NOVAS MOTIVAÇÕES NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS EM GEOGRAFIA AGRÁRIA PROVENIENTE DOS GRUPOS DE PESQUISA E DO COMPROMETIMENTO DAS IES COM O DESENVOLVIMENTO REGIONAL 1 Vera Maria Favila Miorini Introdução A formação dos grupos de pesquisa tem fomentado as especialidades do conhecimento e oportunizado a produção científica e tecnológica, bem como o diálogo interdisciplinar permitindo o avanço nas soluções de problemas que se apresentam complexo e cujas soluções nem sempre dependem de resultados provenientes de uma única especialidade do conhecimento. Portanto, a criação de grupos de pesquisa interdisciplinar tem permitido que os geógrafos se manifestem em seus grupos, mostrando sua capacidade pragmática e apresente suas concepções holísticas na identificação das inúmeras soluções. Por outro lado desvendam-se as possibilidades deste profissional, principalmente nos grupos que tratam do ramo da geografia agrária, onde sua atuação, hoje, tem se revelado na terminação e na reestruturação do ambiente rural, e assessorando as administrações públicas e as comissões que tratam do desenvolvimento rural. Evidentemente que, para isto ser alcançado, é necessário empenho na formação dos profissionais em geografia agrária no seio dos grupos de pesquisa a que os jovens acadêmicos estejam inseridos e onde realizam sua iniciação, portanto a universidade e seu projeto de desenvolvimento social e espacial. Caso isto logre êxito os profissionais poderão contar com uma sólida preparação para atuarem em geografia agrária manifestando suas reflexões e apontando soluções na direção do ordenamento socioespacial. 1. Formação e importância dos grupos de pesquisa Considera-se como objetivo na temática Grupos de Pesquisa, o desejo e a necessidade de se ter o conhecimento e o domínio da informação a respeito das ações de pesquisa e da massa crítica em atividade no País. Para isso o CNPq, criou em 1992 uma base de dados que entrou em funcionamento no segundo semestre de 1993. A partir de então, o CNPq vem ampliando esta base e, para isso, se atualizando das informações armazenadas bem como incentivando a criação de novos grupos, cuja maior motivação reside em se ter uma visão completa e rápida a respeito de o que se investiga? Quem investiga? Onde se investiga? O Conselho Nacional de Pesquisa considera as informações relevantes, pois permite ao órgão avaliar, direta e instantaneamente estas informações bem como os recursos humanos que fazem parte desses grupos, como é colocado na página de internet do órgão “[...] às linhas de pesquisa em andamento, às especialidades do conhecimento e setores de atividades envolvidos e à produção científica e tecnológica no biênio imediatamente anterior ao ano da coleta dos dados. Além disso, cada grupo é localizado no espaço e no tempo”. (CNPq, 2005) Por outro lado, é do conhecimento nacional que os grupos de pesquisa, como denomina o CNPq, “inventariados”, se apresentam em variação de tamanho e em número de pessoas em cada grupo, ocorrendo em sua maioria nas universidades públicas, instituições isoladas de ensino superior, ainda em instituições de pesquisa científica e também em institutos de pesquisa tecnológica e desenvolvimento, além se destacarem as empresas estatais e algumas organizações não-governamentais com atuação em pesquisa. Como bem considera o CNPq. Após um esforço continuo de quase 50 anos, o Brasil conseguiu montar um corpo científico e tecnológico respeitável. Ainda que responsável por uma pequena parcela da produção mundial, este corpo científico e tecnológico brasileiro se encontra organizado em grupos de pesquisa e está bastante completo, em particular, no que se refere à pesquisa científica. No entanto, contrasta com a pouca disponibilidade de informação organizada a seu respeito. Provavelmente, considera a necessidade de se ter o conhecimento do que se faz em termos de investigação no País, uma das mais fortes motivações que levou o CNPq a tal empreendimento de construir um Banco de Informações nessa dimensão. Pode-se considerar também como motivação a escassez de recursos e a necessidade de bem direcioná-los frente ao que, até então, se explicava por uma falta de informações tolerável, pois o que foi relativamente abundante até quase o final da década de 70, a partir daí exigiu controle racional e orientação adequada aos interesses maiores da política nacional. A ausência de informações sobre a massa crítica, o que ela investiga, como