1 ANÁLISE DE CUSTOS AMBIENTAIS ORIGINADOS EM INDÚSTRIAS DO RAMO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS Denise de Fátima Rochinheski 1 Euselia Paveglio Vieira2 RESUMO No quadro atual em que as empresas têm a necessidade de reformular métodos e estratégias, a área de Custos Ambientais tem importância significativa no apoio à gestão, orientando para atingir a eficácia e a eficiência no cumprimento das leis ambientais. Especialmente porque, com as mudanças ocorridas na legislação as organizações necessitam estarem atualizadas, buscando cumprir rigorosamente leis, normais ou sanções determinadas, sem deixar de perceber os custos gerados por essas ações. Este estudo pretende servir de meio para auxiliar as indústrias em relação ao impacto ambiental, contribuindo mediante um conjunto eficiente de estruturas, analisando os custos ambientais gerados, verificando se os mesmos estão de acordo com o estabelecido em lei e mensurando os gastos relativos ao cumprimento das obrigações legais, por meio de monitoramento, a fim de assegurar que as normas e regras estejam sendo seguidas com comprometimento e responsabilidade socioambiental, sem ônus desnecessários às organizações. O objetivo aqui proposto foi analisar os custos ambientais das organizações, mensurando todos os custos gerados a partir de processos ambientais, especificamente nas áreas de produção, para verificar a regularização das empresas no que diz respeito às leis ambientais e no intuito de corroborar com mudanças para garantir um meio ambiente equilibrado. O estudo caracteriza-se como pesquisa aplicada, exploratória e descritiva. Os dados foram coletados por meio de análise dos processos, visita in loco para a observação, entrevistas despadronizadas com os gestores das empresas. A análise dos resultados mostrou que as empresas cumprem rigorosamente o que lhes é imposto, de acordo com as exigências dos órgãos fiscalizadores, os quais têm como balizador à legislação ambiental, mas, quanto à fiscalização encontraram-se discrepâncias. Percebeu-se também que as empresas não têm ações próprias para minimizar os impactos gerados ao meio ambiente, ou seja, somente agem quando são notificadas e então se adéquam a obrigatoriedade da lei. Palavras Chave: Contabilidade de Custos, Contabilidade Ambiental, Custos Ambientais, Gestão Ambiental, Legislação Ambiental. INTRODUÇÃO As iniciativas de ecoeficiência estão sendo desenvolvidas dentro das organizações por uma responsabilidade socioambiental, desenvolvimento sustentável, ética e engajamento, porque nesse ínterim, as ações e as leis que regulamentam as questões ambientais tem mais força do que as palavras. Modernamente tem se discutido sobre ambientalismo, mas, é a prática que determina se uma organização está engajada ou não, quanto ao desenvolvimento 1 Bacharel em Ciências Contábeis e Pós Graduanda em Controladoria e Gestão Empresarial pela UNIJUÍ. Mestre em contabilidade e Professora do depto de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação da UNIJUI 2 2 sustentável e para atingir os objetivos, as empresas saem do romantismo e custos ambientais são gerados. A ideia central é que a contabilidade de custos, por meio de uma análise aprofundada dos custos ambientais gerados nas indústrias, para uma adequação legal ou, pela consciência ecológica, pressupostamente, traga maior segurança para as organizações na tomada de decisão, a qual remete ideias de que as empresas estejam administradas de acordo com a exigência da legislação ambiental e que seus custos estejam adequados. Seguindo os focos centrais, no tocante aos custos ambientais, os quais são originados de acordo com as leis reguladoras do meio ambiente, onde repassam às empresas a responsabilidade de adequação, no intuito de se fazer cumprir o que está estabelecido, criando regras em benefício do todo, pois as organizações têm que ter a preocupação de buscar parâmetros diferenciados, ampliar seus conhecimentos e promover o gerenciamento ambiental sistematizado, o qual impacta socialmente. Inclusive, as organizações de um modo geral estão preocupadas com a questão ambiental também no sentido de permanecerem competitivas no mercado, por isso buscam uma adequação junto às leis ambientais, gerando e administrando eficazmente seus custos ambientais, resgatando e mantendo a estabilidade do meio ambiente e consequentemente o desenvolvimento sustentável. Quanto aos objetivos geral e específicos deste estudo, teve-se a pretensão de analisar os custos ambientais das organizações, mensurando todos os custos gerados a partir de processos ambientais, nas áreas de produção, os quais são necessários para que as empresas estejam regularizadas no que diz respeito à legislação específica e no intuito de corroborar com mudanças, para garantir um meio ambiente equilibrado; pesquisou-se na literatura, aspectos referentes aos assuntos estudados; descreveu-se os Custos Ambientais gerados nas empresas em estudo; identificou-se os custos ambientais gerados nas empresas, fazendo um contraponto com o que é exigido na legislação ambiental e o que a empresa faz além e por fim, foi analisado, descrito e emitido parecer, para contribuir significativamente com as organizações quanto aos custos ambientais gerados. Neste cenário, apresenta-se primeiramente a contextualização teórica sobre Contabilidade, Contabilidade Ambiental, Contabilidade de Custos, Custos Ambientais, Gestão Ambiental, Legislação Ambiental e ISO 14000. Em seguida, abordou-se sobre a metodologia da pesquisa e fez-se a caracterização das organizações envolvidas no estudo. Na sequência, apresentaram-se os dados coletados juntos às empresas, os quais referem-se aos custos ambientais gerados por elas e por fim, se fez uma sistematização para conclusão dos mesmos, bem como uma análise reflexiva sobre esses resultados. 1 BASE CONCEITUAL DO ESTUDO Este capítulo trata da apresentação da abordagem teórica, sobre os temas Contabilidade, Contabilidade Ambiental, Contabilidade de Custos, Custos Ambientais, Gestão Ambiental, Legislação Ambiental e ISO 14000, sendo essa a base que direciona todo o estudo. 1.1Contabilidade Contabilidade é uma ciência social, que tem como escopo estudar, verificar e elucidar os fatos sucedidos no patrimônio das organizações. A contabilidade se preocupa em oferecer as informações sobre a composição do patrimônio e repassar informações confiáveis aos empresários que constantemente são desafiados a trabalhar em um setor globalizado e competitivo e ainda, tem o dever de gerar lucros e maximizá-lo para se manter no mercado. 