UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA JULIANA SARTORI AS RELAÇÕES ENTRE ESTADOS UNIDOS E CUBA NO GOVERNO OBAMA: FATORES SIGNIFICATIVOS PARA A REAPROXIMAÇÃO ENTRE OS DOIS PAÍSES Florianópolis 2016 JULIANA SARTORI AS RELAÇÕES ENTRE ESTADOS UNIDOS E CUBA NO GOVERNO OBAMA: FATORES SIGNIFICATIVOS PARA A REAPROXIMAÇÃO ENTRE OS DOIS PAÍSES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito obrigatório para a obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Prof.º Paulo Roberto Ferreira, Me. Florianópolis 2016 AGRADECIMENTOS Gostaria primeiramente de agradecer a Deus, por ter me dado força e coragem para seguir em frente nos momentos difíceis, e tê-lo como luz e guia para cada etapa de minha vida. Agradeço a minha família pela compreensão nos momentos de ausência, tristeza, raiva e ansiedade. Um agradecimento especial a minha mãe que sempre foi um exemplo de paciência e perseverança, e mesmo diante dos momentos difíceis, ela estava sempre de braços abertos para me acolher e torcendo muito por mim nesta fase. Aos colegas de aula que compartilharam da mesma angustia, do mesmo medo, da mesma aflição, e saber que apesar de tudo estávamos caminhando juntos, rumo a mesma direção. Um agradecimento mais que especial ao meu namorado, Alexandre Blum, que foi meu ponto de apoio neste ano. Diante de toda a turbulência da minha vida ele estava com seu coração cheio de esperança, apostando em mim e me motivando até o final. Foi um exemplo de companheirismo, de amor, de carinho e de gratidão. Só tenho a agradecer por ter você por perto e por ser essa pessoa iluminada e amorosa. RESUMO O presente trabalho tem por objetivo explicar quais foram as principais razões e motivações pela qual levou o presidente Barack Obama a iniciar o processo de normalização e de reaproximação com Cuba. Primeiramente se fez necessário entender o processo histórico pelo qual passaram os dois países, o que é de suma importância para a compreensão tanto do período de Guerra Fria, quanto para o cenário atual. Dessa forma, foi exposto o processo revolucionário que teve como líder principal Fidel Castro, e como esse fato desencadeou uma série de agressões ao governo cubano por parte dos norte-americanos, desestabilizando assim a ilha. Castro então orientou sua política e sua economia para a União Soviética, pois era a única solução viável no momento. Entretanto, o fim da Guerra Fria e o desmantelamento da União Soviética, juntamente com o processo de globalização, fez com que Cuba sofresse mais uma vez os impactos de tais acontecimentos. Reorientou sua economia então para o turismo, abrindo as portas para os estrangeiros a fim de visitarem as belezas naturais da ilha. A virada do século XXI teve como marco dois líderes, George W. Bush, com seu perfil militarista e de promoção de guerra, o qual enrijeceu ainda mais as relações com Cuba. E posteriormente seu sucessor, Barack Obama, com um perfil diplomático e conciliador que atuou em diversas frentes com o objetivo de promover o reestabelecimento das relações diplomáticas e comerciais com a ilha, chegando a visitar o Estado cubano em Março de 2016. E isto foi muito significativo para as duas populações, uma vez que desde 1928 um presidente estadunidense não pisara na ilha caribenha. Obama traçou um caminho de abertura e esperança para seu sucessor, para continuar seu legado e seu compromisso com o povo cubano. Palavras-chave: Reaproximação. Conciliação. Diplomacia. ABSTRACT The present study aims to explain the main reasons and motivations that led President Barack Obama to initiate the process of normalization and reconciliation with Cuba. In order to understand the Cold War period as well as the present-day scenario, it was important to be familiar with the historical process from where both countries came through. The revolutionary process was exposed and it had Fidel Castro as the main leader. This fact triggered Americans to start a series of aggressions to the Cuban government, destabilizing the island. Castro then guided his politics and economy to the Soviet Union because it seemed the most viable solution at the time. In the meantime, the end of the Cold war and the dissolution of the Soviet Union along with the process of globalization, made Cuba suffer again the impacts of these events. So Cuba re-oriented his economy to tourism, opening the doors for foreigners to visit the natural beauty of the island. The turning of the twenty-first century was marked by two leaders. George W. Bush, with his militaristic and war-promoting profile which tightened relations with Cuba, and subsequently his successor, Barack Obama, with a diplomatic and conciliatory profile that acted in several fronts in order to promote the reestablishment of the diplomatic and commercial relations with the island. He also visited the Cuban State in March of 2016. This behavior was very important for the Cubans and Americans. The last American President that visited the Island was in 1928. Barack Obama has drawn a path of openness and hope for his successor to continue his legacy and his commitment to the Cuban people. Key words: Rapprochement. Conciliation. Diplomacy SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 7 2 DA INDEPENDÊNCIA À REVOLUÇÃO CUBANA E AS IMPLICAÇÕES COM OS ESTADOS UNIDOS......................................................................................................... 12 2.1 ANTECEDENTES À REVOLUÇÃO CUBANA ........................................................... 12 2.2 A REVOLUÇÃO CUBANA ........................................................................................... 18 2.2.1 Da Independência a Ascenção de Batista .................................................................. 19 2.2.2 A Revolução, a queda de Batista e a ascensão Castrista ......................................... 23 2.3 A RESPOSTA NORTE AMERICANA .......................................................................... 29 2.4 AS ORIGENS DA GUERRA FRIA E A APROXIMAÇÃO DE CUBA E UNIÃO SOVIÉTICA ............................................................................................................................. 35 3 AS RELAÇÕES ENTRE ESTADOS UNIDOS E CUBA NO PÓS-GUERRA FRIA 41 3.1 O DESMANTELAMENTO DA UNIÃO SOVIÉTICA E AS CONSEQUÊNCIAS PARA O GOVERNO CUBANO ............................................................................................. 41 3.2 A GLOBALIZAÇÃO E O FIM DO SOCIALISMO ....................................................... 47 3.3 AS RELAÇÕES ENTRE ESTADOS UNIDOS E CUBA NO SÉCULO XXI ............... 52 4 A REAPROXIMAÇÃO CONTEMPORÂNEA ENTRE ESTADOS UNIDOS E CUBA ....................................................................................................................................... 56 4.1 A ASCENSÃO DE BARACK OBAMA NO GOVERNO NORTE-AMERICANO E SUA POLÍTICA EXTERNA ................................................................................................... 56 4.2 AS MOTIVAÇÕES PARA A REAPROXIMAÇÃO ENTRE EUA E CUBA ............... 60 4.3 AS PERSPECTIVAS ENTRE CUBA E ESTADOS UNIDOS SOB O GOVERNO OBAMA ................................................................................................................................... 66 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 71 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 74 7 1 INTRODUÇÃO Neste tópico introdutório do trabalho de conclusão de curso é apresentada a problemática que guiou a pesquisa de monografia. Em seguida, foi disposto o objetivo geral, os objetivos específicos, bem como, nesta ordem, a justificativa, a metodologia e a estrutura da pesquisa. Há 88 anos um presidente americano não pisara em solo cubano e há pouco mais de meio século as relações diplomáticas, comerciais e políticas estavam totalmente rompidas. Este distanciamento entre os países foi desencadeado logo após a Revolução Cubana, com a tomada do poder por Fidel Castro. Em 1898 Cuba se torna independente da Espanha com a forte ajuda e intervenção dos Estados Unidos, que sempre teve grandes interesses no país. Para frustração de muitos patriotas cubanos a ilha se tornou independente da Espanha para se converter em um protetorado norte-americano, que ocuparam militarmente o território de 1899 a 1902. (BEZERRA, 2012). Em junho de 1901 foi anexada a Constituição Cubana a Emenda Platt (“Platt Amendment”), que decretava o direito dos EUA de intervirem nos assuntos de Cuba sempre que seus interesses estivessem sob ameaça. (GOTT, 2006). A presença norte-americana em Cuba era decorrente da importância estratégia da ilha para os EUA, visto que estava localizada na região do Caribe e da América Central, especialmente depois que foi inaugurado o Canal do Panamá em 1914, aquela região ficava cada vez mais interessante para os americanos. (BANDEIRA, 2009). Sob o comando do ditador Fulgêncio Batista, que tomou o poder em 1934 e governou até 1959, sua administração trouxe descontentamento popular, pois os cubanos enfrentavam fome, desemprego e analfabetismo (BEZERRA, 2012). Em meio a este cenário de ditatura e miséria, um grupo de guerrilheiros liderados por Che Guevara, Fidel Castro e Raúl Castro, e tendo forte simpatia pelos cidadãos cubanos, depuseram o presidente do poder em 1959, através de um processo revolucionário, marcando assim a Revolução Cubana. (BEZERRA, 2012). Os Estados Unidos tinham muita influência na economia Cubana, pois controlavam os serviços públicos como gás e eletricidade, e as três refinarias de petróleo da ilha, sendo responsáveis por um terço da produção de açúcar e contabilizavam a mesma quantia referente a empréstimos e depósitos bancários. (BEZERRA, 2012). 8 Após a ascensão de Fidel Castro ao poder, foram tomadas uma séria de medidas radicais e reformas sociais, incluindo a reforma agrária que ocorreu em maio de 1959, a qual levou à expropriação de empresas e propriedades estrangeiras, incluindo empresas norteamericanas. Foram nacionalizadas as refinarias privadas de petróleo pertencentes aos Estados Unidos, seguidos da suspensão da cota de açúcar pelos EUA e por seguinte a nacionalização de propriedades rurais estadunidenses no país. (GOTT, 2006) Essas medidas, assim como a forte influência comunista no novo governo cubano, foram aumentando os atritos com Washington que decorreu no embargo econômico norteamericano a Cuba em novembro de 1960. E posteriormente em janeiro de 1961 as relações diplomáticas e consulares também foram rompidas. (BANDEIRA, 2009) Devido ao embargo e diversos outros fatores levaram a Cuba a se alinhar com o governo soviético, em plena Guerra Fria, isto soou como um duro golpe a diplomacia americana, pois desde o fim da Segunda Guerra Mundial tinha por objetivo a contenção do comunismo no mundo. (BEZERRA, 2012) Diante deste contexto histórico, a aproximação de Cuba com a União Soviética em um ambiente de Guerra Fria era uma ameaça real aos norte-americanos, ou seja, a ilha estava a somente a 150 km de distância dos Estados Unidos e se unira com uma potência totalmente contrária a ideologia estadunidense. Isto soava muito contraditório uma vez que os EUA estiveram sempre muito presente e interveniente nos assuntos Cubanos, esta crise se agravou com a crise dos mísseis de 1962. A visita do presidente Barack Obama a Cuba, que ocorreu no dia 22 de março de 2016, teve uma repercussão global, pois desde 1928 um presidente americano não havia mais visitado Cuba, e Obama, com seu perfil progressista, aos poucos está tentando a retomada das relações diplomáticas entre os países. Um fator muito favorável a Cuba e que foi providencial para esta reaproximação foi a passagem do governo de Fidel Castro a seu irmão Raúl Castro, que ocorreu em 2008. Mesmo sendo da mesma família, Raúl possivelmente diverge de algumas opiniões Castristas, deste modo recepcionando Barack Obama e possibilitando o reatamento do relacionamento entre as nações. Desta forma, avaliando o cenário e situação política atual em que se encontram Estados Unidos e Cuba, este trabalho pretende responder a seguinte questão de pesquisa: Quais são os fatores mais significativos para a reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba? 9 Esta pesquisa tem como objetivo geral identificar os fatores mais significativos para a reaproximação contemporânea entre Estados Unidos e Cuba. Os objetivos específicos que guiaram o desenvolvimento deste trabalho foram: estudar a Revolução Cubana e suas implicações nas relações entre Estados Unidos e Cuba à época. Entender o impacto do fim da Guerra Fria e do recente processo de globalização nas relações entre Estados Unidos e Cuba, e por fim, analisar os principais interesses e motivações nas aproximações oficiais do governo de Barack Obama com Cuba. O debate diante do tema exposto, a reaproximação dos Estados Unidos e de Cuba, é relativamente recente, apesar de os dois países possuírem muita história entre si. O embargo econômico implementado pelos Estados Unidos a Cuba distanciou efetivamente as duas nações, deixando um clima tenso que acabou obstruindo as relações entre eles. Mais de meio século se passou e estamos vivendo a recente aproximação política, diplomática e econômica entre países com cultura, ideologia e economia diferentes e que em muitos aspectos são conflitantes. O estudo acerca deste tema é de fundamental importância para a academia e para a área das Relações Internacionais, pois através da diplomacia e de uma política externa do governo de Barack Obama está sendo cada vez mais efetiva a retomada das relações com Cuba, algo que antes era visto como pouco provável de acontecer nos governos anteriores. Em se tratando da sociedade este estudo será de grande importância, pois existem muitos Cubanos vivendo nos Estados Unidos, sem poder ver suas famílias, pois o acesso a ilha é bloqueado pelos americanos e também para os cidadãos norte-americanos será uma porta de entrada para quem quer conhecer a cultura cubana e fazer turismo na ilha. Outro ponto importante para a reaproximação é a relação comercial que os países, principalmente capitalistas e apoiadores do governo americano, poderão estabelecer com Cuba ampliando assim seu comércio internacional. Para as ambições pessoais da autora deste projeto, estudar este tema é de grande relevância, pois sempre se identificou com os Estados Unidos, com sua cultura e modo de vida. Aprofundar-se neste tema que envolve a história, a diplomacia e a política externa irá agregar muito o seu conhecimento na área das relações internacionais. Cuba também é um país de grande interesse de estudo, principalmente por querer descobrir com detalhes quais as limitações que a ilha tinha com relação aos Estados Unidos, ou seja, o que efetivamente é o embargo que o governo americano impôs a Cuba. 10 No decorrer deste trabalho foram utilizados alguns procedimentos metodológicos a fim de responder a pergunta de pesquisa e também para obter um maior aprofundamento do assunto abordado. De acordo com Minayo (et al, 2001, p. 17): Entendemos por pesquisa a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Com relação a sua natureza, esta pesquisa é caracterizada como básica, ou seja, busca gerar um novo conhecimento que poderá ser utilizado para os avanços científicos, sem aplicação prática previsível. (GERHARDT E SILVEIRA, 2009). Quanto à abordagem a pesquisa é de caráter qualitativa, segundo Gerhardt e Silveira, (2009, p. 32): “A pesquisa qualitativa preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais.” Referente aos objetivos é classificada como exploratória, que proporcionará maior familiaridade com o problema, visando deixa-lo mais explícito. (GIL, 2002). Em se tratando do procedimento é considerado bibliográfico e documental, sendo respectivamente, baseado em materiais já existentes e elaborados, que compõe basicamente livros e artigos científicos. Já a documental as fontes de pesquisa são mais diversificadas e dispersas e são baseadas em materiais que não receberam nenhum tipo de análise, ou então materiais que podem se adaptar com o objetivo da pesquisa, sendo eles cartas pessoais diários, fotografias, relatórios de empresas, entre outros. (GIL, 2002) Por fim a técnica de coleta de dados se deu através de análise documental, que segundo Marconi e Lakatos (2003, p.174) “a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois.” O primeiro objetivo deste trabalho de estudar a Revolução Cubana e suas implicações nas relações entre Estados Unidos e Cuba à época, foi atingido através da leitura de livros de história relacionados ao tema, em que há muita riqueza de conteúdo histórico para atingir tal objetivo. O objetivo de entender o impacto do fim da Guerra Fria e do recente processo de globalização nas relações entre EUA e Cuba foi concretizado através do entendimento dos 11 principais processos que marcaram as Relações Internacionais depois desse período, tais como o aumento da interdependência econômica, a própria globalização econômica e da informação. Considerando que a nova configuração do cenário internacional mudou, perdeuse o sentido político e econômico em manter o embargo com Cuba. Desta maneira, entende-se que há muito mais vantagens na reaproximação do que na permanência do afastamento. O último objetivo, de analisar os principais interesses e motivações nas aproximações oficiais do governo de Barack Obama, foi cumprido através da análise da política externa do presidente norte-americano, bem como sua diplomacia, para a questão da reaproximação das nações. Seu discurso do dia 22 de março, o qual fez direto de Cuba em sua visita histórica, será levado também em consideração no decorrer desta abordagem, além de outros discursos e fontes oficiais do governo americano e cubano, entrevistas, artigos, periódicos e revistas, por exemplo, The New York Times, Foreign Affairs e El País. Analisar também as motivações de Cuba de estarem receptivos a este tipo de abertura será objeto de discussão deste capítulo. Esta pesquisa foi estruturada da seguinte forma, no primeiro capítulo foi estudado o processo histórico de Cuba, desde sua independência até a Revolução Cubana e os impactos destes acontecimentos com os Estados Unidos, cujo papel intervencionista esteve bem acentuado na história cubana. Além de estudar também os impactos da Guerra Fria na relação entre as duas nações. O segundo capítulo abordou relações entre Cuba e Estados Unidos no pós-Guerra Fria. Cuba se alinhou com a União Soviética a fim de reestabelecer um parceiro comercial, entretanto com o desmantelamento do país soviético teve muitas dificuldades em abastecer seu povo, o que por consequência resultou no racionamento de energia e comida. Abriu então suas portas para o turismo como forma alternativa para a obtenção de capital estrangeiro e também para erguer sua economia. Por fim, o último capítulo tratou da atual reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba sob as perspectivas do governo Obama. Foram explorados os fatores mais significativos para a retomada das relações, e quais as expectativas sobre o tema para o próximo presidente que assumirá a Casa Branca em 2017. 12 2 DA INDEPENDÊNCIA À REVOLUÇÃO CUBANA E AS IMPLICAÇÕES COM OS ESTADOS UNIDOS Este capítulo aborda a história de Cuba durante o seu processo de independência da Espanha, assim como os líderes revolucionários que lutaram e traçaram a guerra independentista na ilha. A intervenção dos Estados Unidos e seus interesses sobre Cuba referente à época estudada faz com que ele represente um papel decisivo na vitória da ilha sobre os espanhóis na guerra da independência. Os cubanos em troca tiveram que se sujeitar as medidas intervencionistas dos norte-americanos que implementaram a Emenda Platt, deixando Cuba livre dos espanhóis, porém ainda mais dependentes nas questões militares, políticas e econômicas dos americanos. 2.1 ANTECEDENTES À REVOLUÇÃO CUBANA O Estado cubano, sempre fora objeto de grande disputa de poder, ora pela Espanha, que fora por muitos anos sua metrópole, ora pelos Estados Unidos que tinham o desejo imenso de controlar tanto a política quanto a economia na ilha, uma vez que queriam dominar toda a região do Caribe. O processo de independência cubana foi o mais tardio entre as colônias espanholas, sendo a última colônia na América Latina a se emancipar. (AYERBE, 2004). Já os Estados Unidos da América tiveram sua independência declarada em 4 de Julho de 1776, com a formação de treze colônias que vieram a constituir o país legitimando sua independência e rompendo com o Pacto Colonial. (AYERBE, 2004). Os norte-americanos afirmavam na época que deveria haver igualdade entre os homens e pregavam os direitos inalienáveis, que seriam o direito à vida, à liberdade e à felicidade. (AYERBE, 2004). Segundo Ayerbe (2004, p.6), os americanos: Afirmavam que o poder dos governantes, aos quais cabia defesa daqueles direitos, derivava dos governados. Portanto, cabia a estes derrubar o governante quando ele deixasse de cumprir sua função de defensor dos direitos e resvalasse para o despotismo. Após a declaração de nação independente, os Estados Unidos foram afetados pelo imperialismo e as guerras emergentes na Europa, principalmente no período em que Napoleão 13 Bonaparte almejava expandir seu território e constituir um verdadeiro Império. Os EUA adotaram uma postura de neutralidade, uma vez que o comércio com os países europeus era interessante e de extrema importância para sua economia. (KARNAL, 2007). As guerras no continente europeu foram apaziguadas e Napoleão Bonaparte foi preso, uma onda conservadora dominou a região e os reinos como Áustria, Rússia e Prússia formaram a santa aliança, impedindo qualquer manifestação liberal que pudesse lembrar a Revolução Francesa e os artifícios utilizados por Napoleão para dominar o máximo de regiões. (KARNAL, 2007). Poderiam intervir até no continente americano caso fosse necessário, o que colocaria em risco a liberdade e independência dos norte-americanos. Desta forma, sentindo a ameaça europeia de atravessar o oceano Atlântico, o presidente americano da época James Monroe anunciou a Doutrina Monroe. (KARNAL, 2007). Conforme Hobsbawn (1988, p.90) definiu a Doutrina Monroe: Esta doutrina, expressa pela primeira vez em 1823 e subsequentemente repetida e elaborada pelos governos dos EUA, manifestava hostilidade a qualquer outra colonização ou intervenção política de potências europeias no hemisfério ocidental. Mais tarde, isto passou a significar que os EUA eram a única potência com o direito de interferir em qualquer ponto do hemisfério. À medida que os EUA foram se tornando mais poderosos, a Doutrina Monroe foi sendo encarada com mais seriedade pelos Estados europeus. Baseado nos princípios dessa doutrina os americanos garantiram certa estabilidade nos assuntos da América ao longo dos anos, o que levou a uma intervenção econômica e política no continente perante os demais países da região. Como a independência americana não fora tão tardia, o país conseguiu se industrializar muito rápido. No final do século XIX já havia ultrapassado a Inglaterra e Alemanha em se tratando de desenvolvimento industrial (AYERBE, 2004). Com isso veio a incessante corrida pela dominação de matérias-primas e mercados na região do Caribe, como Ayerbe (2004, p. 22) comenta que: “no caso de Cuba, implicará importantes mudanças na sua inserção internacional, já que seu status de colônia espanhola passa a incorporar novas relações de dependência econômica com os Estados Unidos”. Com essa disputa de poderes acerca do país, surgiu então um nome muito lembrado na história de Cuba, José Martí. José Martí nasceu em Havana em 1853, era filho de imigrantes espanhóis. Entrou muito