JÉSSICA SANTANA BERNACHI MATURAÇÃO E FUNÇÃO DE CÉLULAS DENDRÍTICAS DERIVADAS DE MONÓCITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES INFECTADOS PELO HIV CAMPINAS 2014 i ii ___________________________________________________________ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Ciências Médicas JÉSSICA SANTANA BERNACHI MATURAÇÃO E FUNÇÃO DE CÉLULAS DENDRÍTICAS DERIVADAS DE MONÓCITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES INFECTADOS PELO HIV Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do Título de Mestra em Ciências, na Área de Concentração em Saúde da Criança e do Adolescente. ORIENTADORA: Profa. Titular Dra. Maria Marluce dos Santos Vilela CO-ORIENTADORA: Profa. Dra. Taís Nitsch Mazzola ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA JÉSSICA SANTANA BERNACHI E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. MARIA MARLUCE DOS SANTOS VILELA. __________________________ Assinatura da Orientadora Campinas 2014 iii Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Faculdade de Ciências Médicas Maristella Soares dos Santos - CRB 8/8402 Bernachi, Jéssica Santana, 1990B456m Maturação e função de células dendríticas derivadas de monócitos de crianças e adolescentes infectados pelo HIV / Jéssica Santana Bernachi. -- Campinas, SP : [s.n.], 2014. Orientador : Maria Marluce dos Santos Vilela. Coorientador : Taís Nitsch Mazzola. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas. 1. HIV. 2. Células dendríticas. 3. Criança. 4. Adolescente. I. Vilela, Maria Marluce dos Santos,1947-. II. Mazzola, Taís Nitsch,1982-. III. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Ciências Médicas. IV. Título. Informações para Biblioteca Digital Título em outro idioma: Monocyte-derived dendritic cell maturation and function from HIV-infected children and adolescentes Palavras-chave em inglês: HIV Dendritic cells Child Adolescent Área de concentração: Saúde da Criança e do Adolescente Titulação: Mestra em Ciências Banca examinadora: Maria Marluce dos Santos Vilela [Orientador] Maria Notomi Sato Ronei Luciano Mamoni Data de defesa: 18-11-2014 Programa de Pós-Graduação: Saúde da Criança e do Adolescente iv v vi RESUMO A vacinação terapêutica com células dendríticas derivadas de monócitos (MDDC) têm sido associada com o controle da carga viral em adultos infectados pelo HIV, mas os seus efeitos em crianças não foram explanados. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi avaliar a função das MDDC isoladas de crianças e adolescentes verticalmente infectados pelo HIV sob terapia antiretroviral combinada. Os pacientes foram recrutados no Ambulatório de Imunodeficiência Secundária Pediátrica do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, sendo 25 com carga viral indetectável e 14 com carga viral ≥1000 cópias de RNA/mL. Além disso, 20 crianças e adolescentes saudáveis participaram como controles. Monócitos obtidos do sangue periférico foram cultivados durante seis dias com GM-CSF e IL-4 para a obtenção das MDDC, as quais foram avaliadas por citometria de fluxo quanto à expressão de CD40, CD80, CD83, CD86, DC-SIGN e HLA-DR. As MDDC foram pulsadas com HIV-1 inativado por aldritiol-2 e cocultivadas com linfócitos autólogos para avaliação da expressão gênica e proteica de citocinas e da linfoproliferação HIV específica. Foram avaliados também hemogramas, subpopulações de células dendríticas mielóides e plasmocitóides e de linfócitos CD3, CD4 e CD8. As MDDC dos pacientes infectados pelo HIV apresentaram um fenótipo semelhante aos controles saudáveis e foram capazes de induzir a produção de citocinas do tipo Th1; no entanto, crianças com carga viral ≥1000 cópias de RNA/mL apresentaram menor linfoproliferação HIV-específica. vii Em geral, as MDDC de crianças verticalmente infectadas pelo HIV geradas in vitro foram capazes de induzir resposta imune celular HIV específica, mostrando-se potenciais candidatos para imunização terapêutica usando MDDC. PALAVRAS-CHAVE: HIV; células dendríticas; criança; adolescente. viii ABSTRACT Therapeutic vaccination with monocyte-derived dendritic cells (MDDC) has been associated with viral load control in immunized HIV-infected adults, but its effects in children were not explored yet. We aimed to evaluate the function of MDDC isolated from vertically HIV-infected children and adolescents under combined antiretroviral therapy. Patients were recruited at the Out-Patients Unit at the University of Campinas, which 25 patients had undetectable viral load and 14 patients had viral load ≥1000 RNA copies/mL. In addition, 20 healthy children and adolescents served as controls. Monocytes obtained from peripheral blood were cultured for six days with GM-CSF and IL-4 to get the MDDC, which were assessed by flow cytometry for CD40, CD80, CD83, CD86, DC-SIGN and HLA-DR expression. T cell proliferation and cytokine expression and production were evaluated in cocultures of MDDC pulsed with aldrithiol-2-inactivated HIV-1 and autologous lymphocytes. Hemogram, myeloid and plasmacytoid dendritic cells and CD3, CD4 and CD8 lymphocytes were evaluated in the peripheral blood. MDDC from HIV-infected children exhibited a similar phenotype to those in healthy individuals and were able to induce a Th1-type cytokine production; however, T lymphoproliferation was impaired in children with viral load ≥1,000 RNA copies/mL. MDDC generated in vitro boosted HIV-specific cellular immune responses in vertically HIV-infected children and could be potential candidates for MDDC therapeutic immunization. KEYWORDS: HIV; dendritic cells; child; adolescent. ix x SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1 HIV e AIDS ......................................................................................................................... 1 Transmissão vertical e profilaxia ........................................................................................ 2 HIV e AIDS em pacientes pediátricos ................................................................................ 3 Terapia antirretroviral ......................................................................................................... 7 Células dendríticas e vacinas terapêuticas .......................................................................... 9 2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 17 Objetivo geral .................................................................................................................... 17 Objetivos específicos......................................................................................................... 17 3. MÉTODOS ................................................................................................................. 19 Populações estudadas ........................................................................................................ 19 População de pacientes e local do estudo ...................................................................... 19 Aspectos éticos .............................................................................................................. 20 Cálculo amostral ............................................................................................................ 21 População de controles saudáveis .................................................................................. 21 Coleta de sangue................................................................................................................ 21 Hemograma ....................................................................................................................... 22 Carga viral de HIV ............................................................................................................ 22 Imunofenotipagem de linfócitos T .................................................................................... 22 Fenotipagem de células dendríticas plasmocitóides e mielóides ...................................... 23 Coculturas de MDDC e linfócitos ..................................................................................... 24 Isolamento das células mononucleares do sangue periférico ........................................ 24 xi Obtenção em cultura de MDDC .................................................................................... 24 MDDC pulsadas com HIV inativado ............................................................................. 25 Separação e viabilidade de linfócitos............................................................................. 26 Cocultivo de MDDC e linfócitos ................................................................................... 27 Produção de citocinas no sobrenadante ............................................................................. 27 Extração do RNAm e reação de transcrição reversa (cDNA) ........................................... 28 PCR quantitativo em tempo real ....................................................................................... 29 Linfoproliferação HIV específica ...................................................................................... 31 Análise estatística .............................................................................................................. 32 4. RESULTADOS .......................................................................................................... 33 População de estudo .......................................................................................................... 33 Hemograma, linfócitos CD3, CD4 e CD8 e carga viral .................................................... 35 Caracterização das subpopulações de células dendríticas do sangue periférico ............... 36 Caracterização das células dendríticas derivadas de monócitos ....................................... 38 Produção de citocinas no sobrenadante das culturas de MDDC ....................................... 42 Produção de citocinas no sobrenadante das coculturas de MDDC e linfócitos ................ 43 PCR quantitativo em tempo real ....................................................................................... 47 Linfoproliferação HIV específica ...................................................................................... 49 5. DISCUSSÃO .............................................................................................................. 51 6. CONCLUSÃO ............................................................................................................ 59 7. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61 8. ANEXOS E APÊNDICES ......................................................................................... 73 xii Dedico este trabalho aos meus pais, Tito e Cida, meus ídolos que, com amor e paciência, me apoiam em todas as minhas decisões. xiii xiv AGRADECIMENTOS A Deus, por se fazer tão presente em minha vida, por guiar meus passos, iluminar meus pensamentos e pela parceria em desenvolver este mestrado comigo. À Profa. Dra. Maria Marluce dos Santos Vilela, pela orientação, por abrir as portas de seu laboratório, pela confiança a este trabalho e pela convivência acadêmica. À minha co-orientadora Taís Mazzola, grande amiga, companheira, pela imensa paciência e carinho diários, por acreditar em mim, pela disponibilidade, pelo incentivo à minha carreira, pelas motivações e por compartilhar suas experiências comigo. Ao Prof. Dr. Marcos Tadeu Nolasco da Silva, pela colaboração no desenvolvimento deste trabalho. À Dra. Telma Oshiro, pela colaboração na padronização do protocolo de diferenciação dos monócitos. Aos meus pais, Maria Aparecida Bernachi e José Domingos Bernachi, pelo amor, pela compreensão, pelo cuidado, pela força, por estarem sempre comigo e por me fazer enxergar sempre o lado bom de tudo. Amo vocês! Aos meus irmãos Eleandro Bernachi e Fernando Bernachi, pela sabedoria, pelos exemplos, pelas risadas e pela eterna amizade. Ao meu querido sobrinho Gabriel Bernachi, por me lembrar que motivados por nossos sonhos podemos ser o que quisermos, até mesmo super-heróis. A todos meus tios e tias, primos e primas e demais familiares, pela motivação, companheirismo e torcida em minha formação profissional. Às companheiras Vanessa Ramalho, Beatriz Abramczuk, Vanessa Oya, Júlia Machado, Caroline Natania, Lia Marega, Ana Luísa, Mariana Castelhano, Silvana Dalgé, os também xv companheiros Vitor Macedo, Marcelo Ananias, Emanuel Borges e Paulo César e todos os funcionários do Centro de Investigação em Pediatria (CIPED) por toda a ajuda, pelas risadas diárias e pela amizade. À equipe de Imunodeficiência Secundária do Ambulatório de Pediatria do Hospital de Clínicas (HC) e à assistente social Márcia Gimenez, pela ajuda clínica, burocrática e pela dedicação aos pacientes pediátricos de HIV/AIDS. Aos amigos do Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemocentro), Ana Leda Longhini, Irene Pereira dos Santos, Luís Gustavo Fernandes, pela colaboração e dicas científicas durante o desenvolvimento do projeto. Aos funcionários das Seções de Coleta, Hematologia e Imunologia da Patologia Clínica, Laboratório de Pesquisa em AIDS e Hospital Dia, pela ajuda com as coletas de sangue e exames. Às minhas amigas Josiane Tonetti, Rafaella Lelis, Juliana do Valle, Thatiane Kanazawa, Lilian Arzenares, Daiane Teófilo, por estarem comigo desde a graduação, pelas risadas e pela torcida! A todos os meus amigos do Treinamento de Liderança Cristã, por serem espelhos de Deus, pelo incentivo, pela serenidade transmitida, pelo crescimento espiritual e pessoal. Ao Prof. Dr. Jörg Kobarg, Dra. Gabriela Meirelles e todos os amigos do LNBio, onde eu aprendi o que é pesquisa científica, pelos preciosos ensinamentos que levarei por toda vida. Ao meu namorado, Felipe Florindo, pelo amor infinito, pelo carinho, pela paciência, pela motivação, pela ajuda espiritual, por ouvir os meus lamentos e principalmente por estar sempre do meu lado. xvi Aos pacientes do ambulatório de Imunodeficiências Secundárias do Hospital de Clínicas da Unicamp, seus responsáveis e todas as demais crianças que participaram deste trabalho. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), por conceder minha bolsa de mestrado (Processo Fapesp: 2012/06525-5) e suporte financeiro para o desenvolvimento deste projeto (Auxílio Pesquisa: 2010/16513-9). Ao curso de Pós Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente pelo apoio. À Universidade Estadual de Campinas, pela oportunidade de realização deste trabalho. xvii xviii “Não é o quanto fazemos, mas quanto amor colocamos naquilo que fazemos. Não é o quanto damos, mas quanto amor colocamos em dar.” (Beata Madre Teresa de Calcutá) xix xx LISTA DE FIGURAS Figura 1: Painel de análise das células dendríticas periféricas por citometria de fluxo ... 