3 A orientação de Basso (2011, p. 26) é no sentido de que: Desde os primeiros estudos sistematizados, como conjunto ordenado de conhecimentos, com objetivo e finalidades definidos, a Contabilidade tem sido conceituada como arte, como técnica, metodologia ou como ciência, conforme a orientação seguida pelos mais diferentes estudiosos do assunto ao enquadrá-la no conjunto das espécies do saber humano. O IBRACON - Instituto Brasileiro de Contadores (apud Silva, 2008, p. 23) destaca que, “a Contabilidade é objetivamente um sistema de informação e avaliação destinado a prover seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização”. Basso (2011, p. 27) expressa seus conceitos nesses termos: Hoje, com o fortalecimento da corrente neopatrimonialista, a Contabilidade busca gerar respostas a novas demandas das células sociais como o Balanço Social, a Contabilidade Ambiental, o Capital Intelectual, entre outros aspectos complementares ao conjunto de informações que, com propriedade, vem gerando aos seus diferentes usuários. A contabilidade deve ser útil aos seus usuários, os quais dependem de informações relevantes paras as tomadas de decisões, ou seja, a contabilidade é um suporte que deve suprir as necessidades de informações, com a finalidade de disciplinar as execuções, orientando investidores, credores, administradores, governos, empregados e a quem possa interessar. A partir dessa base Silva (2008, p.24) menciona que “o objetivo principal da contabilidade, portanto é o de permitir, a cada grupo principal de usuários, a avaliação da situação econômica e financeira da entidade, num sentido estático, bem como fazer interferências sobre suas tendências futuras”. Seguindo o mesmo contexto em relação à Contabilidade, verificaremos a Contabilidade Ambiental, a qual atualmente se faz necessária e é tão importante quanto à contabilidade tradicional. 1.2 Contabilidade Ambiental De acordo com a necessidade atual, foi criada uma nova atividade para seguir as mutações motivadas pela recente posição, com o intento de proteger o ecossistema. Essa nova atividade chama-se Contabilidade Ambiental, a qual tem um papel muito importante junto às organizações, auxiliando e elaborando o planejamento estratégico, parametrizando o gerenciamento de atividades que envolvam o meio ambiente e fornecendo informações externas, que são prestação de contas das atividades relacionadas. No entendimento de Paiva (2003, p. 17) “Contabilidade Ambiental pode ser entendida como a atividade de identificação de dados e registros de eventos ambientais, processamento e geração de informações que subsidiem o usuário servindo como parâmetro em suas tomadas de decisões”. Silva expressa seu conceito nestes termos (2008, p.37): A Contabilidade Ambiental, diferentemente da Contabilidade financeira (tradicional) onde as empresas têm a obrigação de ter seus demonstrativos contábeis divulgados, nem que seja para fins fiscais, não é obrigatória para as empresas e só existirá se as empresas quiserem mostrar para a sociedade que têm preocupações e compromissos com a preservação do meio ambiente. 4 O contexto ambiental precisa ser discutido, também no que diz respeito à coleta e registro de informações, como é o objetivo da contabilidade, pois é fundamental que a sociedade esteja ciente e acompanhando a atuação das organizações empresariais frente ao equilíbrio ecológico. Tinoco & Kraemer (2004, p.148) explicam que a Contabilidade Ambiental está associada a alguns temas, tais como: definição de custos, despesas operacionais e passivos ambientais; forma de mensuração do passivo ambiental, com destaque para o decorrente de ativos de vida longa; e utilização intensiva de notas explicativas e divulgação de relatórios ambientais abrangentes, bem como o uso de indicadores de desempenho ambientais – eco – indicadores – padronizados no processo de fornecimento de informações ao público. A seguir, foram mostrados os conceitos a respeito de Contabilidade de Custos e Custos Ambientais, os quais são o objeto desse estudo. 1.3 Contabilidade de Custos A Contabilidade de Custos envolve um composto de regras e preceitos, que registra e controla o processo de produção, que reúne todos os elementos que constitui o valor pelo qual devem ser retratados na posição patrimonial, quanto aos produtos fabricados e seus processos. Para Leone (1997, p.20): Contabilidade de Custos é o ramo da Contabilidade que se destina a produzir informações para os diversos níveis gerencias de uma entidade, como auxilio as funções de determinação de desempenho, de planejamento e controle das operações e de tomada de decisões. Na mesma visão, Leone (2008, p. 21) argumenta que, “a Contabilidade de Custos é uma atividade que se assemelha a um centro processador de informações, que recebe (ou obtém) dados, acumula-os de forma organizada, analisa-os e interpreta-os, produzindo informações de custos para os diversos níveis gerenciais”. A Contabilidade de Custos consiste em um sistema que se preocupa com os registros e medições adequadas e padronizadas dos elementos de custos à medida que se organizam e fluem através de um processo produtivo. A Contabilidade de Custos mensura, classifica, analisa e interpreta os valores físicos e monetários das variações patrimoniais com desígnios à tomada de resolução de caráter administrativo, nas variadas categorias de controle. Essa ferramenta permite registrar os custos dos produtos, operações ou funções e fazer comparações entre os custos reais e as despesas com orçamentos e padrões pré-determinados. Nessa perspectiva, Lawrence (1975, p.01) define: Contabilidade de Custos é o processo ordenado de usar os princípios da contabilidade geral para registrar os custos de operação de um negócio, de tal maneira que, com os dados da produção e das vendas, se torne possível à administração utilizar as contas para estabelecer os custos de produção e de distribuição, tanto por unidade como pelo total, para um ou para todos os produtos fabricados ou serviços prestados e os custos das outras diversas funções do negócio, com a finalidade de obter operação eficiente, econômica e lucrativa. Custos são os gastos com as atividades que visam à fabricação de produtos, relativo às indústrias, ou seja, são gastos associados aos processos e fabricação de determinados produtos. 5 Ao definir o que é Contabilidade de Custos, existe a necessidade de acrescentar Custos Ambientais, os quais serão demonstrados por meio da contribuição de alguns autores que conceitua e define esse termo. 1.4 Custos Ambientais Para melhor entendermos os custos ambientais, antes, devemos mencionar os gastos ambientais, pois provisões efetuadas em relação aos gastos com o meio ambiente diminuem os impactos negativos e não afetam os interesses das organizações e de seus acionistas. A partir dessa base temos a contribuição de Paiva (2003, p. 45 e 46), o qual define os gastos ambientais como voluntários e involuntários: Gastos Voluntários: Como gastos ambientais voluntários podem-se compreender aqueles efetuados espontaneamente pela empresa, devido a uma postura antecipatória. Podem ser visualizados de uma forma mais ampla, refletindo não somente os gastos puramente ligados ao controle de redução da emissão de resíduos, mas também os relacionados às atividades operacionais como um todo, abrangendo desde a concepção de seus produtos, as matérias-primas a serem utilizadas, o processo produtivo com redução na emissão de resíduos e acompanhamento do ciclo de vida dos produtos, treinamento de pessoal e aquisição de equipamentos, assim como o investimento em projetos comunitários voltados à conscientização ambiental. Gastos Involuntários: Os gastos involuntários ou compulsórios são os desembolsos relacionados às imposições legais