investiga, onde se investiga, foi se tornando uma ausência relevante frente às dificuldades que surgiram em termos de conhecimento de ciência e de tecnologia nacional. Além da carência de recursos no período de 1980 e 1990, testemunharam a emergência de novos modelos explicativos do desenvolvimento científico e tecnológico e das relações entre esses dois componentes, como, igualmente a cobrança de maior e melhor conhecimento do que e como está sendo realizada a C&T no Brasil. Nesse mesmo período, foram maximizadas as idéias de competição e de busca de qualidade, resultando na crescente necessidade de instrumentos capazes de medir a capacidade de competir e de avaliar a qualidade do que se faz em C&T. Obviamente para o desenvolvimento desses instrumentos, um dos insumos básicos passa a ser a informação qualitativa e resultando na formação do Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil. O objetivo é o de constituir uma plataforma de informação básica sobre o parque Cientifico e Tecnológico brasileiro. As informações se apresentam na base de dados com três finalidades principais referentes à sua utilização pela comunidade científica e tecnológica no exercício profissional, como um eficiente instrumento para intercâmbio e troca de informações, além de utilizar a precisão e rapidez, responder quem é quem, onde se encontra, o que está fazendo e o que produziu recentemente. No âmbito do planejamento e gestão das atividades de C&T o Diretório vem sendo talvez a mais poderosa ferramenta já desenvolvida no Brasil, em nível das instituições, das sociedades científicas ou das várias instâncias de organização político-administrativa do País. A base de dados se constitui em uma fonte inesgotável de informação, pois além daquelas diretamente disponível sobre os grupos de pesquisa, oferece uma base censitária que permite o aprofundamento do conhecimento e a construção de amostras sobre campos não cobertos pelos dados como, por exemplo, o financiamento ou a avaliação qualitativa da produção científica e tecnológica. Na constituição estrutural dos grupos de pesquisa a definição mais importante na base de dados é a de sua unidade de análise, o grupo de pesquisa que é definido, pelo CNPq, como sendo um conjunto de indivíduos organizados hierarquicamente; onde o fundamento organizador dessa hierarquia é a experiência, o destaque e a liderança no terreno científico ou tecnológico; existindo envolvimento profissional e permanente com atividades de pesquisa; onde o trabalho se organiza em torno a linhas comuns de pesquisa; e que, em algum grau, compartilham instalações e equipamentos. (CNPq, 2005) Cada grupo de pesquisa se organizar em torno de uma liderança (eventualmente duas), que é a fonte das informações constantes na base de dados, as quais são coletadas por meio de um questionário padronizado que chega aos líderes de grupo através da intermediação dos responsáveis pela atividade de pesquisa nas instituições. Esses personagens (pró-reitores, superintendentes, diretores ou vice-presidentes de pesquisa), devidamente orientados pela equipe responsável pelo projeto, identificam os líderes de pesquisa, coletam as informações (utilizando-se dos questionários) e se encarregam do recolhimento e envio. Segundo o CNPq (2005), a cada dois anos ocorre renovação na base de dados por meio de um novo trabalho de campo, com a substituição completa das informações dos grupos de pesquisa e de pesquisadores. Desse modo a apresentação compreende duas bases de dados distintas, mas relacionadas e referentes aos grupos de pesquisa e aos pesquisadores, conforme a página do CNPq, (2005). A primeira é composta pelas informações sobre os grupos de pesquisa, no total de 7.271 grupos de pesquisa oriundos de 158 instituições, conforme cadastro do segundo semestre de 1995 e, as informações sobre a produção científica referente a 1993 e 1994; a segunda base de dados é composta pelas informações sobre os 26.779 pesquisadores que compõem os grupos. O relacionamento entre as bases permite, o deslocamento direto das informações sobre cada pesquisador para o conjunto de informações sobre o grupo do qual faz parte e vice-versa. (CNPq, 2005) 2. A Universidade Federal de Santa Maria o ensino, a pesquisa e a extensão. A Universidade Federal de Santa Maria, criada pela Lei 3.834-C, de 14 de dezembro de 1960, ocupa o epicentro de um raio que se estende até a fronteira com a Argentina, portanto ocupando espaço da área da Metade Sul. Tem como