37 Figura 2: Percentual de células dendríticas mielóides e plasmocitóides em relação ao total de células mononucleares do sangue periférico de pacientes com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL e controles ............................................................................... 38 Figura 3: Microscopia de contraste de fase da diferenciação de monócitos em MDDC em cultura ................................................................................................................................. 39 Figura 4: Painel de análise de células dendríticas derivadas de monócitos por citometria de fluxo ..................................................................................................................................... 40 Figura 5: Mediana da intensidade de fluorescência de CD40, HLA-DR, CD80, CD83, CD86 e DC-SIGN das MDDC dos pacientes infectados por HIV com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL e controles antes e após o estímulo com AT-2 HIV e com as microvesículas H9 .............................................................................................................. 41 Figura 6: Concentração das citocinas IL-12 e TGF-β1 (pg/mL) nos sobrenadante de culturas de MDDC de pacientes infectados pelo HIV com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL e controles ........................................................................................... 43 Figura 7: Concentração das citocinas IFN-γ, IL-2, TNF-α, IL-4, IL-5, IL-6, IFN-α, TGF-β1 (pg/mL) nos sobrenadante das coculturas de MDDC e de linfócitos de pacientes infectados pelo HIV com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL e controles ..................... 45 xxi Figura 8: Expressão gênica relativa de IFN-γ, IL-8, IL-6, IL-9, IFN-α17 e IFN-β1 nas coculturas de MDDC e linfócitos de pacientes com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL e controles saudáveis, estimuladas com AT-2 HIV-1 ........................................ 48 Figura 9: Linfoproliferação HIV específica e estimulada por PHA e a porcentagem de células blásticas CD4+ e CD8+ nas coculturas de MDDC e linfócitos sem estímulo ou estimuladas com HIV, microvesículas ou PHA de pacientes com CV indetectável ou CV ≥1000 cópias de RNA/mL e controles saudáveis ............................................................... 50 xxii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Resumo da literatura dos principais resultados obtidos nos ensaios clínicos em adultos, utilizando a vacina terapêutica com MDDC ......................................................... 14 Tabela 2: Genes e assays de expressão gênica de IFN-γ, IL-8, IL-6, IL-9, IFN-α17 e IFNβ1 ......................................................................................................................................... 30 Tabela 3: Dados clínicos dos pacientes infectados pelo HIV com CV indetectável e CV ≥1000 cópias de RNA/mL .................................................................................................. 34 Tabela 4: Mediana (mínimo - máximo) dos parâmetros de hemograma, fenotipagem e CV de pacientes infectados pelo HIV com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL e controles saudáveis ............................................................................................................. 35 Tabela 5: Valores de eficiência, R² e das equações das retas dos sistemas dos genes alvo/gene de referência obtidos pela quantificação gênica absoluta nos experimentos de RT-qPCR ............................................................................................................................ 47 xxiii xxiv LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIDS: Síndrome da imunodeficiência adquirida (Acquired Immunodeficiency Syndrome) APC: Aloficocianina (Allophycocyanin) AT-2: Aldritiol-2 BDCA-2: Blood Dendritic Cell Antigen-2 Blimp-1: B-Lymphocyte–induced maturation protein-1 CBA: Cytometric Bead Array CD: Cluster of Differentiation CDC: Center for Diseases Control and Prevention CMSP: Células Mononucleares do Sangue Periférico CV: Carga Viral DC: Células dendríticas (Dendritic Cells) DC-LAMP: Dendritic Cell Lysossome-Associated Membrane Glycoprotein DC-SIGN: Dendritic Cell-Specific Intercellular Adhesion Molecule-3-Grabbing NonIntegrin DEC-205: Dendritic Cell Receptor for Endocytosis-205 DMSO: Dimetil-sulfóxido EDTA: Ácido diaminotetracético etileno (Ethylene Diaminetetraacetic Acid) ELISA: Enzyme-Linked Immunosorbent Assay FITC: Isotiocianato de fluoresceína (Fluorescein Isothiocyanate) GAPDH: Glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase GM-CSF: Fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos (GranulocyteMacrophage Colony-Stimulating Factor) xxv HGNC: HUGO Gene Nomenclature Committee database HIV: Vírus da imunodeficiência humana (Human Immunodeficiency Virus) HLA: Antígenos leucocitários humanos (Human Leukocyte Antigens) HPRT1: Hypoxanthine phosphoribosyltransferase 1 HSV: Vírus herpes simplex (Herpes Simplex Virus) HTLV: Vírus linfotrópico de células T humanas (Human T-cell Lymphotropic Virus) ICAM: Intercellular Adhesion Molecule IFN: Interferon IL: Interleucina IP: Inibidores da Protease ITRN: Inibidores da Transcriptase Reversa análogos de Nucleosídeo/Nucleotídeo ITRNN: Inibidores da Transcriptase Reversa Não-análogos de Nucleosídeos LTNP: Long-Term Nonprogressors MDA5: Melanoma Differentiation-Associated Gene-5 mDC: Células Dendríticas Mieloides MHC: Moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (Major Histocompatibility Complex) MDDC: Células dendríticas derivadas de monócitos (Monocyte-Derived Dendritic Cells) NK: Natural Killer NOD-like: Nucleotide-Binding Oligomerization Domain-Like PACTG 076: Pediatric AIDS Clinical Trials Group Protocol 076 PAMP: Padrões moleculares associados a patógenos (Pathogen-Associated Molecular Pattern) xxvi PCR: Reação em cadeia da polimerase (Polymerase Chain Reaction) PBS: Tampão fosfato salino (Phosphate-Buffered Saline) pDC: Células Dendríticas Plasmocitóides PE: Ficoeritrina (Phycoerythrin) PerCP: Clorofila peridinina (Peridinin Chlorophyll) PGE2: Prostaglandina E2 PHA: Fitohemaglutinina (Phytohemagglutinin) PRR: Receptores de reconhecimento de padrões (Pattern Recognition Receptors) RAL: Raltegravir RIG-I: Retinoic Acid-Inducible Gene-I RNA: Ácido ribonucleico RT-qPCR: PCR quantitativo em tempo real (Real Time Quantitative PCR) SINAN: Sistema de Informação de Agravos de Notificação SIV: Vírus da imunodeficiência símia (Simian Immunodeficiency Virus) TARV: Terapia Antirretroviral TARVc: Terapia Antirretroviral Combinada TNF: Fator de necrose tumoral (Tumor Necrosis Factor) TREC: Círculos de excisão do receptor de células T (T-cell Receptor Excision Circles) TREG: Linfócitos T Regulatórios WHO: World Health Organization ZDV: Zidovudina xxvii xxviii 1. INTRODUÇÃO HIV e AIDS A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Acquired Immunodeficiency Syndrome, AIDS) é caracterizada por uma imunossupressão profunda e progressiva gerada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (Human Immunodeficiency Virus, HIV), retrovírus da família Lentiviridae. Essa imunodeficiência secundária foi reconhecida primeiramente em 1981, nos Estados Unidos (Barre-Sinoussi et al., 1983; Popovic et al., 1984) e o primeiro caso no Brasil surgiu em São Paulo em 1980, mas só foi diagnosticado em 1982 (Castilho & Chequer, 1997). Atualmente, segundo a World Health Organization (WHO) e a Joint United Nations Programme on HIV/AIDS, estima-se que 35,3 milhões de pessoas no mundo vivam com HIV, sendo que destas, 3,3 milhões são crianças (UNAIDS, 2013). No Brasil foram registrados 686.478 casos de AIDS no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no período de 1980 a 2013, com notificações de 14.352 casos de crianças com AIDS na faixa etária de zero a 13 anos. Ainda, 12.551 crianças foram notificadas por exposição vertical ao HIV (Ministério da Saúde, 2013). Devido a diferenças na estrutura genômica e antigênica, foram identificadas duas variantes do vírus: HIV-1 e o HIV-2, isolados em 1983 e 1986, respectivamente (Greene et al., 1991; Feinberg et al., 1992). O HIV-2 possui uma imunossupressão mais lenta e parece não ter uma transmissão eficiente (Cohen et al., 2008). Já o HIV-1 é mais virulento, com maior probabilidade de transmissão e maior prevalência mundial, e é dividido em três grupos de acordo com diferenças encontradas no gene Env (M, N e O). Desses, o grupo M 1 é o mais prevalente e subdividido em nove subtipos (A, B, C, D, F, G, H, J e K) (Turner et al., 1999; Simon et al., 2006; Cohen et al., 2008). A infecção pelo HIV-1 acontece por meio da interação da proteína de seu envelope viral, gp120, com o receptor CD4 e com os coreceptores de quimiocinas presentes na superfície da célula-alvo (Turner et al., 1999; Chinen & Shearer, 2002). O curso da infecção pelo HIV-1 é caracterizado por uma fase aguda com um rápido aumento da carga viral (CV) e declínio acentuado na contagem dos linfócitos T CD4+ (CD4), que são as principais células-alvo do HIV (Rosenberg et al., 1997). Nesta fase também há a disseminação do vírus para os órgãos linfoides secundários e início do desenvolvimento de uma resposta HIV-específica, principalmente com uma grande proliferação de linfócitos T CD8+ (CD8) citotóxicos (Douek et al., 2003; Simon et al., 2006; Cohen et al, 2008). Na fase crônica, as células CD8 e CD4 HIV específicas participam da contenção parcial da replicação viral, desenvolvendo uma resposta celular contra o vírus (Norris & Rosenberg, 2001; Munier & Kelleher, 2007). Com a progressão da doença, as respostas citotóxicas específicas paulatinamente decaem e a conseqüência é a persistência do vírus (Norris & Rosenberg, 2001). Concomitantemente há um aumento na ativação imunológica crônica dos linfócitos T de memória e näive e consequente depleção sistêmica destas células, deixando o indvíduo vulnerável a infecções oportunistas, levando à AIDS (Davison & Nicoll, 1997; Chinen & Shearer, 2002; Douek et al., 2003). Transmissão vertical e profilaxia No adulto, a transmissão do HIV se dá pelo contato com fluídos orgânicos contaminados a partir de relações sexuais, compartilhamento de agulhas e seringas, 2 transfusão de sangue e hemoderivados e acidentes em centros de saúde (Joshi et al., 1996; Castilho & Chequer, 1997). Na criança, a transmissão vertical do HIV é a principal responsável pelos casos de AIDS e pode ocorrer durante a vida intra-uterina (passagem transplacentária), intra-parto (exposição da pele ou mucosa do recém-nascido ao sangue ou secreções maternas) ou durante o aleitamento materno (Blanche et al., 1989; Wara et al., 1993). A introdução de medidas profiláticas como a investigação da infecção durante o pré-natal, a cesárea eletiva e o não aleitamento materno, em conjunto com a administração da terapia antirretroviral (TARV) às gestantes e aos recém-nascidos de mulheres infectadas, proporcionaram uma significativa redução na transmissão vertical do HIV (Hawkins et al., 2005; Ministério da Saúde, 2009). No Brasil, a transmissão vertical apresentou uma queda de 63,8% entre 1996 a 2007, que coincidiu com a introdução de TARV e outras profilaxias para a gestante (Ministério da Saúde, 2010). O estudo Pediatric AIDS Clinical Trials Group Protocol 076 (PACTG 076) utilizou um protocolo constituído de Zidovudina (ZDV) oral a partir da 14ª semana para a gestante, ZDV endovenoso 4 horas antes do parto e ZDV oral para o recém-nascido por seis semanas, e observou uma redução de 67,5% na taxa de transmissão vertical (Robinson & Lee, 2000). Atualmente, o Mnistério da Saúde indica o início de TARV entre a 14ª e a 28ª semana de gestação e de ZDV ao recém-nascido por 30 dias de vida (Ministério da Saúde, 2010; Ministério da Saúde, 2014). HIV e AIDS em pacientes pediátricos No momento da transmissão vertical do HIV, o sistema imunológico ainda está em desenvolvimento e maturação, o que resulta em uma interação vírus-hospedeiro diferente 3 da que ocorre nos adultos (Mc Closkey et al., 2004; Jaspan et al., 2006). A infecção pelo HIV-1 via transmissão vertical é caracterizada por uma maior replicação viral e declínio da CV plasmática de modo mais lento, o que pode acarretar em uma evolução clínica mais rápida e grave (Usuga et al., 2008). Há três formas clínicas de progressão da infecção: os progressores rápidos (10 a 15% das crianças), cujos sintomas surgem nos dois primeiros anos de vida; os progressores intermediários (50 a 70%), com sintomas iniciais leves nos primeiros cinco anos; e os progressores lentos (10 a 15%), os quais são livres de manifestações até oito anos (Barnhart et al., 1996). Estes últimos podem permanecer assintomáticos por períodos muito longos, mesmo na ausência de TARV, como é o caso de alguns adultos, conhecidos como long-term nonprogressors (LTNP) (Ananworanich et al., 2010). Nas crianças com progressão lenta observaram-se uma robusta resposta citotóxica pelos linfócitos CD8 HIV específica (particularmente contra a proteína Gag), defeitos na maquinaria de replicação do HIV (mutações no gene Nef), além de mutações no alelo do co-receptor de quimiocina CCR5 (CCR5-∆32) (Pereyra et al., 2008; Miura et al., 2010; Ananworanich et al., 2010). Outros estudos mostraram que a progressão da doença pode estar relacionada com a similaridade do genótipo dos antígenos leucocitários humanos (Human Leukocyte Antigens, HLA) entre a criança verticalmente infectada e sua mãe, visto que a resposta imune materna modula a evolução do vírus autólogo. Assim, a criança adquire um vírus com maior capacidade em escapar da resposta imune (Tiemessen & Kuhn, 2006). Curiosamente, as crianças que adquiriram o HIV por transfusões de sangue, mesmo durante o período neonatal, tendem a ter um melhor prognóstico do que crianças verticalmente infectadas (Frederick et al., 1994). 