e penalidades diversas resultantes ou não de litígios. Tais gastos devem ser classificados como perdas, portanto redutoras do patrimônio da empresa. Os Custos Ambientais são um subconjunto de um amplo ambiente de custos, essencial a uma justa tomada de decisão. Complementando a idéia de Custos Ambientais, Silva (2008, p. 228) menciona que os “custos ambientais são os custos externos e internos e se referem a todos os custos relacionados com a salvaguarda e as degradações ambientais”. Ainda para Silva (2008), os custos relacionados ao meio ambiente são: Custos de Prevenção Ambiental; Custos de Detectação Ambiental; Custos de Falhas Ambientais Internas e Custos de Falhas Ambientais Externas, mas, nesse estudo destaca-se duas dessas quatro formas mencionadas, as quais serão estudadas: Custos de Prevenção Ambiental: são os gastos com as atividades que visam a prevenir a produção de resíduos que possam vir a ser jogados no meio ambiente. Por exemplo: contratação de mão de obra especializada na área ambiental, treinamento e conscientização de funcionários e substituição de materiais poluentes; Custos de Detectação Ambiental: são os gastos para observar se os produtos e processos da empresa estão cumprindo as normas ambientais apropriadas (leis, normas, voluntárias, como a ISO 14001 e as políticas ambientais da gestão). Como exemplo: verificação de métodos e processos, testes e inspeções para verificação de parâmetros poluidores. Os Custos Ambientais de uma maneira geral, estão ligados aos gastos de prevenção e/ou detectação de prejuízos relativos ao meio em que vivemos e para minimizar ou neutralizar os impactos ambientais causados por indústrias no processo de seus produtos é necessário atitudes, que consequentemente, levam a gerar custos para as organizações. Na mesma linha de pensamento, Silva (2008 p. 231 e 232) menciona que: Para a ONU os custos ambientais compreendem os gastos realizados para gerenciar os impactos das atividades das empresas neste setor, de forma ambientalmente responsável, além de outros gastos com o mesmo objetivo. Custos ambientais incluem, portanto, os gastos realizados para: 6 Prevenir, reduzir ou reparar danos ao meio ambiente, danos esses resultantes das atividades operacionais da empresa, ou necessários à conservação de recursos renováveis ou não renováveis; Disposição de refugos (ou para evitá-los); proteção de águas; preservação ou melhoria da qualidade do ar; redução de barulho; remoção de contaminação de prédios; pesquisa para desenvolvimento de produtos, matéria-prima ou processo de produção, ambientalmente saudáveis etc. A alocação dos custos ambientais é complexa e Rossato (2009) apresenta seu estudo mencionando que as empresas na fabricação de seus produtos necessitam do consumo de recursos naturais, produzindo resíduos e destinando-os, tendo o cuidado com o meio ambiente. No intuito de consumir um volume menor de recursos naturais, minimizar os resíduos, tratá-los ou neutralizá-los, as empresas requerem maior consumo de recursos e o valor originado dos recursos consumidos, com materiais, mão-de-obra, insumos, equipamentos e outros são denominados custo ambiental. No desenvolvimento de seu estudo Vellani e Nakao (2009) utilizam 15 casos de empresas que investiram no meio ambiente e conclui que os casos abordados no trabalho, são exemplos positivos, os quais a partir da gestão ambiental, interligando-a com a gestão econômica, ao investirem em desenvolvimento sustentável, geraram benefícios econômicos e financeiros para as empresas. Os pesquisadores Vellani e Nako (2009) ainda contribuem dizendo que através dos casos mencionados em sua pesquisa, conseguiram confirmar a hipótese de que investir em desenvolvimento sustentável reduz custos para as organizações, pois, os investimentos ambientais geram benefícios econômicos e financeiros. Guarnieri e Hatakeyama (2011) apresentam seu estudo com relação aos custos ambientais, chamando a atenção para o fato de que, há a necessidade de um rigoroso controle para apropriar corretamente o custo no produto final, indicando o custeio ABC como o mais adequado, pois, o foco recai sobre a eficiência dos trabalhos realizados pela empresa e não somente sobre os produtos. Para buscar uma adequação de acordo com as leis ambientais e melhor alocar os custos gerados por essa adequação é que se faz necessário uma gestão ambiental dentro da organização a qual irá nortear assuntos e ações relacionadas à prevenção do meio ambiente. 1.5 Gestão Ambiental As indústrias, fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas situadas no noroeste do Estado do RS, têm procurado atender ao desafio de incorporar a variável ecológica em suas atividades cotidianas e em sua estrutura organizacional, porque estão entendendo que é preciso se posicionar com responsabilidade, frente ao desenvolvimento sustentável. Ferreira (2003, p.41) explica que, “o objetivo maior da gestão ambiental deve ser o de propiciar benefícios à empresa que superem, anulem ou diminuam os custos das degradações causados pelas demais atividades da empresa e, principalmente, pela área produtiva”. Donaire (1999, p. 108) destaca que, “a maneira mais adequada de estabelecer um sistema de gestão ambiental é obedecer às Normas 14001 e 14004 da ABNT”. As mudanças e as responsabilidades socioambientais das organizações estão diretamente ligadas às obrigações para com a sociedade. Esta responsabilidade vem resumida de diversas maneiras, mediante uma gestão integrada, incluindo proteção ambiental, e sustentabilidade. A orientação de Braga (2007, p. 14) é no sentido de que, “seguindo o estabelecido na Agenda 21, as organizações devem assumir o compromisso e o desafio de internalizar conceitos de desenvolvimento sustentável à sua gestão”. 7 Novamente contribuindo através de seu estudo, os pesquisadores Guarnieri e Hatakeyama (2011) esclarecem que no início da década de 80, com o tema sustentabilidade em voga, frente aos processos de negócios, as organizações foram solicitadas a buscar mecanismos para a produção sustentável, através de investimentos em recursos antipoluentes, substituindo matérias-primas, não-renováveis por renováveis, minimizando desperdícios, trabalhando com eficiência energética e, sobretudo, reutilizando resíduos originados nos processos produtivos e de comercialização dos produtos. A ação que as indústrias exercem sobre o meio ambiente e a sociedade de um modo abrangente é muito significativa, por isso elas devem estar atualizadas, buscando incessantemente processos e informações, para lidarem de maneira positiva com a questão ecológica, bem como seguir o que detalha a lei ambiental. 