objetivo máximo a formação de profissionais e técnicos apropriados às necessidades do meio e entendendo que, quando este técnico ou profissional estiver recebendo a formação através de um segmento científico locado no interior, permanecerá neste interior, o que assume importância inestimável para o desenvolvimento nacional integrado e em especial para o desenvolvimento regional. Tal ação vinha, na época, a propor uma nova universidade ao trazer em seu bolo uma orientação diferente. Durante esta trajetória, a UFSM vem construindo e aperfeiçoando seu modelo de administração acadêmica, procurando, assim, cumprir sua missão de capacitar o homem dando-lhe possibilidades de gerar seu próprio desenvolvimento e de provocar mudanças necessárias em seu contexto social. Para o que tem sustentado, ao longo destes anos o Planejamento de Desenvolvimento de Área, bem como o reconhecimento e atendimento constante a quesitos como os recursos naturais das áreas a formação tecnológica das populações, únicas e capazes de soerguer as categorias socioeconômicas, elevando ó nível de vida dos grupos humanos. Em sua trajetória de ação a Universidade Federal de Santa Maria, ocupa a área centro-oeste do estado do Rio Grande do Sul, se localizando em seu centro geográfico o que a favorece de ser a sede do Distrito Geoeducacional 37, com mais de 1.000.000 habitantes e abrangendo mais de 58 municípios que se estendem sobre uma área de 94.955 km². Nessa área encontram-se mais de oito municípios que possuem estabelecimentos de ensino superior nascido das antigas extensões universitárias e realizando com a UFSM, profundos laços de intercâmbio de ensino de graduação, pesquisas e extensão. Baseado nesta conjuntura, no Projeto de Gestão da UFSM do Século 21, determinado por Resener e Jardim (2005), está inscrito o comprometimento da Universidade com a qualidade acadêmica e transformação da sociedade na direção de uma igualitária justiça social, ainda tão dispare e marcada pelas desigualdades no Brasil com um todo, mas certamente acentuada em suas regiões distantes dos centros hegemônicos. O Projeto de Gestão apresenta três diretrizes gerais que se combinam e se complementam: a primeira trata de uma gestão horizontal tendo as pessoas como centro das atenções; a segunda aborda o processo educacional e a produção científica e; a terceira abrange o desenvolvimento regional e nacional. Chama a atenção nesta linha de colocação às diretrizes que envolvem o processo educacional e científico e a ação da UFSM no âmbito de sua área, pois diz respeito a pesquisa, a produção científica e as ações de sua massa crítica sobre o seu entorno. Destaca-se a presença dos estudos práticos da Geografia na reestruturação sócioespacial da área de atuação da UFSM, através da valorização de seu curso de graduação e a concretização da proposta do Curso de Mestrado, atendendo a chamada da UFSM, aos anseios de sua massa crítica em particular e a necessidade de formação de técnicos atuantes em IES isoladas e em órgãos públicos e privados existentes nas regiões, onde estão os profissionais que, neste momento de globalização, são requeridos e apresentar soluções no que concerne a organização dos espaços, a reconversão ambiental das áreas degradadas pelo uso intensivo de seus recursos e em condições de fragilidade no equilíbrio. Estes profissionais ao serem requeridos a determinarem o rearranjo dos espaços e assessorarem as administrações municipais, estaduais, federais e privadas, sobre as mais diversas questões e oriundas de fenômenos interrelacionados, mas que se encontram a espera da tomada de decisão urgente, não poderão agir se não estiverem alicerçados em um grupo de investigação forte, criativo e capaz de através da crítica construtiva poder indicar caminhos de solução. Por outro lado, a UFSM tem consciência de que não é possível articular atividades, renovar tecnologias, reestruturar áreas estagnadas e em processo de inércia sem dispor de um grupo de profissionais apresentando condições necessárias para tal e em qualificação. Desse modo, os grupos de pesquisa constituídos e atuantes na UFSM, envolvendo seus pesquisadores, promovem o intercâmbio de idéias com investigadores de outros grupos internamente e com outros grupos externos, muitos deles situados em instituições distintas e distantes, porém permitindo a alimentação de novas idéias através dos grupos e por meio deles, bem como de pesquisa e de extensão. Essa permuta de idéias que transita no seio