4 A primeira classificação de AIDS pediátrica foi publicada em 1987 e atualizada em 1994 pelo Center for Diseases Control and Prevention (CDC), a qual inclui quatro categorias clínicas: N para crianças assintomáticas; A para crianças com sinais e/ou sintomas clínicos leves; B para aqueles com sinais e/ou sintomas clínicos moderados; e C para indivíduos com sinais e/ou sintomas clínicos graves. O CDC também classifica os pacientes pediátricos de acordo com o status imunológico quanto ao percentual dos linfócitos CD4, sendo Alteração Ausente quando CD4 >25%; Moderada entre 15 a 24%; e Grave <15% (CDC, 1987; CDC, 1994; Ministério da Saúde, 2014). Crianças verticalmente infectadas apresentam um amplo espectro de manifestações clínicas, como, por exemplo, há a ocorrência de vômitos, febre, anemia, linfopenia, atipia linfocitária, hepatoesplenomegalia, linfoadenopatia, diarreia crônica, sarcoma de Kaposi, além de atraso no desenvolvimento neuromotor (Chakraborty, 2005). Nosso grupo já relatou um comprometimento na curva de crescimento de crianças infectadas com relação a crianças saudáveis (Leandro-Merhi et al., 2001), alterações no metabolismo e na composição corporal (Ramalho et al., 2011). Há a ocorrência de infecções respiratórias de repetição e bacterianas de pele, dermatites, lesões orais (especialmente candidíase) e esofagianas, além da vulnerabilidade à infecção por Treponema pallidum, pelos vírus das hepatites B e C, HTLV-1/2, vírus herpes simplex (Herpes Simplex Virus, HSV), citomegalovírus, Toxoplasma gondii, Mycobacterium tuberculosis, Pneumocystis jiroveci (Ministério da Saúde, 2014) e Epstein Barr Virus (Toro et al., 2010). Com relação ao estado nutricional, seu comprometimento está relacionado à gravidade da infecção (Centeville et al., 2005). Além disso, foram relatados níveis plasmáticos subnormais de antioxidantes, 5 como a glutationa, a qual foi inversamente correlacionada com a progressão da doença e ocorrência de coinfecções (Moreno et al., 2006). A transmissão vertical do HIV tem um importante impacto no desenvolvimento do sistema imune e são relatadas alterações no número e função das células imunológicas (Correa & Muñoz-Fernándes, 2002; Zacarelli-Filho et al., 2007), como depleção profunda das células CD4, ativação policlonal das células B e persistente ativação imune associada com a progressão da doença (Ananworanich et al., 2010). Desde a infância, lactentes infectados apresentaram uma queda mais acentuada dos valores percentuais e absolutos de CD4 e aumento significativo da subpopulação CD8, promovendo uma inversão das porcentagens de células CD4 e CD8 (Gallagher et al. 1997). Na fase crônica da infecção pelo HIV na criança, há um comprometimento do timo e, conseqüentemente, do desenvolvimento da imunidade a antígenos T dependentes (Joshi et al., 1990; Correa & Muñoz-Fernándes, 2002). O HIV-1 pode comprometer diretamente os timócitos e danificar células epiteliais tímicas necessárias para uma timopoiese normal e sinalização de timócitos (Correa & Muñoz-Fernándes, 2002; Chakraborty, 2005). Há uma correlação inversa entre os valores de T-cell receptor excision circles (TREC) em crianças e sua CV, que são considerados marcadores moleculares de emigrantes tímicos para linfócitos T (Douek et al., 2003), confirmando o impacto do HIV na função do timo. Além disso, já foi observada elevação da interleucina (IL)-7 plasmática em crianças infectadas e expostas não infectadas, sugerindo que a exposição ao HIV ou a passagem das proteínas virais pela placenta pode perturbar a timopoiese (Alfano & Poli, 2005; Resino et al., 2003). Em crianças infectadas pelo HIV com imunossupressão grave, houve aumento da porcentagem de linfócitos T regulatórios (Treg) em relação a controles, o que foi associado 6 à progressão à AIDS (Argüello et al., 2012). Há uma redução na produção de IL-17, correlacionado inversamente com a viremia de HIV-1 (Ndhlovu et al., 2008). Já é descrito um desequilíbrio das subpopulações de células Natural Killer (NK) (Ananworanich et al., 2010) e NKT, devido à sua susceptibilidade à infecção pelo HIV (Sandberg et al., 2002). Desde a fase aguda da infecção pelo HIV, o compartimento B apresentou redução do número de linfócitos B totais e de memória (Ananworanich et al., 2010; Iwajomo et al., 2011). A infecção pelo HIV também compromete o funcionamento da medula óssea e é freqüentemente associada com anormalidades hematológicas, especialmente anemia, além de neutropenia, linfopenia, trombocitopenia e alterações na eritropoiese (Silva et al., 2001; Meira et al., 2005), que podem ser atribuídas aos efeitos diretos e indiretos da infecção pelo HIV-1, às infecções oportunistas e à toxicidade de TARV (Silva et al., 2001). Estudos mostram que TARV em conjunto com a plasticidade de recuperação do sistema imunológico de pacientes pediátricos provoca um aumento do número de células CD4, o que possivelmente se explica pela reconstituição e função do timo e a constante produção de linfócitos T naïves, mostrando uma capacidade de regenerar clones de células T perdidos na infecção por HIV (Correia & Muñoz-Fernándes, 2002). Terapia antirretroviral Os progressos na compreensão sobre a dinâmica viral e celular na infecção pelo HIV, ao lado do desenvolvimento de novas classes de drogas, propiciaram resultados positivos no tratamento da AIDS. A introdução de TARV às crianças tem como objetivo a redução da mortalidade e morbidade, adequação do crescimento e desenvolvimento, 7 aumento da qualidade de vida e preservação ou reconstrução do sistema imunológico, por meio da supressão da replicação viral e consequente aumento dos números de linfócitos CD4 (Ministério da Saúde, 2009; Guillén et al., 2010; Bunupuradah et al., 2011). Uma das primeiras drogas utilizadas foi a ZDV, que inibe a replicação viral atuando sobre a enzima transcriptase reversa e foi utilizada como TARV inicialmente em 1984 (Volberding et al., 1990; Jain & Deeks, 2010). Atualmente, o esquema terapêutico se baseia em combinações de três ou mais drogas, compondo a TARV combinada (TARVc) (Ministério da Saúde, 2009). O Ministério da Saúde (2009) agrupa em classes as drogas utilizadas na TARV para crianças e adolescentes de acordo com o modo de atuação no processo de replicação viral: inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeo/nucleotídeo (ITRN), como abacavir e tenofovir; inibidores da transcriptase reversa não-análogos de nucleosídeos (ITRNN), tais como nevirapina e efavirenz; inibidores da protease (IP), como atazanavir, indinavir, lopinavir e ritonavir; inibidores de fusão, como a enfuvirtida; e inibidores da integrase, como raltegravir (RAL). No Brasil, recomenda-se o início de TARVc para crianças menores de 12 meses com diagnóstico de infecção por HIV independentemente de manifestações clínicas, porcentagem de células CD4 ou da CV plasmática (Ministério da Saúde, 2009), devido a benefícios da terapia precoce na recuperação imunológica (Walker et al., 2004; Turkova et al., 2012). Em maiores de 12 meses de idade, são tratadas as crianças nas categorias B ou C, ou com porcentagem de CD4 <25% ou ainda com CV >100.000 cópias de RNA/mL (Ministério da Saúde, 2014). Entretanto, é sabido que TARV pode gerar toxicidade a curto e longo prazo nos indivíduos tratados, como o desenvolvimento de anemia, neutropenia, dislipidemia, 8 trombocitopenia, rash cutâneo e exantema, aumento de risco de doenças cardiovasculares, redução da densidade mineral óssea, nefrotoxicidade, disfunções neurológicas e hepáticas (Funk et al., 2008; Foster & Fidler, 2010; Marón et al., 2010). A toxicidade de TARV associada com a resistência viral aos medicamentos, má absorção, dose inadequada por interações entre as drogas ou ingestão subótima, restrição de medicamentos para idade e má adesão podem levar à falha no tratamento e ao rebote virológico após a supressão inicial (Feeney et al., 2003; Geretti et al., 2008; Marón et al., 2010; Turkova et al., 2012; Rath et al., 2013). A boa adesão está relacionada à supressão virológica e, consequentemente, à melhora da função imune e qualidade de vida do paciente (Ministério da Saúde, 2009). Em função destes fatores, a total supressão viral plasmática se faz mais difícil de alcançar em crianças e adolescentes infectados (Feeney et al., 2003; Geretti et al., 2008). A utilização de vacinas terapêuticas tem sido apontada como uma possível intervenção para aumentar a capacidade do organismo infectado de responder contra o HIV, melhorando assim a efetividade da TARVc (Kundu et al., 1998; Lu et al., 2004; García et al., 2005; Ide et al., 2006; Van Gulck et al., 2006; Connolly et al., 2008; Allard et al., 2008; García et al., 2013). Isto implicaria numa melhor qualidade de vida, menor taxa de transmissão do vírus e diminuição efetiva do uso de drogas. Células dendríticas e vacinas terapêuticas A ativação da imunidade celular e humoral pelo hospedeiro desempenha um papel fundamental na indução de respostas HIV específicas no controle da replicação viral (Borrow et al., 1994; Koup et al., 1994). Neste sentido, vários estudos têm destacado a importância das células dendríticas (Dendritic Cells, DC) no controle da infecção pelo HIV 9 (Kundu et al., 1998; Lu et al., 2004; Ide et al., 2006; Connolly et al., 2008; García et al., 2005; García et al., 2013), visto seu papel como principais células apresentadoras de antígeno, regulando assim o início da resposta imune mediada por linfócitos T contra patógenos invasores (Banchereau & Steinman, 1998). Na periferia, as DC podem se diferenciar em dois tipos principais: as de origem mielóide (mDC) e as de origem plasmocitóide (pDC) (Siegal et al., 1999; Sabado et al., 2010). As mDC são CD11c+ e estão associadas com a captação de antígenos, ativação de células T e secretam altos níveis de IL-12 (Fonteneau et al., 2004; Azzoni et al., 2005). As pDC são CD11c-CD123+BDCA-2+ e, além da função de apresentação de antígenos, são potentes produtoras de interferon (IFN)-α, o qual inibe diversas fases da replicação viral (Chehini et al., 2002). Como outras células do sistema imunológico, as DC reconhecem padrões moleculares associados a patógenos (pathogen-associated molecular patterns, PAMP) por meio dos receptores de reconhecimento de padrões (pattern recognition receptors, PRR), que transduzem sinais ativadores para dentro da célula (Wu & Schwartz, 2013). Dentre os PRR expressos na membrana celular estão os receptores Toll-like e receptores de lectina do tipo C, tais como DC-SIGN (DC-specific intercellular adhesion molecule-3-grabbing nonintegrin), DC-LAMP (DC lysossome-associated membrane glycoprotein), DEC-205 (DC receptor for endocytosis-205), receptores de manose e langerina. Os PRR também podem ser expressos no meio intracelular, como RIG-I (retinoic acid-inducible gene-I), MDA5 (melanoma differentiation-associated gene-5) e NOD-like (nucleotide-binding oligomerization domain-like), além de outros receptores Toll-like (Larsson et al., 2005; Wu & Schwartz, 2013). Quando imaturas, as DC expressam um maior número de receptores 10 CD4 e de correceptores como CCR5 e CXCR4, entre outros, necessários no processo de infecção do HIV na célula alvo (Douek et al., 2002; Teleshova et al., 2003). Ao entrar em contato com o antígeno, as DC imaturas internalizam o antígeno por fagocitose, endocitose ou macropinocitose em vesículas lisossomais. Em seguida, essas células iniciam o processo de maturação, caracterizado pela redução na expressão dos PRR (como DC-SIGN) e aumento da expressão das moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (Major Histocompatibility Complex, MHC), moléculas coestimulatórias (como CD40, CD80, CD83 e CD86) e moléculas envolvidas na quimiotaxia (como CCR7) (Banchereau & Steinman, 1998; Wu & Schwartz, 2013). As DC maduras também expressam moléculas de adesão, como intercellular adhesion molecule (ICAM)-1 entre outras, adquirindo a capacidade de migrar através dos vasos linfáticos aferentes até as áreas ricas em células T nos linfonodos. Nestes locais, as DC apresentam os antígenos aos linfócitos T, estimulando a expansão clonal dos linfócitos T näives e influenciando na diferenciação de outras células como NK, linfócitos B e Treg (Banchereau & Steinman, 1998; Liu et al., 2001). Classicamente, as células CD8 reconhecem peptídeos endógenos apresentados pelo MHC-I, provocando a lise direta de células infectadas (Hogan & Hammer, 2001). Já as células CD4 reconhecem peptídeos exógenos apresentados via MHC-II, secretando assim citocinas como IL-2, que levam a uma resposta citotóxica e humoral anti-HIV (Donaghy et al., 2003). Sabe-se que, uma vez nos tecidos linfóides, as DC são capazes de transmitir o HIV aos linfócitos CD4, espalhando a infecção (Finke et al., 2004; Groot et al., 2006). Tem sido proposto que o HIV pode aproveitar da função endocítica das DC para infectar as células CD4 em um processo denominado trans-infecção, envolvendo a captura inicial e 11 internalização de vírions intactos, por meio da interação de alta afinidade de DC-SIGN com a proteína de envelope gp120 do HIV (Geijtenbeek et. al., 2000; Boily-Larouche et al., 2012). Além disso, DC-SIGN também está envolvido na formação de sinapses imunológicas entre as DC e células T, interagindo com ICAM-3 expresso em células CD4 näives (Geijtenbeek et al., 2000; Wu & Schwartz, 2013). É sabido que durante a infecção pelo HIV em adultos e crianças há o comprometimento do número e função das subpopulações de DC periféricas e várias hipóteses têm sido propostas para explicar a redução destas subpopulações na periferia, tais como a morte destas células devido à infecção viral, um prejuízo de células precursoras de DC, redução da expressão de marcadores de superfície ou a migração para tecidos linfóides secundários (Barron et al., 2003; Fonteneau et al., 2004). O HIV também leva à alteração na expressão e secreção de citocinas pelas DC, como IL-12, IL-15 e IFN-α (Finke et al., 2004; Groot et al., 2006). A CV se correlaciona inversamente às porcentagens de pDC e mDC de adultos e com a secreção de IFN-α (Donaghy et al., 2001; Barron et al., 2003; Finke et al., 2004; Killian et al., 2006; Sabado et al., 2010). Desai et al. (2007) mostraram uma correlação inversa da frequência de pDC com a ativação de linfócitos CD4 e CD8 ao longo da progressão da infecção por HIV em crianças. Crianças e adolescentes com HIV sob TARVc possuem uma tendência para recuperar o número e a função das subpopulações de DC, possivelmente em função da maior plasticidade do sistema imunológico nesses pacientes (Azzoni et al., 2005; Zhang et al., 2006), enquanto que em adultos tratados permanecem diminuídas ao longo ao tempo nas porcentagens de pDC (Chehimi et al., 2002). Há também maior nos níveis de IL-12 e 12 IFN-α em pacientes com CV indetectável relação aos pacientes com viremia não controlada (Zhang et al., 2006). Considerando o papel central que as DC desempenham no direcionamento da resposta imune, tem sido proposta a manipulação do sistema imunológico para o controle e eliminação da infecção pelo HIV por meio de vacinas terapêuticas utilizando estas células como adjuvantes e carreadoras de antígeno para induzir respostas HIV específicas de células T (Lu et al., 2004; Andrieu & Lu, 2007). Em macacos, a imunoterapia com DC derivadas de monócitos (Monocyte-Derived Dendritic Cells, MDDC) pré-cultivadas com o vírus da imunodeficiência símia (Simian Immunodeficiency Virus, SIV) inativado e na presença oligodesoxinucleotideos imunoestimuladores com motivos CpG foi capaz de promover o controle virológico e aumento significativo na resposta celular e humoral SIV específica (Lu et al., 2003; Teleshova et al., 2006). Além disso, outros estudos já demonstraram a eficácia de protocolos de vacinação baseados em MDDC contra outras patologias, como o câncer (Schuler et al., 2003) e doenças infecciosas causadas por Micobacterium tuberculosis (Demangel et al., 1999), Bordetella pertussis (George-Chandy et al., 2001), Candida albicans (d’Ostiani et al., 2000), HSV (Schön et al., 2001), entre outras. Em adultos