1.6 Legislação Ambiental A Lei Ambiental Brasileira está dentre as melhores leis ambientais do mundo, mas, na maioria dos casos essa não é cumprida na sua integridade, pois, faltam manutenção e fiscalização dos órgãos competentes junto às organizações empresarias, as quais são as principais geradoras de poluentes e aditivos contaminantes e essas tem o dever de seguir corretamente o que reza a lei sob pena de arcar com o ônus estabelecido. Antunes (2005, p. 63) contribui com a concepção de que a Constituição Federal de 1988 traz em seu art. 170, inciso VI significativa expressão sobre as obrigações da sociedade e do Estado brasileiro para com o meio ambiente: A Lei Fundamental reconhece que as questões pertinentes ao meio ambiente são de vital importância para o conjunto de nossa sociedade, seja porque são necessárias para a preservação de valores que não podem ser mensurados economicamente, seja porque a defesa do meio ambiente é um princípio constitucional que fundamenta a atividade econômica. A Constituição Federal de 1988 estabelece um método de proteção ao meio ambiente que vai além de colocações e argumentos. É importante que as organizações estejam engajadas, seguindo as normas ambientais, considerando um contexto global, dividindo essa questão com outras áreas do conhecimento. Braga (2007, p. 29) chama a atenção para o Princípio da Solidariedade Econômica e Social no caput do art. 225 da Constituição Federal de 1988, que determina, “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. E com o propósito de cooperar com as organizações na implantação ou aperfeiçoamento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) a ISO auxilia na busca pelo desenvolvimento sustentável e é adaptável a diferentes disposições culturais, sociais e organizacionais como demonstra a ISO 14000. 1.7 ISO 14000 A ISO 14.000 é uma certificação ambiental que está sendo implantada em várias organizações empresariais, as quais já compreenderam a necessidade de respeitar, resguardar e socorrer o meio ambiente através de procedimentos e operacionalizações padronizadas, garantindo competitividade e neutralizando os impactos opostos, usando os recursos naturais de forma inteligente, garantindo um planeta saudável. Para Reis e Queiroz (2002, p. 24): 8 As normas da série ISO 14.000 são um conjunto de normas ou padrões de gerenciamento ambiental, de caráter voluntário, que podem ser utilizadas pelas empresas para demonstrar que possuem um sistema de gestão ambiental. Estas normas foram desenvolvidas pelo Comitê Técnico 207 da ISO (ISO TC 207) e focam os seguintes aspectos da gestão ambiental: 1. Sistemas de Gerenciamento Ambiental (SEM – Environmental Management Systems). 2. Auditoria Ambiental e Investigações Relacionadas. 3. Rotulagem e Declarações Ambientais. 4. Avaliação de Desempenho Ambiental. 5. Termos e Definições. Para Sasseville, Wilson e Lawson, citado por Alberton (2003, p. 81), a ISO é uma federação mundial na qual participam 110 países, entre eles o Brasil, cuja representante é a: [...] Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, que tem como objetivo propor normas que representem o consenso desses diferentes países para homogeneizar métodos, materiais e seu uso, em todos os domínios de atividades. A adoção dos padrões ISO é totalmente voluntária. Porém, apesar de os países membros não possuírem a obrigação de adotar ou mesmo apoiar esses padrões em sua forma final, eles são desenvolvidos através de um processo de construção consensual, resultando dessa forma em padrões aceitáveis para a maioria dos países membros. É importante salientar que a ISO 14.000 tende a manter e alavancar o setor de marketing das organizações, devido à exigência, principalmente dos consumidores, os quais buscam organizações empresariais que se envolvam e se preocupem com assuntos relacionados ao aspecto ambiental, pois suas ações podem refletir diretamente na qualidade de vida das pessoas e através das práticas de gerenciamento ambiental as organizações podem buscar a ISO 14001. Braga (2007, p. 19) explica que: Para a obtenção e manutenção da certificação ISO 14001, a entidade tem que se submeter às auditorias externas realizadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) (Decreto n° 5.842 de 13/7/06) e pelo Sistema Brasileiro de Certificação (SBC), entidade certificadora no Brasil. Os organismos nacionais e internacionais de cerificação precisam ser credenciados no INMETRO, cumprindo uma série de requisitos para poderem realizar auditorias de certificação dos Sistemas de Gestão Ambiental nas organizações. Como matéria obrigatória, a questão ambiental faz parte das agendas dos executivos e interessados, pois a globalização dos negócios não permite erros ou ensaios, tendo como principal fiscal, a conscientização crescente dos consumidores atentos e educados ambientalmente, os quais disseminam a necessidade de preservação do meio ambiente e devido a isso, as organizações deverão incorporar as variáveis ambientais aos seus portfólios, bem como se posicionar de maneira respeitosa frente ao cuidado com o meio ambiente. 2 METODOLOGIA A partir do contributo de Gil (2010) quanto aos objetivos mais gerais, a presente análise foi classificada como uma pesquisa aplicada, descritiva e exploratória, que visa o estudo de casos e temas específicos, tendo como base, estudos bibliográficos, para fundamentar a teoria utilizada, onde foi pesquisado e conceituado sobre os seguintes temas: Contabilidade, Contabilidade Ambiental, Contabilidade de Custos, Custos Ambientais, Gestão Ambiental, Legislação Ambiental e ISO 14000. A pesquisa também é composta de Estudo Documental para analisar os procedimentos a partir de questionários aplicados com o 9 auxílio dos proprietários das organizações estudadas, Levantamento, pois foi necessário interrogar gestores das referidas indústrias, e/ou, pessoas envolvidas no processo de regularização ambiental e custos ambientais gerados, bem como se fez um Estudo de Casos, comparativo, pois, o objeto de estudo dessa análise foi desenvolvida tendo como amostra, duas indústrias do ramo metal mecânico do noroeste do estado do RS, e todas duas, tem como fabricação máquinas e equipamentos agrícolas, em que se verificaram os custos ambientais gerados em prol de uma adequação, segundo as leis ambientais, visando um meio ambiente mais saudável. O estudo se caracterizou como uma pesquisa qualitativa, pois visava analisar custos ambientais, normas, regras e leis que tornam obrigatórias a adequação e a manutenção de um programa socioambiental, bem como mensurar os gastos para essa adequação. Os dados foram coletados por meio de análise dos processos, visita in loco para a observação e mensuração dos custos gerados e consequentemente do desenvolvimento socioambiental, por meio de entrevistas despadronizadas com os agentes envolvidos no processo. A partir dos questionários respondidos pelos gestores, foi possível analisar todos os custos ambientais originados em ambas as organizações e na análise se levou em consideração os esforços das empresas para se adequar segundo o que diz a lei e as tomadas de decisões, que geraram ações. Inclusive, foi analisado se as empresas estavam se adequando por uma consciência ambiental ou pelo fato de estarem cumprindo com suas obrigações e ainda, se os órgãos competentes estavam fiscalizando as duas empresas, indistintamente. Através dessas análises foi possível concluir o estudo, dando-lhe significado. 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS Inicialmente apresenta-se a caracterização das empresas ALFA e BETA, objetos da pesquisa. 