dos grupos de pesquisa tem, não apenas provocado a reflexão e a discussão, mas, principalmente resultado em convênios altamente construtivos. As ações que se desenvolvem em muitos municípios das diversas regiões (Noroeste, Fronteira Centro-Oeste e Sul-Sudeste), bem como o Projeto de Reconversão da Metade Sul ora coordenado pelo Governo estadual conclamando as universidades para que atuem em suas áreas de pesquisa em conformidade com os planos do Governo do Estado, tem sido da maior importância ao favorecer o agrupamento de investigadores das mais diferentes áreas e permitir não apenas a troca de informações, mas principalmente o enriquecimento científico advindo da interdisciplinaridade, dos conceitos e procedimentos metodológicos e técnicos que compõem muitos dos grupos de pesquisa existentes na UFSM. 2.1. O trabalho da geografia na reestruturação sócioespacial. A massa crítica do Departamento de Geociências engajada em projetos de envergadura, nesta direção e a serem executados, entende que o sucesso da formação do profissional egresso do Curso de Graduação e de Pós-graduação em Geografia consiste em assegurar a competente formação de recursos humanos para o ensino e para a pesquisa. Daí o perfil de profissional desejado dever ter o conhecimento, as habilidades e atitudes, plantadas pela ética necessária par atuar de forma criativa e eficiente, na área de Ensino, Pesquisa, Consultoria e Planejamento no âmbito da Geografia. Nesse espírito de ação o Curso de Mestrado em Geografia assume como área de concentração a Análise Ambiental e Dinâmica Espacial e apresenta, como linhas de pesquisa três, a saber: Geoinformação e Análise Ambiental; Meio Ambiente e Sociedade; e Sensoriamento Remoto em Geografia. Tais direcionamentos vêm ao encontro das necessidades que se apresentam no momento como desafios a exigir soluções de um grupo de profissionais cuja competência os habilita a tais tarefas e bem apoiados no que se determina no primeiro inciso, basicamente nas letras a, f e j, do Artigo 3º da Lei nº 6664/1979, que trata das ações da geografia conforme prescrito em lei. Salientando-se as considerações mais adequadas as ações dos geógrafos, principalmente agrários, a saber: I - reconhecimentos, levantamentos, estudos e pesquisas de caráter físico-geográfico, biogeográfico, antropogeográfico e geoeconômico e as realizadas nos campos gerais e especiais da Geografia, que se fizerem necessárias: a) na delimitação e caracterização de regiões, sub-regiões geográficas naturais e zonas geoeconômicas, para fins de planejamento e organização físico-espacial; b) no equacionamento e solução, em escala nacional, regional ou local, de problemas atinentes aos recursos naturais do País; f) na caracterização ecológica e etológica da paisagem geográfica e problemas conexos; g) na política de povoamento, migração interna, imigração e colonização de regiões novas ou de revalorização de regiões de velho povoamento; h) no estudo físico-cultural dos setores geoeconômicas destinados ao planejamento da produção; j) no estudo e planejamento das bases físicas e geoeconômicas dos núcleos urbanos e rurais; l) no aproveitamento, desenvolvimento e preservação dos recursos naturais; Entendendo que a geografia como ciência deve se beneficiar da investigação aplicada, pois ao conter o espírito da ciência natural e da ciência humana utiliza os elementos pertencentes a natureza e a sociedade e, portanto, entra por seu turno na esfera da aplicação prática. Esta orientação da ciência geográfica testemunha a sua instância utilitária tão necessária em nossa época. O geógrafo que desempenha algum trabalho com fim útil pode dispor de meios, ter acesso a fontes documentais e, na natureza de sua ciência geográfica, se beneficiar de investigações aplicadas. A reestruturação do espaço se constitui no campo mais vasto das aplicações da geografia e é neste domínio que o geógrafo pode manifestar plenamente as suas qualidades essenciais: o sentido da interpretação analítica focando o lugar e o sentido da concepção holística do todo, o espaço. As primeiras aplicações práticas das investigações geográficas diziam respeito apenas as unidades espaciais, de dimensão e de conteúdo diversos e são ainda hoje numerosas, talvez por isso os geógrafos estão habituados a descrever e a explicar os traços característicos de um lugar, de uma aglomeração urbana, de uma região, de um Estado. O conhecimento dessas unidades espaciais, adquirido segundo os métodos da