infectados pelo HIV-1, vários estudos têm mostrado que a vacina terapêutica com MDDC pulsadas com peptídeos de HIV ou com o vírus inativado são seguras e podem reduzir a CV mesmo na ausência de TARV e induzir respostas HIV específicas, tais como a proliferação de células CD4 e CD8, estimulação de citotoxicidade, indução de IFN-γ e IL-2, além de anticorpos para epítopos específicos do HIV-1 (Tabela 1) 13 (Kundu et al., 1998; Lu et al., 2004; García et al., 2005; Ide et al., 2006; Connolly et al., 2008; García et al., 2011; García et al., 2013). Tabela 1: Resumo da literatura dos principais resultados obtidos nos ensaios clínicos utilizando a vacina terapêutica com MDDC. Referência N Pacientes / Tratamento Maturação MDDC Antígeno Resultados Kundu et al., 1998 6 / näive Sem estímulo gp160 ou peptídeos de Gag, Pol e Env Aumento de citotoxicidade HIV específica e linfoproliferação Lu et al., 2004 18 / näive IL-1β, IL-6 e TNF-α HIV-1 autólogo inativado com AT-2 Redução de 90% na CV em 8 pacientes e aumento de CD4 IL-2+ IFN-γ+ García et al., 2005 12 / TARVc IFN-α HIV-1 autólogo inativado com calor Redução de 0,5 log na CV em 4 pacientes e fraco aumento na linfoproliferação de CD4 e nas células CD8 citotóxicas Ide et al., 2006 4 / TARVc TNF-α Peptídeos de Gag, Env e Nef Citotoxicidade moderada contra Nef em 2 pacientes Connolly et al., 2008 18 / TARVc IL-1β, IL-6 e TNF-α Peptídeos de Gag, Env e Pol Aumento de citotoxicidade contra Gag, Env e Pol García et al., 2011 24 / näive IL-1β, IL-6 e TNF-α HIV-1 autólogo inativado com calor Tendência de aumento da citotoxicidade inversamente correlacionada com CV 24 / TARVc IL-1β, IL6, TNF-α, PGE2 HIV-1 autólogo inativado com calor Redução na CV inversamente correlacionada com aumento da linfoproliferação e produção de IFN-γ García et al., 2013 As MDDC podem ser geradas in vitro a partir de monócitos cultivados com o fator estimulador de colônias de granulócitos e monócitos (GM-CSF) e IL-4 (Romani et al., 1994). Como os monócitos não são alvos principais do HIV, o vírus não é detectado em MDDC autólogas de pacientes infectados pelo HIV (Sapp et al., 1999). As MDDC originadas de pacientes com HIV são CD14- e, após o estímulo de maturação in vitro, apresentam expressão normal de CD40, CD80, CD83 e CD86, além de MHC-I e II, 14 importantes marcadores de maturação necessários para uma efetiva ativação das células T (Carbonneil et al., 2003; Newton et al., 2006; Buisson et al., 2009). Os ensaios clínicos publicados até hoje utilizando vacinas de MDDC se focaram na imunoterapia de adultos. Nestes indivíduos, está claro o papel do controle da viremia pela TARVc e seu impacto na restauração ou não do sistema imune. Visto o grande impacto da infecção vertical pelo HIV no desenvolvimento do sistema imunológico dos pacientes pediátricos, falta uma maior compreensão sobre a relação da infecção crônica e o desenvolvimento de resposta celular específica para o HIV na faixa etária pediátrica. Sendo as DC as principais apresentadoras de antígenos para linfócitos T, um melhor conhecimento da maturação e função de MDDC de crianças e adolescentes com infecção crônica pelo HIV trará novas informações para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas para melhorar a eficácia de TARVc nesses pacientes. 15 16 2. OBJETIVOS Objetivo geral Analisar a influência da CV de HIV-1 nas DC periféricas e na maturação e função de MDDC de pacientes pediátricos, utilizando partículas inativadas do HIV-1. Objetivos específicos Em crianças e adolescentes com infecção vertical pelo HIV sob TARVc, verificar: 1. Número de linfócitos CD3, CD4 e CD8; 2. As freqüências de mDC e pDC; 3. O fenótipo de maturação de MDDC quanto à expressão de CD40, CD80, CD83, CD86, DC-SIGN e HLA-DR; 4. A produção de citocinas no sobrenadante de cultura de MDDC; 5. A interação entre MDDC e linfócitos T em coculturas pela avaliação da linfoproliferação, expressão gênica e produção de citocinas frente ao estímulo com partículas de HIV-1 inativado por aldritiol-2. 17 18 3. MÉTODOS Populações estudadas População de pacientes e local do estudo O estudo transversal foi conduzido dentre uma coorte de 180 crianças e adolescentes infectados com HIV, com idade de zero a 21 anos, recrutados no Ambulatório de Imunodeficiência Secundária da Pediatria do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), localizada na cidade de Campinas, no estado de São Paulo, Brasil. O acompanhamento dos indivíduos ocorreu no próprio Ambulatório. Os critérios de inclusão foram a presença da infecção por transmissão vertical do HIV comprovada de acordo com os critérios do Ministério da Saúde (2009) e uso de terapia antirretroviral por, ao menos, seis meses. Os critérios de não inclusão para os pacientes foram a evidência clínica e/ou laboratorial de co-infecção por hepatite B ou C, citomegalovírus, sífilis, toxoplasmose ou tuberculose e ocorrência de malformação congênita, doença genética ou condição clínica grave. Os dados clínicos foram coletados dos prontuários dos pacientes. As crianças eleitas tiveram anotados detalhadamente os endereços residenciais com pontos de referência, telefone residencial, endereço e telefone comerciais dos responsáveis, além de um endereço alternativo, para evitar as perdas por mudança de endereço. Visando uma maior compreensão do impacto da CV sobre a resposta imune, os pacientes foram separados em dois grupos, de acordo com sua CV plasmática de HIV-1: - Pacientes com controle virológico: apresentavam CV indetectável (CV <50 cópias de RNA/mL) na data de coleta dos exames e durante o último ano, no mínimo. 19 - Pacientes viremicos: apresentavam CV ≥1000 cópias de RNA/mL na data de coleta dos exames e CV >50 cópias de RNA/mL nos últimos seis meses. Viremia acima de 1000 cópias de RNA/mL é considerada falha virológica em crianças (Bunupuradah et al., 2011). Aspectos éticos Na entrevista de acolhimento, os pais ou representantes legais, as crianças e adolescentes foram informados sobre os objetivos, métodos, benefícios e duração do estudo. Após ciência da natureza dos procedimentos e desconfortos aos quais os pacientes seriam submetidos e com capacidade de livre arbítrio, sem qualquer coação, foi solicitado que os responsáveis assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXOS). Os riscos previstos para o paciente como ansiedade e o desconforto da coleta de sangue foram informados. Os responsáveis pelo paciente (e o próprio paciente, no caso dos adolescentes) e o pesquisador responsável pelo estudo assinaram o Termo em duas vias, uma arquivada na instituição e outra entregue aos responsáveis. As amostras dos pacientes foram identificadas com siglas para preservação do sigilo dos participantes. Todos os procedimentos obedeceram às recomendações para pesquisas biomédicas envolvendo seres humanos propostas pela Resolução de número 196 de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), da UNICAMP, com o protocolo de número 876/2010 (ANEXOS). 20 Cálculo amostral Considerando um teste bicaudal com desvio padrão de 4,5 (em resultados preliminares de ensaios de proliferação celular específica para o HIV-1), a diferença a ser detectada de 5, o nível de significância de 5% e o poder do teste de 80%, o número amostral calculado foi de 13 indivíduos em cada grupo de pacientes com HIV. População de controles saudáveis Crianças e adolescentes saudáveis entre quatro e 21 anos de idade foram convidados a participar do estudo como controles. Foi realizada uma consulta médica e exames laboratoriais para avaliar a saúde destes indivíduos. Os critérios de exclusão para os controles foram a evidência clínica e/ou laboratorial de infecção por HIV, hepatite B ou C, citomegalovírus, sífilis, toxoplasmose ou tuberculose, ou ocorrência de malformação congênita, imunodeficiência primária, doença genética, condição clínica grave ou uso de imunossupressor. Coleta de sangue Entre agosto de 2012 a maio de 2014, as coletas dos controles saudáveis foram realizadas no Centro de Investigação em Pediatria (CIPED) na FCM da UNICAMP, enquanto que as coletas das crianças infectadas com o HIV foram realizadas na Seção de Coleta da Patologia Clínica do HC da UNICAMP. O volume total de amostra de sangue periférico coletado foi de 20 mL a 50 mL. 21 Hemograma O hemograma foi realizado a partir de um mililitro de sangue periférico coletado em tubo com ácido diaminotetracetico etileno (EDTA) K3 líquido na Seção de Hematologia do Laboratório de Patologia Clínica do HC da UNICAMP, havendo a contagem de células global e diferencial no equipamento XE 5000 (Sysmex Corporation, Japão). Carga viral de HIV A quantificação da CV de HIV-1 foi realizada a partir do plasma obtido de 4 mL de sangue periférico coletado em tubo com EDTA K3 líquido no Laboratório de AIDS do HC da Unicamp, por meio do método quantitativo de Branched-DNA no equipamento Versant 440 (Siemens Healthcare Diagnostics inc., EUA) até março de 2013. A partir de abril de 2013, empregou-se o sistema Abbott M2000sp Real Time (Abbott Molecular, EUA). Os limites mínimo e máximo para detecção do RNA de HIV-1 foram de 50 e 500.000 cópias de RNA/mL, respectivamente. Imunofenotipagem de linfócitos T A imunofenotipagem dos linfócitos CD3, CD4 e CD8 foi realizada a partir de 0,5 mL de sangue periférico coletado em tubo com EDTA K3 líquido, por meio de citometria de fluxo (citômetro de fluxo BD FACSCalibur, BD Biosciences, EUA). Os exames dos pacientes foram efetuados no Laboratório de AIDS do HC da UNICAMP por citometria com quatro marcadores: anti-CD3 conjugado a isotiocianato de fluoresceína (FITC), antiCD4 conjugado a aloficocianina (APC), anti-CD8 conjugado a ficoeritrina (PE) e anti- 22 CD45 conjugado a proteína clorofila peridinina (PerCP), por meio do ensaio Trucount para contagem absoluta de células. A imunofenotipagem dos controles saudáveis foi feita no Laboratório de Marcadores Celulares do Centro de Hematologia e Hemoterapia (HEMOCENTRO) da UNICAMP, usando citometria com três marcadores monoclonais: anti-CD3 PerCP, anti-CD4 APC, e anti-CD8 PE, gerando as porcentagens de cada população linfocitária. Para a contagem absoluta de linfócitos CD3, CD4 e CD8 dos controles, foram usadas as contagens absolutas de linfócitos do hemograma da mesma amostra. Fenotipagem de células dendríticas plasmocitóides e mielóides Após isolamento por gradiente de densidade (Ficoll-Paque, GE Healthcare, Suécia), células mononucleares do sangue periférico (CMSP) na concentração de 1x106 células/mL foram incubadas com anticorpos anti-CD14 PE, anti-HLA-DR PerCP, anti-CD11c FITC (BD Biosciences, EUA) e anti-BDCA-2 APC (Miltenyi Biotec, Alemanha), para distinguir as populações de células dendríticas plamocitóides e mielóides. Após lavagem, a leitura foi realizada em citômetro de fluxo FACSCalibur (BD Biosciences, EUA). Foram adquiridos no mínimo 30.000 eventos para análise no programa computacional FACSDiva versão 6.2 (BD Biosciences, EUA). 23 Coculturas de MDDC e linfócitos Isolamento das células mononucleares do sangue periférico As CMSP foram isoladas por centrifugação por gradiente de densidade (FicollPaque, GE Healthcare, Suécia). Após a contagem em câmara de Neubauer, as células foram ressuspendidas em tampão para separação magnética (Miltenyi Biotec, Alemanha), na concentração de 107 células em 80 µL de tampão. Os monócitos foram separados dentre CMSP usando 20 µL de esferas magnéticas contendo anti-CD14 para cada 107 células, de acordo com o protocolo do fabricante (kit de seleção positiva, Miltenyi Biotec, Alemanha), para assim proceder a separação magnética em equipamento VarioMacs (Miltenyi Biotec, Alemanha). Estas células foram utilizadas para a obtenção de células dendríticas em cultura. Obtenção em cultura de MDDC As células CD14+ foram cultivadas na concentração de 2x106 células/mL em placas de poliestireno de seis poços com fundo achatado (Nunc, Dinamarca) com até 4 mL/poço em incubadora (Forma Scientific, Thermo Scientific, EUA) a 37ºC, com atmosfera de 5% de CO2, em meio AIM-V (Gibco, EUA), com 50 ηg/mL de IL-4 e 50 ηg/mL de GM-CSF (PeproTech, EUA) para promover a diferenciação de monócitos em células dendríticas. No terceiro dia de cultura foi acrescentado um reforço de citocinas (50 ηg/mL de IL-4 e 50 ηg/mL de GM-CSF) e meio de cultura AIM-V (Gibco, EUA). No sexto dia de cultura, uma alíquota de MDDC foi incubada com anticorpos monoclonais humanos produzidos em camundongo anti-CD11c FITC, anti-HLA-DR PerCP, anti-CD40 APC, 24 anti-CD80 PE, anti-CD83 APC, anti-CD86 PE e anti-DC-SIGN PE (BD Biosciences, EUA) para verificação de sua diferenciação. A leitura foi realizada em citômetro de fluxo FACSCalibur (BD Biosciences, EUA) com a aquisição de 5.000 eventos para análise no programa computacional BD FACSDiva versão 6.2 (BD Biosciences, EUA). MDDC pulsadas com HIV inativado No sexto dia de cultura, as MDDC foram pulsadas por duas horas com HIV-1 clade B (MN) inativado por aldritiol-2 (AT-2) cultivado em células H9, gentilmente cedido pelo Dr. Jeffrey Lifson, coordenador de AIDS and Cancer Virus Program da Instituição SAICFrederick, NCI-Frederick, EUA. As células H9 são derivadas de uma linhagem de linfoma cutâneo de linfócitos T, altamente permissiva à proliferação do HIV. O antígeno foi diluído em PBS (Phosphate-Buffered Saline) estéril (Sigma-Aldrich, EUA) e utilizado na concentração de 750 ηg/mL de equivalente de p24 em cultura e como controle negativo foi usada uma solução de microvesículas de uma cultura de células H9 não infectadas por HIV1, também diluídas em PBS estéril (Sigma-Aldrich, EUA), em concentração protéica total equivalente ao AT-2 HIV-1. Após a incubação com os antígenos, as células foram lavadas com meio AIM-V e assim foi adicionado novo reforço de IL-4 e GM-CSF e também citocinas recombinantes para a maturação das MDDC, sendo 50 ηg/mL de TNF-α, 100 ηg/mL de IL-6 e 10 ηg/mL de IL-1β (PeproTech, EUA). No oitavo dia de cultura, a placa foi incubada em banho de gelo por seis minutos e o sobrenadante foi retirado para posterior análise de citocinas por meio da técnica Cytometric Bead Array (CBA) e Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ELISA). Para maior recuperação das células aderidas à placa, foi adicionado 1 mL de solução de 0,25% Tripsina 25 com EDTA (Gibco, EUA) durante 10 minutos e, em seguida, as células foram lavadas com meio AIM-V e ressuspensas na concentração de 2x106 células/mL com meio AIM-V. Uma alíquota de MDDC foi incubada com anticorpos monoclonais humanos produzidos em camundongo anti-CD11c FITC, anti-HLA-DR PerCP, anti-CD40 APC, anti-CD80 PE, anti-CD83 APC, anti-CD86 APC e anti-DC-SIGN PE (BD Biosciences, EUA), para avaliar a maturação celular por citometria de fluxo. Para ilustrar a diferenciação morfólogica de monócitos em MDDC, as células de um controle saudável foram fotografadas por microscopia de contraste de fase no terceiro dia de cultura com GM-CSF e IL-4, antes e após a indução da