3.1 Caracterização da empresa ALFA Fundada em 15 de janeiro de 1995 a empresa ALFA, empresa familiar, gerenciada por dois sócios (pai e filho), localizada em uma cidade da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul e com sede no perímetro urbano. Na sua fundação contou como auxílio de 10 colaboradores qualificados para a produção de matrizes e equipamentos para a indústria metalúrgica. Ao longo de seus quase 20 anos a empresa adquire experiência, confiança e tradição, tornando-se uma empresa respeitada. Atualmente a empresa é gerida por um dos sócios, sendo que no ano de 2011 o outro sócio veio a falecer. Todos os setores da empresa compartilham de uma visão comum no que se refere a investimentos contínuos, focando na qualidade, pesquisas, tecnologias, capacitação de pessoal, processos de gestão e estratégia mercadológica. A missão da empresa é agregar valores, fomentar o desenvolvimento e fortalecer relações com os clientes, fornecedores e colaboradores. Principais produtos fabricados pela empresa ALFA: 1) Máquinas: recicladora de resíduos; rotomoldado; guilhotina; empacotadeira de sementes e sementeiro. 2) Moldes de Injeção: diversos tipos de moldes, fabricados de acordo com a necessidade do cliente. 3) Matrizes: matriz de obra; matriz de repuxo e furação e matriz estampo. 4) Injetados: Passarinheira; cavalete de telha ondulada e telha trapezoidal, entre outros. 5) Equipamentos: Carrinhos internos de duas e quatro rodas. 10 3.2 Caracterização da empresa BETA A empresa BETA foi fundada em agosto de 2008, é uma empresa familiar, a qual tem como estrutura societária dois sócios (irmãos), mas, quem gerencia a empresa é apenas um dos sócios, por possuir grande experiência em sua área de atuação e a empresa está localizada em um município da região noroeste do estado do RS, na rodovia, junto ao distrito industrial. A partir da necessidade de produtos especializados na agroindústria, principalmente entre as cooperativas e cerealistas da região noroeste, os sócios entenderam que existia um nicho que poderiam trabalhar, aproveitando a experiência técnica e empreendedorismo de um dos sócios, assim a empresa emprega nove funcionários diretos e gera mais 11 empregos indiretos. Atualmente a empresa atende uma grande quantidade de clientes do segmento, devido às exigências dos padrões de qualidade, sendo necessária tal padronização para se manterem competitivas em um mercado cada vez mais exigente. Principais produtos fabricados pela empresa BETA: 1) Aspirador – sugador de grãos industrial; 2) Empilhadeira de sacos; 3) Balança empacotadeira de cereais; 4) Misturador de ração; 5) Moinho para farelo de soja; 6) Peletizadoras; 7) Peneiras para grãos e cereais, entre outros. Na sequência, apresenta-se a descrição dos custos ambientais originados nas empresas ALFA e BETA, bem como os valores dos custos ambientais gerados por ambas as indústrias e observações pertinentes em relação ao assunto proposto. Em seguida, se faz uma abordagem de outros aspectos do meio ambiente, envolvendo as empresas. A partir do conhecimento das empresas que fazem parte da pesquisa, apresentam-se os resultados com a pretensão de demonstrar os custos gerados pela empresa ALFA e BETA, de acordo com suas atividades e exigências dos órgãos fiscalizadores, com base na legislação ambiental, bem como apresentar outras informações relevantes, que caracterizam a consciência de mudanças e atitudes para preservação do meio ambiente. Ambas as empresas localizam-se na região noroeste do estado, atuam no mesmo município e todas duas, são indústrias que fabricam entre outros produtos, máquinas e equipamentos agrícolas. Quadro 1: Custos ambientais gerados na empresa ALFA DESCRIÇÃO DOS CUSTOS Alvará do meio ambiente CUSTO OBSERVAÇÕES SIM NÃO AMBIENTAL x R$ 359,00 Alvará da Fepam X Programa de gerenciamento ambiental X Utiliza empresa recicladora para destino de resíduos x R$ 140,00 Cabine de pintura X Necessidade de mudança e/ou ampliação de estrutura física para adequação ambiental X Pagamento anual Não possui programa específico, atende o que lhe é exigido. Empresa de Chapecó (SC) com custo, valor pago mensalmente. Também é dado destino via empresa de Espumoso, sem custo. Não foi solicitado pelos órgãos fiscalizadores Houve ampliação da estrutura física, para dinamizar o setor de produção, o que consequentemente auxiliou no processo de armazenamento de peças, bem 11 como de recipientes com resíduos. Equipamentos de proteção individuais EPI’s x Multas por desrespeitar o meio ambiente R$ 81,00 X Alterações de processos ou troca de matéria-prima para melhoria do meio ambiente X Reflorestamento X Coleta água da chuva e reutiliza Aquisição de máquinas com redução de barulho Mensal, ou de acordo com a necessidade A empresa teve necessidade de mudar a forma de acondicionar seus resíduos. Necessitou armazená-los em recipientes, para facilitar o carregamento. Essa atividade não gerou custos para a empresa. x R$ 545,00 O custo foi considerado baixo, pois a empresa somente recolhe a água da chuva, para posterior utilização, mas, não faz tratamento adequado na mesma. X X Possui ISO 14000 Outros custos ambientais gerados pela empresa X Fonte: Elaborado conforme informações da empresa (2013) Quadro 2: Custos ambientais gerados na empresa BETA DESCRIÇÃO DOS CUSTOS Alvará do meio ambiente Alvará da Fepam Programa de gerenciamento ambiental Utiliza empresa recicladora para destino de resíduos Utiliza cabine de pintura Necessidade de mudança e/ou ampliação de estrutura física para adequação ambiental Fornece equipamentos de proteção individuais - EPI’s, aos funcionários Multas por desrespeitar o meio ambiente Alterações de processos ou troca de matéria-prima para melhoria do meio ambiente. Reflorestamento CUSTO OBSERVAÇÕES SIM NÃO AMBIENTAL Abertura de processos, ainda em x R$ 320,00 implantação. X Não tem um programa formal, mas, necessitou de um projeto X ambiental Destino de resíduos contaminados x R$ 420,00 com tinta e óleo. Exigência dos órgãos x R$ 30.000,00 fiscalizadores Construção de ambiente de corte e preparação para a pintura x R$ 24.000,00 (ampliação predial) x R$ 600,00 Troca de acordo com a necessidade X X X Coleta água da chuva e reutiliza x R$ 3.000,00 Aquisição de máquinas com redução de barulho e/ou alterações nas máquinas para reduzir barulho x R$ 4.000,00 Possui ISO 14000 X Outros custos ambientais gerados pela empresa. X Fonte: Elaborado conforme informações da empresa (2013) Sistema de coleta está sendo implantado Isolamento acústico em algumas máquinas/equipamentos 12 De acordo com as informações sobre os custos gerados, verifica-se que as empresas ALFA e BETA preocupam-se em respeitar o meio ambiente conforme o que lhes é exigido, visto que pagam o alvará de meio ambiente de maneira sistemática, renovando-o todos os anos. As empresas não têm necessidade de buscar certificado da Fundação Estadual de Proteção Ambiental-RS (FEPAM), pois o certificado não é obrigatório para a atividade das referidas empresas. Quanto ao destino dos resíduos, a empresa ALFA paga a uma empresa recicladora da cidade de Chapecó-SC, mensalmente, a qual recolhe os recipientes de tinta, thinner, óleo lubrificante e óleo para refrigeração, pois esses produtos