geografia clássica, forma a base de todo e qualquer programa de estudo espacial. Os responsáveis por estes programas ao reconhecerem a utilidade do conhecimento geográfico de base procuram a colaboração dos geógrafos a quem confiam a realização de diagnósticos, e inúmeras são as vezes em que os geógrafos ao estudarem uma unidade espacial descobrem os problemas e sugerem as soluções possíveis. É evidente que nesse caso está se pensando a aplicação pragmática da ciência geográfica, que procura prever as modificações de um conjunto sob o efeito da transformação de um ou de vários elementos que o compõem. Deve o geógrafo limitar-se a fornecer materiais, dados brutos, sobre a evolução passada e a situação presente, deixando totalmente ao agrônomo, ao urbanista, à Comissão de Ação Regional, a administração pública, o cuidado de por os problemas, de imaginar as soluções e prever as suas incidências, de decidir entre as opções, de elaborar um programa? Entende-se que o geógrafo pode ir além do simples diagnóstico e indicar o resultado provável das diversas soluções possíveis, porque, conhecendo bem os males que descontrolam e atuam negativamente no arranjo espacial está, particularmente, qualificado para prever as reações advindas de qualquer uma das soluções prováveis. Considera-se que para assumir as tarefas de ação o geógrafo deve ter recebido uma formação bastante ampla e profunda, pois a natureza de sua ciência exige o domínio de um conhecimento capaz de permitir compreender o espaço e interceder em sua organização. Embora muitos cursos não tenham em seus currículos a diversidade necessária, tal dificuldade de formação não tem impedido aos geógrafos de irem a frente e de representarem um papel importante no arranjo do espaço. Lançando o olhar sobre o espaço rural observa-se que no presente, dado ao progresso da tecnologia, do crescimento rápido, do surgimento de novos sistemas de produção e do avanço das relações e interligações sociais e, principalmente, econômicas em um mundo globalizado e cada vez mais homogeneizado por uma dinâmica de produção. Essa, por sua vez, se estende insensivelmente a partir de zonas experimentais, dos sistemas de acondicionamento e de comercialização dos produtos, os quais, cada vez mais se apresentam transformados. Apesar das disparidades regionais se acentuarem, a produção aumenta e a população agrícola diminui, o rendimento individual eleva-se permitindo melhorar as condições de existência de um produtor rural mais instruído, mais aberto ao progresso e desejoso de reduzir as diferenças que ainda constata entre o seu nível de vida e o do espaço urbano. Em alguns estudos geográficos recentes é certo se descrever e explicar esta aceleração da evolução da importância do meio agrário, principalmente, no caso brasileiro, onde a produção advinda deste meio assume papel não apenas significante em sua economia, mas determinante de seus rumos em nível nacional e, em especial, no abastecimento da população em geral. Tais transformações profundas e rápidas que ocorrem direta ou indiretamente no espaço agrário e o envolvendo de uma ou outra forma são devida, em sua maior parte, as ações de técnicos de administração pública, de agrônomos, economistas rurais e sociólogos rurais. Muitas ações, também são oriundas dos organismos profissionais saídos do próprio meio agrário, de alguns cultivadores dinâmicos, ou ainda a obra de, muitas vezes, subestimadas comissões regionais de estudo, que se situam entre o produtor rural e os poderes públicos intermediando a informação e os problemas agrícolas regionais. A exceção de algumas regiões, onde os geógrafos agrários desempenharam um papel ativo na orientação das políticas agrícolas junto a comissões ou foram consultados pelos poderes públicos, deve-se reconhecer que este profissional pouco contribuiu, no passado para as transformações que se operaram nesta porção do espaço. Contudo, hoje, pode-se reconhecer que poucas disciplinas têm trazido uma contribuição tão relevante para o conhecimento do espaço agrário como a geografia. Seus estudos vão desde as células que o compõe, passando pela situação de sua área e alcançando os estudo das regiões agrícolas, além de envolver a problemática que hoje abrange este espaço em seu todo heterogêneo e diversificado. Tal desafio, cada vez mais, tem sensibilizado um significativo grupo de geógrafos a se dedicarem aos problemas que envolvem este ramo de estudo da geografia. Valendo-se de um repertório