cedo para a política, pois na época em que estava na escola já eclodiram as primeiras 14 guerras de independência, em 1868. Com apenas 16 anos, em 1869, ajudou a publicação de um jornal chamado Patria Libre, que escrevera sobre as causas rebeldes. (GOTT, 2006) Em 1871 foi exilado para a Espanha onde estudou Filosofia e Direito na Universidade de Madri, e em 1875 viajou para Europa antes de se estabelecer no México. Trabalhou também na Guatemala por um período breve em algumas universidades, e ficou comovido com a situação dos povos indígenas em detrimento com a população branca. No México também pôde perceber este cenário, assim como a presença de líderes militares utilizando forças autoritárias para governar os países. Tornara-se assim repudiante opositor dos regimes militares. (GOTT, 2006). Voltou a ser exilado e viveu por um período de 15 anos em Nova York, lugar onde encontrara outros exilados cubanos ambicionando uma nova guerra de independência. (GOTT, 2006). Após muitos anos lutando a favor da independência cubana, igualdade racial e a não anexação de Cuba aos Estados Unidos, José Martí abraçou a causa em prol desses objetivos. Foi fundador do Partido Revolucionário Cubano, criou um movimento independentista financiado por trabalhadores e seguidores individuais que contribuíam com o partido através do pagamento de um décimo de seus salários. Martí passou então a dedicar-se exclusivamente a este partido com o objetivo de organizar uma guerra revolucionária secreta em que ele próprio era o líder. (GOTT, 2006). Seus ideais eram bastante fortes e relutantes as ambições estadunidenses, Segundo Bandeira (2009, p.60): “Os homens que deflagraram, em 1895, a luta armada contra o domínio de Madri, no entanto, queriam a mais completa independência de Cuba, e repudiavam tanto o projeto de autonomia quanto a ideia de anexá-la aos Estados Unidos”. Com base nisto, outros homens idealizadores da independência cubana iriam surgir, com o mesmo raciocínio de Martí, a total independência, sem acordos e nem anexações, ou seja, Cuba livre de qualquer poder externo. (BANDEIRA, 2009). José Martí não sobreviveu para ver a independência cubana, pois fora assassinado em maio de 1895, cuja causa foi uma armadilha que os espanhóis prepararam para Martí. Segundo Gott (2006, p. 110): Não existem registros adequados das rivalidades internas durante os primeiros meses de 1895 que indiquem o seu efeito sobre o moral de Martí. Ele não tinha experiência como guerrilheiro, e o mais provável é que tenha sido incompetente em vez de suicida. Qualquer que seja a razão, a perda prematura e negligente do líder político foi um sério infortúnio à rebelião – e para o futuro de Cuba. 15 Foi lamentável a perda deste grande nome para a sociedade cubana, entretanto outros dois protagonistas surgem para mudar o rumo da ilha. Sob o comando de Antonio Maceo e Máximo Gómez, que eram companheiros de Guerra de Martí, e também lutavam contra a anexação estadunidense, o exército rebelde seguiu lutando pela independência, e cada vez mais juntava seguidores em sua maioria a população negra, e a guerra foi tomando forma. (GOTT, 2006). A guerra a favor da independência se tornara cada vez mais inevitável, segundo Gott (2006, p.112): “Ao mesmo tempo que a morte de Martí foi um golpe político para os rebeldes, a sua ausência não teve nenhum impacto político perceptível sobre o desenvolvimento da guerra”. O nível de descontentamento popular pela metrópole espanhola se espalhara por toda Cuba, inclusive em Havana. As autoridades espanholas não eram mais respeitadas naquele momento, pois havia muitas críticas e queixas contra Espanha. Porém Maceo e Gómez ainda enfrentavam a relutância de alguns grupos da população civil. (GOTT, 2006). A estratégia utilizada por eles era bastante expansionista. O objetivo era levar seu exército para diversas cidades de Cuba, como Piñar Del Río, Sancti Spíritus e Santa Clara. Porém com a chegada do marquês de Tenerife, o general Valeriano Weyler, as coisas mudaram para os Cubanos. Com uma experiência inigualável em guerras e também por já ter participado em uma guerra cubana anterior, foi designado para ir a Cuba, por suas qualidades marciais e cruéis, justamente nesse momento em que Gómez e Maceo estavam tomando vários territórios e se preparando para a batalha. (GOTT, 2006). No decorrer de sua atuação, Weyler fora muito criticado, principalmente pelos Estados Unidos, chegando a ser denunciando através dos jornais nova-iorquinos, como o New York Journal, por suas barbáries cometidas em Cuba naquele momento. (GOTT, 2006). Máximo Gómez perde seu colega de guerra, Antonio Maceo, em dezembro de 1896, que foi surpreendido e morto por uma tropa espanhola. Desta maneira, os rebeldes ficaram mais enfraquecidos com a morte deste líder, o que fomentou mais ainda a ambição de Weyler pela dominação da ilha. Porém algo inesperado aconteceu, Antonio Cánovas del Castillo, primeiro-ministro espanhol, foi assassinado por um anarquista italiano em junho de 1897. Com isso houve uma mobilização por parte dos jornais dos Estados Unidos em aclamar a libertação de Cuba. Com sua morte houve uma reorganização política na Espanha e Weyler abandonou o contra-ataque a Cuba. (GOTT, 2006). A partir destes acontecimentos, o sonho da independência fora reascendido e Cuba chegava cada vez mais perto de ser uma República independente. Houve muitas 16 negociações da Espanha para que Cuba continuasse ainda colônia, mas tendo seu próprio governo e podendo fazer suas próprias negociações, porém Máximo Gomez rejeitou qualquer tipo de proposta. (GOTT, 2006). Apesar de Cuba ter sido por muito tempo colônia hispânica, os Estados Unidos da América tinham grande interesse na ilha e proviam a ideia de anexação ao Estado americano. Durante todo o processo de guerra pela luta da independência cubana, os norte-americanos não interviram militarmente, apenas emitiam opiniões através de jornais e noticiários, porém o cenário mudou em 15 de fevereiro de 1898, quando o navio americano Maine estava ancorado no porto de Havana e subitamente explodiu, afundando repentinamente levando a morte de 258 marinheiros americanos. (GOTT, 2006). O autor Ayerbe (2004, p.23) afirma que: “Num momento em que a vitória das forças independentistas está próxima de concretizar-se, o governo norte-americano decide entrar no conflito”. Temendo que Cuba conquistasse sua independência sem a participação norte-americana os EUA intervêm na ilha de forma mais incisiva. Sobre a explosão do Maine, Bandeira (2006, p. 62) também comenta que: “A misteriosa explosão do navio de guerra norte-americano Maine constituiu, ao que tudo indicava, uma provocação, provavelmente articulada pelos próprios cubanos, a fim de arrastar os Estados Unidos, ao conflito com a Espanha”. Este fator foi suficiente para que os EUA não somente ajudassem a garantir a liberdade cubana, mas também de outras colônias da Espanha como Porto Rico, Filipinas e a Ilha de Guam. (GOTT, 2006). O acidente com o Maine foi a melhor desculpa que os EUA poderiam ter para declarar guerra contra a Espanha. A guerra então deixara de ser uma guerra cubana pela libertação nacional e passa a ser uma Guerra Hispano-Americana, uma vez que os Estados Unidos se envolveram mais do que o simples objetivo assegurar a liberdade cubana. (GOTT, 2006). Com relação aos interesses norte-americanos sobre Cuba, Bandeira (2009, p.62) afirma que: Os Estados Unidos tinham nessa ilha interesses diretos, que não eram meramente econômicos, relacionados com o açúcar e o tabaco. Seus interesses eram igualmente estratégicos. A posse de Cuba, da mesma forma que a de Porto Rico e das Ilhas Virgens, cuja cessão o presidente McKinLei naquela época intentava obter da Dinamarca com o objetivo de estabelecer uma base naval e um depósito de carvão, era percebida como fundamental para a segurança das rotas no Golfo do México e a defesa do canal que o governo norte-americano, quase 50 anos antes, projetara abrir no istmo do Panamá. 17 De certa forma a independência de Cuba foi um pouco frustrante para os revolucionários da época, pois a atuação americana ludibriou a esperança de liberdade e soberania que se esperava mediante tantas revoluções e guerras que o povo cubano passara. (AYERBE, 2004). A guerra dos Estados Unidos com a Espanha dura pouco tempo, de abril a agosto de 1898, que finaliza com a assinatura espanhola de um armistício com os EUA em Washington, e posteriormente é assinado o Tratado de Paz em Paris reconhecendo assim a independência de Cuba, e transfere aos Estados Unidos o poder sobre Porto Rico e Guam, e também o controle das Filipinas que foi comprada por vinte milhões de dólares. (AYERBE, 2004). A partir de então Cuba passa a ser ocupada por militares norte-americanos e é estabelecido como governador o general Leonard Wood, que se firma no comando até maio de 1902. Neste mesmo ano o primeiro presidente cubano eleito, Tomás Estrada Palma, do Partido Revolucionário Cubano passa a presidir Cuba. (GOTT, 2006). Após a dominação dos norte-americanos em Cuba foi apresentada a Emenda Platt, pelo senador norte-americano Orville Hitchcock Platt, que definia o estatuto das relações entre Cuba e Estados Unidos. Em 12 de Junho de 1901 esta Emenda foi aprovada e incorporada como anexo da Constituição Cubana. (BLANCO e DÓRIA, 1982). Esta Emenda1, conforme Gott (2006) cita em um de seus capítulos como a Independência hipotecada, continha imposições que o governo americano estabeleceu a Cuba. O governo cubano não poderia realizar tratados ou outro tipo de convênio com qualquer potência ou potências estrangeiras, que por ventura pudessem prejudicar a independência de Cuba, ou que permitisse que obtivessem por colonização ou para fins militares, a ocupação ou controle de qualquer parte da ilha, além de outras condições que foram exigidas no documento. (GOTT, 2006). 1 A Emenda Platt previa mais seis pontos impostos ao governo de Cuba, são eles: (A) Que o dito governo não assuma ou contraia nenhuma dívida pública para cujo pagamento de juros, e a constituição de qualquer fundo razoável de amortização para resgate final, as rendas ordinárias da ilha, depois de custeadas as despesas correntes do governo, sejam suficientes. (B) Que o governo de Cuba tenha por objetivo que os Estados Unidos possam exercer o direito de interferir, no que for necessário para preservar a independência cubana e a manutenção de um governo apropriado à proteção da vida, da propriedade e da liberdade individual, e ao cumprimento das obrigações referentes a Cuba que foram impostas aos Estados Unidos pelo Tratado de Paris, a serem agora assumidas pelo governo de Cuba. (C) Que todos os atos dos EUA em Cuba durante sua ocupação militar sejam por meio desta ratificados e validados, e que todos os direitos legais adquiridos sob os termos aqui mencionados sejam mantidos e protegidos. (D) Que o governo de Cuba execute e, na medida em que for necessário, estenda os planos já traçados ou outros planos a serem mutuamente conveniados para o saneamento das cidades da ilha, a fim de que a recorrência de doenças epidêmicas e infecciosas possa ser evitada, garantindo deste modo proteção ao povo e ao comércio de Cuba, assim como ao comércio dos portos meridionais dos EUA e dos povos neles residentes. (E) Que a Ilha dos Pinheiros seja omitida das fronteiras constitucionais propostas de Cuba, a propriedades desta sendo deixada a futuros acertos por tratado. (F) Que, para dar condições aos Estados Unidos de manter a independência de Cuba e proteger o seu povo, assim como para a sua própria defesa, o governo de Cuba venda ou arrende aso Estados Unidos as terras necessárias para abastecimento de carvão e postos navais em certos pontos especificados, a serem acordados com o presidente dos Estados Unidos. (GOTT, 2006, p. 366) 18 Conforme LAMRANI (2013) comenta sobre esta Emenda: A emenda Platt proibia Cuba de assinar qualquer acordo com um terceiro país ou contrair dívida com outra nação. Também dava direito aos Estados Unidos de intervir em qualquer momento nos assuntos internos de Cuba e obrigava a ilha a conceder indefinidamente a Washington a base naval de Guantánamo. A partir do exposto sobre a Emenda Platt pode-se observar que os Estados Unidos foram enfáticos aos escrevê-la e anexá-la a Constituição Cubana, dando total liberdade de interferência e tomada de decisões em tudo que se tratava sobre o governo cubano e justificando assim a independência hipotecada de Cuba. Porém posteriormente o ressentimento criado nesta situação de Cuba mediante os EUA iriam aflorar e serem repelidas por revoluções a partir de 1933. (GOTT, 2006). No capítulo subsequente é abordado o estreitamento das relações entre Estados Unidos e Cuba, pois a ilha ainda sofria com a manipulação norte-americana e posteriormente com a ditadura instaurada a fim de conter o comunismo esta relação ficou cada vez mais desgastada. Cuba deixa de ser objeto de interferência estadunidense e é libertada definitivamente. Um grupo de jovens revolucionará o país deixando-o independente em sua política, economia e em sua própria cultura e modo de vida dos cidadãos. 2.2 A REVOLUÇÃO CUBANA A ilha caribenha desde a sua independência sofreu muito com a política intervencionista e imperialista dos Estados Unidos, até o momento em que surge a figura de Fidel Castro um guerrilheiro que retira Cuba do poder do ditador Batista e declara a Revolução Cubana em 1959. Entretanto isto é encarado como uma afronta para os norteamericanos, que como vingança executam várias medidas para enfraquecer a economia e gerar uma desarmonia social entre os cidadãos cubanos, com a finalidade de derrotar Fidel e tirá-lo do poder. Porém não contavam com a persistência e com o espírito nato de um guerrilheiro, Castro se mantém no governo mesmo com todas as armadilhas e adversidades dos líderes que passaram no governo estadunidense. Ele implementou muitas mudanças e melhorias nas questões sociais da população, como educação, moradia e saúde, tornando a ilha um ponto de referência nesse sentido. 19 Em 1961, sob o governo de Eisenhower é decretado o embargo contra Cuba, devido a série de medidas que Castro tomou com relação as empresas americanas do seu território, deixando assim as relações econômicas, diplomáticas e políticas rompidas até então. 2.2.1 Da Independência a Ascenção de Batista Após a promulgação da constituição Cubana, os Estados Unidos conforme previsto pela Emenda Platt, ficaram livres para intervir nos assuntos de Cuba sempre que lhes fossem convenientes, não somente por interesse unilateral, porém quando se fizessem necessários a fim de manter a ordem e evitar uma revolta por parte de rebeldes liberais que eram contra a interposição norte-americana. (GOTT, 2006). Os anos de 1902 a 1959 foram assim percebidos pelos cubanos nacionais como um período de grande presença norte-americana e imposição de dependência política, econômica e militar. Isto se deve ao fato de os EUA temerem uma rebelião interna ou uma recolonização por parte de outros países. (SEGREGA, 1994). A dependência econômica de Cuba em relação aos Estados Unidos foi sempre muito evidente, e com a Independência Cubana proclamada através da ajuda estadunidense isso se intensificou. Sader (2001, p. 18) argumenta sobre as consequências dessa independência e da Emenda Platt: “no plano econômico, o comércio cubano – praticamente reduzido ao açúcar – se reorientou completamente em direção aos EUA, que passaram rapidamente a controlar os principais engenhos e a consumir o grosso da safra”. Com isso o comércio exterior de Cuba com os Estados Unidos representava ¾ de seu total. (SADER, 2001). Os cubanos que não concordaram com a situação de Cuba perante os EUA tentaram a qualquer custo impedir essa condição de dependência imposta ao fim da guerra contra a Espanha. Então em 1906, Cuba ainda sob o governo de Estrada, foi organizada uma insurreição armada que posteriormente ficara conhecida como Guerrita de Agosto. Um dos motivos da rebelião foram as fraudulentas eleições em que Estrada era o único vencedor. (GOTT, 2006). Com esse sentimento de revolta e desordem em Cuba os americanos intervieram na ilha colocando Charles Margoon durante três anos para estabelecer ordem no país. E 20 organizou novas eleições em agosto de 1908, em que a chapa do partido liberal tendo como líderes José Miguel Gómez e Alfredo Zayas ganharam as eleições e governaram até 1913. (GOTT, 2006). No período que sucede o governo de Gómez, foi eleito em 1913 o presidente Mario Menecal y Deop, que governara a ilha até 1921, após passar por uma reeleição fraudulenta em 1916. Este período foi para a economia cubana um momento de decolagem através de investimentos na indústria açucareira, na indústria de mineração e do tabaco e na manufatura de têxteis e bens de consumo. Um dos responsáveis por tal feito, com certeza foi a Primeira Guerra Mundial, pois a Europa demandava muito dos produtos caribenhos, sendo que a renda do açúcar em Cuba quase dobrou no período de 1914 a 1916. (GOTT, 2006). Após 1921 Cuba é governada por Alfredo Zayas, o mesmo que governara o país em 1908 juntamente com Gómez, que posteriormente é sucedido por Gerardo Machado y Morales. Machado então teria um árduo desafio pela frente, em pegar Cuba em situação de dificuldade, pois com o fim da Primeira Guerra o preço do açúcar despenca e o país se torna vulnerável economicamente. Machado implementou então uma ditadura em Cuba, e ficou conhecido pelo líder estudantil comunista na época por “Mussolini Tropical”, ele permaneceu no governo até 1933. (GOTT, 2006). Para entender o conceito de ditadura Bobbio (et al, 1998) a define como um regime que não é autorizado por regras constitucionais, se instaura de fato ou submerge uma política já existente, cujo poder não se limita a Constituição vigente, ou seja, o poder não é restrito ao ambiente jurídico. Ainda complementa que a ditadura é uma acentuada concentração do poder, cuja autoridade política de instala cima para baixo. Desta maneira, é observado o poder ditatorial no governo de Machado, e posteriormente o de Fulgêncio Batista quando assume o poder no golpe de 1952 e instaura novamente este regime em Cuba. Durante o governo de Machado muitos cubanos se revoltaram com sua maneira de governar, provocando assim nos norte-americanos um alerta de eminência revolucionária. Desta vez os EUA não usaram força militar, porém enviaram o embaixador Benjamin Sumner Welles, para controlar a movimentação do povo de Cuba. Após a renúncia de Machado devido a pressão imposta por Welles, é nomeado a presidência provisória Carlos Manuel de Céspedes y Quesada. (BANDEIRA, 2009). Este entra e sai de governantes era decorrente do sentimento antinorte-americano que aflorava nas mentes dos revolucionários e rebeldes cubanos, devido a influência econômica depositada na ilha, como a atividade de grandes empresas com investimentos em 21 terras, na indústria de açúcar, nos transportes, na exploração de recursos naturais, no sistema bancário, entre outros. (BANDEIRA, 2009). O clima em Cuba estava muito propício a eclosão de rebeliões e uma possível revolução, desta forma em 4 de setembro de 1933 é posto um fim no governo de Céspedes através de um movimento de opinião pública cubana predominantemente estudantil, conhecido como Diretório Estudantil Universitário. A partir disto nasce a figura de Fulgêncio Batista, líder do escalão inferior do Exército e da Marinha unindo forças com o Diretório Estudantil emerge ao poder em Cuba, nomeando Ramón Grau San Martín a presidente provisório. (BANDEIRA, 2009). O presidente americano desta época, Franklin Roosevelt adota a política da boa vizinhança, não interferindo desta forma nos assuntos cubanos e visando através desta política melhorar o relacionamento com os países da Latino Americanos. Esta medida também foi baseada na Conferência Pan-Americana de Montevidéu que ocorreu em 1933 e previa na Convenção de Direitos e Deveres dos Estados, que nenhum Estado teria o direito de intervir nos assuntos tanto internos quanto externos um do outro. (BANDEIRA, 2009). Grau Martín governa até 1934 e é substituído por Carlos Mendieta no qual seu período no governo ficou conhecido como “bastistiano sem Batista”, devido a forte influência que Fulgêncio Batista exercia nos presidentes de Cuba, após a queda de Céspedes. (MIRES apud AYERBE, 2001). Mendieta renuncia a presidência e passa a ser substituído por José A. Barnet que se estabelece no poder até 1936 quando é assim eleito Miguel Mariano Gómez Arias. Em julho de 1940 junto com a promulgação de uma nova constituição para Cuba são convocadas eleições a fim de definir o novo presidente para o país. A disputa ocorreu entre Fulgêncio Batista e Grau San Martin, no qual Batista saiu vitorioso. (DÓRIA E BLANCO, 1982). Começa então a era Batista que segundo o autor SADER (2001, p.23) afirma que: “O governo de Batista, no entanto, foi um período de aumento de especulação, da corrupção, da inflação e do desgaste dos salários, transformando-se rapidamente num governo isolado do povo.” O presidente governou até 1944 quando então Grau San Martín consegue chegar ao poder novamente, porém sem muitas expectativas para a população, pois governara tão mal quanto seu antecessor. Sader (2001) ainda comenta que, “o governo pôs em prática a criação de uma estrutura sindical paralela, pelega e gangsterial, financiada pelo Estado, para denunciar e perseguir comunistas e outros setores da esquerda”. Era o início da Guerra Fria no ocidente, marcada pela luta ideológica em que os partidos comunistas eram duramente reprimidos. (SADER, 2001). 22 Grau San Martin após assumir a presidência afastou aqueles que possuíam cargos importantes do exército e que estavam ligados a Batista, desde sua atuação em 1934. O governo de Grau foi marcado por muita corrupção e violência e, além disso, práticas anticomunistas também estavam presentes em decorrência da situação que se passara no momento, a Guerra Fria. (DÓRIA E BLANCO, 1982). Em 1948 novas eleições elegeram Prio Socarras que governou até 1952, neste período com o término do mandato de Prio, eleições seriam disputadas entre Agromone, do Partido Ortodoxo que tinha grande apoio dos comunistas, e Batista que sabia da forte fama de seu oponente e que não teria chances de vencer. Então em 10 de março de 1952 Batista entra no quartel Colúmbia, que era a sede do Estado-Maior do Exército, e com um golpe de Estado toma a posse do governo. (DÓRIA E BLANCO, 1982). Ayerbe (2004, p.28) comenta sobre a ascensão de Batista: “No seu retorno como ditador, na década de 1950, Batista será o principal fator detonante de um movimento oposicionista cujos desdobramentos inaugurarão uma nova fase da história política latinoamericana.” O golpe de Batista não foi bem visto pela oposição, que logo planejara sua saída através de um processo revolucionário liderado por Fidel Castro. (AYERBE, 2004). O período no qual Batista emerge como ditador é o momento de pós Segunda Guerra e de muita tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética. O mundo estava dividido ideologicamente e a luta pela zona de influência era significativa. Os Estados Unidos a qualquer custo queria manter a América Latina longe do comunismo, então adotaram uma política de apoio a todos os países anticomunistas e que estivessem sofrendo pressões diplomáticas para aderir a ideia socialista. O presidente americano da época Harry Truman adotou então a política da contenção do comunismo. (BANDEIRA, 2009). Ainda sobre as tensões com os soviéticos, Bandeira (2009, p.124) afirma que: A preocupação dos Estados Unidos na América Latina não era propriamente defender a ordem democrática e as liberdades políticas, e sim assegurar um clima favorável aos seus negócios e investimentos privados, bem como o acesso às fontes de matérias-primas, sobretudo o petróleo. Da mesma forma como a União Soviética não aceitava eleições livres nos países do Leste Europeu, sob seu domínio, com anseio de que os anticomunistas pudessem vencer, em contrapartida os Estados Unidos passaram a promover golpes de Estado e alimentar as ditaduras a fim de que sua hegemonia na região não fosse afetada. Assim como a União Soviética temia a ascensão de anticomunistas no poder, os Estados Unidos também se 23 preocupavam com as eleições livres e a tomada do poder por forças nacionalistas e anti-norteamericanas. (BANDERIA, 2009). Dessa forma Batista teve um terreno muito favorável ao efetivar seu golpe, sabia que se sua ideologia fosse condizente com a estadunidense poderia governar sem preocupação. Entretanto, forças contrárias às atitudes de Batista já emergiam naquela época. O item seguinte mostra como o governo ditatorial de Fulgêncio Batista foi mal visto pela população e como a Revolução Cubana foi tomando forma até a ascensão de Fidel Castro. 