são considerados contaminantes. Quanto às sobras de ferro, essas são recolhidas por uma empresa da cidade de Espumoso, a qual não cobra pelo recolhimento, pois revende as sobras para empresas de sucatas. Quanto à empresa BETA, essa também paga mensalidade para empresa recicladora, no intuito de dar destino adequado aos resíduos contaminantes como tinta e óleo. Nesse caso, ambas as empresas, estão agindo conforme obrigatoriedade dos órgãos fiscalizadores. A empresa ALFA não possui cabine de pintura. A cabine de pintura tem a função de minimizar o odor, bem como os resíduos da tinta utilizada no setor de produção. Diferente da empresa BETA, a qual foi fiscalizada por órgão competente, que institui a obrigatoriedade do uso da cabine de pintura, assim a empresa BETA, executou o que lhe foi ordenado. Conforme relato da empresa ALFA, de acordo com o aumento de demanda das peças produzidas na empresa foi necessário a ampliação da estrutura predial, mas, essa ampliação não aconteceu devida uma obrigação dos órgãos fiscalizadores, mas, contudo, a construção de uma nova área, aumentou o espaço físico do setor de produção e assim foi possível manter peças usadas, para posterior utilização, armazenadas em local específico, sem deixá-las ao ar livre e essa mudança estrutural também permitiu espaço para a guarda dos recipientes com resíduos. A empresa BETA foi instruída pelo órgão fiscalizador a ampliar sua estrutura predial, pois necessitava de um espaço físico, exclusivo, para o setor de corte e outro para preparação das peças para a pintura, sendo que essas ações geraram custos para a empresa. Os colaboradores das empresas ALFA e BETA recebem equipamentos de proteção individuais (EPI’s), assinam um termo de recebimento e tem por obrigação utilizá-los periodicamente. Os EPI’s disponibilizados pelas empresas são, entre outros: óculos de proteção; abafador tipo plug; luva de raspa; luva nitrílica, protetor auricular, óculos e jalecos e/ou camisetas, que são os uniformes. Tanto a empresa ALFA, como a empresa BETA recolhem seus resíduos, acondicionam-nos em recipientes e armazenam-nos em lugar específico e esses recipientes permanecem guardados até o período de recolhimento, realizado por empresa especializada. Essa obrigatoriedade está condicionada a fiscalização de órgãos competentes. As empresas estudadas, não possuem área para reflorestamento e a ação de plantar árvores em prol do meio ambiente não faz parte das ações das empresas. Frisando que as empresas ALFA e BETA não utilizam madeira na fabricação de seus produtos, ou seja, não tem como obrigação fazer o reflorestamento. No intuito de reduzir custos, a empresa ALFA, recolhe água da chuva para reutilização quanto à lavagem de peças e para a limpeza do chão da fábrica. Nesse caso a empresa originou custos mínimos, visto que foi instalada uma calha no telhado, havendo necessidade de comprar uma caixa d’água que custou R$250,00, e mangueiras no valor de R$200,00, bem como o custo de mão de obra para instalação dos materiais, que foi de R$80,00 e somente no verão é adicionado água sanitária, que custa em média R$15,00 o litro. A água da chuva, recolhida, não é tratada, então só pode ser utilizada para lavar peças e pisos. A empresa BETA também está usando como estratégia de redução de custo, a reutilização da água da chuva e esse processo ainda está em implantação, o qual gerou custos para a empresa. A empresa 13 BETA ainda pretende fazer o tratamento dessa água, para melhor utilização da mesma e com isso o custo relativo a essa ação irá aumentar. Quanto à empresa ALFA, essa não teve necessidade e também não foi exigido pela fiscalização, que fizesse troca de máquinas, no intuito de reduzir barulho, lembrando que à empresa está situada no perímetro urbano. O oposto ocorreu na empresa BETA, mesmo que esta não esteja situada no perímetro urbano, mas, foi solicitada a ação para reduzir o barulho ocasionado por algumas máquinas/equipamentos utilizadas no setor produtivo. A empresa utilizou o isolamento acústico para sanar o problema. Ambas as empresas não geram outros custos relativos à adequação de leis ambientais e não possuem um sistema de gestão ambiental formalizado, mas, admitem cumprir o que os órgãos fiscalizadores, de acordo com a legislação, exigem. As empresas ALFA e BETA não possuem certificado ambiental, ou seja, as empresas não buscaram as normas da série ISO 14000, que são padrões estabelecidos quanto ao gerenciamento ambiental e a certificação não é obrigatória, mas, é utilizada por algumas empresas que trabalham com sistema de gestão ambiental. No contexto, também foi pesquisado junto às empresas ALFA e BETA, outras ações que poderiam minimizar os efeitos negativos e maximizar os efeitos positivos, quanto ao meio ambiente, as quais são elencadas no quadro seguinte: Quadro 3: Outras informações relevantes da empresa ALFA DESCRIÇÃO Utiliza copos plásticos (descartáveis) na empresa? SIM NÃO OBSERVAÇÕES X Utiliza embalagens plásticas? X Separa o lixo seco e úmido x Utiliza tinta para pintura? x Utiliza thinner? x A tinta é considerada contaminante O thinner a base de solvente é considerado contaminante Outros produtos considerados contaminantes? x Óleo lubrificante para máquinas e equipamentos e óleo para refrigeração x Reutiliza no processo de injeção de plástico, misturando os resíduos com matéria prima virgem. O ferro não é reutilizado na empresa. Reutiliza os resíduos. Como reutiliza e quais os resíduos? Sucatas são deixadas ao ar livre? Há projetos junto com a comunidade para conscientização ambiental? Descarta lixos eletrônicos e como é feito esse descarte? Utiliza papel A4 (folha de ofício) reciclado? Reutiliza folha de ofício (usar dos dois lados)? Funcionários são treinados para usar os EPI's? A empresa fabricou algum produto (para comercializar) que auxilia na redução da degradação do meio ambiente?, Se sim, qual produto? x x x Doados ou entregue em pontos de recolhimentos. x x x Quanto ao uso e conservação dos mesmos x Recicladora de resíduos, para reciclar materiais de construção junto a obras 14 Há ações para preservar o meio ambiente? x Fonte: Elaborado conforme informações da empresa (2013) Não deixar materiais contaminados, com óleos ou similares jogados ao ar livre, mas, sim acondicionando-os em recipientes adequados a cada um de seus materiais. Quadro 4: Outras informações relevantes da empresa BETA DESCRIÇÃO Utiliza copos plásticos (descartáveis) na empresa? SIM NÃO OBSERVAÇÕES x Utiliza embalagens plásticas? x Uso de plástico bolha para envelopamento de máquinas novas, destinadas ao consumidor Separa o lixo seco e úmido? Utiliza tinta para pintura? x x A tinta é considerada produto contaminante Utiliza thinner? Outros produtos considerados contaminantes? Reutiliza os resíduos. Como reutiliza e quais os resíduos? x O thinner é considerado produto contaminante x x x Sucatas são deixadas ao ar livre? Há projetos junto com a comunidade para conscientização ambiental? Descarta lixos eletrônicos e como é feito esse descarte? Utiliza papel A4 (folha de ofício) reciclado? Reutiliza folha de ofício (usar dos dois lados)? Funcionários são treinados para usar os