maturação com citocinas próinflamatórias e incubação com AT-2 HIV-1. Separação e viabilidade de linfócitos Após a separação magnética, as células CD14- (em sua maioria linfócitos) foram congeladas na concentração de 107 células/mL a -80ºC em soro bovino fetal com 10% de dimetil-sulfóxido (DMSO) para posterior cocultivo. No dia anterior à incubação com as MDDC, as células foram descongeladas em banho-maria a 37ºC e incubadas em meio AIM-V (com 10% de soro bovino fetal) na concentração de 3x106 células/mL em placas de poliestireno de seis poços com fundo achatado ou garrafas de cultura (TPP, Suíça) em incubadora a 37ºC, com atmosfera de 5% de CO2 durante 24 horas. No dia seguinte, foi verificada a viabilidade e acertada a concentração para 1x107 células/mL com meio AIMV. 26 Cocultivo de MDDC e linfócitos As células dendríticas pulsadas com HIV inativado e com microvesículas H9 foram incubadas com linfócitos, na proporção de 1 MDDC: 30 linfócitos em meio AIM-V com 10% de soro humano AB inativado (Sigma, EUA), em incubadora a 37ºC, com atmosfera de 5% de CO2 durante 48 horas. No décimo dia, o sobrenadante da cocultura foi coletado e congelado a -80°C para posterior análise das citocinas através das técnicas de CBA e ELISA. As células foram ressuspensas em 350 µL de tampão RA1 do kit comercial Illustra RNAspin Mini (GE Healthcare, EUA) para posterior extração do mRNA. Produção de citocinas no sobrenadante No oitavo dia de cultura, o sobrenadante das MDDC foi coletado e congelado a 80°C para posterior análise das citocinas, assim como o sobrenadante das coculturas de MDDC e linfócitos após 48 horas de incubação. Foram verificadas as concentrações de IL2, IL-4, IL-5, IL-10, TNF-α, IFN-γ e IFN-α pela técnica de CBA (Human Th1/Th2 Cytokine Kit e Human IFN-α Flex Set, BD Biosciences, EUA) em pg/mL no citômetro FACSVerse (BD Biosciences, EUA). A análise foi realizada com o programa computacional FCAP Array versão 3.0.1 (BD Biosciences, EUA). Os limites de detecção foram 2,6 ρg/mL para IL-2 e IL-4, 2,4 ρg/mL para IL-5, 2,8 ρg/mL para IL-10 e TNF-, 7,1 ρg/mL para IFN- e 1,5 ρg/mL para IFN-α, sendo que para amostras que tiveram concentrações inferiores a estes limites foram estabelecidos valores de metade dos limites de detecção para respectiva citocina. 27 As concentrações de IL-12, IL-6 e Transforming Growth Factor (TGF)-β1 foram verificadas pela técnica de ELISA, usando os kits comerciais Human IL-12 p40/p70 ELISA Kit (Invitrogen, EUA), BD OpteiaTM IL-6 (BD Biosciences, EUA) e Human TGF-β1 Duo Set ELISA Kit (R&D Systems, EUA). Os limites de detecção foram de 2,0 ρg/mL para IL12, 4,7 ρg/mL para IL-6 e 15,6 ρg/mL para TGF-β1, sendo também adotado o valor da metade destas concentrações para amostras que tiveram concentrações inferiores aos limites de detecção. Extração do RNAm e reação de transcrição reversa (cDNA) As células cultivadas na cocultura tiveram o RNAm extraído pelo kit comercial Illustra RNAspin Mini (GE Healthcare, EUA). Para a quantificação de RNA foi usado o kit comercial Qubit™ RNA BR (Invitrogen, EUA), segundo o protocolo do fabricante e leitura no fluorômetro Qubit® 2.0 (Invitrogen, EUA). A transcrição reversa foi efetuada utilizando o kit comercial High Capacity cDNA Reverse Transcriptase (Applied Biosystems, EUA) segundo o protocolo do fabricante. Após pipetagem e centrifugação breve, as amostras foram incubadas em termociclador com gradiente de temperatura (Mastercycler Eppendorf, EUA), em um ciclo de 25ºC por 10 minutos, 37º por 120 minutos, 85ºC por 5 minutos, seguido de um resfriamento a 4ºC. O cDNA foi armazenado a -20°C. 28 PCR quantitativo em tempo real Para uma análise preliminar da expressão gênica de citocinas das coculturas, foi realizado PCR array usando a placa Human Common Cytokines PCR Array (Life Technologies, EUA), que possui 28 genes de interesse das citocinas em triplicata e quatro genes de normalização de expressão (housekeeping genes). Para o array, foram realizados pools com amostras de seis pacientes com carga viral indetectável, seis com CV ≥1000 cópias de RNA/mL e de seis controles saudáveis, a fim de totalizar 10 ng/poço de RNA convertido em cDNA. As reações de PCR foram realizadas de acordo com o protocolo do fabricante, usando o reagente TaqMan® Gene Expression Master Mix (Life Technologies, EUA), com o sistema ABI Prism 7500 Sequence Detection System (Applied Biosystems, EUA). Foram identificados seis genes alvo com hiper ou hipoexpressão em relação ao controle saudável estimulado com as microvesículas H9 (amostra de referência com quantificação igual a 1,0), os quais foram avaliados utilizando assays específicos para a confirmação destas diferenças. A Tabela 2 apresenta a nomenclatura dos genes de acordo com o banco de dados de HUGO Gene Nomenclature Committee database (HGNC). 29 Tabela 2: Genes e assays de expressão gênica utilizados no estudo. Símbolo Nome Task Nº TaqMan Assay Amplificado (pb) GAPDH Glyceraldehyde-3-phosphate dehydrogenase Endógeno 4333764 F 122 HPRT1 Hypoxanthine phosphoribosyltransferase 1 Endógeno 4333768 F 100 IFN-α17 Interferon, alpha 17 Alvo Hs00819693_sH 217 IFN-β1 Interferon, beta 1, fibroblast Alvo Hs01077958_s1 73 IFN-γ Interferon, gamma Alvo Hs00989291_m1 73 IL-6 Interleukin 6 (interferon, beta 2) Alvo Hs00985639_m1 66 IL-8 Interleukin 8 Alvo Hs00174103_m1 101 IL-9 Interleukin 9 Alvo Hs00914237_m1 104 Antes de se realizar um experimento de expressão gênica utilizando a técnica de PCR quantitativo em tempo real (Real Time Quantitative PCR, RT-qPCR), foi realizada a quantificação absoluta validando o sistema gene alvo/gene de referência. Os genes alvo foram validados para os genes de referencia GAPDH e HPRT1 utilizando-se sete concentrações diferentes de cDNA (diluições seriadas de 5 vezes) de uma amostra de uma cocultura de um controle saudável. A eficiência da curva (E=10(-1/slope)) foi calculada com o programa 7500 software versão 2.0.5 (Life Technologies, EUA), devendo estar próxima ao 100%. A partir disto, construiu-se um gráfico do logaritmo das concentrações de cDNA utilizadas pela diferença das médias dos ciclos threshold do gene de referência e do gene alvo obtidas para cada concentração. Equações dos gráficos constituindo retas com inclinação menor do que 0,1 foram consideradas estáveis nas concentrações testadas. Prosseguiu-se então com os experimentos para quantificação relativa da expressão gênica dos genes alvo. O produto da transcrição reversa realizada conforme descrito 30 anteriormente foi utilizado nas reações de RT-qPCR em triplicata utilizando um volume total de reação de 12,5 μL pelo método TaqMan® (Applied Biosystems, EUA). As leituras de fluorescência foram realizadas no equipamento ABI Prism 7500 Sequence Detection System e, posteriormente, analisadas pelo 7500 software versão 2.0.5 (Applied Biosystems, EUA). Para a avaliação da expressão gênica foi utilizado o método de 2-ΔΔCt, onde os dados representam mudanças da expressão com relação ao controle saudável com o estímulo das microvesículas H9 com quantificação relativa igual a 1,0, sendo todos os genes normalizados com a combinação dos controles endógenos GAPDH e HPRT1. Linfoproliferação HIV específica Para avaliar a linfoproliferação HIV específica foram usadas as MDDC pulsadas com AT-2 HIV-1, com microvesículas H9 e células não estimuladas. As MDDC foram cocultivadas com linfócitos, na proporção de 1 MDDC: 30 linfócitos em meio AIMV com 10% de soro humano AB inativado, em placas de poliestireno de 96 poços com fundo arredondado (Nunc, Dinamarca) a 37ºC, com atmosfera de 5% de CO2 durante 6 dias. A fitohemaglutinina (PHA), na concentração de 7,5 µg/mL (Sigma, EUA), foi utilizada como controle positivo e o meio AIM-V (Gibco, EUA) foi usado como cultivo sem estímulo. Após a coleta da cultura, foi realizada a marcação fenotípica dos linfócitos com anticorpos anti-CD3 PerCP, anti-CD4 FITC e anti-CD8 APC (BD Biosciences, EUA). A leitura das amostras foi realizada no citômetro de fluxo FACSCalibur (BD Biosciences, EUA), adquirindo-se 50.000 eventos totais para análise no programa computacional BD FACSDiva versão 6.2 (BD Biosciences, EUA). As células blásticas foram identificadas por 31 observação em forward e side light scatters. A proliferação linfocitária foi avaliada pelo percentual de blastos viáveis CD3+. Para cada cultura, o percentual de blastos foi dado por: Percentual de células no gate de blastos x 100 Percentual de blastos + percentual de linfócitos pequenos O cálculo de blastos para cada cultura estimulada foi feito da seguinte forma: 1. Blastos de HIV = percentual de blastos de HIV - percentual de blastos de microvesículas. 2. Blastos de PHA = percentual de blastos de PHA - percentual de blastos do controle sem estímulo. As porcentagens das subpopulações CD4 e CD8 foram quantificadas dentre as células no gate de blastos de cada cultura. Assim, foram comparadas as suas proporções e não os números absolutos. Análise estatística Os dados foram organizados e analisados em SPSS® software for Windows versão 17.0. (SPSS Inc, EUA). A análise estatística foi realizada com os testes de Kruskal-Wallis, Wilcoxon, Mann-Whitney, comparações múltiplas não paramétricas e Correlação de Spearman. O nível de significância adotado foi p valor <0,05. Os gráficos foram feitos no Software GraphPad Prism versão 5.0 (GraphPad Software, EUA). 32 4. RESULTADOS População de estudo Para este estudo foram recrutados 39 pacientes infectados pelo HIV-1, em uso de terapia antirretroviral, os quais foram agrupados de acordo com a CV plasmática de HIV-1, sendo 25 pacientes com CV indetectável e 14 pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL no dia da coleta. A Tabela 3 mostra os dados clínicos destes pacientes, coletados de seus prontuários. Para o grupo controle foram recrutados 20 indivíduos, sendo que destes nove eram do sexo masculino. A mediana de idade foi de 16,39 anos, com a idade mínima foi de 4,06 e a máxima de 22,30. Não houve diferença de idade entre os três grupos (p=0,110, teste de Kruskal-Wallis). Nenhum controle havia usado antiinflamatórios e antibióticos no período de um mês antes da coleta. Também não apresentavam nenhum histórico familiar de imunodeficiência primária. O volume de sangue coletado de alguns pacientes e controles não foi suficiente para realizar todos os experimentos descritos anteriormente. Alguns pacientes passaram por uma segunda coleta de sangue para que fossem realizados os demais experimentos. 33 Tabela 3: Dados clínicos dos pacientes infectados pelo HIV com CV indetectável e CV ≥1000 cópias de RNA/mL (CV ≥1000). CDC: Centro de Controle de Doenças e Prevenção; NA: não se aplica; ITRN: Inibidores da transcriptase reveresa análogos à nucleosídeos e nucleotídeos; ITRNN: Inibidores da transcriptase reveresa não-análogos à nucleosídeos e nucleotídeos; IP: Inibidores da protease; RAL: raltegravir. CV ≥1000 CV indetectável n Sexo 25 Masculino 13 Feminino 12 Mediana de idade em anos (mínimo - máximo) 13,50 (4,32 - 21,27) Idade (anos) ≤2 0 2-5 1 >5 24 Classificação clínica pelo CDC N 3 A 1 B 17 C 4 Classificação imunológica pelo CDC 1 4 2 11 3 10 CD4 ≥ 25% 23 *15% - 24% 2 < 15% 0 Nadir médio (mínimo - máximo) 376 (10 - 954) Idade no início da TARV em anos 1,95 (0,00 - 9,97) Tempo de tratamento em anos 10,32 (3,24 - 19,58) TARV 2 ITRN + 1 ITRNN 9 2 ITRN + 1 IP 8 2 ITRN + 2 IP 2 3 ITRN + 1 IP 0 **2 ITRN + 1 ITRNN + 1 IP 1 2 ITRN + 1 ITRNN + 1 IP + RAL 1 2 ITRN + 1 ITRNN + 2 IP + RAL 2 2 ITRN + 1 IP + RAL 1 2 ITRN + 2 IP + RAL 1 1 ITRN + 2 IP + RAL 0 *Em uma segunda coleta, um paciente mudou a classificação de CD4 para <15%. ** Em uma segunda coleta, um paciente mudou a TARV para 2 ITRN + 1 ITRNN. 34 14 6 8 9,13 (1,60 - 19,45) 2 1 11 3 1 6 4 2 4 8 6 5 3 351 (20 - 1377) 1,05 (0,00 - 6,70) 7,38 (1,30 - 18,43) 2 6 2 1 2 0 0 0 0 1 Hemograma, linfócitos CD3, CD4 e CD8 e carga viral Foram realizados hemogramas e fenotipagens de linfócitos CD3, CD4 e CD8 de todos os pacientes e controles. Na Tabela 4 são apresentados os valores referentes aos hemogramas, imunofenotipagens e CV em sangue periférico dos pacientes e controles saudáveis. Tabela 4: Mediana (mínimo - máximo) dos parâmetros de hemograma, fenotipagem e CV de pacientes infectados pelo HIV com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL (CV ≥1000) e controles saudáveis. P valor corresponde à comparação dos grupos pelo teste de Kruskal-Wallis. Leucócitos (109 cél/L) Linfócitos (109 cél/L) Monócitos (109 cél/L) Neutrófilos (109 cél/L) Eosinófilos (109 cél/L) Basófilos (109 cél/L) Eritrócitos (1012 cél/L) Hemoglobina (g/dL) Hematócrito (%) Plaquetas (109 cél/L) CD3 (106 cél/L) CD4 (106 cél/L) CD8 (106 cél/L) Razão CD4/CD8 CV de HIV-1 (cópias RNA/mL) CV de HIV-1 (log RNA/mL) CV ≥1000 n=14 6,04 (3,52-19,75) 2,77 (1,81-13,88) 0,63 (0,39-2,62) 2,66 (0,57-7,35) 0,15 (0,08-0,77) 0,02 (0,01-0,11) 4,31 (3,29-5,14) 12,5 (9,0-14,3) 36,2 (29,5-43,3) 273 (134-522) 2218 (1617-8590) 822 (174-2161) 1285 (954-6216) 0,55 (0,08-1,40) 4820 (1215-471374) 3,7 (3,1-5,7) CV indetectável n=25 5,87 (3,23-10,10) 2,25 (1,30-5,92) 0,53 (0,28-0,82) 2,72 (0,41-5,10) 0,16 (0,00-1,07) 0,02 (0,00-0,06) 4,21 (3,18-5,82) 14,0 (11,6-16,4) 40,7 (34,2-47,5) 230 (156-428) 1842 (918-6004) 828 (372-2908) 937 (421-2828) 0,93 (0,46-1,96) <50 N/A Controles n=20 6,73 (4,00-12,00) 2,28 (1,14-6,67) 0,46 (0,27-0,81) 3,14 (1,61-8,48) 0,15 (0,05-1,19) 0,02 (0,00-0,09) 4,83 (3,85-5,34) 13,4 (11,9-16,3) 39,5 (36,3-47,0) 256,5 (141-384) 1666 (896-4662) 891,5 (424-2210) 658,5 (361-1958) 1,32 (0,81-2,04) N/A N/A p valor 0,459 0,031 0,029 0,370 0,911 0,862 0,016 0,005 0,002 0,385 0,008 0,872 <0,001 <0,001 N/A N/A Na série vermelha, os pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL tiveram menor número absoluto de eritrócitos que os controles saudáveis (p<0,05, teste de comparações múltiplas não paramétricas). Além disso, estes pacientes tiveram menor concentração de hemoglobina e percentual de hematócrito em relação aos pacientes com CV indetectável e 35 em relação aos controles saudáveis (p<0,05, teste de comparações múltiplas não paramétricas para todos os casos). Na série branca, os pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL apresentaram maior número absoluto de monócitos e de CD3 que os controles saudáveis (p<0,05, teste de comparações múltiplas não paramétricas para ambos). Quanto à subpopulação de linfócitos CD8, os pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL tiveram um maior número absoluto de CD8 em relação aos pacientes com CV indetectável e os ambos os grupos de pacientes apresentaram contagem de CD8 mais elevada e menor razão CD4/CD8 em relação ao grupo controle (p<0,05, teste de comparações múltiplas não paramétricas para todos os casos). Foi observada uma correlação negativa entre a CV e a porcentagem de células CD4 para os pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL (Spearman’s rho=-0,846, p<0,001, n=14). Caracterização das subpopulações de células dendríticas do sangue periférico Na Figura 1 é mostrado um exemplo de caracterização das mDC e pDC por citometria de fluxo, sendo descritas as suas porcentagens em 30.000 eventos totais de CMSP. As mDC foram caracterizadas como CD14-CD11c+HLA-DR+ e as células pDC foram caracterizadas como CD11-BDCA-2+HLA-DR+. 