bibliográfico variado e trabalhando na fronteira da interdisciplinaridade do conhecimento determinado pelas especializações como agronomia, economia rural, sociologia rural e administração rural, além de ter forte envolvimento com as políticas públicas voltadas para ao ambiente rural, os geógrafos avançam suas análises em qualidade e quantidade se colocando por meio de trabalhos criteriosos. No entanto, deve-se reconhecer que os trabalhos geográficos normalmente fornecem uma base documental de primeira ordem para o arranjo racional do ambiente agrário, para a melhoria das condições de trabalho e de existência do produtor rural. O reconhecimento das questões sociais que envolvem as populações é pouco considerado por aqueles a quem incumbe conceber e aplicar políticas agrícolas, porque eles vêem este “mundo agrário” como base de produção. Neste sentido, talvez a presença da ação do geógrafo tem sido reconhecida, embora raramente ainda sejam associados à elaboração a dessas políticas. Isto permite reconhecer que a despeito dos avanços que os geógrafos agrários tem alcançado, ainda há o que fazer e avançar em termos teórico conceitual e metodológico. Acredita-se que a interdisciplinaridade que os geógrafos agrários encontram nos grupos de pesquisa a que pertencem se revela como salutar no sentido de permitindo o diálogo, a reflexão e conhecendo novos ângulos de olhar para as mesmas questões permita a formação de novos “insights”. 2.2. A ação do geógrafo agrário no grupo de pesquisa Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Rural - SADR. O grupo de pesquisa relaciona em seu contexto inúmero pesquisadores de formação diversificada o que permite a interdisciplinaridade e que cada um possa contribuir no conjunto das discussões e abordar temas importantes desenvolvendo pesquisas conforme seu enfoque de investigação. O grupo de pesquisa SADR tem registro junto ao CNPq possuindo o seu certificado. Ele é composto de pesquisadores cadastrados em cursos de pósgraduação e voltados para a temática social agrária e ambiental, sediados em diversas instituições onde se destacam os Curso de Extensão Rural e o Curso de Mestrado em Geografia. Este Grupo de Pesquisa procura contribuir para a análise crítica da ação orientada à promoção do desenvolvimento rural. Alimenta o questionamento teórico pelo estudo das tendências das relações sociais contemporâneas e das experiências inovadoras na área de promoção do desenvolvimento rural, conferindo ênfase às questões da agricultura familiar e sustentabilidade. Quanto às atividades desenvolvidas pelos membros do Grupo, destaca-se na UFSM sua vinculação ao ensino de graduação, pós-graduação, pesquisa, extensão e Secretarias Municipais, Estaduais EMATER/RS. Mantêm intercâmbio com grupos situados em outras IES, e em instituições promotoras do desenvolvimento rural como e órgãos ligados as atividades agrárias como NEAD e EMBRAPA. O Grupo de Pesquisa possui textos publicados e disponibilizados ao público em sua página na Internet, além de trabalhos e artigos elaborados pelos pesquisadores e suas respectivas equipes individuais que são publicados em periódicos e revistas. O SADR se destaca pela necessidade de manter discussões a cerca do desenvolvimento das sociedades contemporâneas, da política e da pesquisa, bem como do espaço territorial, freqüentemente traduzido por recortes regionais a partir de critérios diversos e atendendo ao princípio da constituição dos grupos de pesquisa do CNPq. Quando no início da década de 1990 foram criados os conselhos regionais de desenvolvimento (COREDES), o estado do Rio Grande do Sul teve como meta consolidar o processo de desenvolvimento regional com distribuição heterogênea e tentando reverter a concentração econômica localizada para diminuir os desequilíbrios regionais visíveis em diversas regiões do espaço gaúcho. Considerando que a maior parte das regiões do RS, ainda não foi merecedora de estudos sistemáticos sobre seus espaços agrários, bem como dos resultados de políticas públicas aplicadas nestes territórios. Os esforços promovidos pelos COREDES sendo de natureza política e econômica estão associados aos grupos de pesquisa e vêm prometendo significativos aportes as organizações que trabalham a gestão do desenvolvimento regional. Como é evidente que a mais importante estratégia ao alcance do processo de desenvolvimento regional passa pelo conhecimento profundo das características de cada região, dos seus problemas e de suas