2.2.2 A Revolução, a queda de Batista e a ascensão Castrista A Revolução Cubana foi um marco muito importante na história de Cuba que ocorrera em 8 de janeiro de 1959 e foi liderada por um grupo de jovens, promovida incialmente por Fidel Castro, e posteriormente com a ajuda de seu irmão Raúl Castro e Ernesto Che Guevara, conseguiram efetivamente afastar Batista e ascender ao poder. A fim de entender melhor o conceito de revolução BOBBIO (1998, p. 1121) afirma que é: “a tentativa, acompanhada do uso da violência, de derrubar as autoridades políticas existentes e de as substituir, a fim de efetuar profundas mudanças nas relações políticas, no ordenamento jurídico-constitucional e na esfera socioeconômica.” O autor ainda comenta que “a Revolução se distingue do golpe de Estado, porque este se configura apenas como uma tentativa de substituição das autoridades políticas existentes dentro do quadro institucional, sem nada ou quase nada mudar dos mecanismos políticos e socioeconômicos”. Fidel Castro nasceu em Birán, um pequeno povoado localizado no município de Mayarí em Cuba, no dia 13 de agosto de 1923. Filho de um rico fazendeiro, Fidel estudou Direito na Universidade de Havana ingressando no curso em 1945. Obtém seu diploma em 1950 e dois anos depois assume uma das candidaturas de deputado do Partido Ortodoxo, mesmo ano em que o país sofreu o golpe de Batista. Descontente com o golpe e a ditadura implementada Fidel esteve disposto a tirar o ditador do poder. (AYERBE, 2004). O autor Hobsbawn (1995, p. 425) descreve os antecedentes de Fidel e como ele era visto pelos cubanos: [...] era uma figura não característica na política latino-americana: um jovem forte e carismático de boa família proprietária de terras, de política indefinida, mas que estava decidido a demonstrar bravura pessoal e ser um herói de qualquer causa da liberdade contra a tirania, que se apresentasse no momento certo. 24 Castro tentou através da lei depor Batista, consultando o Código de Defesa Social que fora incorporado às leis da república e previu vários crimes aos quais Batista havia cometido pelo golpe, como por exemplo a mudança violenta da forma de governo estabelecida, o golpe armado contra os poderes constitucionais do Estado, impedimento da realização de eleições gerais, emissão de decretos revogando leis vigentes, entre outros crimes. Diante destes fatos, Castro apresentou ao tribunal uma acusação formal contra Fulgêncio Batista solicitando a pena de 108 anos de prisão, porém nada foi feito com relação ao ditador, que continuou no poder. (SADER, 2001). Em 26 de julho de 1953 Castro tentou invadir e assaltar o Quartel Moncada, o segundo mais importante quartel do país, e seu intuito era roubar as armas e munições para ser distribuída a população rebelde a fim de ocupar pontos estratégicos do país e iniciar a tomada de poder na ilha. Sua meta principal era a derrubada da ditadura e a recuperação da democracia em Cuba. Porém o assalto foi um desastre tendo uma parte dos guerrilheiros presa, outra parte conseguiu fugir inclusive Castro, porém pouco a pouco foram sendo descobertos e presos pelos militares de Batista. (SADER, 2001). Fidel Castro foi preso e levado a julgamento, em que ele próprio assumiu sua defesa, e em 16 de outubro de 1953 pronuncia o documento A história me absolverá, que descreve em detalhes o motivo pelo qual confrontou com o governo de Batista e também expõe diversas mudanças políticas, econômicas e sociais que implementaria em Cuba após a derrubada do governante. (AYERBE, 2004). Em seu documento de defesa, Castro apresenta as ilegalidades do governo de Batista, e afirmava que o povo é quem deveria tomar o poder. Demonstra em seu texto sua revolta mediante a inconstitucionalidade da ditadura, e explica com detalhes como se sucedeu o assalto em Moncada. Seu intuito não era luta com os soldados do regimento, sua intenção era o controle do local e das armar, chamar o povo e reunir posteriormente os militares e convidá-los a abandonar o regime tirano e abraçar a liberdade e defender os interesses da nação. (CASTRO, 1953). Fidel Castro foi condenado a 15 anos de prisão, dos quais cumpriu somente dois devido a uma lei de anistia aprovada por Batista após eleições realizadas a fim de dar legitimidade ao seu golpe. Batista participou das eleições como candidato único, visto que qualquer pessoa que quisesse competir saberia que iria perder, pois seriam eleições burladas e manipuladas. (GOTT, 2006). A democracia na ilha era algo imprevisível de acontecer enquanto estivesse sob domínio de Batista, desta forma Castro viu que as eleições não lhe levariam ao poder e logo 25 concluiu que uma insurreição armada era a solução para destituir o ditador. Exilou-se no México junto com seu irmão Raúl para organizar uma nova guerrilha contra Batista. Durante seu exílio conheceu um revolucionário argentino que já vivia na Cidade do México a alguns meses, era Ernesto Che Guevara. A empatia que ambos tiveram entre si e a troca de conhecimento favoreceram posteriormente para a tomada do poder em Cuba. (GOTT, 2006). Organizaram-se então a fim de voltar ao seu país e lutar pela liberdade e democracia, dessa forma planejaram o Movimento Revolucionário 26 de Julho, homenageando o evento do Quartel Moncada que ocorrera nesta data. (BEZERRA, 2012). Segundo SADER (2001, p. 35): O grupo do movimento 26 de Julho partiu para o México com um programa político democrático e nacional, voltado principalmente contra a ditadura de Batista e as bases econômicas dessa dominação, radicadas em grandes empresas norteamericanas. Mas o centro das medidas propostas pelo Programa do Moncada era de caráter político – pelo restabelecimento da democracia no país – e social – combate ao desemprego, à miséria, ao analfabetismo. Já se via na época uma grande insatisfação popular mediante o governo de Batista, famílias sem terra, quase 100% das crianças estavam infectadas por parasitas, o desemprego nos períodos entressafra eram enormes, entre outros problemas a época. (SADER, 2001). Baseado nisto Fidel teve certa vantagem ao reorganizar seus aliados a nova guerrilha, e obter sucesso na segunda tentativa de derrubar o governo daquele período. Segundo o autor Hobsbawn, (1995, p. 426): Fidel venceu porque o regime de Batista era frágil, não tinha apoio real, a não ser o motivado pela conveniência e o interesse próprio, e era liderado por um homem tornado indolente por longa corrupção. Desmoronou assim que a oposição de todas as classes políticas, da burguesia democrática aos comunistas, se uniram contra ele, e os próprios agentes, soldados, policiais e torturadores do ditador concluíram que o tempo dele se esgotara. Devido a sua impopularidade, Fulgêncio Batista não teve opção a não ser fugir e renunciar o governo em Cuba. Já era premeditado que isto ocorreria, visto que poucos estavam ao seu lado e o estado de espírito do povo à época era negativo com relação a sua reputação. A estratégia de Castro dessa vez era juntar guerrilheiros e treiná-los no México, com recursos de simpatizantes comprou um iate com motor chamado Granma. O iate partiu dos EUA, local onde Castro o comprou e junto com 82 voluntários navegou rumo a Cuba percorrendo 1.200 milhas pelo Golfo do México. As condições climáticas fizeram com que os revolucionários chegassem dois dias depois do planejado, porém a rebelião em Santiago já 26 havia começado em 30 de novembro para que assim que Castro chegasse se juntassem ao movimento. Devido ao seu atraso o grupo foi perdendo a força e tiveram que se recolher nas montanhas. (GOTT, 2006). Seguem então para Sierra Maestra onde os guerrilheiros se reencontrariam a fim de organizar um novo ataque. Segundo Ayerbe (2004, p.35) “a estratégia tentará fortalecer a ação guerrilheira no campo, buscando apoio da população mais pobre, que se cristalizará pela combinação do avanço das forças revolucionárias e a promoção da reforma agrária nos territórios que vão sendo conquistados”. Juntamente com o exposto por Ayerbe, a população das cidades também se posicionaram para auxiliar no confronto a fim de unir forças contra o governo. (AYERBE, 2004). Com a finalidade de juntar mais oposicionistas a sua guerrilha Fidel Castro emite um documento chamado o Manifesto da Sierra Maestra que previa alguns pontos a serem considerados durante o período de revolução, como a queda de Batista, convocação de eleições, a não intervenção externa em assuntos internos, entre outros apontamentos. (AYERBE 2004). Alocados em Sierra Maestra os guerrilheiros de Fidel foram atacados pelo exército de Batista, que enviou tropas para conquistar o local e desalojar os rebeldes. Porém Castro resistiu e conseguiu derrotar o ataque que foi um ponto chave para as próximas etapas da rebelião. Castro organizara então uma invasão na parte ocidental de Cuba liderada por Guevara, Raúl Castro ficou responsável pela parte norte e Castro avançou por Santiago e a partir disto, com diversas frentes de luta os guerreiros finalmente conquistam o país. (GOTT, 2006). O país cubano finalmente fora libertado do governo ditatorial de Fulgêncio Batista, que renunciou na madrugada do dia 1º de janeiro de 1959 e no dia seguinte, em Santiago de Cuba, Fidel Castro faz seu primeiro pronunciamento após a vitória da Revolução Cubana. Seu primeiro desafio era retirar a ilha do imperialismo norte-americano. (GOTT, 2006). Durante todo o percurso da Revolução, o presidente estadunidense da época Dwight Eisenhower relutou perante a saída de Batista, pois acreditava que caso a revolução se concretizasse o país poderia se aderir ao comunismo. Portanto fornecia armamentos a fim de que Batista, que convergia com a ideologia americana, permanecesse no poder e garantisse a atuação tanto política quando econômica em Cuba. (GOTT, 2006). Entretanto, tanto os liberais norte-americanos assim como a próprias percepções dentro da CIA relatavam não haver provas que comprovasse que Castro tinha pretensões 27 comunistas em Cuba. O fato de os EUA estarem divididos nas opiniões referentes ao Movimento 26-7 foi positivo para que Castro tivesse um caminho menos árduo durante a Revolução e conquistasse assim o poder. Não que os Estados Unidos aprovassem a ascensão de Castro, porém essa situação favoreceu a conquista na ilha. (GOTT, 2006). Conforme Hobsbawn (1995, p. 427) comenta sobre as percepções castristas: Embora radicais, nem Fidel Castro, nem qualquer de seus camaradas eram comunistas, nem (com duas exceções) jamais disseram ter simpatias marxistas de qualquer tipo. Na verdade, o Partido Comunista cubano, o único partido comunista de massa além do chileno, era notadamente não simpático a Fidel, até que algumas de suas partes juntaram-se a ele, meio tardiamente, em sua campanha. As relações entre eles eram visivelmente geladas. Os diplomatas e conselheiros americanos debatiam constantemente se o movimento era ou não pró-comunista — se fosse, a CIA, que já derrubara um governo reformador na Guatemala em 1954, sabia o que fazer —, mas claramente concluiu que não era. Através das conclusões de Hobsbawm realmente a Revolução Cubana não tinha caráter comunista ou socialista, mas sim reformista baseado na socialdemocracia2. Conforme Bandeira (2009, p. 227) expõe o pensamento do líder cubano sobre suas pretensões em relação a sua forma de governo: Reafirmou o compromisso com a justiça social, repulsando a democracia formal, que oferecia aos povos liberdade mas não lhes assegurava o pão, ele igualmente repeliu a solução totalitária, configurada pelo modelo soviético do socialismo, onde se garantia o pão e negava-se a liberdade. O que aparentemente Castro buscava, evitando a bipolaridade ideológica própria da Guerra Fria e pretendendo colocar-se além da esquerda e da direita, era uma terceira via, talvez social-democrata, porém seguramente cubana e americana. Após sua vitória na ilha, Fidel Castro nomeou então Manuel Urrutia como presidente provisório em Cuba, o presidente estadunidense Eisenhower reconhece o governo cubano, e foi decretado assim a restituição da Constituição de Cuba de 1940. Urrutia aparentava ser mais uma figura representativa, pois quem realmente estava no comando era Fidel. Castro viu-se em uma situação delicada uma vez que toda região latino-americana sofria influência norte-americana principalmente nas ditaduras instauradas em outros países como a República Dominicana, Haiti e Nicarágua, com total apoio dos EUA, conforme citado anteriormente a fim de promover a campanha anticomunista. (BANDEIRA, 2009). 2 A socialdemocracia é caracterizada por uma política de apoio ao Estado a fim de fazer intervenções econômicas e sociais para garantir o bem-estar da sociedade. Os sociais democratas lutam pelas reformas, pela melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, ou seja, por mais empregos, por condições dignas de trabalho, previdência, descanso semanal remunerado, direito de greve, livre sindicalização, entre outros. (AMARAL, 2013). 28 Com a Revolução Cubana já instaurada e reconhecida Castro foi mais audacioso, tentou disseminar a ideia da revolução nos demais países da América Latina, e seu propósito era agir de forma rápida e impedir a ação dos Estados Unidos perante as revoluções emergentes. Não somente propulsionou isto como também acolheu exilados que tivessem interesse em organizar uma luta armada contra a ditadura em seus países de origem. (BANDEIRA, 2009). Seguramente que os norte-americanos percebendo tal ação fez com que gerasse um clima de inquietude, pois em meio a Guerra Fria, eles não poderiam deixar seus países de influência vulneráveis para prospecções soviéticas. Conforme as análises de BANDEIRA (2009, p. 227) sobre as ambições do revolucionário cubano: “o que aparentemente Castro buscava, evitando a bipolaridade ideológica própria da Guerra Fria e pretendendo colocar-se além da esquerda e da direita, era uma terceira via, talvez social-democrática, porém seguramente cubana e americana.” Pode-se notar que seu ideal superava o comunismo ou capitalismo, ele estava propondo uma nova forma de política que ainda não havia definido. (BANDEIRA, 2009). Um novo governo surge então em Cuba, com a promessa de algo novo e benéfico para uma sociedade que vivia majoritariamente à margem da população, na pobreza e miséria, sem estudo em meio a corrupção. Fidel Castro tomou diversas medidas neste sentido, foi criado um Ministério de Recuperação dos Bens Malversados, que tinha o intuito de gerir os bens que foram apreendidos de Batista. (SADER, 2001). Iniciou-se também um processo de expropriação de terras dos grandes latifundiários e começou assim a implementar uma Reforma Agrária a fim de distribuir terras as famílias como propriedade individual. Cerca de 1,5% das famílias detinham o poder de 50% das terras cubanas, o que acarretava em uma desigualdade social imensa. (SADER, 2001). A Reforma Agrária deixou os Estados Unidos bastante preocupados, pois ficou claro que a tomada de terras pertencentes aos estrangeiros era somente uma questão de tempo. Em umas das cláusulas da reforma foi considerado que em alguns anos somente os cubanos teriam o direito de possuir terras. (GOTT, 2006). O governo cubano também interveio nas companhias telefônicas, pertencentes aos norte-americanos, outra medida radical foi o confisco de um consórcio petrolífero estadunidense e os latifúndios da United Fruits Company, uma das mais importantes empresas estadunidense que controlava a produção de açúcar em Cuba. Nacionalizou empresas de 29 telefonia, eletricidade, bancos estrangeiros e muitas outras grandes empresas, das quais a maioria era de capital norte-americano. (SADER, 2001). Conforme o próprio Castro denominou aquele momento era o início de uma nova era, foi criado o Ministério do Bem Estar Social e o Ministério da Habitação a fim de dar oportunidade aos que não tinham moradia ou terra própria. Os preços de telefonia e de remédios foram reduzidos e foi também estipulado um salário mínimo aos cortadores de canade-açúcar. (GOTT, 2006). Diversos foram as intempéries que Castro e seus colegas tiveram que enfrentar, foram adquirindo habilidades nas lutas e também obtiveram conhecimento nas estratégias utilizadas na guerrilha a fim de derrotar a ditadura instaurada. Um ponto muito favorável para a vitória da Revolução Cubana foi o descontentamento da população perante o governo que acabaram se unindo a rebelião e dando força a guerrilha. Outro ponto crucial foi a questão da política estadunidense que em meio a Guerra Fria estavam mais preocupados com os assuntos referentes a contenção do comunismo e da própria União Soviética, não dando assim a devida relevância à insurgência de Castro. Pode-se observar que Castro realmente pensava no lado social da população cubana, porém tais reformas que começaram a emergir em seu governo após a Revolução não foram bem dissuadidas pela grande potência emergente. A fim de reestabelecer seu poder de influência em Cuba, Eisenhower concluiu que deveria afastar Castro do governo e implementar um presidente que favorecesse os interesses norte-americano. Desta maneira uma série de medidas foram tomadas pelos Estados Unidos a fim de derrubar Castro, tais ações estão detalhadas no próximo capítulo. 2.3 A RESPOSTA NORTE AMERICANA A Revolução Cubana de fato teve muita relevância social, pois priorizou os mais necessitados que foram protegidos pela reforma agrária e urbana. O analfabetismo foi erradicado, a educação foi desenvolvida assim como a saúde, a cultura e o esporte, transformando assim no país mais igual das Américas e do terceiro mundo (LAMRANI, 2013). Com as mudanças que aconteciam na ilha e principalmente porque os Estados Unidos estavam sendo diretamente afetados, iniciou-se uma corrida para derrubar Fidel Castro. O presidente norte-americano Eisenhower recebeu uma proposta da CIA em fevereiro 30 de 1960 com a finalidade de sabotar as refinarias de açúcar de Cuba, que era a base de sua economia. A ideia foi bem recebida, porém o presidente queria algo mais incisivo para desestabilizá-la economicamente. Outra medida estabelecida foi a proibição de refinar o petróleo soviético, pois empresas norte-americana ainda operavam em Cuba refinando o petróleo bruto, entretanto foram pressionadas pelos EUA a negar o serviço. Em resposta, Castro confiscou o patrimônio das empresas. (GOTT, 2006). Os EUA continuaram sua jornada de destruição atacando posteriormente a indústria açucareira, que em julho diminuiu a cota de açúcar importada de Cuba através de um projeto de lei que visava extingui-la. Naquele ano foram 700 mil toneladas de açúcar que deixaram de ser vendidas ao mercado estadunidense em consequência desta medida. (GOTT, 2006). Dessa forma Castro toma uma medida mais drástica, em agosto daquele ano nacionalizou todas as empresas norte-americanas em Cuba. Posteriormente em outubro nacionalizou também as empresas privadas nacionais. (AYERBE, 2004). A intensão norte-americana era desestabilizar Cuba economicamente, com a redução da cota de açúcar, primeiramente deixar o país enfraquecido e sem recursos com o objetivo de que Castro cedesse e renegociasse com os americanos. Outra estratégia era de promover um descontentamento generalizado da população, pois tais medidas estadunidenses gerariam desemprego e a população seria a mais afetada, dessa forma eles culpariam Castro por tal situação e consequentemente negariam o governo de Fidel. (BANDERIA, 2009). Bandeira (2009, p.256) comenta sobre as atitudes norte-americanas: Com efeito, as sanções econômicas só poderiam produzir resultado opostos aos almejados pela administração Eisenhower. Elas alimentariam ainda mais os ressentimentos contra os Estados Unidos, fortaleceriam a autoridade moral e política de Castro não só ao nível doméstico como em toda a América Latina e empurrariam Cuba irreversivelmente para a vis atractiva3 da União Soviética. Foi justamente o que aconteceu, a União Soviética percebera assim um potencial em desenvolver um aliado na região do Caribe, aproximando-se mais de Cuba e dando suporte nas questões econômicas cubanas. (BANDEIRA, 2009). Em setembro de 1960 Castro se aproxima do líder soviético Nikita Kruschev e declara que aceitará a ajuda socialista caso os Estados Unidos intervissem militarmente na ilha. A mensagem não foi recepcionada de forma agradável pelos norte-americanos que a 3 De acordo com o Dicionário de Latim Forense, vis atractiva significa força atrativa. 