EPI's? A empresa fabricou algum produto (para comercializar) que auxilia na redução da degradação do meio ambiente?, Se sim, qual produto? Atualmente, acondicionadas em caixas de coleta, para posterior recolhimento x x Não houve necessidade x x x x Há ações para preservar o meio ambiente? x Fonte: Elaborado conforme informações da empresa (2013) Conforme orientação de empresa terceirizada, especializada nessa área Criou sistema de contenção de gases de ambientes, possibilitando a estocagem de produtos (venenos) químicos. Uso da cabine de pintura e destino correto aos resíduos A empresa ALFA não tem por costume utilizar copos descartáveis, bem como não utiliza embalagens plásticas para envolver seus produtos, visto que não há essa necessidade. Já a empresa BETA faz uso de copos descartáveis e inclusive utiliza plástico bolha para envolver seus produtos acabados. É segregado o lixo seco e úmido, sendo que materiais contaminantes ou materiais que podem ser reutilizados são destinados conforme empresa especializada e o restante dos resíduos são descartados em lixo comum e essas ações são peculiares em ambas as empresas estudadas. A empresa ALFA reutiliza seus resíduos como o plástico que é triturado e misturado junto à matéria prima virgem e o ferro é recolhido por empresa recicladora a qual revende o mesmo para outra empresa que reutiliza-o. A empresa BETA declarou não reutilizar os resíduos, apenas destina-os. As sucatas geradas pela empresa ALFA não são deixadas ao ar livre, sendo armazenadas dentro da empresa, no setor de produção. As sucatas originadas na empresa BETA e outras peças, atualmente não são deixadas ao ar livre, mas, quando a empresa foi 15 fundada isso ocorria, sendo assim os órgãos competentes estipularam um prazo para que a empresa se adequasse as leis ambientais. A empresa buscou eliminar esse problema e a ação, inclusive, dinamizou os processos do setor de produção Ambas não possuem como ações projetos junto à comunidade. Projetos em prol do meio ambiente auxiliam tanto na conscientização, como em atitudes para reduzir a degradação e cuidar do ecossistema. Produtos eletrônicos como, por exemplo, computadores e impressoras, que não tem mais utilidade para a empresa, são doados para entidades carentes e/ou entregues em pontos de recebimento, como a Unijuí e essa ação foi verificada na empresa ALFA, posto que a empresa BETA, ainda não necessitou descartar seus objetos eletrônicos. As empresas ALFA e BETA não utilizam papel A4 reciclado, por falta de hábito e por considerar esse papel mais caro que o papel A4 branco, mas, a empresa ALFA costuma reutilizar as folhas de ofício, usando-as dos dois lados, quando possível, por uma questão de consciência ambiental e para redução de custos. Já a empresa BETA não tem como política a reutilização das folhas de ofício. Os funcionários da empresa ALFA recebem instrução para o uso correto e periódico dos EPI’s e os treinamentos são ministrados pelo gestor da empresa, sendo que todos os colaboradores são responsáveis pelos equipamentos de segurança que recebem, pois o cuidado com os equipamentos ajudam na redução de custos, assim não há necessidade de trocas constantes. Na empresa BETA os funcionários recebem orientação quanto ao cuidado e ao uso dos EPI’S de acordo com empresa terceirizada, responsável por essa questão. A empresa ALFA desenvolveu e fabricou um produto para reciclar material de construção, ou seja, uma recicladora de resíduos, sendo que essa recicladora processa restos de reboco, argamassas, azulejos, tijolos, blocos de cimento, pedaços de telhas e assemelhados, podendo reutilizá-los em contra - pisos e calçadas, desde que misturados a outros materiais. A empresa BETA também desenvolveu produto com o objetivo de auxiliar o meio ambiente e criou um sistema de contenção de gases de ambientes, sendo possível estocar os produtos considerados contaminantes. Para auxiliar na preservação do meio ambiente a empresa ALFA foca nos cuidados com os resíduos contaminantes, como embalagens de óleos ou similares, não deixando-os jogados ao ar livre, mas, sim acondicionando-os em recipientes adequados a cada um de seus materiais e a empresa tem essa atitude por uma consciência ambiental e por exigência dos órgãos fiscalizadores. A atitude de preservação do meio ambiente quanto à empresa BETA é a utilização da cabine de pintura e destino correto aos resíduos. Para melhor compreensão do estudo relacionado aos custos ambientais, gerados por duas indústrias, se faz necessário uma análise mais criteriosa a cerca do assunto. 3.3 Análise dos resultados Analisando a empresa ALFA, assim como a empresa BETA, se faz necessário realizar alguns apontamentos relevantes, pois, as empresas têm suas similaridades, bem como suas diferenças. O momento atual permite verificar que por obrigação ou por conscientização, as empresas estão mudando seus processos, suas atividades e principalmente o modo de gerir a empresa em relação ao meio ambiente, pois as organizações entenderam que, para continuar no mercado globalizado e competitivo, ações têm de ser tomadas e atitudes inteligentes podem minimizar custos, pois é necessário reduzir, reutilizar e reciclar. No contexto, analisam-se as similaridades quanto ao ramo de atuação, pois ambas estão inclusas no segmento metal mecânico e fabricam produtos e equipamentos para o setor agrícola. As empresas são familiares, de pequeno porte, exportam seus produtos de maneira 16 indireta, por meio de outras empresas que compram e destinam seus produtos para o mercado internacional. Existem também diferenças entre as empresas, visto que a empresa ALFA foi fundada há 18 anos e a empresa BETA há quatro anos. A empresa ALFA tem sua sede no perímetro urbano e a empresa BETA encontra-se situada no distrito industrial, ambas estão localizadas no mesmo município e custos ambientais são gerados pelas empresas. As diferenças encontradas durante o estudo são significativas, assim como preocupações e exigências dos órgãos fiscalizadores do meio ambiente, são considerados diferenciados. Os custos ambientais gerados pela empresa ALFA podem ser considerados mínimos se comparados aos custos gerados pela empresa BETA. Desde a sua fundação, a empresa ALFA vem tentando trabalhar de forma correta, ou seja, responsabilizando-se por suas ações e seguindo as exigências dos órgãos fiscalizadores. Nota-se que na empresa BETA, tem as mesmas perspectivas, que é trabalhar de acordo com o que lhe é exigido, conforme o que a lei estabelece. No processo produtivo da empresa ALFA, há a necessidade de utilização de tinta para a pintura de suas máquinas e equipamentos, mas, não foi lhe exigido o uso de uma cabine de pintura, a qual promove uma redução do cheiro e resíduos da tinta são facilmente separados para o destino correto, permitindo um ambiente limpo e saudável para os colaboradores, bem como para a vizinhança, visto que a referida empresa está situada no perímetro urbano e o resíduo de tinta exala um cheiro forte e pode-se ainda mencionar que a tinta é um produto contaminante e por isso tem de ser utilizada tomando-se os devidos cuidados. Mas, na empresa BETA, a situação é oposta, sendo