potencialidades, o grupo de pesquisa em questão, SADR, procura atuar no sentido da orientação do desenvolvimento da pesquisa acadêmica tendo em vista a relevância atual que reside na reflexão sobre as dimensões e problemáticas do desenvolvimento desde o contexto regional. Com isso objetiva contribuir para o conhecimento e evidenciar a importância dos estudos agrários e de políticas públicas para as regiões gaúchas. Partindo desse espírito de entendimento e da experiência dos pesquisadores do grupo de pesquisa sociedade, ambiente e desenvolvimento rural em termos de pensar as regiões do RS iniciou suas investigações dirigidas em especial ao COREDE central, área sobre a qual se situa a UFSM, entendendo que a reflexão sobre a problemática de desenvolvimento rural desta região se constitui no que se pode chamar de “dever de casa”. O Grupo, de modo geral, tem promovido suas pesquisas, seminários, discussões e até eventos de maior envergadura, onde seus registros acadêmicos e avaliações dos estudos efetuados são expostos aos demais pesquisadores de outras áreas, ao poder público e colocando a crítica suas análises, soluções, sugestões e enfoques que venha a ter a respeito da questão do desenvolvimento rural nessa área, como é o caso da publicação recente da obra Espaço Rural e Desenvolvimento Regional: estudos a partir da Região Central do RS, em 2004, tendo como organizadores, os membros do Grupo, José Marcos Froehlich e Vivien Diesel. Discute-se sob vários olhares as maneiras possíveis e, de acordo com a formação específica de cada pesquisador, situações relevantes da região como a sua formação social, a organização de seu espaço, a ocupação da população, os processos de colonização que determinaram a sociedade rural, a sustentabilidade ambiental e socioeconômica no interior das zonas rurais, os assentamentos e a reforma agrária. Além destas temáticas também aparece a legislação ambiental, o conjunto das políticas públicas e sua eficácia na promoção do desenvolvimento regional e agrário. Como a discussão, através de seus vários olhares, busca o desenvolvimento regional calcado no meio agrário, não perdendo a idéia do todo no conjunto da interpretação e de que o desenvolvimento só se realiza se integrado a questão dos mercados urbanos, ao abastecimento e a possibilidade de ligação e interligação do conjunto municipal e regional em prol de seu crescimento e desenvolvimento. Considerações finais Considerando a presença de três estruturas construídas: grupos de pesquisa, programas de envolvimento com a região de atuação, por parte das instituições de ensino superior, e a presença de curso de geografia, pode-se pensar na formação concreta do profissional em geografia. Entendendo que se deseja moldar um profissional pragmático, atuante e envolvido nas questões sociais e espaciais de seu universo de vida. Quando tais objetivos são predominantes na massa crítica acadêmica se está preparando um profissional a enfrentar no tempo a reestruturação do espaço, usando suas potencialidades para realizar a geografia na plenitude de suas ações, onde se destacará, certamente a interferência do profissional em geografia agrária. BIBLIOGRAFIA BRASIL, Ministério de Ciência e Tecnologia, Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica. http://www.cnpq.br/gpesq2/infoger.htm. Página visitada em seus Itens 01, 02, 03, 04, 05. Acesso em 02/92005. FROEHLICH, José Marcos e DIESEL, Vivien. Espaço Rural e Desenvolvimento Regional: estudos a partir da Região Central do RS. Ijuí: Ed.Unijuí, 2004, 312p. (Coleção Trabalhos-científicos. Série: Relatório de pesquisa) PHLIPPONNEAU, Michel. Geografia e Acção: introdução à Geografia Aplicada. Lisboa: Edições Cosmos, 1964. 300p. (Panorama de Geografia – Série complementar – Nº1) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. UFSM pública, gratuita e de qualidade: grandes desafios e novas soluções para a melhor universidade do Estado – Projeto de Gestão 2005/2009. (Orgs) Elaine Verena Resener e José Osvaldo Jardim Filho. Santa Maria: s/ed. 2005. 11p. (Folheto de Divulgação). Palestra para a Mesa1: A importância dos grupos de pesquisa na formação dos profissionais em geografia agrária do I Encontro de Grupos de Pesquisa. “Agricultura, Desenvolvimento Regional e Transformações Sócioespaciais”. 1 i Docente Pesquisador, adjunto 4 da Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Naturais e Exatas, Departamento de Geociências, Laboratório de Estudo e Pesquisa Regional. 2