31 partir daquele momento declaram o embargo das exportações estadunidenses para Cuba, com exceção de alimentos e remédios. (GOTT, 2006). Em curto prazo Cuba conseguiu reverter a situação econômica vendendo açúcar não somente à União Soviética, mas também para China e Europa Oriental, suprindo assim sua demanda. Os Estados Unidos viram-se então em posição desfavorável e em resposta a isto e também a Declaração de San José da Costa Rica, que reiterava a não intervenção de um Estado americano na soberania de outro Estado americano a fim de impor ideologias, política ou economia, os EUA tentaram se infiltrar em Cuba, em setembro de 1960, através de sua equipe da CIA instalando focos contrarrevolucionários na ilha com o objetivo de neutralizar Fidel Castro. (BANDEIRA, 2009). Castro criou então o Comitê de Defesa da Revolução (CDR) com a finalidade de dizimar esses grupos criados e treinados pelos EUA introduzidos em Cuba, e proteger a ideologia da Revolução Cubana. Assim conseguiu conter a insurgente guerrilha contra seu governo, capturando armas e funcionários do governo norte-americano. (BANDEIRA, 2009). O líder revolucionário já tinha conhecimento dos movimentos contrarrevolucionários dentro de seu país, e em janeiro de 1961 acusou a embaixada norteamericana em Havana de conspirar contra o governo cubano servindo como base de espionagem e prestando informações privilegiadas para os EUA. Esta acusação era de fato justificável uma vez que muitos dos funcionários da embaixada eram agentes da CIA. (BANDEIRA, 2009). Sendo assim, conforme proposto por Daniel Braddock, encarregado dos negócios norte-americanos, o presidente Eisenhower decreta o rompimento das relações diplomáticas entre Cuba e EUA e transfere a embaixada estadunidense para Miami. (BANDEIRA, 2009). O mandato de Eiseinhower chegara ao fim, e no outono de 1960 era o período eleitoral nos Estados Unidos em que os candidatos Richard Nixon e John Kennedy disputam o poder. Kennedy vence as eleições com o discurso de que a Doutrina Monroe não poderia morrer, ou seja, que a União Soviética deveria ficar fora dos assuntos da América. Sendo assim apoiou os antifidelistas e foi sob sua administração que a invasão da Baía dos Porcos foi executada. (GOTT, 2006). A CIA reorganiza uma nova estratégia através de bases militares na Guatemala para invadir Cuba, treinando na região grupos de exilados com o objetivo de entrar na ilha caribenha, dominar uma parte significativa do território e instaurar um governo interino anticastrista, que fosse assim reconhecido pelos EUA a fim de iniciar o domínio não somente 32 naquela região, mas se alastrando por todo o território cubano com total apoio estadunidense. (GOTT, 2006). A região escolhida foi a Baía dos Porcos localizada na parte sul da ilha, onde havia uma grande extensão de terras e que em primeiro momento os norte-americanos acreditavam que era um local abandonado. Mal sabiam eles que a área já havia sido desenvolvida pelo governo que construiu novas estradas e obras fora executadas para desenvolver o turismo na região. (GOTT, 2006). Fidel Castro previa que outros ataques iriam ocorrer contra a ilha por parte dos Estados Unidos e ordenou a construção de barreiras de defesa em pontos chave do país e um deles foi a Baía dos Porcos. (VOSS, 2011). Uma semana antes da invasão acontecer as forças estadunidenses, a fim de desestabilizar a região e deixar o território mais hostil, destruíram um engenho de açúcar, uma loja de departamentos muito famosa e grande e também lançaram bombas sobre Camp Columbia, base militar de Cuba, e sobre duas bases aéreas em Havana e Santiago. (GOTT, 2006). Castro já imaginara que isso poderia ocorrer e aproveitou o momento de consolo às vítimas e familiares do atentado para declarar oficialmente o caráter socialista da Revolução Cubana. Dois dias depois, é desencadeada a ocupação norte-americana pela Baía dos Porcos. (GOTT, 2006). Foi no dia 16 de abril de 1961 que a invasão teve início, contando com a força de 1.500 homens exilados, treinados e financiados pela CIA. Em contrapartida o grupo defensor cubano não possuía muitos combatentes e nem muitas armas, porém contou com o apoio da Força Aérea Cubana. O grupo de exilados não teve apoio aéreo estadunidense, pois o presidente Kennedy não queria mostrar a participação de seu país nesta invasão. Dessa forma em três dias os cubanos obtiveram a vitória, prenderam más de 1.000 combatentes anticastristas. (VOSS, 2011). Sobre este episódio da Baia dos Porcos, HOBSBAWN (1995, P. 427) considera que: [...] em março de 1960, muito antes de Fidel descobrir que Cuba ia ser socialista e que ele próprio era comunista, embora muitíssimo à sua maneira, os EUA já haviam decidido tratá-lo como tal, e a CIA foi autorizada a providenciar sua derrubada [...]. Em 1961, tentaram uma invasão de exilados na baía dos Porcos, e fracassaram. Uma Cuba comunista sobreviveu a setenta milhas de Key West, isolada pelo bloqueio americano e cada vez mais dependente da URSS. 33 Fidel Castro mostrou então para os Estados Unidos e para o mundo que nem seu poder bélico, nem sua capacidade militar e nem sua política externa assustadora e ameaçadora poderiam intervir mais uma vez em Cuba. Castro, bem como os cidadãos cubanos, apoiaram e apostaram em seu país com a finalidade de derrotar os norte-americanos. Entretanto, o fracassado episódio da Baía dos Porcos fez com que o governo de Kennedy entrasse com um processo de expulsão de Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos)4, segundo Bandeira (2009, p. 370): [...]os Estados Unidos aplicaram pressões internas e externas contra os Estados latino-americanos no sentido de força-los a romper relações diplomáticas e comerciais com Cuba, isolando o regime revolucionário de Fidel Castro e criando as condições para a intervenção coletiva, sob o manto da OEA. Em fevereiro de 1962, os EUA conseguem a retirada de Cuba da organização e neste mesmo ano o presidente John F. Kennedy proclama o embargo sobre o comércio entre os EUA e Cuba, ficou proibida a importação de produtos com origem cubana, que fossem importados de Cuba ou através deste país. Qualquer exceção a esta regra deveria ser feita através de licença e autorização do governo. (U.S. GOVERNMENT PRINTING OFFICE, 1962). Devido as várias tentativas dos Estados Unidos em derrotar Castro, isto fez com que mais uma vez ele se preparasse para algo pior. Assim, Castro convenceu o premiê soviético Nikita Kruschev a fornecer a Cuba mísseis nucleares, com a finalidade de intimidar Washington e promover um equilíbrio militar entre as potências já que os Estados Unidos mantinham na Turquia mísseis nucleares de longo alcance. (ALTMAN, 2009). Sobre o episódio dos mísseis o autor Altman (2009) expõe: 4 A Organização dos Estados Americanos é o mais antigo organismo regional do mundo. A sua origem remonta à Primeira Conferência Internacional Americana, realizada em Washington, D.C., de outubro de 1889 a abril de 1890. Esta reunião resultou na criação da União Internacional das Repúblicas Americanas, e começou a se tecer uma rede de disposições e instituições, dando início ao que ficará conhecido como “Sistema Interamericano”, o mais antigo sistema institucional internacional. A OEA foi fundada em 1948 com a assinatura, em Bogotá, Colômbia, da Carta da OEA que entrou em vigor em dezembro de 1951. A Organização foi criada para alcançar nos Estados membros, como estipula o Artigo 1º da Carta, “uma ordem de paz e de justiça, para promover sua solidariedade, intensificar sua colaboração e defender sua soberania, sua integridade territorial e sua independência”. (OAS, 2016). 34 Criou-se uma frenética tensão entre as duas superpotências, levando o mundo à beira da hecatombe atômica. Uma guerra nuclear parecia mais próxima do que nunca. Em toda a Guerra Fria, o perigo de um conflito nuclear nunca esteve tão iminente como em outubro de 1962. O presidente norte-americano John Kennedy declarou tratar-se de uma ameaça inaceitável à segurança dos Estados Unidos e anunciou, como represália, o bloqueio a Cuba. O apoio unânime veio da OEA (Organização dos Estados Americanos), da América Latina e dos aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O governo de John F. Kennedy, apesar de suas ofensivas no ano anterior, encarou aquilo como um ato de guerra contra os Estados Unidos. Como consequência da Operação Anadyr, planejamento soviético referente a instalação dos mísseis nucleares em Cuba, uma crise instalou-se entre Cuba, EUA e União Soviética. A operação teve início em junho de 1962 e somente em setembro os Estados Unidos ficaram sabendo da presença militar no território cubano. (GOTT, 2006). Uma comissão sobre a crise dos mísseis foi elaborada pelo presidente Kenneky que se reunira em 16 de outubro na Casa Branca. O assunto da questão foi se um ataque aéreo deveria ou não ser lançado contra Cuba. Porém o secretário de Defesa, Robert MacNamara, levantou na discussão que isso não seria o melhor a fazer, pois o ganho não compensaria a exposição do país ao perigo, ou seja, colocaria os Estados Unidos em enorme vulnerabilidade. (GOTT, 2006). Foram descartados então os ataques aéreos e também qualquer tipo de invasão ao território cubano. O que o presidente Kennedy decretou em seu discurso oficial na televisão em 22 de outubro foi um bloqueio naval da ilha, que iniciara no dia 24 daquele mês fazendo com que navios e submarinos soviéticos ficassem fora da zona bloqueada. Esta medida evitou que mais mísseis nucleares entrassem em Cuba. (GOTT, 2006). Apesar do clima de tensão entre Cuba e EUA, a resolução desta crise não foi tão complexa quanto se imaginara. O líder soviético Kruschev enviou uma carta a Kennedy no dia 26 de outubro informando que o caráter dos mísseis era de defesa e que a União Soviética não tinha intensão de atacar os norte-americanos, o intuito era não haver invasões como acontecera na Baía dos Porcos. Dessa forma Kruschev propôs a retirada dos mísseis de Cuba se os Estados Unidos concordassem em não invadir Cuba e também que retirassem seus mísseis em sua base na Turquia. (GOTT, 2006). Em resposta os EUA aceitaram o acordo e foi anunciado pelo presidente Kennedy o fim do bloqueio naval. Os mísseis foram retirados de Cuba acompanhados por uma vigilância aérea estadunidense e em novembro foi declarado o fim formal da crise numa entrevista coletiva de Kennedy. (GOTT, 2006). 35 Os ânimos foram acalmados e a promessa de não invasão a Cuba foi prometida e mantida pelos Estados Unidos, que após os episódios mostrados neste capítulo, com a intenção de derrubar Castro e coibir a Revolução Cubana, amenizaram as tentativas de depor Fidel. O tópico subsequente explica um pouco sobre o período da Guerra Fria além de abordar a influência que este evento histórico concedeu na relação entre os Estados Unidos e Cuba, mostrando quais os principais pontos que fizeram com que Cuba se aproximasse da União Soviética e como os norte-americanos reagiram durante este estágio da Guerra. 2.4 AS ORIGENS DA GUERRA FRIA E A APROXIMAÇÃO DE CUBA E UNIÃO SOVIÉTICA A Guerra Fria foi um período de conflito entre duas grandes potências emergidas da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética, caracterizando um sistema bipolar5 compreendido no período entre 1947 e 1989. O autor DAVIS (apud VIZENTINI, 2004, p.7) aponta que: “A Guerra Fria entre a URSS e os Estados Unidos é, em última análise, o condutor de descargas elétricas de todas as tensões históricas entre forças de classe internacionais antagônicas”. Para compreender o que foram todas essas tensões, remontaremos ao século XVII. O Tratado de Westfália marcou no ano de 1648 a fragmentação da Alemanha, cuja unificação deste país pelos Habsbusgo era temida pelos franceses. Os tratados também contemplaram a derrota dos Habsburgo e, por consequência, a França ascende como potência continental da época. Além disso, gerou-se um sistema europeu de Estados que perdurou por um século e meio. Com o advento de Westfália surgiram os princípios de um sistema de Estados Nação e de soberania estatal. (MAGNOLI, 2004). Dessa forma a Europa, berço de muitas guerras, passou por um período chamado de “Paz de Westfália”, que na realidade foi uma era de muitos conflitos, dos quais auxiliaram na concepção do equilíbrio de poder entre as nações europeias. Sobre essa questão de equilíbrio no sistema europeu o autor ARON (1986, p. 193) comenta que: 5 Um sistema bipolar como o que se pôde observar na Guerra Fria tem duas superpotências, e as relações entre elas são centrais para a política internacional. Cada superpotência domina uma coalizão de estados aliados e compete com a outra superpotência para influenciar países não-alinhados. (HUNTINGTON, 1999). 36 [...] a política de equilíbrio se reduz à manobra destinada a impedir que um Estado acumule forças superiores às de seus rivais coligados. Todo Estado, se quiser salvaguardar o equilíbrio, tomará posição contra o Estado ou a coalizão que pareça capaz de manter tal superioridade. Um exemplo de equilíbrio de poder foi a derrocada do imperialista Napoleão Bonaparte, que através das guerras napoleônicas estabeleceu hegemonia francesa em grande parte do continente europeu, com isso a Grã-Bretanha coligou-se com outras seis potências, entre elas estavam Rússia, Prússia e Áustria, e traçaram um confronto marítimo estabelecido pelos britânicos, cujo poder naval era considerável, contra o poderio continental liberado por Napoleão. (MAGNOLI, 2004). A hegemonia napoleônica foi desmantelada e é estabelecido um equilíbrio continental de poder, entretanto com a derrota de Napoleão o caminho ficou aberto para a posterior hegemonia mundial britânica nos campos políticos e econômicos, principalmente no século da Revolução Industrial. (MAGNOLI, 2004). Após este episódio, os Estados sentiram necessidade de estabelecer um novo desenho do mapa político da Europa, com isso foi criada uma conferência entre as potências europeias conhecida como Congresso de Viena (1814-1815). A Europa foi então dividida a fim de limitar o poderio francês e privilegiar as potências vitoriosas. Essa nova configuração do continente europeu auxiliou no conceito equilíbrio de poder e na manutenção da ordem continental (MAGNOLI, 2004). A ordem de Viena se manteve de 1815 até 1870 e, os cinco grandes, como ficaram conhecidos também por Concerto Europeu, composto por Grã-Bretanha, Rússia, Áustria, Prússia e posteriormente a França incorporada ao grupo, desejavam a estabilidade e o equilíbrio dentro da Europa. Abafavam qualquer movimento liberal ou social que emergia a fim de manter a ordem e a manutenção da paz no sistema. Porém apoiavam os movimentos independentistas na América Latina, principalmente a Grã Bretanha que em plena Revolução Industrial queria ampliar o mercado consumidor para suas manufaturas. (SARAIVA, 2007). Uma onda revolucionária e nacionalista cresce dentro da Europa em 1840, lutando por democracia, e isto causou certa instabilidade do continente. Porém o movimento não tinha uma unidade internacional e acabou por não produzir resultados imediatos. (SARAIVA, 2007). Entretanto esses movimentos não dissiparam-se, conforme comenta Saraiva (2007, p. 54): 37 O avanço da revolução industrial pela Europa coincidia com essas novas ideias e aspirações, tanto mais que a crise de 1848, sufocada à força, colocara milhões de europeus a caminho da emigração, como excedentes demográficos. Criticava-se a sociedade e o Estado. Três ideias-força europeias fazem curso e afetam as relações internacionais: nacionalismo, democracia e interesse popular. O desequilíbrio agravou-se com a Guerra da Crimeia em 1853, em que a Rússia avançava sobre a região dos Balcãs com interesses comerciais. A França e a Grã-Bretanha entram em conflito com a Rússia a fim de limitar suas intenções sobre o Império Otomano e a guerra se encerra com a assinatura do Tratado de Paris em 1856. A Áustria teve uma pequena participação já que era simpatizante russa e a Itália aparece também no conflito ganhando certa notoriedade. (SARAIVA, 2007). Os italianos então passam por um processo independentista e em 1870 é unificada sob o comando de Cavour e Garibaldi, contando com o apoio da França neste movimento. (SARAIVA, 2007). O mapa geopolítico desenhado pelo Congresso de Viena concedeu a Prússia e a Áustria o Sacro Império, que após a deposição de Napoleão ficou conhecido como a Confederação Germânica, sendo que a Prússia controlava o norte e a Áustria o Sul desta confederação. Assim como a Itália a Alemanha também se unificou, sob o controle de Otto Von Bismack que ascendeu em 1862 como chanceler da Prússia marcou a unificação militar dos alemães. Em 1870 a Alemanha se unifica em uma guerra entre franceses e prussianos e posteriormente anexou Alsácia e Lorena ao seu território. Além disso, coroou seu imperador Guillherme I no palácio de Versalhes, antigo palácio dos reis da França. (MAGNOLI, 2004). Este episódio alemão deixou ferido o orgulho francês e esta mágoa ressuscitaria na Primeira Guerra Mundial. Em pouco tempo a Alemanha emergia como nova potência sobrepondo inclusive a Grã-Bretanha em termos econômicos, pois iniciou seu processo de industrialização tornando-se a maior economia europeia. (MAGNOLI, 2004). O nacionalismo florescia em diversas regiões e principalmente na Alemanha, com sua política externa expansionista que se tornou mais agressiva na virada do século XIX, tanto que em 1893 foi fundada a Liga Pentagermânica cujo objetivo central era lutar pela expansão de seu território na Europa. (MAGNOLI, 2004). Conforme comenta Magnoli (2004, p. 79): O jogo de alianças enrijeceu-se velozmente. Em 1907, formava-se a Tríplice Entente, envolvendo os britânicos, franceses e russos. Isolada, a Alemanha aprofundava sua aliança com a decadente monarquia dual austro-húngara, emprestando-lhe apoio no complexo cenário balcânico. 38 A questão dos balcãs estava sendo um ponto de interesse entre a Alemanha, Rússia e França, entretanto o nacionalismo sérvio pipocava naquela região e apoiados pelos russo emergia um projeto de unificação da Sérvia. Os austro-húngaros tinham grandes ambições pelo local e não desejavam a unidade dos eslavos. O clímax dessa discussão foi o assassinato em 1914 do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro. (MAGNOLI, 2004). Sucessivas guerras foram desencadeadas na Europa em função deste episódio e assim foi iniciada a Primeira Guerra Mundial que durou até o ano de 1917 que foi encerrada com a entrada dos Estados Unidos na guerra contra a Alemanha que entrou em declínio. Os Estados Unidos somente entram na guerra no último ano, pois naquele período a Doutrina Monroe que fora citada pela primeira vez em 1823, ainda pregava que nenhum Estado europeu deveria intervir em assuntos americanos, ao passo que nenhum país americano interviria em assuntos europeus. Razão também de não intervenção, pois os norteamericanos estavam focados nos assuntos da América fomentando as independências das colônias a fim de diminuir a predominância europeia do território e criar uma zona de influência favorável aos seus anseios. (SARAIVA, 2007). O autor Saraiva (2007, p.106) comenta sobre a Doutrina Monroe: [...] em princípio concebida para a defesa da independência dos Estados americanos, transformou-se, na virada do século, em um instrumento de defesa de interesses econômicos norte-americanos contra a concorrência europeia e, também, servia para legitimar as abertas e ocultas intervenções norte-americana na política interna dos Estados latino-americanos independentes. Com isso os estadunidenses conseguiram abrir caminho para uma política externa mais ativa sobre a América Latina, já que os Estados europeus estavam bastante envolvidos com os assuntos dentro da Europa. O fim da Primeira Guerra Mundial trouxe como o Estado responsabilizado por esta guerra a Alemanha que teve que assinar em 1919 o Tratado de Paz de Versalhes em Paris comprometendo-se a tomar uma série de medidas como o desarmamento e indenizações financeiras e materiais, além de terem devolvido os territórios de Alsácia e Lorena à França. A Polônia tornou-se independente o que resultou na conquista de diversos territórios habitados pelos alemães. Este tratado representou a humilhação do povo alemão diante das demais nações. (MAGNOLI, 2004; SARAIVA, 2007). 39 A partir disto nasce um forte nacionalismo na Alemanha e em 1933 Adolf Hitler ascende ao poder reivindicando as terras polonesas. Em setembro de 1939 a o Estado alemão invade a Polônia provocando assim a Segunda Guerra Mundial. (SARAIVA, 2007). A tendência expansionista e imperialista de Hitler fez com que a União Soviética contivesse os nazistas a leste e a oeste os Estados Unidos e a Grã Bretanha impedindo seu avanço. Segundo Magnoli (2004, p. 87): “A última fase da guerra no cenário europeu consistiria numa disputa entre soviéticos, de um lado, e aliados ocidentais, do outro, pela ocupação da Europa centro-oriental.” Finalmente as três potências conseguiram a rendição da Alemanha dada em 1945. (MAGNOLI, 2004). O fim da Segunda Guerra trouxe um clima de competição pelo poder entre as potências daquele período, desta forma dois países já se destacavam, os Estados Unidos com todo seu poderio bélico, sua força militar e seu caráter expansionista, e a União Soviética com sua economia, após a Revolução de 1917, fortalecida pela indústria pesada do petróleo, aço, cimento, ferro e tratores e também com capacidade bélica bastante significativa. Dessa maneira quando a Segunda Grande Guerra chegou ao fim, inicia-se um momento de Guerra Fria, em que o sistema internacional já não é mais multipolar e passa por uma transição para um sistema bipolar, com estes dois principais atores disputando o poder e zonas de influência ao longo do globo. (MAGNOLI, 1988). As potências emergentes da Segunda Guerra Mundial detinham de um forte poder nuclear, a dos Estados Unidos evidentemente superior ao da União Soviética, pois lançara sobre Hiroshima e Nagasaki bombas nucleares ao final da Segunda Guerra, enquanto os soviéticos foram testar sua primeira bomba em julho de 1949. (MAGNOLI, 2004). Para Karnal (2007, p. 192) os fatores que mais influenciaram a aflorar a Guerra Fria foram: Crescentes tensões entre os Estados Unidos e a União soviética, sobre a divisão de poderes políticos e econômicos na Alemanha até o fim dos anos 1940, culminaram na Guerra Fria. Os dois superpoderes e suas alianças rivais disputaram a dominância econômica, política e militar mundial no período pós-guerra. Motivados pela segurança nacional, expansão econômica e vantagem militar internacional, ambos mantiveram controle dos seus aliados e de outras esferas de interesse por meio da força bruta ou da influência econômica. O autor McMAHON (2012, p. 14) entende que as razões para o surgimento de uma terceira guerra: “[...] foram as aspirações, as necessidades, as histórias, as instituições de governos e as ideologias divergentes dos Estados Unidos e União Soviética que transformaram as tensões inevitáveis no confronto épico de quatro décadas [...]”. Todos esses fatores influenciaram para que os ânimos entre ambas pudessem resultar em guerra. 40 O início da Guerra Fria representou para Cuba um cenário muito hostil, que em plena institucionalização de sua Revolução, sofrera muito até conseguir seu reconhecimento efetivo. Com a ascensão de Fidel Castro, um líder que teve o apoio e a simpatia do povo cubano, deixaram os Estados Unidos inquietos, cuja maior preocupação era o alinhamento de Cuba com o socialismo. Por isso, houve várias tentativas de sabotagem ao governo de Fidel por parte dos norte-americanos, como por exemplo, a invasão da Baía dos Porcos, com a justificativa de contenção do comunismo na América. Estas medidas foram baseadas nos princípios da Doutrina Monroe, e os norte-americanos estavam fazendo tudo o que podiam para evitar uma aproximação de qualquer nação americana com a União Soviética ou com o comunismo. (GOTT, 2006). Diante disso muitos esforços foram levantados em prol do alinhamento estadunidense e de Cuba, entretanto esforços foram feitos em vão, pois a cada tentativa Cuba estava cada vez mais próxima da União Soviética e não por interesse próprio, mas sim por falta de opção e por inconveniência dos Estados Unidos em querer tomar o território cubano. Dessa forma, Cuba alinhou-se cada vez mais à União Soviética que tinha muito interesse nesse alinhamento, uma vez que o território cubano estava geograficamente muito próximo dos EUA e poderiam assim tirar muita vantagem disso. E de certa forma foi o que ocorrera no episódio da crise dos mísseis. (GOTT, 2006). A crise dos mísseis instaurada entre EUA, Cuba e URSS foi um dos ápices da Guerra Fria, e acreditava-se realmente que uma Guerra nuclear estava na iminência de ocorrer e o mundo viraria cinzas. (MAGNOLI, 1988). Para os Estados Unidos a aproximação dos soviéticos com os cubanos representava uma grande ameaça no ambiente da Guerra Fria, e este episódio foi um potencializador entre as tensões entre EUA e Cuba, principalmente porquê o Estado cubano tornou-se aliado do polo competidor ao norte-americano e a ilha representava um enclave soviético localizado na região sob hegemonia estadunidense. Este cenário alterou-se com o término da Guerra Fria, como pode ser acompanhado no próximo capítulo. Cuba não representaria mais uma ameaça aos norteamericanos, pois com o desmantelamento da União Soviética os Estados Unidos emergem como potência hegemônica. É analisado também o período do pós-Guerra Fria e o que representou de impacto para Cuba, bem como, o que o fim da União Soviética trouxe de benefícios e malefícios para Fidel e o povo cubano. 