifique e essencialice o seu objeto, impondo umas fronteiras artificialmente construídas que o separam e isolam do seu contexto. Destaca-se assim a interdependência econômica entre os territórios, a urbanização dos espaços rurais, e o caráter poroso e permeável dos fenômenos urbanos, combinado com o sistema total, analisado desde a óptica da complexidade societária. 15. 2. DO ESTUDO DOS PRIMITIVOS AO ESTUDO DAS CIDADES E AO ESTUDO DO URBANISMO O papel que os antropólogos podemos realizar na análise dos fenómenos urbanos convida a uma detida reflexão, pois o urbano é um fenômeno relativamente novo como objeto da nossa atenção. Após o abandono progressivo do “exótico” lá fora, como domínio quase exclusivo da nossa reflexão e análise, os estudos mais relevantes da antropologia profissional da pós-guerra européia centraram-se nas sociedades agrárias e camponesas, nesse quadro insere-se a chamada antropologia do mediterrâneo e antropologia da honra e a vergonha. Mas, chegou um momento no qual, por reflexão epistemológica, mas também pela crise do objeto de estudo e da academia, os antropólogos começaram a orientar as suas investigações em direção aos estudos urbanos e os processos de urbanização. 2 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ Avaliação- 1º SEMESTRE/2010 A antropologia foi identificada tradicionalmente como uma disciplina que estudava os povos mau chamados “primitivos”, é dizer, grupos humanos não urbanos. Ligada ao colonialismo, o antropólogo era uma espécie de herói que trabalhava longe do seu lar, estudando pequenas comunidades sem tradições escritas nem estatísticas (Peattie e Robins, 1984: 83-95). Como exemplos temos os trabalhos de Malinowski e de Radcliffe Brown. Porém, os sociólogos estudavam nas suas próprias sociedades. Mas quando os antropólogos começaram a estudar as suas próprias sociedades, aplicaram os métodos etnográficos aplicados nas pequenas comunidades que tinham estudado. O resultado era um estudo de comunidades em contexto urbano (Lynd e Lynd, 1929), ou o estudo de cidades como se fossem tribos (Warner e Lunt, 1941). Uma aproximação algo diferente foi a linha de força seguida pela antropologia da pobreza e da imigração, que tem como máximo representante ao antropólogo Oscar Lewis e os seus estudos sobre a pobreza e a imigração rural-urbana no México. Outra tradição importante em antropologia urbana foi a da Escola do Rhodes-Livinstone ou Escola de Manchester, centrada na tribalização e na destribalização das cidades africanas, junto com os problemas de adaptação cultural a uma nova economia industrial (Banton, 1980). Na atualidade a antropologia urbana deixou de estudar partes da cidade para estudar os problemas do urbanismo, deixou de ser uma antropologia na cidade para converter-se em antropologia da cidade e do urbanismo como problema antropológico. BIBLIOGRAFIA BANTON, M. (comp.)(1980): Antropología social de las sociedades complejas. Madrid: Alianza. BELMONTE, T.(1989, or. 1979): The Broken Fountain. New York: Columbia University Press. DA MATA, R.(1991, Or. 1987): A casa, a rua. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. DU BOIS, W.E.B. (1995, or. 1903): Las almas del pueblo negro. León: Universidad de León. DU BOIS, W.E.B.(1899): The Philadelphia Negro: A Social Study. New York: Schocken. EAMES, E. e GOODE, J.(1977): Anthropology of the City. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall. ENGELS, F.(1969, or. de 1892): The Condition of the Working Class in England. London: Panther. FERNÁNDEZ-MARTORELL, M.(1996): Creadores y vividores de ciudades. Ensayo de antropología urbana. 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SÍTIOS EM INTERNET http://www.ameranthassn.org/sua.htm (Society for Urban Anthropology) Fonte: © APONTAMENTOS DE ANTROPOLOGIA CULTURAL 2006-2007- Prof. Dr. Xerardo Pereiro – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)- antropólogo- Correio electrónico: [email protected] Web: www.utad.pt/~xperez/ . Acesso em 22 de setembro de 2009. 4