36 Figura 1: Painel de análise das DC periféricas por citometria de fluxo. Após seleção das células mononucleares do sangue periférico foi desenhado um gate nas populações CD14-CD11c+ para as DC mielóides (mDC), outro nas populações CD11c-BDCA-2+ para as DC plasmocitóides (pDC) e observou-se então a expressão de HLA-DR. As porcentagens de mDC e pDC são calculadas em relação ao Grand Parent. Na Figura 2 são apresentados os percentuais das subpopulações de mDC e pDC em pacientes infectados por HIV e em controles saudáveis. Ao se comparar os três grupos, houve uma diferença significativa para as duas subpopulações de DC periféricas, porém estas diferenças não foram identificadas nos testes de comparações múltiplas não paramétricas. Não foi observada correlação entre as porcentagens de ambas as subpopulações de DC com a CV nos pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL, porém a porcentagem de pDC correlacionou diretamente com o tempo do tratamento nos pacientes com CV indetectável (Spearman’s rho=0,554, p=0,004, n=25). 37 B p=0,041 8.0 2.0 6.0 1.5 pDC (%) mDC (%) A 4.0 2.0 p=0,045 1.0 0.5 0.0 CV indetectável n=25 CV 1000 n=14 0.0 Controles n=20 CV indetectável n=25 CV 1000 n=14 Controles n=20 Figura 2: Percentual de células dendríticas mielóides (A) e plasmocitóides (B) em relação ao total de células mononucleares em sangue periférico de pacientes com CV indetectável (), CV ≥1000 cópias de RNA/mL (CV ≥1000, ) e controles (■), obtido por citometria de fluxo. P corresponde à comparação dos grupos pelo teste de Kruskal-Wallis. Caracterização das células dendríticas derivadas de monócitos Na Figura 3 é apresentado um exemplo da morfologia das MDDC obtidas em cultura antes e após os estímulos de maturação. Quando imaturas, as MDDC são caracterizadas por um aspecto arredondado, apresentando uma morfologia estrelada com projeções dos dendritos após a maturação. 38 A B C . Figura 3: Microscopia de contraste de fase da diferenciação de monócitos em MDDC em cultura de um controle saudável (A) no terceiro dia de cultura com GM-CSF e IL-4, (B) antes e (C) após a indução da maturação com citocinas próinflamatórias e incubação com AT-2 HIV (aumento de 20x). Na Figura 4 é apresentado o painel de caracterização das MDDC pela expressão dos marcadores de maturação por citometria de fluxo. A diferenciação se deu com a partir de monócitos isolados com pureza de aproximadamente 97% e as MDDC foram caracterizadas como CD14-CD11c+. Foi analisada a expressão de CD40, HLA-DR, CD80, CD83, CD86 e DC-SIGN. 39 Figura 4: Painel de análise das MDDC por citometria de fluxo. Após seleção das células viáveis em um gráfico FSC x SSC é feito um gate nas populações CD11c+ (próximo a 100%) e observa-se então a expressão de CD40, HLA-DR, CD80, CD83, DC-SIGN (CD209), CD86. A Figura 5 mostra a comparação das medianas de intensidade de fluorescência entre as MDDC antes e após o estímulo com AT-2 HIV-1 e com as microvesículas H9. Em geral, houve maior expressão de todas as moléculas estudadas após o pulso antigênico para pacientes e controles, exceto para DC-SIGN, que apresentou maior expressão antes do estímulo. Não foi observada diferença entre as MDDC estimuladas com AT-2 HIV-1 ou com as microvesículas H9, exceto para a expressão de CD86 nos controles saudáveis que estava aumentada para as MDDC estimuladas com AT-2 HIV-1 em relação às MDDC estimuladas com as microvesículas. Quando imaturas, a expressão de DC-SIGN nos pacientes com CV indetectável foi menor que os controles saudáveis (p<0,05, teste de comparações múltiplas não paramétricas). 40 A B CD40 10000 p=0,012 p=0,018 p=0,011 HLA-DR 30000 p=0,012 p=0,028 p=0,008 8000 20000 MFI MFI 6000 4000 10000 2000 0 0 n=12 n=8 n=8 CV indetectável C n=11 n=7 n=7 CV 1000 n=12 n=9 n=12 n=9 Controles p=0,012 p=0,018 10000 MFI MFI n=7 n=7 n=12 CV 1000 n=9 n=9 Controles p=0,012 p=0,018 p=0,008 15000 5000 10000 5000 0 0 n=12 n=8 n=8 CV indetectável E n=11 n=7 n=7 CV 1000 n=12 n=9 n=12 n=9 Controles n=8 F CD86 p=0,017 n=8 p=0,018 n=11 n=7 n=12 n=9 n=9 Controles DC-SIGN p* <0,05 10000 p=0,008 n=7 CV 1000 CV indetectável p=0,036 p=0,038 p=0,018 p=0,008 8000 MFI 60000 MFI n=11 CD83 20000 p=0,008 20000 80000 n=8 D CD80 30000 n=8 CV indetectável 40000 6000 4000 20000 2000 0 0 n=12 n=8 n=8 CV indetectável n=11 n=7 n=7 CV 1000 n=12 n=9 n=9 n=12 Controles n=8 n=8 CV indetectável n=11 n=7 CV 1000 n=7 n=12 n=9 Controles Figura 5: Mediana da intensidade de fluorescência (MIF) de CD40 (A), HLA-DR (B), CD80 (C), CD83 (D), CD86 (E) e DC-SIGN (F) das MDDC dos pacientes infectados por HIV com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL (CV ≥1000) e controles antes ( ) e após o estímulo com AT-2 HIV-1 ( ) e com as microvesículas H9 ( , obtida por citometria de fluxo. P e p* correspondem às diferenças observada pelos testes de Wilcoxon e comparações múltiplas não paramétricas, respectivamente. 41 n=9 Produção de citocinas no sobrenadante das culturas de MDDC Foram realizadas as dosagens de IL-12, IFN-α e TGF-β1 nos sobrenadantes de cultura de das MDDC incubadas com HIV e microvesículas H9. Na Figura 6 são apresentadas as concentrações destas citocinas em pacientes infectados por HIV, com CV indetectável ou CV ≥1000 cópias de RNA/mL e em controles saudáveis. Não houve diferença significativa entre os grupos para IL-12 e TGF-β1 (Figura 6A e 6B) e não foi observada qualquer produção de IFN-α pelas MDDC independentemente do grupo (CV indetectável n=20; CV ≥1000 cópias de RNA/mL n=12; controles n=12). Foi observada uma correlação positiva entre a concentração de IL-12 e TGF-β1 para os pacientes com CV indetectável (Spearman’s rho=0,503, p=0,020, n=21) e para os controles (Spearman’s rho=0,687, p=0,010, n=13). 42 A B Concentração de TGF-1 (pg/mL) Concentração de IL-12 (pg/mL) 16000 12000 8000 4000 0 500 p=0,006 400 300 200 100 0 HIV Micro HIV CV indetectável n=21 Micro CV 1000 n=11 HIV Micro HIV Controles n=13 Micro CV indetectável n=22 HIV Micro CV 1000 n=14 HIV Micro Controles n=15 Figura 6: Concentração das citocinas IL-12 (A) e TGF-β1 (B) (pg/mL) nos sobrenadante de culturas de MDDC de pacientes infectados pelo HIV com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL (CV ≥1000) e controles, obtidas por testes de ELISA. () corresponde às MDDC estimuladas com AT-2 HIV-1 e () corresponde às MDDC estimuladas com microvesículas H9 (Micro). P corresponde a diferença observada pelo teste de Wilcoxon Produção de citocinas no sobrenadante das coculturas de MDDC e linfócitos Na Figura 7 são apresentadas as concentrações de IL-2, IL-4, IL-5, IL-6, IL-10, TNF-α, IFN-γ, IFN-α e TGF-β1 dosadas nos sobrenadantes das coculturas de MDDC e linfócitos em pacientes com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL e em controles saudáveis. Houve uma diferença entre os grupos quanto à concentração de IFN-γ (Figura 7A). Interessantemente, foi observada uma maior produção de citocinas do padrão Th1 (IFN-γ, IL-2 e TNF-α) pelas coculturas estimuladas com HIV em relação às coculturas estimuladas com microvesículas de ambos os grupos de pacientes, além da produção da citocina pró-inflamatória IL-6 e da antiviral IFN-α (Figura 7A, 7B, 7C, 7F e 7G). O mesmo 43 não foi observado para as citocinas do padrão Th2, onde poucos pacientes apresentaram produção de IL-4 e IL-5 acima dos limites de detecção e não foi observada produção de IL10 independentemente do grupo ou estímulo (CV indetectável n=17; CV ≥1000 cópias de RNA/mL n=13; controles n=14). No grupo de pacientes com CV indetectável, a concentração de IFN-γ correlacionou-se à produção de IL-2 (Spearman’s rho=0,894, p<0,001, n=17) e IL-6 (Spearman’s rho=0,715, p=0,001, n=17). Para os pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL foram observadas correlações positivas entre IFN-γ e IL-2 (Spearman’s rho=0,714, p=0,006, n=13), IFN-γ e IFN-α (Spearman’s rho=0,674, p=0,011, n=13), IFN-α e IL-2 (Spearman’s rho=0,608, p=0,028, n=13) e entre IL-2 e IL-6 (Spearman’s rho=0,782, p=0,008, n=10). 44 A B p*=0,043 p=0,002 400 Concentração de IL-2 (pg/mL) Concentração de IFN- (pg/mL) 10000 p=0,028 8000 4000 3000 2000 1000 0 p=0,028 300 200 100 0 HIV Micro CV indetectável n=17 HIV Micro CV 1000 n=13 HIV Micro HIV Controles n=14 Micro CV indetectável n=17 C HIV Micro CV 1000 n=13 HIV Micro Controles n=14 D 800 p=0,038 Concentração de IL-4 (pg/mL) 150 Concentração de TNF- (pg/mL) p=0,002 100 50 0 600 300 200 100 0 HIV Micro CV indetectável n=17 HIV Micro CV 1000 n=13 HIV Micro HIV Controles n=14 Micro CV indetectável n=17 45 HIV Micro CV 1000 n=13 HIV Micro Controles n=14 E F 500 Concentração de IL-6 (pg/mL) Concentração de IL-5 (pg/mL) 10 8 6 4 2 p=0,028 400 300 200 100 0 0 HIV Micro CV indetectável n=17 HIV Micro CV 1000 n=13 HIV HIV Micro Controles n=14 Micro CV indetectável n=17 G HIV Micro CV 1000 n=10 HIV Micro Controles n=11 H p=0,028 Concentração de TGF-1 (pg/mL) 3000 Concentração de IFN- (pg/mL) p=0,003 2000 1000 200 150 100 50 2500 p=0,002 p=0,033 2000 1500 1000 500 0 0 HIV Micro CV indetectável n=17 HIV Micro CV 1000 n=13 HIV HIV Micro Micro CV indetectável n=18 Controles n=14 HIV Micro CV 1000 n=13 HIV Micro Controles n=13 Figura 7: Concentração das citocinas IFN-γ (A), IL-2 (B), TNF-α (C), IL-4 (D), IL-5 (E), IL-6 (F), IFN-α (G), TGF-β1 (H) (pg/mL) nos sobrenadante das coculturas de MDDC e de linfócitos de pacientes infectados pelo HIV com CV indetectável, CV ≥1000 cópias de RNA/mL (CV ≥1000) e controles, obtidas pelos testes de ELISA e CBA. () corresponde às coculturas estimuladas com AT-2 HIV-1; e () corresponde às coculturas estimulas com microvesículas H9 (Micro). P e p* correspondem às diferenças observadas pelos testes de Wilcoxon e teste de Kruskal-Wallis, respectivamente. 46 PCR quantitativo em tempo real Foram realizadas as validações dos sistemas gene alvo/gene de referência por meio da quantificação da expressão gênica absoluta. Na Tabela 5 são apresentados os valores da eficiência da amplificação, que estavam próximos a 100%, além das equações das linhas de tendência, que apresentaram inclinação menor do que 0,1, apontando que os sistemas foram validados. Tabela 5: Valores de eficiência (Eff%), R² e das equações das retas dos sistemas dos genes alvo/gene de referência obtidos pela quantificação gênica absoluta nos experimentos de RT-qPCR. Gene alvo R² Equação da reta Eff% GAPDH HPRT1 IFN-α17 0,962 101,48 y=0,0749x-12,148 y=0,0972x-8,5939 IFN-β1 0,962 102,52 y=-0,0667x-9,3659 y=0,0005x-6,8999 IFN-γ 0,991 100,29 y=0,0463x-4,1644 y=0,0593x-1,7044 IL-6 0,987 105,37 y=0,0483x-4,4637 y=0,0421x-1,8774 IL-8 0,990 107,75 y=0,0062x-1,1868 y=-0,0037x-5,7734 IL-9 0,983 103,91 y=0,0185x-12,328 y=0,0738x-8,0774 A Figura 8 mostra a análise da expressão dos seis genes identificados no PCR Array com hiper ou hipoexpressão em relação aos controles saudáveis por RTqPCR de amostras de 10 indivíduos de cada grupo. Para analisar a expressão dos genes alvo, o RNAm das células estimuladas com microvesículas H9 foram utilizadas como referência com quantificação igual a 1,0. Houve diferença significativa na expressão de IFN-γ, que foi maior em ambos os grupos de pacientes em relação aos controles saudáveis (p<0,05, teste de comparações múltiplas não paramétricas). Foi observada uma diferença na expressão gênica de IL-8, porém a mesma não foi identificada no teste de comparações múltiplas não paramétricas. 47 A B 50 p<0,05 C p*=0,038 5 15 30 20 10 0 CV indetectável CV 1000 3 2 1 2 0 CV indetectável CV 1000 Controles Controles F 60 Expressão relativa de IFN- 1 Expressão relativa de IFN-17 4 5 0 CV indetectável CV 1000 200 6 10 Controles E 8 Expressão relativa de IL-9 4 0 CV indetectável CV 1000 Controles D Expressão relativa de IL-6 Expressão relativa de IL-8 Expressão relativa de IFN- p<0,05 40 150 30 20 10 0 CV indetectável CV 1000 Controles 40 15 10 5 0 CV indetectável CV 1000 Controles Figura 8: Expressão gênica relativa de IFN-γ (A), IL-8 (B), IL-6 (C), IL-9 (D), IFN-α17 (E) e IFN-β1 (F) nas coculturas de MDDC e linfócitos de 10 pacientes com CV indetectável, 10 com CV ≥1000 cópias de RNA/mL e 10 controles saudáveis, estimuladas com AT-2 HIV-1, obtida pelos ensaios de RT-qPCR. A expressão foi avaliada em relação às amostras de referência estimuladas com microvesículas H9, com quantificação igual a 1,0 e todos os genes foram normalizados com os controles endógenos GAPDH e HPRT1. Dados apresentados como mediana, mínimo e máximo (Tukey); (●) correponde aos outliers; p e p* correspondem às diferenças observadas pelos testes de comparações múltiplas não paramétricas e KruskalWallis, respectivamente. 48 Linfoproliferação HIV específica Após a estimulação com AT-2 HIV-1 ou com as microvesículas, as MDDC maduras foram cocultivadas com linfócitos autólogos para determinar a proliferação linfocitária. A proliferação HIV específica foi maior nos pacientes com CV indetectável em comparação com pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL (p=0,004, teste de Mann-Whitney, Figura 9). Não houve diferença para a linfoproliferação estimulada por PHA entre os grupos (p=0,067, teste de Kruskal-Wallis). Não foi observada diferença significativa entre os grupos para as proporções de blastos CD4 e CD8 nas coculturas estimuladas com HIV ou PHA (teste de Mann-Whitney e teste de Kruskal Wallis, p>0,05 em todos os casos). A proliferação HIV específica nas coculturas dos pacientes com CV indetectável correlacionou-se à produção de IL-2 (Spearman’s rho=0,834, p=0,005, n=9) e de IFN-α (Spearman’s rho=0,749, p=0,020, n=9). 49 A B 100 p=0,004 Linfoproliferação PHA específica (%) 40 20 0 -20 CV indetectável n=10 80 60 40 20 0 CV 1000 n=8 Controles n=8 CV indetectável n=9 D C Controles n=7 60 20 50 40 Blastos CD8+ (%) 100 CV indetectável CV 1000 CV indetectável Controles CV 1000 Controles Figura 9: Linfoproliferação HIV específica e estimulada por PHA (A, B) e a porcentagem de células blásticas CD4 e CD8 (C, D) nas coculturas de MDDC e linfócitos sem estímulo (Neg: ●) ou estimuladas com HIV (■), microvesículas (Micro: ▲) ou PHA (▼) de pacientes com CV indetectável ou ≥1000 cópias de RNA/mL (CV ≥1000) e controles saudáveis, obtidas por citometria de fluxo. As barras indicam as medianas e p corresponde à diferença observada pelo teste de Mann-Whitney. 