41 3 AS RELAÇÕES ENTRE ESTADOS UNIDOS E CUBA NO PÓS-GUERRA FRIA Neste capítulo é abordada a relação entre os Estados Unidos e Cuba no período posterior a Guerra Fria, identificando as dificuldades dos soviéticos e dos cubanos em manter seu regime diante da superpotência emergida com o fim da Guerra Fria e com seu agressivo modelo capitalista. É analisado também como Cuba reestruturou-se diante do novo cenário gerado com o pós-guerra e com a globalização mundial. 3.1 O DESMANTELAMENTO DA UNIÃO SOVIÉTICA E AS CONSEQUÊNCIAS PARA O GOVERNO CUBANO A Guerra Fria perdurou até o final do século XX e seu final simbólico se deu com a queda do muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, entretanto o desmantelamento da União Soviética e a implosão do socialismo marcou o fim da ideologia que acompanhou este período por mais de quatro décadas. Dessa forma nem o socialismo, nem a União Soviética representavam mais uma ameaça aos Estados Unidos e seus países aliados. (MCMAHON, 2012). Anteriormente ao fim da Guerra Fria, em março de 1985, Mikhail Gorbachev ascende ao poder como secretário-geral do Partido Comunista Soviético e com ele trouxe algumas mudanças para a União Soviética que marcaram os anos finais da Guerra Fria. Ele mudou a concepção da relação soviético-americana, além de privar os Estados Unidos do inimigo, ou seja, a União Soviética, país o qual os americanos procuraram frustrar nos últimos 45 anos. Gorbachev pôs fim a corrida armamentista, pois acreditava que isso estava gerando um fardo muito grande à economia soviética e não acrescentava muito na questão da segurança nacional. Além disso, também implementou as reformas política e econômica no país, conhecidas como glasnost e perestroika respectivamente. (MCMAHON, 2012). A glasnost tratava-se de reformas no sistema político e ideológico com o objetivo de maior transparência nas ações do governo a fim de promover a democratização e a liberdade de expressão da sociedade. Já a perestroika tratava-se de reformar a economia do país, que era atrasada em relação ao ocidente capitalista, introduzindo mecanismos de mercado com a finalidade de auxiliar na estagnada economia socialista e no campo industrial soviético (SILVA, 2012). 42 As reformas propostas por Gorbachev não foram suficientes para salvar a União Soviética, pois os problemas dos soviéticos eram bem maiores do que se imaginava, havia uma ideologia muito forte e enraizada além dos desafios do próprio socialismo que foi construído ao longo do tempo. Outro fator que Silva (2012, p.112) acredita ter sido um dos propulsores na derrocada soviética foi: “o desconhecimento da mentalidade das massas que, esgotadas ao longo de décadas de construção do socialismo e aliadas à propaganda e a comparação com o ocidente, desenvolveram valores pró-ocidentais e antissocialistas”. Dessa forma a população começou a enxergar o mundo fora do campo socialista e inicia-se um processo de inserção na sociedade capitalista. (SILVA, 2012). O cenário internacional alterou-se no período pós-Guerra Fria, pois os Estados Unidos emergem como uma potência hegemônica, e o sistema internacional torna-se unimultipolar6. Desta maneira trazendo muitos desafios não somente a Cuba, mas também aos países socialistas aliados a URSS. (SILVA, 2012). Entre os anos de 1975 e 1985 Cuba reorienta sua economia dando maior ênfase no desenvolvimento do setor industrial, principalmente o de bens de produção. Houve também investimento no setor tecnológico dando prioridade a educação e em pesquisa e desenvolvimento em parceria com programas de capacitação da União Soviética. Isso fez com que o país melhorasse sua capacidade de produção de bens de consumo diversificando assim suas exportações. (AYERBE, 2004). Esse processo de industrialização de Cuba levou um aumento das importações de equipamento e insumos, o que deixou sua balança comercial deficitária, pois as exportações não estavam compensando as importações. A base de sua economia era o açúcar, e sua dependência em relação a este produto era grande, principalmente para manter a balança comercial sadia. Entretanto na década de 70 e 80 Cuba sofre com a instabilidade dos preços em função dos vários concorrentes das regiões tropicais e subtropicais que cultivavam também esta mercadoria. Isto gerou uma instabilidade nos preços do açúcar fez com que o país contraísse empréstimos internacionais e aumentasse seu comércio com os países do Conselho de Ajuda Mútua Econômica - CAME7, chegando a representar 80% do total. (AYERBE, 2004). 6 Um mundo unimultipolar, é aquele que a resolução chave dos assuntos internacionais requer a ação de uma única superpotência, a qual tem o poder do veto para estes assuntos chaves somado a combinação de outros grandes Estados atuantes. (HUNTINGTON, 1999) 7 O CAME significa Conselho de Ajuda Mútua Econômica, também conhecido como COMECOM (Council for Mutual Economic Assitance), criado em 1949 pela União Soviética, formando uma união econômica com a Tchecoslováquia, a Hungria, a Polônia, a Romênia e a Bulgária, bem como, a partir de 1950, com a República Democrática Alemã e a Albânia (BANDEIRA, 2009, p.620). 43 O ano de 1986 representou para Cuba um grande desafio, pois sua dívida externa aumentou consideravelmente devido a elevação das taxas de juros flutuantes aos quais os empréstimos solicitados aos bancos internacionais eram submetidos. Cuba declara neste ano moratória de sua dívida que por consequência imediata teve a supressão de qualquer outro empréstimo. (SADER, 2001). A orientação de sua economia para o CAME e a URSS neste período ficou mais acentuada, porém nesta mesma época o CAME foi extinto e a União Soviética já apresentava uma crise interna por consequência da Guerra Fria. (SADER, 2001). O ano de 1990 foi o período em que Cuba realmente sentiu os impactos do fim da Guerra Fria. No setor de petróleo o abastecimento em 1989 era de 13 milhões de toneladas preços muito favoráveis, em 1990 esta quantidade caiu para 9,9 milhões de toneladas e em 1993 foram fornecidos a Cuba somente 5,3 milhões de toneladas. Além deste, o setor açucareiro que era a base da economia cubana e que a União Soviética importava a preços diferenciados do mercado também foi prejudicado, que em 1992 passaram a vender a 200 dólares por tonelada enquanto em 1990 o preço médio vendido para os soviéticos era de 602 dólares por tonelada. O desastre econômico provocado pelo açúcar foi o colapso principal para a economia de Cuba. (GOTT, 2006). Além do combustível houve também a carência de outros produtos como fertilizantes químicos, rações animais, peças de reposição e alimentos. O setor alimentício representava em 1989 12 por cento das importações enquanto em 1993 passa a ser prioridade, representando 25 por cento do total gasto das importações. (GOTT, 2006). Com a interrupção do petróleo fornecido pela União Soviética nos anos 90, os cubanos sofreram cortes de gás, água e eletricidade. Uma nova refinaria de petróleo que seria aberta teve sua inauguração postergada e os agricultores tiveram que retroceder em seus processos produtivos voltando a utilizar tração animal para o cultivo. (GOTT, 2006). Neste sentido Gott (2006, p. 325) comenta que: As realizações históricas da Revolução socialista – educação e assistência médica gratuitas – seriam preservadas, mas o programa de austeridade inevitavelmente exercia pressão sobre a grande massa da população. Alimentos e roupas passaram a ser racionados, indústrias dependentes de importações foram fechadas e milhares de trabalhadores urbanos foram mandados para o campo, para se engajar na tarefa de uso intensivo da mão-de-obra, a fim de produzir comida. Conforme demonstrado acima, as consequências do fim da União Soviética representou para Cuba um grande enfraquecimento de sua economia que afetava diretamente 44 os cidadãos cubanos, desta forma houve um aumento expressivo da emigração ilegal para os Estados Unidos. Em agosto de 1994 o governo de Bill Clinton aprovou uma medida de concessão de cidadania aos cubanos que por qualquer motivo desejavam sair da ilha, o que intensificou ainda mais a saída de cubanos rumo as EUA. Esta medida agravou ainda mais a situação cubana. (AYERBE, 2004). Entretanto um acordo entre Washington e Cuba foi feito para minimizar a crise de emigração, os Estados unidos concordaram em fornecer 20 mil vistos por ano aos cubanos que desejavam sair da ilha e em contrapartida o governo cubano impediria a saída de novos emigrantes ilegais, amenizando assim esta situação (GOTT, 2006). Os anos 90 foram marcados pelas tentativas norte-americanas em continuar realizando ações para a destruição do regime cubano. Porém a indagação que se faz é, qual o real motivo para os Estados Unidos continuarem com sua política de derrotar o governo cubano, uma vez que a Guerra Fria já havia chegado ao fim e o inimigo (socialismo) já havia sido arrasado, e o perigo já não era mais iminente? Uma explicação considerável seria o fato de os estadunidenses tentarem compensar os danos causados pela implementação das medidas de Castro frente às empresas norte-americanas, ou seja, as expropriações de terra e ao domínio das empresas estrangeiras que se localizavam em território cubano, cuja perda somada desde 1959 chega a U$60 bilhões. (AYERBE, 2004). Outra razão para tal postura foi com o declínio da URSS e do socialismo os EUA emergem como uma potência hegemônica neste período, e procuraram desenvolver e dar ênfase na abertura econômica das nações, na disseminação da democracia e no multilateralismo, algo que Cuba resistia desde então. (SILVA, 2012). Os Estados Unidos continuaram fechando o círculo de Cuba para promover uma liberalização no país, entretanto Cuba sempre fora um país profundamente marcado pela dependência econômica de outros Estados. Isto se deve ao fato de ter sido colônia espanhola, dependendo por sua vez da metrópole, posteriormente com a independência da ilha sua economia se voltou para os norte-americanos. Por essa razão uma promoção de liberalização econômica só iria agravar mais a situação da ilha. Com o episódio da Revolução Cubana a dependência se voltou aos soviéticos que deram o apoio financeiro e possibilitaram as trocas comerciais. Pode-se perceber então uma transferência da dependência cubana (SILVA, 2012). Dessa forma com a queda da União Soviética o Estado cubano teve que se reorientar novamente, porém desta vez não procurou um único país aliado, Cuba se 45 reorganizou internamente, mudou alguma de suas políticas e não deixou a economia na mão de somente uma indústria, como era o caso do açúcar. (GOTT, 2006). Conforme Gott (2006, p. 325) menciona: Cuba tinha de planejar um futuro em que o açúcar não seria mais a sua principal fonte de renda, e o governo logo tomou a decisão inevitável, uma decisão que todas as ilhas do Caribe que enfrentaram situação semelhante tinham tomado: Havana buscaria satisfazer a demanda crescente dos consumidores europeus e canadenses de praias ensolaradas para as férias. O governo cubano então abriu as portas para o turismo, que se tornaria a principal fonte de moeda estrangeira da ilha. A indústria do turismo começou a mover a economia do país e o governo investiu grandes recursos para este fim. (GOTT, 2006). Além disto, outras significativas reformas aconteceram no modelo cubano. As companhias estatais poderiam fazer parcerias com empresas estrangeiras, assim o monopólio do Estado sobre o comércio exterior foi extinto e a Constituição foi modificada a fim de possibilitar a formação de joint ventures com sócios internacionais. (GOTT, 2006). A nova lei nº 77 foi aprovada pela Assembleia Nacional e em setembro de 1995 foi promulgada com a finalidade de promover o investimento estrangeiro. Uma empresa estrangeira poderia possuir 49% do controle da companhia, contratar mão-de-obra estrangeira, se isentar de alguns impostos e remeter de volta ao país de origem seus lucros (GOTT, 2006). Além disso, Cuba permitiu a estas empresas estrangeiras a participação em todos os setores da economia além de firmar o compromisso da não expropriação. Os únicos setores que ficaram protegidos sob poder do Estado foram a educação, a saúde e a segurança. (BANDEIRA, 2009). Outras medidas foram tomadas para a liberalização da economia, como a transferência de terras, centrais de açucareiras e fábricas para os cidadãos a fim de desenvolver a economia e o lado social do país. Os camponeses foram autorizados a venderem os excedentes de sua produção no mercado agropecuário, e o mercado de artesanatos e produtos industriais também foi permitido. Ademais, o trabalho por conta própria em alguns setores, a circulação do dólar foi legalizada e alguns setores da economia foram privatizados, como o de telefonia que passou a ter 49% do controle por fundos mexicanos. (BANDEIRA, 2009). O governo também necessitava diversidade de produtos em seu comércio exterior para que não dependesse somente do açúcar, por isso incentivou a indústria da biotecnologia e 46 da engenharia genética, com a produção de fármacos, medicamentos e outros itens com maior valor agregado. (BANDEIRA, 2009). Essa abertura da economia de Cuba foi crucial para a recuperação econômica da ilha, e o governo se deu conta de que a reestruturação do capitalismo em Cuba era inevitável. Não somente Cuba, porém outros países comunistas tiveram que reorientar suas economias e se adaptarem a essa nova realidade, um mundo mais globalizado e liberal. (GOTT, 2006). Contudo os presidentes norte-americanos que governaram o país de 1989 a 2009, sendo eles George Herbert Walker Bush (1989-1993), Bill Clinton (1993-2001) e George W. Bush (2001-2009) mantiveram uma postura bastante rígida em relação a Cuba e ao embargo a ilha. E isto dificultou bastante a recuperação econômica cubana, pois em 1992 a Lei Torricelli foi adotada com a finalidade de dificultar o comércio de Cuba com outros países. (GOTT, 2006). Gott (2006, p. 340) comenta sobre esta lei: [...] empresas subsidiárias de companhias norte-americanas seriam proibidas de comercializar com Cuba, e navios estrangeiros que entrassem em portos cubanos seriam proibidos de carregar ou descarregar em portos norte-americanos por um período de seis meses. Dessa forma inibia os países e empresas que tinham negócios com os Estados Unidos a comercializarem com a ilha também. (GOTT, 2006). No ano de 1996, foi criado outro projeto de lei chamado a Lei para a Liberdade e a Solidariedade Democrática Cubana, e suas cláusulas iam mais afundo comparada a Lei Torricelli. Esta lei também era conhecida como Helms-Burton e previa o pagamento de indenizações aos norte-americanos que tiveram suas terras expropriadas, e se qualquer empresa que negociassem terras que tivessem pertencido a algum cidadão estadunidense e que foram tomadas pelo governo cubano seria processada nos tribunais americanos. (GOTT, 2006). Entretanto esta lei é considerada como uma violação do direito internacional, pois tem caráter extraterritorial e retroativo, ou seja, estaria sendo aplicada fora da jurisdição norteamericana e sobre um fato que ocorreu no passado em que esta lei nem mesmo existia. (LAMRANI, 2013). Em 2004 sob a administração de Bush filho, foi implementada a Comissão de Assistência a uma Cuba Livre, esta medida previa que os cubanos que moravam nos Estados Unidos tinham direito de viajar à Cuba somente 14 dias a cada três anos. E quem conseguisse essa permissão de voltar para visitar sua família não poderia gastar mais do que 50 dólares 47 diários na ilha. Esta sanção era restrita aos cubanos, ou seja, qualquer outro cidadão ou residente norte-americano não tinha restrição alguma. As remessas de dinheiro também eram limitadas a 100 dólares mensais. (LAMRANI, 2013). Lamrani (2013) exemplifica algumas das repercussões destas sanções: Em 2006, a empresa japonesa Nikon se negou a entregar o primeiro prêmio – uma câmera – a Raysel Sosa Rojas, jovem cubano de 13 anos que sofre de uma hemofilia hereditária incurável, que ganhou o XV Concurso Internacional de Desenho Infantil do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A multinacional nipônica explicou que a câmera digital não poderia ser entregue ao jovem cubano porque continha componentes estadunidenses. E as sanções não pararam por aqui, muitas empresas e bancos evitavam realizar negócios com Cuba devido a esta imposição política e econômica dos Estados Unidos. Apesar dos norte-americanos e outras nações que são contra o regime cubano condenarem a ilha por sua forma de governo, muitos aspectos positivos para a população e para o lado social dos cidadãos este regime trouxe. A globalização trouxe também bastantes desafios não somente para Cuba como para as demais nações socialistas que tiveram que remodelar sua forma de governo, esses temas serão abortados no capítulo subsequente. O próximo tópico traz os desafios dos países socialistas frente a globalização, ao fim da União Soviética, e o fim do socialismo, com o foco principal nos impactos destes temas sobre Cuba. 3.2 A GLOBALIZAÇÃO E O FIM DO SOCIALISMO O fim do socialismo está ligado a uma série de fatores que se sucederam ao longo do século XX, nos anos 80 a crise da dívida externa dos países do Terceiro Mundo (América Latina, Ásia do Sul, Médio Oriente e África), o lançamento do programa armamentista, do presidente norte-americano da época Reagan, que ficou conhecido como “Guerra nas Estrelas”, o que fez com que a URSS entrasse nessa competição militar e tecnológica, causando um fardo econômico insustentável para a potência socialista. (ALMEIDA, 2007). Além disso, as políticas de Gorbachev já mencionadas, Perestroika e Glasnost, e a própria globalização, ou seja, a integração de mercados entre as nações facilitaram e contribuíram para o esfacelamento do socialismo. (ALMEIDA, 2007). 48 Conforme Almeida (2007, p. 257) menciona: A liberalização do regime soviético, a partir de 1985, com Gorbachev, e o abandono progressivo do comunismo nos países da Europa Central e Oriental, seguidos do próprio desaparecimento da União Soviética, em 1991, introduziram a mais formidável transformação no sistema de relações internacionais tal como conhecido desde o final da Segunda Guerra Mundial [...]. As transformações do sistema internacional no período que sucede a Guerra Fria dá início a uma fase em que as grandes potências, Rússia e Estados Unidos, dividem espaço com outros atores mundiais, conforme foi a criação do Grupo dos Sete, conhecido como o G7, de caráter econômico, composto pelos países EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Canadá, posteriormente incluindo a Rússia transformando assim no G-8. (ALMEIDA, 2007). No âmbito político o Pacto de Varsóvia8 e a OTAN9, os dois grandes blocos militares, já não correspondiam mais na atuação da política mundial, sendo substituídos pelos grandes atores do cenário internacional. A zona de influências caracterizava o sistema das relações internacionais durante a Guerra Fria, entretanto, com o seu fim continuou a ser adotada essa forma de política, porém oferecia uma só forma de organização política, a democracia liberal. (ALMEIDA, 2007). A crise do autoritarismo não teve início com a Perestroika de Gorbachev ou simplesmente com a queda do Muro de Berlim, a transformação ocorreu ao longo dos anos e em diversos países como foi o caso de Portugal que se tornou uma democracia em 1976, a Grécia em 1967 e a Espanha em 1977. Na América Latina, o Peru elegeu democraticamente seu governo em 1980, em 1982 foi a vez da Argentina elegendo Alfonsin e posteriormente Uruguai, Brasil e Chile nos anos de 1983, 1984 e 1990 respectivamente. (FUKUYAMA, 1992). Sendo assim, na visão de Fukuyama,, as democracias ganham espaço à medida que os regimes autoritários, como o caso do regime socialista, se mostram ineficientes como forma de governo. Dessa forma com a vitória da democracia liberal sobre o fascismo e o 8 O Tratado de Amizade, Cooperação e Ajuda Mútua do Leste, ou Pacto de Varsóvia, foi assinado devido a uma reação à inclusão da Alemanha Ocidental na OTAN. Foi criado em 1955 liderado pela União Soviética, e uniram-se ao bloco a Polônia, a Tchecoslováquia, Alemanha Oriental, Hungria, Romênia, Bulgária e Albânia. Seu objetivo era uma aliança regional a fim de garantir a segurança coletiva dos países satélites. (KOKOTOWSKI, 2016) 9 A OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, criada em 1949 com o objetivo de garantir a paz e a segurança da comunidade das nações. A organização previa um acordo de ajuda mútua no caso de uma agressão por terceiros. (MAREK, 2016). 49 comunismo posteriormente, não existiria uma forma alternativa para o capitalismo, representando assim o fim da história. (FUKUYAMA, 1992). O Estado Cubano foi um dos que resistiram à mudança ideológica e econômica que emergia nesta época, entretanto foram observadas no tópico anterior algumas das alterações que sofreu este regime na década de 90 para se adaptar as transformações das relações internacionais neste período. (ALMEIDA, 2007). A década de 90 foi marcada pela globalização de uma forma plena, para George Soros, que analisa este fenômeno sob a ótica do desenvolvimento dos mercados financeiros globais e do crescimento das empresas transnacionais. Ele considera recente o processo de globalização e que se intensificou com o fim do império Soviético. (SOROS, 2003). A principal característica da globalização é a liberalização do capital financeiro, que por sua vez é o elemento substancial para a produção, e os países buscam atrair o capital para investir em tecnologia e produtos, entretanto isto causa uma inibição ao Estado para regulamentar esse capital. (SOROS, 2003). Segundo o pensamento de Soros (2003, p.45): Esse desfecho não é acidental. Os objetivos do governo Reagan, nos Estados Unidos, e do governo Thatcher, no Reino Unido, consistiram exatamente em reduzir a capacidade do Estado de interferir na economia, e a globalização foi muito útil para esse propósito. Principalmente com o fim da União Soviética essa propaganda para uma mundialização do capitalismo se intensificou, entretanto houveram países, assim como Cuba, que rejeitaram essa forma de governo, pois como Soros (2003, p. 47) aborda “a globalização provocou má distribuição dos recursos entre bens privados e bens públicos. Os mercados são eficazes na criação de riqueza, mas não servem para cuidar de outras necessidades sociais.” (SOROS, 2003). Em se tratando das questões sociais, Cuba se preocupava bastante com o setor público referente a saúde, a educação, cultura e o bem estar de uma maneira geral da população, por isso as ideias castristas em relação a abertura de mercado eram restritas. 