que os órgãos fiscalizadores do meio ambiente exigiram que a empresa utilizasse uma cabine de pintura. Lembrando que essa empresa está situada no distrito industrial, junto a Rodovia e por exigência, a empresa adquiriu uma cabine de pintura, com sugador (exaustor) de resíduo e cheiro, gerando assim um custo ambiental para tal adequação e percebe-se que o custo foi considerado elevado para a empresa. Quanto à obrigatoriedade do uso da cabine de pintura, a empresa ALFA, menciona que fará a aquisição do equipamento quando for lhe exigido, caso contrário não irá gerar o custo para a empresa, sem que os órgãos fiscalizem e mencionem que há a necessidade e obrigatoriedade do uso da cabine no setor de pintura. A empresa BETA, explica que acatou a ordem e adaptou-se a exigência do órgão fiscalizador, mas, somente adquiriu o equipamento porque foi fiscalizada e ordenada a trabalhar com a cabine de pintura, caso contrário não iria gerar para a empresa, um custo, considerado alto. Tendo por base a fiscalização e necessidade de melhorias, a empresa BETA, precisou ampliar sua estrutura predial, pois, algumas peças e equipamentos usados, que seriam posteriormente reutilizados estavam sendo deixados ao ar livre, gerando contaminação do solo, pois, os metais estavam enferrujando e exalando substâncias contaminantes e em contato com o solo causam degradação. A empresa se adequou e construiu uma área ao lado da já existente e essas adequações, segundo o gestor da empresa geraram um custo elevado, mas, contribuíram para a melhoria dos processos, inclusive do layout do setor de produção. Com o espaço da fábrica ampliado, foi possível aumentar a demanda de produtos fabricados, bem como foi adquirido um torno, sendo que a empresa terceirizava esse serviço, então com o investimento, reduziu-se o custo do serviço terceirizado. Já a empresa ALFA, ampliou sua estrutura predial, pensando em melhorias e dinamismo no setor de produção, mas, não estava sendo exigidas essas ações, pelos órgãos fiscalizadores, pois, a empresa não deixava peças ou equipamentos usados ao ar livre, ou seja, já tinha a consciência de que deveria guardar de maneira adequada as peças e equipamentos utilizados pela empresa. O gestor também explica que a ampliação predial, resultou em melhorias tanto dos processos na fabricação dos produtos como do meio ambiente. 17 Detalhes que parecem sem muita importância também são analisados, como o uso de copos plásticos descartáveis e uso de papel A4 branco, sem reutilização e essas ações são frequentes na empresa BETA, visto que a empresa ALFA não faz uso de copos plásticos e reutiliza o papel A4 dos dois lados, mas, deixa claro que essas atitudes são tomadas com o intuito de reduzir custos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo por base a análise abordada, conclui-se que as empresas participantes do estudo estão adequando-se quanto às leis ambientais, no intuito de permanecerem competitivas no mercado globalizado, mas, acima de tudo buscam cumprir rigorosamente o que lhes é imposto, conforme rege a legislação ambiental, pois, as indústrias são as responsáveis por tudo o que acontece em relação a seus processos, produtos, resíduos e destino dado a eles e assim geram-se custos ambientais. O estudo demonstrou que os órgãos fiscalizadores do meio ambiente estão bastante preocupados com as empresas fundadas nos últimos anos e essas tem a obrigação de possuírem um projeto ambiental para adquirirem o certificado ambiental, que dá direito a empresa de atuar como indústria. Percebe-se que a empresa mais antiga não necessitou esse planejamento ambiental. A partir do estudo, também fica claro que as empresas mais novas, mesmo situadas no distrito industrial, necessitam de melhorias quanto ao barulho gerado por máquinas/equipamentos e quanto ao uso de produtos contaminantes como o thinner e a tinta, mas, o mesmo não ocorre com empresas estabelecidas há anos, no perímetro urbano, as quais também geram poluição sonora e/ou poluição através de produtos contaminantes, como os citados. Verifica-se uma discrepância dos órgãos fiscalizadores, conforme relatado no estudo, pois, a fiscalização é rígida e se faz cumprir o exigido a determinadas empresas, no tocante, aquelas fundadas há pouco tempo, mas, a fiscalização é branda com as empresas existentes há mais tempo. Sugere-se que em outro estudo, a partir de uma análise aprofundada das leis antigas do município, possam ser averiguadas tais diferenças. Frisando que, as empresas devem ser fiscalizadas e tem o compromisso de seguir o que lhe é estabelecido. Por exigência ou por comprometimento, as empresas estão gerando custos ambientais para se adequarem ao momento que pede mudanças de atitudes, consciência em relação ao uso dos recursos naturais, para que esses sejam utilizados de maneira inteligente, de forma sustentável, pensando nas gerações atuais e inclusive nas gerações vindouras. Os custos ambientais gerados pelas indústrias foram necessários para que elas se enquadrassem na legislação atual e, contudo percebeu-se que houve melhorias no ambiente de trabalho após as ações realizadas, sem deixar de mencionar os ônus que acarretariam as empresas, caso elas não se adequassem ao solicitado. Propõe-se para as empresas, que essas fiquem atentas a legislação ambiental, que possam ter ações independentes do que lhe é exigido e que se adéquem as tendências que é reduzir, reciclar e reutilizar e coloquem como política nas suas empresas a pirâmide do desenvolvimento sustentável, a qual abrange três variáveis que são a econômica, a social e a ambiental, pois, as empresas que não seguirem essas variáveis, poderão retroceder nas suas atividades bem como na sua imagem, pois os consumidores mais atentos e exigentes estão focando e adquirindo bens de empresas responsáveis socioambiental. A tendência futura mostra que as empresas devem buscar atualização quanto ao assunto sustentabilidade e principalmente colocá-las em prática. Conclui-se que, timidamente as empresas estão voltando-se para esse assunto, mas, atualmente e com base nas duas empresas relacionadas no estudo, ainda há uma espera pela fiscalização e por uma ordem para 18 adequação. As adequações geram custos ambientais, os quais se tornam necessários e importantes para a minimização ou neutralização dos impactos negativos voltados ao ecossistema. REFERÊNCIAS ALBERTON, Anete. Meio ambiente e desempenho econômico-financeiro: o impacto da ISO 14.001 nas empresas brasileiras. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, 2003. ANTUNES, Paulo de B. Direito ambiental. 7. ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005. BASSO, Irani P. Contabilidade geral básica. 4 ed. Ijuí:Unijuí, 2011. BEUREN, Ilse M. (Org.). Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004. BRAGA, Célia (Org.). Contabilidade ambiental: ferramenta para a gestão da sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2007. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988. DONAIRE, Denis. Gestão ambiental na empresa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. FERREIRA. Aracéli C. de S. 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