50 PHA Micro HIV Neg PHA Micro HIV Neg PHA Micro HIV Neg PHA Micro HIV Neg PHA Micro HIV Neg PHA Micro HIV 0 0 Neg Blastos CD4+ (%) 80 150 CV 1000 n=8 100 Linfoproliferação HIV específica (%) 60 5. DISCUSSÃO Embora a TARVc tenha reduzido drasticamente a morbidade e mortalidade dos indivíduos infectados pelo HIV nos últimos anos, a total supressão viral plasmática ainda se faz difícil de alcançar em crianças e adolescentes devido a fatores como a resposta imunológica do indivíduo, a resistência viral, a toxicidade das drogas e a baixa adesão. Assim, muitos estudos têm focado na utilização de vacinas terapêuticas com MDDC pulsadas com o HIV inativado como uma estratégia promissora para indivíduos com infecção crônica pelo HIV. Visto o papel das DC como potentes adjuvantes naturais capazes de induzir a resposta imune celular, este estudo visou quantificar as subpopulações periféricas de DC e avaliar o fenótipo e função das MDDC frente às partículas de HIV-1 inativado de pacientes pediátricos verticalmente infectados por HIV com CV indetectável e com viremia persistente, bem como de controles saudáveis. Nós analisamos os subconjuntos de DC periféricas para determinar se a viremia plasmática afeta numericamente estas células em crianças com infecção crônica pelo HIV. Ao se comparar os três grupos, foram observadas diferenças significativas nos percentuais de mDC e pDC, porém estas diferenças não foram identificadas nos testes de comparações múltiplas não paramétricas. Já foi descrito uma diminuição do número de mDC no estágio primário e crônico da infecção pelo HIV-1 (Pacanowski et al., 2001; Sabado et al., 2010) e uma correlação negativa das mDC com a CV em adultos e também em crianças sem TARV (Chehimi et al., 2002; Zhang et al., 2006). Mesmo sem identificar qual grupo teve diferença na frequência de pDC, a maioria dos pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL apresentou porcentagem de pDC próxima 51 a zero. Estudos anteriores correlacionaram alta CV com uma diminuição na produção de IFN-α entre crianças (Azzoni et al., 2005) e adultos infectados pelo HIV (Finke et al., 2004; Chehimi et al., 2002). Adicionalmente, foi relatada uma correlação inversa entre a CV e as porcentagens de pDC de adultos (Donaghy et al., 2001; Barron et al., 2003; Killian et al., 2006; Desai et al., 2007; Sabado et al., 2010), associada com a progressão da doença e surgimento de infecções oportunistas (Desai et al., 2007). Alguns estudos apontam para uma recuperação dos percentuais das subpopulações de DC de adultos sob TARVc após a supressão viral (Donaghy et al, 2001; Pacanowski et al, 2001; Barron et al., 2003; Finke et al., 2004; Desai et al. 2007). Contudo, o trabalho de Chehimi et al. (2002) mostra uma redução persistente dos percentuais de pDC em comparação aos controles saudáveis. Já Azzoni et al. (2005) e Zhang et al. (2006) comentam que, ao contrário dos adultos, crianças e adolescentes infectados sob TARV, têm uma tendência para recuperação total das percentagens de mDC e pDC, devido à maior plasticidade do sistema imune dessa faixa etária. Além disso, observamos uma correlação direta entre a porcentagem de pDC e o tempo de tratamento nos pacientes com CV indetectável, reforçando a importância da TARV na recuperação das subpopulações de DC em crianças e adolescentes. Os pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL apresentaram uma monocitose em relação aos controles saudáveis, o que demonstra a preservação da medula óssea desses pacientes em constante produção celular mesmo sob o estado da infecção crônica (Silva et al., 2001). Os monócitos de ambos os grupos de pacientes foram diferenciados in vitro em MDDC com sucesso, utilizando meio AIM-V suplementado com as citocinas recombinantes GM-CSF e IL-4. Assim, as MDDC foram submetidas ao processo de 52 maturação utilizando coquetel de citocinas pró-inflamatórias pulsadas com AT-2 HIV-1 ou microvesículas H9. Após a maturação, as MDDC dos três grupos apresentaram maior expressão de HLADR, CD40, CD80, CD83 e CD86, corroborando com os dados da literatura para MDDC de adultos infectados pelo HIV (Chougnet et al., 1999; Sapp et al., 1999; Newton et al., 2006; Buisson et al., 2009). A expressão destas moléculas no estado maduro é extremamente necessária para uma efetiva apresentação de antígenos e ativação das células T (Donaghy et al., 2001; Pacanowski et al., 2001). Não foi observada diferença na expressão destes marcadores entre as MDDC estimuladas com AT-2 HIV-1 ou com as microvesículas H9 e, suplantando estes resultados, já foi verificado que o HIV por si só não é capaz de induzir a maturação MDDC; ainda, a infecção pode comprometer este processo, reduzindo, por exemplo, a expressão de MHC-II (Granelli-Piperno et al., 2004; Buisson et al., 2009; Fairman et al., 2012). Nossos dados são similares aos obtidos por Newton et al. (2006), que não encontraram diferenças no fenótipo entre as MDDC de adultos infectados pelo HIV sob TARV com CV <1000 cópias de RNA/mL, sem TARV com CV >30900 cópias de RNA/mL e controles saudáveis. Estes resultados nos mostram que MDDC de indivíduos infectados por HIV com diferentes CV apresentam uma tendência à expressão normal das moléculas coestimulatórias após a maturação. As MDDC imaturas dos pacientes com CV indetectável apresentaram menor expressão de DC-SIGN em relação aos controles saudáveis, igualmente relatado por Carbonneil et al. (2003). DC-SIGN está envolvida na interação e captação de antígenos (Engering et al., 2002; Caparrós et al., 2006), desempenhando um papel regulador na maturação de MDDC, uma vez que as vias de processamento do HIV estimuladas por DC- 53 SIGN podem induzir a expressão de MHC de classe I e II (Moris et al., 2004; Moris et al., 2006). Esses resultados demonstram que apesar da menor expressão de DC-SIGN, o fenótipo de maturação das MDDC nos pacientes com CV indetectável foi semelhante aos controles saudáveis. Nesse sentido, foi analisada a capacidade das MDDC em apresentar o HIV para as células T autólogas. Embora nos pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL o fenótipo das MDDC maduras e o padrão de linfoproliferação para PHA terem sido normais, a linfoproliferação HIV específica nas coculturas foi reduzida em comparação com indivíduos com CV indetectável. Semelhante aos nossos resultados, as MDDC de pacientes com CV suprimida estimuladas com p24 de HIV apresentaram uma maior capacidade linfoproliferativa em relação aos indivíduos sem TARV (D’ettorre et al., 2004) ou com CD4 <200 células/µL e CV >1000 cópias de RNA/mL (Hsieh et al., 2003). As MDDC de pacientes com alta CV apresentaram menor capacidade de induzir a proliferação de células NK (Mavilio et al., 2006). Desse modo, é possível que a falha na estimulação seja dos linfócitos, como, por exemplo, na expressão da molécula coestimulatória CD28, que interage com CD83 e CD86 e leva à expansão clonal de células T e aumento na secreção de IL-2 (Bertram et al., 2004). Ou ainda, há uma maior expressão de B-Lymphocyte–induced maturation protein-1 (Blimp-1) em linfócitos T estimulados por MDDC pulsadas com HIV-1 (Shankar et al., 2011), a qual reprime diretamente a expressão de IL-2 e, consequentemente, há menor linfoproliferação em pacientes com viremia (Seddiki et al., 2013) e exaustão nas células T (Thaventhiran & Fearon, 2013). Ao analisar a produção de citocinas por MDDC, não foi observada produção de IFNα, provavelmente devido ao fato que MDDC geradas in vitro apresentam um fenótipo 54 mielóide (Ghanekar et al., 2007). Comparando os três grupos, não houve diferenças na produção de IL-12 e TGF-β1. Da mesma forma, Connolly et al. (2008) não observaram diferenças na secreção de IL-12 entre MDDC maduras de adultos infectados pelo HIV sob TARV e indivíduos saudáveis. IL-12 é um requisito para a eficácia da imunoterapia contra a infecção pelo HIV e atua como modulador na diferenciação de CD4 näives em células do tipo Th1, favorecendo respostas T citotóxicas antivirais e na secreção de IFN-γ (Banchareau et al., 1998). Quanto às citocinas produzidas pelas coculturas, as MDDC pulsadas com AT-2 HIV1 foram capazes de induzir a produção de citocinas do perfil Th1, como IL-2, TNF-α e IFN-γ, mas sem diferenças entre os grupos. Interessantemente, nos ensaios de RT-qPCR, houve uma maior expressão relativa de mRNA de IFN-γ em ambos os grupos de pacientes em relação aos controles. Resultados semelhantes já foram relatados em coculturas de MDDC de adultos eletroporadas com peptídeos de HIV (Van Gulck et al., 2006; Allard et al., 2008). Vários ensaios clínicos já demonstraram um fenótipo Th1 induzido pelas MDDC (Kundu et al., 1998; Lu et al., 2004; García et al., 2005), associado com o aumento de respostas T anti-HIV (García et al., 2012) e com o controle da infecção pelo HIV (Reuter et al., 2012). Em um dos primeiros ensaios publicados, Lu et al. (2004) mostraram que a vacina com MDDC pulsadas com AT-2 HIV-1 em adultos infectados sem TARV reduziu a CV em 90% após 1 ano da vacinação em 8 de 18 indivíduos vacinados e aumentou a porcentagem de células CD4 HIV específicas expressando IL-2 e IFN-γ. Em nossos resultados, nos pacientes com CV indetectável, a concentração de IL-2 correlacionou-se à produção de IFN-γ e à linfoproliferação em coculturas. Da mesma forma, células CD4 polifuncionais (IL-2+IFN-γ+) foram mais frequentes em crianças com CV mais baixas 55 (Correa et al., 2007). Jost et al. (2014) mostraram que a vacina terapêutica em indivíduos sob TARVc pode reconstituir a frequência de células CD4 IL-2+ HIV específicas, que, por sua vez, promovem o aumento do número de células NK IFN-γ+. Concomitantemente, a falta de secreção de IL-4, IL-5 e IL-10 observada em nossos resultados fortalece os dados da literatura, nos quais as MDDC evitam a diferenciação de células do tipo Th2 (García et al., 2012). Encontramos uma significativa concentração de IL-6 e IFN-α nas coculturas de MDDC nos pacientes com CV indetectável, possivelmente produzidas por células NK ou até mesmo pDC presentes no momento do congelamento das células CD14-, no caso de IFN-α (Siegal et al., 1999; Hosmalin & Lebon, 2006). Esses resultados nos revelam que o estímulo in vitro das MDDC com antígenos do HIV-1 promovem uma complexa resposta imune HIV específica. Nós observamos uma produção basal de TGF-β1 nas culturas de MDDC, correlacionada fortemente com a produção de IL-12 nos pacientes com CV indetectável e nos controles. Além disso, houve um aumento na secreção de TGF-β1 após a cocultura com linfócitos. As DC são capazes de produzir TGF-β1, levando à diferenciação das células Treg (Kushwah et al., 2011), que também secretam TGF-β1 (Sojka et al., 2008). Pacientes vacinados com MDDC sob TARVc apresentam uma maior frequência de células Treg (Connolly et al., 2008; Rinaldo et al., 2009), e quando há a depleção dessas células de CMSP em cultura, há um aumento de respostas de células CD8 polifuncionais Gag específicas (Macatangay et al., 2010). Estes dados sugerem que as células Treg podem impedir uma resposta de células T anti-HIV mais robusta (Macatangay & Rinaldo, 2010). Ao mesmo tempo, a presença de Treg pode controlar uma ativação imune exacerbada e evitar a progressão mais rápida da doença (Card et al., 2010). Em nossos experimentos, 56 houve o desenvolvimento de respostas HIV específicas, mesmo com a presença de TGF-β1 nas coculturas. As características imunológicas aqui apresentadas foram associadas com resultados positivos publicados até hoje nos ensaios clínicos envolvendo a imunoterapia com MDDC em adultos infectados pelo HIV (Kundu et al., 1998; Lu et al., 2004; García et al., 2005; Ide et al., 2006; Van Gulck et al., 2006; Connolly et al., 2008; Allard et al., 2008; García et al., 2013). Nós somos os primeiros a demonstrar que MDDC obtidas a partir de monócitos de crianças e adolescentes verticalmente infectados pelo HIV apresentam um fenótipo e função preservados. Quando cultivadas com linfócitos autólogos, as MDDC induziram respostas antivirais, inclusive produção de citocinas do padrão Th1 e significativa expressão gênica de IFN-γ em relação aos controles saudáveis. Contudo, observou-se um prejuízo na linfoproliferação HIV específica nos pacientes com CV ≥1000 cópias de RNA/mL. Nossos resultados representam um passo inicial para o desenvolvimento de vacinas terapêuticas utilizando MDDC como alternativa para crianças e adolescentes que apresentam a infecção pelo HIV desde o período perinatal e têm a perspectiva de uso contínuo de TARVc ao longo de toda a sua vida. 57 58 6. CONCLUSÃO Após análise dos resultados deste trabalho, pôde-se concluir que: 1. Crianças e adolescentes verticalmente infectados pelo HIV-1 sob TARVc apresentaram maior percentual de linfócitos T CD8 e menor razão CD4/CD8 em relação aos controles saudáveis. 2. Em geral, crianças e adolescentes verticalmente infectados pelo HIV-1 sob TARVc apresentaram percentuais de DC periféricas semelhantes aos controles saudáveis. 3. As MDDC geradas in vitro de crianças e adolescentes infectados pelo HIV-1 apresentaram um fenótipo normal após o estímulo de maturação, expressando CD40, CD80, CD83, CD86 e HLA-DR semelhantemente aos controles saudáveis. 4. As MDDC de crianças verticalmente infectadas pelo HIV-1 foram capazes de induzir respostas imunes celulares HIV específicas, como a produção de citocinas do padrão Th1. 5. Houve um prejuízo na linfoproliferação nas coculturas de MDDC pulsadas com AT2 HIV-1 com linfócitos autólogos de crianças com CV >1000 cópias RNA/mL. 6. Crianças e adolescentes verticalmente infectados pelo HIV em fase crônica sob TARVc a longo prazo se mostraram bons candidatos para a imunoterapia utilizando as MDDC, sendo que aqueles com CV indetectável apresentaram resultados mais promissores. 59 60 7. REFERÊNCIAS Alfano M, Poli G. Role of cytokines and chemokines in the regulation of innate immunity and HIV infection. Mol Immunol 2005; 42:161-182. Allard SD, De Keersmaecker B, Goede AL, et al. A phase I/IIa immunotherapy trial of HIV-1-infected patients with Tat, Rev and Nef expressing dendritic cells followed by treatment interruption. Clinical Immunology 2012; 142:252–268. 