50 Segundo dados da UNESCO10 - United Nation Educational, Scientific, and Cultural Organization, somente Cuba na região da América Latina e do Caribe atingiu os 6 objetivos do programa Educação para Todos estabelecido em 2000 pela agência e com término em 2015. Os seis objetivos estabelecidos foram: 1 - Expandir a educação e os cuidados na primeira infância, especialmente para as crianças mais vulneráveis; 2 - Alcançar a educação primária universal, particularmente para meninas, minorias étnicas e crianças marginalizadas; 3 - Garantir acesso igualitário de jovens e adultos à aprendizagem e a habilidades para a vida; 4 - Alcançar uma redução de 50% nos níveis de analfabetismo de adultos até 2015; 5 - Alcançar a paridade e a igualdade de gênero; 6 - Melhorar a qualidade de educação e garantir resultados mensuráveis de aprendizagem para todos. (UNESCO, 2015). De acordo com dados da UNICEF11 - United Nations International Children’s Emergency Fund, na área da educação, a taxa de alfabetização de jovens de 15 a 24 anos (2009-2013) é de 100%. Além disso, o percentual de crianças inscritas na escola primária (2008-2013) é de 96,5%. Esses números mostram o alto investimento de Cuba na educação da população, que sempre foi tratada como prioridade apesar de ter enfrentado momentos economicamente difíceis. (UNICEF). Em se tratando da saúde, o governo cubano também não deixa a desejar, possui um dos sistemas mais eficientes do mundo, que inclusive é um dos pontos fortes do seu regime. O Estado possui a metodologia de medicina preventiva, que de acordo com a OMS12 – Organização Mundial da Saúde, o formato da saúde pública em Cuba é um modelo de sistema de saúde para todos os países do globo. (LAMRANI, 2014). Em 2012 Cuba foi considerado o país com o maior número de médicos por habitantes, devido a seu investimento na área da medicina e na formação de médicos. No ano de 2013 Cuba fechou com a taxa de mortalidade infantil mais baixa de sua história, com 4,2 mortos para cada mil, além de ser mais baixa que do próprio Estados Unidos e do Canadá 10 A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) foi criada em 16 de novembro de 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de garantir a paz por meio da cooperação intelectual entre as nações, acompanhando o desenvolvimento mundial e auxiliando os EstadosMembros – hoje são 193 países – na busca de soluções para os problemas que desafiam nossas sociedades. É a agência das Nações Unidas que atua nas seguintes áreas de mandato: Educação, Ciências Naturais, Ciências Humanas e Sociais, Cultura e Comunicação e Informação. 11 UNICEF é uma das principais agências humanitárias e de desenvolvimento que trabalha globalmente em prol dos direitos de cada criança. Os direitos da criança começam com abrigo seguro, nutrição, proteção contra desastres e conflitos, além de atravessar o ciclo de vida: cuidados pré-natais para nascimentos saudáveis, água potável e saneamento, saúde e educação. 12 A Organização Mundial da Saúde – OMS, tradução do inglês WHO – World Health Organization, é uma agência da ONU especializada em saúde com o objetivo de desenvolver ao máximo o nível de saúde das nações. Trabalha com escritórios em mais de 150 países e lado a lado com os governos e outros parceiros para assegurar o nível mais alto de saúde para todos. (WHO – World Health Organization). 51 também. O país também conta com uma expectativa de vida dos cidadãos de 78 anos. (LAMRANI, 2014). De acordo com dados da OMS, Cuba recebeu em 2015 a validação da Organização de ser o primeiro país a eliminar a transmissão de mãe para filho de HIV e de Sífilis. Segundo Carissa F. Etienne (2015), Diretora da Organização Panamericana de Saúde13 (OPS) comenta que: “O êxito de Cuba mostra que o acesso universal e a cobertura universal de saúde são factíveis e de fato são a chave do sucesso, inclusive contra desafios tão complexos como o HIV.” Trata-se de uma grande conquista para um país que mesmo com todas as limitações impostas pelo embargo estadunidense contra a ilha se mostra eficiente nas questões sociais. (LAMRANI, 2014; WHO, 2015). Pode-se observar através desses dados, que a Revolução Cubana e as melhorias implementadas por Fidel Castro desde então trouxeram bons frutos para seus cidadãos, melhorando a qualidade de vida da população, entretanto a ilha sofreu muito com a limitação de recursos oferecidos por outras nações devido ao embargo econômico e ao seu governo de caráter socialista. Com o fim da União Soviética, Castro se viu obrigado a tomar medidas para a recuperação econômica do país, os países subdesenvolvidos assim como Cuba sabiam das dificuldades que enfrentariam frente a uma liberalização e democratização de suas economias, pois os países de terceiro mundo que ainda não tem sua industrialização plena ficam suscetíveis as agressões dos países desenvolvidos e industrializados, prejudicando assim seus setores econômicos internos. Aos poucos o sistema cubano foi sendo remodelado e já no século XXI, com a saída de Fidel do poder, Cuba promove uma abertura política e econômica e uma possível negociação com os Estados Unidos para o início de uma nova era, a reaproximação entre as duas nações e a possibilidade do fim do embargo. O próximo tópico trata de como foi o início de todo este processo. 13 A Organização Pan-Americana da Saúde é um organismo internacional de saúde pública com um século de experiência, dedicado a melhorar as condições de saúde dos países das Américas. A integração às Nações Unidas acontece quando a entidade se torna o Escritório Regional para as Américas da Organização Mundial da Saúde. (ONU). 52 3.3 AS RELAÇÕES ENTRE ESTADOS UNIDOS E CUBA NO SÉCULO XXI O século XXI inicia-se e Cuba começa seu moroso processo de recuperação econômica, como informado anteriormente, através do turismo e abrindo as portas de Havana e de suas praias paradisíacas para turistas do mundo inteiro, cuja presença dos norteamericanos também era bastante intensa. (BANDEIRA, 2009). Nos Estados Unidos, o sucessor de Bill Clinton na Casa Branca é George Walker Bush do partido Republicano, que assume o poder em Janeiro de 2001, em uma disputa com o candidato Al Gore do partido Democrata. Em sua campanha eleitoral de 1999, segundo o autor Fonseca (2008, p. 147): “prometeu devolver à América Latina o lugar devido entre as prioridades da agenda internacional americana”. Esta promessa deixou a população americana esperançosa, pois a hostilidade norte-americana com relação a América Latina perdurava por muitos anos. (FONSECA, 2008). O mandato de Bush iniciara-se e a aproximação com a os países latino americanos ficou somente na promessa, além disso, foi em seu governo que o afastamento da região se acentuou ainda mais. Entretanto para se eleger como presidente, Bush fez tal promessa a fim de conquistar votos dos latinos que habitavam os Estados Unidos para se eleger afim de ganhar as eleições, e no final sua aposta deu certo. (FONSECA, 2008). Essa falta de compromisso com a América Latina também pôde ser evidenciada devido aos ataques de 11 de Setembro, Bush já nos primeiros meses de governo enfrentou estas situações críticas e adversas. Este evento desencadeou a chamada guerra ao terror implementada pelo presidente norte-americano contra o terrorismo em âmbito mundial. Deixando assim sua agenda focada para as regiões do Oriente Médio, principalmente no Iraque e Afeganistão. (BANDEIRA, 2009). Segundo Santos (2008, p.12) comenta sobre a administração Bush: Sob o manto [...] do imediatismo estratégico, aplaudido por todos – declaração da guerra global ao terrorismo (gwot, na notação inglesa) e imediata invasão do Afeganistão, apadrinhada pelas Nações Unidas –, continuaram a movimentar-se as correntes estratégicas profundas que tinham emergido com o final da guerra fria, agora ao modo duro e agressivo de uma Administração que não procurava dissimular a sua natureza imperial. Correntes que visavam: reforçar o poder dos EUA, em relação a todos quantos pudessem vir a desafiá-los, com especial atenção ao poder crescente da China; tinham em vista explorar o sucesso da vitória na Guerra Fria (agora cercando a Rússia por leste, na Ásia Central); e desenvolver estratégias que garantissem o acesso controlado dos combustíveis fósseis. 53 Estes episódios intensificaram a recessão global, afetando principalmente a economia cubana que nesta época dependia fortemente do turismo, sofrendo então uma queda das visitas a lazer na ilha. Segundo Bandeira (2009, p. 670): “A receita do turismo caiu cerca de 5% [...] segundo o Banco Central de Cuba. E a perspectiva era de que se reduzisse, juntamente com a quantidade de turistas, no ano de 2002”. Além do turismo, os preços do níquel e do açúcar caíram no mercado internacional, prejudicando ainda mais a economia de Cuba. Outros fatores foram o furacão Michelle que afetou também a ilha caribenha, e a queda dos investimentos externos diretos, que representou uma redução de 91% de recursos à Cuba. (BANDERIA, 2009). O governo venezuelano de Hugo Chávez teve um papel fundamental para evitar o agravamento da crise em Cuba. Os países assinaram um acordo para o abastecimento de petróleo venezuelano a preços especiais e em troca Castro enviou médicos e técnicos para seu parceiro comercial. (BANDEIRA, 2009). Além da Venezuela, Cuba também contou com outro parceiro estratégico – a China – que se manifestou interessada em trocas comerciais com a ilha. De acordo com Bandeira (2009, p. 688): “O estreito intercâmbio comercial e a intensa cooperação com a Venezuela, que substituiu a União Soviética como seu principal parceiro, deram novo alento à economia de Cuba. Mas a China também contribuiu para impulsionar seu desenvolvimento”. Neste sentido, em novembro de 2004, Cuba e China firmaram dezesseis protocolos comerciais e isto alavancou a economia cubana. Empresas chinesas e venezuelanas dos mais variados setores (petróleo, níquel, eletrônica e informática) instalaram-se em Cuba, e isso fez com que seu PIB crescesse de 1,8% e 4,8% nos anos de 2002 e 2003 respectivamente, para 5,4% em 2004 e 11,8% em 2005. (BANDEIRA, 2009). Com base nisto Cuba dá um salto no ano de 2005, e no ano seguinte promove um acordo inédito com o Mercosul, concedendo preferências tarifárias com o intuito de gerar maiores trocas comerciais entre as regiões. Este episódio soou para os Estados Unidos como uma ofensiva, pois o embargo econômico mantido por eles já não estava surtindo o efeito esperado, ou seja, o isolamento de Cuba a fim de que esta se convertesse em uma democracia liberal e no governo Bush essa convicção estava cada vez mais evidente. (BANDEIRA, 2009). Em seu primeiro mandato na Casa Branca, o presidente Bush pouco fez em relação a Cuba e a América Latina em si, pelo contrário, com relação ao Estado cubano tentou de várias maneiras a derrubada de Castro, com sequestro de aviões e lanchas a fim de 54 desestabilizar a ilha, e isto deixou o clima ainda mais hostil entre os dois países. (BANDEIRA, 2009; FONSECA, 2008). Já no segundo mandato, o presidente norte-americano adota um caráter menos agressivo com relação a América Latina, e a preocupação referente a segurança energética do país tornou possível a aproximação com os países latino-americanos. Entretanto a sua política externa totalmente voltada a guerra contra o terrorismo, a segurança dos Estados Unidos, a centralização norte-americana no sistema internacional e ao imperialismo estadunidense, ofuscou suas políticas relacionadas a aproximação com os latinos. (FONSECA, 2008). Bush adota uma doutrina baseada na Estratégia de Segurança Nacional (ESN), ou seja, preservar o domínio supremo dos Estados Unidos com a finalidade de expandir sua unipolaridade14 (herança do pós-Guerra-Fria). Esta postura já era evidenciada no governo de Bill Clinton, garantindo um domínio pleno e almejando tornar a América uma nação indispensável. Conforme destaca Rato (2008, p.36): Durante a campanha eleitoral, o candidato republicano sinalizava que pretendia uma política externa mais contida, menos intervencionista do que a abordagem clintoniana. Apelou a uma postura externa mais humilde, levantou dúvidas quanto à permanência de soldados americanos nos Balcãs e criticou a prioridade atribuída pela Administração democrata ao intervencionismo humanitário e às tarefas de nation building. Em contraste com Clinton [...], Bush anunciava uma política externa fundamentada em princípios e premissas realistas, pautada pela prudência da atuação e a humildade da ambição. Tudo mudou com o 11 de Setembro. Bush rapidamente definiu uma política externa transformativa que, em traços gerais, se assemelhava às orientações gizadas por Clinton [...]. Bush efetivamente recupera a perspectiva do seu antecessor relativamente à democratização, ao uso da força, ao problema da proliferação de armas de destruição maciça, aos estados párias e à reconstrução nacional (nation building). A política de Bush, após sua eleição, se tornou conveniente ao tipo de partido ao qual ele pertencia, os Republicanos, que possuem uma filosofia mais conservadora tanto nas questões fiscais como sociais. Seus ideais são centralizados em um governo limitado e com a promoção de direitos individuais e de justiça e também no incentivo a uma forte defesa nacional. Possuem características contra: o controle de armas entre os civis, a imigração sem restrição, a taxação progressiva, a legalização de casamento do mesmo sexo e a uma assistência médica universal amparada pelo governo, pois preferem o sistema de saúde privado. Além também de serem a favor de uma concorrência de livre mercado, da 14 Um sistema unipolar possui somente uma superpotência, nenhuma outra grande potência significativa e muitos poderes menores. Como resultado, a superpotência possui o poder de resolver sozinha questões internacionais de grande relevância e nenhuma combinação de outros estados teria o poder de impedi-la de fazê-lo. (HUNTINGTON, 1999) 55 desregulamentação das corporações e da diminuição da taxação para empresas e para os ricos. (INSIDEGOV, 2016). Os democratas, ao contrário dos republicanos, tendem a ser mais progressistas propondo um governo mais robusto com a promoção da comunidade e da reponsabilidade social. Eles são a favor do controle de armas, de um sistema de saúde suportado pelo governo, taxação progressista, ou seja, os ricos devem contribuir mais para a economia. São contra a restrição da imigração e a pena de morte, além de apoiarem a regulamentação das empresas e uma defesa militar limitada, pois acreditam que a paz pode se alcançada pela construção das relações entre as nações. (INSIDEGOV, 2016). Neste sentido, pode-se observar uma maior flexibilização em relação aos democratas, essas diferenças podem ser claramente observadas entre os presidentes norte-americanos George W. Bush (2001-2009) e seu sucessor, o atual presidente Barack Obama (2009-2017). Principalmente no que diz respeito a América Latina e a reaproximação com o Estado cubano. Este é o tema abordado no próximo capitulo, como objetivo central deste trabalho, em tratar da política externa estadunidense no período do governo de Obama e quais foram os benefícios para as relações exteriores com Cuba. 56 4 A REAPROXIMAÇÃO CONTEMPORÂNEA ENTRE ESTADOS UNIDOS E CUBA Este capítulo aborda o tema principal deste trabalho, sobre os principais fatores que influenciaram na reaproximação de Estados Unidos e Cuba. Primeiramente é comentado sobre o perfil do atual presidente norte-americano Barack Obama, suas expectativas e as propostas do seu mandato com relação a Cuba. Posteriormente é levantado e analisado os principais motivos que impulsionaram o reestabelecimento das relações diplomáticas e a flexibilização do embargo. Por fim, foi feito um resgate de como era e como ficou o embargo e quais as perspectivas para o próximo presidente estadunidense que assumirá o poder em 2017. 4.1 A ASCENSÃO DE BARACK OBAMA NO GOVERNO NORTE-AMERICANO E SUA POLÍTICA EXTERNA Barack Hussein Obama II é o nome completo do 44º presidente dos Estados Unidos da América, nasceu em 04 de Agosto de 1961 no Hawaii na cidade de Honolulu. Filho de mãe americana e pai queniano, Obama teve pouco contato com seu pai, pois quando tinha 2 anos de idade seus pais se divorciaram e ele ficou com sua mãe no Hawaii. Seu pai voltou para o Quênia logo após a separação. (BIOGRAPHY, 2016). Barack Obama mudou-se para a Indonésia aos três anos com sua mãe e seu padrasto, e aos dez anos retornou sozinho para a casa dos avós em Honolulu, onde terminou o segundo grau. Após isto, iniciou os estudos em Los Angeles na Occidental College que duraram dois anos. Posteriormente ingressou na Universidade de Columbia, na cidade de Nova York, ganhando o diploma de Ciência Política em 1983. Dois anos depois ele se muda para Chicago, onde trabalha em comunidades de baixa renda no sul da cidade. (BIOGRAPHY, 2016). Em 1988 entra na Universidade de Harvard para estudar Direito, após terminar sua graduação ele voltou para Chicago para ajudar em uma iniciativa de registro de eleitores, além de dar aulas de direito na Universidade de Chicago e também voltar a trabalhar nas comunidades em que atuava. (WHITE HOUSE, 2016). Sua carreira na política inicia-se como Senador do estado de Illinois, em que se elegeu através do partido Democrata em 1996. Neste cargo ele trabalhou em prol da reforma 57 ética, do corte de taxas para famílias trabalhadoras de baixa renda, expandiu o sistema de saúde para crianças e seus pais e trabalhou para proporcionar educação infantil às crianças carentes. (BIOGRAPHY, 2016; WHITE HOUSE, 2016). Em 2002 iniciou sua campanha para concorrer ao Senado dos Estados Unidos, o qual venceu as eleições de 2004. Teve grandes desafios durante sua estadia no Senado, pois lutou pela reforma do Lobbying norte-americano, pela expansão da propaganda de extinção de armas de destruição em massa, criou um website de rastreamento dos gastos públicos online, buscou o desenvolvimento de energias renováveis e também procurou trazer mais transparência ao governo. (BARACK OBAMA, 2016; BIOGRAPHY, 2016). Obama permaneceu no Senado até finalizar seu mandato. Em Fevereiro de 2007 anunciou sua candidatura para presidente dos Estados Unidos e em Junho de 2008 já estava concorrendo a eleição presidencial representando o partido Democrata. Em 04 de Novembro de 2008 é anunciada a conquista da eleição para 44º presidente dos Estados Unidos, Obama vence seu oponente John McCain com 52,9% dos votos contra 45,7%, se tornando também o primeiro presidente estadunidense afrodescendente. Em 20 de Janeiro de 2009 assume oficialmente a Casa Branca. (BIOGRAPHY, 2016). O presidente Barack Obama tinha um grande desafio pela frente, não somente por assumir um importante cargo, mas pela época em que os Estados Unidos e o resto do mundo viviam - a recessão econômica mundial - reflexo ainda da crise de 2007. Entra no poder já com duas guerras em andamento, a Guerra do Afeganistão e a Guerra do Iraque, além da baixa popularidade norte-americana perante o globo. (BIOGRAPHY, 2016). Em sua campanha eleitoral, Obama prometeu retirar as tropas norte-americanas do Iraque, e assim o fez em 2011. Com muitas críticas contra essa decisão, principalmente dos republicanos, o presidente finalizou uma guerra iniciada em Março de 2003 pelo presidente George W. Bush, com o argumento de que o presidente do Iraque da época Sadam Hussein tinha um programa para desenvolvimento de armas de destruição em massa. Esta guerra durou quase nove anos e matou mais de 4.400 norte-americanos, além de ter custado para os Estados Unidos aproximadamente um trilhão de dólares. (WISLON; DEYOUNG, 2011). Além desta promessa, Obama levantou em sua campanha outras questões envolvendo os latinos, que representam um percentual considerável no país, como a reforma nas leis de imigração, para os hispânicos ilegais este tema era visto com suma importância. O DreamAct também prometido tratava-se de uma lei que permitiria que jovens em situação ilegal, em sua maioria latinos, solicitassem a cidadania se tivessem completado ao menos dois anos de estudos em alguma universidade e com bom desempenho, ou que tivessem servido as 58 Forças Armadas. Além de outras propostas na área da Educação e Emprego para a população em geral. (PERASSO, 2011). Ainda com relação a América Latina, e principalmente em se tratando de Cuba, Obama em um discurso em Miami no estado da Florida, no evento de comemoração do Dia da Independência de Cuba, disse a comunidade cubano-americana que a política com relação a ilha seria de liberdade, ou seja, sobre o direito a liberdade de expressão, liberdade de imprensa e eleições livres e justas, que foram os comprometimentos feitos ainda quando candidato a presidência. (CNN, 2008). Obama em seu discurso ainda comenta (CNN, 2008): Depois de oito anos de fracassadas políticas do passado, nós precisamos de uma nova liderança para o futuro. Depois de décadas pressionando por uma reforma de cima para baixo, precisamos de uma agenda que promova a democracia, segurança e oportunidade de baixo para cima. Também abordou temas que envolviam mais flexibilidade nas restrições de viagens dos americanos a Cuba, principalmente aqueles que iriam visitar suas famílias, e também permitir maiores quantias de envio de dinheiro para a ilha. (CNN, 2008). Pode-se perceber que o presidente tinha um compromisso com a sociedade cubana que morava nos Estados Unidos e havia uma agenda política para este tema, dando assim para os cubanos uma esperança para a reaproximação e flexibilização entre os países. Se esta propaganda política iria se concretizar, a população americana e cubana não sabia, entretanto ao assumir a presidência dos Estados Unidos, Barack Obama em 2009 já contava com a saída de Fidel Castro do poder em Cuba, e este seria um grande passo para as negociações com a ilha. Em junho de 2001 enquanto Fidel Castro fazia um longo discurso em Havana, que durou mais de três horas, sofreu um desmaio devido às condições climáticas de sol e muito calor. A notícia se espalhara e muitos exilados cubanos em Miami já comemoravam a possível morte do líder. Fidel passou bem, porém já reconhecia que sua saúde estava debilitada, e após este episódio anunciou a possível sucessão de seu cargo considerando seu irmão mais novo, Raúl Castro, como governante. (BANDEIRA, 2009). Outros episódios envolvendo a saúde de Fidel foram observados, como em 2004 quando ele escorregou ao sair de um palanque onde fez um discurso para a população. Este incidente fez com que ele quebrasse o joelho e o braço levando-o a cadeira de rodas por algumas semanas. (BRIAN, 2008). 59 Brian, (2008, p. 293) comenta sobre Fidel Castro após estes episódios: A frequência e a duração de suas performances em público diminuíram, as viagens ao exterior não acontecem tanto quanto antes e, mesmo dentro da ilha, Fidel comporta-se de forma sedentária, o que não era típico dele. Ele ainda consegue pronunciar discursos, mas costuma fazê-lo sentado agora, muitas vezes se deixando levar por estranhos solilóquios. [...] Neste meio tempo, Raúl passou a desempenhar um papel cada vez maior nos bastidores, quem sabe já agindo como um tipo de regente, filtrando e checando as ordens de Fidel antes de chegarem a seus subordinados. O problema de saúde de Fidel Castro era algo previsível, por isso seu irmão Raúl já estava se preparando para assumir o posto. E isto também já era esperado, visto que eles sempre caminharam juntos em toda a luta para a conquista da Revolução Cubana conforme abordado anteriormente neste trabalho. Neste sentido, é de se julgar importante a entrada de Raúl em fevereiro de 2008 no poder de Cuba, principalmente para o recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Barack Obama que tinha uma agenda especial para a América Latina, o que tornara as ações mais suscetíveis de darem certo. Obama mostrou-se, ao contrário de seu antecessor George W. Bush, com um perfil mais apaziguador e conciliador em vários aspectos, de acordo com o Comitê Nobel Norueguês (2009) afirmou que: Obama como presidente tem criado um novo clima na política internacional. A diplomacia multilateral recuperou uma posição central, com ênfase no papel que as Nações Unidas e outras instituições internacionais podem desempenhar. O diálogo e as negociações são os instrumentos preferidos para resolver os mais difíceis conflitos internacionais. A visão de um mundo livre de armas nucleares estimulou poderosamente as negociações de desarmamento e controle de armas. Graças à iniciativa de Obama, os EUA estão agora a desempenhar um papel mais construtivo no cumprimento dos grandes desafios climáticos que o mundo está enfrentando. Democracia e direitos humanos devem ser reforçados. Estes foram os argumentos que levaram Obama a ganhar o Prêmio Nobel da Paz em 2009, pois acreditaram que ele poderia trazer para o mundo a esperança de um futuro melhor. (NOBELPRIZE, 2009). Desta forma, pode-se concluir que Obama tinha um grande potencial, e tanto os norte-americanos quanto o mundo inteiro, geraram bastante expectativas em relação a seu mandato. O tópico subsequente trata dos principais fatores que influenciaram Obama a seguir com a reaproximação dos Estados Unidos e de Cuba. Além de mostrar os desafios para que o embargo seja levantando e quais seus benefícios e consequências do fim desta barreira comercial, diplomática e política. 60 4.2 AS MOTIVAÇÕES PARA A REAPROXIMAÇÃO ENTRE EUA E CUBA As discussões acerca do fim do embargo e da reaproximação dos Estados Unidos e Cuba deram início em junho de 2013, quando as negociações em torno do prisioneiro Alan Gross, um cidadão norte-americano que havia sido detido em 2009 em Havana e permanecia preso desde então, começaram a fluir. (BASSETS, 2014). A libertação de Alan Gross dependia de Washington soltar também os prisioneiros cubanos que estavam detidos na Flórida há mais de uma década. Segundo Bassets (2014): “A Casa Branca insistiu durante anos que a detenção de Gross era o obstáculo decisivo para qualquer aproximação”. E com a ajuda do Papa Francisco, que havia enviado uma carta à Obama e à Castro sobre o tema, os países anunciaram em 17 de dezembro de 2014 a liberdade dos prisioneiros. (BASSETS, 2014). O presidente cubano, Raúl Castro, fez seu pronunciamento à população, segundo Primera (2014) que relata o discurso de Raúl: "Resultado de um diálogo no mais alto nível, que incluiu uma conversa telefônica que tive ontem com o presidente Barack Obama, foi possível avançar na solução de alguns assuntos de interesse para ambas as nações. Acordamos o restabelecimento das relações diplomáticas". O presidente também fez menção ao Vaticano e agradeceu ao papa Francisco pela mediação que possibilitou esta reaproximação. (PRIMERA, 2014). Esta foi a primeira demonstração da intenção dos dois países em aproximar-se e iniciar o processo que levará ao possível fim do embargo. Entretanto não foi a primeira tentativa dos representantes estadunidenses em aproximarem-se de Cuba. O presidente norte-americano Jimmy Carter, em seu governo de 1977 a 1981, deu um grande passo nas relações entre Cuba, removeu todas as restrições para os norteamericanos viajarem à ilha. Ele foi o primeiro presidente norte-americano, após o embargo, que teve como meta em sua política externa reestabelecer as relações diplomáticas. Esta tentativa fracassou, devido à oposição dos assessores de segurança nacional estadunidense, e o embargo se manteve nos governos sucessores. (BUSTAMANTE, 2014; KORNBLUH, 2002). Nos governos dos sucessores de Carter, em ordem cronológica – Ronald Reagan, Bush pai, Clinton e Bush filho, não foram observadas muitas tentativas para a reaproximação com Cuba, ao contrário, percebeu-se que as relações ainda continuavam tensas. Reagan em seu governo endureceu ainda mais o embargo, dizendo que os Estados Unidos deveriam negar benefícios econômicos à ilha, pois Castro continuava a ignorar 61 obrigações internacionais, e permanecia com sua política de hostilizar os interesses norteamericanos. (BOYD, 1986). George H.W. Bush, que assumiu o poder da Casa Branca de 1989 a 1993, em seu governo ocorreu o Cuban Democracy Act (CDA) – Lei da Democracia Cubana de 1992. Este fato deixou a relação bilateral ainda mais acirrada, pois restringia as empresas estrangeiras que tinham subsídios norte-americanos e também aos demais países estrangeiros a negociarem com Cuba. O intuito era assim causar um colapso econômico e social na ilha, e eles acreditavam que isso poderia trazer a democracia em Cuba. (WONG, 1994). Posteriormente, Bill Clinton (1993-2001), enrijeceu ainda mais a situação cubana com a lei Helms Burton, que tentou interromper qualquer tipo de investimento em Cuba, e também a processar investidores que o fizessem nos tribunais norte-americanos. Além de determinar que os futuros presidentes só levantariam o embargo sob uma série de condições que o Estado Cubano se submetesse, como realizar eleições multipartidárias, reconhecer a propriedade privada, soltar os prisioneiros políticos, entre outros. (SWEIG, 2007). E o presidente George W. Bush, que governou os Estados Unidos de 2001 a 2009, deixou somente na promessa de sua campanha eleitoral as questões latino-americanas. Além disso, em 20 de maio de 2002 fez um pronunciamento na Casa Branca em comemoração aos 100 anos de independência de Cuba, segundo Bandeira (2009, p. 675): Descartou a possibilidade de relaxar o embargo comercial, financeiro e turístico contra o regime de Fidel Castro e exigiu que o sistema social e político existente na ilha fosse mudado. Segundo afirmou, o fim do embargo – imposto havia cerca de 40 anos contra Cuba – dependia de uma série de medidas que deveriam ser adotadas pelo governo de Fidel Castro, entre as quais a libertação de todos os prisioneiros políticos e a realização de eleições livres para a Assembleia Nacional, além da legalização da oposição. Os discursos de Bush e de Clinton estavam muito bem alinhados, ou seja, no pensamento de ambos, Cuba teria que mudar completamente sua política, sua economia e sua ideologia para se adequar ao que os norte-americanos propunham e assim levantar o embargo. Com o fim do mandato de Bush, emerge ao poder o presidente Barack H. Obama, com uma agenda bem desenhada para Cuba e a questão do embargo. Obama entra no governo em 2009, logo após o anúncio da saída de Fidel Castro e a entrada se seu irmão Raúl Castro na presidência cubana, que ocorreu no início de 2008. Raúl na década de 90, quando Cuba passava por um momento difícil nos aspectos econômicos, políticos e sociais, demonstrou um espírito de mudança, que teria que ocorrer em Cuba a fim de superar essa crise. Conforme expõe Latell (2008, p. 293): 62 [...] assumiu o papel do irmão mais flexível, mais cauteloso, mostrando-se menos atrelado a ideologias do que Fidel. Impressionado com o modelo político-econômico da China, Raúl defendeu a adoção de reformas descentralizadoras de abertura de mercados, apesar de não ter obtido quase nenhum êxito nesse sentido. Percebe-se então, através da citação de Latell, que Raúl tinha um posicionamento mais brando e moderado, e isto foi outro possível fator que levou a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos. Outro ponto a ser considerado, foi relacionado a abertura ao turismo que Cuba implementou com o objetivo de diminuir os efeitos da crise dos anos 90, conforme exposto anteriormente, com o fim da ajuda soviética, a situação cubana agravou-se e desde então buscou no turismo uma forma de se reerguer. Raúl Castro desde que assumiu o cargo implementou uma série de medidas, a fim de contribuir para o lado econômico, político e social do país. Ele liberou restrições de viagens para seus cidadãos, que antes só era possível com autorização prévia do governo, permitiu a compra de telefones móveis, e também a compra e venda de veículos e casas, além de instalar diversos pontos de Wifi pelo país, legalizou os almendrones15 para uso comercial, ou seja, turistas que visitavam a ilha poderiam alugar um carro desses a fim de escapar do desastroso transporte público da ilha. (LOZANO, 2016). Apesar das melhorias feitas por Raúl, a ilha ainda possui muitas limitações econômicas, pois mantém parceria com poucos países, dentre eles a Venezuela, que na virada do século XXI foi quem abastecera Cuba com alguns de seus recursos naturais, entre eles, o petróleo. O Estado Venezuelano tem sua economia altamente dependente desta commodity, e com a queda do preço do petróleo mundial acompanhada no ano de 2014, o país foi fortemente afetado, pois a receita de sua exportação chega a depender 95% das vendas do petróleo. Além de ter uma inflação que gira em torno dos 60%, sendo considerada uma das mais altas do mundo. (BOWLER, 2015; HAMANN, 2015). Essa situação deixa Cuba em uma posição desprivilegiada, pois com a economia venezuelana debilitada sobram poucos parceiros comerciais, e qualquer vulnerabilidade do mercado, como é o caso do petroleiro, deixam os cubanos em situação crítica. E este foi outro ponto que possibilitou o amadurecimento da ilha em reestabelecer as relações com os Estados Unidos e consequentemente com os demais países do globo. Ainda sobre a discussão em torno dos aspectos econômicos, houve uma forte pressão dos grandes empresários e grupos econômicos norte-americanos em reatar as relações 15 Velhos carros americanos convertidos em taxis coletivos. (LOZANO, 2016) 63 com Cuba, um exemplo foi a Câmara de Comércio dos Estados Unidos que concentra cerca de três milhões de empresas dos mais variados ramos de negócios, de diversas regiões e tamanhos, e por muito tempo eles vêm se opondo ao embargo econômico contra Cuba. (PRIMERA, 2014). As políticas de Obama perante Cuba possibilitaram que o presidente da Câmara de Comércio, Thomas Donohue, viajasse à Cuba em 2014 com a finalidade de ver e conhecer as reformas econômicas que Raúl Castro aprovou, bem como, as oportunidades de novos negócios na ilha. Dentre essas reformas estão a desoneração de 600.000 empregados da folha de pagamentos do governo, a permissão do trabalho por conta própria e a ampliação do setor privado em Cuba. (PRIMERA, 2014). Segundo Primera (2014) referente a visita de Donohue: [...]o itinerário prevê um encontro com membros de uma cooperativa privada de conserto de veículos, uma visita à Universidade de Havana – onde Donohue proferirá um discurso – e uma ida à zona de desenvolvimento especial do porto de Mariel, a nova joia da coroa de Cuba, onde o Governo dos Castro fez sua maior aposta para atrair o investimento estrangeiro. Essa abertura econômica é de suma importância para Cuba, uma vez que fazia negócios com poucos países, o que fechava o círculo dos seus negócios, qualquer vulnerabilidade desses mercados a ilha ficava desabastecida e impossibilitada de comercializar, além de não ter concorrência e competitividade com outros produtos e preços. Além disso, a população sofre com este tipo de regime castrista, pois tem os recursos limitados e diante de qualquer oscilação de seus parceiros existe a necessidade de racionamento, seja de energia ou de alimentos. Essas ações de Raúl e a reaproximação com os norte-americanos melhoram de certa forma a qualidade de vida da população cubana. Como demonstração da retomada das relações entre os países, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros – OFAC16 alterou seus regulamentos e permitiu que algumas empresas norte-americanas pudessem entrar no mercado cubano. Assim, as empresas de telecomunicações dos Estados Unidos ganharam a permissão para atuar em Cuba, em que o 16 OFAC é a sigla inglesa para The Office of Foreign Assets Control, é um escritório que faz parte do Departamento de Tesouro dos Estados Unidos da América que administra e aplica sanções econômicas e comerciais baseadas nos objetivos de política externa e de segurança nacional estadunidense contra outros países ou regimes alvos, terroristas, narcotraficantes internacionais, aqueles engajados em atividades relacionadas a proliferação de armas de destruição em massa, e outras ameaças à segurança nacional, política externa e economia norte-americana. A OFAC atua sob os poderes presidenciais de emergência nacional, bem como autoridade concedida por legislação específica, para impor controles sobre transações e congelar ativos sob jurisdição dos EUA. Muitas das sanções baseiam-se nas Nações Unidas e em outros mandatos internacionais, têm um alcance multilateral e envolvem uma estreita cooperação com os governos aliados. (U.S. DEPARTMENT OF TREASURY, 2016). 64 cenário é precário, somente 25% dos Cubanos possuem acesso a Web, sendo que a conexão é lenta e em grande parte monitorada pelo governo. Além disso, a empresa ETECSA é a única companhia de telefonia que atua em Cuba e consegue atender somente 18% da população. (FERNANDEZ e LORBER, 2015). Acredita-se que a ampliação do acesso à internet trará benefícios econômicos e políticos para os cubanos, pois a conectividade com a Internet pode impulsionar o desenvolvimento econômico de longo prazo, facilitando a distribuição da informação, diminuindo o custo de transações e reduzindo as barreiras para entrada de empreendedores. (FERNANDEZ e LORBER, 2015). O mercado de Cuba ainda é novidade para os empresários norte-americanos, além disso, eles não sabem ao certo até onde seus negócios podem ir, ou seja, quais atividades são possíveis e quais ainda são proibidas. Neste sentido, a OFAC é responsável por estabelecer este esclarecimento dos novos negócios em Cuba, em sua página na internet é possível saber o que está permitido e o que ainda está restrito a população norte-americana e cubana. (FERNANDEZ e LORBER, 2015). Esta foi uma conquista para os empresários dos EUA de diversos ramos, e que agora podem expandir seus mercados para a ilha, potencializando assim seus negócios, além de oportunizar o povo cubano com tecnologia inovadora e melhor qualidade de vida. A reaproximação entre os dois países ainda tem muito a amadurecer e se desenvolver, foi iniciada em 2013, com o auxílio do Papa Francisco, e desde então tem se evidenciado muitos debates sobre o tema. Foi no início de 2016 que o presidente Barack Obama deu o grande passo, fez a primeira visita oficial de um presidente estadunidense à ilha desde 1928. No dia 22 de março de 2016, Obama fez seu discurso na capital cubana no Gran Teatro de Havana, o mesmo local onde Calvin Coolidge – o último presidente norteamericano a visitar Cuba – discursou 88 anos atrás. Obama expôs um pouco da história de ambos os países, seus pontos comuns e suas divergências. Obama em sua fala afirmou: “Vim para cá enterrar o último resquício da Guerra Fria nas Américas. Vim para estender a mão de amizade ao povo cubano”. (DAVIS, 2016). O presidente reconhece que apesar das diferenças não há mais razão para continuar o embargo e, como primeiro passo, foi anunciado em 17 de dezembro de 2014 o início do processo de normalização das relações entre os países. (WHITEHOUSE, 2016). Ele aponta sobre o questionamento das pessoas referente ao motivo dessa normalização ocorrer somente agora, e responde que: “Existe uma resposta simples: o que os 65 Estados Unidos estavam fazendo não estava funcionando. Precisamos ter a coragem de admitir essa verdade. Uma política de isolamento criada para a Guerra Fria fazia pouco sentido no século 21”. (WHITEHOUSE, 2016). Como se pode observar e concluir, a política norte-americana para Cuba em todos esses anos era ineficaz, era uma postura impositiva e não conciliadora. Os antecessores de Obama utilizavam políticas rígidas, conforme visto anteriormente, e não consideravam a diplomacia como forma de aproximação para reestabelecer as relações. Neste sentido, Obama deixou claro em seu discurso: [...] os Estados Unidos não tem a capacidade ou a intenção de impor mudanças a Cuba. As mudanças que virão vão depender do povo cubano. Não vamos impor nosso sistema político ou econômico a vocês. Reconhecemos que cada país, cada povo precisa mapear seu próprio rumo e criar seu próprio modelo. Obama comentou também questões sobre os direitos humanos, enfatizando que este é um direito de qualquer povo, independente de sua cor, raça, religião, e também sobre a democracia. Ele reconhece as falhas dos Estados Unidos, e o que precisam melhorar, entretanto ele acredita que é com a democracia que estes problemas podem ser resolvidos. (WHITEHOUSE, 2016). O presidente vê a necessidade da implementação de um governo democrático em Cuba, entretanto isto deve partir do próprio povo cubano. Ele afirmou em seu discurso: “Quero que os cubanos, especialmente os jovens, entendam por que eu acredito que vocês devem olhar para o futuro com esperança. Esperança que tenha suas raízes no futuro que vocês podem escolher, que vocês podem moldar e que vocês podem construir para seu país.” (WHITEHOUSE, 2016). Complementou dizendo também que apoiava os cidadãos de Cuba, e por isso suas políticas estão voltadas para tal fim, e expôs as mudanças que fez para melhorar e afrouxar o embargo, como a eliminação de limites para determinados tipos de remessas de dinheiro, incentivou as viagens, o comércio e os intercâmbios entre os dois países. (WHITEHOUSE, 2016). Obama pediu o levante do embargo, entretanto isto não depende somente dele, mas também do Congresso estadunidense. O congresso, atualmente, possui em sua maioria representantes republicanos, que são mais conservadores em relação a este tipo de decisão. Além disso, 2016 está sendo um ano agitado na política norte-americana, com as eleições 66 ocorrendo no país, o calendário dos congressistas republicanos não tem espaço para a discussão acerca do embargo. (DEMIRJIAN, 2016). Este tema ainda será objeto de muita discussão para o Congresso, para o próximo presidente dos Estados Unidos, para Cuba e para o mundo. As medidas de Obama de fato aproximaram as duas nações, sua visita à ilha foi de extrema relevância, além de ter sido um marco histórico nas relações internacionais, porém ainda há bastante trabalho a ser feito. O próximo tópico ressalta as perspectivas dos dois povos sobre a relação entre os países e quais as opiniões dos republicanos e dos democratas sobre o futuro deste processo. Aborda também a evolução de embargo, ou seja, como era e como ficou após todos os presidentes norte-americanos que ocuparam Washington, e quais as expectativas dos candidatos Hillary Clinton e Donald Trump sobre Cuba. 4.3 AS PERSPECTIVAS ENTRE CUBA E ESTADOS UNIDOS SOB O GOVERNO OBAMA O embargo estabelecido pelos Estados Unidos a Cuba foi um fator desencadeado por uma sucessão de acontecimentos entre as relações de ambos os países, como já exposto neste trabalho anteriormente, sendo que um dos fatores mais marcantes foi a Revolução Cubana, cuja conquista se deu em 1959 por Fidel Castro. Em 1960 foram executadas sanções econômicas contra Cuba a fim de desestabilizar o regime castrista. Dessa forma, Cuba se alia com a União Soviética para reestabelecer o laço econômico que estava estremecido com os EUA, com o objetivo de dar vazão a sua produção de açúcar e estabelecer um novo parceiro comercial. (GOTT, 2006) Em 1961, o presidente norte-americano Eisenhower é acusado por Castro de infiltrar-se em Cuba para derrocar o líder revolucionário, e isto resultou no rompimento das relações diplomáticas entre os dois países. Em 1962 Cuba é expulsa da OEA por influência norte-americana e no mesmo ano o presidente Kennedy declara o embargo ao comércio com a ilha. (BANDEIRA, 2009). As tentativas de sabotar o governo castrista continuaram com a invasão a Baia dos Porcos e posteriormente com a Crise dos Mísseis, o que agravou mais ainda a relação entre os países, principalmente no cenário da Guerra Fria. Com o fim da guerra fria e o desmantelamento da União Soviética, o Estado Cubano ficou economicamente desestabilizado, pois perdeu um forte parceiro comercial e assim teve que reorientar sua economia, umas das medidas foi abrir as portas para o turismo. 67 Entretanto no ano de 1992, foi promulgada a Lei Torricelli e em 1996 a Lei Helms Burton, endurecendo ainda mais o embargo e deixando Cuba novamente em uma situação vulnerável. As leis impostas eram retroativas e extraterritoriais, além disso, a Guerra Fria já havia terminado e os Estados Unidos ainda estavam exercendo um poder coercitivo contra Cuba.(GOTT, 2006). Sob a administração Bush, as viagens de cubanos residentes nos Estados Unidos para Cuba era limitadas a 14 dias a cada três anos e remessas de dinheiro só poderiam ser enviadas na quantia de até 100 dólares mensais. Além disso, qualquer cidadão norteamericano que ousasse transgredir as regras e leis impostas referente a Cuba, se arriscaria a uma pena de 10 anos de prisão e uma multa de um milhão de dólares. (LAMRANI, 2013). Com o passar dos anos, a saída de Fidel Castro do poder de Cuba e a entrada de Barack Obama na presidência dos Estados Unidos, esse cenário mudou. Desde sua campanha eleitoral Obama vinha sinalizando a promessa de reatar o relacionamento entre os países e flexibilizar o embargo, uma vez que o reatamento completo das relações não depende exclusivamente dele. Em 17 de dezembro de 2014, em seu pronunciamento oficial na Casa Branca, Obama diz que: Nem o povo americano, nem o povo cubano são bem servidos por uma política rígida que está enraizada em eventos que ocorreram antes da maioria de nós nasceram. Considere que por mais de 35 anos, nós tivemos relações com a China um país muito maior também governado por um Partido Comunista. Quase duas décadas atrás, restabelecemos as relações com o Vietnã, onde travamos uma guerra que reivindicou mais americanos do que qualquer confronto com a Guerra Fria. Obama quis mostrar que as restrições com Cuba não faziam sentido, uma vez que os Estados Unidos mantinham relações comerciais e diplomáticas com outros países também dito comunistas, e que a política norte-americana adotada está sendo ineficaz, uma vez que, os Castros e o Partido Comunista ainda continuam no poder. (WHITEHOUSE, 2014). Desde o seu anúncio em 2014, Obama tomou algumas medidas a fim de relaxar o embargo, como por exemplo, autorizou a reabertura da embaixada americana em Havana e reduziu restrições aos cidadãos norte-americanos para viajarem à ilha.(BBC, 2016). Com relação as viagens de norte-americanos, de acordo com o U.S. Department of the Treasury (2016, p.2): 68 [...]as viagens são permitidas por licença geral para determinadas viagens relacionadas com as seguintes atividades, sujeitas aos critérios e condições em cada licença geral: visitas familiares; Negócios oficiais do governo dos Estados Unidos, governos estrangeiros e certas organizações intergovernamentais; Atividade jornalística; Pesquisa profissional e reuniões profissionais; Atividades educacionais; Atividades religiosas; Apresentações públicas, clínicas, oficinas, competições atléticas e outras, e exposições; Apoio ao povo cubano; Projetos humanitários; Atividades de fundações privadas ou institutos de investigação ou de ensino [...]