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ANEXOS E APÊNDICES 73 74 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (para crianças infectadas por HIV) Declaro, por livre e espontânea vontade, que permito a participação de ___________________________________________, com registro hospitalar de no _______________________________ que se encontra sob responsabilidade de ______________________________________________, com idade de ______ anos, com o RG de no ___________________, residente na Rua _________________________________________________________________________, cujo grau de parentesco é _______________, na pesquisa intitulada “Infecção crônica pelo HIV em crianças e adolescentes: resposta inata e adaptativa a partículas inativadas de HIV”, promovida pelo Centro de Investigação em Pediatria, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, sob coordenação da Profª Dra Maria Marluce dos Santos Vilela. Esta pesquisa tem o objetivo de investigar como o organismo das crianças e dos adolescentes infectados pelo vírus da AIDS realiza as defesas contra esse vírus. Como o organismo da criança e do adolescente está em processo de desenvolvimento, é importante avaliar qualquer fraqueza nessa resposta de defesa que possa piorar a evolução da AIDS. Atesto que recebi esclarecimentos quanto aos propósitos e procedimentos que serão realizados, tais como: a) entrevista para complementar a situação clínica atual do paciente; b) coleta de sangue de veia com seringa descartável pela enfermeira para realizar exames que medem a capacidade de defesa contra o vírus da AIDS. Quanto aos riscos da coleta de sangue, recebi a informação de que ela causa dor pela picada da agulha e ansiedade. A coleta será realizada por profissional preparado e com agulha e seringa descartáveis somente em pacientes que não têm problemas de sangramentos. Dessa maneira, a coleta de sangue não traz riscos para o paciente. Compreendo que minha participação é voluntária e que posso sair a qualquer momento do estudo, sem prejudicar ou influenciar os resultados. Autorizo a liberação dos dados obtidos aos pesquisadores, aos membros da comissão de ética e à comissão científica da FAPESP, assim como a publicação em revistas científicas especializadas e apresentação em congressos e jornadas científicas. Não existem danos imediatos ou futuros previsíveis decorrentes da pesquisa, e, portanto a mesma não inclui a possibilidade de indenização. Estou ciente de que não receberei remuneração em troca da minha participação na pesquisa e que todas as informações não serão identificadas por nome, para garantir o absoluto sigilo. O pesquisador me garantiu que receberei esclarecimento a qualquer dúvida em relação aos assuntos relacionados à pesquisa, seja antes, durante ou após a realização da pesquisa. Fui informado de que receberei uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. De acordo, Responsável pelo Participante: ________________________________________________ Profª Drª Maria Marluce dos Santos Vilela (telefone 19 3521-8963):___________________ Campinas,____ de ______________ de _______. Secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Caixa Postal 6111, CEP 13083-887, Campinas, SP. Telefone: 19-3521-8936 Fax: 19-3521-7187 E-mail: [email protected] 75 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (para adolescentes infectados por HIV) Declaro, por livre e espontânea vontade, que eu, ______________________ _____________________________, com registro hospitalar de no _____________, sob responsabilidade de ______________________________________________, com idade de ______ anos, com o RG de no ___________________, residente na Rua _________________________________________________________________________, cujo grau de parentesco comigo é _______________, desejo participar da pesquisa intitulada ““Infecção crônica pelo HIV em crianças e adolescentes: resposta inata e adaptativa a partículas inativadas de HIV”, promovida pelo Centro de Investigação em Pediatria, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, sob coordenação da Profª Dra Maria Marluce dos Santos Vilela. Esta pesquisa tem o objetivo de investigar como o organismo das crianças e dos adolescentes infectados pelo vírus da AIDS realiza as defesas contra esse vírus. Como o organismo da criança e do adolescente está em processo de desenvolvimento, é importante avaliar qualquer fraqueza nessa resposta de defesa que possa piorar a evolução da AIDS. Atesto que recebi esclarecimentos quanto aos propósitos e procedimentos que serão realizados, tais como: a) entrevista para complementar a situação clínica atual do paciente; b) coleta de sangue de veia com seringa descartável pela enfermeira para realizar exames que medem a capacidade de defesa contra o vírus da AIDS. Quanto aos riscos da coleta de sangue, recebi a informação de que ela causa dor pela picada da agulha e ansiedade. A coleta será realizada por profissional preparado e com agulha e seringa descartáveis somente em pacientes que não têm problemas de sangramentos. Dessa maneira, a coleta de sangue não traz riscos para o paciente. Compreendo que minha participação é voluntária e que posso sair a qualquer momento do estudo, sem prejudicar ou influenciar os resultados. Autorizo a liberação dos dados obtidos aos pesquisadores, aos membros da comissão de ética e à comissão científica da FAPESP, assim como a publicação em revistas científicas especializadas e apresentação em congressos e jornadas científicas. Não existem danos imediatos ou futuros previsíveis decorrentes da pesquisa, e, portanto a mesma não inclui a possibilidade de indenização. Estou ciente de que não receberei remuneração em troca da minha participação na pesquisa e que todas as informações não serão identificadas por nome, para garantir o absoluto sigilo. O pesquisador me garantiu que receberei esclarecimento a qualquer dúvida em relação aos assuntos relacionados à pesquisa, seja antes, durante ou após a realização da pesquisa. Fui informado de que receberei uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. De acordo, Responsável pelo Participante: ________________________________________________ Participante: _______________________________________________________________ Profª Drª Maria Marluce dos Santos. Vilela (telefone 19 3521-8963):_________________ Campinas,____ de ______________ de _______. Secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Caixa Postal 6111, CEP 13083-887, Campinas, SP. Telefone: 19-3521-8936 Fax: 19-3521-7187 E-mail: [email protected] 76 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (para crianças saudáveis) Declaro, por livre e espontânea vontade, que permito a participação de ___________________________________________, com registro hospitalar de no _______________________________ que se encontra sob responsabilidade de ______________________________________________, com idade de ______ anos, com o RG de no ___________________, residente na Rua _________________________________________________________________________, cujo grau de parentesco é _______________, na pesquisa intitulada “Infecção crônica pelo HIV em crianças e adolescentes: resposta inata e adaptativa a partículas inativadas de HIV”, promovida pelo Centro de Investigação em Pediatria, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, sob coordenação da Profª Dra Maria Marluce dos Santos Vilela. Esta pesquisa tem o objetivo de investigar como o organismo das crianças e dos adolescentes infectados pelo vírus da AIDS realiza as defesas contra esse vírus. Como o organismo da criança e do adolescente está em processo de desenvolvimento, é importante avaliar qualquer fraqueza nessa resposta de defesa que possa piorar a evolução da AIDS. Para isso, precisamos comparar sua defesa a de crianças saudáveis. Atesto que recebi esclarecimentos quanto aos propósitos e procedimentos que serão realizados, tais como: a) entrevista para complementar a situação clínica atual do paciente; b) coleta de sangue de veia com seringa descartável pela enfermeira para realizar exames que medem a capacidade de defesa contra o vírus da AIDS. Quanto aos riscos da coleta de sangue, recebi a informação de que ela causa dor pela picada da agulha e ansiedade. A coleta será realizada por profissional preparado e com agulha e seringa descartáveis somente em pacientes que não têm problemas de sangramentos. Dessa maneira, a coleta de sangue não traz riscos para o paciente. Compreendo que minha participação é voluntária e que posso sair a qualquer momento do estudo, sem prejudicar ou influenciar os resultados. Autorizo a liberação dos dados obtidos aos pesquisadores, aos membros da comissão de ética e à comissão científica da FAPESP, assim como a publicação em revistas científicas especializadas e apresentação em congressos e jornadas científicas. Não existem danos imediatos ou futuros previsíveis decorrentes da pesquisa, e, portanto a mesma não inclui a possibilidade de indenização. Estou ciente de que não receberei remuneração em troca da minha participação na pesquisa e que todas as informações não serão identificadas por nome, para garantir o absoluto sigilo. O pesquisador me garantiu que receberei esclarecimento a qualquer dúvida em relação aos assuntos relacionados à pesquisa, seja antes, durante ou após a realização da pesquisa. Fui informado de que receberei uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. De acordo, Responsável pelo Participante: ________________________________________________ Profª Drª Maria Marluce dos Santos Vilela (telefone 19 3521-8963):___________________ Campinas,____ de ______________ de _______. Secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Caixa Postal 6111, CEP 13083-887, Campinas, SP. Telefone: 19-3521-8936 Fax: 19-3521-7187 E-mail: [email protected] 77 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (para adolescentes saudáveis) Declaro, por livre e espontânea vontade, que eu, ______________________ _____________________________, com registro hospitalar de no _____________, sob responsabilidade de ______________________________________________, com idade de ______ anos, com o RG de no ___________________, residente na Rua _________________________________________________________________________, cujo grau de parentesco comigo é _______________, desejo participar da pesquisa intitulada ““Infecção crônica pelo HIV em crianças e adolescentes: resposta inata e adaptativa a partículas inativadas de HIV”, promovida pelo Centro de Investigação em Pediatria, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, sob coordenação da Profª Dra Maria Marluce dos Santos Vilela. Esta pesquisa tem o objetivo de investigar como o organismo das crianças e dos adolescentes infectados pelo vírus da AIDS realiza as defesas contra esse vírus. Como o organismo da criança e do adolescente está em processo de desenvolvimento, é importante avaliar qualquer fraqueza nessa resposta de defesa que possa piorar a evolução da AIDS. Para isso, precisamos comparar sua defesa a de adolescentes saudáveis. Atesto que recebi esclarecimentos quanto aos propósitos e procedimentos que serão realizados, tais como: a) entrevista para complementar a situação clínica atual do paciente; b) coleta de sangue de veia com seringa descartável pela enfermeira para realizar exames que medem a capacidade de defesa contra o vírus da AIDS. Quanto aos riscos da coleta de sangue, recebi a informação de que ela causa dor pela picada da agulha e ansiedade. A coleta será realizada por profissional preparado e com agulha e seringa descartáveis somente em pacientes que não têm problemas de sangramentos. Dessa maneira, a coleta de sangue não traz riscos para o paciente. Compreendo que minha participação é voluntária e que posso sair a qualquer momento do estudo, sem prejudicar ou influenciar os resultados. Autorizo a liberação dos dados obtidos aos pesquisadores, aos membros da comissão de ética e à comissão científica da FAPESP, assim como a publicação em revistas científicas especializadas e apresentação em congressos e jornadas científicas. Não existem danos imediatos ou futuros previsíveis decorrentes da pesquisa, e, portanto a mesma não inclui a possibilidade de indenização. Estou ciente de que não receberei remuneração em troca da minha participação na pesquisa e que todas as informações não serão identificadas por nome, para garantir o absoluto sigilo. O pesquisador me garantiu que receberei esclarecimento a qualquer dúvida em relação aos assuntos relacionados à pesquisa, seja antes, durante ou após a realização da pesquisa. Fui informado de que receberei uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. De acordo, Responsável pelo Participante: ________________________________________________ Participante: _______________________________________________________________ Profª Drª Maria Marluce dos Santos. Vilela (telefone 19 3521-8963):_________________ Campinas,____ de ______________ de _______. Secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Caixa Postal 6111, CEP 13083-887, Campinas, SP. Telefone: 19-3521-8936, Fax: 19-3521-7187 E-mail: [email protected] 78 Atividades profissionais e acadêmicas durante o período do mestrado Atividades de Ensino - Monitoria na 11ª edição do projeto Ciência e Artes nas Férias (9 de janeiro a 6 de fevereiro de 2013), que envolveu o estágio de alunos do Ensino Médio no Laboratório de Imunologia do Centro de Investigação em Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, em Campinas, SP. - Monitoria na 12ª edição do projeto Ciência e Artes nas Férias (8 a 31 de janeiro de 2014), que envolveu o estágio de alunos do Ensino Médio no Laboratório de Imunologia do Centro de Investigação em Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, em Campinas, SP. Participação em eventos científicos e cursos - 2013, VIII Curso Avançado da Patogênese do HIV, 11 a 17 de abril, Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), São Paulo, SP. - 2014, IX Curso Avançado da Patogênese do HIV, 19 a 26 de março, Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), São Paulo, SP. - 2014, 16th International Congress on Infectious Diseases, de 2 a 5 de abril, na Cidade do Cabo, África do Sul. - 2014, VII Semana de Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas, de 19 a 22 de maio, em Campinas, SP. 79 Apresentação de trabalhos em congressos - Taís N. Mazzola, Jéssica S. Bernachi, Emanuel B.V. Anjos, Ana L.F. Longhini, Renata Lemos, Sara T.O. Saad, Sandra C.B. Costa, Marcos T.N. Da Silva, Maria M.S. Vilela. Viral load impact in HIV cellular immune response from children and adolescents. Pôster apresentado no 15º Internacional Congress of Immunology, de 22 a 27 de agosto de 2013, em Milão, Itália. - Jéssica S. Bernachi, Taís N. Mazzola, Ana Leda F. Longhini, Emanuel B.V. Anjos, Luiz G.R. Fernandes, Telma M. Oshiro, Renata M.B.P. Lemos, Marcos T.N. Da Silva, Maria M.S. Vilela. Viral Load and Dendritic Cells from vertically HIV-Infected Children and Adolescents. Pôster apresentado no 16th International Congress on Infectious Diseases, de 2 a 5 de abril de 2014, na Cidade do Cabo, África do Sul. - Jéssica S. Bernachi, Taís N. Mazzola, Ana Leda F. Longhini, Emanuel B.V. Anjos, Luiz G.R. Fernandes, Telma M. Oshiro, Renata M.B.P. Lemos, Marcos T.N. Da Silva, Maria M.S. Vilela. Influência da carga viral nas células dendríticas de crianças e adolescentes verticalmente infectados pelo HIV. Pôster presentado na VII Semana de Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, de 19 a 22 de maio de 2014, em Campinas, SP. (Menção honrosa). - Caroline N. Araújo; Taís N. Mazzola; Jéssica S. Bernachi; Renata M.B.P. Lemos; Emanuel, B. V. dos Anjos; Marcos T.N. Da Silva, Maria M.S. Vilela. Cinética de produção de citocinas frente ao HIV em cultura de células de pacientes pediátricos com infecção vertical por HIV. Pôster presentado na VII Semana de Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, de 19 a 22 de maio de 2014, em Campinas, SP. 80