. O documento emitido pelo governo deixa claro que viagens com finalidade turística não estão permitidas. Esta restrição é repudiada pela opinião pública entre os norteamericanos que apoiam a ideia de levantar o embargo. Segundo Lamrani (2013): “uma pesquisa realizada pela CNN no dia 10 de abril de 2009, 64% dos cidadãos estadunidenses se opõe às sanções econômicas contra Cuba”. De acordo com os dados de uma empresa de Chigaco, a Orbitz Worldwide, que vende pela internet serviços de viagens, apontou que 67% dos habitantes dos Estados Unidos gostariam de passar férias em Cuba e 72% dizem que o turismo seria algo positivo para os cidadãos cubanos. (LAMRANI, 2013). O turismo seria uma alternativa para a renda dos habitantes da ilha, pois abriria oportunidades e incentivaria a investir mais neste ramo de negócio. Além de possibilitar aos norte-americanos mais uma opção de viagem a lazer e desfrutar um país desconhecido até então. Outro ponto nessa retomada das relações foi a remoção do limite de remessas em dólar dos Estados Unidos para Cuba, a única restrição é que o recebedor cubano não seja um funcionário proibido do governo ou do Partido Comunista. Alguns tipos de transações bancárias e comerciais também foram permitidas, desde que estejam previstas no Cuban Assets Control Regulations (CACR), que em português significa Controle de Ativos Cubanos, sob a administração da OFAC. (U.S. DEPARTMENTE OF TREASURY, 2016). Muitas mudanças já foram feitas e muitas outras ainda estão por vir. O presidente Barack Obama fez muitas alterações a fim de melhorar a relação entre as nações, entretanto seu mandato está chegando ao fim e a continuação dessas mudanças dependerá do Congresso e também do próximo presidente que ocupará a Casa Branca. O Congresso estadunidense é composto por duas câmaras, uma delas é a Câmara dos Representantes e a outra é a Câmara do Senado. Em 2009 quando Obama tomou posse da Casa Branca ambas eram democratas, entretanto em 2010 o partido Republicano conseguiu a maioria dos votos para conquistar a Câmara dos Representantes, e assim mantiveram desde 69 então, e em 2014 os republicanos conquistaram também a maioria no Senado. (BASSETS, 2014). Mesmo com o Congresso sob maioria Republicana o Presidente dos Estados Unidos ainda reserva o direito de vetar projetos aprovados pelos congressistas. (BASSETS, 2014). A opinião dos representantes do Congresso é dividia entre republicanos e democratas, existem aqueles que apoiam e aqueles que repudiam a ideia do fim do embargo, por exemplo, Kathy Castor, representante Democrata de Tampa, viajou à Cuba em 2013 e fez um forte apelo para o término do bloqueio, em sua opinião, ela acredito que os Estados Unidos poderiam aproveitar das reformas econômica já feitas na ilha. Já Joe García, representante Democrata de Miami, apoia a permanência do embargo, entretanto, é a favor das trocas de conhecimento entre as nações principalmente na área da medicina. (NYTIMES, 2014). E por fim, existe um grupo de legisladores de origem cubana que defendem a conservação do embargo, entre eles estão o Senador Democrata Robert Menendez de Nova Jersey, o Senador Republicano Marco Rubio da Flórida, e os Congressistas Republicanos de Miami Ileana Ros-Lehtinen e Mario Díaz-Balart. (NYTIMES, 2014). Acabar completamente com o embargo será uma tarefa árdua, principalmente com a opinião divergente no Congresso. Este será um dos grandes desafios do próximo presidente que for eleito e desejar seguir com o levante do bloqueio econômico e comercial. (NYTIMES, 2014). Neste sentido as eleições de 2016 entre Hillary Clinton (Democrata) e Donald Trump (Republicano) serão de crucial importância para o futuro de Cuba e dos Estados Unidos. Segundo o jornal The New York Times (2014): “Hillary Rodham Clinton escreveu em sua autobiografia recém-publicada e reiterou em uma entrevista que é a favor de terminar o embargo, chamando-o de uma estratégia fracassada que deu legitimidade aos Castros”. A candidata democrata já expressou publicamente sua opinião com relação ao tema, que demostra certa empatia por continuar a na trajetória da reaproximação dos países. Referente ao candidato Republicano, Donald Trump anunciou em setembro de 2016 que: “todas as concessões que Barack Obama permitiu ao regime de Castro foram feitas com ordem executiva, o que significa que o próximo presidente pode reverter isso, e isso é o que farei a menos que o regime de Castro atenda nossas demandas”. E ainda complementou que as exigências estabelecidas por eles incluirão a liberdade religiosa e política para os cubanos e a libertação dos prisioneiros políticos. (DIAMOND, 2016). Entretanto em um artigo publicado pela Newsweek relatou que uma das empresas de Trump investiu cerca de $ 68.000,00 dólares em uma viagem no ano de 1998 com a 70 finalidade de explorar as oportunidades de negócios em Cuba. Uma vez que o embargo está em vigor desde a década de 1960, isto representa uma violação das leis norte-americanas impostas sobre as questões cubanas. (OPPMANN, 2016; PETERS, 2016). Isto soou bastante contraditório, uma vez que fora contra a política de Obama quando anunciou a normalização das relações com Cuba. E no final da década de 90 chegou a dizer que estes esforços com Cuba era “pura loucura”. (PETERS, 2016). A questão principal não é saber quem vai ganhar ou perder as eleições, mas sim em saber se o novo presidente dará sequência na política de Obama, e esta projeção só será vista quando o próximo presidente assumir oficialmente a Casa Branca. 71 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa teve como objetivo central explorar e analisar os principais fatores que motivaram a reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba. Para chegar a tal objetivo foi feito um estudo referente a história de Cuba e os impactos da interferência norteamericana na construção de uma sociedade socialista localizada a 90 milhas dos Estados Unidos. Partindo deste ponto, foi estudado e compreendido o cenário da Guerra Fria, que influenciou para o afastamento das duas nações e para o alinhamento de Cuba com a União Soviética. Este período teve como auge a crise dos mísseis onde o mundo quase presenciou uma guerra nuclear. Isto foi uma grave consequência da falta de aceitação dos norteamericanos referente a instauração da Revolução Cubana. Entretanto o fim da Guerra Fria representou para Cuba e para o país socialista um grande desafio, pois tiveram que se sobreviver em um ambiente globalizado e favoravelmente capitalista. O processo de globalização da década de 90 impulsionou a abertura de Cuba para um novo nicho de mercado, o turismo. Além disso, procurou outros parceiros comerciais, como Venezuela e China como forma alternativa para a captação de recursos com o objetivo de alavancar sua economia. Isto resultou no aumento do PIB no período de 2002 a 2005. Os sucessivos presidentes que passaram pela Casa Branca de 1989 a 2009, sendo eles Bush Pai, Bill Clinton e Bush filho, mantiveram a postura rígida do período de Guerra Fria. Entretanto não havia mais razão para tal atitude sendo que o conflito já tinha chegado ao fim e a União Soviética não representara mais um risco para os Estados Unidos, que emerge como potência global na época. A justificativa para estas ações eram puramente de rancor e ressentimento por Fidel não ter desistido de Cuba, por não terem conseguido derrocar o socialismo cubano, pelo fato dos países estarem próximos geograficamente, porém distantes no âmbito político e econômico. E pela razão de que mesmo enfrentando todas as dificuldades econômicas, Cuba é um exemplo mundial de saúde e desenvolvimento na área da medicina, de ensino de qualidade e erradicação do analfabetismo e um modelo de igualdade social. Obviamente não é um sistema perfeito, mas é muito mais voltado para a sociedade do que para os interesses de empresários ou de políticos. O cenário de hostilidades chegou ao fim quando o presidente Barack Obama emerge no poder em 2009. Seu perfil bastante progressista demonstrou que ele tinha muitas ambições referentes a este tema e que estava disposto a mudar o curso das relações entre os 72 países de alguma forma. Seu objetivo principal era pôr um fim no embargo econômico e comercial e a retomada da diplomacia com a ilha. Sua política externa foi bastante relevante para esta reaproximação, marcada por uma diplomacia ativa, pelo diálogo e pela ajuda internacional, substituindo uma política externa bruta e dominada pelo poder militar e os serviços de inteligência, que caracterizavam o período anterior. Isto foi um facilitador para que a volta das relações EUA e Cuba tomassem um novo rumo. Dentre os fatores que possibilitaram a reaproximação foram, a saída de Fidel Castro do poder cubano e a entrada de seu irmão Raúl Castro, as mudanças implementadas por Raúl foram também de significativa importância, pois possibilitou uma abertura econômica tanto para a população como para outros países. A influência do Papa Francisco que estabeleceu algumas mediações entre as duas nações, escrevendo cartas e fazendo visitas com a intenção de conversar com os representantes para reestabelecer as relações tanto de Cuba com os EUA quanto da ilha para o mundo. A pressão dos empresários norte-americanos em fazer negócios com Cuba ajudou nesta abertura das relações, por exemplo, a Câmara de Comércio dos Estados Unidos reprova o embargo, pois a retomada das relações comerciais seria vantajosa para ambos. Principalmente no momento em que se vive de crise mundial, a ampliação das trocas comerciais possibilita um ganho mútuo. Além das questões comerciais os norte-americanos tem bastante interesse também nos estudos da área de medicina feitos em Cuba, como o desenvolvimento de remédios para tratar a diabetes. Dessa forma, as razões para continuar com o embargo já não se justificam mais, uma vez que a Guerra Fria terminou há muito tempo e o inimigo já fora derrotado. Se a desculpa é o comunismo, os Estados Unidos também deveriam também aplicar sanções contra a China, por exemplo, que é um país dito comunista. Entretanto, é notável que a discussão vai além da ideologia, os Estados Unidos sempre quiseram alguém no poder de Cuba que fosse alinhado com o pensamento norte-americano, ou seja, submisso às suas propostas e ao seu perfil imperialista. A reaproximação se torna mais significativa no aspecto econômico, porém de um aspecto político ela parece menos relevante, uma vez que o cenário geopolítico e geoestratégico se modificou desde o fim da Guerra Fria. 73 Obama procurou então atuar e trabalhar para a flexibilização do embargo, já que o fim por completo é uma decisão que depende do Congresso norte-americano. Também buscou acabar com qualquer vestígio que a Guerra Fria possa ter trazido para o século XXI. Ele lutou por muitas alterações e melhorias como o reestabelecimento das relações diplomáticas, a reabertura da embaixada norte-americana em Havana, a diminuição das restrições de viagens para a ilha e a remoção das restrições de envio de remessas de residentes dos EUA para Cuba. As discussões que envolvem este embargo à ilha ainda perdurarão por alguns anos, até que o Congresso juntamente com o novo presidente dos Estados Unidos tomem uma decisão definitiva. O importante é que Barack Obama deixou seu legado para os cidadão norte-americanos e para o povo cubano, mostrando sua vontade de conciliação e retomada das relações com Cuba, e todos os benefícios que foram implementados até o momento deverá ser irreversível, ou seja, o caminho é progredir rumo ao fim definitivo do embargo e o completo reestabelecimento econômico entre as nações. As eleições que ocorrem em 2016 irá apresentar o novo Presidente, entretanto a aposta é que independente do partido que ganhe, seja ele republicano ou democrata, a pessoa que assumirá o poder deverá levar a diante as ações de Obama. Assim, os frutos dessas medidas poderão ser colhidos no futuro, com um país cubano mais aberto e democrático, e o país norte-americano se mostrando mais flexível e complacente. 74 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Paulo Roberto de. As Duas Últimas Décadas do Século XX: Fim do Socialismo e Retomada da Globalização. In: SARAIVA, José Flávio Sombra (Org.). História das Relações Internacionais Contemporâneas: da sociedade internacional do Século XIX à era da globalização. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 253-316. ALTMAN, Max. Hoje na História: Começa a Crise dos Mísseis em Cuba. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/1593/conteudo+opera.shtml>. Acesso em: 28 de Junho de 2016. AMARAL, Roberto. Dos fins do Estado: De Socialismo e Social-Democracia. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/politica/dos-fins-do-estado-de-socialismo-esocialdemocracia-8927.html>. Acesso em: 09 de Novembro de 2016. ARON, Raymond. Paz e guerra entre as nações. Brasília: UnB, 1986. AYERBE, Luis Fernando. A Revolução Cubana. 4. Ed. São Paulo: Editora UNESP, 2004. BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. De Martí a Fidel: a Revolução Cubana e a América Latina. 2 ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. BASSETS, Marc. Nova era entre dois históricos adversários. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2014/12/17/internacional/1418825186_663350.html>. Acesso em 22 de Outubro de 2016. BASSETS, Marc. Republicanos Conquistam sua Maior Vitória na Era Obama. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2014/11/05/internacional/1415160377_905116.html>. Acesso em 07 de Novembro de 2016. BEZERRA, Gustavo Henrique Marques. Da revolução ao reatamento: a política externa brasileira e a questão cubana (1959-1986). Brasília: FUNAG, 2012. 376 p. BLANCO, Abelardo; DÓRIA, Carlos A. Revolução Cubana: de José Martí a Fidel Castro. 2. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política I. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. BOWLER, Tim. Falling oil prices: Who are the winners and losers? Disponível em: <http://www.bbc.com/news/business-29643612>. Acesso em: 25 de Outubro de 2016. BOYD, Gerald M. Reagan Acts to Tighten Trade Embargo of Cuba. Disponível em: < http://www.nytimes.com/1986/08/23/world/reagan-acts-to-tighten-trade-embargo-ofcuba.html>. Acesso em: 23 de Outubro de 2016. BRIAN, Latell. Cuba sem Fidel: O Regime Cubano e seu Próximo Líder. São Paulo, SP: Editora Novo Conceito, 2008. 75 BUSTAMANTE, Michael J. Cuban Comrades: The Truth About Washington and Havana’s New Detente. Disponível em: <https://www.foreignaffairs.com/articles/cuba/201412-21/cuban-comrades>. Acesos em: 22 de Outubro de 2016. CASTRO, Fidel. La Historia me Absolverá. Disponível em: <http://bureau.comandantina.com/archivos/La%20Historia%20me%20absolvera.pdf>. Acesso em: 04 de Junho de 2016. CNN. Obama: Cuba policy to be based on 'libertad'. Disponível em: <http://edition.cnn.com/2008/POLITICS/05/23/obama.cuban.americans/index.html?eref=rss_ us>. Acesos em: 15 de Outubro de 2016. DAVIS, Julie Hirschfeld. Obama, in Havana speech, Says Cuba Has Nothing to Fear From U.S. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2016/03/23/world/americas/obamacuba.html>. Acesso em: 31 de Outubro de 2016. DEMIRJIAN, Karoun. Obama’s Cuba Trip Raises Profile, but not Prospects of Lifting the Embargo. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/news/powerpost/wp/2016/03/16/obamas-cuba-trip-raisesprofile-but-not-prospects-of-lifting-embargo-in-congress/>. Acesso em: 02 de Novembro de 2016. DIAMOND, Jeremy. Trump shifts on Cuba, says he would reverse Obama's deal. Disponível em: <http://edition.cnn.com/2016/09/16/politics/donald-trump-cuba/>. Acesso em: 07 de Novembro de 2016. FERNANDEZ, Jose; LORBER, Eric. Havana Calling: Easing the Embargo Will Open the Cuban Telecom Sector. Disponível em: <https://www.foreignaffairs.com/articles/cuba/201502-17/havana-calling>. Acesso em: 29 de Outubro de 2016. FONSECA, Carlos da. O Governo George W. Bush e o Relacionamento EUA-América Latina. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/pdf/ri/n19/n19a11.pdf>. Acesso em: 02 de Outubro de 2016. FUKUYAMA, Francis. O Fim da História e o Último Homem. Tradução de Aulyde Soares Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 1992. GALSTON, William A. President Barack Obama’s First Two Years: Policy Accomplishments, Political Difficulties. Disponível em: <https://www.brookings.edu/wpcontent/uploads/2016/06/1104_obama_galston.pdf>. Acesso em: 12 de Outubro de 2016. GERHARDT, Tatiana Engel Gerhardt e SILVEIRA Denise Tolfo. Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas.4 ed., 2002. GOTT, Richard. Cuba: Uma Nova História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. 76 HAMANN, Greta. Queda do petróleo leva Venezuela à beira do colapso. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/internacional/queda-do-petroleo-leva-venezuela-a-beira-docolapso-741.html>. Acesso em: 25 de Outubro de 2016. HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. HOBSBAWN, Eric J. Era dos Impérios 1875-1914. 8 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra., 1988. HUNTINGTON, Samuel P. The Lonely Superpower. Disponível em: <https://www.foreignaffairs.com/articles/united-states/1999-03-01/lonely-superpower>. Acesso em: 29 de Outubro de 2016. INSIDEGOV. Political Parties: Democratic x Republican. Disponível em: <http://uspolitical-parties.insidegov.com/compare/1-2/Democratic-Party-vs-Republican-Party>. Acesso em 03 de Outubro de 2016. KARNAL, Leandro, et al. História dos Estados Unidos das Origens ao Século XXI. São Paulo: Contexto, 2007. KOKOTOWSKI, Christa. 1955: Criado o Pacto de Varsóvia. Disponível em: <http://www.dw.com/pt-br/1955-criado-o-pacto-de-vars%C3%B3via/a-519362>. Acesso em: 09 de Novembro de 2016. KORNBLUH, Peter. Mr. Carter Goes to Cuba. Disponível em: <https://www.thenation.com/article/mr-carter-goes-cuba/>. Acesso em 23 de Outubro de 2016. LAKATOS, Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003. LAMRANI, Salim. 50 verdades sobre a Revolução Cubana. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/31216/50+verdades+sobre+a+revolucao+cu bana.shtml>. Acesso em 31 de Maio de 2016. LAMRANI, Salim. 50 verdades sobre as sanções econômicas dos Estados Unidos contra Cuba. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/28576/50+verdades+sobre+as+sancoes+eco nomicas+dos+estados+unidos+contra+cuba.shtml>. Acesso em 07 de Setembro de 2016. LAMRANI, Salim. Cuba a Ilha da Saúde. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/23324/cuba+a+ilha+da+saude.shtml>. Acesso em: 25 de Setembro de 2016. LAMRANI, Salim. Cuba um Modelo de Acordo com a Organização Mundial da Saúde. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/37220/cuba+um+modelo+de+acordo+com+ a+organizacao+mundial+da+saude.shtml>. Acesso em 25 de Setembro de 2016. 77 LOZANO, Daniel. Diez años de Raúl Castro en el poder: reformas, deshielo y recesión. Disponível em: <http://www.elmundo.es/internacional/2016/07/31/579cd14222601dd5568b468c.html>. Acesso em: 24 de Outubro de 2016. MAGNOLI, Demétrio. Da Guerra Fria à Détente: Política Internacional Contemporânea. Campinas, SP: Papirus, 1988. MAGNOLI, Demétrio. Globalização: Estado Nacional e Espaço Mundial. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2003. MAGNOLI, Demétrio. Relações Internacionais: teoria e história. São Paulo: Saraiva, 2004. MAREK, Michael. 1949: Criação da OTAN. Disponível em: <http://www.dw.com/ptbr/1949-cria%C3%A7%C3%A3o-da-otan/a-306372>. Acesso em 09 de Novembro de 2016. MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. NOBELPRIZE. The Nobel Peace Prize for 2009. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/2009/press.html>. Acesso em: 16 de Outubro de 2016. NYTIMES. Los Cambios Electorales Respecto a Cuba. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2014/10/26/opinion/sunday/los-cambios-electorales-respecto-acuba.html?_r=0>. Acesso em: 07 de Novembro de 2016. OEA. Quem Somos. Disponível em: < http://www.oas.org/pt/sobre/quem_somos.asp>. Acesso em: 09 de Novembro de 2016. OPPMANN, Patrick. Trump Violated Law By Doing Business in Cuba. Disponível em: <http://edition.cnn.com/2016/09/29/politics/donald-trump-cuba-business/>. Acesso em: 07 de Novembro de 2016. PECEQUILO, Cristina Soreanu. A Política Externa e as Relações de Meio de Mandato: Perspectivas do Governo Obama. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/ConjunturaAustral/article/view/17485/10934>. Acesso em 12 de Outubro de 2016. PERASSO, Valeria. Em ‘dívida’, Obama terá trabalho para ganhar votos latinos, dizem analista. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/09/110930_obama_latinos_fn.shtml>. Acesso em: 14 de Outubro de 2016. PETERS, Jeremy W. Report that Donald Trump Did Business in Cuba Ups the Ante in Florida. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2016/10/02/us/politics/trump-cubaflorida.html>. Acesso em: 07 de Novembro de 2016. 78 PRIMERA, Maye. Os empresários dos Estados Unidos veem Cuba como grande oportunidade de negócio. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/28/internacional/1401312700_547303.html>. Acesso em: 26 de Outubro de 2016. PRIMERA, Maye. Raúl Castro: “O principal não está resolvido. O bloqueio deve acabar”. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2014/12/17/internacional/1418839303_324734.html>. Acesso em: 22 de Outubro de 2016. RATO, Vasco. A Herança Bush. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/pdf/ri/n19/n19a04.pdf>. Acesso em 03 de Outubro de 2016. SADER, Emir. Cuba: um socialismo em construção. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. SANTOS, José Loureiro dos. Alguns Destaques Estratégicos do Consulado Bush. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/pdf/ri/n19/n19a02.pdf>. Acesso em: 02 de Outubro de 2016. SARAIVA, José Flávio Sombra. História das Relações Internacionais Contemporâneas: as sociedade internacional do Século XIX à era da globalização. São Paulo: Saraiva, 2007. SEGREGA, Francisco López. Cuba, cairá? Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. SILVA, Marcos Antonio da. Cuba e a eterna Guerra Fria: mudanças internas e política externa dos anos 90. Dourados: Ed. UFGD, 2012. SOROS, George. Globalização: introdução especial do autor para a edição brasileira. Tradução por Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Campus, 2003. SWEIG, Julia E. Fidel’s Final Victory. Disponível em: <https://www.foreignaffairs.com/articles/cuba/2007-01-01/fidels-final-victory>. Acesso em: 23 de Outubro de 2016. UNESCO. Educação para Todos 2000-2015: somente um terço dos países alcançou os objetivos globais de educação. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/singleview/news/only_a_third_of_countries_reached_global_education_goals/#.V-beZvArLIV>. Acesso em 24 de Setembro de 2016. UNICEF. Cuba Statistics. Disponível em: <http://www.data.unicef.org/countries/CUB.html>. Acesso em: 24 de Setembro de 2016. U.S. DEPARTMENT OF TREASURY. Organizational Structures: Office of Foreign Assets Control. Disponível em: < https://www.treasury.gov/about/organizationalstructure/offices/Pages/Office-of-Foreign-Assets-Control.aspx>. Acesso em: 29 de Outubro de 2016. 79 U.S. DEPARTMENT OF TREASURY. Frequently Asked Questions Related To Cuba. Disponível em: <https://www.treasury.gov/resourcecenter/sanctions/Programs/Documents/cuba_faqs_new.pdf>. Acesso em: 06 de Novembro de 2016. U.S. GOVERNMENT PRINTING OFFICE. Proc. No. 3447. Embargo on Trade With Cuba. Disponível em: <https://www.gpo.gov/fdsys/pkg/USCODE-2010title22/html/USCODE-2010-title22-chap32-subchapIII-partI-sec2370.htm>. Acesso em 05 de Novembro de 2016. VIZENTINI, Paulo Fagundes. A Guerra Fria: O Desafio Socialista à Ordem Americana. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004. VOSS, Michael. Cuba: El "fracaso perfecto" de la invasión de Bahía de Cochinos. Disponível em: <http://www.bbc.com/mundo/noticias/2011/04/110414_cuba_aniversario_bahia_de_cochinos _invasion.shtml>. Acesso em 25 de Junho de 2016. WHITEHOUSE. Remarks by President Obama to the People of Cuba. Disponível em: <https://www.whitehouse.gov/the-press-office/2016/03/22/remarks-president-obama-peoplecuba>. Acesso em: 30 de Outubro de 2016. WHITE HOUSE. Statement by the President on Cuba Policy Changes. Disponível em: <https://www.whitehouse.gov/the-press-office/2014/12/17/statement-president-cuba-policychanges>. Acesso em: 06 de Novembro de 2016. WHO. La OMS valida la eliminación de Cuba de la transmisión de madre a hijo del VIH y de la sífilis. Disponível em: <http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2015/mtct-hivcuba/es/>. Acesso em: 25 de Setembro de 2016. WILSON, Scott; DEYOUNG, Karen. All U.S. troops to leave Iraq by the end of 2011. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/world/national-security/all-us-troops-toleave-iraq/2011/10/21/gIQAUyJi3L_story.html>. Acesso em: 14 de Outubro de 2016. WONG, Kam S. The Cuban Democracy Act of 1992: The Extraterritorial Scope of Section 1706(a). Disponível em: <https://www.law.upenn.edu/journals/jil/articles/volume14/issue4/Wong14U.Pa.J.Int'lBus.L.6 51(1993).pdf>. Acesso em: 23 de Outubro de 2016.